You are on page 1of 14

Paulo Freire e a existência da prática crítico-reflexiva no ensino superior

PAULO FREIRE E A EXISTÊNCIA DA PRÁTICA CRÍTICO-REFLEXIVA NO


ENSINO SUPERIOR

PAULO FREIRE AND THE EXISTENCE OF CRITICAL-REFLECTIVE PRACTICE


IN HIGHER EDUCATION

Marcos Frank de Carvalho1

Resumo: O presente artigo tem como finalidade reanalisar a importância e aplicabilidade


do Método Paulo Freire no Sistema Educacional Universitário Brasileiro. Portanto, o
objetivo deste texto é manter uma discussão centrada nas metodologias do ensino superior,
com pesquisas e produção de conhecimentos, focando o exercício do fazer e refazer,
ancorado na dúvida e no dever de melhorar sempre. Para cumprir tal propósito, foi
desenvolvida uma reflexão em torno de eixos temáticos fundamentados em princípios
pedagógicos defendidos por Freire, buscando possibilitar à Universidade um
aprofundamento na criticidade do fazer pedagógico no âmbito acadêmico. Para tanto,
realizou-se uma pesquisa bibliográfica e análise de trabalhos acadêmicos o que possibilitou
a escolha da temática: Paulo Freire e a existência da prática crítico-reflexiva no ensino
superior. A metodologia consiste em uma pesquisa bibliográfico/descritiva, por ter sido
82 utilizado artigos, livros, dissertação e teses, para se reunir um arcabouço suficiente à
resolução do proposto.

Palavras-chave: Ensino Superior. Prática. Metodologia Freireana.

Abstract: This article aims to reanalyze the importance and applicability of the Paulo
Freire Method in the Brazilian University Educational System. Therefore, the purpose of
this text is to maintain a discussion centered on higher education methodologies, with
research and production of knowledge, focusing on the exercise of doing and redoing,
anchored in the doubt and the duty to improve always. In order to fulfill this purpose, a
reflection was developed around thematic axes based on pedagogical principles defended
by Freire, seeking to enable the University a deepening in the criticality of pedagogical
doing in the academic scope. For that, a bibliographical research and analysis of academic
works was carried out, which enabled the choice of the theme: Paulo Freire and the
existence of critical-reflexive practice in higher education. The methodology consists of a
bibliographic / descriptive research, since articles, book, dissertation and theses have been
used to gather a sufficient framework to solve the proposed one.

Key-words: Higher Education. Practice. Freireana Methodology.

1
Especialista em Docência do Ensino Superior pela Faculdade João Calvino (FJC). Graduado em Pedagogia
pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI). Professor da rede municipal de Floriano-PI. E-mail:
professormarcosfrank@gmail.com

Diálogos e Contrapontos: estudos interdisciplinares, v. 1, n. 2, p. 82-95, ago/dez de 2017.


ISSN: 2594-6978
Marcos Frank de Carvalho

Introdução

O presente artigo busca de forma eficiente contribuir significativamente para a


educação superior acerca das teorias (freirianas ou freireanas). Através dos conhecimentos
adquiridos no decorrer da vida acadêmica e do estudo das teorias do outor acima
supracitado torna-se possivel uma visão crítica no âmbito do ensino superior.
Por meio da abordagem acerca da temática busca-se de forma simples e suscinta
corporificar as concepções teóricas de maneira a descrever a prática cítico rflexiva no
ensino superior na visão do Paulo Freire.
Aprende-se na faculdade que as teorias propostas pelo autor Paulo Freire são
eminentes e riquíssimo arcabouço para a educação como um todo, e em especial para a
brasileira. Esse importante teórico dedicou sua vida, a causa educacional tornando-o
conhecido no meio sistemático e assistemático mundialmente, por defender uma educação
crítica e que possua em sua essência a força para lutar contra o sistema e sociedade de
classes. Paulo Freire ao longo de sua vida fez uma das ações que é muito encontrada em 83
toda sua obra, ele “leu o mundo”, ele defendeu uma educação voltada para a crítica, que
almejasse um diálogo que proporcionasse a límpida consciência da problemática social, a
síntese de sua teoria posicionou a sociedade em duas faces, opressores e oprimidos.
Opressores são os grupos que historicamente detêm a supremacia econômica, e utilizam de
métodos para tornar a sociedade com características de estamentos. Oprimidos por sua vez
são os grupos marginalizados ao longo dos tempos, que não possuem recursos econômicos,
não possuem bens de produção, são pessoas que vendem sua força de trabalho em troca de
salários baixos e muitas vezes em condições insalubres de trabalho e de vida.
Os opressores buscam a perpetuação desse sistema desigual, suas lógicas
dominantes podem ser percebidas em diversos setores da sociedade. A educação bancária é
um termo freireano que teoriza a manutenção da desigualdade social e outras mazelas por
meio da educação.
Na educação bancária o acadêmico é visto como um ser acrítico, sua função
consiste em aceitar e aprender as “verdades” apresentadas pelo professor, este último é

