Professional Documents
Culture Documents
Trabalho de Antropologia I
Texto de sistematização
2016
O pensamento antropológico evolucionista
Podemos considerar, de acordo com Celso Castro, que 3 são os pais fundadores da
antropologia: Lewis Henry Morgan, Edward Burnett Tylor e James George Frazer.
Eles deram início a uma corrente de pensamento considerado "antropologia
evolucionista", apesar de o próprio Celso Castro afirmar que a obra desses autores não
deve ser reduzida ao termo "evolucionista".
Apesar das diferenças e das mudanças que ocorreram na produção acadêmica dos
autores, é possível afirmar que suas ideias eram convergentes. É possível perceber
que existe uma maneira de ver a as diferentes sociedades em uma linha evolutiva, das
menos desenvolvidas numa linha de tempo que chega até a nossa sociedade atual.
Celso Castro tenta desmistificar a noção de associação deste pensamento com a teoria
da evolução de Charles Darwin. Existia uma ideia de evolução, cuja imagem mais
comum seria a de uma "escada" cujos degraus estão dispostos numa hierarquia linear.
A antropologia evolucionista baseava-se em um raciocínio fundamental: a
sociedade humana teria se desenvolvido em estágios sucessivos e obrigatórios, numa
trajetória basicamente unilinear e ascendente. Todas as sociedades passariam pelos
mesmos estágios, do mais simples ao mais complexo.
Esta forma de pensar levantou alguns problemas e críticas, primeiro por pensar a
sociedade como "raças humanas", que, com origens diferentes, colocava que havia
uma desigualdade natural e uma hierarquia entre elas.
Tylor numa passagem de seu texto, é especialmente claro ao afirmar ser "tanto possível quanto
desejável eliminar considerações de variedades hereditárias, ou raças humanas, e tratar a
humanidade como homogênea em natureza, embora situada em diferentes graus de civilização".
No entanto, mesmo proclamando uma origem única para todas as raças (monogenismo), por
vezes esses e outros autores se contradizem ao tratar das raças humanas. Estas eram geralmente
consideradas (não só por eles, como pelo público culto em geral) como desiguais, senão em
gênero, ao menos em grau. (CASTRO)
2
humanidade. Um selvagem está para um homem civilizado assim como uma criança
está para um adulto. O procedimento era realizado pelo método comparativo: a
sociedade era dissecada em detalhes e em seguida classificada em seus grupos
apropriados. Autores criticavam que esse era um método equivocado, que aproximava
o antropólogo evolucionista a um colecionador de borboletas que classificava seus
espécimes em formatos e cores, sem entender-lhes a morfologia e a fisiologia.
Os pressupostos evolucionistas começaram a ser criticados nas duas primeiras
décadas do século XX por antropólogos que preferiam explicar a questão da
diversidade cultural humana através da ideia de difusão, e não da de evolução. Em seu
artigo "As limitações do método comparativo da antropologia", de 1896, Boas
também fez críticas incisivas ao método evolucionista. Para ele, antes de supor sem
provas cabais, como faziam os evolucionistas, que fenômenos aparentemente
semelhantes pudessem ser atribuídos as mesmas causas, era preciso perguntar, para
cada caso, se eles não teriam desenvolvido independentemente, ou se não teriam sido
transmitidos por difusão de um povo a outro. Ao contrário dos autores evolucionistas,
que usavam as palavras cultura e sociedade humana no singular, Boas passou a usar
cultura no plural. O objetivo da antropologia, nessa perpectiva, passa a ser não a
reconstituição do grande caminho da evolução cultural humana, mas sim a
compreensão de culturas particulares, em suas especificidades. "Quando procuramos
caracterizar as raças biológicas mediante propriedades psicológicas particulares,
afastamo-nos da verdade científica, quer a definamos de uma maneira positiva quer de
uma maneira negativa"(LÉVI-STRAUSS, 2222, p.1)
Outro aspecto criticado no pensamento evolucionista é sobre a confusão entre a
noção puramente biológica da raça e as produções sociológicas e psicológicas das
culturas humanas. Se a história mostrou sociedades mais evoluídas em determinados
aspectos do que outras, isto está relacionado a circunstâncias geográficas, históricas e
sociológicas, e não com aptidões distintas ligadas à constituições anatômicas ou
fisiológicas. A antropologia evolucionista relegou para segundo plano um aspecto
igualmente importante da vida da humanidade: a diversidade intelectual, estética,
sociológica não está ligada por nenhuma relação de causa e efeito à aquela que existe
no plano biológico. Levi-Strauss observa ainda que a quantidade de culturas é muito
maior que a quantidade de raças humanas. A diversidade de culturas não deve ser
observada de forma estática, os homens elaboram culturas em virtude do afastamento
geográfica e das condições do grupo em relação ao resto da humanidade.
