You are on page 1of 327

Apoio

Publicações UMA/Worldwatch

Estado do Mundo 1999 a 2003 (Relatório do Worldwatch Institute sobre o Avanço


em Direção a uma Sociedade Sustentável)
Sinais Vitais 2000 e 2001 - Tendências Ambientais que Determinarão nosso Futuro
Lester R. Brown

Revista do World Watch - Edições Novembro/Dezembro 1999


Janeiro/Fevereiro - Março/Abril - Maio/Junho - Julho/Agosto - Setembro/Outubro
e Novembro/Dezembro 2000 e 2001 (Trabalhando para um Futuro Sustentável) e
Janeiro 2002

As publicações do Worldwatch Institute em português


poderão ser adquiridas enviando nome
e endereço completos para:
UMA - Universidade Livre da Mata Atlântica
E-mail: uma@worldwatch.org.br ou
Caixa Postal 7119, CEP 41811-970
Salvador - Bahia - Brasil

Solicite também pela internet, no site:


www.wwiuma.org.br
Relatório do Worldwatch Institute sobre
o Avanço em Direção a uma Sociedade Sustentável

Brian Halweil e Lisa Mastny


Diretores de Projetos
Erik Assadourian
Christopher Flavin
Hilary French
Gary Gardner
Danielle Nierenberg
Sandra Postel
Michael Renner
Radhika Sarin
Janet Sawin
Amy Vickers

Linda Starke, Redatora


Eduardo Athayde, Editor Associado

UMA - Universidade Livre da Mata Atlântica


UMA Editora
Salvador - Bahia - Brasil
Titulo original: State of the World 2004
Tradução: Henry J. Mallett e Célia Mallet
Revisão: Fátima Maria Ferreira Soares
Editoração Eletrônica: Ricardo Baroud (Alquimia Criações Editoriais)
Patrícia Chastinet
Produção: Creusa M. Porto
Capa: Eduardo Athayde

E82 Estado do Mundo, 2004: estado do consumo e o consumo


sustentável / Worldwatch Institute ; apresentação Enrique
Iglesias ; tradução Henry Mallett e Célia Mallett. - Salvador, BA :
Uma Ed., 2004
326p. ; 23,5cm. : il.
Tradução de: State of the world 2004
Inclui bibliografia
ISBN 85-87616-09-9
1. Desenvolvimento sustentável - Aspectos ambientais. 2. Política
ambiental 3. Consumo (Economia) - Aspectos ambientais. 4. Produtividade -
Aspectos ambientais. I. Worldwatch Institute.

04-1853 CDD 333.7


CDU 502.33

Copyright © 2004 Worldwatch Institute

Todos os direitos desta edição reservados à UMA - Universidade Livre da Mata Atlântica
Av. Frederico Pontes, 375
40460-001 - Salvador - BA
Fone/fax: (71) 312-7897 / E-mail: uma@uma.org.br

As marcas registradas STATE OF THE WORLD e WORLDWATCH INSTITUTE estão


registradas no U.S. Patent and Trademark Office.

As opiniões expressas são de exclusiva responsabilidade dos autores e não


representam, necessariamente, as do Worldwatch Institute, de seus diretores,
executivos, staff ou de seus financiadores.
Conselho de Administração do Worldwatch Institute

Øysten Dahle Cathy Crain Akio Morishima


Presidente ESTADOS UNIDOS JAPÃO
NORUEGA
James Dehlsen Izaak van Melle
Larry Minear ESTADOS UNIDOS HOLANDA
Secretário
ESTADOS UNIDOS Christopher Flavin Wren Wirth
ESTADOS UNIDOS ESTADOS UNIDOS
Thomas Crain
Tesoureiro Lynne Gallagher James Lee Witt
ESTADOS UNIDOS ESTADOS UNIDOS ESTADOS UNIDOS

Geeta B. Aiyer Satu Hassi Emeritus:


ESTADOS UNIDOS FINLÂNDIA Abderrahman Khene
ARGÉLIA
Adam Albright John McBride
ESTADOS UNIDOS ESTADOS UNIDOS
Estado do Mundo 2004
NOME DO CAPÍTULO

Staff do Worldwatch Institute

Erik Assadourian Hilary French Elizabeth Nolan


Pesquisador Diretora do Projeto de Vice-Presidente de
Governança Global Desenvolvimento
Ed Ayres Comercial
Diretor Editorial Gary Gardner
Redator do Worldwatch Diretor de Pesquisa Kevin Parker
Diretor de Relações com a
Chris Bright Joseph Gravely Fundação
Pesquisador Sênior Correspondência &
Publicações Tom Prugh
Lori A. Brown Redator Sênior
Bibliotecária Brian Halweil
Pesquisadora Pesquisador Sênior Mary Redfern
Associada de
Steve Conklin John Holman Desenvolvimento
Webmaster Diretor de
Desenvolvimento Michael Renner
Cyndi Cramer Pesquisador Sênior
Associada de Susanne Martikke
Desenvolvimento Associada de Lyle Rosbotham
Comunicações Diretor de Arte
Katherine Dirks
Secretária Executiva da Lisa Mastny Radhika Sarin
Presidência Pesquisadora Associada Pesquisadora

Barbara Fallin Anne Platt Mcginn Janet Sawin


Diretora Financeira e Pesquisadora Sênior Pesquisadora Associada
Administrativa
Leanne Mitchell Patrick Settle
Susan Finkelpearl Diretora de Comunicações Administrador de
Coordenadora de Mídia Sistemas TI
Danielle Nierenberg
Christopher Flavin Pesquisadora Molly O’Meara Sheehan
Presidente Pesquisadora Sênior

6
Estado do Mundo 2004
NOME DO CAPÍTULO

Apresentação
Estado do consumo e o consumo sustentável

O desenvolvimento significa diminuir as barreiras à conservação


sustentável adota — entre elas políticas antiquadas,
uma perspectiva de instituições frágeis e falta de conhecimento
longo prazo do técnico e financiamento — e aumentar a
processo de de- eficiência no uso de recursos essenciais,
senvolvimento eco- como água e energia. Igualmente
nômico e social que importante é reconhecer que a redução da
compreende a sal- degradação ambiental protege a saúde
vaguarda e o incre- humana, torna a terra mais produtiva e
mento do capital melhora diversos outros elementos do
ambiental e social e a redução da iniqüidade. progresso econômico e social.
Esse conceito ganhou relevância no Relató- A proteção e a gestão aperfeiçoadas dos
rio da Comissão Brundtland de 1987 e con- recursos naturais ajustam-se a uma
solidou seu lugar como âncora para as políti- abordagem totalmente integrada ao
cas de desenvolvimento durante a Cúpula da desenvolvimento sustentável, como
Terra de 1992 no Rio de Janeiro. determinam as Metas de Desenvolvimento
Hoje, porém, ainda resta a questão do Milênio. Essas metas vão além da
fundamental: como intensificar a sustentabilidade ambiental e abrangem
sustentabilidade do desenvolvimento? Um objetivos como a erradicação da fome e a
dos resultados da Cúpula de Johanesburgo melhoria da saúde, da educação, da eqüidade
de 2002 foi colocar o desenvolvimento social e da cooperação internacional. O
sustentável como um objetivo integral entre Banco Interamericano de Desenvolvimento
as Metas de Desenvolvimento do Milênio compartilha essa visão em sua estratégia
compartilhadas pela comunidade global. institucional, que reivindica não somente um
Como enfatiza o Estado do Mundo 2004, é melhor desempenho econômico, mas a
imperativo melhorar a gestão e a direção melhoria da qualidade de vida por meio do
dos recursos naturais e ambientais. Isso desenvolvimento social, do aperfeiçoamento

vii
7
Estado do Mundo 2004
APRESENTAÇÃO

da governança, da integração regional e do de males relacionados com a pobreza, entre


avanço da gestão e proteção ambientais. os quais fome, doenças endêmicas,
Esta edição do relatório anual do WWI – iniqüidade, falta de oportunidade e
Worldwatch Institute tem como tema degradação do meio ambiente. Este livro tem
especial “A Sociedade de Consumo”. O o poder de instigar a continuação do
grande fosso entre a renda e o consumo per profundo debate necessário para manter o
capita no mais pobre dos países em conceito de desenvolvimento sustentável
desenvolvimento e nos países desenvolvidos como ponto focal da formulação de políticas,
está se ampliando e os desafios que as tanto em cada país individualmente como
nações em desenvolvimento enfrentam são nos foros globais.
fundamentalmente diferentes daqueles dos
países desenvolvidos. Mesmo os países em Enrique Iglesias
desenvolvimento em situação econômica um Presidente do BID – Banco
pouco melhor padecem de uma variedade Interamericano de Desenvolvimento