Diálogos e Contrapontos: estudos interdisciplinares, v. 1, n. 2, p. 82-95, ago/dez de 2017.


ISSN: 2594-6978
Paulo Freire e a existência da prática crítico-reflexiva no ensino superior

visto como “dono” do saber e sua autoridade não pode ser contestada. Os conteúdos são
repassados de forma descontextualizados e, portanto sem muita significação para o
acadêmico; nesse sistema não há uma problematização dos conteúdos, o currículo muitas
vezes não permite o estudo aprofundado das desigualdades sociais de que os próprios
discentes são vítimas, propiciando assim a manutenção de opressores e oprimidos.
Por meio de relatos e enfoques de experiências vivenciadas na universidade pode-se
desenvolver no presente artigo um aprofundamento de conceitos, possibilitando assim uma
percepção da multipla contribuição de Paulo Freire para as práticas educativas no ensino
superior.
A abordagem foca principalmente a atuação de docentes do ensino superior que
encontram dificuldades de forma direta ou indireta no que diz respeito às repercussões de
seu trabalho. Através da análise das teorias pedagógicas norteadas pelo autor Paulo Freire
foi possivel focar por meio da investigação a utilização de metodologias propostas pelo
mesmo, por acreditar na existência de um caminho que possibilite a construção da prática
crítico-reflexiva no ensino superior. A criticidade também é considerada um processo de
84
construção do conhecimento. A curiosidade era frequente na vida do autor, pois surgia
devido a necessidade de uma educação crítica, educação esta capaz de transformar a
realidade.
Tal abordagem ocasionou o surgimento de inúmeros desafios, os quais se
traduziram, inicialmente, devido à preocupação acerca da educação superior diante do
ensino acadêmico, ou seja, as metodologias de ensino.
O presente artigo encontra-se organizado a partir de eixos temáticos. A proposição
de tais eixos temáticos tem o intuito de descrever a aplicabilidade dos princípios
pedagógicos freireanos na prática docente do ensino superior; construir um referencial que
proporcione um aprofundamento referente à temática; realizar uma pesquisa teórica em
obras do próprio autor, como também em análise de trabalhos publicados por acadêmicos a
fim de verificar de forma mais límpida como é a prática educativa e se utilizam Freire como
referência.
No livro Pedagogia do Oprimido, o autor apresenta essa situação de forma visceral,
deixando explícito sua experiência cativada no exílio durante cinco anos, bem como mostra

Diálogos e Contrapontos: estudos interdisciplinares, v. 1, n. 2, p. 82-95, ago/dez de 2017.