3
Lévi-Strauss também afirma que a forma linear de ver a evolução social encontra
contestação ao afirmar que estudos mostram, por exemplo, que fases consideradas
distintas, como o período da pedra lascada (paleolítico) era dividido em três
momentos (paleolítico inferior, médio e superior), três etapas de evolução, que hoje é
adimitido que elas coexistiram. O autor também critica a forma etnocêntrica da
análise pelo observador, que pode avaliar as outras sociedades tendo a dele como
parâmetro de comparação, ou até mesmo de julgar valores como sendo interessantes
ou não, de acordo com a sua própria visão, qualificando determinada sociedade como
estacionária.
No Brasil, este pensamento chegou por meio da obra literária de Silvio Romero e
pela criação da etnologia afro-brasileira por Nina Rodrigues em um momento que se
discutia a abolição ou não dos escravos e debates sobre o papel do negro na
sociedade. Romero investigou a contribuição dos povos e raças à formação do
folclore e da literatura nacionais, destacando o influxo dos africanos e mestiços. Nina
Rodrigues iniciou a etnologia afro-brasileira, ao se voltar para os fenômenos de
sincretismo religioso e cultural. A teoria das desigualdades raciais se difundiu no
Brasil, junto com os ideários naturalistas, cientificistas, positivistas e evolucionistas,
nas três últimas décadas do século XIX. A afirmação da existência de etnias inferiores
justificava a formação de um novo imperialismo, o que foi percebido por Araripe
Junior e Manoel Bomfim, tornando-se objeto de polêmica com Sílvio Romero, que
defendia o caráter científico das ideias racistas.
A polêmica entre José de Alencar e Joaquim Nabuco, retratada por Roberto
Ventura, mostra uma mudança de padrão cultural ocorrida por volta de 1870 no
Brasil, com a inserção do negro e do escravo como objetos do discurso literário e
cultural. Joaquim Nabuco pregava a extinção do negro da sociedade brasileira pois
considerava provindo de uma etnia tida como "inferior" que limitaria e
comprometeria o país. "Nas Cartas de Erasmo (1865), Alencar julgou a escravidão um
"fato social necessário", que só poderia ser abolido com a evolução da sociedade
brasileira, pois a emancipação prematura traria ameaças à agricultura e à estabilidade
política do Império" (VENTURA, 2222, p.45)
Ainda assim, Romero propõe uma teoria etnográfica hierarquizada, onde o negro é
apresentado como superior ao indígena e o branco o mais evoluído do que ambos.
considerava ainda uma divisão entre os povos brancos: enquanto os germanos,
eslavos e outros grupos caminhavam para o progresso, celtas e latinos mostravam
4
sinais de decadência. Afirmava assim que os colonizadores trouxeram males crônicos
de suas raças para o Brasil, desprovidos do impulso inventivo dos germanos e saxões.
A sociedade brasileira seria uma mistura de raças inferiores, formada pela mistura do
servilismo negro, preguiça do índio e o gênio autoritário e tacanho do português,
produzindo assim uma sociedade incapaz de criar algo original, sendo fadada a copiar
a produção intelectual européia. Considerava que o elemento branco seria o vitorioso
na miscigenação das raças, por sua superioridade evolutiva.
Nina Rodrigues em sua etnologia afro-brasileira afirmava que havia evidência
científica que afirmava a inferioridade do negro, mesmo defendendo a abolição.
Como defendia a diferença de evolução entre as raças, propunha que a legislação
penal brasileira seja dividida de acordo com as condições raciais e climáticas de cada
região do Brasil. Por serem inferiores, o negro, o mestiço e o índio teriam
responsabilidade penal atenuadas ou nulas, assim como as crianças ou os loucos.
Seria difícil "domesticar" o indio e o negro, transformá-los em homens civilizados
pela sua inferioridade evolutiva.
Nas décadas de 1920 e 1930, sob a influência dos trabalhos de Franz Boas, há uma
valorização da mestiçagem, expressa em obras de Gilberto Freyre ou em romances de
Jorge Amado, como Gabriela, cravo e canela, Tenda dos milagres, Tereza Batista
cansada de guerra e Tieta do Agreste.
5
uma imagem de uma sociedade ideal moralmente. Além disso, a forma de
organização destas sociedades era por matrimônio de parentesco.
