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CENTRO DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO PERCEPÇÃO

SÉRIE: 1 º MÉDIO
PROFESSOR(a): Shislaine Leite
DISCIPLINA: Literatura Brasileira

Frade — Para onde levais gente?


Diabo — Para aquele fogo ardente que nom temestes vivendo.
Frade — Juro a Deus que nom t'entendo!
Cantiga a uma mulher que lhe disse que não curasse de E este hábito não me vai?
servir, que perderia muito nisso Diabo — Gentil padre mundanal, a Belzebu vos encomendo!
Frade — Corpo de Deus consagrado!
Pela fé de Jesus Cristo, que eu nom posso entender isto! Eu
Quem pode tanto perder,
Que mais perdido não seja,
hei de ser condenado?!...
Quem vos viu e se deseja Um padre tão namorado e tanto dado à virtude?
Livre de vosso poder! Assim Deus me dê saúde, que eu estou maravilhado!
Diabo — Não curês de mais detença.
E neste conhecimento, inda que faleça amor, Embarcai e partiremos: tomareis um par de ramos.
o que menos vosso for, Frade — Nom ficou isso n'avença.
tem menos contentamento Diabo — Pois dada está já a sentença!
e na culpa maior dor. Frade — Pardeus! Essa seria ela!
Pois que posso eu perder, Não vai em tal caravela minha senhora Florença.
S’isto tudo em mim sobeja, Como? Por ser namorado e folgar com uma mulher se há um
Que mais perdido não seja,
frade de perder, com tanto salmo rezado?!...
Vivendo sem vosso ser?
Jorge Resende Diabo — Ora estás bem aviado!
Frade — Mais estás bem corrigido!
1) Qual a temática central do poema? Diabo — Devoto padre marido, haveis de ser cá pingado...
2) Essa cantiga segue, quanto à métrica, uma das medidas Gil Vicente
padrão da poesia palaciana. Qual é essa medida?
3) Identifique ao menos dois elementos que contribuem para 1) O frade chega ao encontro com o diabo de mão dada com a
a musicalidade da cantiga. mulher, dançando e cantarolando. Qual é a importância desses
4) Qual o efeito do jogo simbólico com as palavras perder e elementos de caracterização do Frade?
perdido na ideia central do mote? Como esse mesmo jogo 2) Na cena acima, o Diabo condena o frade. O desvio de
é trabalhado na glosa do poema? conduta que leva o Frade a ser condenado é exclusivo dele ou
5) Pela maneira como o poema é construído, que relação se é generalizado na instituição à qual ele pertence? Transcreva
pode estabelecer entre esse exemplo da poesia palaciana um trecho do texto que comprove sua resposta.
e o contexto cultural do humanismo em que está inserida? 3) Relacione sua resposta anterior ao fato de a personagem
Pense na maneira como a argumentação do poema é ser chamada de Frade e não por um nome.
construída. 4) Qual o elemento temático desse texto que o distingue da
literatura medieval?
Leia agora um trecho extraído da obra Auto da barca do
inferno, de Gil Vicente. Nessa peça, dois barqueiros (O Diabo e 5) Na passagem da idade Média para o renascimento, dois
o Anjo) esperam chegar as almas que levarão para o inferno ou escritores portugueses se destacaram, por apresentar
o céu, respectivamente. características que já previam uma nova tendência filosófica e
FRAGMENTO DO AUTO DA BARCA DO INFERNO artística.
Vem um Frade com uma Moça pela mão, e um broquel e a) Fernão Lopes e Gil Vicente
uma espada na outra, e um casco debaixo do capelo; e, ele b) Camões e Bocage
mesmo fazendo a baixa, começou de dançar, dizendo: c) D. Dinis e Paio Soares de Taveirós
Frade — Tai-rai-rai-ra-rã; ta-ri-ri-rã; d) Pe. Vieira e Gregório de Matos
ta-rai-rai-rai-rã; tai-ri-ri-rã: e) Garcia de Resende e Aires Teles
tã-tã; ta-ri-rim-rim-rã. Huhá!
Diabo — Que é isso, padre?! Que vai lá? 6) Indique a afirmação CORRETA sobre o Auto da barca do
Frade — Deo gratias! Som cortesão. inferno, de Gil Vicente.
Diabo — Sabês também o tordião? a) É intricada a estruturação de suas cenas, que surpreendem
Frade — Porque não? Como ora sei! o leitor com o inesperado em cada situação.
Diabo — Pois entrai! Eu tangerei e faremos um serão. b) o moralismo vicentino localiza vícios não nas instituições,
Essa dama é ela vossa? mas aos indivíduos que as fazem viciosas.
Frade — Por minha la tenho eu, e sempre a tive de c) É complexa a critica aos costumes da época já que o autor é
Diabo — Fizestes bem, que é formosa! o primeiro a revitalizar a critica entre o bem e o mal.
E não vos punham lá grosa no vosso convento santo? d) A ênfase desta sátira recai sobre os personagens populares,
Frade — E eles fazem outro tanto! as mais ridicularizadas e mais severamente punidas.
Diabo — Que cousa tão preciosa... e) A sátira é aqui demolidora e indiscriminada, não fazendo
Entrai, padre reverendo! referencia a qualquer exemplo de valor positivo.

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