8
viii
Estado do Mundo 2004
APRESENTAÇÃO

Uma Pequena História da


Parceria WWI – UMA
no Brasil
O WWI – Worldwatch Institute comemo- com o objetivo de ser mais um gerador de
ra este ano 30 anos de fundado. Em 1974, informações para escolas, universidades,
Lester Brown e seus pesquisadores asso- governos, iniciativa privada e comunidade
ciados adotaram o lema: “trabalhamos por em geral. A UMA usufrui do espaço sem
um futuro sustentável”. Hoje, precisamos fronteiras da Internet para disseminar co-
trabalhar por um dia-a-dia sustentável. nhecimento através da Biblioteca Digital
O Estado do Mundo 2004 foca a soci- WWI – UMA, <www.wwiuma.org.br>,
edade do consumo e o consumo sustentá- onde suas publicações são disponibilizadas
vel, conversando diretamente com o con- para download integral e gratuito. Sair das
sumidor, mostrando os processos insus- grandes concentrações urbanas é uma das
tentáveis de produção que estão por trás tendências de pessoas que buscam nas pe-
dos produtos e convidando-o a optar por quenas localidades qualidade de vida.
produtos e processos que garantam a sua O Jornal Digital UMA, aberto à inscri-
qualidade de vida e a do planeta, cada vez ção gratuita no site, envia informações di-
mais fragilizado e impactado pela ação in- retamente para os e-mails dos seus mi-
sustentável do homem. lhares de associados no Brasil e no mun-
Os trabalhos do WWI no Brasil, publi- do. A Internet libertou a informação da
cados pela UMA – Universidade Livre da prisão do papel.
Mata Atlântica –, são parte do Creds – Cen- Fazemos aqui um resumo do caminho
tro de Referência para a Educação e o De- percorrido, o que já ousamos chamar de
senvolvimento Sustentável. Sediado ofici- pequena história:
almente no município de Cairu – único 1999 – Lester Brown, fundador do
município-arquipélago do Brasil, formado WWI, declarado pelo jornal Washington Post
por 26 ilhas, no encontro do Rio Una com como um dos mais influentes pensadores
o Oceano Atlântico, na Bahia. Foi criado da atualidade, é trazido pela UMA ao Brasil

9
ix
Estado do Mundo 2004
UMA PEQUENA HISTÓRIA DA PARCERIA WWI – UMA NO BRASIL

para o lançamento da primeira versão brasi- 2001 – O portal da Veja, seguindo o


leira de Estado do Mundo – Edição Mile- sucesso da audiência do ano anterior, lança
nar 1999 e da Revista World Watch. É en- o Estado do Mundo 2001, divulgando inte-
trevistado pelo programa Roda Viva –TVE e gralmente o primeiro capítulo, assinado por
pelo jornal Folha de S. Paulo. Em Brasília, Christopher Flavin, destacando a sua visita
reúne-se com técnicos do Ibama e o minis- à exuberância da Mata Atlântica e a posi-
tro do Meio Ambiente, Sarney Filho – o Mi- ção do Brasil (primeiro lugar) no “E9 –
nistério apóia oficialmente as publicações Econológico 9”, grupo dos nove países
WWI no Brasil. Faz palestra no auditório reconhecidos pelo WWI como potências
Petrônio Portella, do Congresso Nacional, ambientais do planeta. O programa Roda
difundida para todo o país pela TV Senado. Viva – TVE e o jornal Gazeta Mercantil
No Rio, reúne-se com a diretoria das Orga- entrevistam Flavin e destacam: “Bíblia dos
nizações Globo e grava o Globo News. O ambientalistas descobre o Brasil” (a série
Globo Ecologia destaca equipe para acom- Estado do Mundo foi batizada pela imprensa
panhar a sua visita em todo o país, gravan- internacional como bíblia do meio ambien-
do palestras e encontros. É convidado pelo te). A Assembléia Legislativa da Bahia re-
governo do Estado da Bahia para palestras cebe Flavin em sessão plenária para pales-
em Salvador e para conhecer o potencial das tra sobre desenvolvimento sustentável. A
suas áreas para o ecoturismo. Veja publica entrevista de Lester Brown nas
2000 – A revista VEJA lança o Esta- suas páginas amarelas com o título “Po-
do do Mundo 2000 no seu portal da In- luiu, pagou”. A Embaixada Brasileira em
ternet. O jornalista Joelmir Beting divul- Washington promove evento de lançamen-
ga-o na sua coluna e no seu site , to da edição brasileira, com palestra dos
www.joelmirbeting.org.br, promovendo diretores do WWI e da UMA.
o conceito de desenvolvimento sustentá- O Ministério da Educação convida Fla-
vel. Christopher Flavin, presidente exe- vin para palestra de lançamento do Progra-
cutivo do WWI, é convidado pela Fun- ma “Parâmetros em Ação – Meio Ambiente
dação Getúlio Vargas para o lançamento na Escola”, do MEC, com o ministro Pau-
do CIDS – Centro Internacional para o lo Renato, em 5 de junho, Dia do Meio
Desenvolvimento Sustentável. A FIEB – Ambiente. Convidado também pela direto-
Federação das Indústrias do Estado da ria da Petrobras, Flavin fala sobre energias
Bahia – promove debate do prof. Flavin renováveis para os executivos da empresa.
com dirigentes da indústria. A convite da A Secretaria Nacional de Recursos Hídri-
UESC – Universidade de Santa Cruz –, cos traz a pesquisadora do WWI Payal
faz palestra em Ilhéus e é levado pela UMA Sampat para falar sobre “O Choque da
e os pesquisadores parceiros do IESB – Água” no Fórum de Recursos Hídricos, em
Instituto de Estudos Socioambientais do Foz do Iguaçu.
Sul da Bahia – para visitar a Mata Atlânti- Chris Bright, pesquisador do WWI e
ca, onde se inspira para escrever capítu- editor-chefe da revista World Watch, faz
lo de Estado do Mundo do ano seguinte. levantamentos na Mata Atlântica. Faz pa-

