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Questionário sobre o filme “Relatório Minoritário” (Minority Report)

1. No início do filme Howard, prestes a matar a sua mulher, é preso sob a acusação de
pré-crime. Pode alguém ser responsabilizado por um crime previsto, mas que ainda
não cometeu? Podemos ser julgados pela intenção de cometer um crime?

O programa Pré-crime envolve três seres humanos (Os Pré-cogs) que possuem poderes
psíquicos com a ajuda dos quais prevêm com exatidão a ocorrência de homicídios num futuro
próximo, ou seja sem que estes tenham ainda ocorrido. Através dessas visões a polícia adquire
informações que lhe permitem deter os possíveis criminosos, embora estes ainda não tenham,
na verdade, cometido o crime. No início do filme é-nos mostrada a Unidade de Pré-crime em
ação, na qual um homem é preso pelo homicídio iminente da sua mulher e do amante.

Se pode alguém ser responsabilizado por um crime previsto, sem que ele tenha acontecido?
Sim, no caso do Howard, se o criminoso for preso segundos antes de cometer o crime, o que
tornou impossível, em termos psíquicos (e físicos) o tal arrependimento ou o voltar para atrás
com a sua decisão. O Anderton (a personagem principal) acaba por ser “vítima” dos pré-cogs,
cujos visão dita que o Anderton irá matar um desconhecido (pelas palavras dele) dentro de 36
horas. Apesar de ter concordado anteriormente, na situação de Anderton, a minha resposta
para esta pergunta não é a mesma. A razão da morte do desconhecido parece estar
incompatível com a previsão dos pré-cogs, porque este morre por acidente e não pelo facto de
ter sido o Anderton a matá-lo, o que nos diz 3 coisas: - a intenção inicial de Anderton (que
inicialmente nem se quer sabia o motivo dele querer cometer o crime) muda, o que leva,
consequentemente, a uma falha dentro da unidade de Pré-crime e tira a certeza e a
“perfeição” dos pré-cogs nas suas visões; - a morte do indivíduo acaba por acontecer, mesmo
quando a intenção do Anderton em matá-lo mudou; - portanto os pré-cogs estavam certos,
mas não em relação à maneira de como o crime aconteceu, somente no facto do crime ter
acontecido e não em relação à intenção do Anderton durante a cena toda, mas sim em relação
à intenção inicial de Anderton em matar o indivíduo. Supondo que o crime ainda não
aconteceu, pode então a polícia responsabilizar Anderton pelo crime porque, em primeiro
lugar, quis fazê-lo? A situação de Anderton é diferente das outras todas, porque de facto o
crime acontece, mas por acidente e não por culpa dele, visto que este arrepende-se e decide
não o cometer. Ao analisar, mais à frente as restantes situações onde de facto o crime não
chega a acontecer, irei tentar responder a esta questão em conjunto com a segunda.

Os criminosos são presos com base nas visões sobre o futuro dos pré-cogs, logo dá-se a
entender de que, se não estes fossem presos, ou seja, se não houvesse qualquer intervenção, o
crime teria necessariamente acontecido. Mas como não chegou a acontecer, resta-nos
somente a intenção do suposto criminoso na ação de cometer o crime e não a
responsabilidade na realização dessa mesma ação. Como é que então alguém pode ser julgado
pela simples (ou não) intenção de cometer um crime? “O “Julgamento da intenção” é uma
modalidade que consiste em desacreditar a pessoa com a qual se debate, revelando suas
intenções como sendo vergonhosas e condenáveis”. Se, na teoria, a unidade de Pré-crime
funciona na perfeição e não existem falhas nas previsões dos pré-cogs, como já disse
anteriormente, um futuro crime, sem nenhuma intervenção, irá, de certeza absoluta, ocorrer e,
portanto, o criminoso irá ser responsabilizado pela ação de realizar um crime. Mas e se a
unidade Pré-crime tiver falhas? O que é que nos garante, a 100 %, que o suposto criminoso não
será mais o criminoso daqui a alguns dias, algumas horas ou minutos? O que os pré-cogs vêm e
o que os pré-cogs dão a certeza de, na minha opinião, são coisas diferentes. Os pré-cogs vêm,
de facto o suposto criminoso e o crime a ser cometido por essa mesma pessoa, mas não dão a
certeza de que este continuará a ser o futuro, mesmo que ninguém o impeça. O que os pré-
cogs dão a certeza de: é a intenção inicial do futuro criminoso para cometer o crime,
independemente de que esta mude ou não. Mas e se o crime não é o futuro, como é que
julgamos alguém cuja intenção inicial mudou, quando este alguém acabou por arrepender-se?
No primeiro período estudámos de que a intenção era o elemento (constituinte da ação) que
determinava a responsabilidade do sujeito e o desejo deste realizar uma ação. O facto de um
crime não ter acontecido ou ter acontecido não muda o facto do indivíduo ter pensado em
cometer o crime em primeiro lugar. Portanto, na minha opinião, algúem que primeiramente
tenha a intenção de cometer um crime: como matar algúem, alguém que conhece as pessoas
envolventes e a consegue justificar com clareza a situação que, supostamente, o levou a querer
cometer o futuro crime, mas que não chegou a acontecer, não deve ser considerado criminoso,
(mesmo que hajam estudos que comprovem que uma pessoa que pensa nesse tipo de coisas
irá, definitivamente, cometer pelo menos um crime nas suas vidas se não obtiverem ajuda
profissional). Deve, no entanto, ser julgado dado não só à sua intenção, mas também ao
motivo e à situação involvente que o levou a desejar cometer o tal crime, num futuro próximo.

