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Gicélia Gonçalves1
Jaisse M. Souza Cunha
Guilhermina Souza2
DESENVOLVIMENTO CRÍTICO E REFLEXIVO DOS EDUCANDOS. REVISTA DISCENTIS. 3ª EDIÇÃO. DEZEMBRO DE
GONÇALVES, Gicélia; CUNHA, Jaisse M. Souza. ENSINO DE LITERATURA NA EJA E SUA RELEVÂNCIA PARA O
Resumo: Este artigo analisa algumas das trajetórias do Ensino de Literatura na Educação de Jovens
e Adultos no Brasil, e sua importância para o desenvolvimento crítico e reflexivo dos educandos.
Graças a trabalhos anteriores sobre a EJA, perceberam-se alguns aspectos sobre o trabalho docente
com relação à Literatura, os quais serão discutidos no decorrer deste trabalho, tais como:
desvalorização dos saberes prévios do aluno, despreparo dos professores para atuarem em salas de
EJA, escassez de material literário destinado a este público. Este estudo objetiva levar o público alvo
a entender que a leitura é um elemento cultural, histórico e social, capaz de desvendar as
contradições e conflitos de suas realidades, pois é nessa relação entre escrita literária e a dimensão
social que o educando desenvolve e compreende o sentido de suas leituras e produções,
desenvolvendo, assim, sua formação crítica e reflexiva.
INTRODUÇÃO
¹ Orientadora. Mestranda.
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industrial, no início do século XX, que se iniciou um processo lento, mas crescente, de
valorização da educação de adultos. (CUNHA apud PORCARO 2007, p. 1).
A partir dos conceitos trazidos pelas as autoras, podemos perceber que essa
preocupação era apenas econômica, pois estes sujeitos tinham que ter o mínimo de formação
para operar as máquinas e, assim, poder colaborar com a economia do país. Prova disso foi
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aprendizagem dos estudantes são avaliados através da assiduidade, participação,
responsabilidade e pontualidade na entrega e apresentação dos trabalhos.
Esse modelo de ensino já citado pode ser visto, principalmente, no trabalho com
Língua Portuguesa, pois o professor busca, na realidade do estudante, meios para trabalhar o
ensino do Português, através de textos diversos, retirados de jornais, revistas, livros, entre
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outros, pois, de acordo com a Proposta Curricular para o Segundo Seguimento da Educação
de Jovens e Adultos (2002):
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Eventualmente se recorre a letras de canções, poemas, trechos de romances
ou contos, com uma função instrumental, para ilustrar algum tópico, iniciar
ou finalizar alguma discussão. Mas a análise desse tipo de texto fica por
conta do professor de Língua Portuguesa, que pode evidenciar, em uma
abordagem bem-feita, toda a sutileza e a peculiaridade do texto pensado
artisticamente. (...). Cabe ao professor de Língua Portuguesa evidenciar a
riqueza de um texto literário. (BRASIL, 2002, p. 15).
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primeiras experiências de alfabetização popular que levariam à constituição do Método Paulo
Freire.
E foi pensando no quadro da educação no país, em especial a educação de jovens e
adultos, e na educação como um ato político e libertador, que Freire formulou uma teoria do
conhecimento que ficou conhecida como Método Paulo Freire. Dentro desse Método,
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destacam-se dois princípios básicos: O primeiro diz respeito à politicidade do ato educativo
que parte de uma construção e reconstrução da realidade do educando. E o segundo diz
respeito à dialogicidade do ato educacional, pois, para ele, a educação amplia a visão de
mundo do educando, e para isso é necessário a mediação do diálogo.
Paulo Freire buscou não apenas uma transformação no sistema educacional, mas sim,
uma luta pela superação da opressão e das desigualdades sociais. Para que essa transformação
ocorra, é preciso estudar a realidade do educando, organizando os dados coletados em suas
falas para serem usados no processo de alfabetização de adultos. Estes pensamentos
pedagógicos de Freire se formaram a partir da observação da cultura, em particular o uso da
linguagem dos educandos e do papel elitista da escola. Segundo ele, o aprendizado da leitura e
da escrita envolve o aprendizado da leitura da realidade através da análise correta da prática
social.
Para Paulo Freire, é com o conhecimento dos princípios sócio-construtivistas e dos
níveis de concepção do sistema escrito que o educador, numa dialética prática-teoria, poderá
acompanhar a aprendizagem do estudante enquanto este realiza suas escritas e leituras
espontâneas. A partir daí o educador faz suas intervenções pedagógicas nos momentos
necessários, fundamentado no apoio científico.
