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Artes

Artes
Sumário
A arte reflete a vida.............................................................................................................................7
A arte – um espelho do passado, presente e futuro..........................................................................13
Grécia e Roma – a arte clássica........................................................................................................17
A religião domina o mundo ocidental..................................................................................................21
O homem volta a olhar para o homem.............................................................................................25
O homem descobre novos mundos................................................................................................29
Arte – nossa eterna companheira..............................................................................................31
Na infância do homem – o nascimento da arte..................................................................................35
Grécia e Roma – os fundamentos da arte ocidental............................................................................37
Idade Média – sob o domínio do Cristianismo.....................................................................................41
O renascimento – o homem como o centro do universo...................................................................45
A diversificação da manifestação artística.............................................................................................47
Referências....................................................................................................................................51
Caros alunos

O que vamos apresentar a vocês nestas seis aulas
não se limita apenas a uma seqüência histórica de fatos e de
artistas. Queremos, por meio do estudo das manifestações
artísticas, em diferentes épocas e por criadores diferentes,
mostrar que ela, a arte, é entre outras coisas, a tradução
de uma maneira de pensar e de ver o mundo de acordo
com as vivências de cada momento histórico em que elas
acontecem e, mais ainda, segundo a visão subjetiva do
artista que a cria.

Apresentação
A arte não se contenta com um simples “retratar o
mundo”; preocupa-se principalmente com um “mostrar” o
mundo e a vida da maneira mais ampla possível, possibilitan-
do ao observador ver muito além daquilo que é concreto,
palpável. É um ato revelador do mundo subjetivo que existe
“em nossa volta e em nosso mundo psíquico”.
A arte é a única atividade humana que trabalha com
a verdade em sua plenitude e não com a verdade imediata
como o faz a ciência. No entanto, o homem é incapaz de se
defrontar com esse potencial de verdade, pois enlouquece-
ria, diz Nietzsche. Assim, a qualidade de uma obra de arte
é tanto maior quanto maior for o volume de verdades que
souber oferecer, permitindo que o observador as apreenda
sem que enlouqueça.
A arte apresenta-se como filtro da grande verdade
que é a vida. Eis a razão deste estudo, e a melhor maneira
de entender a arte não se limita a apreciá-la, mas apreciá-la
da melhor maneira possível e, sobretudo, vivenciá-la.
Por essa razão, dividimos nossas aulas em uma
parte teórica e, em outra, com exemplos e atividades que
facilitam o entendimento dessa grandiosa manifestação da
sensibilidade humana.

Pedro Leonidas
A arte reflete a vida

A arte reflete a vida

Artes
A arte é uma constante na vida. Ela faz parte da histó-
ria de todos nós. Aquele general autoritário, aquele padre
severo, aquela mulher bondosa e aquela criança endiabrada
são todos artistas em potencial e, na verdade, certamente,
em alguma época de suas vidas, todos fizeram ou talvez
ainda façam arte.
O general, quando menino, pode ter desenhado um
carrinho; o padre talvez tenha feito poesia; a mulher talvez
pinte aquarelas, e a criança pode estar fingindo que é um
robô num futuro distante.
Todos fizeram ou estão fazendo arte: o general dese-
nha; o padre faz literatura; a mulher faz pintura, e o garoto
representa. E tudo isso é arte. Estatueta de um homem barbado – Mesopotâmia.
Abaixo, uma definição de arte:
“Arte é todo trabalho criativo, ou seu produto,
que se faça consciente ou inconscientemente com in-
tenção estética, isto é, com o fim de alcançar resultados
belos.”

No entanto, sabemos que tentar definir esse conjunto


complexo do fazer humano, a que chamamos de arte, é
extremamente difícil devido à abrangência de fatores que,
para essa realização, concorrem e as infinitas variáveis que
nela interferem, tanto na sua criação psíquica quanto na
sua execução.
Para Kandinsky, “a obra de arte é filha do seu tempo”.
Cada época cria uma arte que lhe é propícia, e cada grupo
Esfinge de Quéfren – Egito Antigo.
humano o faz a sua maneira, dentro do conhecimento de
mundo que esse mesmo grupo venha a ter, bem como de
sua capacidade tecnológica, de sua localização geográfica,
de seu poder econômico, de seu sistema político, de suas
convicções religiosas e das características psicológicas que
estruturam tal complexo grupal.
Vamos fazer uma breve interrupção para salientar
que, além de todos esses fatores grupais, as características
individuais propícias do artista são elementos fundamentais na
avaliação da obra artística, mas para que pudéssemos fazer um
estudo da individualidade do artista, desta ou daquela obra,
necessitaríamos de dados – acontecimentos, história familiar
e outros – da vida desse mesmo artista que viveu em épocas
remotas da história de nossa civilização, e nada ficou registrado
nessa área. Somente com a invenção da escrita, registros mais
detalhados e mais específicos vieram a acontecer. A partir daí
particularidades significativas sobre os artesãos do mundo Estátua de Sófocles – Grécia Antiga.

antigo puderam ser esclarecidas.


Assim, voltemos à visão de arte ainda no sentido Porém, muito antes das civilizações mesopotâmicas,
grupal. gregas ou egípcias se estruturarem, o homem já se manifes-
A arte, como vimos, está sujeita à época e ao grupo tava artisticamente, num mundo hostil, rodeado de perigos
cultural que lhe dá origem como se pode perceber nas e mistérios; nossos antepassados procuravam entender
imagens a seguir. aquele universo que os cercava.

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A arte reflete a vida
As primeiras manifestações artísticas do homem
Artes

remontam à era paleolítica (paleolítica superior) e se cons-


tituem de imagens desenhadas em paredes de cavernas,
com representações de cenas de animais e de caçadas,
e de “negativos” de mãos pintadas sobre fundo vermelho
ou negro.
O homem aplicava as tintas com as mãos, espátulas,
bastonetes ou pincéis rudimentares, quando não empregava
a técnica de pistolar, isto é, enchia a boca de tinta e soprava
por um canudo ou osso. Numerosas silhuetas de mãos
espalmadas (em negativo) encontradas nas cavernas foram
feitas por esse processo.

Arte Pré-histórica.

O homem pré-histórico, no entanto, não foi ape-


nas pintor, foi também um escultor. Nesse período, fazia
incisões nas pedras e esculpia figuras femininas de formas
exageradamente volumosas que estariam ligadas a rituais
de fecundação.
Negativos de mãos humanas – pré-história. O material usado na confecção dessas figuras femini-
nas eram o marfim, o osso, as pedras e, talvez, a argila.
As tintas das pinturas eram conseguidas com materiais
minerais – terra, carvão vegetal, ossos queimados e óxido de
ferro – misturados com gordura de animais, argilas coloridas,
sangue de animais e excremento de aves.
As cores eram o preto, o ocre e o vermelho.
O pintor dessa época era figurativo, isto é, reproduzia
a imagem na sua verdade visual: não a deformava nem a
estilizava.
Nas representações de animais, observava-se a “lei
da frontalidade”. Vejam alguns exemplos.

A Vênus de Laussel – 150 000 a 10 000 a.C.

O maior legado que deixaram, no entanto, foi o


encontrado na pintura, pois, embora os desenhos rupes-
tres representem o mais antigo registro de manifestações
artísticas que possuímos, já nos deparamos com obras
magistrais. Nelas “nada há de primário ou de arte primitiva.
Nessas imagens nada é ingênuo ou infantil”.
Era uma arte de adultos para adultos.
O tamanho dos desenhos é monumental (entre um e
cinco metros de comprimento) e, muitas vezes, ao fazerem
as imagens, os artistas aproveitavam a curvatura natural da
rocha, relevos e saliências, integrando a corporeidade da
parede à forma do animal representado.
Ao nos depararmos com milenares cenas de caça
desenhadas em “cavernas, grutas e galerias subterrâneas,
às vezes em labirintos de grande extensão e ocupando
centenas de metros, com subdivisões em câmaras sepa-
radas”, numa escuridão em que não penetrava a luz do dia,
8
A arte reflete a vida
em lugares perigosos, pois constituíam também o habitat de Outro elemento que reforça essa teoria são figuras
animais ferozes, nos vêm várias indagações: Por que tudo que apareceram em época um pouco mais recente. São

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isso? Qual a razão para tanto empenho? O que se procurava desenhos de homens-feiticeiros inteiramente cobertos
alcançar com todo esse trabalho tão árduo? de peles, chifres, às vezes feridos por flechas, fechados
em cercados ou presos em armadilhas, como se fossem
o próprio animal.

Arte Pré-histórica.

Homem com máscara de cabeça de ave atacado por um bisonete ferido.

Não era exatamente uma figura humana e sim “uma


figura fantasiada de animal”. Entretanto, por que aqueles
homens que retrataram animais com tanta perfeição não
o fizeram com figuras humanas? Poderiam perfeitamente
tê-lo feito. Por que não o fizeram?
A mais coerente explicação é a de que o homem-
feiticeiro, vestido com as peles de animal, estaria incor-
porando o poder desse animal. Era, ao mesmo tempo, a
incorporação, uma união com as forças do animal e também
um domínio, um controle sobre essas mesmas forças.
Caça ao Rinoceronte. E a incorporação de um animal assinalava uma outra
forma e manifestação artística dessas eras – a representação
Estudos feitos dessa época levam a crer que esses
desenhos tinham uma função mágica, sobrenatural. Quando – que viria a desenvolver-se no teatro.
falamos em magia, devemos estar cientes de que, naquela Assim como não temos registros da música ou da
época, magia não era uma mera superstição. Poderíamos dança, nada temos de como seria um esboço da repre-
mesmo dizer que magia era a “ciência da época”, pois reunia sentação teatral daquela época.
os conhecimentos acessíveis ao homem, o resumo de expe- Pesquisas de grupos, de culturas primitivas, ainda exis-
riências coletivas e as possíveis interpretações de fenômenos tentes em nossos tempos (como na Amazônia, na Austrália,
naturais. Ela era o instrumento pelo qual o homem se rela- na África), levam-nos a deduzir que, como nessas culturas,
cionava, interferia e, até mesmo, dominava esses fenômenos. o que havia era uma representação de fundo mágico, em
Por meio das imagens, acreditava-se que o homem-caçador que, pela imitação de animais, de atos de caça ou luta, de
ganhava poder sobre o animal, possuindo-o magicamente. forças da natureza, iria se estabelecer uma ligação com as
Era o máximo do conhecimento do homem daquela época misteriosas forças que dominavam o pensamento desses
e auxiliava-o em sua luta pela sobrevivência. grupos e que dominavam o homem pré-histórico.

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A arte reflete a vida
O estilo megalítico na Europa:
Artes

Músicos gregos participando da Comédia Nova Grega.


Templo em Hagar Qim, Malta.

