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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

HISTÓRIA DA AMÉRICA III


DOCENTE: FRANCISCO FERNANDO MONTEOLIVA DORATIOTO
DISCENTE: BLANDU CORREIA MARTINS DA SILVA – 150119542

Introdução

Este ensaio propõe-se a analisar, baseando-se numa breve avaliação do contexto


histórico, o ataque executado pelo Japão à base americana de Pearl Harbor em 7 de dezembro
de 1941. Este foi um momento turbulento na história do mundo. Após o desenrolar da Primeira
Guerra Mundial, esta é sucedida pela crise de 1929 e, mais tarde, pelo período que aqui será
destacado, a Segunda Guerra Mundial.
Para manutenção de sua influência política, econômica e militar, o Japão adota
estratégias de expansão que envolvem a ampliação de sua extensão territorial e o enrijecimento
do controle econômico para aumentar o seu acesso à recursos naturais essenciais.
Por meio de tais medidas, e por influência da Restauração de Meiji, a rivalidade entre
Japão e Estados Unidos cresceu cada vez mais, a ponto de incluir outros países, inclusive os
latino americanos, entre eles, o Brasil. Um dos focos deste ensaio é a análise da posição
brasileira, por meio de notícias que circulavam em jornais da época, em relação ao conflito
existente entre as duas potências, Japão e Estados Unidos, neste período.

A Restauração Meiji

Em 1868 inicia-se no Japão a Restauração Meiji1. Neste período o império nipônico


embarcou rapidamente numa época de expansão econômica, política e militar num esforço em
alcançar as potências europeias e norte-americanas. A sua estratégia de expansão envolvia a
ampliação de sua extensão territorial e o enrijecimento do controle econômico para aumentar
o seu acesso à recursos naturais essenciais.
Durante o período da Restauração:

1
Restauração Meiji corresponde ao reinado do Imperador Meiji (1868-1912). Nessa época, o Japão deixa de ser
um ator internacional de estrutura medieval para ser uma potência asiática.
“(...) o sistema feudal foi abolido e inúmeras instituições ocidentais foram adotadas.
Sob um slogan nacionalista – nação rica, exército forte – e com uma política
fortemente expansionista, o Japão lançou-se às conquistas territoriais na Ásia,
obtendo, a partir daí, vitórias contra a China (1895) e o Império Russo (1905).”
(ESPÍNDOLA; VERGARA, p. 2, ano: ?).

Após a Restauração Meiji, o Japão, que historicamente demonstrava-se um país fechado


à influências estrangeira, realizou uma grande abertura de fronteiras, modernizou sua economia
e iniciou um rápido processo de industrialização durante a segunda metade do século XIX.
Durante esse processo de modernização, um forte discurso nacionalista surgiu naquele
território. Tal discurso visava defender os valores e os interesses internos, ao mesmo tempo em
que manifestava um culto à personalidade do imperador.
À medida que as mudanças políticas e econômicas aconteciam, uma verdadeira
doutrinação da população era realizada, e os interesses do Japão, que, a princípio, ligavam-se
a assuntos internos, foram expandidos para as regiões próximas, surgindo um forte impulso
imperialista sobre as nações vizinhas, principalmente a China2. A vitória japonesa na guerra
contra o império Russo, em 1904, somente fortaleceu esse discurso nacionalista e imperialista,
o qual prosperou durante o reinado de Hirohito3 e foi fundamental para o Japão lançar-se na
Segunda Guerra Mundial.

Rivalidade entre Japão e Estados Unidos

A rivalidade do Japão com os Estados Unidos remonta ao final da Primeira Guerra


Mundial, momento em que os japoneses voltam seus interesses imperialistas sobre a China.
Segundo Ronaldo Pereira Gonçalves4, “(...) o Japão, na década de 1930, com mais de
70 milhões de habitantes comprimidos em um arquipélago de pequena área física e desprovido
de recursos naturais necessitava de espaço vital e matérias-primas para o seu desenvolvimento.

