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1 MATEMATICA

ENCARTE ESPECIAL

RECORTE E COLECIONE

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5 16 17 18 19 20
TEORIA

A base de todas
as operações
Ensinar as características
do sistema decimal P rimeiro, escrever de 0 até 10. De-
pois, até 20. Quando a criança do-
minar esses números, avançar até o 50
evidente: os alunos, muito antes de co-
meçarem a freqüentar uma sala de au-
la, têm contato diário com o sistema nu-
é fundamental para
e, posteriormente até o 100, certo? Até mérico. Ao ver algarismos em calendá-
que os alunos avancem algum tempo atrás, poderia ser, mas a rios, telefones dos colegas, preços de pro-
na aprendizagem da concepção de que para progredir no dutos, numeração das casas e o painel
Matemática. Para isso,
➀ GUSTAVO LOURENÇÃO ➁ CÉLLUS

aprendizado dos números é preciso en- do elevador, informalmente eles cons-


promova o uso dos números siná-los um a um, seguindo a série nu- troem representações sobre os núme-
em diferentes contextos mérica e logo classificando em unida- ros e tentam compreendê-los criando
e o debate de hipóteses des, dezenas e centenas, está caindo em teorias próprias.
FAOZE CHIBLI, PAOLA GENTILE desuso. Essa maneira de ensinar não le- Essa lógica inicial – construída com
e PAULO ARAÚJO paraujo@abril.com.br va em consideração um fato mais do que base em simples observação e na inte-

SISTEMA DE NUMERAÇÃO
ração com os números em situações do
cotidiano – aparece principalmente Como pensam os pequenos
quando a turma é convidada a escrever As pesquisadoras argentinas Delia Lerner e Patricia Sadovsky apontaram
esses números e o faz de maneira não as hipóteses que as crianças constroem sobre o sistema numérico
convencional – o que a princípio pode com base em suas experiências cotidianas. A seguir,
parecer errado. As educadoras argenti- veja quais são essas hipóteses e exemplos do pensamento de alunos
nas Delia Lerner e Patricia Sadovsky, res- de 6 anos, constatados durante a investigação das educadoras
e relatados no capítulo O Sistema de Numeração: um Problema Didático,
ponsáveis pelos estudos mais avançados
do livro Didática da Matemática – Reflexões Psicopedagógicas,
nessa área atualmente, constataram es- organizado por Cecília Parra e Irma Saiz.
sas hipóteses em pesquisas (leia quadro
ao lado) que hoje dão subsídios à ma- O PRIMEIRO MANDA
neira de ensinar as características do nos- Ao comparar números com igual quantidade de algarismos,
so sistema numérico – posicional e de os pequenos se baseiam na posição que estes ocupam para descobrir
base 10. Esse conhecimento é fundamen- qual é maior ou menor. Isso mostra que eles reconhecem os diferentes
tal para o aprendizado de Matemática valores dos algarismos conforme a posição que ocupam.
no decorrer da vida escolar, principal- Por que 21 é
O que tem mais valor
é o que fica na frente. Os dois
mente para a realização de operações maior que 12? têm valor. Sim, os dois têm valor. Você pode
(leia o quadro da pág. 64). olhar o de trás. Porém em primeiro lugar olha o
da frente. Se o primeiro número de uma carta
Os estudos, além de colocar luz sobre é igual ao primeiro de outra carta e o segundo
é mais alto que o outro, aí sim tem
o raciocínio do estudante, foram essen- importância o segundo.
ciais ao apontar um caminho para o diá-
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Têm os mesmos
logo com os pequenos.“Sabendo como números. Só que o dois
está antes (no 21) e aqui
o aluno pensa, temos condições de fa- está atrás (no 12).
zer um planejamento mais elaborado de
boas atividades”, afirma Suzete Borelli,
formadora do Círculo de Leitura e Es-

39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 4
32 33 34 35 36 37 38
QUANTIDADE DE ALGARISMOS
crita e Matemática, da Secretaria Muni- Mesmo sem saber a denominação dos números, as crianças acham que um
cipal de Educação de São Paulo. As in- número é maior porque tem mais algarismos. Algumas vezes, ao comparar
tervenções do professor devem, portan- números com grande diferença no valor absoluto dos algarismos que os
to, contribuir para que a criança avance compõem, como 111 e 99, as crianças se orientam pelo valor absoluto.
cada vez mais no sentido de se apropriar Outro dia uma criança me falou
da notação convencional e para com- que o maior era este (9) porque aqui havia
um 2 e um 1 (21). E o nove é maior
preender como se organiza o sistema de do que o 2 e o 1. Ah, ah, ah! Quantos anos
numeração decimal. Se o conteúdo for tinha essa criança?
bem trabalhado desde o início, as crian- Depois eu conto. Primeiro diga o que
ças poderão surpreender ao reconhecer pensa sobre o que falou a criança.
e escrever cifras que passem do bilhão
Nada a ver. A criança
ou trilhão logo nas primeiras séries do tinha 1 ano!
Ensino Fundamental. Por quê?
Investigar quanto um aluno já sabe Porque o que têm
sobre o sistema de numeração é impor- a ver o 2 e o 1! Se eles
formam um número só.
tante para fazer as intervenções corre- Formam um
tas. “Dessa forma, conseguimos com- número só?
preender o raciocínio daqueles que an-
É sim. Por exemplo,
tes eram vistos como problemas”, afir- 100 são três números e
ma Daniela Padovan, professora do Co- formam um número só.

légio Friburgo e da EE Professora Mari-
na Cintra, ambos em São Paulo.

