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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 12

15/06/2018 PRIMEIRA TURMA

AG.REG. NO HABEAS CORPUS 154.299 SÃO PAULO

RELATOR : MIN. ALEXANDRE DE MORAES


AGTE.(S) : JOELTON SEVERIANO DE SOUSA
ADV.(A/S) : PATRICIA MARIA VILLA LHACER
AGDO.(A/S) : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL. HABEAS CORPUS. DENÚNCIA


QUE ATENDE AOS REQUISITOS DO ART. 41 DO CÓDIGO DE
PROCESSO PENAL. EXTINÇÃO ANÔMALA DA AÇÃO PENAL.
INVIABILIDADE. PRECEDENTES.
1. A justa causa é exigência legal para o recebimento da denúncia,
instauração e processamento da ação penal, nos termos do artigo 395, III,
do Código de Processo Penal, e consubstancia-se pela somatória de três
componentes essenciais: (a) TIPICIDADE (adequação de uma conduta
fática a um tipo penal); (b) PUNIBILIDADE (além de típica, a conduta
precisa ser punível, ou seja, não existir quaisquer das causas extintivas da
punibilidade); e (c) VIABILIDADE (existência de fundados indícios de
autoria).
2 . Esses três componentes estão presentes na denúncia ofertada pelo
Ministério Público, que, nos termos do artigo 41 do CPP, apontou a
exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a
qualificação do acusado e a classificação do crime.
3. Esta Corte já decidiu reiteradas vezes que a extinção anômala da
ação penal, em Habeas Corpus, é medida excepcional, somente admissível
quando prontamente identificável: (a) atipicidade da conduta; (b)
ausência de indício mínimo de autoria ou existência do crime; ou (c)
causa de extinção da punibilidade, o que não ocorre na presente hipótese.
4. Agravo regimental a que se nega provimento.
AC ÓRDÃ O

Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros do Supremo


Tribunal Federal, em Primeira Turma, sob a Presidência do Senhor
Ministro ALEXANDRE DE MORAES, por maioria, acordam em negar

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HC 154299 AGR / SP

provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Relator, vencido


o Ministro Marco Aurélio.

Brasília, 15 de junho de 2018.

Ministro ALEXANDRE DE MORAES


Relator

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15/06/2018 PRIMEIRA TURMA

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RELATOR : MIN. ALEXANDRE DE MORAES


AGTE.(S) : JOELTON SEVERIANO DE SOUSA
ADV.(A/S) : PATRICIA MARIA VILLA LHACER
AGDO.(A/S) : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

RE LAT Ó RI O

O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES (RELATOR):


Trata-se de agravo regimental interposto contra decisão que negou
seguimento ao habeas corpus, ao rejeitar a tese de inépcia da exordial
acusatória.
Consta dos autos, em síntese, que o agravante foi denunciado pela
suposta prática dos crimes de lesão corporal (arts. 129, § 1º, inciso II, CP),
dano (art. 163, parágrafo único, inciso III, CP), explosão (art. 251, caput ,
CP), quadrilha (art. 288, caput , CP ) e portar, no interior do estádio, em
suas imediações ou no seu trajeto, em dia de realização de evento
esportivo, quaisquer instrumentos que possam servir para a prática de
violência (art. 41-B, § 1º, inciso I, da Lei n. 10.671/2003).
Buscando o trancamento da ação penal por ausência de justa causa, a
defesa impetrou habeas corpus no Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo, que denegou a ordem.
Na sequência, interpôs recurso ordinário em habeas corpus no
Superior Tribunal de Justiça, que lhe negou provimento, em acórdão
assim ementado:

PENAL E PROCESSO PENAL. RECURSO EM HABEAS


CORPUS. 1. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. AUSÊNCIA
DE EXCEPCIONALIDADE. 2. CRIMES DELESÃO
CORPORAL, DANO, EXPLOSÃO, QUADRILHA E CRIME DO
ESTATUTO DO TORCEDOR. NEGATIVA DE AUTORIA.
NECESSIDADE DE REVOLVIMENTO DE FATOS E PROVAS.

