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Fatima Alfredo
Mestre em Artes Visuais (PPGAV/EBA/UFRJ)
fatimalfredo@yahoo.com.br
Dalila Cerqueira
Doutora em Artes Visuais (PPGAV/EBA/UFRJ)
dalisan@superig.com.br
Maira Froés
Professora HCTE-UFRJ
froes@hcte.ufrj.br
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https://play.google.com/store/books/details?id=hJgHAAAAQAAJ&source=gbs_atb_hover. Acessado em
12/08/2013.
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http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/657/2/21727_ulsd057917_td_tese.pdf. Acessado em 11/08/2013.
Deve-se isso, em grande parte, ao comprometimento da Academia com a estética
francesa trazida por seus integrantes iniciais, mais a bagagem artística e cultural
com a forte influência de seu idealizador, Lebreton. Este tomava o ideal grego de
beleza como referencial para o estudo do corpo, fazendo com que o ensino artístico
realizado pela Academia seguisse regras rígidas que deveriam ser respeitadas
(BATISTA, 2011). As cópias francesas usadas pelos alunos eram, por sua vez,
cópias de originais gregos ou romanos que obedeciam aos cânones e proporções da
geometria para esse tipo de representação (FERNANDES,2001).
Outro fator de importância atribuído às representações do corpo é o fato de
que essas, conforme discurso proferido por Taunay quando da premiação aos
alunos na terceira exposição em 1839, davam à Academia Imperial das Belas Artes
a honra de ser um lugar de significação simbólica e comprometida com a construção
do imaginário nacional. Imaginário este, que segundo SANTOS “comportaria a
adaptação do meio aos padrões estéticos de procedência europeia” (1997). Naquele
momento, os ditames acadêmicos neoclássicos eram o investimento voltado à
implantação da nacionalização e, em especial, valendo-se de um corpo inscrito
como fator simbólico na criação desse imaginário brasileiro. Afinal, o corpo brasileiro
era tipicamente constituído pela miscigenação de diversas raças.
Dentro da Academia permitiu-se ensinar a morfologia do corpo humano em
bases comparativas. Tais conhecimentos eram entendidos como essenciais para o
campo artístico, pois no período do Oitocentos, também conhecido como período do
cientificismo, o estudo da representação da figura humana compreendia o objetivo
mais elevado da aprendizagem acadêmica, um tema indispensável nos discursos
científicos (BATISTA,2011). A ciência orientava o artista na realização de um
desenho, garantindo que a composição estrutural e formal do corpo ficasse
relativamente bem articulada, incluindo a representação de seu escorço3 (Fig. 1). O
conhecimento científico da forma humana embasava as representações do corpo
em movimento, dando-lhe realismo, ao passo que permitia explorar as diversas
variações anatômicas.
Para uma representação ideal, o artista precisava de determinados
„saberes‟que conjugavam a técnica mais a percepção visual e o ideal clássico
exigido, à época, pela Academia (OSINSKI, 1998). Assim, eles deveriam primeiro,
observar e copiar as obras dos grandes mestres, adquirindo o hábito de desenhar
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Em desenho, escorço é a representação da figura seguindo as regras da perspectiva.
bem as partes de um corpo, passariam depois a desenhar o modelo ao natural,
apenas para confirmar as lições aprendidas. Este método de ensino foi trazido da
Academia Francesa que por sua vez seguiu exemplo da Academia de Roma,
através do pintor francês Nicolas Poussin.
Os temas abordados por Nicolas Poussin ficavam entre a mitologia e os
motivos históricos, aliados obedientemente às regras da expressividade
neoclássica4. Era esse sentimento que Charles Le Brun e Jean-Baptiste Colbert
precisavam para renovar, em 1663, aquela que nos serviu de modelo de academia
de Arte.
O papel do artista na relação entre a ciência e a representação do corpo, não
só como obra de arte, permeia os tempos em que se proibia a dissecação para
estudo deixando em falta alguns memoriais médicos do século XIX. É o caso do
primeiro atlas de anatomia descritiva do Brasil, de José Maurício Nunes Garcia
Júnior (LEITÃO, 1937)5. Neste livro, este cirurgião, Membro honorário da Imperial
Academia de Medicina do Rio de Janeiro e Correspondente da Sociedade de
Ciências Médicas de Lisboa e do Instituto Histórico do Brasil, descreve, em detalhes,
a sutura nas amputações e defende o método utilizado por Ambroise Parré que, sem
ilustração alguma, não permite explorar, imageticamente, os discursos anatômicos
contidos nele (FORRAI, 2006).