Estudando as civilizações antigas, como a egípcia,


a grega e, mais precisamente, suas celebrações, vemos
rituais que se constituíam de representações de animais e
seres ancestrais, de deuses ligados às estações do ano, às
épocas de secas e de chuva da noite e do dia e a outros
acontecimentos para eles inexplicáveis.
O teatro grego destaca-se como a melhor fonte de
estudos para isso. Nele, vemos claramente a transformação
dos rituais de celebração ao deus Baco em representações
teatrais que, no decorrer do tempo, deixariam sua função
sacra para se tornarem profanas.
O homem, em decorrência de um maior crescimento
populacional, abandona sua maneira de viver, torna-se mais Vista aérea do Stonehenge.
sedentário, começa a criar animais, desenvolve a agricultura
e o artesanato. Suas manifestações artísticas mais marcantes Os mais famosos desses monumentos são os de Car-
dessa época são: construções palafíticas e monumentos nac, na França, e Stonehenge, na Inglaterra. Tinham função
megalíticos. religiosa ou astrológica, segundo alguns historiadores.
Construções palafíticas são habitações rústicas de A pintura desse “final” da pré-história torna-se mais
madeira, reunidas em verdadeiras cidades erguidas sobre decorativa, e do realismo figurativo tende à simplificação e
pilotis, estacas resistentes e profundamente enterradas no à geometrização.
fundo de lagos ou às margens de rios.
A arte aproxima-se de formas mais abstratas, mas
Monumentos megalíticos são enormes construções de
isso veremos adiante.
pedra, toscamente lavradas e recebem as denominações de:
• menir – grandes blocos de pedra erguidos verti- O que devemos dizer, como encerramento dessa
calmente; aula, é que, estudando a “infância” do homem por meio de
• alinhamento – menires enfileirados regularmente; suas manifestações artísticas, podemos constatar o tipo de
• crontiques – menires dispostos em círculos; vida do homem da época pré-histórica, suas crenças, a fau-
• dolmens – formados de duas pedras verticais na, a flora e muitos outros fatores pelos quais hoje sabemos
sustentando uma pedra horizontal. que tais manifestações existiram em nosso passado.

01. Colagem coletiva.


Materiais
• Sucata em geral e materiais diversos: papel de vários tipos e tamanho, cola, tesoura, fita adesiva, algodão, fios e
barbantes, tampinhas de garrafa, cortiça, isopor, macarrão, botões e outros.

Instruções
• Apresentar os materiais numa caixa, explicando aos grupos que deverão montar uma paisagem, de forma
coletiva.
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A arte reflete a vida
• Terminada a tarefa, os participantes debaterão a respeito dessa experiência: o que foi fácil, o que foi difícil, que
nota dariam a sua “obra de arte” etc. O professor deverá conscientizá-los de que acabaram de fazer um trabalho

Artes
artístico.
• Os grupos não deverão ter mais do que dez participantes. Se o número de alunos em sala ultrapassar esse
número, deve dividi-los em subgrupos. Exemplo: três grupos de dez componentes.
• Duração de 30 a 45 minutos em média.

02. Atividades para casa.


• Procurar em sua casa elementos relacionados à arte (exemplo: embalagens, fotografias em revistas ou jornais,
pedras, ramos de árvores, folhas, e outros mais) e apresentar aos colegas na sala de aula seguinte.

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A arte reflete a vida
Artes

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A arte – um espelho do passado, presente e futuro

A arte – um espelho do passado,

Artes
presente e futuro
A maneira de o homem exprimir-se nos revela muito o mundo externo. E a chegada do astronauta ao objetivo
do mundo em que vive, de sua vida, de suas crenças, de fecha um ciclo de sua história (tanto da história individual
seus medos e desejos, mas ainda fica uma pergunta: quanto da história do homem, pois o filme objetiva princi-
– Arte é isso? Um simples registro histórico, nada palmente falar da evolução humana) e o lança rumo a uma
mais? nova jornada num renascimento.
E podemos responder de imediato. Voltemos ao filme, pois este explica melhor o que
– Não, não é apenas isso. É muito mais, e para que procuramos dizer.
melhor entendamos o alcance que tem, o que expressa Um feto resplandecente nos olha e, como num es-
uma obra de arte, vamos falar e explicar o que vem a ser pelho, mostra-nos as portas do futuro, de um novo mundo
essa faceta do comportamento humano, que é o fazer que se vislumbra. A história não termina. Determina que
artístico. seguiremos sempre em frente, e essa mesma história se
E com esse objetivo em mente, vamos dar mais um pas- desenvolve rumo a um futuro que será o que fizermos
so nesta caminhada, comentando um trecho de um filme. dele: bom ou ruim.
O filme é 2001 – Uma Odisséia no Espaço. Por que 2001 fala da caminhada do homem e de que essa
escolhemos esse filme e, mais precisamente, por que este caminhada tem rotas paralelas – o mundo externo e o
trecho do filme? mundo interno.
Estas cenas acontecem no início do filme. E esses mundos são os campos de abrangência da arte.
Esse filme fala do futuro da humanidade, da conquista O filme 2001 é uma obra de arte e,assim sendo,
do espaço pelo homem. Mas o importante é que esse “es- é produzido ao mesmo tempo em que fala desses dois
paço” tem um duplo sentido: fala de um espaço exterior, o mundos.
universo físico como o conhecemos; e do espaço interior, Vamos ver um novo exemplo de obra de arte.
o universo desconhecido que constitui nosso interior,
nosso espaço psíquico, sendo este último um universo tão
grandioso e tão misterioso quanto o espaço físico que nos
envolve exteriormente.
A história do filme é simples: num futuro que não se
encontra muito distante, cientistas descobrem sinais de rádio
que partem do planeta Júpiter. Um grupo de astronautas é
então enviado, em uma nave sob o comando de um fabu-
loso computador de nome Hall, para investigar a origem
desses sinais. Durante a viagem, acontece um problema
no computador, originando, entre Hall e os astronautas,
uma espécie de luta pelo controle da nave. Depois de uma
série de acontecimentos, o único astronauta sobrevivente
consegue desligar o computador e chega sozinho ao ponto
de origem dos misteriosos sinais de rádio. Então, uma série
de imagens visualmente fantásticas se sucede, imagens estas
que falam do mundo “interno” (psíquico) do astronauta.
Reforçamos que 2001 é uma viagem. Uma viagem ao
Este é um quadro de Guignard denominado Noite de São João.
desconhecido. E esse desconhecido tem um duplo signifi-
cado. Ao mesmo tempo em que retrata uma viagem nesse Igrejas, montanhas, luzes, balões misturam-se criando
universo físico, material, que conhecemos de certa maneira, um clima onírico e de encantamento. Observem mais um
porque, na verdade, muito pouco ainda dele conhecemos, pouco e sintam o que lhes desperta esse quadro.
é também uma jornada para o universo interno que nos leva A arte tem essa fantástica capacidade de acoplar vários
a pensar, a agir, enfim, a ser o que somos de acordo com fatores, criando um mundo próprio, transmitindo um gran-
nossas características individuais, as quais, também, muito de número de informações e sensações, numa revelação
pouco conhecemos. quase instantânea.
E, como já dissemos anteriormente, a viagem termina A primeira parte do filme 2001, aquela em que o osso/
de uma forma misteriosa, em que o mundo interno substitui instrumento é lançado ao alto e se transforma em uma nave
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A arte – um espelho do passado, presente e futuro
espacial, mostra de uma maneira magnífica essa capacidade
Artes

sintetizadora, pois, na ascensão e transformação do osso,


Stanley Kubrick (o diretor do filme) abrange toda a odisséia
sensação de movimento. equilíbrio e altura.
humana, que vai da pré-história ao futuro.
Mas como faz isso?
Como se elabora uma obra de arte?
Do que e como ela é feita?
movimento desorganizado. movimento.
Para responder a essas perguntas, vamos novamente
voltar às artes plásticas tradicionais.
Se perguntarmos de quantos elementos se constitui a
linguagem visual (um quadro por exemplo), teríamos uma
calma, largura. profundidade.
resposta surpreendente.
São apenas cinco: Mas o ponto continua viajando, e veja o que pode
• a linha; surgir.
• a superfície; Pode surgir isto:
• o volume;
• a luz;
• a cor.
Tais são os elementos que a constituem e, mesmo
estando todos eles reunidos, nem sempre ela acontece.
Vamos agora tentar simplificar e explicar os elementos
acima relacionados, principiando pela linha, ou melhor,
pelo ponto.
Ou isto, se quem o fez viajar foi Picasso:
Assim como o osso de nosso filme fez toda uma
trajetória desenvolvimentista, o nosso ponto também pode
fazer o mesmo.
Podemos começar assim:
— ... e no princípio existia apenas um ponto...

e então o ponto movimentou-se e deu origem à linha

e a linha tomou formas e posições diferentes:

formas. posições.

As linhas não têm apenas um lado palpável, elas tam-


bém expressam sentimentos ou produzem sensações.

Quando fez esses desenhos, Picasso queria dar uma


expressão de dor às figuras. Para isso, fez muitas tentativas até
conseguir um resultado que considerou ideal, mesmo que
para isso tenha “deformado” bastante o que representava.
Olhando este desenho, logo pensamos: é, realmente,
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A arte – um espelho do passado, presente e futuro
não sou um artista e jamais virei a ser. É impossível, para
mim, fazer algo semelhante a isto:

Artes
Paul Klee.

Van Gogh.

Steinberg.

Realmente, não é fácil, principalmente porque estamos diante de obras de alguns dos maiores artistas conhe-
cidos. E digo conhecidos, porque provavelmente muitos artistas desconhecidos viveram e vivem entre nós. E se
você for um deles? Que tal revelar-se? Tente! Você não tem nada a perder. Van Gogh, Paul Klee, Steinberg, Picasso
um dia também deram o primeiro passo, fizeram pela primeira vez um rabisco, sem saber que esse simples ato os
levaria – depois de muitas falhas, muito estudo e muito trabalho – a serem renomados artistas.
Tudo de que precisamos e que devemos fazer é dar este primeiro passo: fazer o primeiro risco e mergulhar
neste mundo desconhecido que é uma folha de papel em branco. Vamos fazer como o homem/macaco ou macaco/
homem do filme e lançar o osso.
Para facilitar esses primeiros passos, apresentaremos a seguir algumas atividades.

Primeira atividade
• Pedir para que cada aluno faça, numa folha de papel, dois ou três riscos.
• Pedir que os alunos troquem essas folhas de papel com seus colegas do lado.
• Com a folha que recebeu do colega, o aluno deverá compor um desenho, a partir das linhas desenhadas na
folha.
• Comentar a experiência.

Segunda atividade
• Mostrar para os alunos um desenho.
• O desenho deverá estar de cabeça para baixo.
• Pedir para os alunos que observem o desenho durante um minuto, percebendo todas as suas linhas.
• Pedir aos alunos que reproduzam o desenho, começando por cima e copiando linha por linha, passando de uma
para outra que estiver mais próxima.

Atividade para casa


• Escolha um objeto e coloque-o sobre a mesa.
• Fixe sua folha de papel sobre a mesa.
• Observe atentamente o objeto, procurando perceber o máximo possível as linhas do seu contorno.
• Desenhe as linhas que você percebeu; olhe somente para o objeto.
• Desenhe somente o que vê e não o que sabe sobre o objeto.

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A arte – um espelho do passado, presente e futuro
• Não se preocupe se o desenho não corresponder à realidade; o importante neste exercício é a percepção dos
Artes

contornos (linhas).
• Acentuar que não se deve pensar no nome da “coisa” que está sendo desenhada, pensar apenas que são
linhas.
• Comentar a experiência.