ISSN: 2594-6978
Marcos Frank de Carvalho

o papel conscientizador da educação numa ação libertadora do próprio “medo da


liberdade”. Para Paulo Freire a sociedade encontra-se dividida em classes, sendo que os
privilégios de uns impedem que a maioria usufrua dos bens produzidos e, coloca como um
desses bens produzidos e necessários para concretizar os objetivos da educação, da qual é
excluída grande parte da população do Terceiro Mundo. Dessa forma o autor supracitado
faz referência a dois tipos de pedagogia: a pedagogia dos opressores, onde a educação
existe como uma prática de dominação e a pedagogia dos oprimidos que precisa ser
realizada para que surja uma educação com prática de liberdade.
Vê-se que segundo o autor, não se pode “fazer” educação sem a análise crítica da
própria crítica, ou da ausência da crítica. A educação é um ato político e que por isso
mesmo esta fadada a objetivos humanos que muitas vezes podem estar distante dos anseios
da maioria.
Partindo desses pressupostos freireanos, encontra-se nas teorias estudadas um
universo vocabular e temas geradores que perpassam todas as esferas educacionais,
principalmente a educação superior, pois é no ensino superior que se encontra a base crítica
85
do acadêmico e posteriormente do profissional da educação.
A leitura de mundo, os questionamentos de natureza política e crítica devem fazer
parte da prática docente superior, pois a mesma é responsável por formar profissionais que
atuarão de acordo com sua formação. A universidade deve fazer uma avaliação de sua
prática docente, ação que prega para professores das outras modalidades de ensino, pois a
própria academia pode está contribuindo para a manutenção dos estamentos sociais,
realizando o ensino, a pesquisa e a extensão desprovida de relevância social, e em
consonância com os valores da classe opressora. O desenvolvimento destes objetivos requer
a constituição de um apanhado teórico comprometido com o processo educativo.
A assunção destes compromissos no âmbito da docência do ensino superior foi
encaminhando a reflexão para o seguinte questionamento: Até que ponto a aplicabilidade
dos príncipios freirianos são possiveis na prática docente do ensino superior? Acredita-se
que uma das possiveis soluções está destinado a discussões e explanação da temática aqui
abordada, no entanto, também se percebe que em muitos casos as universidades não
utilizam Paulo Freire na sua práxi ducacional.

Diálogos e Contrapontos: estudos interdisciplinares, v. 1, n. 2, p. 82-95, ago/dez de 2017.


ISSN: 2594-6978
Paulo Freire e a existência da prática crítico-reflexiva no ensino superior

O percurso metodológico analítico aconteceu por etapas. Inicialmente se deu a


análise do tema e a seleção da questão norteadora do mesmo; a seleção das informações
extraídas das teorias de Paulo Freire e suas respectivas categorizações; e finalmente a
interpretação dos resultados para apresentação.
O levantamento bibliográfico foi realizado no período de um mês. Dessa forma,
Buscou-se ampliar o âmbito da pesquisa. Para que a mesma fosse desenvolvida no espaço
cientifico foram adotados alguns critérios que visam o rigor e uniformização dos dados
coletados.
A uniformização foi possível devido às considerações metodológicas que
permitiram discorrer sobre o tipo de pesquisa. O presente artigo é de caráter descritivo,
pois, baseia-se na informação dos fatos tal como acontece na realidade. Classifica-se
também, como pesquisa bibliográfica porque foram utilizadas fontes como artigos, livro,
dissertação e teses com a finalidade de explicar um problema.
Sendo assim tornou-se relevante a construção de um trabalho que visa à verificação
da prática docente no ensino superior, tal trabalho tem como finalidade obter um resultado
86
que proporcione uma imagem límpida sobre a utilização dos princípios freireanos na prática
docente do ensino superior.
Para tal intuito foi-se escolhido títulos de Paulo Freire como Pedagogia do
Oprimido, Pedagogia da Autonomia, TCCs como também em Artigos de pesquisadores
sobre a referida temática. A verificação da problemática deu-se com forma de revisão,
analisando-se diversas visões sobre o fazer metodológico nas salas de aulas do Ensino
Superior, pois acredita-se que apesar de esses profissionais estarem em constante contato
com as obras de Paulo Freire, como pesquisadores, ainda há necessidade de se realizar uma
abordagem com mais profundidade em torno dessa questão, porque fácil é se observar uma
falta de consonância entre a teoria defendida e a configuração da prática nas Universidades.

Concepção de Educação

A Educação ao longo de toda sua existência tem sido estigmatizada por ter trilhado
e se embasado em filosofias que nada acrescentam ao ensino superior. Nota-se que depois

Diálogos e Contrapontos: estudos interdisciplinares, v. 1, n. 2, p. 82-95, ago/dez de 2017.