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HC 154299 AGR / SP

IMPRESCINDIBILIDADE DE INSTRUÇÃO PROCESSUAL. 3.


RECURSO EM HABEAS CORPUS IMPROVIDO.
1. O trancamento da ação penal na via estreita do habeas
corpus somente é possível, em caráter excepcional, quando se
comprovar, de plano, a inépcia da denúncia, a atipicidade da
conduta, a incidência de causa de extinção da punibilidade ou a
ausência de indícios de autoria ou de prova da materialidade
do delito.
2. Pela leitura da denúncia, bem como do acórdão
recorrido, verifica-se que os indícios de autoria encontram-se
devidamente descritos, uma vez que o recorrente aparece nas
imagens de segurança e foi reconhecido por uma testemunha.
Portanto, não é possível, neste momento processual, descartar,
de plano, sua participação. Com efeito, a alegação de negativa
de autoria deverá ser melhor examinada durante a instrução
processual, momento adequado para a análise da matéria.
3. Recurso em habeas corpus improvido.

Neste recurso, a defesa alega que “a decisão proferida pelo Nobre


Ministro Relator Alexandre de Moraes é absolutamente nula, eis que proferida
por juiz suspeito”, porque, “como Secretário de Segurança Pública, o hoje
Ministro, atuou de forma direta e incisiva nas investigações dos fatos, chegando,
inclusive, a realizar diligências juntamente com o promotor do processo, Dr.
Paulo Castilho”. A impetrante ainda reitera a tese de inépcia da denúncia,
já que teria sido “oferecida e recebida, sem a análise de todas as provas
inquisitoriais existentes”. Alega que, “em relação aos delitos previstos nos
artigos 129, parágrafo 1º, inciso II; artigo 251, caput; 288, caput, do Código
Penal, e artigo 41-B, parágrafo 1º, inciso I, da Lei 10.671/03, na forma do artigo
69 do Código Penal, a denúncia é temerária e excessiva”. Requer, assim, “o
reconhecimento da nulidade da decisão proferida, cassando-a e outra seja
proferida pelo substituto legal do Ministro Alexandre de Moraes;”
subsidiariamente, “seja provido o presente Agravo regimental e dado
seguimento ao Habeas Corpus no. 154. 299”.
É o relatório.

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VOTO

O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES (RELATOR):


Anota-se, inicialmente, que foram encaminhadas à Presidência desta
CORTE as informações referentes à Arguição de Suspeição n º 94,
oportunidade em que se rechaçou a tese de parcialidade deste Relator
para julgar a presente impetração.

Quanto ao mais, não há reparo a fazer, pois o agravo interno não


apresentou qualquer argumento apto a desconstituir os fundamentos
apontados, pelo que se reafirma o seu teor.

A justa causa é exigência legal para o recebimento da denúncia,


instauração e processamento da ação penal, nos termos do artigo 395, III,
do Código de Processo Penal, e consubstancia-se pela somatória de três
componentes essenciais: (a) TIPICIDADE (adequação de uma conduta
fática a um tipo penal); (b) PUNIBILIDADE (além de típica, a conduta
precisa ser punível, ou seja, não existir quaisquer das causas extintivas da
punibilidade); e (c) VIABILIDADE (existência de fundados indícios de
autoria).
Esses três componentes estão presentes na denúncia ofertada pelo
Ministério Público, que, nos termos do artigo 41 do CPP, apontou a
exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a
qualificação do acusado, a classificação do crime e o rol das testemunhas;
satisfazendo, desta forma, as exigências mínimas para a apresentação da
acusação, conforme apontadas nas históricas lições do mestre JOÃO
MENDES DE ALMEIDA JÚNIOR, em sua preciosa obra “O processo
criminal brasileiro” (v. II, Freitas Bastos: Rio de Janeiro, 1959, p. 183):

“uma exposição narrativa e demonstrativa. Narrativa,


porque deve relevar o fato com todas as suas circunstâncias,

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HC 154299 A GR / SP

isto é, não só a ação transitiva, como a pessoa que a praticou


(quis), os meios que empregou (quibus auxiliis), o malefício que
produziu (quid), os motivos que o determinaram (quomodo), o
lugar onde a praticou (ubi), o tempo (quando)”.