O Método Freiriano propõe, para o ato de ensino da leitura e consequentemente da
Literatura, que a palavra ensinada venha do universo vocabular do alfabetizando e que
expresse sua real linguagem, os seus anseios, as suas inquietações, as suas reivindicações e os
seus sonhos; que eles sejam carregados de significação de sua experiência existencial.
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Educação de Jovens e Adultos nos Tempos Formativos I, II e III dos Eixos IV, V, VI e VII
nas escolas Antônio Carlos Magalhães e Escola Municipal Valter Barreto, na Cidade de
Presidente Dutra, se pode ter acesso a algumas das práticas pedagógicas e educacionais
utilizadas pelos professores de Língua Portuguesa e Literatura, sua aplicabilidade ao contexto
dos estudantes e seu relacionamento com as experiências de vida que eles adquiriram através
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da convivência com o outro. Com isso, percebe-se que o ensino de Literatura acontece, mas
há uma grande resistência por parte dos educandos, pois são poucos os que se interessam pela
leitura, e os que leem precisam da ajuda do professor para compreenderem o texto literário.
Sozinhos os estudantes não conseguem entender o que leem.
A Educação para Jovens e Adultos é um campo complexo, pois não envolve somente
questões pedagógicas, mas também fatores que vão além dos aspectos educacionais. Segundo
Moacir Godotti e José E. Romão, do Instituto Paulo Freire:
Paulo Freire, na sua obra Educação e Mudança, diz que “para uma transformação em
geral da educação e da EJA em particular, é necessário um comprometimento de todas as
pessoas, principalmente, os que estão ligados ao mundo escolar” (FREIRE, 1979, p. 72).
Apesar de a Constituição definir a educação como um direito de todos os cidadãos, o que se
observa com suas tentativas de alfabetizar ou educar adultos são programas fragmentados,
programas com problemas de concepção pedagógica e metodológica, nos quais os objetivos
não ficam definidos. Isso acaba provocando diversas discussões acerca de sua aplicabilidade
ao contexto educacional do país.
Neste âmbito, muitos programas aparecem como alternativas assistencialistas de
combate à exclusão social, com propostas pedagógicas que sugerem uma forma
universalizada de trabalho sem levar em conta as peculiaridades locais de cada comunidade,
contextos e conteúdos que abrangem a diversidade étnica e cultural de nosso país,
desconsiderando as características locais das comunidades escolares.
Segundo José Carlos Libâneo:
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espaços escolares e não-escolares pode-se ter o entendimento de docência.
(LIBÂNEO, 2007, p. 23).
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personagens, trazendo, assim, uma experiência transformadora de suas vidas. Ela parte do
conhecimento humano, e este conhecimento pode transformar as pessoas, humanizá-las, pois
a Literatura não está afastada da realidade, ela trabalha o imaginário através da linguagem e é
através dela que o leitor assimila verdades do real.
Segundo Lajolo (1994, p. 106), “o cidadão, para exercer plenamente sua cidadania,
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O ensino de Literatura não deve ser um ato condicionado e forçado pelo educador,
mas sim, uma Literatura que perfaz uma dimensão humana necessária e que aproxima os
leitores adultos, estudantes da EJA, das questões sociais e culturais, assim como prevê a
Proposta Pedagógica Curricular:
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Educação e mudança. Tradução de Moacir Gadotti e Lillian Lopes Martin.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
_____________A importância do ato de ler: em três artigos que se complementam. 49. ed.
São Paulo, Ed. Cortez, 1981.
GERALDI, João Wanderley (Org.). O texto na sala de aula. São Paulo: Ática, 1997.
GADOTTI, Moacir, ROMÃO. José E (orgs.). Educação de Jovens e Adultos: teoria pratica
e proposta. 4. Ed – São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2001. -(Guia da escola cidadã; v.
5).
LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo: Ática, 1999.
LIBÂNEO, José Carlos. et. al. Didática. Educação escolar: políticas, estrutura e organização
São Paulo: Editora Cortez, 5.ed. São Paulo : Cortez, 2007.
2014.
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JARDIM, P. Rafael- Texto "Lá nem tem livro...A prática da leitura nas vozes de
adultos".Disponívelem http://xa.yimg.com/kq/groups/22190631/718528939/name/anexo+2+
+lu+nem+tem+livro...+a+pratica+da+leitura+nas+vozes+de+ adultas.pdf. Acesso em 12 de
março de 2003.
SILVA, Ezequiel Teodoro da. O Ato de Ler: Fundamentos Psicológicos para uma Nova
Pedagogia da Leitura. 3. ed. São Paulo 1984.
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