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quatro hipóteses de habitação coletiva

como a concepção arquitetônica se materializa em espaços para habitar

clara troia homem de melo

orientada pela Profa Dra. Marina Grinover


e Profa. Dra. Karina Leitão (orientação metodológica)

Trabalho Final de Graduação em Arquitetura e Urbanismo


Universidade de São Paulo
FAU USP
Dezembro 2018
“Há uma sugestão de
ação inerente às imagens
da arquitetura (...) É essa
possibilidade de ação que separa
a arquitetura das outras formas
de arte. Como consequência
dessa ação sugerida, a
reação corporal é um aspecto
inseparável da experiência da
arquitetura.”
Juhani Pallasmaa

6 7
Agradeço primeiramente - e imensamente - à Marina Grinover que
aceitou me acompanhar no processo de realização deste trabalho.
Por todas as orientações e pelas palavras de conforto nos momen-
tos de auto-questionamento.

Agradeço também à Karina Leitão, exemplo de pessoa, professora,


pesquisadora e muito mais.

Agradeço ao Artur Rozestraten e à Lizete Rubano por aceitarem


fazer parte da banca.

Aos que estiveram extremamente à disposição para me ajudar no


recolhimento de material para a realização do trabalho:
Alvaro Puntoni, que disponibilizou todo o material sobre o CECAP,
desenvolvido por ele,
Nabil Bonduki pelas bases do edifício Anchieta, publicadas em
seu livro “Os pioneiros da Habitação Social”,
Ao escritório Hector Vigliecca & Associados que também esteve à
disposição para o envio do material necessário.

À todos os amigos que estiveram por perto nesses anos de FAU,


devo muito à todos os aprendizados. Alina, Luisa, Fabi, Natália,
Midori, Juca, Otavio, Bia, Deborah, Barbara, Eric, Lorena, Mel,
Bianca, Chedid, Matheus, Felipe e Clara Maria, alguns dos muitos
que me deram o prazer do convívio.

agradeço
Agradecimento especial à Julia, pelas ótimas ideias sempre, além
de companhia imprescindível nos momentos mais necessários.

Ao Guilherme, que me acompanhou, opinou e esteve presente


(mesmo longe) durante o processo.

Aos meus pais, os grandes culpados por eu ter tido a ideia de estu-
dar arquitetura.

8 9
índice
introdução 12

método de abordagem 15

parte II • objetos de estudo 16

parte III • contexto da política pública 20

parte IV • projetar o habitar 24

parte V • a representação na arquitetura 27

parte VI • pesquisa de linguagem 34

as hipotéses 37

hipotése i • edificio anchieta 38

hipotése ii • parque cecap 60

hipotése iii • conjunto copromo 80

hipótése iv • gleba a heliópolis 98

conclusões 121

formas genéricas e formas específicas 122

comparações possíveis 124

lista de figuras 128

bibliografia 129
O presente trabalho reúne algumas inquietações que foram Ou seja, de que forma a concepção arquitetônica, que tem 1. Hipótese é definida, segundo
elaboradas no decorrer da minha formação em arquitetura e urba- como ferramenta primordial o desenho, expressa uma intenção de o dicionario houaiss: “Suposição,
conjectura, pela qual a imaginação
nismo dentro da FAU. percepção e experiência de um espaço?
antecipa o conhecimento, com o
Perceber o espaço é algo que construímos como habitantes Para arquitetos que tem os códigos da representação mapea- fim de explicar ou prever a possível
dele, no entanto passar a interpretá-lo, analisá-lo e produzi-lo traz dos é possível observar um projeto e identificar nele a lógica que realização de um fato e deduzir-lhe
diversos questionamentos sobre como a disciplina conforma esse concebeu os espaços. Para um leigo, o espaço é percebido em si, e as consequencias; pressuposição.
espaço para o outro. a transição entre a concepção e a percepção só é completa se tanto
A aproximação desses questionamentos poderia ser feita de os aspectos funcionais quanto os sensitivos estiverem bem expres-
diversas formas, a partir da própria prática da arquitetura, do debru- sados naquela arquitetura (TSCHUMI, 1977)
çamento acadêmico, das análises das soluções espaciais já existen- É possível olhar para um projeto e perceber, nos espaços
tes, dentre outros. Escolher um desses caminhos como investigação criados, quais as hipóteses arquitetônicas que estavam ali suge-
foi uma opção, e dessa forma o presente trabalho se presta a, a partir ridas? Qual a materialização das ideias funcionais, de uso e expe-
de quatro estudos de caso, descrever, analisar e reconstruir essas riência que se concretizam? Em que contexto e dentro de quais
soluções existentes. referências arquitetônicas o projeto está inserido? Como ele reflete
O conceito de hipótese1 aparece aqui como um entendimen- um ideário e mesmo as contradições de um certo contexto arquite-
to que precede a conformação do espaço em si, é a antecipação tônico? Estas foram algumas das inquietações iniciais feitas para os
das formas que satisfazem uma necessidade futura, transformando projetos a serem estudados.
solicitações funcionais, sociais e subjetivas em um projeto mate- É esse olhar para a arquitetura que se propõe no presen-
rializado (MONTANER, 2017). Não existe apenas uma solução te trabalho: a partir de um levantamento de projetos exemplares
frente à uma determinada demanda, e sim diversas hipóteses de extrair deles suas hipóteses e formas de materialização das ideias.
como esta pode ser suprida. Ideias essas que correspondem tanto a coisas, referente à concretu-
Contextos e períodos históricos diferentes conformam hipó- de e à existência material dos mesmo, quanto às não-coisas, ligadas
teses diferentes, de maneira que os projetos traduzem em si quais primeiramente às apreensões subjetivas do espaço, mas também
ideias eram correntes em determinado contexto, desde social até a como o contexto histórico e político influenciam nos resultados
tecnicamente. espaciais.
É por isso, que cada um dos projetos aqui estudados foram
também nomeados de hipóteses, no sentido que, pra além de A arquitetura se manifesta de muitas formas na cidade, mais
serem um projeto de fato – todos construídos e em uso – refletem ou menos tradicionais, mais ou menos adequadas a uma certa con-
também algumas antecipações de ideias, e é a partir de cada um cepção de projeto que a disciplina tem, e portanto diversos progra-
deles que busco pesquisar e explorar como uma certa concepção mas ou tipologias poderiam ser selecionados para que se discutisse
materializa um espaço, um projeto em si, implantado, abrangendo a conformação de uma ideia arquitetônica. No entanto, é inegável
um certo programa. a importância da discussão habitacional, tanto na construção da
Para tal discussão foi escolhido um tema, e dentro dele al- morfologia do território, como programa, uma vez que é o espaço
guns estudos de caso. mais comum a todos – comum no sentido de reconhecimento de
Parte-se de uma inquietação trazida por uma colocação de lugar, e não somente de vivência conjunta, como no espaço públi-
Bernard Tchumi a respeito das três etapas envolvidas no enten- co - quanto como reconhecimento da importância de discutir como
introdução

dimento de um projeto: a concepção, a percepção e a experiência. se dá o acesso à moradia, e como arquitetos e poder público lidam
com tal demanda. Se a produção do espaço é reflexo da socieda-
“Perceber o espaço arquitetônico de um de (LEFEBVRE, 2001), é de suma importância entender como
edifício é perceber algo-que-foi concebido se produz a habitação no território – que corresponde à 80% das
construções de uma cidade.
(…) O espaço não é simplesmente a pro-
O recorte se faz ainda mais restrito, uma vez que os projetos
jeção tridimensional de uma representa- tratam de habitações coletivas, com financiamento público no Bra-
ção mental, mas é algo que se ouve e que sil, entendendo a importancia de reconhecer as particularidades da
se age.” (TSCHUMI, 1980, p.176) realidade brasileira na produção pública da habitação, do território
e da cidade em geral.

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método de abordagem
parte II • objetos de estudo

parte III • contexto da política pública

parte IV • projetar o habitar

parte V • a representação na arquitetura

parte VI • pesquisa de linguagem


A seleção dos projetos exemplares poderia se dar tanto por litana de São Paulo, o Conjunto Zezinho Magalhães está localizado 2. A Caixa Estadual de Casas para
aproximação de tipologia, época e contexto urbano, quanto pelo em Guarulhos, junto a Rodovia Presidente Dutra e tenta suprir, o Povo (CECAP) foi criada em 1949
e atuava na promoção e construção
afastamento de tais aspectos. Uma vez que a intenção não é rea- em sua hipótese projetual, uma demanda crescente em relação de casas, após sua regulamentação
firmar ou comprovar uma determinada hipótese - e sim perceber ao déficit habitacional, valendo-se de uma implantação racional e com a criação do BNH (PUNTONI,
dentro do fazer da arquitetura suas diversas manifestações - to- funcionalista dos espaços, a partir do sequenciamento de laminas 1997).
mou-se como exemplo quatro projetos de períodos diferentes no idênticas e integradas a um conjunto de equipamentos públicos.
arco de ações do Estado para Habitação popular no Brasil e tam- Após o longo período dominado pelo BNH, ao fim dos anos 3. O Banco Nacional de Habitação
(BNH) foi uma empresa pública
bém seu contexto urbano, traçando um panorama de estratégias 1980, mas principalmente nos anos 1990, a partir da luta por mora- brasileira, criada em 1964 e extinta
que foram implantadas no país. dia das populações em situação precária, da revisão das formas de em 1986. Foi a principal instituição
As propostas não estão sendo consideradas ideais e mesmo construção de habitação e dentro de um contexto ímpar de politica de financiamento e gestão de
já foram revisadas dentro da própria disciplina. Não devemos dizer pública em São Paulo, ocorreram uma série de experiências parti- desenvolvimento urbano e de
que são somente verdades de como devemos tratar o problema da habitação da história do Brasil -
cipativas da construção dos espaços, dentre elas o Conjunto CO-
no que diz respeito ao número
demanda habitacional, inclusive por estarem inseridas em diferen- PROMO5, realizado pela assessoria técnica de arquitetura Usina de unidades construídas. O BNH
tes contextos históricos e arquitetônicos. A intensão é exatamente CTAH em conjunto com a comunidade Associação a Terra é Nossa, se configurava como agente do
poder identificar dentro de um programa específico – no caso a de Osasco, sendo o terceiro estudo de caso. Sistema Financeiro da Habitação
habitação popular – como a arquitetura lidou em diferentes con- Além de projeto participativo, o COPROMO é resultado de (SFH), provedor de recursos para
as ações do Plano Nacional de
textos. um mutirão autogerido – com mão de obra assalariada de apoio Habitação.
Mesmo que se configurem como arquiteturas exemplares de – pela própria comunidade. O projeto, por mais que não renove
suas hipóteses espaciais, todos os projetos selecionados são tam- algumas ideias de urbanidade, traz diversas questões ao relacionar 4. Os projetos realizados levavam o
bém arquiteturas do cotidiano, não da exceção, ou seja, buscam tão diretamente o projeto ao canteiro, além de questões estéticas nome de CECAP, fazendo referência
cumprir para com uma certa ideia de domesticidade habitual, do que se afastam da linguagem modernista. Se configura, assim como ao seus sistema de desenvolvimento,
mas o projeto do Parque CECAP
dia a dia. Tal ideia de domesticidade, no entanto, está diretamente o CECAP, na hipótese do conjunto, no entanto cria as relações es- de Guarulhos é nomeado Conjunto
ligada à hipótese de sociedade que buscam responder. Por mais paciais de vizinhança muito diferentes, tanto em questão de arqui- Habitacional Zezinho Magalhães.
que algumas delas acabem por se tornar morfologias e territórios tetura como da própria construção do território. Zezinho Magalhães de Almeida
de exceção, não são arquiteturas monumentais. Por fim, como exemplo contemporâneo, de 2004, encabeça- Prado era o Superintendente da
Em ordem cronológica a primeira hipótese que se apresenta do pelo escritório do arquiteto uruguaio Hector Vigliecca, apresen-
CECAP na formação e início dos
trabalhos do Escritório Técnico.
é o edifício Anchieta, do escritório de arquitetura MMM Roberto, ta-se um dos projetos realizados dentro do plano de urbanização da (PUNTONI, 1997)
que integra a paisagem da Avenida Paulista e compõe o imaginário Favela de Heliópolis, em São Paulo, mais precisamente a Gleba A.
paulistano de um dos principais cartões postais da cidade. Edifício O projeto traz duas hipóteses de grande valia para a discussão mais 5. Cooperativa Pró Moradia de
isolado, vertical, data dos anos 1940 e por mais que esteja hoje contemporânea em relação a demanda habitacional, a primeira é a Osasco
objetos de estudo

em dia em plena sintonia com o adensamento da Paulista, foi o relação com a cidade informal, e como lidar com esses grandes ter-
primeiro edifício vertical dela, acompanhando o desenvolvimento ritórios auto construídos, consolidados e ao mesmo tempo carentes
da região em centralidade, além de inaugurar em São Paulo ideias dentro das cidades, e a segunda é como a construção de habitação
tanto de habitabilidade moderna quanto da linguagem arquitetô- pode colaborar para a conformação de uma urbanidade, desde seu
nica modernista carioca, de referência europeia. Se configura como uso até a seu desenho.
a hipótese do edifício lamina em área central consolidada. Os exemplos selecionados se afastam entre si quanto a tipo-
Em seguida examino o Parque CECAP2, dos arquitetos João logia e contexto, porém se aproximam por outro motivo: são proje-
Batista Vilanova Artigas, Paulo Mendes da Rocha e Fábio Pentea- tos que materializam suas hipóteses de forma singela, sem buscar a
do. Um dos últimos grandes exemplos dos anos 1960, antes que arquitetura espetacular, cada um tem um objetivo e uma estratégia
o modelo de financiamento de habitação popular do BNH3 se e usam de boa técnica para realizá-la. O interesse, por fim, é olhar
instaurasse durante a ditadura. Se o edifício Anchieta expressa a para a arquitetura do cotidiano do morar, que é estruturadora da ci-
estética carioca, o Conjunto Zezinho Magalhães Prado4 traz o ra- dade, seja a cidade formal em que se encontra o edifício Anchieta,
cionalismo paulista próprio dos arquitetos autores do projeto, tanto ou a informal, da Gleba A, ou como propositora de outras formas
na concepção do edifício, quanto em sua implantação - tratados na de vida coletiva, focando em outras demandas, que, apesar de seus
descrição e análise do projeto. problemas, também trazem consigo uma coerência interna.
Inserido em um contexto de consolidação da região metropo-