ISSN: 2594-6978
Marcos Frank de Carvalho

de Paulo freire, a mesma passou a promover a cidadania aos docentes e acadêmicos. As


filosofias opressoras visualizadas nas próprias obras de Paulo Freire fazem com que se
torne visível uma violência social inestimável, pois, a mesma aborda de forma crítica e
analítica o perfil educacional fundamentado em um contexto modelo inflexível eleito como
única filosofia a ser valorizada, questionada e socializada no âmbito da escola. Tal perfil
favorece um resultado de aprendizagem e de protagonismo abaixo do esperado,
possibilitando o esvaziamento das mentes daqueles que não se encontravam inseridos no
mundo contextual que fazia e dominava a filosofia acadêmica da época. As escolas e/ou
universidades, por não possuírem uma visão crítica da sociedade terminavam excluindo
muitos dos acadêmicos, por terem vivido até aquele momento (tempo em que estava
chegando àquela universidade, ou nível educacional fora do seu contexto cultural, de vida),
norteado e impregnado por um modo contextual, cultural diferenciado.
Assim, a configuração filosófica do ensino superior, mesmo estando aparelhada em
todos os outros requisitos, tem se mantido em um processo de ensino, onde tem usado
conteúdos, mesmo sedo de qualidade excelente ao contexto em forma do todo,
87
desvinculado das realidades vividas, até então pelos alunos, às vezes por estarem distantes
do seu mundo ou mesmo fazendo parte desses contextos, ser disseminado, só de forma
teórica sem qualquer perspectiva de aplicabilidade no cotidiano do acadêmico.
A educação trilhando nesse caminho, não acabaria em outro contexto, a não ser no
dos chamados “analfabetos funcionais”, por serem incapazes de relacionar o que
adquirirem, através da teoria, às suas realidades sociais, para a resolução das suas próprias
problemáticas frente às necessidades advindas com o meio, como também estabelecerem
conexões e se despertarem para outras realidades com entendimento e a finalidade de
incorporá-las ao seu cotidiano em busca de cidadania, (felicidade consciente e digna do
contexto ao tempo), se tornando, assim, pessoas capazes de criarem suas próprias opiniões
e conclusões testadas por seus próprios méritos como pesquisadores, segundo as
necessidades requeridas em cada contexto filosófico/temporal.
A questão filosófica/cultural, opressora e dominadora, segundo o autor é de longa
data e tem assolado o sistema de ensino brasileiro. No entanto, para a promoção de
cidadania dos acadêmicos e o progresso das sociedades, surgiu então uma figura marcante

Diálogos e Contrapontos: estudos interdisciplinares, v. 1, n. 2, p. 82-95, ago/dez de 2017.


ISSN: 2594-6978
Paulo Freire e a existência da prática crítico-reflexiva no ensino superior

como o Pedagogo Paulo Freire, que com uma metodologia a favor da liberdade trousse
assim, justiça social aos grupos culturais.
A prática docente defendida por Freire não se restringia apenas a dominar padrões e
conteúdos acadêmico-científicos ou profissionalizantes, mas principalmente introduzir uma
filosofia centrada no alcance da pessoa como um todo, em sua vida social, isto é, um
processo de ensino que partisse e andasse dentro da filosofia do acadêmico, se
sensibilizando com sua necessidade e anseio, independente de área do saber, pois a
realidade e anseio são fundamentais para a formação intelectual ao ser humano, que após
associar as teorias ao seu mundo prático possa alcançar com entendimento, outras
realidades culturais, com aproveitamento para a promoção de sua cidadania englobando em
sua vida a progressividade científica.
Por experiências pessoais percebeu-se que na educação superior o nome Paulo
Freire é bastante citado e estudado, porém a utilização de ações propostas por suas obras
não foram percebidas como, características que são pilares, a dialogicidade, a
problematização dos conteúdos e currículos, a crítica e análise social e pedagógica
88
aprofundada tão exaltada nas teorias de Freire na maioria das vezes não são vivenciadas na
academia, nascendo assim um paradoxo metodológico, onde nas aulas se é apontada e
estudada uma teoria de relevância social e acadêmica, mas a prática docente é destituída da
dialogicidade, problematização e crítica.
Segundo Freire (2005) a educação que acontecia em estilo de depósito bancário, se
configurava na prática do ministrante tentar transferir os conhecimentos tal e qual como o
seu cognitivo tinha absorvido. Nessa perceptiva analítica percebe-se que o pensamento de
Freire (2005) é ancorado em certa contradição social e no método da promoção do dialogo
para desenvolver os processos de ensino onde o educador é quem promove unilateralmente
o processo ensino/aprendizagem, discutindo ou debatendo os conteúdos sem necessidade de
qualquer análise, sendo, portanto portador de todas as respostas, como único a se manifestar
para ensinar e corrigir o oposto, na condição de sujeito do processo. Ao contrário, os alunos
se configuram como necessitados a serem educados, por não ser detentores de algum saber
relevante, que deve ser bons ouvidores de conteúdos e regras predeterminadas, e não