2
Ao executar esta estratégia, o Japão iniciou um número de aventuras militares que iniciaram conflitos com vários
países vizinhos. Estes incluíam a China em 1894, no qual o Japão tomou controle da Ilha Formosa, e a guerra com
a Rússia em 1904, ganhando o Japão território na China e na península coreana.
3
Hirohito (29 de abril de 1901 - 7 de janeiro de 1989), foi o 124º imperador do Japão, de acordo com a ordem
tradicional de sucessão, reinando de 25 de dezembro de 1926 até sua morte, em 1989.
4
Professor adjunto em História, UNIOESTE - FBE, Membro do Grupo de Pesquisa História e Epistemologia da
Geografia.
Essa é a perspectiva política do Japão que direciona seu imperialismo em direção à Manchúria
e aos “Mares do Sul”.” (p. 14, 2010).
“Na mesma época, o governo de Washington preocupava-se com os rumos da política
de expansão industrial do Japão nos mercados do sudoeste asiático e com a concorrência
comercial da Alemanha na Europa e na América Latina. Isso porque tal situação conflitava
com o desenvolvimento da indústria norte-americana.” (GONÇALVES, p. 15, 2010). Como
afirma Gonçalves, “(...) o Japão era um obstáculo ao imperialismo dos Estados Unidos no
sudoeste asiático e por esse motivo, foi acirrando-se, durante toda a década de 1930, a
rivalidade nipo-americana, de tal forma que, de uma competição por mercados, originou-se
uma guerra comercial.” (p. 15, 2010).
Em 1940, a Alemanha derrotou a França e os Países Baixos, deixando, assim, a
Indochina francesa e as Índias Orientais Holandesas vulneráveis aos interesses japoneses. Tal
fato, de ampla repercussão no cenário internacional, preocupou o governo norte-americano,
fazendo com que este, por decisão do presidente Roosevelt5, rompesse o tratado comercial com
o Japão.
“Outras estratégias de Washington foram o fechamento do Canal do Panamá aos navios
de bandeira japonesa e o congelamento dos créditos bancários do Japão nos Estados Unidos.
Esta ação foi particularmente severa na América do Norte, onde as grandes firmas e bancos
japoneses ficaram quase paralisados.” (GONÇALVES, p. 16, 2010)
Pouco depois dessas medidas norte-americanas, o Japão assinou, em 27 de setembro de
1940, o Pacto Tripartite6 com a Alemanha e a Itália. “Para o governo de Washington, esse
acordo era o principal indício de que o Japão planejava assaltar as colônias anglo-americanas
do sudeste asiático em busca de matérias-primas, não só para o seu desenvolvimento industrial,
mas também para sua “máquina bélica”.” (GONÇALVES, p. 17, 2010).
As negociações diplomáticas se intensificaram, e assim os Estados Unidos enviou uma
nota diplomática ao governo de Tóquio expondo as condições para um acordo entre os dois
países. O Japão teria que retirar todas as tropas japonesas dos territórios chineses, e suspender

5
Franklin Delano Roosevelt (30 de janeiro de 1882 - 12 de abril de 1945), foi um estadista e líder político
americano que serviu como o 32º Presidente dos Estados Unidos de 1933 até sua morte em 1945.
6
O Pacto Tripartite, ou Pacto do Eixo, foi assinado em Berlim em 27 de setembro de 1940, durante a Segunda
Guerra Mundial, pelos representantes da Alemanha Nazista, da Itália fascista e do Império do Japão, e formalizou
a aliança conhecida como Eixo.
“(...) qualquer auxílio ou influência japonesa ao governo de Nanquim que, naquele momento,
era um Protetorado japonês.” (GONÇALVES, p. 17, 2010).

O ataque à Pearl Harbor

Com pressão norte-americana sobre o governo japonês, o início das hostilidades era
somente uma questão de tempo, pois, tanto americanos como japoneses já vinham trabalhando
em planos de guerra. “Nesse contexto, quando Washington exigiu a imediata retirada japonesa
da Manchúria, o governo de Tóquio autorizou o ataque nipônico às bases militares americanas
situadas no Oceano Pacífico.” (GONÇALVES, p. 18, 2010).
O ataque japonês a Pearl Harbor marcou definitivamente a entrada dos Estados Unidos
na Segunda Guerra Mundial. Em 7 de dezembro de 1941, no início da manhã os japoneses
bombardearam a base norte-americana de Pearl Harbor, no Havaí.
A resposta dos Estados Unidos foi imediata com a declaração de guerra divulgada no
dia 8 de dezembro de 1941. O conflito entre as duas nações, contudo, estendeu-se até 1945,
quando o Japão rendeu-se após o lançamento das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki
por parte dos Estados Unidos.