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Grécia e Roma – a arte clássica

Grécia e Roma – a arte clássica

Artes
Vamos agora dar um grande salto no tempo e sair da
pré-história para pousar na Grécia, algumas centenas de
anos antes da era cristã.
A história grega é dividida em três períodos – o ar-
caico, que abrange os séculos XII a VI a.C.; o clássico, os
séculos VI, V e IV a.C., e o helênico, 323 a.C. a 30 a.C.
A civilização grega viveu um extraordinário grau
de criação artística e intelectual. Os séculos V e VI a.C.
(época clássica) constituem a época do esplendor grego.
Definitivamente alcançando o equilíbrio entre pensamento
lógico, técnica apurada, ideal de beleza e organização,
empreendem-se as grandes obras que viriam a se tornar os Geometrismo retilíneo.
pilares da cultura ocidental. Nesse momento da história, a
arte chega a um dos clímax da nossa cultura. A arquitetura
e a escultura atingem ápices até hoje difíceis de serem
alcançados. A literatura se concretiza, e o teatro explode
numa genialidade inigualável.
Afastando-se de seu período arcaico, surgiria, nesse
canto da terra, a arte ocidental propriamente dita. Manifes-
tam-se, nela, três influências: o espírito dinâmico com linhas
curvas, vindo da cultura crético-mecênica; o geometrismo
retilíneo de origem ariana e o realismo convencional dos
povos orientais.
A convergência dessas influências sobre a Grécia
modela uma raça que aprende um novo modo de viver
em cidades (pólis), nas quais o homem tem o interesse
voltado para si mesmo, desliga-se do culto a deuses terríveis
(humaniza essas diversidades) e tem como meta alcançar a
beleza por meio do apolíneo.

Escultura grega.

A arquitetura grega é estática, isto é, baseada no prin-


cípio construtivo de peso e sustentação e dominada pelo
horizontalismo. Seu melhor exemplo é o templo.

Crético-mecênica. Pártenon, em Atenas.

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Grécia e Roma – a arte clássica
A escultura, em suas manifestações máximas, adquire também por ter levantado questões universais.
Artes

um caráter realista – sobretudo nos retratos – e vivo senti- Vamos, então, falar do teatro.
mento dramático. Os escultores tornam-se penetrantes psi- De início, devemos dizer que o teatro não é uma
cólogos e captam com vigor expresso o caráter humano. invenção grega. Ele é uma manifestação artística presente na
cultura de muitos povos e desenvolveu-se espontaneamente
em diferentes civilizações. Na China e na Índia, existem
registros milenares de textos teatrais. Mas é do Egito que
chegam as primeiras notícias de representações dramáti-
cas. Essas representações tiveram origem religiosa, sendo
destinadas a exaltar as principais divindades da mitologia
egípcia. isso se deu 3000 a.C.! E foi o teatro egípcio que mais
influenciou o grego. foi na Grécia que essa manifestação
artística teve desenvolvimento admirável.

Escultura grega.

Da pintura grega, no entanto, não restaram obras


originais, o que nos ficou, como registro, foi a decoração
de vasos.

Quanto à literatura, conhecemos duas obras: a Ilíada Teatro grego

e a Odisséia, ambas atribuídas a Homero, um lendário A influência do teatro grego na cultura ocidental é
poeta. avassaladora e extremamente atual. Isso se deve, sem dúvi-
Na atualidade, duvida-se da existência desse poeta e da, à genialidade de seus dramaturgos, mesmo que poucas
supõe-se que esses textos sejam obras de vários autores obras tenham chegado até nossos tempos.
que viveram nos séculos VIII e VII a.C. Esses autores teatrais foram:
• Ésquilo – Prometeu Acorrentado, As suplicantes, e
outras mais;
• Sófocles – Édipo, Electra, Antígona;
• Eurípedes – As Troianas, Medéia, Orestes;
• Aristófanes – As rãs, As Neuras, Lisístratas.
Suas obras eram apresentadas em teatros construídos
ao ar livre, com capacidade para centenas de pessoas aco-
modadas em assentos dispostos em semicírculo, que iam
se elevando à medida que se distanciavam da plataforma
(palco) onde os atores declamavam.
Ésquilo, Sófocles e Eurípedes são chamados de
Homero. autores de tragédias (apesar de existirem indícios de que
também escreveram peças de caráter satírico).
Mas, nesta aula, vamos nos deter ao teatro. Não que
O que caracterizava a tragédia era sua linguagem
as outras manifestações artísticas desse admirável povo
sejam menos significativas, mas não queremos nos prender elevada, evidenciando a luta do homem contra a fatalidade
apenas às chamadas artes visuais (pintura, escultura etc.), ou destino. Exaltavam a nobreza de sentimentos, a virtude,
e sim tentar abranger o maior número de manifestações sua moralidade, a aceitação (submissão) da morte, suas
artísticas. Outro motivo que também justifica esse enfoque preocupações éticas. “A finalidade da tragédia era emocio-
mais acentuado no teatro deve-se ao fato de o teatro gre- nar, comover, provocar lágrimas, levar o espectador a se
go ter atingido níveis de qualidade insuperáveis até hoje e identificar com o herói (protagonista) e com a causa por ele
sustentada, enobrecendo-se ou purificando-se”; ou seja,
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Grécia e Roma – a arte clássica
levá-lo a uma catarse. Ele é aquela pessoa que comunica um texto ao público. Faz
Já a comédia objetivava uma nova reação – rir de si isso por meio da expressão – expressão pela voz, pelos

Artes
mesmo. Se na tragédia exaltava-se a nobreza de sentimen- movimentos e pela sensibilidade.
tos, na comédia “satirizavam-se os excessos, a dissipação, a O ator é como um instrumento e, portanto, “tem
falsidade, o embuste, os sentimentos mesquinhos”. “Riam que ser afinado para comunicar o melhor possível” o texto
disso, diziam eles, e riam de si mesmos”, e procuravam que foi escrito pelo autor.
aprender alguma coisa com isso, mostravam uma função O autor, podemos então deduzir do dito acima, é
didática – procuravam ensinar algo ao público que assistia quem escreve a história que será transmitida ao público
aos espetáculos. pelo ator. A essas histórias escritas para serem “contadas”
E como é o “fazer teatro”? no teatro, damos o nome de peça de teatro, e o lugar onde
Vamos lá. se passam chama-se palco.
Você já viu uma criancinha dar tchau? Ou uma me-
Assim, para que o teatro aconteça é “...preciso uma
nina vestindo as roupas da mãe, admirando-se diante do
história, um (ou alguns) ator (atores) para representar e
espelho?
um palco”.
Isso é teatro, ou, pelo menos, o embrião do que
E, dessa forma, surge um novo elemento que constitui
se convenciona chamar teatro. Teatro, então, é imitação?
o teatro – o palco, que pode ser como aquele que vemos
– devem estar pensando vocês. É Teatro é imitação, mas
também é muito, muito mais. num teatro, ou apenas um tablado, ou uma simples sala
Vamos aprender um pouco mais sobre ele. que permita a representação.
Primeiramente, o mais importante no teatro é o ator. Resumindo, diríamos, por enquanto, que teatro é

uma história representada por atores num palco.

Dramatização
• dividir o grupo em subgrupos.
• Valendo-se de um sorteio, cada grupo recebe uma história que terá que dramatizar.
• história 1 – o fantasma num quarto escuro: meninas brincando de fantasma. No meio da brincadeira, ouve-
se um barulho vindo de fora. O medo torna-se real. Tomam coragem e se escondem. Entra um ladrão e
começa a roubar. Os meninos observam e resolvem gozar do ladrão – fazem barulho, aparecem vestidos de
fantasmas, e o ladrão se apavora e foge.
• história 2 – a pescaria: pessoas saem de barco para pescar. Arma-se uma tempestade, os pescadores tentam
remar para a praia (mímica de pescaria, mímica de remar). Ansiedade. Reação segundo o temperamento de
cada um. O mais corajoso pede calma, outro reza, outro chora etc. Finalmente, vêem ao longe um barco
que se aproxima para salvá-los. Alegria.
• história 3 – o espantalho: toda noite um ladrão roubava a plantação da família. Os meninos resolvem
descobrir quem é. Colocam-se no lugar dos espantalhos. Quando o ladrão chega, começam a fazer barulho
e, fantasiados de espantalho, agarram-se entre si, o que amedronta o ladrão, que acaba sendo preso pelos
meninos.
• história 4 – o milagre: um casal não tinha tempo de arrumar a casa. Os filhos, fingindo-se de fadas, resol-
vem arrumar tudo durante a noite. Quando os pais acordam, não sabem quem trabalhou e acham que é
um milagre. No dia seguinte, a mesma coisa. Na terceira vez, os pais resolvem ficar de vigília para ver quem
eram os anjos que os ajudavam. Quando descobrem que eram seus filhos, ficam muito alegres.
• outras histórias podem ser criadas pelos grupos.
• comentar sobre a experiência.

19
Grécia e Roma – a arte clássica
Artes

20
A religião domina o mundo ocidental

A religião domina

Artes
o mundo ocidental
Idade Média arte um eficaz instrumento da fé. A verdade propagada por
O fim do Império Romano do Ocidente ocorreu com Cristo era a verdade absoluta e não devia ser questionada
a invasão das terras pertencentes a Roma pelos chamados – diziam os religiosos da época. E impunham uma total
submissão a esses princípios. Não se podia discutir a verdade
bárbaros ou povos germânicos. As diversas raças que o
estabelecida pela Igreja; o que se devia fazer era conservar
constituíam espalharam-se por toda a Europa, criando mui-
esses ensinamentos tornando-os sagrados.
tos reinos com características próprias e que viriam, muitos
Apenas a manifestação da santidade passou a ser
deles, a se transformar nos atuais países europeus.
valorizada: o lado divino do ser humano. O nu, tão privile-
Uma nova maneira de viver organizou-se na Europa.
giado na arte grega, foi desprezado e as figuras, deformadas,
Nasceram as cidades e nelas surgiram o que se chamou de
enrijecidas, para melhor expressar uma espécie de transe
confraria de artesãos (um conjunto de profissionais de uma
religioso.
mesma área – por exemplo, marceneiros, pintores, ferreiros
O cristianismo foi marcado pela transcendência. E por
e outros mais) organizados com o objetivo de melhor se
transcendência podemos entender o desejo de alcançar o
fortalecerem em suas profissões.
céu. Isso levou a arte medieval a se distanciar do realismo
Nasceram as primeiras universidades e com elas uma
grego, em que a forma humana era extremamente valori-
maior expansão do ensino. zada. Como podemos ver nas imagens a seguir:
Os muçulmanos dominaram o Mare Nostrum (Mar
Mediterrâneo) que se tornou, assim, um mar proibido aos
navios europeus. Foi o fim do comércio mediterrâneo e o
fim também da civilização greco-romana. Na verdade, as
invasões bárbaras já haviam destruído o poder político de
Roma. Mas, com a dominação do Mar Mediterrâneo pelos
muçulmanos, os habitantes da Europa Ocidental foram
obrigados a procurar novas maneiras de sobrevivência,
voltando-se então para o campo. Naquele mundo rural
que surgiu, cada unidade, castelo ou mosteiro tratou de
bastar-se a si mesmo, de ter uma existência econômica
própria – lavrar seus campos, tecer seus tecidos, costurar
seus sapatos, enfim, realizar cada qual todas as atividades
necessárias capazes de lhes garantir a independência.
Nesse mundo, a justiça era aplicada pelos, senhores
Arte medieval.
feudais, e a esse regime político-econômico deu-se o nome
de feudalismo.
Esse mundo fragmentado tinha apenas uma organi-
zação, cuja estrutura nasceu em Roma e que manteve uma
precária unidade: a Igreja Católica.
A Igreja Católica, na verdade, era, na Idade Média, a
grande força unificadora e dominante em toda a Europa.
O cristianismo foi uma religião que incorporou elementos
vindos das religiões mais primitivas, principalmente do
judaísmo: Deus único, a história do mundo, os Dez Man-
damentos, a cosmologia etc. Em meio a tudo isso, viveu
a arte antes do ano 1000. A Igreja se constituía na grande
produtora e consumidora das obras artísticas. Como uma
potência econômica, foi capaz de propiciar, numa época
de profunda decadência financeira, a produção de obras
de arte, como a construção de mosteiros e templos. No
Arte medieval.
entanto, o que a Igreja realmente ambicionava era fazer da
21
A religião domina o mundo ocidental
A fase culminante do pensamento medieval foi a
Artes

época da arte gótica (Séc. XII a XV).