x
Estado do Mundo 2004
UMA PEQUENA HISTÓRIA DA PARCERIA WWI – UMA NO BRASIL

lestra na UFBA sobre “O Papel das Flores- produziam, hoje brotam espécies nativas da
tas Tropicais no Desenvolvimento Susten- mata, atraindo o canto dos pássaros. Em-
tável”. Juntamente com a pesquisadora brião de reflorestamento.
Ashley Matoon é entrevistado pela VEJA e Christopher Flavin é convidado pelo
pelo portal do UOL. Apoiando as ações da governo brasileiro para proferir palestra na
UMA, o WWI lança edição da sua revista – reunião preparatória da Rio+10, que reuniu
World Watch – com matéria de capa sobre os presidentes do Brasil, da África do Sul e
o cacau e a Mata Atlântica, mostrando ambientalistas de todo o mundo no Rio de
como a economia do chocolate pode aju- Janeiro. Reúne-se com o físico José Gol-
dar na sua preservação. Destacada pelo jor- demberg para montar estratégias de pro-
nal Washington Post, a matéria repercute moção das energias renováveis em Joanes-
em todo o mundo e atrai a atenção da TV burgo. A Secretaria de Meio Ambiente do
National Geographic, que envia equipe às Estado de São Paulo e CETESB dão desta-
fazendas de cacau do sul da Bahia para fil- que ao Estado do Mundo 2002 no seu site.
mar documentário baseado na publicação. Durante a Rio+10, na África do Sul, o
2002 – Veja lança o Estado do Mundo WWI e a UMA relançam o relatório 2002
2002, destacando a edição especial da Cú- no stand brasileiro – ganhador do “primei-
pula Mundial para o Desenvolvimento ro lugar” (outorgado pelo júri oficial, for-
Sustentável – Rio+10. O presidente Fer- mado por artistas locais) entre as exibições
nando Henrique Cardoso alia-se à divul- de todos os países presentes em Joanes-
gação das idéias do WWI, apresentando burgo. Ainda na conferência a UMA reúne-
a versão brasileira 2002 e assinalando a se com Klaus Töpfer, secretário executivo
sua relevância para estimular o debate do PNUMA, organizando a publicação do
público no Brasil. A publicação é prefaci- relatório GEO 3 Internacional no Brasil.
ada por Kofi Annan, Secretário-Geral da 2003 – A senadora Marina Silva, minis-
ONU e Prêmio Nobel da Paz. tra do Meio Ambiente do novo governo,
Hilary French, diretora do Projeto de distingue-nos assinando a apresentação de
Governança Global do WWI, visita o Bra- Estado do Mundo 2003. Leitora do WWI
sil e fala para empresários sobre a impor- desde as primeiras versões brasileiras, re-
tância da governança local. A UMA amplia fere-se às nossas publicações como fonte
as pesquisas com o WWI sobre a Mata destacada de informações para “a intera-
Atlântica para a elaboração de livro sobre ção dos elementos sociais, econômicos,
as possibilidades e vantagens da preserva- ecológicos e culturais no foco da ação pú-
ção da Mata Atlântica, hotspot, bioma que blica”. Partindo da “Senadora da Flores-
registra uma das maiores taxas de biodi- ta”, como é carinhosamente chamada por
versidade do mundo e alto nível de devas- Ziraldo, essa afirmação tem valor especial.
tação. A convite do fotógrafo Sebastião A convite da UMA, Waldemar Wirzig,
Salgado e da sua esposa Lélia, Chris Bright representante do BID no Brasil, visita o
visita o projeto-piloto de recuperação da município de Cairu, para conhecer a área
Mata Atlântica na fazenda de Aymorés, em do projeto “Cairu 2030”, apresentado pela
Minas Gerais. Onde pastos secos nada UMA ao BID, para realização de um diag-

xi
Estado do Mundo 2004
UMA PEQUENA HISTÓRIA DA PARCERIA WWI – UMA NO BRASIL

nóstico socioeconômico-ecológico integra- duto do cacau. Em Salvador faz palestra


do do município, com vistas à elaboração na Fundação Luís Eduardo Magalhães e
de um plano diretor de desenvolvimento reúne-se com o governador Paulo Souto.
sustentável para os próximos trinta anos. Christopher Flavin, presidente do WWI,
Em parceria com a Prefeitura Munici- participa de evento sobre energias renová-
pal, a UMA promove seminário em Cairu veis em Brasília com o ministro de Meio
sobre o projeto “Cairu 2030”, trazendo de Ambiente alemão, Jürgen Trintin, e de se-
Brasília uma delegação de técnicos do BID, minários em Curitiba e em Brasília. É e re-
UnB, Caixa Econômica Federal, ANA, Pe- cebido pelo presidente da Embrapa, Clayton
trobras, Unesco e Sebrae para se reunir Campanhola, entrevistado pela jornal Valor
com prefeitos da região do baixo sul da Econômico e TV Senado.
Bahia, ONGs e representantes locais. Klaus Töpfer, secretário executivo do
Lester Brown, fundador do WWI, vem PNUMA – Programa das Nações Unidas
ao Brasil para o lançamento do livro Eco- para o Meio Ambiente –, é convidado pela
Economia, em versão digital, numa parce- UMA. Acompanhado de Ricardo Sanchéz
ria editorial com o Instituto Ethos e a Folha e Christina Montenegro, dirigentes do
de S. Paulo. Faz palestra na sede do Banco PNUMA para a América Latina, é recebido
de Boston, em São Paulo. A Folha lançou o pelo governador da Bahia, Paulo Souto, para
livro em entrevista com Brown, incluída assinatura de protocolo para elaboração do
no seu portal e linkando com o site da Bi- GEO Bahia, um diagnóstico socioeconô-
blioteca Digital WWI – UMA, para down- mico-ecológico, com metodologia do
load integral e gratuito. No dia de lança- PNUMA, que colocará a Bahia na base de
mento o livro bate recorde, com 20.876 dados atualizada da ONU, criando visibili-
downloads do site. dade para atração de investimentos inter-
Recebido em Brasília pela ministra Ma- nacionais. Recebido no Convento dos Fran-
rina Silva, Brown fala sobre a ecoecono- ciscanos de Cairu, sede da UMA, Töpfer
mia no Ministério do Meio Ambiente. No emociona-se com a recepção das crianças
Ministério da Educação, a convite do mi- e dos grupos folclóricos da região.
nistro Cristóvão Buarque, fala para reito- Em dezembro de 2003, o livro do WWI
res de universidades reunidos em Brasília. Econegócios na Floresta de Chocolate da
É recepcionado por empresários da área Bahia é lançado em conferência de impren-
de telecomunicações, liderados pelo presi- sa na Embaixada Brasileira em Washington.
dente da Telemig Celular e Amazonas Ce- Acompanhado do embaixador Rubens Bar-
lular, o empresário ambientalista João Cox. bosa, o presidente do WWI, Christopher
O jornal Valor Econômico publica entrevista Flavin, o autor Chris Bright, pesquisador
de página inteira com Lester Brown. do WWI, e o diretor da UMA falam sobre a
Em Ilhéus Brown visita o projeto “Fa- importância estratégica da Floresta de Cho-
zenda de Chocolate”, desenvolvido pela colate da Bahia (região cacaueira da Mata
UMA, com o apoio do WWI, para produ- Atlântica). A UMA surpreende a seleta pla-
zir o “chocolate da Mata Atlântica”, que téia, formada por jornalistas dos principais
embute o conceito de preservação no pro- jornais do mundo, distribuindo o Chocola-

xii
Estado do Mundo 2004
UMA PEQUENA HISTÓRIA DA PARCERIA WWI – UMA NO BRASIL

te da Mata Atlântica, produzido pela Ca- sumidor cobra explicações e as grandes


bruca – Cooperativa dos Produtores Orgâ- redes revendedoras de chocolate em todo
nicos do Sul da Bahia. o mundo começam a exibir certificados de
Chris Bright e o diretor da UMA são origem do cacau.
convidados do jornal Washington Post para O BID aprova o projeto “Cairu 2030“,
entrevista de uma hora, on-line, sobre o desenvolvido pela UMA em parceria com a
projeto Fazenda de Chocolate, aberta aos Prefeitura Municipal de Cairu, e, com a
leitores do jornal em todo o mundo. autorização da ABC – Agência Brasileira de
2004 – Enrique Iglesias, presidente do Cooperação –, do Ministério das Relações
BID – Banco Interamericano de Desenvol- Exteriores, recebe recursos, a fundo per-
vimento – aceita o convite da UMA e apre- dido, do Fundo Fiduciário Português para
senta a versão brasileira de Estado do Mun- o início dos trabalhos no município.
do 2004. Grava mensagens para a Rede O cacau está para o chocolate como a
Globo, afirmando: “Este livro tem o poder uva para o vinho. O projeto “Fazenda de
de instigar a continuação do profundo de- Chocolate“, desenvolvido pela UMA com
bate necessário para manter o conceito de o apoio do WWI, articula transferências de
desenvolvimento sustentável como ponto inovações tecnológicas para agregação de
focal da formulação de políticas, tanto em valor e renda ao agronegócio sustentável
cada país individualmente como nos foros do cacau, visando agregar valor ao produ-
globais”. Do alto da sua experiência como to e preservar a Floresta de Chocolate (re-
gestor internacional da mais alta compe- gião cacaueira da Mata Atlântica) da Bahia.
tência, acostumado a lidar com realidades O cacau fino, manejado de forma espe-
locais e globais, Iglesias tem a nítida idéia cial, produz chocolate de alta qualidade. O
da importância do consumo sustentável. cacau refinado é vendido com um prêmio
Em parceria com o IBAMA, a UMA lan- mínimo inicial de 20%, podendo atingir
ça a versão brasileira do GEO 3 Internaci- qualquer valor, a depender da qualidade do
onal – Perspectivas do Meio Ambiente para produto. Incentivados por Rafael Lucche-
os próximos 30 anos. Elaborado pelo PNU- si, secretário de Ciência e Tecnologia do
MA, os atualizados relatórios GEO são tra- Estado da Bahia, e Alexandre Paupério, pre-
duzidos para vários idiomas em todo o sidente da Fapesb – Fundação de Apoio à
mundo. Disponível na Biblioteca Digital Pesquisa do Estado da Bahia –, a UMA fir-
para download gratuito. ma parceria com gourmets franceses, es-
Durante o Valentines Day (fevereiro), pecialistas em chocolates finos, para trans-
época de pico no consumo de chocolate, o ferir tecnologias e treinar cacauicultores no
WWI lança campanha sobre o chocolate manejo e fermentação do cacau de forma
sustentável, convidando amantes do cho- especial, visando o mercado de chocolates
colate em todo o mundo a informarem-se finos. Enquanto o quilo da amêndoa do
sobre a origem do chocolate consumido. cacau é vendido a cerca de 4 reais nas fa-
Cerca de 40% do chocolate do mundo pode zendas, o quilo do chocolate chega a 80.
estar contaminado com o trabalho infantil Num país com os desequilíbrios sociais
nas plantações de cacau da África. O con- como o Brasil, a única forma de preservar