Diálogos e Contrapontos: estudos interdisciplinares, v. 1, n. 2, p. 82-95, ago/dez de 2017.


ISSN: 2594-6978
Marcos Frank de Carvalho

passam de meros copiadores de seus professores como seres sempre passivos (FREIRE,
2005, p. 65-68).
Freire em (2006a), apud Assis, (2007, p. 34), afirma que o aluno ao se exercitar e se
desenvolver bem no processo de decoração encontrará dificuldade no desenvolvimento de
sua capacidade, como crítico e menos chances terá no lograr êxito quanto à associação da
teoria à sua realidade com perspectivas gradativamente transformadoras, em busca de
ascensão intelectual/profissional.
Conforme Freire, quando uma pessoa se submete a processos culturais de constante
adaptação diante de circunstâncias da vida, já mais logrará transformação para evoluir e ter
êxito nos desafios propostos por conta das necessidades; avançar ou aperfeiçoar dentro de
patamares alcançados posteriormente a título de pesquisa ou através de experiências com o
senso comum, criado por força do meio. E que quanto mais o educando consegue êxito em
seu processo, como um simples agente de adaptação ou assimilação como já configurado
pelo transmissor, menos chances tem o educando para se desenvolver como crítico
transformador de realidades, frente às situações criadas naturalmente pelos contextos atuais
89
e futuros. Desta forma, quem sede ou se acomoda a processos de imposição, mais
facilmente se sujeitará a paradigmas contextuais oferecidos por professores que se deixam
contaminar com a filosofia da dominação cognitiva em favor da reprodução de seres
incapacitados para o aperfeiçoamento e criação, que já mais serão agentes ativos
transformadores de realidades, que apesar de serem boa e satisfatória, sempre irá carecer de
aperfeiçoamentos, para proporcionar cidadania aos homens em sua dinâmica cultural, em
busca de melhorias na qualidade de vida (FREIRE, 2005, p. 69).
É nesse sentido que a “educação bancária” se configura como estagnadora do
potencial idealizador crítico criador dos acadêmicos, conduzindo e condenando-os a
condição de eternos marginalizados, por se tornarem sempre compiladores daquilo que já
foi conquistado, pelos próprios dominadores cognitivos, que com o simples passar do
tempo se tornará inofensivo no atendimento às demandas de anseios das pessoas de forma
individualizada no meio social, marginalizado educacionalmente (FREIRE, 2005, p. 69).

Diálogos e Contrapontos: estudos interdisciplinares, v. 1, n. 2, p. 82-95, ago/dez de 2017.


