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1.Introdução.....................................................................................................................................4
2.Desenvolvimento..........................................................................................................................5
3.Metodologia................................................................................................................................. 5
4.Limitações da Pesquisa.................................................................................................................5
5.1.2Análise de Impactos.................................................................................................................7
5.3.1Análise de Impactos...............................................................................................................10
1
5.3.4.Recomendações direccionadas ao Estado.............................................................................10
5.4.1.Análise de Impactos..............................................................................................................11
5.5.1Análise de Impactos...............................................................................................................13
5.6.1.Análise de Impactos..............................................................................................................14
5.7.1Análise de Impactos...............................................................................................................16
2
5.7.3.Recomendações direccionadas às PME................................................................................16
5.8.1.Análise de Impactos..............................................................................................................17
10.Conclusão..................................................................................................................................29
11.Referencial Teòrico...................................................................................................................31
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1.Introdução
As Pequenas e Médias Empresas (PME) são a base estruturante não só do tecido empresarial
Moçambicano como também a pedra basilar da economia nacional. Os últimos anos têm sido
caracterizados como anos de enormes dificuldades para a economia nacional.
Uma das maiores dificuldades que estas empresas têm verificado é a degradação da
acessibilidade ao financiamento bancário, sendo esta frequentemente uma das principais fontes
de financiamento, em muitos casos quase a única, as restrições ao nível do mercado de crédito
bancário vieram agudizar ainda mais a crise sentida por estas PME, com muitas empresas a
verem a sua atividade operacional afetada negativamente em consequência da falta de
financiamento.
As PME (ou Micro, Pequenas e Médias Empresas) constituem um bloco empresarial muito
importante para a economia do país sendo que 98,6% do mercado é constituído por este tipo de
empresas, de acordo com o Censo de Empresas ou CEMPRE 2004. Assim, o crescimento
económico do país, a criação de emprego e a redução da pobreza estão altamente dependentes do
sucesso das PME. Foi notado que as pequenas e médias empresas, apesar da sua dimensão e do
seu volume de negócios reduzido, absorvem mais força de trabalho nacional do que as grandes
empresas, devido à fraca automatização de processos produtivos (de acordo com o afirmado pelo
Ministério da Indústria e Comércio, em 2007). Devido ao facto de estas estarem dispersas pelo
país, mesmo em locais rurais, oferecem oportunidades de trabalho não centradas na capital do
país e em zonas
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Os resultados permitem retirar conclusões claras sobre a influência de vários aspetos – como a
dimensão, idade, endividamento, localização, independência e estrutura do ativo – sobre a
disponibilidade de crédito limitada dos bancos para o financiamento às PME`S.
2.Desenvolvimento
Quase todo Empreendedor e/ou Pequena e Média Empresa (PME) tem no financiamento
bancário ou não, público ou privado, uma solução para uma necessidade por certo, importante
para a melhoria da sua competitividade. Esse mesmo empreendedor e/ou PME vezes sem conta,
vê-se confrontado com questões de acesso ao financiamento (algumas vezes, o custo do dinheiro,
outras vezes, os procedimentos exigidos, não raras vezes, a sua fraca estrutura empresarial ou,
até mesmo, a ausência de alternativas aos esquemas normais) o que também o leva a concluir
que obter financimento “não é para si! é procurar problemas! não o vai ajudar!não está
preparado! não tem certeza ou desconhece o produto adequado! etc.”
3.Metodologia
O estudo foi baseado numa ronda de entrevistas presenciais e não presenciais (por telefone) a 5
empresas participantes, entre os dias 5 a 19 de Março de 2017, com o intuito de entender a
realidade destas empresas, perceber os seus desafios e retirar pontos de aprendizagem que
possam ser partilhados com outras entidades. As conclusões apresentadas no presente
documento têm por base a informação recolhida junto das empresas a par de uma análise interna
da Baker Tilly Moçambique.
4.Limitações da Pesquisa
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4.1.Aspectos que dificultaram o acesso à informação junto das empresas:
5.Obstáculos e Recomendações
Descrição
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representa uma força laboral pouco competente e custos acrescidos de formação geral e técnica.
Já estão em acção esforços para melhorar esta situação, contemplados na Estratégia II de
Alfabetização e Educação de Adultos (AEA) para 2010-2015 do Ministério da Educação, que
visa reduzir a taxa de alfabetização para 30% até 2015 e proporcionar oportunidades de
desenvolvimento pessoal e profissional aos cidadãos moçambicanos. O sector do turismo tem um
conjunto de iniciativas que exemplifica o tipo de acções tomadas por parte do Estado para
colmatar o problema, como os acordos entre empresas e Direcções Provinciais de Turismo para a
formação e capacitação de trabalhadores, entre outros.