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01.
EDIFÍCIO ANCHIETA
EDIFÍCIO ISOLADO
ÁREA CENTRAL
MUNICÍPIO DE SÃO PAULO

02.
PARQUE CECAP
02 CONJUNTO HABITACIONAL
REGIÃO METROPOLITANA
MUNICÍPIO DE GUARULHOS

03
01

04

03.
COPROMO
CONJUNTO HABITACIONAL
REGIÃO METROPOLINA
MUNICÍPIO DE OSASCO

04.
GLABE A, HELIÓPOLIS
EDIFÍCIO EM ÁREA INFORMAL
MUNICÍPIO DE SÃO PAULO

18 19
Abordar o tema da habitação social no Brasil ultrapassa as desde grandes conjuntos habitacionais até edifícios isolados como 6. A Companhia Metropolitana de
discussões internas da disciplina da arquitetura, no que abrange no caso do edifício Anchieta. As diretrizes dos projetos do IAPI Habitação de São Paulo – COHAB-
SP, criada em 1965, é o orgão que
a estética, a linguagem, os materiais ou mesmo a organização dos se mostraram percursoras e compreenderam diversas questões do opera conforme os programas e
espaços, pois há um nível da discussão diretamente ligado às polí- urbanismo moderno em seus projetos, contando muitas vezes com ações estabelecidos pelo Programa
ticas públicas e à ação do Estado na produção de habitação. equipamentos e obras de infraestrutura em seus conjuntos. Habitacional do Município.
Por serem de financiamento público, cada um desses pro- O Conjunto Zezinho Magalhães é um empreendimento da
7. BONDUKI, N. G. Os Pioneiros da
jetos esteve ligado a uma política ou programa relativo à ação do antiga autarquia8 da Caixa Estadual de Casas para o Povo, CECAP,
Habitação Social - Inventário da
Estado na produção de habitação e sujeito à diversas restrições, seja e foi um dos primeiros geridos pelo orgão, a partir da mudança da Produção Pública no Brasil entre
verba, metragem e programa. Não somente a arquitetura conforma política de habitação com o início da ditadura militar no Brasil. A 1930 e 1964. São Paulo: Editora
uma hipótese da maneira de habitar e morar, mas também há um CECAP incrementou seus projetos a partir da implementação do UNESP, 2014.
nível associado à que o Estado acredita como suprir tal demanda. Banco Nacional da Habitação e do Sistema Financeiro da Habi-
8. Autarquia é definido pelo
Tal nível acaba por influenciar diretamente esses projetos, tação em 1964, passando ai a de fato construir conjuntos habita-
dicionário Houaiss como “Entidade
pois tem impactos sobre as diretrizes frente à demanda habitacio- cionais (PUNTONI, 1997). Os arquitetos Vilanova Artigas, Paulo autônoma, auxiliar e descentralizada
nal. Ao mesmo tempo, tais questões são, e já foram, o maior volume Mendes da rocha, Fábio Penteado - entre outros - que constituí- da administração pública, sujeita
de pesquisa relacionado à habitação coletiva de financiamento pú- ram o Escritório Técnico da CECAP para desenvolver o projeto, à fiscalização e à tutela do Estado,
com patrimônio constituído de
blico, e muitas vezes seus projetos são vistos unicamente por esse foram nomes mais tarde perseguidos na ditadura, mesmo tendo
recursos próprios, e cujo fim é
viés, algo que inclusive contribui para uma ideia de que a moradia realizado tal projeto no início do período. No entanto, representam executar serviços de caráter estatal
popular está atrelada a um certo modelo a ser replicado, e não um a vanguarda moderna da escola paulista, e o projeto do CECAP ou interessantes à coletividade
projeto que demande a mesma qualidade ou investimento discur- Guarulhos foi desenvolvido - em parte - e permaneceu referência
sivo do que habitações coletivas de financiamento privado. nas obras modernistas dos anos 1960. 9. A CDHU - Companhia de
contexto da política pública

Desenvolvimento Habitacional e
Para se traçar um panorama de projetos, como o presente Entre o Parque CECAP e o Conjunto COPROMO, em Osas-
Urbano do Estado de São Paulo
trabalho se propõe, seria válido incluir propostas que focaram seus co, ocorreu um grande período dominado pelos projetos generalis- - empresa do Governo Estadual,
objetivos unicamente na demanda quantitativa, porém, ao fim, de- tas do BNH, que criavam exatamente um modelo de habitação a vinculada à Secretaria da Habitação
cidiu-se que os projetos selecionados seriam aqueles que olharam ser replicado - e que se distanciava de uma pesquisa de indústria (descrição institucional).
também para as demandas qualitativas da habitação, e dão margem e produção de habitação em massa, como no caso do CECAP – e
para a discussão dos valores arquitetônicos intrínsecos a esses pro- buscava unicamente atingir números frente à demanda, além de
jetos, ultrapassando uma discussão unicamente político-econômi- iniciar uma lógica de crescimento das construtoras que produziam
ca. Os projetos tradicionais do BNH ou mesmo diversos conjuntos esses conjuntos.
realizados pela Cohab6 entre 1964 – ao início da ditadura – até o Por um lado, esses conjuntos tiveram um impacto urbano
final dos anos 1980, não tem em si uma hipótese de arquitetura. e marcam até hoje presença no mercado de habitação popular no
Sua hipótese é outra, é a da lógica da produtividade. Brasil. Como mencionado anteriormente, seria válido discuti-lo e
Além disso, publicações sobre o assunto tem crescido e fo- analisar qual o projeto de arquitetura está por trás de tal modelo,
ram referencia tanto para o levantamento dos projetos como para porém seguiu-se buscando hipóteses e estratégias de projeto que
o entendimento do contexto da política pública em que estão in- agregassem outras discussões de projeto e de construção de urba-
seridos. nidade. Por todo esse período – que vai do início da ditadura até
1986, quando foi extinto, sendo incorporado pela Caixa Econômica
O livro “Os pioneiros da habitação social”7 organizado por Federal - a legislação que operava na construção dessas obras dis-
Nabil Bonduki e Ana Paula Koury, levantou o panorama da política sociou a produção de habitação da construção de cidade.
pública de habitação, que vai desde 1930 até 1964, período ini- O COPROMO se insere em uma proposta de financiamento
ciado pelo governo de Getúlio Vargas, em que diversos institutos diferente de todas as demais, e é resultado de uma iniciativa im-
de financiamento de habitação popular são criados, até o início do plementada pela gestão municipal de Luiza Erundina (1989-1992)
período da ditadura militar. Neste panorama inclui-se o Edifício através do Programa Funaps Comunitário. O projeto em Osasco
Anchieta, que faz parte da iniciativa do IAPI (Instituto de Aposen- resulta do rateio entre as famílias, até parte de financiamento pelo
tadoria e Pensões dos Industriários), órgão responsável por grande CDHU9, além da construção por mutirão autogerido pela comuni-
parte da produção de habitação popular do período, que incluiu dade. Na época o USINA e alguns outros escritórios puderam par-

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10. Informação retirada do site ticipar de algumas iniciativas como esta, que demonstram até hoje das pessoas que lá habitam. As “solicitações de projeto” contem- IMAGEM 01
institucional da CDHU: http:// bons resultados em questões econômicas e de fixação da comuni- porâneas demandam uma aproximação para com os desafios sociais Conjunto promovido pelo Programa
www.cdhu.sp.gov.br/web/guest/ Minha Casa Minha Vida em Marabá,
institucional/quem-somos
dade no local. Ela se configura como uma experiência muito menos próprios de agora, seja a de reintegração com território existente PA, que revela a monotonia e
vertical de construção de habitação – no sentido de hierarquia de ou mesmo de lidar com a vacância dos centros urbanos (RUBANO, repetitividade da solução da
11. O Programa Minha Casa Minha decisão, e imposição de uma forma hegemônica e universal. Não 2014). Associando o discurso da disciplina da arquitetura e do urba- habitação própria de tal ação do
Vida é uma iniciativa do Governo se sente uma imposição do desenho do arquiteto tão grande nesse nismo em relação à habitar cidades - e também um entendimento Estado. A foto faz parte do ensaio
Federal fundado em 2009 e visa a fotográfico realizado por Tuca Vieira
projeto quanto por exemplo no CECAP, tornando-se um exemplo de como essa cidade apresenta-se - e à produção e o acesso à essas e apresentado na X Bienal de
promoção de habitação popular em
áreas urbanas e rurais.
da associação entre processo produtivo, financiamento e projeto. moradias. Arquitetura de São Paulo
E atende famílias das faixas de Por fim, dentro de um contexto contemporâneo de finan-
renda de abaixo de 5 mil reais ciamento, o projeto da Gleba A, em Heliópolis, é financiado pela
mensais bruto (faixas 1, 2 e 3) CDHU. “Herdeira” da autarquia do CECAP, a CDHU assumiu o
papel de principal promotora de habitação no estado de São Paulo
e a maior empresa habitacional do Brasil, movimentando cerca de
1 bilhão de reais por ano10. O entendimento da atuação da empresa
passa pela compreensão do desenvolvimento da política habitacio-
nal brasileira nos últimos 50 anos (ROYER, 2002), deixando mar-
cas em sua estrutura institucional.

Atualmente, a CDHU atua como agente financiador de novas


habitações, principalmente em áreas de precariedade, mas acabam
por inserir essas unidades na especulação do mercado imobiliário,
sem agir realmente a partir de uma política de desenvolvimento.
Sem dúvida, nos últimos anos, surgiram exemplos de boa arquite-
tura nesse campo. Sem uma diretriz consolidada para a habitação
- no sentido político - se estará unicamente “correndo atrás” de um
déficit, e não estruturando o acesso à moradia.
Ao mesmo tempo, a principal ação atual do Estado frente
à demanda da habitação é o Programa Minha Casa Minha Vida11,
que retoma a solução da reprodutibilidade e do lucro para a produ-
ção de moradia popular (imagem 01). Vivemos concomitantemente
uma discussão dentro da disciplina da arquitetura a respeito da ne-
cessidade de, a partir da promoção da habitação, provover também
cidades (FERREIRA, 2012) e um desinteresse político pelo deba-
te aliado ao interesse das construtoras.
A linha temporal dos quatro projetos permite um entendi-
mento da própria ação do Estado para com a habitação ao longo do
tempo. Iniciando-se em uma política muito controlada pelo Esta-
do – marcado pela gestão de Getúlio Vargas – passando para o foco
na produtividade, pragmatismo e a lógica do lucro (PETRELLA,
2011) e resultando nas condutas atuais da CDHU.
As soluções de projeto acompanham e acompanharam ao
longo do tempo uma vontade política atrelada também à um in-
teresse econômico vigente. Cada um dos projetos pode ser revisto
e reentendido frente às demandas atuais, mas permanecem mar-
cando e estabelecendo um tipo de território e uma forma de morar

22 23
A solução de projeto parte de um problema, de uma certa de- cial soma-se uma camada de agentes e condicionantes do projeto
manda programática, a qual o arquiteto usará de um determinado diferentes mesmo das demandas de recursos e tempo da iniciativa
método objetivo para conceber a melhor resposta para tal (MU- privada, de modo que cada política pública acaba por influenciar
NARI, 1998). no desenho desses projetos.
Nesse sentido surge a hipótese de projeto, que antevê, para
aquela demanda, qual a ideia espacial que responde melhor àque- O título do trabalho faz ainda referencia à ideia de “habitar”,
las necessidades colocadas. A hipótese surge não como a solução o que se torna essencial no que o presente trabalho considera na
em si, pois essa será o projeto, mas ela corresponde a uma série de construção de moradia.
valores sociais, urbanos, técnicos e de linguagem que se buscará Henri Lefebvre diferencia o habitat do habitar, entendendo
materializar em um edifício. o primeiro unicamente como suprimento da necessidade de ha-
No caso do problema habitacional tem-se um método ou bitação do indivíduo para sua sobrevivência, em contraposição ao
modelo bem claro. As necessidades programáticas de uma casa são habitar, em que soma-se à apropriação do espaço em si, e como
algo bem definidos na sociedade ocidental que desde a revolução aquele espaço permite um direito à cidade (LEFEBVRE, 2001).
industrial vem projetando a casa operária ou popular urbana – isso Se Lefebvre coloca o direito à cidade como:
sem questionar essas necessidades no mundo contemporâneo ou
se a organização espacial tradicional não reproduz algumas rela- “Significa o direito dos cidadãos – cita-
ções sociais já ultrapassadas. No entanto o programa relacionado à dinos e dos grupos que eles constituem
morar é algo bem consolidado em nossa sociedade.
(sobre a base das relações sociais) de
Confirmamos isso uma vez que todas as demandas coloca-
das pelo poder público para as unidades reproduzem as mesmas figurar sobre todas as redes e circuitos de
necessidades programáticas: uma área social, de convivência con- comunicação, de informação, de troca”
junta, as partes privadas dos quartos e um núcleo de área molhada (LEFEBVRE, 2008, p. 31)
com um banheiro, uma cozinha e uma área de serviço. O edifí-
cio Anchieta foge um pouco ao modelo, uma vez que conta com É válido questionar se o modelo do conjunto habitacional
um quarto unido às áreas molhadas destinado a uma empregada realmente corresponde à esse direito e se configura como um
doméstica. A existência desse cômodo demonstra a destinação a espaço de habitação e não somente de habitat. A cisão entre
uma classe de mais alta renda dentro da classe dos industriários e o conjunto e a cidade tradicional – não histórica, mas a cidade
também quais necessidades e relações estavam incluídas em um heterogênea – distancia seus moradores das redes de troca, e não
apartamento de 1940. faz a manutenção ou a reprodução de novas redes de troca e de
projetar o habitar

espaço urbano público de qualidade.