ISSN: 2594-6978
Paulo Freire e a existência da prática crítico-reflexiva no ensino superior

Os que promovem essas condições de dependência cognitiva retiram da atual e das


futuras gerações as condições mínimas para alcançarem, por seus próprios discernimentos a
solução para as problemáticas pessoais e sociais.
No entanto, os que usam o sistema educacional a serviço do poder controlador, se
servem de uma generosidade aparente, para mascarar o real desejo de um ajustamento
padrão e inofensivo, dos que querem vender como pronto, acabado e suficiente aos
marginalizados, com a falsa resolução da problemática, impedindo que os educandos
consigam se alto transformar para está a serviço de si próprio e em seu próprio benefício
(FREIRE, 2005, p. 70).
A prática educacional bancária já mais seguirá pelo caminho da humanização, mas
se o educador passar a se colocar como educando em busca de novos caminhos e assim
permitir que seus educandos sigam junto, seus objetivos deixam de ser a de depositador de
conhecimentos, para pesquisador e nesse momento seus alunos se tornarão também
pesquisadores em busca de seus próprios perfis segundo ao que querem e acreditam,
passando a configurar a partir de então, a forma problematizadora, de educar, e não mais a
90
de entrega do saber como algo pronto sem necessidade de recriação ou aperfeiçoamento, a
serviço da liberdade cognitiva para que cada um possa buscar crescer respaldado na sua
vocação (FREIRE, 2005, p. 71).

Esta concepção “bancária” implica, além dos interesses já referidos,


outros aspectos que envolvem sua falsa visão dos homens. Aspectos ora
explicados, ora não, em sua prática. Sugere uma dicotomia inexistente
homens-mundo. Homens simplesmente no mundo e não com o mundo e
com os outros. Homens espectadores e não recriadores do mundo.
Concebe a sua consciência como algo especializado neles e não aos
homens como “corpos conscientes”. A consciência como se fosse alguma
seção “dentro” dos homens, mecanicamente compartimentada,
passivamente aberta ao mundo que irá “enchendo” de realidade (FREIRE,
2005, p. 71-72).

De acordo com a visão de Paulo Freire, a missão do professor era de apenas


sistematizar inserção dos conteúdos do mundo, que já se encontrava pronto e acabado, nos
educandos, e quem recebia se tornaria apenas um mero imitador de recortes desse mundo,
do qual se encontrava impregnado. E os educandos eram instigados pelo professor a se

Diálogos e Contrapontos: estudos interdisciplinares, v. 1, n. 2, p. 82-95, ago/dez de 2017.


ISSN: 2594-6978
Marcos Frank de Carvalho

comportarem como bons homens passivos e assim eram induzidos a acreditarem que
estavam sendo privilegiados por receberem algo sem merecer questionamentos, enquanto
na verdade estavam sendo era impedidos de pensar, investigar, analisar para abrirem os
olhos a aperfeiçoar e criar (FREIRE, 2005, p. 72-73).
Ao contrário da educação bancária, onde o educador atua no processo ensino
aprendizagem de forma unilateral, não compreendendo que somente com a relação
comunicativa é que as pessoas encontram a cidadania (felicidade) em forma de satisfação
pelo realizado e só assim o seu trabalho como educador será autentico e alcançará função
social, por servir à realidade dos educandos. Nesta o educador se comporta como
participante do processo, através do sistema de práxis (relacionando a teoria com o contexto
prático dos acadêmicos), conduzindo os acadêmicos a relacionarem o teórico com seu
mundo prático com a finalidade de proporcionar aos mesmos um melhor conhecimento do
seu patrimônio cultural, para aperfeiçoá-lo com propriedade, tornando-os capazes de
enfrentarem as relações homem/conhecimento de modo ativo e questionador em quantos
contextos encontrarem ao longo da vida (FREIRE, 2005, p. 77-78).
91
“Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre
si, mediatizados pelo mundo” (FREIRE, 2005, p. 78). Segundo Freire a educação já mais se
configuraria como libertadora sem antes professor e aluno andarem juntos no dialogo em
uma só direção vencendo as dificuldades do processo de ensino aprendizagem, como
sujeitos ativos que dão sentido o existir da escola como local de relacionamentos, pois, os
seres humanos absorvem os conhecimentos quando o seu interior reconhece as informações
através do mundo que tem dentro de si, como se fosse a única porta para a entrada para o
conhecimento com propriedade, sentido social e cidadania (felicidade consciente e digna).
Enquanto que no desenvolvimento da educação bancária, os conteúdos são manipulados e
contextualizados apenas pelo ministrante, e segundo o mundo visionário que ele próprio
elegeu como único cominho para todos mergulharem, sem dele nada precisar investigar e
avaliar.
Nestes termos, o professor de posse dos conhecimentos, narra-os de modo linear e
mecânico, e o educando recebe sem fazer passar por qualquer tipo de análise, ou tentativa
de associar com o que já adquiriu com as práticas da vida. Assim, não acontece produção