O Brasil diante de Pearl Harbor

Ricardo Seitenfus7, ao questionar como a notícia do ataque japonês à Pearl Harbor foi
recebida na América Latina, afirma que:

"(...) num primeiro tempo, foi percebido com estupefação, tendo em vista o denodo
da operação militar. Logo a seguir, à surpresa acrescenta-se a indignação, pois o
ataque não foi precedido de declaração de guerra. A partir desse momento, as
declarações de solidariedade com Washington emanam do conjuntos dos países
latino-americanos, com exceção da Argentina, que adota uma posição ambígua."
(p.277, 2000).

7
Possui graduação em Ciência Política - Universidade de Genebra (1973), graduação em Economia do
Desenvolvimento - Universidade de Genebra (1973), graduação em História Moderna e Contemporânea -
Universidade de Genebra (1978), e doutorado no Institut des Hautes Etudes Internationales (IHEI) - Universidade
de Genebra (1980).
Mais além, o autor afirma que "(...) o Brasil, por sua vez, faz um decisão decididamente
pró-americana.” (SEITENFUS, p. 277, 2000). Então, em 8 de dezembro, Getúlio Vargas envia
à Roosevelt um telegrama onde declara que convocou os membros de seu governo e que foi
decidido, por unanimidade, que o Brasil se declarasse solidário com o Estados Unidos.
Em resposta, como descrito por Seitenfus em seu livro, Roosevelt enfatiza:

"(...) meu mais profundo apreço e do povo dos Estados Unidos, a pronta e cordial
mensagem de solidariedade com o meu país na crise provocada pelo traidor e não
provocado ataque, praticado ontem pelos japoneses contra as vidas e territórios do
Estados Unidos (tal mensagem) é a prova culminante de afirmação, feita tão
eloquentemente, faz poucas semanas, de que o interamericanismo passará do domínio
dos convênios ao campo da ação positiva o que profundamente me comoveu e
encorajou." (p. 277, 2000)

A edição de 9 de dezembro de 1941 do Correio Paulistano8 encontra-se estampada com


o seguinte título: "GOVERNO BRASILEIRO SOLIDÁRIO COM OS ESTADOS UNIDOS"
(CORREIO PAULISTANO, 9 de dezembro de 1941). Logo abaixo, a seguinte nota foi
publicada:

"A declaração de guerra do Japão à Norte-America e à Grã Bretanha levou vários


países a tomarem idêntica atitude com relação ao governo de Tóquio. (...) A
Alemanha e a Itália ainda não se manifestaram a respeito do alastramento das
hostilidades do Pacífico." (CORREIO PAULISTANO, 9 de dezembro de 1941).

Na mesma página, ainda é possível encontrar publicado uma tradução do texto oficial
japonês anunciando a declaração de guerra aos Estados Unidos e à Grã Bretanha:

"Nós, imperador do Japão, pela graça celeste, ocupando o trono pertencente a linha
ininterrupta desde as idades imemoriais e eternas, fazemos saber aos nossos leais e
fiéis súditos que declaramos guerra aos Estados Unidos e ao Império
britânico."(CORREIO PAULISTANO, 9 de dezembro de 1941)

8
O Correio Paulistano foi um jornal brasileiro do estado de São Paulo. Lançado em junho de 1854, foi o primeiro
jornal diário publicado paulista e o terceiro do Brasil. Teve como fundador o proprietário da Tipografia Imparcial,
Joaquim Roberto de Azevedo Marques, e como primeiro redator Pedro Taques de Almeida Alvim.
O Correio da Manhã, outro importante jornal do período, teve com título de sua edição
de 9 de dezembro de 1941 a seguinte nota:

“A declaração de guerra dos Estados Unidos ao Japão foi aprovada na Câmara de


Washington por 382 votos, apenas com um voto contrário de coerência feminina, e
no Senado pela unanimidade dos seus membros.” (CORREIO DA MANHÃ, 9 de
dezembro de 1941).