2. “Não é futuro se o impedem”, diz Danny Witwer, o agente destacado para fiscalizar a
divisão pré-crime. Concorda? Justifique.

O modo como o sistema do Pré-crime é pensade é, de facto, confuso que acaba por implicar
um paradoxo. Não podemos ter a certeza de que se impedirmos o futuro, esse não seja mais o
futuro. Aliás, não podemos nunca ter a certeza de nada, porque nunca sabemos os fatores
condicionantes da nossa ação (futura). Por outro lado é evidente de que, se algo é suposto
acontecer mas não chega a acontecer, é porque não é mais o futuro, simplesmente deixa de o
ser. Saíndo da confusão conceitual que esta frase origina, na minha opinião um futuro só é
futuro se as condições que o levam a acontecer se mantiverem inalteradas. A partir do
momento em que um crime é impedido, o futuro desse crime, que é o próprio crime a
acontecer, não chega a ser verdade, portanto deixa de ser o futuro, mas só porque houve uma
intervenção. O que chega a acontecer é o futuro do impedimento desse mesmo crime.

3. A existência no departamento de polícia de Pré-Cogs a quem se atribui capacidade de


previsão infalível parece representar a negação da liberdade e da responsabilidade
moral. Porquê?

Se desconhecermos o nosso futuro e o que nos está previsto, não sabemos o que poderemos
eventualmente evitar, procurar ou alterar, assim, estaremos apenas a viver no presente. Isto
naturalmente traz consigo dúvidas: se não sabemos o que espera por nós, das duas uma, ou
tudo está determinado e o facto de não sabermos o que nos espera é mais um motivo para
algo determinado nos acontecer ou nós conhecemos o futuro, mas já era de esperar nós o
conhecermos e o irmos alterar, pois em ambas as situações somos determinados da mesma
maneira. Os pré-cogs, portanto, têm a capacidade de prever o futuro de forma infalível; se têm
a capacidade de prever algo de forma infalível é porque este algo vai, de certeza absoluta,
acontecer. Se o que eles vêm, irá, de certeza absoluta acontecer, é porque estamos
determinados a fazê-lo, o que significa que a liberdade da ação humana não existe, ou seja não
somos livres na realização das nossas ações. Se ninguém é livre, logo não pode ser
responsabilizado moralmente pelas quaisquer ações praticadas, pois como tudo estava
determinado a acontecer a responsabilidade, em conjunto com a liberdade, perdem o sentido.

4. Será que pré-conhecimento do que vai acontecer - de ações futuras - significa


necessariamente pré-determinação dessas ações? Será que o conhecimento do futuro
e o que vai realmente acontecer no futuro são duas coisas causalmente ligadas?

A resposta a este tipo de perguntas vai sempre dar ao problema do livre-arbítrio e às teorias
que tentam explicar se a ação humana é livre ou apenas um efeito de uma acontecimento
anterior. Se não conhecemos o futuro, vivemos apenas do presente e, à partida, não sabemos
como alterar o futuro ou como evitá-lo (o que não significa necessariamente que somos
livres) ; mas e se o conhecemos? Singifica que este está determinado a acontecer e somos
livres a alterá-lo como nos apetecer (admitindo que as nossas ações são livres) ou que estamos
determinados a sabê-lo e que todas as mudanças feitas por nós foram, também,
determinadas? E no caso das previsões dos crimes? Ficarmos a saber o futuro significa que ele
é verdade e que irá sem dúvida alguma acontecer ou o facto de conhecermos o futuro muda
automaticamente a ordem dos acontecimentos porque o vamos tentar impedir? Ou então,
temos poder de decisão e na medida em que ficamos a conhecer o suposto futuro, este não é
necessariamente verdade, mas apenas uma probabilidade porque existe uma hipótese de
mudarmos de ideias no final? Já vimos no filme que os pré-cogs prevêm, ou devem prever (na
teoria) com certeza absoluta os crimes que irão ocorrer no futuro. Se os pré-cogs conseguem
ver os crimes é porque estes estão determinados a acontecer; é porque a realização dessa ação
é verdade para um próximo futuro. Mas vimos também que os crimes são impedidos de
acontecer, o que, no final, torna essa ação falsa - a realização do crime, prevista pelos pré-cogs
como um futuro certo que irá acontecer de certeza absoluta, deixa de ser futuro. Se ontem os
pré-cogs viram que hoje o crime ia acontecer, mas hoje este é impedido, o crime deixa de
descrever um evento de hoje e deixa de ser o futuro de hoje, logo o que estava determinado a
acontecer ontem para hoje já não é verdade, porque o que realmente aconteceu no futuro -
hoje - foi o impedimento do crime e não o crime em si.
Assim sendo, na minha opinião (a não ser que estejamos determinados a fazer tudo: até saber
o futuro e mudar este porque o ficámos a saber), o pré-conhecimento do futuro não significa
necesseriamente a pré-determinação deste, porque se o conhecemos: podemos alterá-lo, o
que torna o pré-conhecimento do futuro falso porque estaríamos a ver um futuro que não irá
acontecer.