Existe, no entanto, uma distância entre como essa deman- Nos anos 1960 e 1970, com o avanço do liberalismo e da
da programática é idealmente entendida pelos órgãos de financia- especulação imobiliária nas cidades brasileiras - mas principal-
mento e produção dessas habitações e pelos próprios arquitetos. O mente nos grandes centros, como a região metropolitana de São
modo de vida doméstico e a configuração das famílias muitas vezes Paulo – ocorre concomitantemente o crescimento e consolidação
não correspondem a essa visão socialmente elaborada. O projeto das favelas, como alternativa e resistência das populações que não
do CECAP, por exemplo, responde à esse afastamento entre as detinham meios de permanecer em suas moradias anteriores. Esse
demandas ideais e as reais com uma solução de projeto que permi- período corresponde aos projetos, por exemplo, do CECAP, em que
te a flexibilização dos espaços – fortemente defendida no ideário a ação do governo para com a habitação - no caso o período da dita-
modernista – a partir das divisórias entre os cômodos em gesso, dura - se torna unicamente um acesso à uma certa ideia de moradia
facilitando remoções ou alterações dos ambientes, como discutido digna e da construção numérica de unidades habitacionais. Ao fim
mais a frente no trabalho. da década de 1980 e inícios dos anos 1990, por sua vez, retoma-
Suprir uma demanda de habitação popular envolve não ape- -se uma valorização e defesa da manutenção do espaço da cidade
nas atingir um determinado programa – mesmo que idealizado – como espaço legítimo do habitar, desassociando o morar somente
mas envolve demandas de recursos, prazos e outras determinações à unidade habitacional.
relacionadas à política pública. Nesse sentido, para a habitação so- Concomitante, ocorre um crescimento à defesa às cidades

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informais e autoconstruídas, vendo como uma possibilidade de ha- A teoria crítica de arquitetura tem emprestado de outras dis-
bitabilidade para as populações que ali se instalam - com a devida ciplinas seus métodos de analise, seja a historia, a arte, a sociologia,
revisão de precariedade que também muitas vezes lhe é própria. ou as contribuições filológicas de estudo de dados sociais ou téc-
Isso surge, em oposição à uma ideia de arquitetura universalizan- nicos (ZEVI, 1996). No entanto a própria produção da arquitetura
te, funcional e racional, imposta hierarquicamente - como ocorre não se faz a partir desses códigos, o que implica em uma distância
muitas vezes nos conjuntos habitacionais. O COPROMO, por mais entre a própria arquitetura e o método de analisa-la.
que seja um conjunto, aparece nessa transição, aproximando a co- Há também uma distância entre o que a arquitetura produz
munidade da produção do espaço, ainda que se configure como um - espaços – e o instrumento que utiliza em seu processo de con-
território de exceção ao tecido urbano. cepção – o desenho. A partir dele, a arquitetura assumiu códigos
Por mais que conformem esse tipo de território, é neces- de representação abstrata dos espaços, representando o volume ar-
sário relativiza-los como ação, entendendo-os exatamente como quitetônico como uma projeção ortogonal das seções horizontais e
as hipóteses que são, entendendo-os como produtos de uma verticais do edifício, ou seja, as plantas e cortes.
concepção de um contexto não apenas arquitetônico, mas fruto de
expectativas do desenvolvimento de habitação por parte do Esta- “Os desenhos arquitetônicos são, na
do. melhor das hipóteses, um modo de traba-
lhar, e de pensar a arquitetura, e que, por
natureza, em geral se referem a algo que
está fora deles (ao contrario dos dese-

a represetação na arquitetura
nhos artísticos que remetem unicamente
a si mesmo, a sua materialidade e proce-
dimentos.)” (TSCHUMI, 1980)

Por mais que a arquitetura se faça da materialização desses


espaços, dos cheios e dos vazios realizados em si, a ferramenta de
desenho é chave na arquitetura e em seu entendimento, pois é o
instrumento que a disciplina adotou para projetar os espaços no
sentido mais literal da palavra: projeta-los num futuro, imaginar
como se articularão os volumes e os vazios que se tem a intenção
de criar, como eles serão ocupados, que atividades ocorrerão ali.
O desenho arquitetônico seria antes linguagem ou projeto?
Ele apresenta e retrata algo externo a eles ou são em si uma inten-
ção? Como linguagem o desenho de arquitetura possui os próprios
códigos de representação, referenciando elementos à símbolos (ima-
gem 02) e permitindo o diálogo entre as diversas disciplinas que
compreendem o desenvolvimento de um projeto – da engenha-
ria ao canteiro de obras. Como projeto, contém em si o plano e a
finalidade de materialização, mas depende dessa linguagem codi-
ficada para tanto.
A comunicação entre esses dois planos da existência da ar-
quitetura - o desenho e o edifício construído – foi estruturado e
consolidado dentro da disciplina, de modo que a abstração dos
planos ortogonais bidimensionais vão se tornando conhecimento
adquirido e internalizados pelos seus executores.
A representação investigada no presente trabalho se apre-

26 27
senta como linguagem analítica dos projetos, é um esforço de, se IMAGEM 03.
Neste exemplar da arte popular
utilizando dos códigos tradicionais da representação arquitetônica
brasileira, de Antonio Poteiro, a
- a projeção ortogonal - uni-la à volumetria dos espaços, como forma paisagem da várzea e do rio, é
de sintetizar esses diversos planos que conformam uma edificação. representada a partir de uma
As linhas da planta também estão associadas à uma dimen- simultaneidade de planos que não
se configuram como nossos olhos
são vertical, e a união das duas qualidades dessas linhas é que per-
captariam tal cena, ao mesmo
mite nos aproximar da materialização delas no espaço. tempo, ainda nos permite entender
A representação utilizada pode ser estranha aos olhos, uma a cena, as diversas posições dos
vez que une duas projeções ortogonais paralelas do espaço - a plan- jogadores de futebol e os barcos
ta e a elevação - adicionando ainda um nível tridimensional. O de- navegando no rio.

senho faz referencia ao mesmo tempo que se afasta da representa-


ção tradicional arquitetônica, e não reproduz uma percepção de um
observador do espaço.

A difusão da representação a partir das imagens renderizadas


são, por exemplo, uma tentativa de reproduzir a experiência de um
observador. Por mais que, de certa forma, tais imagens aproximem IMAGEM 04.
a representação da experiência, elas não deixam de ser construções. A arte egipcia antiga é reconhecida
IMAGEM 02. Por mais que uma das discussões colocadas seja como esses pela bidimensionalidade da
Correspondência entre os códigos representação, ao retratar pessoas
espaços projetados são experienciados, o esforço do presente tra-
de desenho da arquitetura e seu e animais de forma planificada.
elemento. No caso, a forma como balho é representar a materialização de uma espacialidade a partir O exemplo de estuque ao lado
diferentes tipos de aberturas nos dos próprios códigos usados em sua concepção – sendo esses códi- também se utiliza da planificação
elementos de vedação vertical gos as representações ortogonais. dos elementos, apresentando
(paredes)são representados em concomitantemente vários pontos
Ou seja, reunir os códigos utilizados pela disciplina para con-
planta no desenho de arquitetura. de vistas diferentes, por exemplo, o
ceber o espaço e sua hipótese de projeto com a materialização do lago com a vista superior, ao mesmo
espaço em si criado: a relação entre os diversos elementos arquite- tempo que as árvores frontalmente.
tônicos, suas dimensões horizontais, verticais, e a relação entre os
espaços internos e externos.
A vista paralela também favorece a não-hierarquia dos ele-
mentos na tridimensionalidade, uma vez que todas as medidas fi-
cam em mesma grandeza.
É interessante também notar que esse método de represen-
tação – a partir do rebatimento de planos – aparece em outros con-
textos onde não se busca um entendimento pela disciplina e sim
uma necessidade de retratar o espaço. É o caso por exemplo da
arte popular brasileira (imagem 03) ou mesmo a arte do antigo Egito
(imagem 04). A dificuldade de tornar bidimensional o espaço vivido,
encontrou a mesma solução em culturas totalmente diferentes e
demonstra uma tendência e necessidade de demonstrar simulta-
neamente diversos pontos de vista de um espaço, seja qual for.

28 29
Tais exemplos se tratam da representação arcaicas do espaço, IMAGEM 05.
Referência mundial, o manual de
no entanto, torna-se simbólica da necessidade de apresentar a ar-
dimensões e organização dos
quitetura em geral – entendendo aqui a arquitetura como a cidade espaços realizado pelo arquiteto
em si, os espaços livres e construídos. alemão Ernst Neufert, toma
Ao mesmo tempo, apesar de esforços, sejam eles vernacula- como partida algumas medidas e
proporções que seriam adequadas
res, técnicos ou subversivos, parte da existência de uma obra não
para a habitabilidade de um ser
pode ser representada de nenhuma forma. Seu entendimento em humano no espaço.
totalidade só é conhecido e vivido na experiência direta. Principal-
mente se tratando de habitação, em que o real entendimento do
espaço se da na vivencia cotidiana dele.

“O caráter essencial da arquitetura – o


que a distingue das outras atividades
artísticas – está no fato de agir com um
vocabulário tridimensional que inclui o
homem” (Zevi, 1996, p. 19)

Os desenhos técnicos de arquitetura nunca contam com a


presença humana em si, apenas supomos que aquelas grandezas,
distâncias e proporções o consideram de alguma maneira. Propor-
ções essas que foram também sempre assumidas como possíveis
valores a serem universalizados e representados como verdades a
serem aplicadas. (imagem 05)
Neste sentido também se introduz uma dimensão que não
é abarcada pelos desenhos técnicos de arquitetura: a apreensão
temporal que ocorre a partir do deslocamento humano no espa-
ço ou sua interação nele (imagem 06). A simultaneidade de ângulos,
perspectivas e olhares que temos ao estar em um espaço não está
presente em uma representação bidimensional (ZEVI, 1948).

Ao ser introduzida como disciplina, a arquitetura evolui con-


juntamente com suas representações: desenvolvendo o desenho IMAGEM 06.
arcaico, estabelecendo a planta e o corte como código próprio, a A imagem, intitulada “Increasing
invenção da perspectiva, até as formas contemporâneas de repre- disorder in a dining table” revela um
sentação a partir dos renders. Uma vez consolidada, a própria dis- esforço em representar o tempo
na arquitetura, a partir da interação
ciplina também presta um autoquestionamento, e a subversão da
humana com os objetos.
representação se introduz como parte da crítica e da renovação da
concepção projetual. A arquitetura pós-moderna, através do acesso
à diversas tecnologias nos mostra como esse desenvolvimento e
essa subversão afeta o próprio método de projeto, seja através da
parametrização possibilitada pelos novos sofwares, ou pelo racio-
cínio que não parte mais unicamente dos desenhos tradicionais, e
sim se utilizado do diagrama ou de dados para ser concebido.

30 31
As ferramentas que o arquiteto dispõe para projetar estão IMAGEM 08.
Neste retrato do projeto da Sadat
diretamente associadas aos resultados encontrados. Se fossemos
Rest House, de Hassan Fathy,
mais a fundo em cada um dos projetos, entendendo cada etapa de autoria do próprio arquiteto,
de sua concepção e desenvolvimento seria possível, por exemplo, há, tanto a referência à própria
perceber diferenças em um projeto que partiu do croqui de outro representação do antigo Egito,
IMAGEM 07. quanto a subversão da maneira
que partiu de uma maquete, ou mesmo de um projeto concebido
Mario Botta utiliza da representação tradicional de representação
paralela como discurso de na prancheta de outro realizado em sua totalidade nos softwares arquitetônica. Aqui o arquiteto
linguagem e de projeto. dos computadores. realiza a mesma estratégia de
rebatimento dos planos ortogonais
que conformam o entendimento do
desenho de arquitetura: a planta e
as elevações.

IMAGEM 09.
O cartaz produzido pelo Arquiteto
Alex Wall para o escritório Office
for Metropolitan Architecture do
arquiteto Rem Koolhaas, baseado no
projeto para o concursodso Parc La
Villette também usa da planificação
como forma de subversão do
entendimento tradicional do espaço.

32 33
As representações realizadas - que constam na segunda parte dade pode tanto terminar em si, como no caso do Anchieta, como 12. Citação reproduzida na página
do trabalho - a partir das bases tradicionais dos projetos, ou seja, pode ser reproduzida por toda a gleba do conjunto, como no caso 26 do presente trabalho, relativo à
referência bibliográfica Zevi, 1996,
suas respectivas plantas e cortes, tornam-se o próprio método de do COPROMO. p. 19
aproximação dos projetos. Se a o concepção desses projetos foi rea- • Essa análise, já se aproxima da escala do edifício e com as relações
lizada a partir do desenho, ao refaze-los a partir do modelo eletrôni- espaciais estabelecidas entre ele e sua externalidade. Nesse caso
co – método escolhido para essa reconstrução e posterior síntese já é utilizada a representação proposta, em que os diversos planos
de representação – é possível identificar o raciocínio que existiu ortogonais são justapostos exatamente para propor uma compreen-
em seu desenvolvimento, as modulações, as repetições e a organi- são de como a volumetria interna do pavimento se relaciona com
zação dos ambientes a partir de premissas arquitetônicas. a externa.
Pelo fato dos projetos contidos neste trabalho serem exem-
plares das hipóteses que representam, e comuns no imaginário da Escala da unidade, da porta para dentro. O primeiro módulo do
história da arquitetura e dos arquitetos em geral, o acesso aos de- habitar proposto por cada um dos projetos, a organização da casa,
senhos originais e tradicionais são acessíveis, e portanto, conside- a relação com a circulação e as possibilidades espaciais propostas
rou-se de mais valia a ressignificação dos mesmos, como parte do por cada uma.
estudo, ao invés de apenas reproduzi-los como já se conhece. • A análise da unidade parte da planta, se amplia para o recorte
De toda forma não foram desconsideradas as bases originais de cada ambiente com a tridimensionalidade do plano ortogonal
e as formas de apresentação tradicionais de planta e corte. Cada rebatido e insere a escala humana no trabalho, retomando a fala de
uma das representações está associada a uma forma de compreen- Bruno Zevi12, estabelecendo - baseado nos layouts propostos pelos
são da arquitetura. arquitetos nos projetos originais - um mapa de uso e ações possí-
Duas formas de síntese da representação para posterior aná- veis, a partir da negativação dos cheios e vazios.
lise dos edifícios foram propostas, primeiramente a perspectiva pa-
ralela que associa as projeções ortogonais horizontais e verticais, e A variedade de representações que foram solicitadas para
o diagrama axonométrico, que por mais que também se afaste de compreender os vários níveis de um projeto demonstram em si
uma percepção do observador do espaço, é um código mais comum a complexidade em que um projeto se baseia, de nível urbano à
ao entendimento, e busca demonstrar a tridimensionalidade total unidade habitacional.
pesquisa de linguagem

do edifício. Essa representação foi utilizada exatamente para as


questões diagramáticas, buscando o entendimento mais direto, en-
quanto a primeira busca a apresentação desses edifícios enquanto
arquitetura, concepção e espaço criado.
Para tal entendimento foram definidas algumas escalas de
projeto a serem apresentadas:

Escala urbana como análise da urbanidade proposta por aquele


projeto: ele se insere em uma urbanidade? Ele propõe uma nova
forma de ocupação do território? Quais elementos urbanos são tra-
zidos para dentro do projeto?
• A análise se faz a partir das implantações dos projetos em escalas
que caracterizam os desenhos quase como mapas.
• A partir do levantamento dos aspectos urbanos próprios de cada
um dos contextos (áreas livres, sistema viário, aspectos do projeto)
pretende-se expor quais relações urbanas estão propostas, seja do
projeto em si ou do projeto com seu entorno imediato.