5.1.2Análise de Impactos
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Divulgar às PME os planos de formações de diversas instituições para os períodos
próximos, incindindo nas áreas de maior interesse para as empresas, tendo em conta o
sector de actividade, localização e as necessidades sentidas;
Desenvolver um programa nacional de estágios profissionais e pré-profissionais para
PME, através de parcerias entre instituições de ensino e o IPEME. De realçar os
benefícios fiscais que as empresas gozam por lei, por receberem estudantes finalistas em
regime de estágio pré-profissional;
Criar um pacote de intercâmbios provinciais para estagiários, como meio de promover a
descentralização de conhecimento, em especial, de Maputo para as províncias.
Descrição
Foi notado que todas as empresas participantes do estudo realizam um relatório de fecho de
contas no final do período (anual para empresas no regime normal de IRPC e trimestral para
empresas no regime simplificado ISPC). Contudo, a qualidade da informação que consta nestes
relatórios não foi avaliada. É extremamente importante que as empresas tenham a contabilidade
organizada, reportem dados verídicos e tomem iniciativas de gestão financeira na empresa.
A gestão financeira é fortemente preponderante visto que pode resultar em maior informação
credível que poderá ser usada como base para a tomada de decisões estratégicas pelo gestor,
reduzindo a margem de erro e contribuindo para uma gestão mais eficiente da empresa. Nisto, é
necessário formalizar o processo de transacções financeiras, conhecer a origem de cada fluxo, ter
a capacidade de avaliar em que períodos existe uma escassez ou uma abundância de fundos- o
que dependerá da estratégia traçada e influenciará a procura por financiamento externo - e ser
capaz de tomar decisões que apontem para o crescimento da empresa.
5.2.1.Análise de Impactos
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A falta de capacidade de gestão financeira foi evidenciada na generalidade de empresas
entrevistadas, nas três zonas do país e em todos os sectores de actividade representados na
amostra.
Descrição
Algumas empresas identificam a falta de fundos como entrave para crescerem e expandirem as
suas actividades, resultando numa fraca capacidade de investimento (em capital fixo, I&D,
inovação) e um modelo de funcionamento centrado no curto prazo. Esta realidade resulta de uma
estrutura de financiamento rígida, altamente dependente do reinvestimento de lucros e de uma
percepção generalizada, negativa, por parte das empresas, sobre as condições de acesso ao
crédito. No mercado é notório que estão a ser tomadas medidas neste âmbito, nomeadamente,
pelas instituições financeiras privadas que estão a apostar em ofertas específicas para PME e
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fundos estatais e externos para promoção do desenvolvimento económico – seja através de
fundos específicos para certos sectores de actividade ou fundos mais generalistas. Do lado do
sector privado, as principais dificuldades no acesso ao financiamento são as elevadas taxas de
juro e a exigência de garantias reais. É também possível concluir que as empresas não só têm
pouco conhecimento sobre as oportunidades de financiamento disponíveis no mercado, como
têm dificuldade em identificar as melhores opções para o seu negócio.
5.3.1Análise de Impactos
O impacto deste obstáculo é mais notado no norte do país, onde há maior concentração de micro
e pequenas empresas, e no sector do comércio, onde a actividade de aprovisionamento é feita
somente após efectivação de encomendas.
Ajustar os financiamentos para que se tornem mais generalistas, com aplicação em toda
a cadeia de valor, em detrimento de financiamentos específicos para apenas uma área;
Promover acordos para constituição de fundos de co-garantia;
Promover a captação de fundos externos com condições mais acessíveis às PME (taxas
de juro inferiores, facilitação em termos de colaterais).
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Promover protocolos com institutos de micro-finanças (que apresentem bons indicadores
de concessão e pagamento de crédito) como meio de chegar às PME em zonas mais
rurais;
Desenvolver workshops de simulação de acesso a financiamento e criar linhas de apoio
para esclarecimento das melhores opções no mercado.
Descrição
5.4.1.Análise de Impactos
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5.4.3.Recomendações direccionadas às PME:
Planear a longo prazo, definir objectivos e metas de modo a obter benefícios que advêm
de uma abordagem estruturada ao mercado;
Separar entre relação familiar e gestão profissional da empresa.