xiii
Estado do Mundo 2004
UMA PEQUENA HISTÓRIA DA PARCERIA WWI – UMA NO BRASIL

é por meio dos econegócios, que agregam ais criam redes de reciprocidade e infor-
valor, gerando ocupação e renda. mações que lubrificam a atividade econô-
Os jornalistas Lenilson Ferreira, Ted- mica sustentável.
suji Ida e Yumi Osaki, da Kyodo News, Parceria é a base para um mundo sus-
maior agência de notícias da Ásia, fazem tentável. Sem uma sólida rede de parceiros
reportagem sobre o projeto “Fazenda de não seria possível o nosso trabalho. Mes-
Chocolate”, em Ilhéus, e são entrevista- mo correndo o risco de omitir momenta-
dos pela TV Santa Cruz, filiada à Rede neamente alguns, não podemos deixar de
Globo. Matéria de duas páginas sobre o destacar Rui Rocha, ativo presidente do
projeto é divulgada por 47 jornais asiáti- parceiro Instituto Floresta Viva; Nicholas
cos. O chocolate sustentável ganha inte- Carels, Fátima Cascardo e Julio Cascardo,
resse da comunidade internacional e des- cientistas que prospectam bionegócios para
perta o interesse dos amantes do choco- o banco de germoplasma da “Fazenda de
late em todo o mundo. Chocolate”; deputada Sônia Fontes, que,
Com o apoio da Rede Bahia de Televi- por intermédio do projeto de lei 8420/02,
são, filiada à Rede Globo, “pílulas” de in- de sua autoria, credenciou a UMA como
formações de Estado do Mundo 2004 vão instituição de utilidade pública; Geraldo
ao ar, convidando o telespectador à refle- Machado, presidente da Fundação Luís
xão sobre a importância do consumo sus- Eduardo Magalhães, que sempre estimula
tentável. Diretores e profissionais da Rede a difusão de novas idéias; Fausto Pinheiro
Bahia de Televisão – Isaac Edington, Mau- e Marc Nuscheler, produtores de cacau
rício Magalhães, Marcelo Lyra, Frank Al- orgânico e dirigentes da Cabruca – Coope-
buquerque, Carlos Henrique Medeiros, Cé- rativa de Produtores Orgânicos do Sul da
sar Mazzoni, Sérgio Siqueira, Marcos Les- Bahia –, o professor Asher Kiperstock, do
sa e Leonardo Villanova – aliam-se na cru- Teclim – Centro de Tecnologias Limpas –,
zada para o consumo sustentável. da Universidade Federal da Bahia, que nos
O Sebrae entra no projeto “Fazenda de ensina tecnologias limpas; o engenheiro
Chocolate” para treinar micro e pequenos holandês Jörgen Lewenstein, que nos mu-
empresários na produção do Chocolate da nicia com informações especializadas so-
Mata Atlântica, usando outros produtos da bre recursos hídricos; Amyra Khalili, co-
agrofloresta. Paulo Manso Cabral, visioná- mandante das commodities ambientais;
rio diretor do Sebrae Bahia, sempre pre- Rosita e Antônio Couto, pioneiros proprie-
sente nas discussões dos cenários para o tários da Pousada Farol de Morro de São
empreendimento de ações sustentáveis, Paulo, distrito de Cairu, que investem no
estimula a UMA na introdução dos concei- desenvolvimento sustentável no seu muni-
tos de econegócios nas micro e pequenas cípio; Virginia Garcez e Pierre Weil, que
empresas, batizadas por nós de MPEcos. abrem nossos caminhos para a visão ho-
Relacionamento é uma forma de capi- lística; Daniel Athayde de Almeida, Fernando
tal, o chamado capital social, que, como o Torres e Caio Mario Marques, nossos con-
capital financeiro, rende juros. Laços soci- sultores jurídicos; Beatriz Cerqueira Lima,

xiv
Estado do Mundo 2004
UMA PEQUENA HISTÓRIA DA PARCERIA WWI – UMA NO BRASIL

arquiteta especializada em desenvolvimen- tos e dos nossos conselheiros, Regina Co-


to urbano sustentável; Carlos Leal Villa, eli Oliveira, Estácio Ramos, Sergio Faria e
presidente do Grupo Suez no Brasil, em- Carlos Francisco de Almeida Filho, que in-
preendedor das causas ambientais; o jor- tuem e organizam o nosso dia-a-dia.
nalista Washington Novaes, alerta para di- Os inestimáveis apoios recebidos da
vulgar “furos” com as nossas notícias ain- Caixa Econômica Federal, Petrobras, Mi-
da quentes; Emanuel Mendonça e Durval nistério do Meio Ambiente, Ministérios
Olivieri, diretores da Semarh – Secretaria Públicos Federal e Estaduais, CBEDS,
de Meio Ambiente do Estado da Bahia –, e IESB – Instituto de Estudos Socioambi-
Lúcia Cardoso e Teresa Muricy, diretoras entais do Sul da Bahia –, Ceplac, Gráfica
do Centro de Recursos Ambientais da Santa Helena, Fundação Luís Eduardo
Bahia, entusiasmados apoiadores do GEO Magalhães, Sebrae, CET – Centro de
Bahia e da série Estado do Mundo; Célia Excelência em Turismo –, da UnB, UESC
Baldas Mallett e Henry Mallett, nossos com- – Universidade Estadual de Santa Cruz –,
petentes tradutores, juntos conosco desde UNEB – Universidade do Estado da
o primeiro livro da UMA; Ricardo Baroud, Bahia –, FIEB e CNI garantem a conti-
Patrícia Chastinet e Fátima Soares, edito- nuidade das nossas atividades.
res e revisora dos nossos textos. Aliados à Os freis franciscanos Hilton Botelho
equipe WWI – UMA, garantem os resulta- (guardião do Convento de Santo Antônio
dos do nosso trabalho. de Cairu, fundado em 1654) e Lucas Dolle
Destacamos também os editores e jor- são também guardiões da UMA em Cairu.
nalistas da Folha de S. Paulo, O Estado de A Casa Pia e Colégio dos Órfãos de São
S. Paulo, O Globo, Gazeta Mercantil, Valor Joaquim – mais antiga instituição voltada
Econômico, Jornal do Brasil, Correio Bra- ao menor carente do país, com 206 anos
siliense, A Tarde, Agora (de Itabuna), Jor- de funcionamento ininterrupto e cujo pro-
nal do Commercio, Zero Hora, Estado de vedor é o desembargador Claudionor Ra-
Minas e das revistas Veja, IstoÉ, Exame, mos, constante incentivador – abrigam o
Época, Nova Escola e Superinteressante, escritório da UMA, em Salvador. Os secu-
que, veiculando matérias com as nossas lares exemplos de fé dessas instituições
informações, ajudam-nos a cumprir a nos- acolhem e reforçam a convicção de que este
sa missão. São pontes com leitores, que é o caminho.
freqüentemente nos alimentam com seus Ao completar 30 anos o WWI usa a
estímulos, balizando o nosso trabalho. expertise dos seus premiados pesquisado-
A intuição move, a razão organiza. Tudo res e o carisma da sua experiência para
isso é possível pela dedicação, pelo idealis- estimular nas comunidades a visão do con-
mo e pela persistência da pequena e incan- sumo sustentável. Escaneia as cadeias pro-
sável equipe nuclear da UMA, por meio dos dutivas, revelando os processos insusten-
esforços de Creusa Porto, Flávio Henrique táveis de produção por trás dos produtos
Cavalcante, Everaldo Santos Ribeiro, Ma- que o consumidor, desinformado, ajuda a
ria de Fátima Da Rin, Isabela Cristina San- fortalecer nas decisões de compra. Cons-