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Delia Lerner diz que levantar ques- É fundamental garantir momentos nam nos intervalos. É importante notar
tões contextualizadas, que proporcio- de debate para que o processo de apren- que isso é o contrário do que acontece
nem a vivência de conflitos com base nos dizagem traga bons resultados. Nessas com a numeração falada. Ao começar a
quais os alunos possam revisar e ajustar situações, a criança tem a possibilidade produzir números cuja escrita conven-
suas concepções, torna-se fundamental de justificar os registros e de confrontar cional desconhecem, as crianças mistu-
para fazer a Matemática mais compreen- as anotações com as dos colegas.“É pos- ram um e outro, apoiando-se no que já
sível. “Por ser uma ciência abstrata, as sível estabelecer regras sobre um ‘colchão’ dominam – a escrita dos “nós”. Dessa
crianças podem ter dificuldade para com- de relações que as justificam, o que per- forma, ao pedir que escrevam 134, vá-
preender alguns conceitos e procedimen- mite estendê-las a novas situações ou rios registros podem surgir seguindo a
tos usualmente ensinados a elas”, pon- vinculá-las com outras regras. Isso é bem ordenação dos termos na numeração fa-
dera Daniela.“Usar seqüências numéri- diferente de aprender porque ‘alguém lada. Por exemplo:
cas que pertencem a seu contexto social me disse que é assim’”, afirma Suzana
só facilita a aprendizagem.” Wolman, coordenadora da área de Edu-
cação Primária da Secretaria de Educa-
100304
Conhecimento didático
Apesar de as idéias iniciais sobre os nú-
ção de Buenos Aires.
Existem diversas estratégias que po-
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meros serem importantes para inferir dem ser utilizadas para ajudar os alunos O mesmo ocorre com o 6345:
alguns conceitos do sistema de nume- a adquirir a compreensão do sistema de
ração, o aluno só vai fazer a notação
convencional com intervenções bem
numeração. Uma delas é usar a facilida-
de que eles têm em escrever os núme-
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conduzidas por você e enfrentando ros redondos, ou os “nós”, como cha- Uma das maneiras de intervir é valer-

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questões elaboradas com a finalidade mam as pesquisadoras – ou seja, as de- se do entendimento que os pequenos
de desestabilizar a escrita informal re- zenas, as centenas e os milhares –, antes têm de que, quanto mais algarismos,
ferendada pelo grupo. de elaborar a escrita dos que se posicio- maior o número. Ao perceber que am-
bas as anotações de 134 têm mais alga-
rismos do que o 100 e o 200, eles perce-
A base 10 e as operações matemáticas bem que algo está errado com a escrita.
A maneira de escrever os números é determinada por um conjunto de
operações subjacentes (aditivas e multiplicativas), organizada de forma Regularidades
posicional e decimal. Assim as educadoras argentinas Suzana Wolman Com a intervenção do professor, a crian-
e Maria Emilia Quaranta explicam essas relações: ça aprende as várias regularidades do sis-
“Uma escrita numérica ABC significa tema numérico, como a repetição de ter-
A x 100 + B x 10 + C minações: toda vez que um número ter-
mina com 9, o anterior termina com 8,
Por sua vez, os cálculos – mentais ou feitos com algoritmos convencionais
— estão condicionados a regras que dependem da organização dos números. e o posterior, com 0:
Quando uma criança, para somar 27 + 20, faz
10 + 10 + 7 + 10 + 10, ela soma os 10 e em seguida o 7, ela está considerando 8, 9,10
a composição de cada um dos números envolvidos, quais
das partes em que o número foi decomposto são da mesma ordem para 18,19, 20
compô-las entre si (10 + 10 + 10 + 10 = 40) e, finalmente, as de diferente
ordem (40 + 7). Essas transformações sobre os números utilizam as 138,139,140
operações aditivas subjacentes à numeração escrita.
Também as contas convencionais apelam às regras do sistema de 1228,1229,1230
numeração: a formação de colunas ao somar ou subtrair facilita operar entre
si os algarismos que ocupam a mesma posição na escrita numérica. Assim A turma vai perceber ainda que há
como os reagrupamentos (“vai um”) permitem somar entre si os algarismos de sempre dez números começando com
mesma ordem; ou as decomposições (“pedir emprestado”) apelam a escritas um mesmo algarismo repetido. Essa
equivalentes que facilitam a subtração a realizar (ao subtrair 32 – 17, a conta compreensão será importante mais tar-
convencional termina subtraindo (20 + 12) – (10 + 7))”. de, quando o estudante aprender mul-
tiplicação e constatar, por exemplo, que