Diálogos e Contrapontos: estudos interdisciplinares, v. 1, n. 2, p. 82-95, ago/dez de 2017.


ISSN: 2594-6978
Paulo Freire e a existência da prática crítico-reflexiva no ensino superior

de conhecimento como acontece nas socializações e reflexões ancoradas na crítica


construtiva, no entrelace do diálogo e Freire:

A prática problematizadora, pelo contrário, não distingue estes momentos


no quefazer do educador-educando,Não é sujeito cognoscente em um, e
sujeito narrador do conteúdo conhecido em outro. É sempre um sujeito
cognoscente, quer quando se prepara, quer quando se encontra
dialogicamente com os educandos (FREIRE, 2005, p. 79).

Em Freire (2005, p. 80), diz ainda que a ação que problematiza desenvolvida pelo
educador promove sempre a construção intelectual dos participantes, reconstruindo a partir
da junção do conhecimento dos alunos com os seus, atuando juntos como investigadores
críticos, usando sempre o diálogo na socialização dos diversos pontos de vista, criando
assim, uma cadeia de pesquisadores, em nome da produção de novos conhecimentos.
Em Freire (2005, p. 80), diz ainda que a ação que problematiza desenvolvida pelo
educador promove sempre a construção intelectual dos participantes, reconstruindo a partir
da junção do conhecimento dos alunos com os seus, atuando juntos como investigadores

92 críticos, usando sempre o diálogo na socialização dos diversos pontos de vista, criando
assim, uma cadeia de pesquisadores, em nome da produção de novos conhecimentos.
Assim, os processos reflexivos que se dão no acontecer do entrelace relacional entre
educador, educando e mundo; não se trata de algo abstrato, mas de acontecimentos reais da
vida desses personagens, enquanto agentes participantes ativos, como protagonistas desse
mundo, estudando e vivendo o teórico com o hoje e também decidindo de modo consciente
a ponto de descrevê-los, avaliar e mensurar o real valor para os seres hoje e amanhã de
forma relacional, ora vivendo, ora contemplando de fora como pesquisador, promotor de
novos e melhores contextos para a sociedade, onde o homem possa gozar da função social
exercido pelo patrimônio que é o intelecto cognitivo da raça humana; fazendo com que os
homens como formadores de conhecimento, partam de um ponto “x” sempre em direção a
um futuro, com consciência do que aconteceu no passado, está acontecendo no presente e
saiba sempre planejar um futuro com valor social, concebendo o mundo como uma
realidade que sempre necessitará, por força contextual, ser transformada (FREIRE, 2005, p.
81-82).

Diálogos e Contrapontos: estudos interdisciplinares, v. 1, n. 2, p. 82-95, ago/dez de 2017.