5. O que significa dizer que há registos ou relatórios minoritários?

O programa Pré-crime é descrito como perfeito, sem falhas, de qual nunca ningúem teve
dúvidas. Mas durante o filme a personagem principal, John Anderton descobre que, entre os
pré-cogs, nem sempre há consenso. Ou seja, há uma possibilidade de diferenças nas previsões
entre os 3 pré-cogs, o que significa que estes podem ver coisas diferentes na mesma situação.
Estas diferenças nas previsões implicam situações, muito raras, em que um dos pré-cogs vê um
resultado diferente na realizaçõa de uma ação dos outros dois. Um resultado que implica um
futuro onde o crime não ocorre: o suposto criminoso poderia, de facto, ter morto a vítima, mas
por qualquer razão não o faz. Estas previsões, que unem mais de uma probabilidade de um
futuro próximo, correspondem aos “relatórios minoritários”.
Portanto a existência de relatórios minoritários significa que, o futuro previsto pelos pré-cogs e
o resultado dos crimes não são fixos, o que leva ao sistema “perfeito” de pré-crime apresentar
graves falhas na sua credibilidade. Se existem diferenças no pensamento dos pré-cogs, existem
diferenças na realização do próprio crime. Então os criminosos são realmente presos
injustamente, como pessoas inocentes, porque um dos pré-cogs viu a probabilidade deste não
chegar a cometer o crime, por vontade própria, sem este ter sido impedido? (mais uma vez a
primeira questão)

6. Na sua opinião, Anderton foi livre de assassinar o falso pedófilo, Leo Crow? Justifique.

Na teoria, sim. Na prática, não. Como já vimos anteriormente, os pré-cogs prevêm um futuro
crime dando a certeza absoluta, à partida, de que o crime é a verdade no futuro. Se este é
verdade, é porque vai de certeza acontecer e o caso de Anderton não devia ser uma exceção.
Os pré-cogs viram-no a cometer um crime no futuro, mas quando chega a hora do homicídio o
Anderton contradiz as leis do pré-conhecimento/pré-determinação - ao escolher não matar a
sua (futura) vítima. Ao escolher não matá-la, o Anderton mostra a liberdade e o controlo que
teve sobre as suas ações o que leva à conclusão de que ele foi livre de assassinar o pedófilo. A
decisão de Anderton, (inesperada), leva a considerar de que, apesar de tudo, somos ou
podemos ser livres para com as nossas ações. No entanto, o pedófilo acaba por morrer,
acidentalmente, o que, de facto, leva aos pré-cogs estarem certos mas não muda o facto de
Anderton ter sido livre de assassinar ou não o pedófilo. O Anderton estava previsto para
cometer um crime (pelos pré-cogs), decide não cometê-lo, mas a morte do pedófilo acontece,
mesmo depois da mudança da sua intenção inicial.

7. Com que perspetiva sobre o livre-arbítrio se identifica mais o argumento deste filme?
Explique porquê.

Início do filme - determinismo; dado o desfecho do filme – uma espécie de compatibilismo,


mas o determinismo mantém-se como argumento pricnipal do filme. O livre-arbítrio é quase
nulo, visto que o argumento deste filme é a pré-determinação de todas as ações humanas,
como exemplo perfeito a previsão dos crimes. Qualquer que seja o nosso esforço em sermos
livres, efetivamente não o somos, porque as circunstâncias e as causas (em cadeia) acabam por
conduzir-nos a um determinado fim. Exemplo: Anderton decide não matar o pedófilo, mas
apesar de ter mudado a sua intenção incial, a morte deste acontece, o que torna o crime
inevitável (tal como os pré-cogs o previram).

Casinia Ciobanu
Nº 7 10º 5ª
13.01.2019

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