Descrição
A percentagem de empresas que estabelece comércio com o exterior é relativamente baixo. Este
facto pode ser explicado pela dimensão/capacidade produtiva actual das empresas e pelas
barreiras impostas ao comércio com o exterior. Estima-se que para exportar, demora-se cerca de
21 dias (contra os 10.5 da OECD), são necessários 7 documentos (contra 4 da OECD) e há um
custo associado de aproximadamente 31,000 meticais por contentor. (Doing Business Report,
2015) Para importar, demora-se cerca de 25 dias (contra 9.6 da OECD), são necessários 9
12
documentos (contra 4 da OECD) e há um custo associado de aproximadamente 48,000 meticais
por contentor. (Doing Business Report, 2015)
5.5.1Análise de Impactos
Obstáculo com mais impacto nas zonas sul e centro devido à maior concentração de médias
empresas nestas áreas e existência de pequenas empresas no norte que apresentam comércio com
o exterior limitado e maioritariamente na vertente importação.
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Consciencializar agentes económicos sobre o papel da exportação no desenvolvimento
económico do país;
Divulgar sobre iniciativas já desenvolvidas para a melhoria do comércio com o exterior;
Esclarecer sobre procedimentos a seguir aquando da importação e exportação;
Criar linhas de apoio às PME para encaminhamento de questões;
Criar linha directa de denúncia de situações críticas; Sensibilizar junto do governo
para redução de taxas para a importação/exportação.
Descrição
5.6.1.Análise de Impactos
Impacto mais sentido na zona norte do país devido ao pior estado de conservação das vias e
infra-estruturas com menor nível de sofisticação. Os sectores de actividade mais afectados são o
comércio, a indústria, e a prestação de serviços.
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5.6.3.Recomendações direccionadas às PME:
Instalar métodos alternativos para dar resposta às lacunas sentidas, em especial, no que
diz respeito à higiene e à saúde pública.
Divulgar soluções simples que empresários nas zonas mais afectadas podem adoptar,
sem grandes custos acrescidos;
Apoiar no desenvolvimento de soluções alternativas que dêem resposta aos problemas
sentidos ao nível das infra-estruturas de transporte, electricidade e água.
Descrição
Os níveis de ineficiência nos processos do Estado, a baixa confiança nos políticos e os elevados
níveis de corrupção, inserem-se na lista de obstáculos mencionados pelas PME. As empresas
afirmam que os processos públicos são muito complicados e envolvem mais do que uma
instituição, o que se traduz na perda de mais do que um dia de trabalho para tratamento de algum
documento necessário. Outro ponto é o nível de corrupção sentido na relação com os
trabalhadores públicos e o elevado tempo de resposta acerca de algum processo pendente. O
impacto destes obstáculos é mais sentido em empresas jovens e com menor volume de negócios,
o que pode constituir uma barreira à entrada de novas empresas no mercado. Actualmente estão
já em curso iniciativas para redução dos níveis de corrupção em instituições públicas.
5.7.1Análise de Impactos
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Obstáculo com menor impacto na zona norte do país devido ao tamanho reduzido do meio
empresarial e elevado nível de convivência entre cidadãos, o que reduz o nível de corrupção. Os
sectores que sentem esta lacuna com maior intensidade são a prestação de serviços, comércio,
agricultura, construção e serviços associados e indústria.
Reforçar ética profissional na empresa e procurar outros mecanismos por forma a não
recorrer à corrupção como forma de acelerar processos;
Descrição
Muitas empresas manifestaram vontade e interesse em desenvolver uma relação mais próxima
com as instituições pública de apoio empresarial. As empresas demonstram vontade em
desenvolver uma relação activa e mais próxima com o Estado que proporcione, por um lado, a
partilha de informação interna para auxiliar na estruturação de medidas mais adequadas às suas
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necessidades como, por outro, poderem beneficiarem em maior medida das iniciativas já
existentes, criando assim win-win situations. O objectivo principal desta interacção não é para
motivar uma maior concessão de apoios monetários entre o sector público e o sector privado,
mas sim fazer sentir aos empresários, investidores nacionais e internacionais que o Estado
acredita no potencial das PME moçambicanas e toma uma posição presente no seu
desenvolvimento. Diversas iniciativas estão a ser desenvolvidas neste âmbito, nomeadamente
pelo IPEME, que deverão ser continuadas, promovidas e continuadas, garantindo assim um
impacto crescente junto das organizações. Estas instituições poderão também ter um papel
importante em estreitar as relações entre PME e grandes empresas.
