You are on page 1of 2

DIREITO PENITENCIÁRIO E POLÍTICAS DE SEGURANÇA PÚBLICA

A TEORIA AGNÓSTICA DA PENA SEGUNDO ZAFFARONI


LUIZA MÉRCIA FREIRE CORRÊA

A finalidade da sanção penal foi objeto de estudo por vários anos, a partir
daí foram cridas diversas teorias que buscaram definir qual seria a finalidade da
pena, buscando responder perguntas como: “por que punir?” “para que punir?”.

As primeiras teorias a serem analisadas são as Teorias Absolutistas ou


Retributivas. No geral, para estas, a função da pena é apenas uma forma de
retribuir o mal causado pelo agente, ou seja, a pena tem um fim em si mesmo,
sendo apenas um reflexo da conduta do agente. Não obstante, atribuir essa
função à pena não se ajusta ao Estado Democrático de Direito, já que para este
o Direito Penal não possui o exercício da vingança, mas tão somente busca
proteger os bens jurídicos.

As Teorias Relativistas se norteiam no sentido de que a pena não deve


ter nenhum caráter retributivo, apenas preventivo. E ainda divide a prevenção
em prevenção geral e especial. A prevenção geral está ligada à diminuição da
violência por meio da coerção coletiva, seja demonstrando que a lei penal é
efetivamente aplicada (prevenção geral positiva) ou que a lei possui caráter
coercitivos, onde ela abstratamente já intimida a prática de novos delitos
(prevenção geral negativa). Já a prevenção especial é direcionada
especificamente ao condenado, intimidando-o a não reincidir no crime
(prevenção especial negativa) e a ressocialização após o cumprimento da pena
(prevenção especial positiva).

A Teoria Mista, como o próprio nome já diz, é uma junção das duas teorias
anteriores. Ela afirma que a pena deve ter a finalidade tanto de retribuição quanto
de prevenção. Havendo assim, três finalidades da pena: retribuição, prevenção
e ressocialização e é a teoria atualmente aceita pelo sistema jurídico brasileiro.

A Teoria Agnóstica da Pena surge com o escopo de reconstruir o Direito


Penal e reduzir a violência com que as penas são exercidas pelo Estado. Traça
uma linha entre os ideais de estado de polícia e estado de direito.
O estado de polícia a que se refere diz respeito ao poder
verticalizado e autoritário do Estado aplicar a sanção penal. Já o estado de direito
diz respeito ao exercício horizontal e democrático de poder, buscando a proteção
dos direitos humanos e garantindo ao condenado uma limitação do poder de
punir do Estado. Assim, busca mostrar desnecessárias as teorias acima
abordadas sem, contudo, extinguir o direito de punir.

Destarte, parte do pressuposto que a pena é um conceito político, logo,


punição é um ato de poder político do Estado, nada tendo a ver com qualquer
finalidade jurídica. Além disso, o direito somente é usado para limitar a política,
restringindo as punições no máximo possível e a pena garante ao condenado o
direito de ser punido somente pelo Estado, maximizando também o Estado
Democrático de Direito e políticas voltadas ao humanismo democrático.

Assim, a teoria agnóstica da pena busca um ideal de estado de polícia


mínimo e estado de direito máximo e se mostra uma ótima saída para
reestruturação do Direito Penal brasileiro, como explica Soares (2014):

Tal característica identificadora simbolizada através da teoria


agnóstica da pena, impõe uma reorientação teleológica do direito penal
e do processo penal, sendo fundada: a) na rejeição dos discursos
oficias/declarados/manifestos da pena (retributivismo ético ou jurídico
e preventivismo especial ou geral, negativo ou positivo); b) na
qualificação da pena como ato do poder político e não jurídico; c) na
coexistência do estado de polícia e do estado de direito, pela restrição
do primeiro e maximização do segundo; e d) na referência da sanção
penal como direito do próprio ofensor em não se ver punido senão pelo
Estado, justificando, portanto, uma ideia minimalista da pena.

A teoria agnóstica da pena também põe em questão o efeito


ressocializador da pena, tendo em vista os efeitos negativos que o cárcere
exercer sobre o agente, e busca a redução desses efeitos através de alternativas
que possibilitem o menor contato do condenado com a privação da liberdade.

You might also like