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"A teoria de Kant não dá atenção às consequências da ação. Isto significa que
idiotas bem-intencionados que, involuntariamente, causem várias mortes em
consequência da sua incompetência, podem ser moralmente inocentes à luz da teoria de
Kant, uma vez que seriam primariamente julgados pelas suas intenções.
Mas, em alguns casos, as consequências das ações parecem relevantes para uma
apreciação do seu valor moral: pense como se sentiria em relação a uma baby-sitter que
tentasse secar o seu gato no micro-ondas. Contudo, para ser justo com Kant a este
respeito, é verdade que ele considera condenáveis alguns tipos de incompetência."
"O papel que a teoria de Kant dá a emoções tais como a compaixão, a simpatia e
a piedade parece inadequado. Kant afasta tais emoções como irrelevantes para a moral:
a única motivação apropriada para a ação moral é o sentido do dever.
Sentir compaixão pelos mais necessitados - apesar de, de certos pontos de vista,
poder ser digno de louvor - não tem, para Kant, nada a ver com a moral. Pelo contrário,
muitas pessoas pensam que há emoções distintamente morais - tais como a compaixão,
a simpatia e o remorso - e separá-las da moral, como Kant tentou fazer, será ignorar um
aspeto central do comportamento moral."
"A teoria ética de Kant, e sobretudo a sua noção de universalizabilidade dos juízos
morais, é por vezes criticada por ser vazia. Isto significa que a sua teoria só nos oferece
um enquadramento que revela a estrutura dos juízos morais sem ajudar em nada os que
estão perante tomadas de decisão morais efetivas. Dá pouca ajuda às pessoas que
tentam decidir o que devem fazer.
Esta crítica negligencia a versão do imperativo categórico que nos ensina a tratar
as pessoas como fins e nunca como meios. Nesta última formulação, Kant dá, sem dúvida,
algum conteúdo à sua teoria moral. Mas, mesmo combinando a tese da
universalizabilidade com a formulação dos meios e dos fins, a teoria de Kant não oferece
soluções satisfatórias para muitas questões morais.
Por exemplo, a teoria de Kant não consegue dar facilmente conta dos conflitos
entre deveres. Se, por exemplo, eu tenho o dever de dizer sempre a verdade, e também
o dever de proteger os meus amigos, a teoria de Kant não me poderia mostrar o que
deveria fazer quando estes deveres entram em conflito. Se um louco com um machado
me perguntasse onde está o meu amigo, a minha primeira reação seria mentir-lhe. Dizer
a verdade seria fugir ao meu dever de proteger o meu amigo. Mas, por outro lado,
segundo Kant, dizer uma mentira, mesmo numa situação limite como esta, seria uma
ação imoral: tenho o dever absoluto de nunca mentir."
Este formalismo é desumano, porque os seres humanos necessitam, desde a mais
tenra idade, de se sentirem amados, e isto é importante para a formação da autoestima.
As pessoas com uma autoestima saudável tendem a sentir que a sua vida tem sentido,
alcançando níveis de autorrealização superiores em relação às pessoas com uma fraca
autoestima. Isto também se reflete na saúde: as pessoas que se sentem realizadas (no
fundo, que se sentem felizes) têm tendencialmente um sistema imunitário mais robusto
do que as pessoas que se sentem deprimidas e insatisfeitas consigo próprias.
As pessoas que são mais compassivas tendem também a ter uma atitude positiva
em relação à vida, o que lhes traz muitos benefícios ao nível da sua saúde física e psíquica,
porque tendem a sentir-se seguras no seu ambiente e têm níveis de stresse baixos,
porque não têm uma visão conflituosa da vida, o que tem consequências muito positivas
ao nível do sistema cardiovascular (só para citar este exemplo).
Se as pessoas fossem exclusivamente motivadas pela obediência ao dever moral
teriam relações frias e desapegadas, sendo difícil perspetivar a vida familiar sem afeto,
ou aceitar que as pessoas conseguissem ter relacionamentos significativos sem amor.
Casar por amor pode tornar-se numa lei universal? Se sim, não estaríamos perante uma
máxima que contraria a lei moral? É que o amor é uma inclinação sensível...