5.8.1.Análise de Impactos
Impacto mais sentido nas zonas norte e centro devido ao direccionamento da maior parte de
iniciativas de apoio às PME à zona sul do país, capitais provinciais e zonas de fácil acesso. As
actividades financeiras e seguros, a indústria e a prestação de serviços são os sectores mais
afectados por esta lacuna.
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Promover e divulgar mais fortemente as iniciativas de instituições públicas de apoio às
PME, utilizando diversos canais de comunicação (rádio é bastante utilizado pelas PME);
Desenvolver eventos de networking entre empresas (PME e grandes empresas) e o
sector público onde seja possível partilhar experiências, preocupações e factores de
sucesso, promovendo também as redes de contactos;
Criar uma rede de agentes que se dirija regularmente a empresas seleccionadas, de forma
a acompanhar o seu desenvolvimento;
Criar uma newsletter para partilha de informações pertinentes (acções de formação,
novos apoios, prazos de candidaturas, entre outros) às PME.
As PME são vistas como um segmento de vital importância para a sustentabilidade económica e
para recuperação do emprego devido à sua natureza eminentemente intensiva em capital
humano, assumindo, a nível Nacional, dois terços do emprego no sector privado. O facto de,
aliado a isto, as PME serem predominantemente não exportadoras, faz com que estejam mais
expostas às crises económico-financeiras e à deterioração das condições de financiamento.
Ao nível da literatura económica desenvolvida nesta área, nos últimos anos, é possível apurar
uma clara evidência para o facto das PME enfrentarem restrições no seu processo de crescimento
resultado do acesso mais dificultado ao financiamento externo, situação que pode de certa forma
explicar a fraca contribuição que as mesmas têm dado para a economia em geral, quando
comparadas com a sua representatividade. Para alguns autores, os esforços de apoio às PME são
baseados em duas premissas: que as PME são o motor do crescimento económico e que falhas de
mercado têm de levar a intervenção estatal no sentido de facilitar o acesso das empresas de
menor dimensão ao crédito.
Para o desenvolvimento da sua atividade, são postas todos os dias às empresas necessidades de
escolhas ao nível da gestão de forma a afetar os recursos disponíveis à sua atividade. Para a
aquisição do ativo, as empresas têm de definir uma alocação cuidada e eficiente não só dos seus
capitais próprios, como também dos capitais alheios onde cabem os financiamentos bancários. É
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responsabilidade da gestão financeira a regulação das necessidades de recursos financeiros que
são fundamentais à atividade da empresa, assim como otimizar os custos que essa mesma
empresa terá com a sua utilização, não só no curto, como também no longo prazo.
O financiamento bancário é essencial para a gestão financeira das PME e, por conseguinte, é
indispensável para a estabilidade e crescimento das empresas. Em Moçambique, segundo, num
inquérito realizado junto de 899 empresas Moambicanas, afirma que o crédito bancário é a
principal fonte de financiamento das PME, representando para 70% a 72% das inquiridas a
principal fonte de financiamento, sendo esta importância ligeiramente superior para as empresas
exportadoras, sendo evidente pela análise gráfica que o financiamento bancário, em média,
compreendeu ao longo dos anos entre 35% a 45% do financiamento do Ativo, com os Capitais
Próprios a arrecadarem o segundo lugar, quase sempre com menos de 30%, barreira esta
ultrapassada no ano de 2014, com este tipo de financiamento a ganhar cada vez mais importância
no volume total do financiamento do Ativo, tendência esta que se manteve no primeiro trimestre
de 2015.
Ainda assim, as empresas tendem a socorrer-se de fundos internos de forma a financiar o seu
crescimento, no entanto, o impacto deste tipo de financiamento tende a dissipar-se com a
possibilidade da empresa se financiar junto da banca, por isso, à medida que os constrangimentos
de acesso ao crédito bancário se vão dissipando, usa-se menos os fundos internos e aparece o
financiamento externo\bancário como principal canal de financiamento para o crescimento,
sendo este impacto mais relevante nas PME. Verifica-se, assim, um efeito real da estrutura
financeira no crescimento por via do canal de financiamento externo cujo constrangimento
estrangula também o crescimento. Desta forma, a performance financeira tem um efeito
estatisticamente significativo sobre o crescimento, porém, a amplitude do impacto depende do
financiamento externo.