O gótico expressou-se sobretudo na arquitetura
(fundamentalmente nos templos).
A pintura gótica mostrará a vida e os milagres dos
santos com narrativas de brilhante colorido.

Seis cenas da vida de Cristo.

Cenas bíblicas foram transformadas em pequenas


peças teatrais. A vida de santos e histórias de pessoas re-
compensadas com o céu ou castigadas no inferno encenadas
Interior da Basílica de São Francisco de Assis.
em praças públicas e, até mesmo, no adro das Igrejas.
Esse tipo de teatro religioso ainda se mantém nos
nossos dias, nas representações, ao ar livre, do Drama
da Paixão de Cristo, como as que acontecem em Nova
Jerusalém, no estado de Pernambuco e em Curitiba, na
Pedreira Paulo Leminski.

Palco renascentista.
Fachada da Catedral de Colônia.
No ano de 1450, o alemão Johannes Gutenberg criou
Na Idade Média, o teatro sofreu um forte declínio,
pois a Igreja Católica via-o com maus olhos e combatia-o a impressão mecânica, utilizando tipos móveis de metal,
violentamente. O teatro se manteve, durante essa época, permitindo a produção de livros de uma maneira veloz e
preservado pelos saltimbancos, que eram mais malabaris- menos complicada disseminando com maior amplitude o
tas e palhaços do que qualquer outra coisa. conhecimento.
No entanto, com o decorrer do tempo, a Igreja Essa invenção, as alterações políticas e econômicas
Católica diminuiu a perseguição às apresentações teatrais, e uma sede crescente de conhecimentos estruturaram as
e ela própria passou a utilizar o teatro como meio capaz de bases para uma fase esplendorosa do mundo europeu – o
transmitir ao povo histórias e ensinamentos religiosos. Renascimento.

22
A religião domina o mundo ocidental

Artes
Entrando em contato com o mundo interno
• o professor pede que os alunos sentem-se da maneira mais confortável possível;
• o professor pede que os alunos coloquem as mãos sobre as pernas e relaxem; sentindo que seus braços e pernas
estão relaxados;
• o professor pede que os alunos fechem os olhos e relaxem;
• o professor, em voz pausada, vai lentamente levando os alunos a um relaxamento;
• nota: nesse relaxamento, trabalha-se com todo o corpo (dos pés à cabeça), principalmente, as articulações; são
dois movimentos básicos: expansão (três vezes) e contração (três vezes) dos músculos;
• inicia-se com o pé direito; pede-se para contrair o pé e, depois, relaxá-lo, voltando à posição natural (três vezes);
em seguida, com o pé esquerdo, repete-se o mesmo processo;
• retorna-se ao pé direito e pede-se para esticá-lo (expansão) e depois relaxá-lo; repete-se o processo anterior;
• fazer o mesmo com os pés, joelhos, quadris, abdômen, tórax, braços, mãos, ombros, pescoço e cabeça;
• a partir desse momento, o professor dará as orientações (ao comando da sua voz) e cada um tentará imaginar
(tenta visualizar) cada comando:
• seu corpo começa a ficar leve...
• ...cada vez mais leve...
• ...e você começa a levitar, saindo da sala de aula (atrás do teto)...
• ...levita sobre a cidade...
• ...afastando-se dela até se aproximar de um bosque...
• ...procure ver esse bosque...
• ...veja-o com atenção – as árvores, a mata, os pássaros, os bichos, o céu, um riacho, o barulho do riacho...
• ...observe o melhor possível (dar um pequeno tempo);
• após um determinado tempo, solicitar a cada participante que se despeça desse bosque e, lentamente, o professor
deve conduzi-los ao caminho de volta (repetindo o processo de forma inversa);
• pedir a cada aluno que desenhe em uma folha de papel a paisagem que viram em sua experiência;
• deixar claro para o aluno que não deve preocupar-se com a qualidade do desenho, mas desenhar tudo o que
foi lembrado. O importante é o contato com essas imagens internas;
• comentar a experiência.

Atividades para casa


01. a partir do desenho, o aluno deve criar uma história com começo, meio e fim.

02. debater com os colegas na aula seguinte.

23
A religião domina o mundo ocidental
Artes

24
O homem volta a olhar para o homem

O homem volta a olhar

Artes
para o homem
Renascimento necessários para desenvolver uma nova forma de expressão,
estilística e graficamente diferente, tanto da cultura clássica
Por volta de 1500, a Europa sofria enormes trans-
formações: quanto da medieval, no entanto, relacionada com ambas
e delas oriunda.
• a navegação no Mediterrâneo voltava a dinamizar-
Podemos apresentar como exemplo a escultura La
se proporcionando um intercâmbio comercial e
Pietá, de Michelangelo Buonarroti (1475-1564).
cultural entre os povos que habitavam a Europa;
• a burguesia tornava-se mais participante na vida
econômica e social;
• o homem passava a ser visto de uma maneira mais
humanista e, neste processo, surgiu o conceito de
individualismo – o homem, detentor de direitos
inalienáveis, livre para trabalhar onde bem enten-
desse, para exercer com liberdade seus talentos;
• o mundo continuava a ser encarado como criação
de Deus, mas a arte já não se prendia apenas nele
ou em tudo que a ele se relacionasse, e o homem
passava a assumir uma posição privilegiada.
Essa transformação do universo medieval se proces-
sou lentamente, mas a sua grande conquista foi a revaloriza-
ção do homem e a rejeição da cultura do mundo medieval
em troca de uma preocupação com uma ciência distanciada La Pietá, de Michelangelo.
da religião e interessada em entender as causas das coisas
O tema é cristão (medieval), mas a forma como a
– por exemplo: a causa da movimentação da água e dos
obra foi feita é clássica.
ventos para se construírem melhores navios.
O poder expressivo e a beleza do corpo humano fo-
Na arte, então, o que realmente importava era criar a
ram os dois ideais que a Renascença encontrou realizados na
ilusão de um mundo imaginário que, de repente, adquiriria vida
arte clássica, pois o Renascimento surgiu quando o homem
própria. O Nascimento de Vênus é um exemplo disso.
começou a estudar e a valorizar o seu passado.

Nascimento de Vênus, de Boticelli.

Os artistas e pensadores do Renascimento voltavam


seus olhos para a cultura clássica (cultura greco-romana),
não apenas para a copiá-la, mas também refletir sobre ela
a fim de assimilá-la, retirando de ambas os conhecimentos Arte medieval.

25
O homem volta a olhar para o homem
E souberam bem distribuir a luz e as sombras, dando
Artes

mais exatidão às suas obras.


De um modo geral, os princípios estéticos do Re-
nascimento são:
• a arte, como estudo da natureza, corpo humano
e paisagens, deve ser apresentada sem disfarce;
• a pintura e a escultura são coisas do espírito e da
inteligência;
• o uso da perspectiva científica e a elaboração das
teorias matemáticas da proporção.

Arte renascentista.

Madona del Garofano, de Leonardo da Vinci.

Se, na pintura, Leonardo da Vinci é considerado o


maior nome, na escultura, o grande mestre foi Michelangelo,
cujas obras, incluindo suas pinturas, pelo vigor dos desenhos
e do volume, possuem caráter escultório.
Arte greco-romana.

A pintura, segundo alguns historiadores, foi a mani-


festação artística que mais progrediu no Renascimento. Os
pintores renascentistas ficaram famosos por suas figuras
perfeitas e pelo aperfeiçoamento da perspectiva. Leonardo
da Vinci foi um dos artistas representativos desse período.

A Úlima Ceia, de Leonardo da Vinci. O Juízo Universal: detalhe do Cristo Juiz, de Michelangelo.

26
O homem volta a olhar para o homem
As aventuras se sucedem e a condição do homem diante
das surpresas da vida é relatada de uma forma sensível e

Artes
comovente.

Davi, de Michelangelo.

Mas não foi apenas em manifestações artísticas visuais


que o Renascimento nos legou grandes obras de arte. Dom Quixote, de Cervantes..
A literatura traz nomes de grande dimensão – Dante
O terceiro deles é o dramaturgo inglês William
Alighieri, Boccaccio, Rabelais, Luís de Camões, Miguel de
Shakespeare (1564-1616).
Cervantes e Shakespeare. Segundo Arnold Hauser, Shakespeare e Cervantes,
Três deles, com o decorrer do tempo, cresceram em são os errantes de sua época. Falam de um mundo antigo
importância e significado para a cultura ocidental. que desaparecia – a Idade Média, ao mesmo tempo que
O primeiro, Luís de Camões, tem um significado revelam um novo mundo, uma nova visão de mundo se
especial para nós, brasileiros, por ser um poeta português estruturando – o mundo renascentista.
que, em sua principal obra, Os Lusíadas, narra o heroísmo Se o personagem de Cervantes, Dom Quixote, vive
das grandes aventuras portuguesas. perdido em um mundo de sonhos, de delírio, da fantasia em
O segundo, Cervantes, escreveu a obra-prima Dom choque com a realidade; os personagens de Shakespeare
Quixote, que narra as aventuras de um fidalgo espanhol. vivem grandes conflitos e fraquezas espirituais, naturais em
Dom Quixote, um homem fora do seu tempo, era fasci- qualquer pessoa e, embora não defendam nenhuma ten-
nado pelo mundo medieval. O mundo medieval ficara no dência religiosa, seus heróis sempre atingem um objetivo
passado, já não mais existia. Numa espécie de delírio, o já final, moralmente virtuoso.
idoso Dom Quixote acredita ser cavaleiro andante e sai pelas Dentre seus principais textos, podemos citar Romeu
terras da Espanha em busca da mulher amada, Dulcinéia. e Julieta, Hamlet, Otelo e A Megera Domada.

Dramatização das histórias


• Dividir os alunos em subgrupos.
• Os alunos devem relatar aos colegas do seu grupo a história que criaram.
• Os alunos, em conjunto, devem criar uma nova história tomando como base aquilo que foi apresentado nas
histórias individuais.
• Os alunos farão uma dramatização da história criada coletivamente e a apresentarão aos colegas dos outros
grupos.
• Comentar a experiência.