49 50 51 52 53 54 55 56 57 58
59 60 61 62 63 64 65

SISTEMA DE NUMERAÇÃO
no número 100 existem dez dezenas.
A familiarização das crianças com o Muitas maneiras de organizar os números
sistema de numeração também deve ser O sistema usado por nós é posicional: o valor de cada símbolo depende
estimulada na forma dos diferentes por- do lugar que ele ocupa na escrita. Isso o torna mais econômico, já que
tadores numéricos que existem no coti- com poucas notações é possível escrever qualquer número. Os sistemas
diano, como calendários, fitas métricas, aditivos e subtrativos são mais perdulários. Veja o romano, em que os
tabelas de álbuns de figurinhas e outros algarismos são representados por letras:
materiais que permitam reconhecer a
regularidade desse sistema. O que fun-
ciona muito bem é fixar um quadro nu-
I V X L C D M
um cinco dez cinqüenta cem quinhentos mil
mérico na sala de aula (leia a atividade
Tabela Numérica na pág. 66), objeto que
pode fazer parte do contexto escolar da
1223, por exemplo, fica assim:
MCCXXIII
criança. As atividades devem ser plane- (Qualquer semelhança com a escrita da criança — 1000200203 — talvez não
jadas com o intuito de propor situações seja mera coincidência, pois é uma maneira de organização numérica lógica!)
problema envolvendo leitura e escrita O sistema egípcio, mais antigo, guardava certa semelhança, mas usava
hieróglifos para representar potências de10:
numérica. Os alunos precisam ser esti-
mulados a solucionar conflitos decor-
rentes desse exercício.
Qualquer atividade feita com a tur-
ma precisa prever a discussão no fim. um dez cem mil dez mil cem mil um milhão ou infinito
RECORTE E COLECIONE

Nessa ocasião, além de explicitar as idéias,


a criança precisa de uma chance para co- Os valores eram expressos pela
repetição dos símbolos. Como ficaria
locá-las em prática junto ao grupo. Es-
então o mesmo 1223? (Os números
se é um dos momentos de maior pre- egípcios podiam ser escritos
sença do professor: cabe a você relacio- da direita para a esquerda e da
nar as hipóteses apresentadas pelos alu- esquerda para a direita, ou na vertical).
no de maneira a explicitar conflitos. Ou 1223, então, fica assim:
seja, é essencial problematizar a situa-
ção e ajudar a analisar e validar as teses Outra característica do nosso sistema é ser organizado
em base10 – cuja origem deve estar provavelmente nas
mais eficientes que forem apresentadas.
contagens que os homens primitivos faziam com os dedos.
Essas etapas podem ser observadas nos Mas também existem sistemas em base12 ou em 20.
relatos de atividades de duas professo-
ras, uma de São Paulo e outra de Salva- A escolha da base duodecimal
dor, entre as págs. 70 e 72. por alguns povos tem suas
justificativas na natureza. Pode
ter sido inspirada no número
QUER
SABER +?
BIBLIOGRAFIA
aproximado de voltas que a Lua
dá em torno da Terra durante a translação do planeta em torno do Sol, na
 Didática da Matemática – Reflexões soma das falanges dos dedos de uma mão, sem contar o polegar, ou na soma
Psicopedagógicas, Cecilia Parra e Irma Saiz de todos os dedos das mãos mais dois pés. Esse sistema serviu para definir
(orgs.), 258 págs., Ed. Artmed, a divisão do dia em horas (12 para o dia e 12 para a noite), grandezas como
tel. 0800-703-3444, 42 reais
 Ensinar Matemática na Educação dúzia e medidas como o pé (12 polegadas).
Infantil e nas Séries Iniciais – Análises
e Propostas, Mabel Panizza e colaboradores, Menos conhecido por nós é o
188 págs., Ed. Artmed, 40 reais
sistema vigesimal (base 20), que
EXCLUSIVO deve ter origem parecida com
ON-LINE o de base 10 (nesse caso, somam-se
Leia a íntegra da entrevista de Suzana Wollman os dedos dos pés e das mãos).
e Maria Emilia Quaranta, confira os vídeos ➀ Ele está presente na forma como
de atividades feitos no Programa de Formação
➀ CÉLLUS

em Matemática e brinque com jogos os franceses denominam os números: para 80, eles dizem quatre vingt
numéricos em www.novaescola.org.br (quatro vinte), para 90, quatre vingt dix (quatro vinte dez).

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