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disponibilidades financeiras quando as condições de financiamento são dificultadas e o crédito
menos disponível em alturas de crise económico-financeira.
O poder político tem cada vez mais nas suas mãos a capacidade de influenciar o acesso ao
financiamento por parte das PME. Tal intervenção não é necessariamente direta sobre o processo
de atribuição de crédito. Hernandez-Canovas e Koëter-Kant (2011) defendem que as políticas
devem centrar-se mais sobre o ambiente legal e institucional.
Pois, desta forma, conseguirão induzir um impacto positivo sobre a maturidade e acesso ao
financiamento por parte das PME. As políticas de proteção dos credores levam a uma maior
disponibilidade para o financiamento por parte dos bancos, pois estes interpretam a capacidade
de exercer os seus direitos como sendo mais efetiva. Com estas medidas, os legisladores poderão
exercer um impacto direto sobre a capacidade das PME acederem de forma mais fácil ao crédito,
melhorando a moldura legal de defesa dos direitos dos credores.
No que concerne à intervenção das autoridades para a redução das taxas de juro, não há consenso
sobre se estes deveriam ou não intervir nos mercados, isto porque antes da crise estas estavam já
num ponto consideravelmente baixo o que fazia também com que as empresas se encontrassem
excessivamente endividadas.
Uma outra via defendida por alguns estudos para a promoção de uma maior disponibilidade de
crédito às empresas é o aumento da concorrência no sector bancário. Defende-se que os
reguladores devem promover a competição no sector bancário através de várias medidas como a
redução das barreiras à entrada, a sincronização da informação e registos de crédito a nível
internacional, uma legislação de recuperação de crédito eficaz, a par da criação de agências
nacionais de promoção do investimento. Além destas medidas, o apoio pode se estender para
fora do sistema bancário direto com a promoção de um mercado de obrigações a retalho,
incentivos fiscais para empresas que constituam fundos próprios para o investimento, bancos de
investimento estatais, promoção do “crowdfunding” e dos capitais de risco são naturalmente
importantes.
Ainda que a tendência da literatura aponte para um forte racionamento de crédito às empresas
nos últimos anos, não é uma visão partilhada de forma absoluta.
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Apesar do decréscimo do financiamento bancário e da reconhecida incapacidade das PME
atingirem os requisitos exigidos pelos bancos, alguns autores como Kremp e Sevestre (2013)
afirmam que, apesar de maiores cautelas na concessão de financiamento às empresas,
principalmente com a adoção por parte dos bancos de critérios mais rígidos, não encontraram
evidência estatística de um racionamento de crédito. A diminuição do financiamento bancário
deve-se, para estes autores, especialmente à redução da procura pelo decréscimo da atividade e
dos projetos de investimento em consequência da deterioração do ambiente macroeconómico.
A presente crise económica começou como crise financeira que, em finais do ano de 2008,
culminou numa impetuosa queda de confiança nos negócios e comércio internacional. Em
apenas três meses o comércio mundial colapsou com uma velocidade sem precedentes desde a
Segunda Guerra Mundial. A produção seguiu esta tendência e entrou em recessão e as
exportações tiveram uma queda de 2 dígitos. Um dos efeitos foi a forte redução do valor dos
ativos tanto das empresas como dos particulares, o que resultou numa menor propensão a
investir.
Durante a crise económica, o financiamento bancário ficou mais concentrado num número
limitado de sectores onde o valor dos ativos estava mais inflacionado. Porém, a partir de 2010 a
banca começou a realocar o crédito a sectores mais produtivos da economia com redução nos
sectores mais endividados.
A recente crise europeia resultou numa forte contração no crédito para a economia real através
de um fenómeno a que chamaram de “credit crunch” e que se traduziu por diferenças
significativas no fornecimento do crédito ao longo do tempo, com maior intensidade em alguns
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países. Este “credit crunch” é explicado por variáveis macroeconómicas, como o crescimento
económico (negativamente correlacionado) e pela forte alavancagem do sector privado (em
sentido positivo, ou seja, impulsionado quanto maior o endividamento do sector privado)
debatem-se sobre se a razão da queda do financiamento às empresas foi devido a uma falta de
fornecimento por parte dos bancos – e a partir daí ser utilizada a definição de “credit crunch” –
ou se, pelo contrário, este facto se deveu a uma diminuição da procura das empresas num cenário
de redução de oportunidades de investimento. Os seus resultados não mostram uma
robustez clarividente que permita afirmar que se verificou o fenómeno de “credit crunch”. Ainda
assim, foi possível apurar pelos mesmos que, em muitos casos, as condições macroeconómicas
exercem uma influência mais determinante sobre a disponibilidade do financiamento, que
propriamente pelas condições individuais. Não obstante, o seu estudo revela que empresas com
fundos internos mais elevados e com um bom histórico de crédito têm menos probabilidades de
verem os seus pedidos de financiamento recusados.