xv
Estado do Mundo 2004
UMA PEQUENA HISTÓRIA DA PARCERIA WWI – UMA NO BRASIL

cientizado, o cidadão tende a optar pelo Quem fala em consumo com sustentabi-
consumo sustentável. lidade não pode esquecer do mais perfeito
Nos países industrializados, o alto po- sonho de consumo que alguém pode ter: o
der aquisitivo dos leitores permite a com- amor. Permitam-me parênteses para decla-
pra de livros e facilita o acesso às infor- rar uma intimidade: o amor à minha família.
mações contidas nas publicações WWI, Minha mulher, Luciana, companheira incan-
referências para o desenvolvimento sus- sável na organização das nossas vidas, e meus
tentável. A Biblioteca Digital WWI – UMA, filhos, Daniel, Rogerio, Marcella, Luisa, Re-
desenvolvida no Brasil, é uma experiência nata e Ricardo, carinhosos e pacientes. Com-
pioneira do WWI no mundo. Versões di- preensivos, convivem com um pai empresá-
gitais das publicações estão disponíveis rio, obstinado e sonhador. A família é base de
para download integral e gratuito, demo- equilíbrio numa sociedade sustentável.
cratizando a informação. Propicia o livre Neste ano de eleições, é oportuno lem-
acesso ao rico conteúdo das publicações brar que o voto é exercício de cidadania,
válido todos os dias – não apenas de dois
para professores, alunos, pequenos em-
em dois anos, quando somos compulsori-
presários, cooperativas, ONGs e comuni-
amente convocados para as urnas. Enquan-
dades, ajudando a construir as bases para
to o voto do consumidor, válido a cada se-
o desenvolvimento sustentável. Incentiva gundo, tem o poder de empurrar a socie-
a eco-economia, difundindo tendências e dade no sentido da sustentabilidade, o veto
experiências sobre grandes e pequenos a cadeias produtivas não-sustentáveis e
econegócios. Além das nossas publica- seus produtos é uma alavanca poderosa
ções, a Biblioteca Digital disponibiliza ou- para guindar as comunidades para o con-
tras, consideradas referências nessa área sumo sustentável.
no Brasil e no mundo. Está entre os sites Até agora, esta é a pequena história da
ambientais mais visitados do Brasil, e no parceria WWI – UMA no Brasil.
topo dos resultados de pesquisas por
“worldwatch” no Google Internacional, Eduardo Athayde
www.google.com, maior máquina de pes- Diretor da UMA – Universidade Livre
quisa da Internet no mundo. Na era da da Mata Atlântica e Editor do WWI –
Internet a informação não pode ficar ape- Worldwatch Institute no Brasil
nas presa ao papel. E-mail: eduardo@uma.org.br

xvi
Estado do Mundo 2004
AGRADECIMENTOS

Agradecimentos

Esta vigésima primeira edição de Estado do Foundation, NIB Foundation, V. Kann


Mundo exigiu a dedicação e esforço de Rasmussen Foundation, A. Frank e
todos os membros da talentosa equipe do Dorothy B. Rothschild Fund, The Shared
Worldwatch e contou com o apoio Earth Foundation, The Shenandoah
generoso dos membros do Conselho, Foundation, Turner Foundation, Inc.
financiadores e amigos, pesquisadores, Programa das Nações Unidas para o Meio
redatores, equipe comercial, especialistas Ambiente, Wallace Global Fund, Weeden
em comunicações, bibliotecárias, Foundation e The Winslow Foundation.
estagiários e pessoal administrativo, todos Somos gratos também aos doadores
merecedores de nossos sinceros individuais do Instituto, incluindo os mais
agradecimentos por sua contribuição ao de 3.500 amigos do Worldwatch, que, com
relatório especial deste ano sobre a seu entusiasmo, demonstraram forte
sociedade de consumo. compromisso com o Worldwatch e seus
Começamos expressando nosso esforços para contribuir para um mundo
reconhecimento à comunidade da sustentável. Somos particularmente gratos
fundação, cujo apoio fiel sustenta e encoraja ao Conselho de Patrocinadores do
o trabalho do Instituto. The Overbrook Worldwatch – Adam e Rachel Albright,
Foundation e Merck Family Fund Tom e Cathy Crain, John e Laurie McBride
subvencionaram especificamente nosso e Wren e Tim Wirth –, que continuamente
trabalho sobre o consumo. Somos também têm demonstrado sua confiança e apoio ao
reconhecidos a vários outros financiadores nosso trabalho com contribuições anuais
que generosamente apóiam o Worldwatch: generosas de US$ 50.000 ou mais.
a Aria Foundation, Richard & Rhoda Para esta edição de 2004 de Estado do
Goldman Fund, The William and Flora Mundo, o Instituto valeu-se dos talentos
Hewlett Foundation, The Frances Lear de um número sem precedentes de autores

17
xvii
Estado do Mundo 2004
AGRADECIMENTOS

externos, colocando em ação nosso adição estimulante à nossa equipe durante


objetivo estratégico de fortalecer os laços o último verão e outono.
com pensadores renomados e experientes A gigantesca tarefa de rastrear artigos,
na área da sustentabilidade. Sandra Postel, revistas e livros de todo o mundo recaiu
Sênior Fellow do Worldwatch e diretora em Lori Brown, nossa bibliotecária
do Projeto de Políticas Globais para a pesquisadora. Além de manter os
Água, e Amy Vickers, autora premiada, pesquisadores atualizados sobre as mais
engenheira e especialista em conservação recentes questões em suas áreas, esta
da água, escreveram o capítulo sobre valeu-se do seu talento notável na coleta de
produtividade hídrica. Temos a satisfação informações para montar a cronologia dos
também de incluir contribuições dos significativos eventos globais na seção “Um
especialistas em consumo Isabella Marras, Ano em Retrospecto.”
Solange Montillaud-Joyel e Guido Após a conclusão da pesquisa e
Sonemann, do Programa das Nações elaboração iniciais, um processo de revisão
Unidas para o Meio Ambiente; William interna pelos membros da equipe do
McDonough e Michael Braungart, da Worldwatch ajudou a assegurar clareza e
McDonough Braungart Design Chemistry; correção às nossas conclusões. Durante
Paul McRandle e Mindy Pennybacker, do um dia inteiro de reunião, em agosto de
Green Guide Institute; Juliet Schor, do 2003, os autores dos capítulos foram
Boston College, e David Tilford, do Center questionados, cumprimentados e
for a New American Dream. resenhados pelos estagiários, pessoal da
Os autores dos capítulos também revista e outros analistas. Os autores são
agradecem o entusiasmo e dedicação da extremamente agradecidos pela excelente
equipe de estagiários de 2003 pela sua assessoria prestada, inclusive a ajuda dos
perseverança na pesquisa de fatos pouco colegas pesquisadores Chris Bright e Molly
visíveis, produzindo gráficos, tabelas e O’Meara Sheehan, que, mesmo ocupados
quadros. Clayton Adams, com muita boa com outros projetos ao longo do ano,
vontade, estendeu seu tempo conosco para encontraram tempo para contribuir com
localizar informações para os Capítulos 4, uma seção “Atrás dos Bastidores”. O staff
6 e 7; Zöe Chafe prestou valiosa assistência de Ed Ayres e Tom Prugh, da revista World
nas pesquisas para o Capítulo 7 e a Watch, também dedicou suas capacidades
cronologia “Um Ano em Retrospecto”; editoriais na revisão das minutas.
Claudia Meulenberg habilmente administrou Resenhas de especialistas externos, que
os infindáveis pedidos de ajuda para o contribuíram generosamente com seu
Capítulo 1; Shawn Powers recolheu com tempo, também foram indispensáveis para
afinco informações para os Capítulos 1, 3 o produto final deste ano. Por seus
e 5; e Anand Rao e Tawni Tidwell comentários e sugestões abalizadas, como
enriqueceram o Capítulo 2 com seu também pelas informações que muitos
profundo conhecimento sobre as prestaram, nossos especiais agradecimentos
tendências energéticas globais. Altamente a: Abe Agulto, Mark Anielski, Michael
capazes e bem-dispostos, cada um foi uma Appelby, Matt Bentley, William Browning,