27
O homem volta a olhar para o homem
Artes

28
O homem descobre novos mundos

O homem descobre

Artes
novos mundos
Do Renascimento até
nossos dias
Nos últimos 500 anos, e principalmente no século
XX, o mundo passou por transformações notáveis.
O comércio marítimo expandiu-se fenomenalmente:
passou a ser realizado não apenas entre países europeus,
mas, ultrapassando distantes fronteiras, também se estabele-
ceu com países da Ásia, como a China, a Índia e o Japão.
Nos séculos XV e XVI surgiu uma nova visão de
mundo – antropocentrismo (sistema filosófico segundo o
qual o homem era o centro do universo). Nessa mesma
Ronda Noturna, de Rembrandt.
época surgiu a ciência moderna.
Toda a produção artística européia do final do século
XVI até quase metade do século XVIII abandonou as leis
reguladoras que haviam sido seguidas no Renascimento.
Enquanto os artistas renascentistas visavam à linha e
ao desenho, o barroco procurava o pictórico, as cores; os
renascentistas preferiam estudar os planos e as superfícies,
enquanto os barrocos privilegiavam a profundidade e os
volumes; os renascentistas procuravam a harmonia, e o
barroco, a emoção.
Os temas já não eram apenas religiosos. Aconteci-
mentos históricos, econômicos e sociais eram também Auto-retrato com a Esposa, Rembrandt.
focalizados. Um exemplo disso se percebe na obra de
Rembrandt, pintor holandês, que retratou com excepcional No Brasil, muitos pintores da fase barroca se des-
qualidade a burguesia mercantil, usando a técnica de luz tacaram, sendo o mais renomado o mineiro Manoel da
e sombra, procurando dar uma interpretação psicológica Costa Athaíde.
de seus modelos ou de si próprio nos seus notáveis auto- Mas é da escultura que vem o nome de um dos nos-
retratos. sos maiores artistas: Antônio Francisco Lisboa (1730–1814),
chamado de “Aleijadinho”.
O que caracterizou o século XIX foi a escola neoclás-
sica, que, em síntese, representou a tentativa de restaurar
as artes da antigüidade clássica greco-romana. O Arco do
Triunfo é um exemplo da arquitetura neoclássica.

Proporções do Corpo Humano, Leonardo da Vinci. Arco do Triunfo.

29
O homem descobre novos mundos
A partir de 1820, as escolas se sucederam rapidamen- Outras escolas vieram: o Expressionismo, o Fauvismo,
Artes

te: Romantismo, Realismo e Impressionismo. o Cubismo, entre outras.


E aqui devemos falar um pouco a respeito da última Devemos destacar o Abstracionismo. Nele, as formas
escola – o Impressionismo. e cores não possuem relação direta com as formas e cores
O Impressionismo foi o movimento mais importan- da realidade visual. Seu maior representante é Kandinsky
te e revolucionário, ocorrido na pintura ocidental, nessa (1863–1944). Abaixo, temos uma de suas obras mais fa-
época. mosas, chamada de Improvisação 26.
Para melhor entender essa escola, vejamos alguns dos
seus princípios mais importantes:
• as cores não traduzem uma realidade permanente,
elas mudam constantemente; por exemplo, o mar
muda a sua cor conforme decorre o dia – o mar
não tem a mesma cor ao amanhecer, ao entarde-
cer e ao anoitecer;
• as sombras não são pretas ou escuras, elas são
luminosas e coloridas;
• a forma dos objetos não é definida.
Como exemplo de pintura impressionista, vejamos
Ninfeas, de 1910, um quadro de Monet.
Vejam que, no quadro, água e flores convertem-se Improvisação 26, de Kandinski.

apenas em notas luminosas, em torno das quais o artista


Vejam que, nesse quadro, as formas e cores estão
cria infinitas variações tonais. Aqui, o Impressionismo é quase
abstrato. desligadas de quaisquer modelos, dispondo-se esponta-
Alguns anos antes (1905), Monet havia pintado esse mes- neamente segundo um ritmo próprio que nada tem a ver
mo lago de seu jardim. Observem a diferença. Na pintura feita com a realidade objetiva.
em 1905 existe uma melhor definição das formas e cores: Podemos dividir a arte brasileira em duas fases: a
primeira geração, de 1922 a 1950, e a segunda geração
de 1950 para cá.
Nomes de alguns artistas representativos dessa época:
na pintura, Anita Malfati, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral e
Portinari. Na literatura, Mário de Andrade, Oswald de Andra-
de, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, José Lins do Rego.
Porém, a maior característica do século XX é a di-
versidade de manifestações artísticas. Novas formas de se
expressar artisticamente surgem: a fotografia, o cinema, a
televisão, a publicidade e o design industrial.

Ninfeas – 1905, de Monet.

Ninfeas – 1910, de Monet.


30
Arte – nossa eterna companheira

Arte – nossa eterna

Artes
companheira
“Lendo” um quadro Agora vamos ver como e por que isso acontece.
O quadro retrata o próprio pintor executando uma
grande tela, e está, na pintura, de costas, ao seu lado as
meninas e acompanhantes, ao fundo uma porta aberta onde
se vê um homem. Na parede do fundo, vários quadros e
um espelho com duas figuras aparecendo entre os brilhos
do reflexo do vidro. Essa disposição dos elementos que
constituem a obra monta um contexto riquíssimo para
nós, espectadores. “O pintor está ligeiramente afastado do
quadro. O braço que segura o pincel está dobrado para a
esquerda, na direção da palheta. Essa mão está pendente
do olhar”. O olhar do auto-retratado (Velásquez) capta
quem observa a obra e daí parte o início de um diálogo
que poderia ser assim resumido:
• Quem observa a cena?
• Quem pinta?
• Quem é retratado?
É com esse artifício que Velásquez faz desaparecer
o distanciamento entre obra e observador, cria a ilusão de
que o observador é quem está sendo retratado. Nesse
As Meninas, obra em que Velásquez coloca como cenário o seu próprio estúdio no palácio momento o espectador pode pensar: o pintor está olhando
real (1656, Museu do Prado).
para fora do quadro, está olhando para mim, é a mim que
O quadro mostra a “infanta Margarida na companhia ele está pintando.
de duas damas de honra; ela visita seus pais no momento Mas se essa pessoa que observa continuar tentando
em que eles estão sendo retratados pelo artista. O pintor “ler”, entender o quadro, observará que o olhar de outras
aparece de pé, do lado esquerdo, diante de enorme tela personagens parecem também olhar para fora; olhar para
na qual se vê apenas a armação do fundo. A sala baixa quem está sendo realmente retratado. Nesse momento o
apresenta paredes em tons mornos, recobertas de quadros. observador deve quebrar essa sensação de “estar dentro”
Num espelho brilham os vultos do rei e da rainha que es- do quadro e procurar olhar racionalmente e perguntar-se
tão sendo retratados. A luz jorra de uma porta, ao fundo, novamente: quem o pintor está realmente retratando?
contrastando com a imagem negra de um oficial da côrte É esse enigma que cria toda a magia dessa obra de
e parente do pintor. Embora existam outras fontes de luz, Velásquez.
vindas das janelas à direita, a iluminação principal de toda Mas vamos observar novamente o quadro. Quem
a cena está concentrada no brilho especial que destaca a o pintor está pintando? E a resposta é simples. O pintor
figura da infanta. está pintando o rei e a rainha, que aparecem refletidos no
A análise, acima, do quadro As Meninas, feita por espelho, no fundo, e quase no centro do quadro.
Michel Foucault, revolucionou toda a visão estética das obras Esse vaivém de olhares traça no ar a linha que une
de arte. Foucault prova que Velásquez cria uma composição o quadro ao ambiente ao qual ele pertence. A obra deixa
que não se restringe apenas aos limites da pintura. Nela o de ser algo estático, como se criasse vida, movimento.
espectador não é apenas um observador; na verdade, ele “O quadro se abre para frente numa grande volta”, (diz
(o observador) é como que sugado para dentro do quadro Foucault); começa no olhar do pintor do auto-retrato, vai
– torna-se “participante” do quadro. ao espectador, leva-o ao espelho que fixa o casal real no
O quadro o envolve como um laço e “puxa-o para lugar ao lado do autor no momento em que compõe e ao
dentro de si”; ocorre uma interação entre obra e espec- lado do espectador, daí corre aos personagens cada um
tador. recebendo e devolvendo essa maravilhosa serpentina que
31
Arte – nossa eterna companheira
se remete ao espaço que atravessa o observador, volta ao – por alguns momentos somos levados ao local em que aquela
Artes

quadro e retorna novamente ao que observa. É como uma cena está acontecendo e deixamos o presente para mergulhar
serpentina que se desenrola e a tudo envolve. no passado ou o passado vem até nós e nos transporta para um
No momento em que estamos observando essa obra, novo estado de consciência. E, então, “voltamos” à realidade
vem-nos uma sensação inicial de confusão e espanto, pois o e ao presente. Nós não apenas observamos a obra, mas a
quadro, como num passe de mágica, elimina o tempo e o espaço “vivenciamos” e, com isso, nos transformamos.

Observe bem o quadro acima e responda:

01. Qual a sensação ao contemplar essa obra?


a) Tensão. e) Alegria.
b) Energia. f) Tristeza.
c) Conflito. g) Realidade.
d) Harmonia. h) Fantasia.

