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Suicídio nas mídias sociais

De todos os casos de saúde pública, o suicídio é certamente um assunto que merece muito
a atenção da mídia em virtude dos desdobramentos e da complexidade que estão envoltos neste
processo. Esse entendimento ocorre nos veículos de comunicação através de notícias sobre
suicídio que são veiculadas e que chamam bastante a atenção. De acordo com Bock (2001) O
suicídio está presente quando as condições de vida social são pouco propícias ao
desenvolvimento e realização pessoal e levam o indivíduo a mecanismos de autodestruição e
esse risco é muito maior na adolescência. Por outro lado, Papaglia (2008) também ressalta que o
suicídio na adolescência é reflexo de pressões culturais bem como da inexperiência e da
imaturidade desses jovens, que costumam correr riscos e a agir com imprudência.
Assim, a mídia desempenha um papel significativo na sociedade atual, ao proporcionar
uma ampla gama de informações a respeito deste problema, através dos mais variados recursos
haja vista que influencia fortemente as atitudes, crenças e comportamentos das pessoas e ocupa
um lugar central na vida das pessoas. Quando nos referimos às mídias, destacamos as chamadas
“redes sociais digitais”, assim definidas como um tipo de mídia mais específica de comunicação
em massa, em que há uma constante troca de informações advindas de uma emergência cultural
mundial (Vermelho et al., 2014).

O suicídio é problema de saúde pública que tem grande influência nas mídias. Dessa
forma, em conformidade com o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) um dos direitos
fundamentais da do adolescente de acordo com o artigo 17º é “o direito ao respeito consiste na
inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a
preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e
objetos pessoais”. Lamentavelmente, isso não tem ocorrido, pois de acordo com Oliveira &
Silva, a Internet tem influência direta em casos de suicídio, a partir da sugestionabilidade,
indução e instigação, fazendo isso através de fóruns de pesquisa e redes sociais, fornecendo todas
as dicas de como cometer um suicídio.

Essa geração nasceu com acesso à tecnologia, e o contato com as mídias sociais é
inevitável. Existe uma busca de aceitação, de afeto, e isso, muitos possuem no mundo virtual.
Desse modo as mídias de hoje oferecem aos jovens uma voz que pode ser transmitida e ouvida, bem
como um ambiente que conduz à disseminação viral de ideias e à organização de movimentos em
torno de uma causa comum (Rich, 2013). Quando a causa comum é relevante socialmente, contribui
para o desenvolvimento, é uma vertente construtiva e poderosa do poder das redes sociais. O
problema é que muitas vezes o objetivo é potencializar e estimular o comportamento autodestrutivo
em um público vulnerável, como adolescente.

De acordo com Papalia (2006, pág. 744) “adolescentes suicidas tendem a ter má opinião
sobre si mesmos, a se sentirem impotentes e a terem fraco controle de impulsos e baixa
tolerância à frustração e ao estresse”. Esses jovens costumam estar alienados de seus pais e não
ter ninguém de fora da família para recorrer, ficando assim em um estado de vulnerabilidade. O
cenário da sociedade atual apresenta famílias afastadas e as relações são rasas, abrindo espaço
para novas formas de relacionamentos, porém virtuais, o que certamente vai na contramão da
nossa constituição.

De acordo com o artigo 227 da Constituição Federal (1988)

“é dever da família (...) assegurar ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o


direito à vida (...) à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão”.

O suicídio é um assunto muito complexo, a publicação de atos suicidas coloca em


questão o direito fundamental do cidadão à informação e os problemas que podem provocar em
algumas pessoas. O cuidado em relação à veiculação de suicídio de forma inapropriada pode ser
impressionante e podendo até estimular pessoas em risco em uma condição de imitação. Sobre
esse risco da imitação desse comportamento autodestrutivo, o guia da Organização Mundial de
Saúde dá um importante alerta. OMS (2000, p.5) afirma que “um dos muitos fatores que podem
levar um indivíduo vulnerável ao suicídio pode ser a publicidade sobre suicídios nos mídia. A
forma como a mídia apresenta as notícias de casos de suicídio podem influenciar outros
suicídios”.

Outro detalhe que também é muito relevante é o anonimato. Neste ponto de vista
Mirashara & Weisstub (2007) concordam que o anonimato na internet impede a possibilidade de
verificar a autenticidade das informações de um site, por isso encontra-se sites que encorajam o
suicídio com publicação de textos ou de informações sobre métodos com detalhes específicos.
Dessa forma, podemos deduzir que os responsáveis por esses sites são pessoas despreparadas e
sem qualquer orientação que publicam de maneira errada e estimam o suicídio em pessoas
vulneráveis.
Assim, constata-se que a internet é apenas mais um caminho ou rota potencializadora
para o suicídio. Apesar de também ser um fator agravante, a internet pode ser usada como uma
ferramenta para o auxílio e prevenção sobre o suicídio já que possibilita a entrada em contato
com plataformas de ajuda e acolhimento. Segundo Hobsbawn (1995), a novidade dessa
transformação está tanto em sua extraordinária rapidez, quanto em sua universalidade.
Portanto, o fenômeno do suicídio demanda a necessidade de um olhar cuidadoso para a
intervenção em crise contextualizada por multifatores de atenção. Um dos fatores na intervenção
em crise seria o suporte de uma rede significativa, para que, no momento da intervenção, esta
rede possa significar espaços também na atenção.

REFERÊNCIAS

Bock, A. M. B. & Furtado, O. , & Teixeira, M. L. T. (2001) Psicologias. Uma introdução ao


estudo da Psicologia. São Paulo: Saraiva.

Brasil. Estatuto da criança e do adolescente (1990). Diário Oficial da União. Lei nº 8.069, de 13
de Julho de 1990. Brasília, DF

BRASIL. Constituição (1988). Constituição: República Federativa do Brasil. Brasília: Senado


Federal.

Hobsbawm, E. (1995) Era dos extremos – o breve século XX: 1914-1991. São Paulo:
Companhia das Letras.
Mishara, B. L., & Weisstub, D. N. (2007). Ethical, legal, and practical issues in the control and
regulation of suicide promotion and assistance over the internet. Suicide Life "reatening
Behaviour, 37(1), 58-65.

Oliveira, D. B.; & Silva, R. G. S. C. (2015) O viés digital do suicídio: instigação, induzimento e auxílio
ao suicídio em ambientes virtuais. Direito penal e constituição; Florianópolis: CONPEDI.

Organização Mundial de Saúde. OMS (2000). Prevenir o suicídio um guia para profissionais
das mídias. Geneva: 2000. Disponível em: <http://www.tuimportas.
com/files/GuiaParaMedia.pdf>. Acesso em: 22 Nov. 2018.

Papalia, D. E. (2006), & Feldman R. D. Desenvolvimento humano. 8ª ed. Porto Alegre : AMGH.
.

Rich, M. (2013) As mídias e seus efeitos na saúde e no desenvolvimento de crianças e adolescentes:


reestruturando a questão da era digital. In: ABREU, Cristiano Nabuco; EISENSTEIN, Evelyn;
ESTEFENON, Susana Graciela Bruno (orgs.). Vivendo esse mundo digital: impactos na saúde na
educação e nos comportamentos sociais. Porto Alegre: Artmed.

VERMELHO, S. C. et al. Refletindo sobre as redes sociais digitais. Educ. Soc., Campinas, v.
35, n. 126, p. 179-196, mar. 2014. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/es/v35n126/11.pdf .
Acesso em: 20 de Novembro de 2018.

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