No presente caso, o Superior Tribunal de Justiça negou provimento


ao recurso ordinário em habeas corpus interposto pela defesa, por entender
presentes indícios de autoria, conforme se extrai do seguinte excerto do
acórdão impugnado:

(…) No caso dos autos, o recorrente foi denunciado, em


concurso com outros 17 (dezessete) torcedores da Torcida
Organizada “Mancha Alvi Verde”, em virtude de terem se
associado para o fim específico de cometerem crimes. Consta,
ainda, que (e-STJ fls. 20/27):

(...) agindo em concurso com unidade de desígnios e


propósitos com outros torcedores não identificados, promoveram
tumulto e praticaram violência durante o trajeto de ida ao local
de realização de evento esportivo, bem como, ofenderam a
integridade corporal de Raphael Menezes de Souza Vieira,
causando-lhe lesões corporais graves e internas, que
ocasionaram perigo de vida, conforme laudo de lesão corporal de
fl. 1450, expuseram a perigo a vida e a integridade física dos
usuários da Companhia do Metropolitano de São Paulo – Metrô
ou seu patrimônio, mediante explosão de artefatos de fogos
(rojões), deterioraram bens da mencionada companhia, conforme
laudos de fls. 1019/1034 e 1349/1356.
(...).
Os denunciados e demais torcedores da "Mancha Alvi
Verde", em resposta às provocações, seguiram ao encontro dos
integrantes da Torcida Organizada "Pavilhão 9", que em razão
de estarem em um número menor, ficaram acuados no interior
da composição. Chegando ao local, alguns indivíduos
começaram a depredar vidros e portas, com socos, chutes e
barras de ferro, retiradas da própria estação de Metrô, enquanto

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HC 154299 AGR / SP

outros adentraram nos vagões e passaram a agredir diversas


pessoas com a vestimenta da "Pavilhão 9", entre elas, Raphael
Menezes de Souza Vieira. A vítima ficou internada entre os dias
3 e 15 de abril de 2016, por conta de diversos traumatismos,
consistente em trauma cerebral focai com lesão axonal difusa e
intubação orotraqueal prolongada, conforme Ficha de Internação
de fl. 1004 e Laudo Pericial de fl. 1450.
Os integrantes da "Pavilhão 9" saíram da composição por
alguns instantes e retornaram com barras de ferro em mãos,
começando a depredá-la. Ato contínuo, os integrantes da
"Mancha Alvi Verde" vieram ao encontro, também portando
barras de ferro. Nesta hora, os torcedores da "Pavilhão 9"
desceram as escadas e se evadiram pela linha férrea do Metrô,
com destino à estação Pedro II, onde se inicia um novo
confronto, com lutas corporais, disparos de artefatos de fogos
(rojões), e depredação aos bens do Metrô.
A composição nº 153.765/2016, carro H54, carro 01, após
o tumulto, exibia fratura nos vidros de 05 (cinco) portas e
04(quatro) janelas, além de danos nas portas e em demais bens
públicos, como exposto no Laudo Pericial de fls. 1019/1034 e
1349/1362. O Laudo Pericial dos objetos contundentes
utilizados durante os fatos estão acostado às fls. 1051/1053.
Nas imagens das câmeras de segurança do Metrô (fls.16),
foram identificados os denunciados das Torcidas Organizadas
"Mancha Alvi Verde" e "Pavilhão 9":
(...).
JOELTON SEVERIANO DE SOUSA (fls. 71/75 –
aparece depredando a composição);
(...).
A testemunha Marcos Torres reconheceu (...), JOELTON
SEVERIANO DE SOUSA (fl. 892),
(...).
Por fim, consigno que os dois grupos de indiciados agiram
em concurso com os demais integrantes de suas torcidas, que se
digladiaram no dia dos fatos.