Diga-se também, que as soluções visuais conseguidas pelos artistas na
representação do horror diante do corpo dissecado, tornava-o menos agressivo ao
olhar e mais didático de ser estudado pelo recém-acadêmico da ciência médica e
outros interessados.
O desenho é disciplina e exercício de observação e representação, adestra
o olhar e habilita a uma interpretação mais interiorizada daquilo que os
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sinais exteriores revelam .
4
http://educacao.uol.com.br/biografias/nicolas-poussin.jhtm. Acessado em 25/08/2013.
6
http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/657/2/21727_ulsd057917_td_tese.pdf. Acessado em 28/07/2013.
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Diz-se de um livro em que as folhas de impressão apenas são dobradas em duas. NASCENTES, Antenor.
Dicionário da Língua Portuguesa, 1988.
Império, Jose Lino Coutinho fez a Reforma e, cabia a Felix-Emile Taunay, a direção
da Academia. Mudanças aconteceram em relação às disciplinas, procurando dar às
aulas de arte esse caráter mais voltado às ciências. Os alunos ganharam novas
matérias com amplo fundamento voltado às ciências naturais, como: Osteologia,
Miologia e Fisiologia das Paixões e Aula de Desenho de Modelo Vivo. E, para que o
desenho da figura humana pudesse ser representado em toda a sua expressividade
artística de forma evidente, a grade curricular de alguns cursos da Academia, foram
diferenciadas em três cadeiras de desenho obrigatórias: o Desenho Linear de
Figuras, o Desenho de Geometria elementar e o Desenho de Geometria descritiva
(FERNANDES, 2001).
Essa visão de formação artística amparada pelas ciências transcorreu mesmo
após a Reforma Pedreira, quando em 1855, Manuel Araujo de Porto-alegre se
tornaria o diretor da Academia Imperial de Belas Artes e o epítome sobre anatomia,
publicado por Taunay em 1837, ainda seria material didático obrigatório, nas aulas,
junto a outros tratados e pranchas anatômicas.
Evidência da aliança entre a arte e a ciência, incluindo o estudo teórico da
osteologia e miologia, fica mais claro quando se considera que essas aulas de
anatomia eram ministradas por médicos do Imperador, no Hospital da Santa Casa
da Misericórdia, com direito, inclusive, a práticas de dissecação. FERNANDES
(2001) diz que o médico José Pereira do Rego, por exemplo, deu aulas práticas em
1871, naquele hospital como professor honorário.
Pesquisas com intuito de incluir nesta listagem de ilustres professores que
serviram a Academia Imperial de Belas Artes, aquele que seria o primeiro médico-
cirurgião negro a fazer parte deste circuito de produção intelectual e artístico, Dr.
José Maurício Nunes Garcia Júnior, vem sendo feito pela Profa. Dra. Maira Fróes
baseada em informações contidas nos registros e Acervo do Museu D. João
VI/EBA/UFRJ. Uma série de in-fólios, pranchas anatômicas, atlas e outros materiais
de estudo voltados à Anatomia artística estão sendo, aos poucos, restaurados,
catalogados, digitalizados e colocados à disposição de consultas, no Acervo de
Obras Raras do Museu.
Essas discussões envolvendo o estudo do corpo humano permeiam a área da
arte e da ciência, pois enquanto para os antigos o corpo é fôrma „o que está inerte‟,
para os modernos, o corpo é movimento e mudança. Assim a representação da
figura humana, lugar da serenidade formal, cede à sugestão de movimentos por
vezes quase teatrais. O corpo é imagem, forma, ocupação e acontecimento. A forma
como aspecto exterior de algo, feitio que carrega volume, superfície e textura. A
fôrma como sinônimo de molde, aquilo que contem algo8.
O corpo interessa vários campos de estudo, afinal é polissêmico.
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Para saber mais sobre a representação visual como instrumento de reconstrução de um indivíduo veja
RODRIGUES, Andréia de Freitasem http://www.historia.uff.br/cantareira/v3/wp-content/uploads/2013/04/a2.pdf.
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http://pt.wikipedia.org/wiki/Homem_vitruviano. Acessado em 28/07/2013.
quadratum”, o centro localizado abaixo, Leonardo ultrapassa o cânone da
Antiguidade10.
Referências
12
http://www.ifcs.ufrj.br/~aisthe/vol%20III/MAIRA.pdf. Acessado em 27/07/2013.
FORRAI, Judit. Ambroise Paré. The Father of Surgery. Clin. Pesq. Odontol., Curitiba,
v.2, n.5/6, p. 447-450, jul./dez., 2006.