Na persecução desta ideia, Holton et al. (2014) afirmam que a redução do crédito bancário às
PME operou-se igualmente pela redução da própria procura, assim como pelo aumento das
rejeições dos pedidos de financiamento e pelo agudizar dos termos e condições do crédito
concedido.
O início da crise provocou situações mais complicadas de liquidez nos bancos não só ao nível
das necessidades de alavancagem mas também porque se verificou uma corrida ao crédito de
curto prazo por parte das empresas, com a utilização dos limites contratados e não utilizados, o
que levou a um “rollover” mais limitado dos seus créditos. Os bancos passaram a ter dificuldades
na renovação da sua dívida de Curto Prazo devido às preocupações de liquidez e solvência do
mercado financeiro. Desta forma, Bancos mais expostos a linhas de crédito de utilização
automática e com menos acesso ao financiamento através de depósitos reduziram de forma mais
drástica o financiamento às empresas (Ivashina e Scharfstein, 2010).
Aliado a isto, a pressão exercida sobre os bancos no sentido da sua recapitalização e diminuição
da sua alavanca financeira acabou por desviar recursos da economia real, tornando-a mais
indeterminada em consequência da instabilidade no sector financeiro (Lawless et al., 2014).
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Como consequência, a existência de um grande número e proporção de microempresas nos
países do Sul da Europa, assim como o direcionamento principalmente para o mercado interno,
fez com que estas PME se tornassem menos resilientes aos choques macroeconómicos e a
mudanças na procura (Kaya et al., 2014).
Numa outra perspetiva, alguns autores referem que o acesso ao financiamento bancário tem sido
também influenciado pelo risco da dívida soberana e pelo risco de default do sistema financeiro e
bancário. A prepósito, a literatura tem se debatido sobre o relacionamento entre um e outro. Alter
e Schuler (2012) afirmam que, ainda que a nível global o risco de default do sistema financeiro,
como um todo, exerça uma forte influência sobre o risco soberano, em Portugal, verificou-se
precisamente o contrário, com a dívida soberana a influenciar decisivamente o default dos
bancos mesmo antes do caso Lehman Brothers.
A crise financeira e da dívida soberana afetou a transmissão da política monetária na zona euro e
essas tensões repercutiram-se na economia real tornando mais difíceis as condições de crédito
dos potenciais proponentes. Os fatores financeiros e soberanos levaram a que as condições de
fornecimento de crédito fossem menos favoráveis, não só através do racionamento de crédito
como através de taxas de juro mais elevadas. Ainda, países com maior nível de endividamento
antes da crise enfrentaram um racionamento de crédito e condições de financiamento mais
gravosas (Holton et al., 2014).
Um dos fatores que também explica a restrição de crédito às PME é o facto da perceção de risco
ter aumentado em altura de crise, facto que levou a um aumento nos custos de financiamento,
uma vez que as empresas de menor dimensão passaram a ser vistas com maior probabilidade de
default quando comparadas com as empresas de maior dimensão que, aliás, além do acesso ao
financiamento bancário têm também a possibilidade de recorrerem ao mercado de capitais de
forma mais facilitada que as primeiras (Kaya et al., 2014).
Além das restrições ao nível do financiamento, outros obstáculos se impõem no diaa-dia das
empresas e limitam a sua atuação. Beck e Demirgüç-Kunt (2006) chamam a atenção para o caso
do sistema legal (através do direito comercial e da proteção aos direitos de propriedade), assim
como a corrupção. Segundo estes autores é necessário o sistema legal aplicar de forma eficaz as
suas leis promovendo desta forma as transações comerciais. O foco do poder governamental tem
de se centrar na melhoria do ambiente empresarial que permita a entrada, saída e crescimento das
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empresas como um todo, em vez de assumir uma figura paternalista das PME num sector quase
sempre caracterizado por empresas estagnadas. A melhoria da legislação poderá ter um impacto
direto no acesso ao crédito e, por conseguinte, no crescimento por todas as empresas e em
especial pelas PME (Beck e Demirgüç-Kunt, 2006).