ISSN: 2594-6978
Marcos Frank de Carvalho

Considerações Finais

Ao término dessa pesquisa verificou-se que os docentes do ensino superior


ministram durante o desencadear das suas aulas os fundamentos da educação freireana, mas
infelizmente não vivenciam a prática libertadora como proposto pelo autor. A grande
maioria possui curso de licenciatura o que se supõe estarem preparados pedagogicamente
para atuação docente no ensino superior, visto que é função dos referidos professores
estarem habilitados para docência do ensino superior tornando o acadêmico um ser crítico e
capaz de refletir acerca dos problemas existentes no mundo.
No tocante às teorias de Paulo Freire foi detectado que a atuação docente ainda
encontra-se deficitária o que comprova tratar-se de um grupo de docentes que não aplicam
a teoria do Paulo Freire no desencadear das suas aulas. Ao analisar as teorias e análise
feitas pelo autor em suas obras foram constatadas análise dos ideários freireanos como
politicidade, dialógica, problematização, inacabamento, totalidade e relacional conforme a 93
explanação e esclarecimentos a seguir.
A concepção das metodologias baseadas nas teorias de Paulo Freire está associada à
relação político pedagógico, pois trata-se de ações que visão a atuação docente diante de
problemas que circundam a sociedade afim de solucioná-los ou minimiza-los passando a
assumir um ato pedagógico educativo. Por meio dessa visão pode-se dizer que o educador é
um político, pois uma vez que a educação é promovida através da essência política há uma
ação educativa.
Na prática educativa, nota-se que de fato a educação deve visar a autonomia dos
acadêmicos de maneira a possibilitar aos mesmos tornarem-se protagonistas da própria
história e que a emancipação é possível.
A prática docente acerca das teorias freireanas visa o comprometimento com a
transformação da educação superior que cada vez mais precisa buscar novos
conhecimentos, estimulando o preparo técnico e científico dos acadêmicos para atuar no
contexto em que vive como agente transformador da realidade.

Diálogos e Contrapontos: estudos interdisciplinares, v. 1, n. 2, p. 82-95, ago/dez de 2017.


ISSN: 2594-6978
Paulo Freire e a existência da prática crítico-reflexiva no ensino superior

Para Freire (2005), segundo as teorias estudadas no desencadear do artigo, a


curiosidade esta associada ao pensar certo se processando na superação e na transitividade
educacional onde o ensino passa por constantes mudanças conforme as necessidades
impostas pelo ambiente educacional e a sociedade.
Em um dos seus argumentos Freire (2005) afirma que a educação não se dar por
meio passivo e que ensinar não é transferir conhecimento. Infelizmente é o que mais se vê
no ambiente acadêmico é a transmissão de conhecimento como verdades acabadas. Muitos
docentes do ensino superior não consideram os argumentos dos acadêmicos tornando-os
sujeitos oprimidos e posteriormente favorecendo implicitamente para formação de um
acadêmico sem visão crítica ou simplesmente sem ânimo para demonstrar suas idéias e
defende-las. Portanto acredita-se na possibilidade concreta da efetiva aplicação das
metodologias e/ou teorias propostas pelo eminente pensador Paulo Freire tratando-se da
docência do ensino superior para formação de um processo crítico e desafiador.
Enfim com este trabalho, tem-se a pretensão de possibilitar uma reflexão da
sistemática, teoria/prática, buscando levantar resoluções na adequação que por ventura
94
possa ser necessária na utilização de Paulo Freire na prática docente do ensino superior; a
teoria do mesmo é tão relevante que não pode ser reduzida apenas ao estudo no ensino
superior. A alma dessa teoria deve ser encorpada em cada docente, levando os acadêmicos
a uma posição mais crítica, levando a um diálogo constituído de leitura de mundo, com
formação humanística e buscando sempre a formação de profissionais que tenham em sua
formação o ensejo de construir uma sociedade igualitária, onde exista um sistema que
confronte sempre, opressor e oprimido, assim proporcionando oportunidades iguais de
desenvolvimento.

REFERÊNCIAS

Bibliografia

ASSIS, G. S. Ideário Freireano: um referencial teórico-metodológico para a formação


político-pedagógica do professor. 175 f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade
Federal da Paraíba, João Pessoa, 2007. Disponível em:
<http://www.ce.ufpb.br/ppge/Teses/teses07/Geovani%20Soares.pdf>. Acesso em: 28 out.
2012.

Diálogos e Contrapontos: estudos interdisciplinares, v. 1, n. 2, p. 82-95, ago/dez de 2017.


ISSN: 2594-6978
Marcos Frank de Carvalho

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.

______. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. São Paulo:


Paz e Terra, 1996.
.

95

Recebido em 27 de julho de 2017.


Aprovado em 10 de outubro de 2017.

Diálogos e Contrapontos: estudos interdisciplinares, v. 1, n. 2, p. 82-95, ago/dez de 2017.


ISSN: 2594-6978

You might also like