"Dizer que os conceitos exprimem a maneira pela qual a sociedade representa para si
as coisas, significa também que o pensamento conceitual é contemporâneo da
humanidade. Recusamo-nos pois a ver nele o produto de uma cultura mais ou menos
tardia. Um homem que não pensasse por conceitos não seria um homem; pois não
seria um ser social. Reduzido apenas aos preceitos individuais, seria indistinto do
animal." (DURKHEIM, 2222, p.178)
6
A análise das “categorias do entendimento”, enquanto categorias verbais permitem a
compreensão do modo pelo qual o grupo em questão compreende, e,
conseqüentemente, representa o mundo, às maneiras de pensar que estão associadas às
práticas sociais. Entre os fenômenos que nos permitem acessar as “representações
sociais” das diferentes sociedades, Durkheim destaca os ritos e os símbolos. Em sua
análise as condutas sociais não se dirigem para as coisas em si mesmas, mas para seus
símbolos. Quanto aos ritos, ele os classifica em três tipos:
7
Quanto à noção de causalidade, ela também provém da vida coletiva a partir da idéia
de força. É a imagem e a experiência social da coletividade de homens que produz a
noção de “força” superior à força dos indivíduos considerados isoladamente. A
origem da noção de causalidade é a força coletiva criada pela comunhão dos homens
entre si, em situação de trabalho ou de festa. As situações de trabalho ou de festa são
particularmente importantes como geradoras da “efervescência social”: troca intensa
que se estabelece entre os homens reunidos em torno de idéias e crenças em comum.
A ciência, por exemplo, diz ele, tem autoridade sobre nós porque a sociedade assim o
quer. Se hoje basta mencioná-la para obtermos crédito, é porque temos fé na ciência.
Quanto à verdade, ela é construída socialmente, como todo e qualquer valor. Desse
modo, não basta que algo seja verdadeiro para ser aceito como tal, é preciso, nos diz
Durkheim, que se harmonize com o conjunto das representações coletivas vigentes, as
arraigadas ou as que estão em ascensão, caso contrário, é como se não existisse. Tudo
na vida social repousa sobre a “opinião”, diz ele, assim, para que haja conformidade
de condutas é necessário haver “conformismo lógico”: uma certa homogeneidade de
entendimento, daí o importante trabalho das “categorias do entendimento” na vida
social.
Durkheim não opõe, em sua análise, as crenças e a lógica, como era próprio aos
intelectuais desde o Iluminismo. Com isso, ele permitiu que se percebesse a lógica
8
própria a cada crença em particular, além de localizar a crença como base das
categorias do entendimento de diferentes grupos sociais, independente das suas
características tecnológicas. Ao fazer isto, Durkheim rompe com a perspectiva
evolucionista e, ao mesmo tempo, coloca os fundamentos do social e do humano
como sendo de natureza essencialmente simbólica, e o simbólico como tendo origem
social, portanto, cultural e histórica.
Durkheim é racionalista ainda, porque, contra o empirismo, ele acredita que o mundo
tem um aspecto lógico, que se expressa pelo poder do intelecto de ir além da
experiência imediata. Acredita que os conhecimentos racionais, lógicos, não se
reduzem aos dados empíricos, aqueles que a ação direta dos objetos suscita em nossos
espíritos. A sensação empírica é um estado individual explicável pelo psiquismo do
indivíduo, diz respeito às representações individuais, ou seja, à construção pessoal
que o indivíduo elaborou a partir de seu meio social. A ele interessa, particularmente,
as representações coletivas: aquelas aceitas, preservadas e reproduzidas pelos grupos
que, através delas, se expressam.
9
ultrapassa o alcance dos conhecimentos empíricos e se impõe definindo e orientando
representações e guiando as condutas, sendo, portanto, motivadora de ações.
10
ordem da heterogeneidade (exclusão, demarcação de diferenças, oposições). O
segundo postulado, indica que a pesquisa sociológica deve localizar a parte do social
na construção do pensamento, porque essa participação não é evidente por si mesma,
uma vez que os processos de “naturalização” do social obscurecem a origem coletiva
dos mesmos, criando o efeito de tornar natural, sempre posto e imutável, aquilo que é
social e, portanto, histórico.
Do mesmo modo que o falante de uma língua materna não se dá conta que a sua
linguagem é fruto de seu grupo social, tendendo a considerá-la “natural”, o
participante de uma cultura não vê o modo pelo qual a sociedade configura o seu
pensamento e sua conduta. Cabe ao sociólogo buscar os significados profundos,
inconscientes da cultura. (A Escola Francesa não distingue a Sociologia da
Antropologia)
Referências Bibliográficas
11