Mais à frente, o mesmo jornal debate acerca de quais foram os objetivos do Japão com
esta ofensiva, informa também sobre os ataques às bases americanas e publica a seguinte nota
fornecida na época pela Secretaria da Presidência brasileira:

"O presidente da República reuniu hoje o Ministério para examinar a situação


internacional à vista do últimos acontecimentos. (...) O Governo confia que o povo
brasileiro, fiel às tradições políticas, se mantenha sereno e vigilante, evitando
demonstrações que possam perturbar a tranquilidade necessária ao trabalho e à vida
do país". (CORREIO DA MANHÃ, 9 de dezembro de 1941).

Em 12 de dezembro de 1941 é publicado:

"Ante a declaração de guerra da Alemanha e da Itália o Brasil reafirma ao governo


dos Estados Unidos a sua solidariedade. (...) Em complemento à atitude assumida
quando da agressão japonesa às posições avançadas dos Estados Unidos no Pacífico
e que correspondia ao início da guerra não declarada, o governo brasileiro acaba de
notificar ao de Washington a sua atitude em face da declaração de guerra à nação
americana por parte da Alemanha e da Itália. Esse fato, que é uma consequência
natural da posição honrosa assumida pelo Brasil, é comunicado pelo Itamaratí na
seguinte nota fornecida por intermédio da Agência Nacional: “O embaixador do
Brasil no Estados Unidos da América do Norte foi autorizado por S. Ex. o Sr.
presidente da República a reafirmar ao governo norte-americano a atitude do Brasil
antes a declaração de guerra da Alemanha e da Itália.”" (CORREIO DA MANHÃ,
12 de dezembro de 1941).

Considerações Finais

Nota-se, a partir dos pontos que foram apresentados neste texto, que o ataque perpetrado
pelo Japão à Pearl Harbor, em 7 de dezembro de 1941, tinha com objetivo, além de exercitar o
projeto de expansão territorial, que o Japão havia colocado em prática desde a década de 1930
(quando havia iniciado a invasão à China), a sua expansão tanto econômica, como militar e
política.
A destruição da frota americana era fundamental para que o Japão continuasse o seu
projeto de conquista e expansão territorial sobre as ilhas do Pacífico. Segundo Ronaldo
Gonçalves:

“(...) o objetivo mais importante do ataque nipônico às bases militares anglo-


americanas no Pacífico era eliminar a concorrência comercial norte-americana no
sudeste asiático. Com isso, o Japão poderia exercer a hegemonia econômica no
extremo-oriente e obter nas ilhas dos “Mares do Sul” as matérias-primas necessárias
ao seu desenvolvimento industrial.” (p.21, 2010).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

CORREIO DA MANHÃ, 9 de dezembro de 1941/12 de dezembro de 1941.

CORREIO PAULISTANO, 9 de dezembro de 1941.

ESPÍNDOLA, Januário Della Mea e VERGARA, Paulo Monteiro. O Japão face à aliança
norte-americana: a redefinição do papel japonês como liderança mundial. In: Disponível
em < http://www6.ufrgs.br/nerint/folder/artigos/artigo7.pdf.>. Acesso: 18/04/2019.

GONÇALVES, Ronaldo Pereira (2010). O Japão na conjuntura internacional de 1930-


1940. Revista Faz Ciência, 12 (16): 199-222.

HASTINGS, Max. O mundo em guerra 1939-1945. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2012.

KOIFMAN, F. ; ODA, H. M. . A declaração brasileira de guerra ao Japão. In: XXVII


Simpósio Nacional de História, 2013, Natal. ANAIS DO XXVII SIMPÓSIO NACIONAL DE
HISTÓRIA, 2013.

SEITENFUS, R. . A entrada do Brasil na Segunda Guerra mundial. 2. ed. Porto Alegre:


EDIPUCRS, 2000. v. 1. 378p.

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