02. O que você acha que o artista pensou quando realizou essa obra? O que ele quis “dizer” com ela?

32
Arte – nossa eterna companheira
03. Como você se sente diante desse trabalho?

Artes

33
Arte – nossa eterna companheira
Artes

34
Na infância do homem – o nascimento da arte

Na infância do homem –

Artes
o nascimento da arte
Música • Intensidade;
• Timbre.
O que é música?
Agora, vamos voltar ao Dicionário Aurélio e ver como
Música, poderíamos dizer, é a arte dos sons, combi-
ele define cada um desses elementos.
nados de acordo com as variações da altura, proporcio-
nados segundo a sua duração e ordenados sob as leis da • Altura – “propriedade de uma onda ou vibração
estética. sonora, caracterizada pela freqüência da vibração”.
São três os elementos fundamentais de que se com- Dependendo de sua altura, o som pode ser grave
põe a música: ou agudo.
• melodia; Podemos também dizer que são essas diferenças
• ritmo; de altura que criam as notas musicais.
• harmonia. Essas notas musicais são conhecidas como Dó, Ré,
Mas, como dissemos no início, a música é a arte dos Mi, Fá, Sol, Lá, Si.
sons; assim, para melhor entendê-la, primeiro falaremos “À seqüência dessas notas damos o nome de Escala
um pouco a respeito de som. Musical, e elas são, poderíamos dizer, as letras do
O que é som? “alfabeto” musical com as quais o compositor vai
A definição de som que nos é dada pelo Dicionário criar as “palavras”, que vão compor as “palavras”
Aurélio é: que irão compor as “frases” da “história” musical
“Fenômeno acústico que consiste na propagação de que o compositor desejar criar.
ondas sonoras produzidas por um corpo que vibra em meio • Duração – consiste no espaço de tempo em que o
material elástico (especialmente o ar). Som é a sensação som acontece. Ele pode ser obviamente longo, cur-
auditiva criada por esse fenômeno.” Sempre que pensamos to ou, até mesmo, estar ausente. A essas ausências
em som, pensamos em música. de som damos o nome de pausas. A combinação
Som, entretanto, não é apenas música. A palavra é de sons e pausas damos o nome de ritmo.
som. O barulho de dois elementos sólidos se chocando é
• Densidade – “a qualidade daquilo que é denso”,
som. O vento passando por entre frestas produz som. O isto é, “que tem muita massa e peso em relação ao
eco é som. É som também o barulho do mar; o balbuciar volume”. Transpondo isso para a música, poderíamos
de um bebê; o riso e o choro produzem sons; um grito dizer que densidade é a quantidade de sons aconte-
de socorro; o arrastar de uma cadeira; a explosão de uma cendo ao mesmo momento num mesmo lugar.
bomba, tudo produz som. Tudo isso é som.
Ex.: 1. o som de uma flauta;
Mas surge uma nova pergunta: quais os elementos
que dão forma ao som? 2. o som de vários instrumentos numa bateria
Primeiro é preciso que se diga que todos os sons de escola de samba.
provêm de uma fonte que recebe o nome de fonte sonora. • Intensidade – poderíamos definir intensidade
Por exemplo: bata palmas. Isso é uma fonte sonora. Outro como o maior ou menor grau de força com
exemplo: assobie. Passe uma lixa sobre a madeira. Tudo que um som é emitido. No campo da música,
isso é fonte sonora. podemos dizer que é a maior ou a menor ampli-
Os exemplos acima, além de esclarecerem o que é tude de vibrações, que podem ser fortes, fracas,
uma fonte sonora, também trazem um novo dado: os sons dependendo da força com que acontecem. Por
têm diferenças, são variáveis em suas manifestações. E isso exemplo: o som de um trovão; o barulho suave
acontece porque as ondas sonoras, como já vimos, não são do vento nas folhas das árvores.
iguais e, por isso, produzem vibrações diferentes. • Timbre – “qualidade distinta de sons da mesma
Essas diferenças são provocadas pelos elementos altura e intensidade, e que resulta da quantidade
formadores do som. maior ou menor dos instrumentos de percussão”.
E quais são esses elementos formadores do som? Timbre, na verdade, é a marca, o selo que perso-
• Altura; naliza o som; que o caracteriza; que nos permite
• Duração; saber se ele é de um piano, de uma guitarra ou
• Densidade; de uma corneta.
35
Na infância do homem – o nascimento da arte
Falamos o tempo todo a respeito do som porque mú- É dele que o compositor faz uso para expressar, por
Artes

sica é simplesmente som (ou ausência dele). E, falando do meio de sua composição musical, aquilo que pretende
som, falamos de música, pois som é a matéria-prima de que comunicar, dizer ao ouvinte. E por meio dele que um
compositor cria uma música suave como Garota de Ipa-
é feita a música e, para entendê-la, devemos simplesmente
nema; empolgante como o Hino Nacional; alegre como
estar atentos aos sons; à sua altura; à sua densidade; à sua uma marchinha de carnaval; profunda como as sinfonias de
intensidade; ao seu timbre e à sua duração. Beethoven, e envolvente e triste como o Lago dos Cisnes.

01. O professor distribui balões vazios (bexigas) para os alunos e pede que não encham esses
balões.
02. O professor incentiva os alunos a explorarem o máximo possível o balão vazio. Esticá-lo,
cheirá-lo, sentir sua textura, procura tirar algum som do balão vazio.
03. O professor então pede que os alunos encham o balão e que voltem a explorá-lo, agora
cheio.
04. O professor pede que os alunos procurem tirar algum som do balão. Experimentar as várias
possibilidades que ele apresenta.
05. Incentivar que os alunos produzam sons graves, agudos; sons suaves e sons rápidos, ritmos
diferentes; aumentar ou diminuir a densidade do som etc.
06. Finalmente, é pedido que os alunos procurem “criar” uma única música como se formassem
uma “orquestra”.
07. Para finalizar, comentar a experiência.

36
Grécia e Roma – os fundamentos da arte ocidental

Grécia e Roma – os fundamentos

Artes
da arte ocidental
A dança 1
A dança nasceu associada às práticas mágicas do
homem. Com o desenvolvimento da civilização, o rito
separou-se da dança, configurando-se assim um campo
mais específico para essa manifestação cultural.
Como vimos em nossas primeiras aulas, o homem
primitivo pintava nas paredes das grutas, cavernas e galerias
subterrâneas cenas de caça e rituais que representavam a
caçada. Pareciam acreditar ser possível, pela representação
pictórica, alcançar determinados objetivos, como abater um
animal, por exemplo. Homem com máscara de cabeça de ave atacado por um bisonte ferido.

Nessa tentativa de conquistar magicamente a caça,


o homem primitivo não apenas pintava as paredes, mas
também criava rituais com um fundo mágico, nos quais, por
meio da imitação desses animais, de atos de caça ou de luta,
procurava estabelecer uma ligação misteriosa com as forças
da natureza e sobre elas adquirir domínio.
Desses rituais originaram-se o teatro, a música e a
dança.
Os primeiros registros dessas atividades ritualísticas
datam do paleolítico superior. Naquela época os homens
viviam em pequenos bandos isolados, cultivando um pri-
mitivo individualismo, apenas se preocupando em coletar
Caça ao Rinoceronte.
alimentos. Não há indicações de que cultuassem alguma
Na figura acima, vemos a representação de um ritual divindade ou acreditassem na vida após a morte, nem que
de caça ao rinoceronte. possuíssem um pensamento lógico. Eles eram apenas do-
Nesta outra figura, o que vemos é um homem com minados por esse pensamento mágico, rudimentar.
uma máscara de ave. O que está aí desenhado não é exa- Já no neolítico, o homem “adorava os espíritos, cul-
tamente uma figura humana e, sim, “uma figura fantasiada tuava e enterrava seus mortos. Nas cerimonias e cultos,
a dança tinha um importante papel, sendo mesmo a arte
de animal”. Podemos deduzir que o significado disso é
dominante do período; sua execução estava a cargo dos
que o homem/feiticeiro, vestido com peles de animais,
homens, principalmente dos magos e sacerdotes. Talvez já
ou máscaras que o representem, está naquele momento
fossem acompanhados por alguma música, como se depre-
incorporando o poder desse animal e, mediante a incorpo-
ende de uma ou outra pintura mural e pelo encontro, em
ração das forças dele, adquire sobre ele um domínio, um escavações, entalhados em osso, flautas e matracas, muitas
controle das suas forças. vezes também representados em tais pinturas”.
“A princípio, homens deviam dançar nus. Quando a
dança tornou-se um elemento ritual e sua execução quase
que só um privilégio de sacerdotes, eles se cobriram de
amuletos na presunção, talvez, de que assim teriam mais
forças para enfrentar os poderes sobrenaturais e a própria
natureza.”
A dança pode ser considerada a mais antiga das artes,
a mais capaz de exprimir tanto as mais fortes quanto as mais
simples emoções sem o auxílio da palavra.
A arte da dança é também profundamente simbólica,
“capaz de sugerir, ilimitadamente, imagens e associações
cheias de riqueza e de vitalidade”.
37
Grécia e Roma – os fundamentos da arte ocidental
O Dicionário Aurélio define dança como uma se-
Artes

qüência de movimentos corporais executados de maneira


ritmada, em geral ao som de música. Essa definição levaria a
um dado fundamental para se entender a dança, o ritmo.
Dança expressa movimentos e gestos, mas esses
“gestos e movimentos só obteriam um efeito mágico
ou encantatório se executados dentro de certas regras
e medidas, não necessariamente regulares ou aparen-
tes, mas que os tornassem um conjunto homogêneo e
fluente no tempo, quando tinham, enfim, sua duração
dividida em determinados intervalos, isto é, dentro de
um ritmo, fator indispensável para que essa atividade se
configurasse uma dança”.
Vimos que ritmo é uma seqüência de durações de
sons e silêncios, isto é, ritmo é um agrupamento, uma
organização, uma combinação ou junção de durações
sonoras.
Dentro da linguagem musical, ritmos são as diversas
maneiras de usar o som de que um compositor faz uso A Dança na Grécia e em Roma.
para realizar sua obra.
Dois elementos do ritmo são fundamentais para
defini-lo: o andamento e a pulsação.
Renascimento
O andamento está relacionado com a rapidez ou A dança, no Renascimento, torna-se mais complexa e
com a lentidão de uma música. A pulsação é o elemento “passa a ser executada também por pessoas ou grupos orga-
que regula uma música. Ela corresponderia às batidas do nizados, com estudos específicos, em palcos ou em outros
nosso coração. espaços adequados, sendo então conhecida como balé.
É ele que nos faz bater o pé, ou bater palmas, procu- Até o Renascimento, a dança permanecera como
rando fazer o acompanhamento de determinada música. uma atividade lúdica executada por pares ou grupos entre
Na dança, o ritmo pode ser externo ou interno. O nobres, aldeões e plebeus.
ritmo de origem externa é aquele que provém da música Se até essa época a dança era algo improvisado, a
ou de sons que chegam até o dançarino. O ritmo interno é
partir desse momento da história, tal divertimento adquire
aquele que provém do mundo interior (psíquico e biológico)
uma forma mais disciplinada. Começam-se a anotar os
do dançarino. Acompanhar os batimentos cardíacos pode
ser um exemplo desse tipo de ritmo. passos das danças, para que sejam codificados e criado um
Com o passar do tempo, assim como a música e o repertório de movimentos estilizados.
teatro, a dança vai se distanciando do aspecto mágico ou É nesse período que começa a ser usado o termo
religioso. Vai tornando-se mais complexa e tomando forma balé, na época, balleto, significando um conjunto de ritmos e
diferenciada, típica dos variados grupos sociais dos quais passos, a partir dos quais muitos outros se seguiriam. Graças
se origina. Por exemplo, a dança na Grécia é diferente da a essa ordenação e codificação de movimentos da dança,
que é executada na China. Grupos sociais diferentes criam tornou-se possível estudar separadamente os seus passos,
diferentes maneiras de se expressar artisticamente, quer de acordo com a criatividade do coreógrafo.
seja na música, no teatro ou na dança. Estavam, enfim, abertas as portas para a organização,
Na Grécia, a dança originou-se de rituais religiosos. desenvolvimento e crescimento da dança em qualidade.
Acreditavam os gregos no poder mágico da dança. Os vários No século XVI, o balleto era a grande moda na Itália e, a
deuses gregos eram cultuados de diferentes maneiras e seguir, na França.
deles a música era parte fundamental. Importante no teatro,
Nessa época, na comemoração do casamento de
a dança nele se manifestava por meio do coro.
uma irmã da rainha Catarina, as damas da corte, até então
Em Roma, a dança nunca foi privilegiada. Na verdade,
excluídas das danças, tomaram parte, constituindo o que
em Roma, a dança entra em total decadência. Só no Renas-
pode ser considerado como o primeiro corpo de baile.
cimento ela recupera suas qualidades e sua importância.