Implantação na escala do lote, unidade do território determinada


pelo edifício e pelo entorno imediato que ele qualifica. Essa uni-

35
quatro hipóteses
hipotese i • edificio anchieta
hipotese ii • parque cecap
hipotese iii • copromo
hipótese iv • gleba A, heliópolis
O edifício Anchieta, obra do escritório MMM Roberto,
de 1941, estréia a verticalização da Avenida paulista através
da construção de habitação promovida pelo IAPI (Instituto de
Aposentadoria e Pensões dos Industriários). Primeiro edifício
vertical da Avenida Paulista, acompanhou o desenvolvimento da
região em centralidade urbana e econômica.
Implantado no que hoje se configura como uma área
extremamente consolidada, o edifício que estava inserido em um
hipótese i • edifício anchieta

programa de construção de moradia para aluguel pelos industriários


na realidade nunca se configurou como um edifício para a classe
popular dos trabalhadores, tendo sido sempre ocupado pelo alto
escalão dentre os industriais.

Tem uma importância urbana muito grande e uma escala


como habitação coletiva relevante.
A arquitetura dos irmãos Roberto esta inserida na Escola
Carioca, e trás consigo alguns aspectos da mesma, a qual está muito
ligada a uma primeira experiência modernista no Brasil, que partiu
do Edifício Gustavo Capanema, que inaugura no Brasil a tipologia
da lamina, com pilotis, terraço e dinamismo da fachada. Muitos dos
edifícios do escritório trazem essas características, e quase todas
estão presentes no edifício Anchieta.
Por mais que a promoção de habitação no caso do edifício
Anchieta não tenha tido o enfoque social, é importante localiza-lo
na produção do IAPI, nos anos 1940, que desenvolveu, durante
o Estado Novo de Getúlio, um número relevante de habitações
“populares” - como era denominado na época. Além disso, o edifício
Anchieta inaugura diversos aspectos da produção de habitação
coletiva em São Paulo, trazendo tendências internacionais do
modernismo, desde a verticalidade, até o uso misto e diversas
questões de linguagem. Tem presença relevante na centralidade
da Avenida Paulista, e marca em seus espaços e em seu projeto
uma visão de urbanidade, além de um modo de habitar.

escala 1:1000 39
hipótese 01 • edifício anchieta

imagem 10

imagem 11

LOCAL: Avenida Paulista, São Paulo, SP, Brasil

COORDENADAS: 23o33’18.57’’ S, 46o39’46.96’’ W

ANO: 1941

ARQUITETURA: Marcelo e Milton Roberto

USO ORIGINAL: Moradia para a classe dos industriários e


comércio

SISTEMA DE DESENVOLVIMENTO: IAPI


(Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários)

TIPO DE AGRUPAMENTO: Edifício Isolado

40 41

imagem 12
unidade

área total (m2) 120


área seca (m2) 95
área molhada (m2) 25
número de habitantes 6

pavimento

área apartamentos (m2) 950


área circulação horizontal (m2) 180
área circulação vertical (m2) 70
área uso comum (m2) 0
número de unidades 8
área total (m2) 1200

edifício

pavimentos 12
pavimentos residenciais 11
total de unidades 80
pavimentos uso comercial 2
pavimentos com garagem 1 Apesar da metragem muito acima de uma média das habitações
1 populares, a verticalidade do edifício Anchieta favorece uma
levantamento de dados

pavimentos área comum


área total residencial (m2) 9600 densidade populacional no projeto.
área total circulação horizontal (m2) 2160 Além da verticalidade, o edifício tem um índice alto de taxa de
área total circulação vertical (m2) 840 ocupação e de coeficiente de aproveitamento (CA) do terreno em
área total uso condominial(m2) 1200 que está implantado.
área total uso comercial (m2) 2400 Seus dados também demonstram que em sua verticalização não
área total construída (m2) 14400 existe apenas adensamento construtivo - realidade das construções
total moradores 480 contemporâneas de alto padrão.

No caso do Edifício Anchieta, por se tratar de um edifício isolado


projeto os dados encontrados satisfazem o projeto como um todo.

total de edifícios 1 O valor de 1200 habitantes por hectare, se comparado com o valor
população total 480 da cidade de São Paulo (73 hab/ha) traz a questão do potencial de
área total construída (m2) 14400 adensamento da cidade, uma vez que expõe o quanto a cidade é
área terreno (m2) 4000 esparsa. Localizado em um dos bairros nobres e centrais, a Bela
ca 3,6 Vista, os dados de densidade populacional também se apresentam
taxa de ocupação 0,6 como um dos mais altos índices entre os bairros de São Paulo.

densidade populacional do projeto (hab/ha) 1200 O levantamento de dados corresponde à expectativa do projeto, e
densidade populacional do entorno (hab/ha) 260 de sua hipótese de referência à Unite D’habitacion modernista, no
que diz respeito ao adensamento populacional da cidade moderna.

43
projeto • concepção arquitetônica

O edifício Anchieta faz clara referência à Unite D’habitacion,


conceito cunhado por Le Courbusier nos anos 1920 e que se
materializou a partir edifício Cité radieuse, em Marselha França,
em 1947,
Le Corbusier desenvolveu o termo como um manifesto do morar
coletivo do homem moderno.

O edifício segue alguns dos preceitos da arquitetura moderna,


difundida pelo próprio Le Corbusier, do teto jardim aos pilotis.
Também traz em si a ideia do morar moderno: unindo lazer,
habitação e comércio em um edifício vertical e denso.
Para além das referências européias que traz em si, o Anchieta
é também representante claro da escola carioca modernista: a
marquise curva da cobertura, as circulações avarandadas.
Neste sentido, o edifício Anchieta materializa sua hipótese
arquitetônica, ele é o projeto moderno que, no início dos anos 1940,
passava a construir a cidade moderna, tanto no sentido urbano
quanto estético.

sem escala 45
projeto • concepção arquitetônica

O edifício lâmina é reconfigurado para a sua situação urbana de


esquina, e organizado, portanto, em duas lâminas, uma principal,
mais extensa, voltada para a Avenida Paulista, e outra com fachada
para a Avenida Angélica. As unidades habitacionais são organizadas
também a partir dessa configuração: as unidades tipo na lâmina
principal e as unidades duplex na secundária.

Distando da esquina, em direção a Avenida Angélica existe uma


variação de gabarito decorrente de uma questão de legislação
e recuo em relação aos lotes vizinhos. Nesse trecho existe duas
unidades de uma variação da unidade duplex tipo.

Mesmo contendo a ideia da lâmina modernista, vê-se que há, com


a introdução de elementos relacionados ao contexto urbano em
que se insere, uma reconfiguração da ideia tradicional da lâmina,
criando um volume e uma organização espacial única.

Apesar do contexto modernista da cidade funcional, o Anchieta na


realidade se insere em uma conformação da cidade tradicional, em
que os edifícios conformam o espaço dos logradouros públicos.

46 sem escala 47
projeto • concepção arquitetônica

A respeito do térreo comercial, originalmente haveriam ali


três espaços comerciais, todos com sobreloja. A licença para o
uso comercial no edifício só foi liberada em 1952, no entanto,
atualmente apenas uma das lojas é utilizada: a esquina. Esse
espaço foi por muitas décadas e voltou a ser atualmente, ocupado
pelo Bar Riviera, que na época trouxe notoriedade para o edifício.
O espaço comercial ocupado pelo bar Riviera tem particularidades
que lhe conferem características especiais, como por exemplo a
escada circular que dá acesso a sobreloja e a vedação vertical em
tijolo de vidro na esquina.
Todo esse térreo possui um plano de vidro como fechamento e é
marcado pelo ritmo dos pilotis, que vencem os dois pés direitos
ocupados por essa área não residencial

O Edifício Anchieta tem uma implantação que favorece a


conformação do espaço público da calçada, uma vez que se insere
diretamente ligado à este espaço. Atualmente existe uma grade que
separa a área do térreo condominial do espaço público, porém no
projeto original, o jardim e os pilotis tinham a intenção de integrar
o espaço público e o privado.

48 sem escala 49
volumes construídos: volumes construídos:
descrição • qual urbanidade? lâmina e bloco de garagem lâmina

É marcante o fato de que os edifícios dos Irmaos Robertos estão


muitas vezes localizados em áreas centrais e dinâmicas. Isso se repete áreas não edificadas do lote sistema viário:
no edifício Anchieta, em uma das esquinas mais movimentadas de entorno imeditato
São Paulo, entre a Rua da Consolação e a Avenida Angélica, com
a fachada principal para o final da Avenida Paulista. Também está
localizada a frente do viaduto Okuhara Koei, que cria o acesso entre
a avenida doutor Arnaldo e a Avenida Paulista. Essa estrutura viária
também garante uma visualidade grande para a fachada principal
do edifício, no entanto também configura um não-lugar, refém do
sistema viário e um entrave na continuidade do tecido.

a
O edifício ocupa um terreno retangular, que cruza a quadra,

lic

an
possibilitando frente para três ruas. Ele se organiza em um

a
id
en
av
embasamento comercial, com frente para a avenida paulista e uma
profundidade de aproximadamente 1/3 do terreno. É onde também
via
se dá um dos acessos de moradores. A transição entre o espaço público du
to
ok av
da rua, e o edifício Anchieta se dá por algumas áreas ajardinadas, que uh
ar
a
ko
en
id
a
pa
conferem um pequeno espaço livre no terreno, a real área de lazer ei ul
ist
a laç
ão
so
livre se concentra na cobertura. da
co
n

Ainda no piso térreo, atrás dessa área se estende a garagem do edifício,


a
ru

sua laje era destinada para um pátio de uso condominial, mas não se
efetivou e acima disso não há nenhuma edificacão, garantindo um
espaço grande entre a torre residencial e os lotes vizinhos.

51
Acima do térreo comercial sobe a torre residencial, com 10
pavimentos. Ela se divide basicamente em três tipos de
apartamentos. Se organizando como a forma mais clássica da
lamina, cada apartamento ocupa a extensão transversal da lamina,
tendo sua fachada principal para a rua e o fundo para a circulação
descrição • unidade espacial

horizontal avarandada.

A unidade da esquina tem a mesma estrutura da tipo, porem pelo


seu lugar privilegiado tem uma reorganização do programa entre
as duas fachadas principais que ocupa, não tendo inclusive acesso
para a circulaçãoo horizontal avarandada.

A extensão em “L” tem sua fachada para a Avenida Angelica.


Nesta outra lamina que se volta para a Avenida Angelica estão
contidas as unidades duplex. Duas delas (que são iguais) ocupam
os 10 pavimentos e são organizadas em sala, voltada para a fachada
principal e cozinha e quarto de emprega domestica para a circulação
horizontal no piso de acesso, e no segundo pavimento possui dois
quartos, voltados para a fachada principal, e áreas molhadas e um
terceiro quarto para a secundaria.

A fachada do edifício Anchieta não possui o clássico elemento


de dinamismo tão usado pelos irmãos roberto e os modernistas
cariocas em geral, o Brise Solei, porem há uma preocupação em
criar um ritmo e uma variação na fachada. Cada unidade se alterna
em deixar a marcação da laje evidente, com parapeito apenas para
os quartos e plano de vidro para a sala, e outras com parapeito em
toda a extensão, englobando a laje. As cores das pastilhas usadas na
fachada também colaboram com isso, além dos planos de empenas
cegas.

0 1 5 10
53
descrição • da porta para dentro

As unidades tipo - não duplex - do edifício Anchieta ocupam a


lâmina principal, com fachada principal voltada para a Avenida
Paulista.
Ela conta com quatro quartos, dois deles ocupando parte da extensão
da fachada principal, o terceiro ocupa a fachada secundária, assim
como o último quarto que consta nos memoriais descritivos do
edifício como “quarto de empregada doméstica”. A presença de
um quarto destinado a empregadas domesticas é um indicativo do
tipo social a que seriam destinados esses apartamentos pelo IAPI.

A sala e área de convívio social do apartamento ocupa parte da


extensão da fachada principal e possue abertura de iluminação
e ventilação que varia a partir do ritmo da fachada: em alguns
momentos o caixilho das janelas ocupa todo o pé direito, em outros
apenas o vãoa partir do parapeito.

A organização do apartamento se dá a partir da entrada social e de


uma distribuição dos ambiente através dos corredores. Há também
uma configuração das compartimentações internas típica dos anos
1940 e 1950 de prever a instalação de mobiliário e layout fixo, como
armários e eletrodomesticos.

O núcleo de área molhada se concentra na parte posterior da


fachada, tendo acesso pela circulação avarandada e aberturas
voltadas para ela, configurando-se como fachada secundária, mas
permitindo a ventilação cruzada e abertura de todos os ambientes
para uma área externa.

55
0 1 5
diagramas • circulação

A circulação vertical principal/social se organiza por um elevador


que atende duas unidades, tendo um hall que dá acesso a elas. Por
mais que tenham acessos diferentes, toda a circulação se concentra
no fundo da torre, garantindo toda a extensão da fachada principal
para os apartamentos.

O hall social é mínimo e se organiza a partir do elevador, enquanto


a circulação horizontal avarandada toma toda a extensão da lâmina,
marcando a fachada secundária.