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HC 154299 AGR / SP

O Tribunal, por seu turno, refutou a alegação trazida no


acórdão recorrido, consignando que (e-STJ fl. 466):
De início, cumpre registrar que a maior parte do que
sustenta a impetrante, relativa à inocência do paciente, se refere
ao mérito da ação penal.
Nesta toada, forçoso alinhavar a impossibilidade de se
conhecer da impetração no tocante às alegações voltadas a tentar
comprovar que o paciente não praticou os delitos a ele
imputados, pois a apreciação valorativa dos fatos e de suas
circunstâncias exige análise profunda, que não pode ser
procedida nessa estreita via de habeas corpus, marcada pelo
contraditório mitigado.
Incognoscível o Habeas Corpus, neste ponto, portanto.
Lado outro, a irresignação no prosseguimento da ação
penal não comporta acolhimento, não sendo possível o
trancamento da ação por ausência de justa causa.
É sabido que o trancamento de inquérito policial ou da
ação penal, por meio de habeas corpus, é medida excepcional a
ser aplicada em casos nos quais haja "a manifesta atipicidade da
conduta, a presença de causa de extinção da punibilidade do
paciente ou a ausência de indícios mínimos de autoria e
materialidade delitivas" (HC 91.603, Rel. Min. Ellen Gracie,
DJE-182 de 25.09.2008), o que não se vislumbra no caso em
apreço.
Ao revés, há indícios de autoria e prova da materialidade
presentes desde o recebimento da denúncia que autorizou o
início da ação penal.
Com efeito, traz a denúncia fato típico, as circunstâncias
que os fatos ocorreram, descreve período, local e meio de
execução, sendo que, nas imagens da câmara do metrô, o
paciente foi identificado chutando o vidro lateral do vagão, cf.
relatório policial de fls. 337/368, fato que foi confirmado pela
testemunha Marcos Torres em solo policial (fls. 377/378).
Logo, existem prova da materialidade e indícios de autoria
e não tendo sido, de plano, rechaçado o elemento subjetivo da
conduta, impossível o pretendido trancamento da ação penal,

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que deve prosseguir em seus regulares termos.


Sendo assim, recebida a denúncia em 22/08/2017 e
indeferido o pedido de prisão preventiva dos acusados e impostas
medidas penal na medida em que se encontra apta, obedecendo
todos os requisitos legais.
(...)
Por derradeiro, não merece guarida a alegação de que a
exordial foi oferecida e recebida sem a análise de todo o conjunto
probatório, sob o argumento de que as provas produzidas nos
autos n° 0027764-49.2016.8.26.0050, referentes ã prisão
temporária do paciente, não teriam sido anexadas aos autos da
ação penal n° 0027823-37.2016.8.26.0050, pois não há
necessidade de apensamentos de tais autos, até mesmo porque a
i. Patrona do paciente tem pleno acesso a eles. Assim, não há que
se falar em trancamento da ação penal por tal razão e, muito
menos, constrangimento ilegal por cerceamento de defesa.
Destarte, não se vislumbra qualquer ilegalidade que
justifique a concessão do remédio heroico.

(...)
Portanto, não há se falar em ausência de justa causa, por
negativa de autoria, com relação a nenhum dos crimes
imputados na inicial acusatória, sendo imprescindível um
exame mais aprofundado dos fatos e das provas dos autos para
aferir a real e efetiva participação do recorrente nos eventos
narrados.

Bem se percebe que a exordial descreve os indícios de autoria, com


destaque para a circunstância de que o recorrente aparece nas imagens de
segurança e foi reconhecido por uma testemunha. Há, portanto, indicação de
suporte probatório suficiente a justificar a persecução criminal, pois o
recebimento da peça acusatória não representa cognição exauriente sobre
os fatos, mas mero juízo de delibação quanto à existência de crime e
indício mínimo de autoria (cf. RHC 138.752, Rel. Min. DIAS TOFFOLI,
Segunda Turma, Dje de 27/4/2017; RHC 129.774, Rel. Min. ROSA WEBER,
Primeira Turma, Dje de 25/2/2016, entre outros).