38
Grécia e Roma – os fundamentos da arte ocidental
Nessa época, também, Beaujoyesusc (o mais im- O uso da pantomima no balé veio trazer o que faltava
portante homem de balé da corte de Carlos IX) une os a ele: um sentido ao enredo, tornado dramático, além da

Artes
elementos tradicionais de espetáculos italianos com elemen- beleza dos cenários, dos figurinos. Explicando melhor, po-
tos teatrais, criando um gênero novo em que se incluem demos dizer que, com a pantomima, o balé pôde “contar”
a dança, a mímica, a declamação, o canto, a cenografia e a uma história com começo, meio e fim.
cenotécnica a que chamou de ballet comique de la reine. No entanto, a revolução do balé só se completaria no
O século XVII é considerado o grande século do balé. final do século XVIII, com o surgimento do Romantismo.
O balé sai dos salões dos castelos e transfere-se para os O Romantismo procurou recuperar a harmonia entre o
palcos. Essa mudança provoca transformações na maneira homem e o mundo. Sendo absorvido pelo balé, o termo
de apresentar-se, criando uma nova coreografia. Romantismo, que até aquela época falava de histórias de fa-
No século XVIII, a dança readquire todo o seu das, bruxas, ou feiticeiras, adquire um caráter mais amplo.
É nessa época, também, que se começam a usar as
esplendor, sendo executada nos palcos dos teatros por
sapatilhas.
verdadeiros profissionais de ambos os sexos e uma ver-
A decadência do balé romântico acentua-se no co-
dadeira revolução acontece. Surge uma fórmula nova, o
meço da segunda metade do século XIX, quando, então,
drama – balé – pantomima.
uma mulher iria novamente revolucionar toda a dança. Seu
Antes de continuar, façamos uma breve interrupção nome: Isadora Ducan.
para procurar entender o que é coreografia pantomima. E ela, Isadora, faz principalmente uma grande renova-
Pantomima pode ser definida como a arte ou ato de ção na dança; até então ninguém dançara na ponta dos pés
expressar-se por meio de gestos, ou seja, qualquer peça no balé, por que não dançar assim: mais livre, mais solta,
teatral de qualquer gênero, em que o ator ou atores se mais como a vida é? E a partir desse pensamento, criara-se
manifestam simplesmente por gestos, expressões corporais um novo tipo de dança, sem as cadeias que a aprisionavam
ou fisionômicas, sem o uso da palavra. até aquela época.
Agora vejamos o que é coreografia. Coreografia é a No início do século XX, o grande revolucionário da dança
arte de compor bailados. É a arte de anotar, sobre o papel, foi o russo, Serge Pavlovitch Diaglhilev, que, mesmo não vendo
os passos e as regras do bailado. São os gestos, os movi- um dançarino, criou as condições míticas, como Nijinski.
mentos, a localização no palco que o coreógrafo deseja que Nos Estados Unidos, na década de cinqüenta, Martha
sejam executados pelo dançarino. Grahan cria uma nova maneira de dançar; uma forma de dan-
Voltemos agora a falar a respeito do desenvolvimento çar independente da música, baseando-se principalmente nos
da arte da dança que interrompemos anteriormente. sentimentos que qualquer som consegue provocar. E com isso
Martha abre espaço para todas as possibilidades de danças.

01. O professor pede que os alunos relaxem.


02. O professor coloca uma música tranqüila e envolvente.
03. O professor pede para que os alunos deixem-se levar pela música e que à medida que se sintam
levados por ela comecem a movimentar-se.
04. O professor pede, finalmente, que se levantem e soltem-se com a música.
05. No final – discutir a respeito de tudo que foi vivenciado.

39
Grécia e Roma – os fundamentos da arte ocidental
Artes

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Idade Média – sob o domínio do Cristianismo

Idade Média – sob o domínio

Artes
do Cristianismo
Cinema 1 e o bandido, criaria novos mundos no fundo dos mares,
em desertos e nas estrelas. Em épocas passadas e futuras,
Falaremos um pouco a respeito do cinema e, para
contaria histórias alegres e tristes, mostraria o homem
isso, vamos inicialmente procurar imitá-lo.
no seu cotidiano e seus mundos de fantasia, mostraria a
Tentemos visualizar estas cenas:
realidade e o sonho.
Noite de inverno em Paris; mais precisamente, o
A sétima arte nascia. A arte que viria representar
Natal já ficou para trás e faltam ainda alguns dias para o ano
soberbamente o século XX e que só nele poderia ter
terminar; estamos no dia 28 de dezembro de 1895.
acontecido, pois para que ele (o cinema) fosse possível, a
É sábado e as ruas estão repletas de pessoas. As co-
humanidade já deveria encontrar-se inserida em um sistema
memorações das festas de fim de ano criam um clima festivo
industrial com suas incríveis invenções, como a eletricidade,
e, apesar do frio da noite invernal, em meio às músicas, às
a fotografia, a persistência retiniana etc.
luzes e à alegre movimentação, num porão escuro do Gran
Hoje, gravada numa pedra, no número 14 da rua dos
Café, algo inusitado, quase misterioso acontece: em uma
Capucinos em Paris, uma inscrição eterniza aquela noite.
sala escura, um pequeno grupo de pessoas olha hipnotizado
Nela está escrito: “Aqui, em 28 de dezembro de 1895,
para uma grande tela branca.
tiveram lugar as primeiras projeções públicas de fotografia
Na verdade, a tela aos poucos deixa de ser branca,
animada com auxílio de cinematógrafo, aparelho inventado
pois nela surgem imagens de pessoas saindo de uma fábrica.
pelos irmãos Lumière”.
Logo depois, outra cena cria um verdadeiro alvoroço na
Naquela data ficou estabelecido o nascimento do
sala: um trem avança em direção à platéia. Algumas pessoas
cinema e seus criadores foram os irmãos Auguste e Louis
chegam a pular de suas cadeiras, assustadas, criando um
Lumière; no entanto, para chegar até esse momento, toda
princípio de tumulto. No entanto, o trem passa e tudo conti-
uma história aconteceu. E a história do nascimento do
nua como antes; esse foi o primeiro susto que essa invenção
cinema é, resumidamente, esta:
provocou no público que assistiu à apresentação.
Século XVIII, reinado de Luis XIV, o mundo tem
Nessa noite, e com esse “susto”, nascia o cinema,
notícia do embrião do cinema: a lanterna mágica.
e daí em diante faria nascer um novo mundo. O homem
inventara o cinema e este inventaria o mocinho, a mocinha

Lanterna mágica.

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Idade Média – sob o domínio do Cristianismo
Lanterna mágica
Artes

Um artefato projetou imagens, como mostra as figuras acima.


Outro passo importante foi dado com a invenção do fenacistoscópio: “aparelho constituído de dois discos de papelão;
num deles estão desenhadas as diferentes fases de um mesmo movimento, o outro tem fendas distribuídas de maneira
tão regular quanto as imagens se distribuem. Fazendo girar os dois discos, tem-se a impressão de ver o movimento
acontecer e repetir-se”.
Para melhor esclarecer, observem-se as figuras abaixo:

Um fenacistoscópio.

Logo a seguir, o terceiro passo seria dado com a invenção do teatro óptico, por Emile Reynald.
Na verdade, o teatro óptico apresentou-se como um aperfeiçoamento de uma outra descoberta sua – o praxinoscópio.

Praxinoscópio.

Teatro óptico.

42
Idade Média – sob o domínio do Cristianismo
O que diferenciou o Teatro Óptico de todas as invenções anteriores e que o aproximou do cinema foram as imagens
projetadas numa tela transparente ou numa parede branca.

Artes
No final do século XIX, várias descobertas se sucederam, facilitando o nascimento do cinema. A eletricidade e a
fotografia destacaram-se como duas dessas descobertas, facilitadoras da criação do cinematographe (cinematógrafo): um
aparelho capaz de projetar numa tela imagens em movimento, por meio de uma seqüência de fotografias.

Entrada do filme

Obturador

Guia do suporte de Câmera triangular


garras
Suporte de garras

Saída do filme
Cinematógrafo.

E assim, chegamos àquela noite de inverno de 28 de dezembro de 1895.


Após aquela sessão, outras apresentações se sucederam, sempre cheias. Os irmãos Lumière levaram sua invenção
para toda a França, e, logo depois, para outros países, inclusive para os Estados Unidos. E foi nos Estados Unidos que a
nova invenção tornou-se uma indústria gigantesca.
No século XX, o cinema espalhou-se por todos os países; novas tecnologias surgiram e a qualidade dos filmes cresceu
espantosamente. A capacidade de recriar a realidade foi se tornando cada vez maior e o desejo do homem de conhecer
o mundo e conhecer-se recebeu um fantástico reforço com essa nova maneira de ele expressar-se artisticamente.
Falamos um pouco a respeito dos primórdios do cinema, mas agora devemos fazer novas perguntas:
– Afinal de contas, o que é cinema? O que o diferencia das outras formas de expressão artística? Qual a sua real
importância?
A essas perguntas daremos resposta na próxima aula.

43
Idade Média – sob o domínio do Cristianismo
Artes

44
O renascimento – o homem como o centro do universo

O renascimento – o homem

Artes
como o centro do universo
Cinema II No início da aula anterior, fizemos a descrição de um
fato: a noite em que foi feita pela primeira vez a exibição de
Vamos iniciar esta aula com uma pergunta: o que é um filme para um público. Vamos retornar até lá e transfor-
um filme?
mar tal descrição em um roteiro.
O Dicionário Aurélio nos dá a seguinte definição: é
Syd Freld, famoso consultor de roteiro, esclarece me-
uma “seqüência de imagens e/ou de cenas, em movimento
lhor em que consiste um roteiro cinematográfico. Diz ele:
ou não, registradas em filme por uma câmera cinematográ- “O roteiro tem uma forma original; não é um romance nem peça
fica, para projeção posterior em tela, depois de revelada de teatro, mas combina elementos contidos em ambos. Um roteiro
consiste em uma história contada por meio de imagens, com diálogos e
a película. descrições localizadas dentro do contexto da estrutura dramática”.
Outra definição de filme poderia ser: uma história E continua, agora a respeito de estrutura.
contada por meio de imagens em movimento projetadas “A estrutura é o fundamento de todo roteiro – é a espinha, o esqueleto
em uma tela. que ‘mantém’ tudo coeso. A estrutura de roteiro é como um mapa
rodoviário do deserto, que mostra todas as informações de que o
Essa definição levanta uma questão: filme é sempre viajante necessita para enfrentar a jornada. É tanto um guia como um
uma história contada? apoio[...]”.
A resposta é não, um filme não é necessariamente E agora vamos à tarefa de transformar um texto em
uma história contada. Alguns filmes não contam uma história, um roteiro cinematográfico. Veja como fica.
mostram aos espectadores um determinado acontecimen-
to; uma certa região geográfica, para tanto, não precisa Exterior – Rua da Cidade – noite
“contar” uma história, mostra apenas fatos. A esses tipos Uma rua de Paris. É noite. Luzes e enfeites natalinos
de filme damos o nome de documentário. indicam a época em que transcorre a cena. Ambiente festivo.
Mas, se pensarmos no filme tradicional, então estare- Músicas e risos de pessoas. Numa vitrine, um calendário
mos pensando em uma história contada. Para “contar essa indica que é dia 28 de dezembro de 1895.
história”, o filme faz uso de uma espécie de linguagem. A câmera “caminha” entre os transeuntes. Imagens de
E o que é linguagem? veículos puxados por cavalos; vitrines iluminadas, restaurantes,
Linguagem é o uso da palavra articulada ou escrita pessoas bebem, cantam, riem. Aparece uma placa identifi-
como meio de expressão ou comunicação entre duas ou cando um restaurante como sendo um Gran Café. A câmera
mais pessoas. Mas não apenas a palavra comunica, as ima- “entra” no restaurante, passa por entre mesas, pelo balcão,
gens também atuam como um meio de comunicação. desce uma escada e entra numa sala semi-iluminada.
Assim sendo, linguagem, no cinema, significa o uso
de imagens apresentadas em seqüência numa tela branca Interior – Sala na Penumbra
com o objetivo de comunicar, expressar, contar algo para Rostos suavemente iluminados. As pessoas olham
aquele que a observa. com expressão de espanto para uma tela onde aparecem
Vamos tentar entender melhor isso. pessoas saindo de uma fábrica. Outros rostos aparecem.
Exemplo: Expressões e gestos ansiosos nas pessoas. Na tela aparece
Cena I – Uma mulher está tomando banho. a imagem de um trem se aproximando. A ansiedade au-
Cena I1 – Aparece uma mão segurando uma faca menta na platéia. Na tela o trem aproxima-se rapidamente.
afiada. Algumas mulheres gritam. Homens riem nervosos. O trem
Cena I11 – A mão com a faca aproxima-se da cortina aumenta na tela como se fosse dela sair e atropelar o públi-
do banheiro onde a mulher se encontra. co. Algumas pessoas gritam e levantam-se procurando fugir,
Cena IV – A mulher vê a faca e grita. derrubando cadeiras. O trem passa. Olhares de assombro.
Cena V – Gotas de sangue sujam uma parede. Risos. Palmas. Escurece...
O que você deduz disso? Você sabe, mesmo sem Esse seria o trecho de um roteiro para um hipotético
ter visto, que houve um caso de agressão, um assassinato filme. E o que ele faz? Ele mostra ao diretor as imagens que
(ou pelo menos tentativa de um) e esse entendimento só devem ser filmadas, o que deve ser mostrado, o “clima”
foi possível porque a seqüência de imagens comunicou a em que devem ser feitas as filmagens – ruas, restaurantes,
intenção do diretor do filme: um assassinato. salão da projeção do filme etc.
E ele (o diretor) fez tudo isso sem o uso de palavras. Vamos agora conhecer dois pequenos trechos do
As imagens “contaram” o fato. Bem, filme é isto: uma se- roteiro de dois filmes: Thelma e Louise e O Exterminador
qüência de imagens contando uma história. do Futuro II.
45
O renascimento – o homem como o centro do universo
Filme – Thelma e Louise muro de seres humanos. Em câmera lenta, eles se movem
Artes