Os cômodos que se concentram junto à circulação tem abertura


de janelas voltadas para o corredor, assim como um acesso ao
apartamento pela área de serviço, marcando mais uma vez uma
diferenciação de caráter social entre o edifício Anchieta e o restante
dos projetos, uma vez que é o única exemplar analisado que possui
dois acessos, caracterizados como entrada social e entrada de
serviço.

sem escala 57
diagramas • circulação

O edifício em formato de L, conformando na realidade, duas


laminas, possui também duas circulações verticais - nas fachadas
voltadas para o miolo do lote- uma para cada lamina, e também
circulação horizontal avarandada independente.
Para a lamina principal e mais extensa, essa circulação se conforma
como secundária/de serviço. Para a lamina menor que contem as
unidades duplex ela é a única circulação e conta com um núcleo
de escadas e elevadores.

Pelo recuo criado entre a torre residencial e os lotes vizinhos,


ambas as circulações tornam-se bastante visiveis e marcantes
na paisagem, de forma que ajudam a configurar a volumetria
e linguagem do edifício, ganhando algum protagonismo, e não
apenas como circulações funcionais.

58 sem escala 59
O parque CECAP de Guarulhos é uma das últimas experiências
de produção de habitação popular promovida pelo Estado antes
de um longo período marcado pelos projetos do BNH durante a
ditadura militar no Brasil.
A implantação em Guarulhos demonstra o contexto de consolidação
da região metropolitana de São Paulo, e o enfrentamento da questão
habitacional pelo Estado em uma das áreas de maior concentração
de moradia operária.
Projeto dos arquitetos Vilanova Artigas, Paulo Mendes da Rocha e
Fábio Penteado o Conjunto Zezinho Magalhães faz referencia às
hipótese ii • parque CECAP

matrizes corbusianas ao mesmo tempo que se torna uma referencia


para a arquitetura e o urbanismo modernista paulista e brasileiro.

A implantação e organização urbana, a malha ortogonal e o


sequenciamento paralelo das lâminas expõe o racionalismo que
organizam a concepção urbana – que se estende desde a concepção
arquitetônica da unidade.
A lógica de democratização da moradia é o que rege o projeto,
e o próprio processo de produção dos edifícios - pautado na
pré-fabricação e na produção em série - também refletem isso.
(PETRELLA, 2016).

Por mais que o projeto tome uma posição de agente da urbanização


dentro do contexto de crescimento da região metropolitana, o plano
urbano que cria, por mais que conte com equipamentos de lazer,
saúde e educação, é insuficiente no entendimento da conformação
da cidade. É uma ideia de universalização da ideia do habitar, que
associava o homem moderno, à indústria e à moradia. No entanto,
acaba perdendo uma historicidade das cidades e uma hierarquia de
território própria do ambiente urbano.
A visão abstrata e utópica que cria a respeito do habitar está
estritamente relacionada com o ideário do projeto moderno, no
estabelecimento de novas formas de morar que estivessem de
acordo com a vida moderna consolidada (KOPP, 1990). No entanto
se distancia de uma ocupação histórica da heterogeneidade dos
tecidos urbanos e de uma visão atual relacionada ao habitar.

escala 1:10000 61
hipótese 02 • parque CECAP

imagem 13

imagem 14

LOCAL: Guarulhos, SP, Brasil

COORDENADAS: 23o27’26.31’’ S, 46o29’33.46’’ W

ANO: 1967

ARQUITETURA: Vilanova Artigas, Paulo Mendes da Rocha, Fábio


Penteado

USO ORIGINAL: Habitação população operária sindicalizada de


São Paulo

SISTEMA DE DESENVOLVIMENTO: Caixa Estadual de Casas


para o Povo

TIPO DE AGRUPAMENTO: Conjunto

62 63

imagem 15
unidade

área total (m2) 52


área seca (m2) 38,5
área molhada (m2) 13,5
número de habitantes 4

pavimento

área apartamentos (m2) 1120


área circulação horizontal (m ) 2 75
área circulação vertical (m2) 50
área uso comum (m2) 0
número de unidades 20
área total (m2) 1245

edifício

pavimentos 4
pavimentos residenciais 3
total de unidades 60
pavimentos uso comercial 0
pavimentos com garagem 1
pavimentos área comum 1
área total residencial (m2) 3120
área total circulação horizontal (m2) 300 O projeto do CECAP não foi construído em sua integridade, o
área total circulação vertical (m2) 200 conjunto que encontramos hoje é referente à aproximadamente
levantamento de dados

área total uso condominial(m2) 1245


metade do pretendido por seus arquitetos.
área total uso comercial (m2) 0
área total construída (m2) 4980
total moradores 240 Os dados levantados a partir do que foi construído, gera resultados
distorcidos: densidades e taxas de ocupação baixísimas.
Portanto foi também considerado o cálculo de uma freguesia -
conjunto unidade espacial nomeada no memorial do projeto - que envolve
duas quadras com metragem de, aproximadamente, 160x160m, e o
edifícios 16
sequenciamento de 16 edificios de lâmina dupla.
população 3840
Isso também permite entender o projeto como unidade espacial
área construída (m2) 79680
área do módulo urbano selecionado (m2) 64392 menor que a de um conjunto monofuncional de grande escala,
densidade populacional 596,3 pensando como poderia estar inserido em outra qualidade urbana.
ca 1,23
Mesmo que gerando valores muito mais altos de adensamento
projeto e ocupação que o conjunto existente, a unidade espacial criada
pelo projeto não gera valores tão interessantes para a questão da
total de edifícios 62 demanda habitacional.
população total 14880
área total construída (m2) 308760
área terreno (m2) 1.800.000
O parque CECAP de Guarulhos foi pensado como bairro -
exatamente na tendência propositiva de ocupação do território na
ca 0,17 expansão da periferia - logo os dados referentes ao entorno são, na
taxa de ocupação 0,04 realidade, relativos à cidade de Guarulhos.

densidade populacional do projeto (hab/ha) 82,6


65
densidade populacional do entorno (hab/ha) 38
projeto • concepção arquitetônica

O conjunto possui duas tipologias de edifício, com mesma


volumetria e aparência, mas diferem em algumas questões de
estrutura e de circulação vertical. O presente trabalhou abordou
a tipologia “2”, com laje nervurada e escada acoplada com dois
patamares. A tipologia “1” tem laje plana e escada contínua.

Por mais que guardem uma integridade de volumetria, a


organização das unidades se dá como “casas geminadas” duas a
duas, em cada uma das lâminas, criando um módulo de quatro
unidades articuladas pela circulação e garantindo independencia
entre cada um dos módulos.

Os três pavimentos residenciais conformam o volume do bloco


edificado que “flutua” apoiado pelos pilotis, que garantem o térreo
livre do projeto.

sem escala 67
projeto • concepção arquitetônica

A lógica da reprodução em série faz parte da concepção do edifício,


e toda sua organização parte de módulos construtivos. Era intenção
inicial que toda a estrutura fosse realizada em sistema pré-fabricado
de concreto, no entanto a estrutura utiliza o método construtivo
convencional. (PUNTONI, 1997)

As vedações externas, por sua vez, são alvenaria e placas pré-


fabricadas que conferem uma das soluções de desenho dos
arquitetos para o projeto. Essas placas funcionam como peitoril
dos caixilhos de toda a fachada (interna e externa) e se estendem
em balanço para o lado externo. Como fechamento para dentro
dos apartamentos essas placas se conformam em armários,
otimizando o espaço do apartamento uma vez que o espaço de
armazenamento que criam avança para fora. Dessa forma as duas
fachadas do apartamento contam com esta faixa de armários abaixo
da caixilharia.
Essa solução reforça as ideias de funcionalidade e otimização
presentes no projeto, e coerentes com os ideais modernistas, no
que dizem respeito à hipótese de projeto que o conjunto pretende
confirmar.

68 escala 1:150 69
13. A citação é extraida da Edição O conjunto não conta apenas com as zonas residenciais, chamadas volumes edificados:
do debate sobre o Conjunto no memorial dos arquitetos de “freguesias”, mas também com edifícios habitacionais
Habitacional Zezinho Magalhães
equipamentos, distribuídos funcionalmente, cada um ocupando e equipamentos públicos
realizado na FAUUSP em 1967.
Desenho no 4, São Paulo, GFAU, a área de uma quadra, em diferentes pontos da gleba em que o
1972. conjunto está implantado. Tais equipamentos estavam inseridos
em um projeto de uso de toda a população da região, para além
do conjunto. A questão habitacional não é enxergada como
única finalidade do morar. Integrado às freguesias e às áreas de
equipamentos tem-se as áreas livres e o sistema viário.

A visão funcionalista organizacional dos espaços da razão áreas não edificadas e livres
modernista fica evidente. Em um debate a respeito do Conjunto
Zezinho Magalhães de 1967, Artigas defende a ideia do urbanismo
“progressista”, aos moldes dos entendimentos modernistas da
época13:

“É muito difícil que nós possamos sair,


individualmente, de uma posição ideológi-
ca geral, brasileira, que caracteriza nossas
descrição • qual urbanidade?

tendências de Urbanismo como Progres-


sista.(...) Esse geometrismo que carac-
terizou a República é a mesma linha de
cidades que, de certa forma, são as cida-
des paulistas. Esse projeto tem caracterís- áreas não concluidas do

ticas Progressistas como um processo de projeto original


permanecem não edificadas
atender a uma ideologia que caracteriza o
pensar brasileiro em torno do Urbanismo.
(...) Esse Urbanismo utópico ou pré-Ur-
banismo é a base do conjunto de correntes
urbanísticas, hoje chamadas de Progres-
sistas. Nós não podemos ser contra, de
forma nenhuma, as várias propostas que
as corrente utópicas trazem até o trans-
borde nas propostas socialistas.”(ARTIGAS,
1972, apud, PUNTONI, 1997, p.49)
sistema viário criado e exis-
O projeto original não se concretizou e apenas 4 das 8 fregresias tente
previstas foram construídas. Os equipamentos previstos também
foram construidos parcialmente, apenas o bloco comercial, o centro
de saúde e o centro comunitário inauguraram junto com as quadras
residenciais. As faltas criadas colaboram com o aspecto de ilha
urbana do conjunto, que hoje conta com grandes áreas vazias em
seu entorno.

rodovia presidente dutra


71
descrição • edifício

A unidade volumétrica do edifício é resultado das 5 repetições


dos módulos. Cada módulo, articula duas duplas de unidades,
cada uma das duplas uni-se linerarmente entre si, e são integradas
simetricamente a partir da circulação. A lâmina modernista clássica
também é reconfigurada aqui em duas lâminas conjugadas.
O intervalo criado pelas circulações e pela lamina cria pátios
internos, para onde estão voltadas as aberturas internas das lâminas.
Cada unidade ocupa uma seção transversal da lâmina, permitindo a
ventilação cruzada.
Esses intervalos também garantem a possibilidade de abertura em
ambas as fachadas da unidade, permitindo iluminação e ventilação
cruzada.

Os três pavimentos residenciais sobem acima do térreo sob pilotis -


demonstrando mais um dos ditames modernistas, o do térreo livre
– ocupado por um área de estacionamento e as pequenas praças e
passeios de pedestres.

0 1 5 10
73
A unidade volumétrica do edifício é resultado das 5 repetições dos
módulos. Cada módulo, articula duas duplas de unidades, cada
uma das duplas uni-se linerarmente entre si, e são integradas
simetricamente a partir da circulação. A lâmina modernista clássica
também é reconfigurada aqui em duas lâminas conjugadas.
O intervalo criado pelas circulações e pela lamina cria pátios
internos, para onde estão voltadas as aberturas internas das lâminas.
Cada unidade ocupa uma seção transversal da lâmina, permitindo
a ventilação cruzada.
descrição • unidade espacial

Esses intervalos também garantem a possibilidade de abertura em


ambas as fachadas da unidade, permitindo iluminação e ventilação
cruzada.

Os três pavimentos residenciais sobem acima do térreo sob pilotis


- demonstrando mais um dos ditames modernistas, o do térreo livre
– ocupado por um área de estacionamento e as pequenas praças e
passeios de pedestres.

A racionalidade da concepção do edifício se extende para toda a


construção urbana desse território.

As lâminas duplas são alinhadas sequencialmente, com


espaçamentos regulares e qualificados por alguns canteiros
também ordenados. O modelo se reproduz em cada uma das
freguesias.

Dessa forma, a linearidade do edifício e sua organização criam


poucas escalas de convivência e co-habitação de atividades, e
essas escalas se reproduzem para todo o conjunto. A hierarquia dos
espaços tornam-se homogeneas por todo o conjunto, e reforçam
esse afastamento da cidade plural e heterogenea.
Ao mesmo tempo materializam a hipótese de projeto, a partir de
uma construção racionalizada, democrática e universal desse bairro,
além de garantir o acesso à uma unidade habitacional de qualidade

0 1 5 10
75
descrição • da porta para dentro

Para além da solução dos armários, a compartimentação interna


também aplica a otimização dos espaços. As paredes que dividem
os cômodos são vedações em gesso, permitindo flexibilidade na
organização e tamanho dos mesmos. O núcleo de área molhada e
a divisão entre apartamentos são de alvenaria e marcam a parte
fixa do projeto, porém o restante da unidade estaria a serviço da
demanda da família que ali iria morar.

A unidade entregue organiza o programa a partir de três quartos,


ocupando a extensão da fachada externa, um núcleo hidráulico
com cozinha e área de serviço voltadas para a fachada interna – e da
circulação – da lâmina, com abertura direta para o lado externo, e
o banheiro, com ventilação indireta a partir da abertura para a área
de serviço. O acesso da unidade se dá pela sala, localizada também
na fachada interna, com abertura para os pátios criados.

Aqui não foi encontrado um layout original dos arquitetos, apenas


um croqui de uma solução anterior para a unidade, e foi a partir dele
que tentou-se criar os fluxos e ocupações esperadas na concepção
arquitetônica.

0 1 5
77
diagramas • circulação

As unidades se organizam a partir da circulação, constituida por


um bloco de escadas, que confere o único acesso, e um corredor
avarandado que permite a entrada para cada uma das quatro
unidades que integram o módulo.
As circulações unem as duas lâminas entre si, e suas cinco
repetições marcam a modulação do edifício, ainda assim garantindo
a aparência de unidade do edifício - mesmo que cada uma das oito
unidades articuladas por cada circulação tenham indepedência
entre as outras.
O corredor de 8m garante a distancia entre as lâminas e com isso a
abertura de ambas as fachadas.