18
xviii
Estado do Mundo 2004
AGRADECIMENTOS

David Brubaker, William Cain, Scot Case, Departamento de Comunicações, que


Maurie Cohen, Dwight Collins, John de trabalha em múltiplas frentes para assegurar
Graaf, Bas de Leeuw, Ed Diener, Chad que a mensagem de Estado do Mundo
Dobson, John Ehrenfeld, Andrea Fava, Tom circule amplamente, além de nossos
Ferguson, Bette Fishbein, David Fridley, escritórios em Washington. A diretora de
Bruce Friedrich, Sakiko Fukuda-Parr, comunicações, Leanne Mitchell, a
Howard Geller, Gerard Gleason, Edward coordenadora de mídia, Susan Finkelpearl,
Groth III, Kirsty Hamilton, Marlene e a associada de comunicações, Susanne
Hendrickson, Rich Howarth, Bobby Martikke, trabalharam junto aos
Inocencio, Daniel Katz, Johathan Louie, pesquisadores na elaboração de nossas
Philip Lymbery, Mia Macdonald, Michael mensagens à imprensa, público e
Marx, Jim Mason, William Moomaw, Rosa legisladores em todo o mundo. O
Moreno, Nick Parrott, Enrique Peñalosa, webmaster Steve Conklin aplicou sua
David Pimentel, Robert Prescott-Allen, Lynn especialização técnica à transmissão de
Price, Howard Rappaport, Richard Reynells, nossas informações, através do nosso novo
John Rodwan, Hiroyuki Sato, Hans Schiere, website, e o gerente de TI Patrick Settle
Lee Schipper, Robert Schubert, Paul Shapiro, assegurou a operação ininterrupta das linhas
Ted Smith, Freyr Sverrisson, Joel Swisher, de comunicação tanto interna quanto
Ted Trainer, Arthur Weissman, Eric Williams, externamente.
Paul Willis e David Wood. Agradecemos A vice-presidente para desenvolvimento
também a Norman Myers, da Universidade comercial, Elizabeth Nolan, coordenou a
de Oxford, co-autor do livro a ser lançado cooperação com nossos parceiros editoriais
The New Consumers: Rich Lives or Richer globais, contribuindo com criatividade e vigor
Lifestyles?, por nos ter introduzido numa para nossos esforços de marketing. A
nova visão dos consumidores no mundo. assistente executiva Katherine Dirks, com
O apuro adicional de cada capítulo sua disposição de enfrentar qualquer desafio,
ocorreu sob o olhar cuidadoso da redatora deu uma grande ajuda ao desenvolvimento
independente Linda Starke, cujos 27 anos comercial e ao presidente do Worldwatch,
de experiência com as publicações do Christopher Flavin, garantindo o cronograma
Worldwatch asseguraram a comunicação de das reuniões e viagens. A diretora financeira
nossas mensagens da forma mais clara e administrativa, Bárbara Fallin, administrou
possível e nosso cumprimento dos prazos. eficientemente as finanças do Instituto e
Após a conclusão da editoração e ajustes manteve todo o pessoal calmo durante a
finais, o diretor de arte Lyle Rosbotham reforma do escritório neste último verão.
cuidadosamente elaborou o desenho de cada Joseph Gravely continuou reinando como o
capítulo, da cronologia e da nova seção deste Tzar do Departamento de Correio do
ano “Atrás dos Bastidores”. Ritch Pope Worldwatch.
finalizou a produção preparando o Sumário. Lamentavelmente, tivemos que dizer
Escrever é apenas o começo de fazer adeus a Adrianne Greenlees, vice-presidente
Estado do Mundo chegar a seus leitores. A de desenvolvimento do Instituto, em julho,
tarefa então passa para nosso excelente mas tivemos a felicidade de encontrar um

19
xix
Estado do Mundo 2004
AGRADECIMENTOS

excelente substituto em John Holman. Ele Romênia; Hamid Taravaty, no Irã; Eduardo
e a assistente de desenvolvimento, Cyndi Athayde, no Brasil, e Jonathan Sinclair
Cramer, trabalham incessantemente para Wilson, no Reino Unido. Para uma lista
divulgar a palavra do Worldwatch e dar completa de nossos parceiros globais, visite
as boas-vindas às novas adições à www.worldwatch.org/partners.
família Worldwatch. As atividades de Gostaríamos também de expressar
levantamento de recursos da fundação do nossa gratidão à nossa editora de longa data
Instituto continuam sob a liderança capaz nos Estados Unidos, W.W. Norton &
de Kevin Parker, nosso diretor de relações Company. Graças à dedicação de sua equipe
com a fundação, assistido pela associada – especialmente Amy Cherry, Leo
de desenvolvimento Mary Redfern. Wiegman, Andrew Marasia, Julia Druskin
Ambos vêm trabalhando com nossos e Lucinda Bartley – as publicações do
patrocinadores na fundação, cultivando Worldwatch estão disponíveis em qualquer
novos relacionamentos, que sustentarão lugar, desde campi universitários até
o trabalho do Instituto nos anos futuros. pequenas livrarias locais.
Estendemos nossos agradecimentos Nossos agradecimentos especiais pelo
especiais a nossos parceiros em todo o trabalho árduo e leal dos membros do
mundo por seus esforços extraordinários Conselho de Administração do Instituto, que
na divulgação da mensagem do deram contribuições importantes em
desenvolvimento sustentável. O Estado do planejamento estratégico, desenvolvimento
Mundo é publicado regularmente em 31 organizacional e levantamento de fundos
idiomas e 39 edições diferentes, graças, em durante o último ano. Estamos felizes com
grande parte, à dedicação de uma gama de a entrada de três novos e eminentes
editores, organizações não-governamentais, membros do Conselho: Akio Morishima,
grupos da sociedade civil e indivíduos que presidente do Conselho do Instituto de
prestam serviços de consultoria, como Estratégias Ambientais Globais, no Japão;
também de tradução, atividades de campo, Geeta Aiyer, presidente da Boston Common
publicação e assistência para nossas Asset Management, nos Estados Unidos, e
pesquisas. Gostaríamos de agradecer Satu Hassi, ex-Ministro do Meio Ambiente
particularmente a ajuda recebida de Øysten da Finlândia e atual membro do Parlamento
Dahle, Magnar Norderhaug e Helen Eie, na finlandês.
Noruega; Brigitte Kunze, Christoph Bals, Dedicamos esta edição de Estado do
Klaus Milke, Bernd Rheinberg e Gerhard Mundo a Tom e Cathy Crain, membros
Fischer, na Alemanha; Soki Oda, no Japão; do Conselho de Administração do Instituto
Anna Bruno Ventre e Gianfranco Bologna, e do Conselho de Patrocinadores. No final
na Itália; Lluis Garcia Petit e Marisa dos anos 90, os Crains tiveram uma
Mercadoi, na Espanha; Jung Yu Jin, na “epifania” quando trabalhavam na indústria
Coréia, George Cheng, em Taiwan; Yesim financeira, que os levou a abraçar a causa
Erkan, na Turquia; Viktor Vovk, na Ucrânia; da sustentabilidade. Hoje, Tom e Cathy são
Tuomas Seppa, na Finlândia; Zsuzsa tão bem-informados sobre a economia da
Foltanyi, na Hungria; Ioana Vasilescu, na sustentabilidade e a globalização e tão