em massa entre as filas brilhantes de carros espremidos, pá-


Interior casa de Thelma – dia: ra-choques contra pára-choques. Ondas de calor distorcem
– A polícia está grampeando o telefone, colhendo a torrente de faces. A imagem é surreal, onírica... e como
impressões digitais etc., enquanto Darryl fica sentado sem num sonho ela começa lentamente a fundir-se com....
ação em sua cadeira reclinável, com uma expressão estú-
pida na face. Exterior – Ruinas da Cidade – noite
Hal (para Darryl): O mesmo lugar do último plano, só que agora mostra
– Grampeamos o seu telefone, você sabe. No caso uma paisagem do inferno. Os carros enferrujados estão
de ela ligar. parados em filas, e ainda pára-choques. Os contornos dos
Max (o homem do FBI) se junta a eles andando pelo edifícios ao fundo foram quebrados por uma força inimagi-
corredor.
nável, como uma linha de areia pisoteadas...
Max:
– Vamos deixar alguém aqui na casa para o caso de ela Uma Cartela Surge em Fade
ligar. Alguém vai ficar aqui até que a encontremos. Los Angeles, 11 de Julho de 2029
Sarah Conor (voz em off)
Hal:
Três bilhões de vidas humanas terminaram em 29
– O mais importante é não deixar perceber que
de agosto de 1997. Os sobreviventes do fogo nuclear cha-
você sabe de alguma coisa. Queremos descobrir onde
ela está. Agora, não quero entrar no terreno pessoal, mas maram a guerra do Juízo Final. Eles sobreviveram somente
você tem um bom relacionamento com a sua mulher? É para encarar outro pesadelo: a guerra contra as máquinas...
íntimo dela? Ela pára de falar e vemos um pé metálico quebrando
a caveira como se fosse de louça.
Darryl:
O roteiro não é o único elemento fundamental na criação
– Eu acho que sim, quer dizer, tão íntimo quanto é
de um filme. Muitos outros elementos são necessários para que
possível com uma louca dessas.
um filme aconteça. Por exemplo: os movimentos da câmera;
Max: os ângulos cuidadosamente escolhidos para que as cenas sejam
– Bem, se ela ligar, seja gentil. Como se estivesse filmadas, a música que acompanha as imagens, entre outros.
contente em ouvi-la. Você sabe, como se realmente sentisse Isso tudo é básico, esquecendo a função do diretor
falta dela. As mulheres adoram. e dos atores, sem os quais o filme torna-se impossível (não
Filme – O Exterminador do Futuro II estamos aqui falando do documentário ou do desenho
(cenas do início do filme) animado), pois, assim como no teatro, também no cinema
Centro de Los Angeles. Meio-dia de um dia quente o ator se destaca como o elemento provocador de todo o
de verão. A multidão da hora do almoço empilha-se num desenvolvimento da “história a ser contada”.

01. Assistir a um filme, individualmente ou em grupo, escolher uma cena ou seqüência e passá-los
para o papel no formato de um roteiro.
02. “Criar”, em grupo ou individualmente, uma cena fictícia em forma de roteiro.

46
A diversificação da manifestação artística

A diversificação da

Artes
manifestação artística
O teatro

Interior de um teatro do séc. XIX. É o Teatro Drury Lane, em Londres, segundo aquarela de Edward Dayes.

Como já é de nosso conhecimento, o teatro se Na verdade, sempre foi esta a tentativa primeira da
destaca como uma das manifestações artísticas de primeira manifestação teatral: explicar ou tentar explicar o significado
grandeza na cultura mundial. ou a razão do viver.
Dissemos que ele originou-se na Grécia. Devemos No entanto, foi no século XX que um novo teórico
agora, entretanto, salientar que quando falamos que o de teatro, Bertold Brecht, refez a maneira tradicional do
teatro originou-se na Grécia, estamos falando do teatro “fazer teatral”. O que se pedia ou se exigia do ator era que
ocidental e não estamos incluindo as manifestações teatrais ele fosse o máximo possível do personagem que vivia.
da cultura oriental. Por exemplo: se você fosse interpretar um homem
Dissemos também que, apesar de sua origem grega, invadido por extremo sofrimento deveria procurar – você, o
já na Idade da Pedra encontram-se vestígios dessa forma
ator que o interpreta – uma situação de máximo sofrimento
de expressão artística: pinturas rupestres, manifestações
vivido e revivê-lo naquele momento como se fosse o pró-
ritualísticas que poderíamos chamar de teatralizações. Se
prio personagem. Com isso, o ator levava a platéia consigo,
afirmamos que ele teve sua origem na Grécia é devido ao
fato de que ali foram encontrados registros mais precisos ao sofrimento à alegria. Procurava-se o envolvimento total
de como os feitos se deram, sua presença em nossa cultura do espectador com o drama a que assistia.
(a ocidental) é avassaladora. Com Brecht, tudo se modifica: – o ator “já não é
O criador da tragédia francesa, Corneille, e o poeta mais o personagem” – ele é um ator, interpretando um
trágico, também francês, Racine, grandes poetas acadêmicos personagem, que quer dizer, explicar, afirmar, mostrar,
rivais, prosseguiram na tarefa de conquistar a perfeição na alguma coisa, fato ou situação.
tragédia clássica, capacidade de falar a respeito da vida ou, E com isso, provoca um certo distanciamento,
pelo menos, tentar explicá-la, até o século XIX. história e platéia não se confundem, não se envolvem
O século XX proporcionou as mais variadas possibi- emocionalmente, mas analisam o que vêem. É quase como
lidades de explicações ou resoluções da vida, enfim, o que uma aula; o professor conta uma história e os alunos a
o teatro procura dar. analisam. Dá-se a isso o nome de teatro didático.
47
A diversificação da manifestação artística
Com isso, não se quer impedir a emoção; na Mas para que tudo isso? Por que fazer teatro?
Artes

verdade, ela (a emoção) acontece pela momentânea As pessoas envolvidas com o teatro e o psicodrama
descoberta da verdade. afirmam que nós somos os atores e os autores de nossas
Depois de Brecht, o teatro passou pelas mais varia- vidas. Para eles, a vida é um teatro e, como no teatro,
das modificações e experiências possíveis. existem vários personagens, várias histórias, várias soluções
O palco é qualquer lugar possível de uma “atuação possíveis para um mesmo problema, ou situação de vida;
teatral” de um ator. E tal lugar pode ser um salão, uma ou várias possibilidades de fazer a vida continuar.
rua, uma casa, uma igreja etc. Aprendendo teatro, segundo o que vimos acima,
O texto já não precisa contar uma história com apreendemos a vida e aprendemos a viver melhor; pois
começo, meio e fim. Pode ser qualquer relato falado de aprendendo a viver um número maior de papéis, apren-
alguém (o personagem, ou ator) a respeito de qualquer demos a vivenciar maior número de situações.
Exemplo disso:
coisa.
Se você é o tempo todo um “paizão”, vai procurar
O teatro, no mundo atual, como todas as artes, abre
ajudar sempre todo mundo. No momento em que você
espaço para o “quase tudo acontecer”.
precisar ser ajudado, não saberá como fazê-lo; pois não sabe
Veja exemplos:
como pedir ajuda. Se num jogo teatral você puder vivenciar
Na peça Macbeth (Shakespeare), Macbeth, um ge- o papel de filho (que precisa de ajuda), vai descobrir novas
neral do exército do rei, após vencer a batalha fundamental maneiras de resolver seus problemas.
de uma guerra, parte do campo de batalha, antes do rei; Outro exemplo:
no caminho encontra três feiticeiras que lhe dizem que Você vai ser um ator e, na história a ser vivida, você
ele, Macbeth, será rei. é um filho rebelde – e você é realmente um filho rebelde.
Ora, para que ele fosse rei, o rei, ainda vivo, precisa- No conflito que a história vai desenvolver, você vai ser capaz
ria morrer. E ele com sua mulher, lady Macbeth, o matam de analisar e compreender a sua própria rebeldia e, então,
e a tragédia acontece. decidir se quer continuar nela ou não.
No teatro moderno isso já não é necessário. O E, finalmente, assim como a música e a dança, o
ator pode simplesmente falar de si mesmo, de suas teatro, desde épocas remotas, sempre procurou interpretar,
experiências, da experiência de um personagem por ele explicar ou absorver o mistério da vida.
“autobiografado”, entre outros.

01. Dividir em subgrupos.


02. Os participantes de cada grupo discutem e escolhem um número específico de personagens, e
a seguir cada um escolhe qual personagem quer ser.

48
A diversificação da manifestação artística
03. A partir da escolha de personagens, procura-se desenvolver uma história, ou texto teatral, que
será vivenciado pelos personagens/atores.

Artes
04. Apresentar a história aos outros grupos.

49
A diversificação da manifestação artística
Artes

50
Referências
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