Integra o sistema de circulação também o térreo livre, sob pilotis,


estabelecendo a livre fruição do térreo - própria do ideário
moderno. Essa solução reforça o CECAP como uma hipótese de
projeto moderno a partir das matrizes corbusianas.

sem escala 79
O tipo de canteiro do projeto do COPROMO, o mutirão autogerido
pela comunidade (com mão de obra assalariada de apoio), influencia
na grande racionalidade do desenho do projeto, que por sua vez
que está diretamente relacionada à produção do canteiro – tanto
nos processos produtivos quanto nas atividades relacionadas à
gestão da obra por parte dos mutirantes.
O projeto do COPROMO está intimamente ligado ao seu processo
de produção.

O COPROMO se insere num movimento dos anos 90 com sistema


de financiamento de desenvolvimento pela CDHU de mutirões
e de renovação da construção de habitação social após um longo
período do BNH durante a ditadura militar.
A participação da comunidade existiu tanto durante a concepção
do projeto e se extendeu para a contrução do mesmo. Há uma
maior fixação dos moradores a esses conjuntos em que se considera
sua partipação e em que se estabelece a ideia de cooperativa do
que no realizado por construtoras, em que se aplica muito mais a
lógica do lucro e do mercado.
hipótese iii • COPROMO

O conjunto produzido a partir da cooperativa é uma referência


às experiências uruguaias, que em 1960 a partir de um esforço
conjunto entre arquitetos e comunidades da luta pela moradia
conseguiu produzir diversos conjuntos gerando acesso à moradia
para diversos grupos, além de, a partir dessa articulação, conseguir
em 1968 aprovar a base legislativa que gerou a Lei Nacional de
Habitação Uruguaia (Lei Nacional de Vivenda). Conjuntos como
o MESA I - Cooperativa de Viviendas Nuevo Amanecer, são
resultado dessas experiências.

O COPROMO se organiza como conjunto, no que é relativo à


reprodutibilidade dos espaços e dos edifícios. Criam-se módulos,
que se agrupam, criando uma unidade de espaço e essa é replicada
numa área delimitada. A lógica dessa conformação do espaço
é menos ligada ao território em que está inserida, uma vez que
poderia ser reproduzida em diferentes lugares.

Existe uma qualidade dos espaços criados, uma preocupação nas


escalas de público e privado, nas circulações internas e na criação
de espaços qualificados ali dentro, existe um foco na vida em
comunidade, dos pátios internos e de sociabilidade, mas, por outro
lado há pouco diálogo com o entorno e não se criam ali uma malha
urbana propriamente, existe menos a discussão da construção da
habitação como urbanidade.

escala 1:2000 81
hipótese 03 • COPROMO

imagem 16

LOCAL: Osasco, SP, Brasil

COORDENADAS: 23o30’34.56’’ S, 46o47’11.10’’ W

ANO: 1991

ARQUITETURA: Usina CTAH


imagem 17

USO ORIGINAL: Habitação população da Associação Terra é


Nossa

SISTEMA DE DESENVOLVIMENTO: Mutirão autogerido com mão-


de-obra assalariada complementar técnicas construtivas

SISTEMA DE FINANCIAMENTO: CDHU (Companhia de Desen-


volvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo)
e Associação Terra é Nossa

TIPO DE AGRUPAMENTO: Conjunto

82 83

imagem 18
unidade

área total (m2) 54


área seca (m2) 40,5
área molhada (m2) 13,5
número de habitantes 4

pavimento

área apartamentos (m2) 216


área circulação horizontal (m2) 17
área circulação vertical (m2) 9,5
área uso comum (m2) 0
número de unidades 4
área total (m2) 242,5

edifício

pavimentos 5
pavimentos residenciais 5
total de unidades 20
pavimentos uso comercial 0
pavimentos com garagem 0
pavimentos área comum 0
área total residencial (m2) 1080
área total circulação horizontal (m2) 85
área total circulação vertical (m2) 47,5
área total uso condominial(m2) 0
Por se tratar de um conjunto foram estabelecidas duas formas de
levantamento de dados

área total uso comercial (m2) 0


área total construída (m )2
1212,5 avaliação dos dados para o COPROMO. Primeiramente do projeto
total moradores 80 como um todo, considerando toda a extesão da gleba em que foi
implantado, as áreas de estacionamento e áreas livres e também
da unidade espacial que conforma o conjunto de edificios que é
conjunto replicado, simulando uma pequena quadra, com os edificios e as
áreas que o qualificam em seu entorno imediato (indicado pela
edifícios 4 linha pontilhada no desenho acima).
população 320
área construída (m2) 4850
2168
Tratando-se de uma verticalização média, com unidades em todos
área do módulo urbano selecionado (m2)
densidade populacional 1476 os pavimentos e uma circulação ampla - mas que evita os longos
ca 2,23 corredores - o projeto demonstra condições de adensamento
populacional.

projeto Comparando os dados referentes à unidade espacial e ao projeto


em si vemos que a densidade populacional que essa “quadra”
total de edifícios 50 propõe é o dobro da efetiva do projeto. O mesmo ocorre com o
população total 4000
coeficiente de aproveitamento.
área total construída (m2) 60625
área terreno (m2) 50.600
Como unidade espacial o COPROMO propõe uma ocupação
interessante, com valores de adensamento populacional apropriadas
ca 1,19 para a demanda de habitação, no entanto isso não se cumpre em
taxa de ocupação 0,23 sua totalidade.

densidade populacional do projeto (hab/ha) 790


85
densidade populacional do entorno (hab/ha) 792
projeto • concepção arquitetônica

A lógica de construção do projeto parte da unidade construtiva


do bloco cerâmico, e a partir dele criam-se novas unidades
construtivas, que organizadas – sempre pautado na racionalidade,
ortogonalidade e simetria – vão criando os diversos níveis de
espacialidade do projeto, da unidade, passando pelo edifício, até
o conjunto.
O edifício é composto por 4 unidades habitacionais idênticas, que se
encaixam duas a duas e espelhadas conformam o edifício. A forma
arqueada do edifício se dá pela organização desses apartamentos, e
o agrupamento dos edifícios possibilitam a criação desses bolsões
mais reservados exatamente por essa forma (diferente do que
criado pela lamina, por exemplo)

O formato em cata-vento do apartamento se dá por uma construção


muito racional da forma, em que 4 quadrados deslocados criam 4
ambientes e uma circulação interna ao apartamento, que permite o
acesso a todos os ambientes.
A decisão estrutural pela construção em alvenaria armada também
dá direções formais ao projeto. Cada um dos quadrados tem 3,75
m de lado.

sem escala 87
volumes edificados e
caminhos pavimentados de
pedestres de conexão dos
edifícios

áreas não edificadas e livres


descrição • qual urbanidade?

áreas não edificadas


sem qualificação para a
permanência
Entre os blocos existem 4 tipos de áreas livres que se relacionam ocupadas por estacionamento
de diferentes formas com a área construída. Os caminhos de
pedestres pavimentados conectam os edifícios – essas muitas vezes
associadas a escadarias que vencem as diferenças topográficas
do terreno -, as áreas verdes que correspondem à canteiros no
entorno dos edifícios e que ajudam a criar os bolsões, as áreas de
estacionamento que ocupam as parcelas entre edifícios que não
estão associadas à permanência e que de certa forma ocupam
as “costas” dos agrupamentos de edifícios, e algumas vias de
circulação de veículos dentro do conjunto. Além disso existe uma
“praça central” que reune espaços de convivência como quadras
esportivas e pequenos equipamentos de socialbilidade.
sistema viário criado e exis-
tente
Em questão de situação urbana, foi delimitado para a área do
conjunto, uma gleba entre algumas das principais avenidas do
município. Ao redor Sendo uma área de urbanidade hostil, o
conjunto se fecha em si, o que de certa forma reproduz uma
tendência dos conjuntos brasileiros, que negam a cidade e se
voltam para dentro de si, tentando criar uma outra proposta de
espaço.

89
14. Existem sim diversas pré-
existências no entorno do terreno
de implantação do conjunto, seja de
morfologia das ocupações vizinhas
ou do sistema viário. No entanto,
ao se fechar em si, o COPROMO,
de certa forma, nega essas pré-
existências e realiza uma ideia
de ocupação que refere-se a ele
mesmo.

15. Na realidade existem diversas


questões técnicas, de conforto,
legislação e mesmo por ser parte
de um processo participativo que
balizam o projeto do COPROMO.
A conformacão COPROMO se realiza a partir de diversas unidades
espaciais, começando pela unidade habitacional, passando pelo
edifício, pelo agrupamento de edifícios até se configurar em um
conjunto.
Exatamente pela “forma conjunto” que o projeto antecipa, o esta-
belecimento desses diversos módulos é possível e faz sentido, pois
é a partir da modulação e reprodução da mesma que o território
neste exemplo se conforma.
O COPROMO vai além de apenas a hipótese do conjunto - uma
vez que é intrínseca à sua proposta, a construção participativa da
habitação - no entanto, por ser um conjunto, implantado em uma
gleba “sem pré-existência”14 a coerência da ocupação é determi-
nada por ele mesmo, ou seja, existe uma certa liberdade da forma
do edifício - ou de qualquer que seja a unidade espacial. Não é
necessário adaptar-se a uma angulação colateral de um vizinho ou
olhar - ou deixar de olhar - para uma certa rua, de maneira que a
descrição • edifício

volumetria do edifício é inaugural, e pode ser concebida pautada


por uma ideia mais “livre”15 da arquitetura que tem-se a intenção
de produzir.
Por esses motivos, todos os edifícios do conjunto possuem mesma
volumetria, e a sua reprodução conformam o território.

Por sua vez, o edifício em si é marcado pela mesma racionalidade


geométrica que concebe a unidade.
A forma arqueada, já mencionada, e o gabarito médio, lhe dão um
aspecto de “bloco”, se afastando da linearidade da lâmina, e o blo-
co cerâmico - elemento estrutural do projeto - ao permanecer ex-
posto, garante também um aspecto mais vernacular ao edifício.
Por não possuir variação de usos em si, ou seja, ser ocupado em
todos os pavimentos pelo uso residencial, a volumetria é unificada,
a viariação se dá pela rugosidade gerada pela geometria das uni-
dades e pela circulação horizontal avarandada, que se volta para os
bolsões criados.

sem escala 91
descrição • unidade espacial

O COPROMO materializa uma hipótese de projeto, a do


conjunto habitacional em blocos de média verticalização com
organização não-linear, estabelecendo uma hierarquia de espaços
e valorizando a ideia de comunidade e vizinhança, principalmente
ao associarmos o espaço à suas forma de produção - é importante
ressaltar tal aspecto, pois, por mais que configure a “forma do
conjunto habitacional” (PETRELLA, 2011) o seu modelo de
desenvolvimento integra grande parte do valor social do projeto.

A partir da união de dois edifícios e o espelhando desse conjunto


estabelce-se a unidade espacial: quatro edifícios, com uma pátio
interno determinado por caminhos de pedestres e canteiros
gramados.
Esse agrupamento é repetido 12 vezes na gleba e constituem essas
diversas comunidades dentro de um todo.

Os blocos de 4 edifícios formam esse bolsão que são a ultima escala


de público em uma hierarquia que vai das vias principais externas
ao conjunto, entrando aos poucos na escala do edifício e criando
essas diversas qualidades de público e privado.

0 1 5 10
93
descrição • da porta para dentro

A unidade guarda em sua forma a racionalidade geométrica


que a constitue, deixando claro que os cinco ambientes criados
são resultado da interssecção dos quatro quadrados (como já
mencionado).

Dos quatro módulos de 3,75 x 3,75, dois deles correspondem aos


quartos, um deles (onde existe o acesso) corresponde à sala e o
quarto módulo corresponde às áreas molhadas, se dividindo entre
banheiro e cozinha + área de lavanderia.
Todos os ambientes possuem pelo menos uma abertura para o
lado externo, com excessão do banheiro, que tem abertura para a
lavanderia.

Os módulos se articulam a partir da pequena circulação - também


com geometria quadrada - que é remanescente da intersecção dos
módulos maiores.

O layout apresentado pelos arquitetos juntamente com a planta


traduz algumas expectativas para com os espaços, que podem, ou
não ser seguidas pelos moradores. No entanto a alvenaria estrutural
não permite modificações de tamanho dos ambientes.
Esses layouts dividem o apartamento em um quarto de casal, um
quarto com duas camas de solteiro (o que mostra uma expectativa
de 4 moradores por apartamento), uma sala contendo área de estar
com sofá e mesa de refeição, a cozinha dispõe de bancada com
cuba, fogão, geladeira e armário e a lavanderia de tanque e um
eletrodoméstico como máquina de lavar.

0 1 5
95
A solução estrutural referente a circulação vertical é também um
aspecto inaugural no projeto do COPROMO e dos mutirões auto-
geridos em geral.

A única circulaçao vertical existente é uma escada de estrutura


metálica não enclausurada, que cumpre função estrutural, além de
circulacão, mas que principalmente possibilita a própria produção
do edifício, pois se configura como uma “escada andaime”.
Em seu livro “Arquitetura Nova”, o arquiteto Pedro Fiori Arantes
defende que as escadas em estrutura metálica do COPROMO
eram a demonstração de que “os movimentos de moradia e seus
diagramas • circulação

arquitetos não estavam dispostos a simplesmente reproduzir


‘precariedades’, mas, ao contrário, concentravam seus esforços à
procura de soluções modernas, utilizando ao máximo possível os
meios técnicos da civilização contemporânea” (ARANTES, 2002:
p. 218).

