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CONSTITUIÇÃO E PODER
Por Néviton Guedes
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22/03/2019 ConJur - Constituição e Poder: Ronald Dworkin e a teoria dos princípios
Por seu turno, R. Dworkin chama de princípio aquele standard que deve ser
observado, não por ter em vista uma finalidade econômica, política, ou social, que se
possa considerar favorável, mas porque seja uma exigência de justiça, ou equidade,
ou alguma outra dimensão de moralidade[6].
Dizendo de maneira mais simples é o próprio autor quem resume: Princípios são
proposições que descrevem direitos; diretrizes (políticas) são proposições que
descrevem objetivos[7]. Por isso que, segundo Dworkin, em geral, os argumentos de
princípios se predispõem à defesa de direitos do indivíduo, enquanto argumentos
políticos se propõem à defesa de interesses da coletividade[8]. Para melhor
esclarecer o conteúdo de suas distinções, vejamos os exemplos do próprio autor: o
standard de que os acidentes automobilísticos devem ser reduzidos é uma diretriz
(política), e o standard de que não pode lucrar com a própria injustiça (é) um
princípio[9].
No entanto, o próprio autor admite que a sua distinção possa entrar em colapso
quando, segundo ele próprio, se estabelece um princípio como prescrição de um
objetivo social (como seria o caso, por exemplo, de uma sociedade que prescreva
como objetivo não se admitir beneficiar-se da própria torpeza), ou prescreve uma
diretriz como enunciando um princípio (como seria o caso de um princípio segundo
o qual o objetivo que a diretriz incorpora é valioso) ou quando se adota a tese
utilitária segundo a qual os princípios de justiça disfarçam disposição de objetivos
(assegurar a maior felicidade do maior número de cidadãos)[10]. Diante disso, o
próprio autor admite que, em alguns contextos, a utilidade de sua distinção se perde
quando se deixa confundir e entrar em colapso dessa forma[11].
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22/03/2019 ConJur - Constituição e Poder: Ronald Dworkin e a teoria dos princípios
Quando dois princípios entram em colisão, ganha aplicação aquele princípio que,
pelas circunstâncias concretas do caso, mereça primazia sem que isso importe na
invalidade do princípio oposto. Diversamente, se duas regras entram em conflito,
afirma Dworkin, uma delas definitivamente não pode ser considerada válida. A
colisão dos princípios portanto, segundo Dworkin, resolve-se na dimensão de peso; já
o conflito entre regras resolve-se no plano da validade[20].
Os princípios, conforme Dworkin, apenas contêm motivos que falam a favor de uma
decisão, de tal forma que, num caso concreto, apresentando-se um princípio que
exija aplicação, podem existir outros princípios que, colocando-se numa posição
contrária, por circunstâncias específicas do caso, acabem tendo maior peso ou
primazia sobre aquele primeiro princípio e, afastando-o, ganhem aplicação[21]. De
toda forma, completa Dworkin, isso não significa que o princípio preterido não mais
pertença ao sistema jurídico, pois, em um próximo caso, ou por já não existirem
aquelas circunstâncias contrárias, ou por terem perdido o seu peso, o princípio
anteriormente preterido pode tornar-se decisivo para o caso e, então, ganhar
primazia sobre os princípios que lhe eram contrários[22].
Todavia, para concluir, é lógico, que, no caso das regras, se a enumeração completa
não se verificar, não se pode com segurança, diante de uma enumeração
incompleta, ser conclusivo quanto aos efeitos jurídicos da norma. Da mesma forma,
deve-se sempre considerar a possibilidade de que nenhuma exceção (conhecida) se
apresente, ainda que os pressupostos de uma exceção (não conhecida) possam
existir. Com isso, não se pode escapar à conclusão de Borowski de que, se os casos de
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22/03/2019 ConJur - Constituição e Poder: Ronald Dworkin e a teoria dos princípios
aplicação das regras, do mesmo modo que os dos princípios, não se revelarem
completamente enumeráveis, o critério (entre regras e princípios) seria imprestável
para a diferenciação[27].
[1] A presente coluna foi, no geral, subtraída de capítulo de artigo que escrevi para
compor obra em homenagem aos 70 (setenta) anos do Prof. Gomes Canotilho (no
prelo pela Editora Coimbra). Aproveito para reder aqui mais uma homenagem a
esse grande jurista de nossos tempos, o maior que conheci.
[4] Por casos difíceis (hard cases) Dworkin considera as situações litigiosas
particulares que não podem ser submetidas a uma clara disposição ou regra legal,
estabelecida por alguma instituição com antecedência, ou quando não estabelecida
uma regra que dite uma decisão em um ou outro sentido. Conforme R. Dworkin.
Taking Rights Seriously, p. 81 e 83, respectivamente.
[12] R. Dworkin. Taking Rights Seriously, p. 24: The difference between legal principles
and legal rules is a logical distinction.
[14] R. Dworkin. Taking Rights Seriously, p. 24: Rules are applicable in an all-or-
nothing fashion.
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