Fruto destas contingências ao nível institucional, empresas onde o sistema legal trabalha de
forma mais efetiva reportam de forma menos recorrente problemas no acesso ao crédito e, por
conseguinte, o efeito dos obstáculos financeiros e legislativos sobre o crescimento é menor,
exercendo o sistema legal um papel mais importante sobre a atenuação das dificuldades de
acesso ao crédito por parte das empresas (Demirgüç-Kunt e Levine, 2005). Por isso, verifica-se
que em países com sistemas legais menos desenvolvidos é mais difícil as empresas crescerem
devido ao facto dos investidores não conseguirem proteger os seus direitos, sendo que a melhoria
do sistema legal poderá levar ao relaxamento dos constrangimentos de crescimento das PME e
facilitar o seu contributo para o crescimento.
Por outro lado, o impacto do ambiente ao nível institucional e legal podem também ter impacto
ao nível da maturidade dos financiamentos às PME. Concluíram que nos países com políticas
que protegem os credores, verifica-se uma maior tendência para financiamentos bancários de
longo prazo, assim como levam a uma maior disponibilidade de financiamento por parte dos
bancos, visto ser reconhecido mais facilmente os direitos dos credores.
Desta forma, as dificuldades no acesso ao financiamento por parte das PME não tem uma origem
apenas num conjunto de situações que se prendem com elas próprias, mas são determinadas por
situações ao nível macro (institucional), pelo que não é de estranhar que se verifiquem diferenças
significativas entre vários países no acesso ao crédito por parte das PME provocado
especialmente pelo ambiente institucional e legal.
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Para atenuar toda esta realidade, o sistema financeiro desenvolveu soluções de financiamento às
PME com poucos ou mesmo nenhuns colaterais, começando a mudar alguns dos paradigmas,
ainda que a efetividade destas novas soluções tenham ficado intimamente dependentes do
ambiente legal do próprio país. Surgem, então, novas formas de financiamento com base em
novos produtos especializados que podem dar às PME novas oportunidades ao nível do
financiamento, apesar de não se encontrar evidência que os mesmos produtos possam configurar-
se num facilitamento das condições de crédito.
Não obstante estas novas realidades, as PME não têm conseguido atingir os requisitos dos
bancos, por isso, são vistas como tendo maior risco, sendo solicitados mais requisitos ao nível
dos colaterais, taxas de juro e “convenants”.
Como contraponto às dificuldades no acesso ao crédito bancário por parte das PME, quando este
tipo de financiamento se mostra mais difícil, verifica-se frequentemente a substituição do
financiamento bancário por dívida comercial, sendo a literatura conclusiva ao apontar estas duas
formas de financiamento como substitutas e com um corelacionamento negativo.
Outro aspeto a ter em consideração é a concorrência no mercado bancário e o seu impacto sobre
o acesso ao crédito por parte das PME. Ryan et al. (2014) concluíram que um maior poder de
mercado por parte dos bancos resulta geralmente em maiores constrangimentos do financiamento
bancário por parte das PME, sendo estes constrangimentos maiores nos sistemas financeiros
mais dependentes do sistema bancário como fonte de financiamento externo. Para estes autores,
o investimento por parte das empresas é sensível à existência de fundos internos, por outro lado,
o poder de mercado bancário está relacionado com baixos níveis de investimento por parte das
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PME, sendo tendencialmente menos adverso nas empresas mais pequenas e geralmente mais
pernicioso nas empresas com maior dependência dos bancos para o suprimento das suas
necessidades de financiamento.
Em outro sentido, Stefani e Vacca (2014) fazem a análise sobre a influência do género dos
responsáveis de topo das empresas no acesso ao financiamento por parte das PME, comparando
amostras de empresas com cargos de topo masculinos e femininos, concluindo que existe uma
fraca evidência a o nível da discriminação de género no acesso ao financiamento bancário. Este
estudo mostra que as dificuldades enfrentadas pelas empresas com altos cargos femininos são
largamente explicadas pelas características das próprias empresas como a dimensão, idade e
sector de atividade. Por outro lado, estas empresas tendem a submeter menos frequentemente
pedidos de financiamento, principalmente porque antecipam uma rejeição.