20
xx
Estado do Mundo 2004
AGRADECIMENTOS

dedicados à reforma do sistema externar nossa gratidão por seu


econômico global quanto qualquer compromisso com um futuro sustentável.
membro da nossa equipe. Finalmente, gostaríamos de estender um
Desde que se juntaram ao Conselho do caloroso voto de boas-vindas à mais jovem
Worldwatch, em 1998, Tom e Cathy vêm adição à família Worldwatch, Elizabeth Rose
desempenhando um papel de destaque no McGinn, nascida em novembro de 2002,
planejamento estratégico do Instituto, filha da pesquisadora sênior Anne Platt
ajudando a construir tanto a participação McGinn. É para Elizabeth e sua geração
quanto as operações do Conselho, que nos esforçamos incessantemente na
contribuindo significativamente para a base busca de caminhos que tornem o nosso
financeira do Instituto. Tom é hoje vice- planeta mais habitável.
presidente e tesoureiro do Instituto, e Cathy
preside o Comitê de Designação. Nossos Brian Halweil e Lisa Mastny
agradecimentos são insuficientes para Diretores de Projeto

21
xxi
Estado do Mundo 2004
AGRADECIMENTOS

Sumário
Apresentação por Enrique Iglesias vii 4 Controlando Nossa Alimentação 82
Presidente do BID - Banco Brian Halweil e Danielle
Interamericano de Nierenberg
Desenvolvimento
Uma Pequena História da Parceria ATRÁS DOS BASTIDORES: Água Engarrafada 105
WWI – UMA no Brasil Frangos 108
ix Chocolate 111
Agradecimentos xvii Camarões 114
Lista de Quadros, Tabelas e
Refrigerantes 117
Figuras xxiii
Introdução xxvii
5 Rumos para uma Economia
BØrge Brende
Menos Consumista 120
Ministro do Meio Ambiente da
Michael Renner
Noruega
Prefácio xxix ATRÁS DOS BASTIDORES: Telefones Celulares 148
Estado do Mundo:
Um Ano em Retrospecto xxxiii 6 Comprando para as Pessoas e
Lori Brown o Planeta 151
Lisa Mastny
1 O Estado do Consumo Hoje 3 ATRÁS DOS BASTIDORES: Papel 175
Gary Gardner, Erik
Assadourian e Radhika Sarin
7 Articulando Globalização,
ATRÁS DOS BASTIDORES: Sacos Plásticos 25 Consumo e Governança 178
Hilary French
2 Escolhendo Melhor a Energia 28 ATRÁS DOS BASTIDORES: Camisetas de
Janet L. Sawin
Algodão 200
ATRÁS DOS BASTIDORES: Computadores 52
8 Repensando a Boa Vida 203
3 Incrementando a Produtividade Gary Gardner e Erik Assadourian
Hídrica 55
Sandra Postel e Amy Vickers Notas 223
ATRÁS DOS BASTIDORES: Sabonetes
Antibacterianos 79

22
Estado do Mundo 2004
AGRADECIMENTOS

Lista de Quadros,
Tabelas e Figuras
Quadros
1 O Estado do Consumo Hoje
1-1 E Quanto à População? 6
2 Escolhendo Melhor a Energia
2-1 Surto da Demanda Energética na China e Índia 32
2-2 Só Eficiência Não Basta 36
2-3 Os Altos e Baixos da Tecnologia da Informação 39
3 Incrementando a Produtividade Hídrica
3-1 Dessalinização – Solução ou Sintoma? 66
3-2 Privatização e Vazamento: Omissão de Prestação de Contas 68
3-3 Programas Urbanos de Conservação Hídrica que Poupam Água e Dinheiro 70
3-4 Bebendo o Gramado e a Farmácia do Vizinho 73
3-5 Medidas que Podemos Tomar para Reduzir Nosso Impacto sobre a Água Doce 76
4 Controlando Nossa Alimentação
4-1 Varrendo os Mares 85
4-2 Alimentos de Luxo 86
4-3 Políticas Prioritárias para Repensarmos Nossa Relação com os Alimentos 104
5 Rumos Para uma Economia Menos Consumista
5-1 A Alternativa Berço-a-Berço 130-131
5-2 Consumidores Americanos, Produtos Baratos e a Exploração Global
da Mão-de-obra 144-145
6 Comprando para as Pessoas e o Planeta
6-1 Esverdeando Contratos de Compra 154
6-2 Compromisso da Home Depot com Produtos de Madeira Sustentável 163
6-3 A Abordagem de Ciclo de Vida 169

23
xxiii
Estado do Mundo 2004
LISTA DE QUADROS, TABELAS E FIGURAS

7 Articulando Globalização, Consumo e Governança


7-1 O Comércio Justo e o Consumidor 183-84
7-2 Utilizando o Poder dos Jovens para Mudar o Mundo 187-88
7-3 Destaques do Plano de Ação de Joanesburgo 190-91
8 Reconsiderando a Boa Vida
8-1 A Experiência de Gaviotas: Priorizando o Bem-Estar 213
8-2 Medindo o Bem-Estar 215
8-3 Encorajando Anunciantes a Promover a Sustentabilidade 219

Tabelas
1 O Estado do Consumo Hoje
1-1 Gastos com Consumo e População, por Região, 2000 7
1-2 Classe de Consumidores, por Região, 2002 7
1-3 Dez Maiores Populações Nacionais de Classe de Consumidor, 2002 8
1-4 Proporção das Despesas Domésticas em Alimentação 9
1-5 Consumo Familiar, Países Selecionados, Cerca de 2000 10
1-6 Gasto Anual em Itens de Luxo Comparado com os Recursos Necessários
para o Atendimento de Necessidades Básicas Selecionadas 11
1-7 Tendências Globais dos Recursos Naturais e do Meio Ambiente 19

2 Escolhendo Melhor a Energia


2-1 Consumo de Energia e Emissões de Dióxido de Carbono Anuais, Países
Selecionados 31
2-2 Frotas de Veículos Particulares e Comerciais, Países Selecionados e Total,
1950–99 34
2-3 Posse de Eletrodomésticos nos Países Industrializados e em
Desenvolvimento, Anos Selecionados 40
2-4 Consumo de Energia e Bem-Estar, Países Selecionados 50

3 Incrementando a Produtividade Hídrica


3-1 Extrações Anuais Estimadas de Água, Per Capita, Países
Selecionados, 2000 60
3-2 Populações sem Acesso a Água Potável e Saneamento, 2000 61
3-3 Uso de Gotejamento e Microirrigação, Países Selecionados, 1991 e
Cerca de 2000 63
3-4 Água Consumida para Suprir Proteínas e Calorias, Alimentos Selecionados 65
3-5 Vazamentos e Perdas em Sistemas de Abastecimento de Água, Países
Selecionados 68
3-6 Exemplos de Economia de Água Industrial pela Conservação 75

24
xxiv
Estado do Mundo 2004
LISTA DE QUADROS, TABELAS E FIGURAS

5 Rumos para uma Economia menos Consumista


5-1 Estimativas de Subsídios e Externalidades Globais Ambientalmente
Danosas 123
5-2 Receita Fiscal Ambiental, União Européia, Anos Selecionados 124
5-3 Leis sobre o Princípio de Responsabilidade do Produtor, Setores Selecionados 133
5-4 Economia de Energia Obtida pela Substituição da Produção Primária por
Materiais Secundários 135
5-5 Novas Abordagens à Jornada de Trabalho na Europa 142
6 Comprando para as Pessoas e o Planeta
6-1 Exemplos de Aquisições Verdes em Empresas Selecionadas 156
6-2 Exemplos de Aquisições Governamentais Verdes 159
7 Articulando Globalização, Consumo e Governança
7-1 A Disseminação do “McMundo” 180
7-2 Parcerias Selecionadas de Produção e Consumo Relacionadas à Cúpula
Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável 192-93
7-3 Principais Conflitos Comerciais Relacionados à Produção e Consumo
Sustentáveis 195-96