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Sob essa perspectiva, a análise das questões fáticas suscitadas pela


defesa, de forma a infirmar o entendimento da instância ordinária,
demandaria o reexame do conjunto probatório, providência incompatível
com esta via processual. É da competência do juiz processante, sob o
crivo do contraditório e da ampla defesa, examinar os elementos de prova
colhidos durante a instrução criminal e conferir definição jurídica
adequada para os fatos apurados. O juízo antecipado desta CORTE
SUPREMA a respeito do mérito da ação penal, em rigor, implicaria clara
distorção das regras constitucionais de competências (cf. HC 136.622-
AgR, Rel. Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, Dje de 17/2/2017;
HC 135.748, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, Dje
de 13/2/2017; HC 135.956, Rel. Min. TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma,
Dje de 28/11/2016; HC 134.445-AgR, Rel. Min. EDSON FACHIN, Primeira
Turma, Dje de 27/9/2016).

Nesse sentido, esta Corte já decidiu reiteradas vezes que a extinção


anômala da ação penal, em Habeas Corpus, é medida excepcional, somente
admissível quando prontamente identificável: (a) atipicidade da conduta;
(b) ausência de indício mínimo de autoria ou existência do crime; ou (c)
causa de extinção da punibilidade (cf. HC 138.147-AgR, Rel. Min.
ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, Dje de 17/5/2017; HC 140.437-
AgR, Rel. Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, Dje de 11/5/2017; RHC
140.008, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, Dje de
26/4/2017; RHC 125.336-AgR, Rel. Min. TEORI ZAVASCKI, Segunda
Turma, Dje de 1/12/2016); o que não ocorre na presente hipótese.

Assim, por encontrar amparo na legislação de regência e na


orientação desta CORTE, não há constrangimento ilegal a ser sanado.

Diante do exposto, NEGO PROVIMENTO ao agravo regimental. É o


voto.

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Voto Vogal

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RELATOR : MIN. ALEXANDRE DE MORAES


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AGDO.(A/S) : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

VOTO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO – O habeas corpus é ação


constitucional voltada a preservar a liberdade de ir e vir do cidadão. O
processo que o veicule, devidamente aparelhado, deve ser submetido ao
julgamento de Colegiado. Descabe observar quer o disposto no artigo 21
do Regimento Interno, no que revela a possibilidade de o relator negar
seguimento a pedido manifestamente improcedente, quer o artigo 932 do
Código de Processo Civil. Provejo o agravo para que o habeas corpus tenha
sequência.

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Extrato de Ata - 15/06/2018

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PRIMEIRA TURMA
EXTRATO DE ATA

AG.REG. NO HABEAS CORPUS 154.299


PROCED. : SÃO PAULO
RELATOR : MIN. ALEXANDRE DE MORAES
AGTE.(S) : JOELTON SEVERIANO DE SOUSA
ADV.(A/S) : PATRICIA MARIA VILLA LHACER (149919/SP)
AGDO.(A/S) : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Decisão: A Turma, por maioria, negou provimento ao agravo


regimental, nos termos do voto do Relator, vencido o Ministro
Marco Aurélio. Primeira Turma, Sessão Virtual de 8.6.2018 a
14.6.2018.

Composição: Ministros Alexandre de Moraes (Presidente), Marco


Aurélio, Luiz Fux, Rosa Weber e Luís Roberto Barroso.

Disponibilizou processo para esta Sessão o Ministro Dias


Toffoli, não tendo participado do julgamento desse feito o
Ministro Alexandre de Moraes em razão da ordem de sucessão na
Primeira Turma.

Carmen Lilian Oliveira de Souza


Secretária da Primeira Turma

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