A torre de estrutura metálica que viria a sustentar a escada e a


circulação horizontal avarandada era erguida logo após a feitura
da fundação. Essa estrutura seria previamente um dos elementos
a serem trazidos de fora do canteiro, mas permitiam que os
mutirantes subissem as fiadas de blocos a partir dessa estrutura,
criando autonomia, que tem grande sentido em todo o processo de
construção proposto.
A estrutura metálica se estende para a circulação horizontal,
imediatamente unida à escada. A circulação horizontal é avarandada
e dá acesso aos 4 apartamentos. Exatamente pela forma arqueada
do edifício as portas de acesso se tornam mais próximas e dessa
forma a circulação não se tornam corredores extensos. A varanda,
ampla, permite um uso comum entre os vizinhos, que comumente
a ocupam como extensão da unidade.

sem escala 97
16. Citação do memorial descritivo A proposta para a Gleba A de Heliópolis realizada pelo escritório
do projeto retirado do livro Vigliecca Hector Vigliecca & Associados está inserida não somente numa
& Associados. O terceiro território.
são paulo, 2014. p. 145
tendência contemporânea de produção de habitação social, mas
também estritamente ligada a um histórico de produção do próprio
arquiteto Hector Viggliecca.

Diferente de todas as estratégias de produção do espaço e de


construção de habitação apresentadas até aqui pelo presente
trabalho, neste projeto existe um grande esforço em lidar com a pré-
existência. O CECAP e o COPROMO apresentam propostas de
projeto interessantes, que buscam unir uma produção racional com
um espaço de qualidade, além da criação da ideia de conjunto para
uma comunidade. Porém, a urbanidade que geram nega a cidade
como conhecemos e como ela se reproduz. Por mais desfavoráveis
que fossem suas situações urbanas, os projetos não trazem em si
uma possibilidade de integração com o entorno pré-existente ou
mesmo uma reprodução da urbanidade que propõe, pois criam
espaços funcionais e não urbanos. O edifício Anchieta, trás em
si alguns elementos urbanos interessantes, porém, exatamente
pela sua condição inaugural, foi propositivo, e não lidou com pré-
existência.
No memorial descritivo do projeto os arquitetos colocam:

“O objetivo essencial deste projeto é pro-


por o entendimento de que a habitação
de interesse social não é um problema de
hipótese iv • gleba A

quantidade nem de custo, nem de tecno-


logia, o objetivo essencial é a construção
da cidade. (...) A construção da cidade
implica em inserir estes empreendimentos
na trama ativa da cidade de maneira que
o indivíduo que se estabelece nesta área se
insere na rede pública estrutural da cida-
de.”16

O projeto da Gleba A em Heliópolis demonstra um racionalismo


na forma de construção de habitação, com qualidade urbana
e arquitetonica. Ele se integra ao território sem se tornar uma
mímese do existente, e sim sendo propositivo na construção desta
urbanidade. Inclusive, quando observamos os dados de densidade
demográfica, a verticalização proposta pelo projeto alcança os
mesmos valores de densidade que o território da cidade informal,
no entanto requalificando essa densidade, sem precariedades e
riscos.

escala 1:2000 99
hipótese 04 • gleba A

imagem 20

imagem 19

imagem 21

LOCAL: Helioópolis, São Paulo, SP, Brasil

COORDENADAS: 23o36’14.2’’ S, 46o35’53.6’’ W

ANO: 2004

ARQUITETURA: Hector Vigliecca

USO ORIGINAL: Habitação social em área de precariedade

AGENTE ORGANIZADOR: Prefeitura de São Paulo

AGENTE FINANCIADOR: COHAB

TIPO DE AGRUPAMENTO: edifício inserido em urbanidade exis-


tente

100 101

imagem 22
unidade

área total (m2) 50,75


área seca (m2) 38,75
área molhada (m2) 12
número de habitantes 4

pavimento

área apartamentos (m2) 710,5


área circulação horizontal (m2) 23,8
área circulação vertical (m2) 58,45
área uso comum (m2) 0
número de unidades 14
área total (m2) 792,75

edifício

pavimentos 4
pavimentos residenciais 3
total de unidades 49
pavimentos uso comercial 0
levantamento de dados

pavimentos com garagem 0


Para fins de cálculo, dado a variação de gabarito e metragem da
pavimentos área comum 1
unidade, foi considerado apenas o edifício lâmina e um entorno
área total residencial (m2) 2486,75
área total circulação horizontal (m2) 95,2 imediato composto pela ampliação do passeio de pedestres em
área total circulação vertical (m2) 233,8 frente ao córrego, sinalizado pela linha pontilhada.
área total uso condominial(m2) 406
área total uso comercial (m2) 0 Considerado assim, o edifício responde à algumas questões
área total construída (m )2 3171 presentes no projeto, no entanto deixa de responder à outras,
total moradores 196 como por exemplo a presença de comércio no térreo dos edifícios
de esquina.
projeto
Dado interessante é que o projeto reproduz a densidade de seu
entorno, no caso a favela de Heliópolis, um dos territórios mais
total de edifícios 1
população total 196 densos de São Paulo. No entanto sua densidade populacional é fruto
área total construída (m2) 3171 de um projeto que garante questões essenciais de habitabilidade, e
área terreno (m2) 1843 acaba com diversas questões de precariedade.

ca 1,72 Mesmo sem verticalidade, o edifício cumpre com bons dados de


taxa de ocupação 0,43 ocupação e adensamento, em relação à demanda habitacional.
Considerando que mesmo não identicos, o restante das tipologias
densidade populacional do projeto (hab/ha) 1063 que conformam o projeto apresentam valores semelhantes ao da
densidade populacional do entorno (hab/ha) 1000
tipologia selecionada como exemplo.

103
17. Citação do memorial descritivo
do projeto retirado do livro Vigliecca
& Associados. O terceiro território.
são paulo, 2014. p. 145

Como os próprios arquitetos apresentam em seu memorial de


projeto:

“A metodologia que utilizamos para obter


as diretrizes de arquitetura é a de definir
uma hipótese de cidade para uma área
especifica que não se baseia na imposição
projeto • concepção arquitetônica

de um modelo pré-estabelecido e sim na


geração de modelo próprio gerado sobre a
observação e cultura que o próprio local
nos ensina.”17

A área de implantação do projeto é resultado da desapropriação


de uma faixa em frente ao córrego, ocupada pela população, e que
conferia diversos riscos e precariedades. O projeto também contou
com a canalização do córrego e a criação de uma faixa viária. O
restante da quadra permaneceu com os edifícios existentes, que
são resultado da autoconstrução.

O projeto transita entre uma racionalidade de implantação -


necessária frente a uma demanda habitacional - e também uma
adequação ao contexto. Estratégias como o não parcelamento dos
lotes, e sim a criação de um conjunto continuo e fluido, permite
uma conexão mais direta com os diversos “lotes”criados pela
ocupação da cidade informal.

Tal projeto exemplifica uma ideia de que a habitação constrói


urbanidade e que a demanda da moradia ultrapassa os valores
quantitativos. O programa habitacional corresponde a 80% da área
urbana, e portanto implanta-la de forma agregada à cidade, e não
apartada dela, é essencial para a conformação dos espaços, seja no
caso da cidade formal ou informal.

Os desenhos realizados tratam apenas da QUADRA 1 de um


projeto que se estende por uma grande área a frente de um córrego
da Favela de Heliópolis - uma das maiores de São Paulo, com mais
de 100 mil habitantes.

sem escala 105


projeto • concepção arquitetônica

A criação de um espaço público e livre no meio de quadra - que


seria comum tanto aos moradores do novo conjunto quanto ao
restante das construções da quadra - também integra as soluções de
projeto que visam a integração entre a pré-existência e o projeto.
Essas praças são conformadas pelo edifício laminar, e o recuo entre
cada um dos blocos residenciais do meio de quadra e criam um
espaço livre, com uma escala semipública, com alguns mobiliários
e equipamentos sem nenhuma intenção de uso propriamente
colocada, mas que sobretudo se apresentam como a junção e a
transição dessas dois tipos de espaços construídos, sem que eles se
tornassem distintos, e sim contínuos.

Infelizmente o limite do conjunto foi fechado com um gradil, e


as praças limitadas ao acesso dos moradores do projeto apenas,
reafirmando uma distinção que dificulta que a própria comunidade
entenda seu território como urbano, e sim como uma junção de
espaços diferenciados. As modificações nos projetos ocorrem
muitas vezes “a mercê” das decisões dos arquitetos, estanto
muitas vezes ligadas à decisões por parte do Estado ou das
construtoras contratadas. As modificações, por sua vez, são parte do
desenvolvimento de um projeto, demonstrando um “embate entre
formulação, proposta e viabilização” dos mesmos (RUBANO,
2014).

106 sem escala 107


18. VIGLIECCA & ASSOCIADOS. O volumes edificados:
terceiro território. São Paulo, 2014. edifícios habitacionais

áreas não edificadas e criação


de praças semi-públicas
descrição • qual urbanidade?

vias criadas pelo projeto de


O projeto de Vigliecca aparece principalmente em oposição a uma
urbanização
tradição de produção de habitação social no Brasil de desvinculação
para com a pre-existencia espacial e cultural, gerando conjuntos
que eram meros carimbos de um “padrão” de habitação social que
foi reconhecido pelos governos.
Pra além de uma discussão com uma pré-existência da cidade formal,
surge nesse caso a intervenção no território que busca dialogar
com a cidade informal, que traz consigo diversas particularidades
urbanas, diversas fragilidades e áreas de risco.
A proposta de Vigliecca é, como denominado em seu livro18 a
instauração de urbanidade em áreas críticas.

A proposta para a Gleba A está inserida num plano urbano, que


conta com projeto de novas vias, requalificam a relação com córrego existente
o córrego, e das quadras a partir de espaços semi-públicos e da
proposição de uma morfologia que se relaciona com a já existente,
no que é relativo às edificações conformando os logradouros.
O projeto usa de quatro diferentes tipologias de unidades para
a implantação dos edifícios entendendo cada um dos contextos
presentes na área de intervenção, e associando-os à novas vias. O
máximo possível foi feita a manutenção das construções existentes.

109
Todos os edifícios do projeto da Gleba A tem uma grande adaptação Por fim, a tipologia das esquinas que possui mesmo gabarito dos 19. Zona Especial de Interesse
com o território, ao mesmo tempo que dispõe de uma grande blocos do meio de quadra, porém possuem outros usos no térreo. Social. As ZEIS são divididas
em 5 tipos. No caso, a área de
racionalidade projetual. São inclusive esses outros usos que diferenciam o projeto do implantação se configura como ZEIS
programa comum utilizado nas habitações sociais dentro das 1: “ são áreas caracterizadas pela
Na quadra em questão cada uma das 3 tipologias conta com ações mais recentes da CDHU, que comumente restringiam o uso presença de favelas,
uma unidade tipo – com excessão do edifício laminar que possui residencial aos projetos de habitação social em ZEIS.19 loteamentos irregulares e
empreendimentos habitacionais de
uma tipologia no térreo diferente dos andares superiores. Todas A implantação de uso misto também demonstra um caráter de interesse social, e assentamentos
as tipologias contém um mesmo principio, mesmo contendo criação de urbanidade para o território e não apenas de demanda habitacionais populares,
diferenças: se organizam sempre espelhadas entre si - de forma quantitativa de habitação. Existem 6 salas de comércio e 2 salas habitados predominantemente por
a aproveitarem os acessos da circulação - ocupam toda a seção de medicação, que também cumprem grande função social. população de baixa renda,
onde haja interesse público em
do edifício, permitindo a ventilação cruzada e usam dos mesmo
manter a população moradora
módulos de vedação e de aberturas. Por mais que haja uma variação Os quatro pavimentos superiores são ocupados por uso residencial e promover a regularização fundiária
descrição • edifício, unidade espacial

da organização do programa da unidade habitacional todas contem totalizando 20 unidades, e a circulação vertical se dá por um e urbanística, recuperação
dois quartos, uma área de estar social, um banheiro, uma cozinha edifício anexo que contem os blocos de escada e a circulação ambiental e produção de Habitação
de Interesse Social” como consta
e uma área de serviço (estes sempre unidos, criando um núcleo de horizontal. Existem dois destes edifícios anexos na QUADRA 1,
no Plano Diretor Estratégico de São
áreas molhadas). um em cada esquina. Paulo aprovado em 2014.

A caixilharia presente no projeto da Gleba A é algo raro em projetos


de habitação social e que conferem grande qualidade ao projeto:
a abertura de janela piso-teto. Vigliecca também usa do cobogó
para permitir a ventilação das áreas molhadas, criando um ritmo
de fachada.

O edifício laminar, com gabarito mais baixo possui um térreo que


alterna entre pórticos sustentados por pilotis que dão acesso ao
meio de quadra e à circulação vertical e unidades habitacionais
que são uma adaptação da tipologia que ocupa o restante da
lâmina. Os três pavimentos residenciais que ocupam o restante
do edifício contém 42 unidades idênticas: 14 unidades por
pavimento. As circulações verticais são unicamente escadas e
estão localizadas na fachada que se volta para o meio da quadra.

Os edifícios do meio da quadra por sua vez, possuem um aspecto


formal de bloco, contendo, por pavimento, apenas duas unidades
espelhadas. São um total de 4 torres ligadas a 4 das 7 circulações
verticais do edifício lâmina, e que se alternam exatamente com os
pórticos sob pilotis que dão acesso às praças do meio de quadra. É
implantado aproximadamente 1 metro acima do edifício laminar,
e portanto esse acesso de circulação se da pelo patamar das
escadas.
Possui uso residencial em todos os pavimentos: térreo + 4
pavimento, de modo que os três edifícios da mesma tipologia
juntos resultam em um total de 30 unidades (10 por edifício, 2
unidades por pavimentos).

111
0 1 5 10
113
descrição • da porta para dentro

A unidade tipo apresentada é referente ao edifício lâmina.


Contem, dois quartos, uma sala de estar social, e um núcleo
hidráulico, o qual possui um banheiro, uma cozinha e uma área de
serviço. A ventilação do banheiro e da cozinha são voltadas para a
área de serviço, em que a vedação externa é feita por uma parede
de cobogós.
Os quartos ocupam uma sessão transversal e possuem aberturas
cada um para uma das fachadas da unidade. A circulação vertical e o
hall são introduzidos dentro do volume formado pelo espelhamento
de duas unidades.

O layout proposto pelo projeto sugere 4 moradores por unidade e


aproveita da criação de nichos para a colocação de eletrodomésticos
e armários.

0 1 5
115
diagramas • circulação

Conjugado a cada dupla de apartamentos da lâmina existe um


núcleo que escadas. Sendo um total de 14 apartamentos por
pavimento, organizados dois a dois, tem-se sete desses módulos.
A volumetria da unidade se integra também a este volume da
circulação.