Por fim, Lee et al. (2015) no seu estudo sobre o acesso a financiamento externo em tempos de
crise por parte das empresas inovadoras, concluem que empresas inovadoras são menos
suscetíveis de conseguirem financiamento quando comparadas com as restantes empresas,
situação que piora em tempos de crise. Esta situação tem origem não só em problemas estruturais
que restringem o acesso destas empresas ao financiamento bancário como também é criado por
problemas cíclicos que afetam as empresas como um todo. Estes autores consideram que a crise
económica que ora se atravessa vem piorar ainda mais a situação falando mesmo numa restrição
absoluta de crédito para este tipo de empresas, apesar da procura de financiamento alheio ser
mais elevado quando comparado com outras empresas.
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8.Principais Bloqueios Encontrados
Apesar do desenvolvimento das PME ser benéfico para a economia e para o país como um todo,
as empresas sentem algumas dificuldades que impedem o seu crescimento rápido e sustentável.
Os principais grupos de problemas prendem-se com o ambiente macroeconómico em que se
inserem, aspectos internos à empresa e com o papel das instituições públicas neste processo.
Como tal, o sucesso das empresas não depende exclusivamente do seu modus operandi. O meio
envolvente assume um peso significativo no desempenho da mesma, juntamente com a sua
dinâmica económica associada. Por sua vez, o ambiente económico pode ser dividido em vários
aspectos. Um deles prende-se com o estado da economia em geral. Uma economia que está em
fase de crescimento também promove oportunidades de crescimento mais atractivas às empresas.
Por outro lado, se a economia estiver em fase de recessão é muito mais difícil que estas se
desenvolvam e consigam aumentar a quota de mercado e obter lucros satisfatórios.
Muitos dos esforços das PME no que tange ao acesso ao crédito esbarram na falta de
contabilidade organizada e na existência de estratégias e planos de negócio definidos. De que
modo a OCAM pode contribuir para melhorar esse aspecto? A OCAM tem requisitos de
formação contínua dos seus membros, que terão o impacto de alavancar o nível de competências
dos contabilistas e depois manter o tal nível conseguido. A OCAM igualmente está a trabalhar no
sentido de controlar quem pode prestar o serviço de contabildide no nosso mercado, para
assegurar que apenas os contabilistas competentes e em situação regular na Ordem possam
trabalhar. A médio longo termo, a OCAM tenciona colaborar com as universidaddes no sentido
de contribuir para a revisão de currículos de modo a que potenciais membros recebam educação
do nível desejado pela Ordem já a partir das universidades. Como resultado, esperamos que os
nossos membros estejam à altura de contribuir para a solução dos problemas identificados. Em
termos de actividades vocacionadas para a área de contabilidade, 54% das empresas recorre ao
serviço de terceiros. Acha que essa percentagem é satisfatória tendo em conta o nível de
exigência do mercado regional, no advento do Mercado Comum e da Moeda Única da SADC?
Existem variadas razões porque as empresas decidem recorrer a terceiros. Uma das razões é
quando as empresas não têm dimensão suficiente para ter um departamento de contabilidde
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interno. Outra é quando, sendo a administração da empresa estrangeira e não tendo internamente
competências
principalmente fiscais, e não querendo arriscar, preferem aproximar uma entidade terceira
vocacionada nessas matérias naquilo a que se chama outsourcing. É difícil dizer qual o nível
ideal de outsourcing mas sabe-se que este serviço existe mesmo no primeiro mundo. É algo que
não tem relação directa com o desenvolvimento da profissão no país. Estamos, entretanto, a
trabalhar para que com o andar do tempo, as empresas de todas dimensões ganhem mais
confiança nos contabilistas moçambicanos.
Metade das empresas já foi alvo de auditorias, tenham sido as mesmas motivadas internamente
por opção das empresas – auditores externos contratados pela empresa - ou externas,
desenvolvidas pela Autoridade tributária. Qual é a experiência que a OCAM pode partilhar a este
nível? Será que a evolução positiva se prende com uma melhoria da gestão?
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10.Conclusão
Em síntese, foi possível identificar um conjunto de aspectos ao nível interno das PME ou ao
nível externo, do contexto envolvente, que deverão ser alvo de melhorias com vista a atingir
objectivos de eficiência e eficácia no desempenho das empresas. Apresenta-se de seguida o
resumo das recomendações elaboradas, tendo em conta os destinatários alvo para cada
recomendação.
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Intensificar contacto com empresas de modo a manter canal de comunicação entre sector
público e privado aberto;
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11.Referencial Teòrico
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