Quatro dos conjuntos de escadas também estão integrados aos


blocos do meio de quadra e conferem acesso a eles. De forma que
esses núcleos de circulação dão acesso a um total de 4 unidades.
A diferença da cota de implantação entre a lâmina e os blocos
do meio de quadra permitem esse acesso atraves do patamar das
escadas.

As unidades dos blocos do meio de quadra também se organizam


duas a duasm de forma espelhada e simétrica e utilizam da
extensão do patamar das escadas para o acesso à circulação, tendo
sua volumetria independente.

sem escala 117


diagramas • circulação

O território de uma favela é marcado por sua alta densidade


populacional e construtiva, em que as vias e caminhos são
determinados pelas construções: os edifícios acabam conformando
as quadras.
Cidades tradicionais e históricas geram morfologias semelhantes,
refletindo uma forma de ocupação natural. Não com intensão
mimética ao tecido de Heliópolis, e sim confirmando a tradição -
tanto histórica quanto de de seu lugar de implantação - do espaço
construído conformar o espaço público e livre, o projeto da Gleba
A organiza os edifícios residenciais e seus edifícios anexos a partir
disso.

Na quadra discutida, o edifício laminar ocupa a faixa mais extensa


da quadra e desenha o limite o projeto, deixando uma área de
espaço público a sua frente. Conformando as esquinas existem
mais três edifícios verticais (de uma mesma tipologia) e suas torres
de circulação vertical e horizontal.
Esses edifícios anexos de circulação integram as volumetria
construída, adaptado-se ao contexto, além de garantir o acesso aos
edifícios de esquina.

Pela diferença de gabarito entre os edifícios do meio da quadra e a


lâmina, a volumetria também torna-se marcada pela continuidade
da circulação.

118 sem escala 119


conclusões
formas genéricas, formas específicas

comparações possíveis
Cada um dos projetos analisados se configuram também
como “formas genéricas” de uma certa hipótese arquitetônica, essa
ideia regeu toda a construção da análise do trabalho. Nenhum dos
projetos é inaugural de uma certa tipologia ou de uma tendência
urbanística, e sim são referencias de seu próprio tempo. Ao mesmo
tempo, tornaram-se exemplares na própria história da arquitetura
reforçando a própria hipótese em que se embasaram.

Primeiramente a torre vertical, que permite o adensamento


populacional, e a inserção de seus moradores na cidade moderna
que se constituía nos anos 1930 em São Paulo, contendo em si
múltiplos usos. O edifício Anchieta, por sua vez, realiza em si tal
tese, entendendo o habitar a partir de diversas frentes, do lazer - re-
formas genéricas, formas específicas

presentado pela cobertura com salão de festas – ao morar, passando


também pelo uso comercial no térreo. Expressa tanto a estética de
seu tempo, como o ideário criado tanto política como socialmente
pelo movimento moderno.
Em seguida o conjunto também modernista de Osasco, ra-
cionalizado e funcionalista, que associa, desde à unidade até ao
urbanismo, a organização cartesiana à otimização dos espaços e da
vida, em que, a democratização da habitação através da indústria
e os elementos próprios da modernidade levariam à emancipação.
No CECAP, a organização em módulos que conformam a lâmina, A quadra como “unidade urbana de referência”20 estrutura a Acima, volumetrias simplificadas
seu espelhamento e articulação em relação à circulação, estabele- situação urbana entre o construído e o espaço público livre, lidan- de tipologias - a torre, a lâmina, o
cendo um edifício “tipo”, é apartada de um contexto específico, bloco e o edifício perimetral - que
do com a pré-existência e sendo propositiva como modo de ocu-
representam as “formas genéricas”
criando uma unidade passível, exatamente, de ser implantada a pação, em uma escala de cidade reconhecida por seus moradores. de ocupação de uma área a partir
partir das premissas modernistas para o desenho urbano. Associada Para além desse esforço em incluir um projeto em uma urbanida- de um tipo de edifício.
à lógica de implantação geral, havia sim um entendimento de que de pré-existente, ajudando a estrutura-la, o projeto de urbanização Abaixo as quatro formas específicas
a moradia estava também associada ao lazer, ao comércio, à saúde de Heliópolis, de 2004, e mais precisamente, da QUADRA 01 da tratadas no presente trabalho: o
edifício Anchieta, uma lâmina dupla
e educação, mas novamente, de acordo com uma ideia morar do Gleba A, introduz tais ideias urbanas e de arquitetura em um terri- do Conjunto Zezinho Magalhães,
habitar organizadas funcionalmente no espaço. tório informal, que por décadas foi ignorado na sua legitimidade. A uma unidade espacial com quatro
Projetar o habitar não se trata unicamente do resultado, mas diversidade de usos, a relação com a rua e a proposição de escalas edifícios do COPROMO, e o conjunto
também do processo. Na cooperativa, o processo participativo, o entre o público, o semi-público e o privado compromete-se com de edfiícios da Quadra 1 da Gleba A
de Heliópolis.
mutirão e o desenvolvimento de um território pela própria popula- a ideia de integrar o território, mas ao mesmo tempo ser ativo na
ção que o ocupará é também fundamento para uma hipótese arqui- proposição para com uma ideia de cidade. 20. PANERAI et alii, 1986, apud
tetônica. Como forma urbana, o COPROMO também se configura RUBANO, 2014, p.8
como um território segregado de seu entorno, reproduzindo a “for- Cada um dos projetos responde à uma mesma demanda ha-
ma conjunto” monofuncional. No entanto, a hipótese que constitui bitacional - generalizando, pois cada um dos contextos também
é a de uma experiência na própria forma de conceber e construir explicitou uma demanda específica - e aplica um mesmo programa,
um projeto habitacional, sendo, dentre os projetos apresentados, porém demonstram estratégias do habitar muito diferentes. Cada
exemplar do projeto participativo - desde o desenho da unidade concepção acontece primeiro em um nível teórico, hipotético e
até a produção da construção. Adiante a isso, mesmo como conjun- genérico e se materializa em um projeto, a partir do desenho, das
to habitacional, o COPROMO de 1991, insere algumas questões soluções técnicas, construtivas, espaciais e subjetivas. Em um sen-
de escala de vizinhança e uma hierarquia de espaços que caracte- tido cíclico, elas partem de uma certa ideia de hipótese mas aca-
rizam algumas condições de revisão em relação ao funcionalismo bam por reforçar esta mesma ideia, ao se tornarem em si suas teses.
modernista - do exemplar anterior.

123
21. MARX, Karl. O capital: O tema da habitação social lança mão de outras áreas do co-
Crítica da economia nhecimento por se inserir em um processo social e da política pú-
política. São Paulo: Nova
Cultural, v. I, p. 70, 1985. apud
blica que extrapola a arquitetura (PETRELLA, 2011). Ao mesmo
PETRELLA, 2011, p.114 tempo, expõe os compromissos dos arquitetos na construção do
território para além da instância privada – que conta normalmente
com mais recursos e mais liberdades criativas.
Os quatro exemplos foram selecionados por contradizerem
uma idéia de que a habitação social corresponde a um modelo, que
replicado, irá suprir a demanda relativa à moradia. Tal solução foi,
por muitas décadas adotada, criando territórios de exceção, guetos
urbanos e afastando parte da população – a mais pobre – das re-
des de troca da cidade, dos acessos à heterogeneidade de usos, de
equipamentos e do transporte. A redução da habitação social a um
mero modelo serve ao lucro das construtoras, e não aos seus mora-
dores ou à cidade como um todo.
Cada um dos estudos de caso sugere uma possível estratégia,
de urbanidade e arquitetura, desenvolvida a partir do desenho e do
projeto, e que resulta de fato em espaços para habitar.
É necessário, no entanto, relativizar os projetos como pro-
dutos de seu contexto histórico, e como resultado de uma vontade
política.
120 m2 52 m2
“(...) se cada uma dessas experiências for
tomada isoladamente, isto é, autonomiza-
das do processo histórico que, de algum
comparações possíveis

modo, une as mesmas, não poderemos


conceber uma relação dialética entre elas
(...). Eis que surge o problema do fetiche21:
ao se descolarem (pelo pensamento) de
suas relações históricas e apresentarem-
-se como formas ontológicas e puras, as
relações sociais que produzem a coisa são
nela subsumidas, parecendo serem pro-
priedades naturais da própria coisa, como
se a coisa existisse por si, sem o processo
social o qual, efetivamente, produz-na e
reproduz-na, e, assim, a coisa parece to-
mar o lugar das relações sociais, anulando
a relação entre o sujeito e o objeto.” (PE-
TRELLA, 2011, p.114). 54 m2 50,75 m2

125
0 1 5
As comparações possíveis entre os projetos estão, portanto, de habitação coletiva, houve um esforço em determinar métodos 22. Dado retirado do Censo
amparadas nas relações sociais que “produziram” as formas especí- e parâmetros comuns a todos os projetos, tanto no levantamen- Demográfico do IBGE 2010
ficas aqui exemplificadas. Toda crítica, correspondente às “manei- to de dados quanto nas escalas de apresentação de cada um dos
23. Descrição dos objetivos do
ras de habitar” de cada um deles, precisa levar em conta as bases desenhos. No entanto, para a criação de uma base comparativa
projeto segundo a página online
sociais e históricas em que as hipóteses estão embasadas. sistemática, existe a necessidade de equivaler os dados de algum do grupo, que consta no endereço:
O projeto do Conjunto Zezinho Magalhães, por exemplo, modo, e precisar categorias de desenho, escala e apresentação mais https://chc.fau.usp.br/sobre
não é apenas parte de uma vontade política de reprodutibilida- regulares. O grupo é organizado pelos
de em massa, como são, por exemplo, os conjuntos do BNH, do Este esforço mirou-se no exemplo dos Cadernos de Habita- docentes Leandro Medrano e Luiz
Recamán da FAUUSP.
mesmo período ou os do Programa Minha Casa, Minha Vida, mais ção Coletiva. Tal publicação é iniciativa do grupo de pesquisa da
recentes – em que o projeto arquitetônico é destituído de impor- FAUUSP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universida-
tância. Neste exemplar da arquitetura modernista consta um en- de de São Paulo) que “visa a sistematização de informações sobre
tendimento, da época, de como poderia dar-se a democratização as habitações coletivas, que ficarão disponíveis para pesquisadores,
dos espaços de moradia, e como a indústria e a construção a partir órgãos públicos, profissionais e interessados” 23. Faz parte de uma
da pré-fabricação poderiam cooperar para tanto. A crítica aos re- cooperação com a ETSAM-UPM (Escuela Tecnica Superior de
sultados desta hipótese são realizadas a partir de outro contexto Arquitectura de Madrid) que realiza levantamento semelhante a
histórico, em que outras “verdades” estão sugeridas. respeito das habitações coletivas Espanholas.
O projeto conta com uma sistematização de escalas, catego-
Cada um dos exemplares de projetos de habitação coletiva rias de desenhos, além de um extenso e dedicado levantamento
tratados no trabalho são resultado do pensamento arquitetônico. de dados, possibilitando um entendimento técnico de cada um dos
Podemos até questionar sua forma, mas em cada um deles existe edifícios analisados.
uma intenção urbana e arquitetônica ali discutida: A escolha de realizar mais de um estudo de caso neste tra-
balho esteve amparada na intenção de estabelecer um método de
“A boa arquitetura tem caráter emancipa- leitura de projeto e um levantamento, que eventualmente pode-
tório e papel fundamental na promoção ria ser levado adiante, com análises de outras propostas de habita-
ção coletiva ou social. No entanto, exatamente pela existência de
da qualidade de vida e desenvolvimento
um projeto como os Cadernos de Habitação coletiva para tanto, e
humano.” (FERREIRA, 2012, p.30) como decisão pessoal de pesquisa, abdicou-se de certas sistemati-
zações para dar lugar a uma pesquisa de representação a partir do
E de forma concomitante e recíproca, a boa arquitetura tem redesenho e das sínteses descritivas dos projetos.
também compromisso no desenvolvimento da cidade, que por sua A pesquisa de representação desenvolvida permitiu a inves-
vez é a realidade de mais de 80% da população brasileira22, onde tigação dos próprios processos que a disciplina utiliza para a elabo-
se trabalha, se mora, onde se usufrui do lazer e das redes de troca ração de projetos e possibilitou entender a lógica de que se valeu
em geral. cada um dos estudos de caso analisados no que diz respeito à sua
Estudar tais projetos foi uma forma de entender quais “von- concepção.
tades” estão em jogo na produção do território e na criação de
acesso à moradia para parte da população. Também, estudar boa Analisar os modos de habitar, por sua vez, compreende di-
arquitetura, boas soluções espaciais, nos torna capaz, a partir da reções de estudos para além das antecipações de necessidades
distância contextual, de ponderar possíveis decisões de projeto. A materializadas pelos arquitetos. Se aproximar de como as pessoas
partir disso, é possível olhar com mais clareza nosso tempo histó- ocupam de fato os espaços e entender sua apropriação é um campo
rico e nosso território a ser transformado, questionando quais as paralelo, mas que converge à análise de projeto.
demandas – em relação ao habitar – que estamos lidando. Se de fato a arquitetura propõe conscientemente espaços
habitáveis - da unidade habitacional à cidade - tais soluções são
Por outro lado, não no entendimento da construção social, reconhecidas e utilizadas pelas pessoas? As ideias se afastam ou se
política e arquitetônica de cada um dos exemplos, mas no esta- aproximam da vida cotidiana delas? Articular o desenho e o projeto
belecimento de uma base de dados para comparação de projetos à ocupação e experiência nos espaços é um compromisso da arqui-
tetura e sua forma de desenvolvimento.

126 127
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IMAGEM 02. Extraído de: https://bracketsmackdown.com/elements-of- Império e Rodrigo Lefèvre, de Artigas aos mutirões. São Paulo:
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design-pdf.html
IMAGEM 03. Reprodução da obra Rio de Janeiro, de autoria de Antonio BARAVELLI, José Eduardo. O Cooperativismo Uruguaio na
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IMAGEM 07. Biblioteca do Convento Capuchin, Mario Botta. Captado Construir cidades? Desafios para um novo Brasil Urbano. São
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papel pólen bold 90gm
impressão Inprima
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