Figuras
1 O Estado do Consumo Hoje
1-1 Gastos em Publicidade nos Estados Unidos e Mundiais, 1950–2002 16
1-2 Mudanças na Atividade Econômica e na Saúde dos Ecossistemas,
1970–2000 20

3 Incrementando a Produtividade Hídrica


3-1 Produtividade Hídrica de Economias Nacionais, Países Selecionados, 2000 58
3-2 Produtividade Hídrica dos Estados Unidos, 1950–2000 59
3-3 Consumo Doméstico de Água, Cidades e Países Selecionados 71

4 Controlando Nossa Alimentação


4-1 Carne Industrial: Insumos e Produtos 89
4-2 Vendas Globais de Alimentos Orgânicos, Cerca de 2002 95
4-3 Principais Plantios Nacionais em Área Orgânica Certificada, Cerca de 2002 95
4-4 Ingredientes Locais Versus Importados: Grã-Bretanha 100

5 Rumos Para Uma Economia Menos Consumista


5-1 Necessidades Materiais Per Capita nos Estados Unidos, Alemanha e
Japão, 1996 127
5-2 Crédito ao Consumidor a Receber nos Estados Unidos, 1950–2003 139

25
xxv
Estado do Mundo 2004
LISTA DE QUADROS, TABELAS E FIGURAS

5-3 Jornada Anual Trabalhadas por Pessoa Empregada nos Principais Países
Industrializados, Anos Selecionados, 1913–98 141

6 Comprando para as Pessoas e o Planeta


6-1 Gastos Governamentais como Parcela do PIB em Países Selecionados, 1998 153

7 Articulando Globalização, Consumo e Governança


7-1 Exportações Mundiais de Bens e Serviços, 1950–2002 181
7-2 Exportações Mundiais de Commodities Selecionadas, 1961–2001 182
7-3 Pegada Ecológica por Pessoa em Nações Selecionadas, 1999 182

8 Reconsiderando a Boa Vida


8-1 Renda Média e Felicidade nos Estados Unidos, 1957–2002 205

26
xxvi
Estado do Mundo 2004
INTRODUÇÃO

Introdução

Um leitor cético poderia perguntar se o nidade singular para uma gama diversifica-
mundo ainda precisa de outro relatório de- da de comunidades – desde povos indíge-
talhando a extensão e urgência dos desafi- nas até educadores, agricultores e executi-
os globais. Porém, Estado do Mundo 2004 vos – compartilharem idéias sobre como
é diferente. Enfoca o consumo – um dos enfrentar os desafios impostos por nossa
elementos mais centrais e também um dos sociedade de consumo. Nas reuniões anu-
mais negligenciados na busca global por um ais da CDS, as pessoas tomam conheci-
futuro sustentável. mento sobre o que está e não está funcio-
O Plano de Ação que surgiu da Cúpula nando em várias partes do mundo e forta-
Mundial sobre Desenvolvimento Sustentá- lecem-se com a experiência de outros.
vel em Joanesburgo, África do Sul, em Governos aprendem como aplicar o prin-
2002, declara: “Mudanças fundamentais na cípio politicamente complexo do “poluidor
forma de as sociedades produzirem e con- paga” e como eliminar subsídios danosos.
sumirem são indispensáveis para a conquis- A 12ª reunião da CDS, que presidirei
ta de um desenvolvimento sustentável glo- nas Nações Unidas em abril de 2004, des-
bal”. A manutenção desse compromisso so- lanchará o programa decenal de produção
lene é hoje parte das minhas responsabili- e consumo sustentáveis exigido em Joa-
dades desde que fui eleito, em 2004, presi- nesburgo. Além disso, essa reunião dará um
dente da Comissão sobre Desenvolvimen- foco importante à água, ao saneamento e
to Sustentável (CDS), o órgão das Nações aos assentamentos humanos, todos elemen-
Unidas de acompanhamento dos acordos tos essenciais do consumo sustentável e
do Rio e Joanesburgo. também chave para a conquista de outra
O consumo, naturalmente, é essencial prioridade central das Nações Unidas – a
para o bem-estar da humanidade, porém o eliminação da pobreza em todo o mundo.
consumo exagerado ou o consumo errado Como os qualificados especialistas do
mina tanto nossa saúde pessoal quanto a Worldwatch Institute mostram em grande
saúde do meio ambiente natural do qual detalhe nesta edição de Estado do Mundo,
dependemos. A CDS oferece uma oportu- novos padrões de consumo serão necessá-

xxvii
27
Estado do Mundo 2004
INTRODUÇÃO

rios para retirar bilhões de pessoas da po- paga”, eliminar subsídios danosos e criar
breza de uma forma consistente com a sus- novos mercados. Quando utilizarmos es-
tentabilidade global. Todos nós tomamos sas ferramentas, mudaremos nossos pa-
decisões importantes, diariamente, que afe- drões de consumo e produção, tornando-
tam não apenas nossas próprias comunida- os mais sustentáveis.
des, mas também o mundo como um todo Estou compromissado na realização de
– tanto sua população atual quanto a futura. uma das singulares competências da CDS no
Como foi reconhecido em Joanesbur- que tange ao consumo e a outras questões:
go, grande parte da responsabilidade de forjar alianças entre o setor corporativo, gru-
equilibrar nossa sociedade de consumo pos de cidadãos e outros, a fim de conseguir
com o planeta recai sobre as nações mais mudanças positivas para o mundo. Espero
ricas, não apenas por serem responsáveis que, ao destacar as realizações dessas alian-
pelo maior consumo global, mas porque ças e enfatizar soluções inovadoras, Estado
podem ajudar os países em desenvolvimen- do Mundo 2004 contribua para a evolução de
to a “pular” algumas das escolhas insus- uma sociedade sustentável.
tentáveis que as nações industrializadas hoje Não pude ler todo o conteúdo deste li-
exportam. No final, o consumo sustentá- vro e, assim, não poderei endossar cada idéia
vel é uma preocupação comum que requer que contém. Mas, com base no que li até
nossos esforços conjuntos. agora, estou convencido de que Estado do
Um exemplo de uma nova abordagem Mundo, da mesma forma que no passado,
do consumo, envolvendo produtores e con- proporcionará uma gama significativa de
sumidores, é o trabalho da Rainforest Alli- idéias inovadoras que, seguramente, serão
ance, organização sem fins lucrativos. Esta úteis para mim e para outros envolvidos nas
assinou acordos importantes com uma deliberações da CDS em 2004. Como assi-
grande empresa de café, como também nalam os autores, o que está faltando hoje é
com um produtor de banana e outras gran- ação determinada. É com isso que todos nós
des empresas alimentícias, para monitorar devemos estar comprometidos.
as práticas ambientais em fazendas onde O desafio é gigantesco, mas a alter-
suas matérias-primas são produzidas. Con- nativa é inconcebível. Mais do que nun-
sumidores ambientalmente conscientes ca, o que fica claro em Estado do Mun-
poderão adquirir os produtos ecorrotula- do 2004 é que cada de um nós desempe-
dos que serão os frutos desse projeto. nha diariamente um papel na mudança do
Precisamos de mais exemplos como mundo. E embora isso possa parecer in-
este para mostrar que dispomos de meios timidador, poderá também ser uma fonte
– se quisermos utilizá-los – para aplicar o de energia coletiva.
conceito da produção mais limpa, dar aos
consumidores condições de fazerem esco- BØrge Brende
lhas informadas e exigir e fornecer infor- Ministro do Meio Ambiente da Noruega
mações ambientais. Também dispomos de Presidente da Comissão sobre
meios para aplicar o princípio do “poluidor Desenvolvimento Sustentável

xxviii
28
Estado do Mundo 2004
PREFÁCIO

Prefácio

Em seu livro An All-Consuming Century, o em comparação com o tempo passado no


professor de História Gary Cross argumen- “shopping” – e a relação do consumo com
ta que o “consumismo” ganhou as guerras objetivos econômicos mais abrangentes, tais
ideológicas do século XX. Embora a maio- como emprego, é a pedra de toque dos po-
ria das histórias dos desenvolvimentos eco- líticos. No esteio do 11 de setembro de
nômicos e políticos recentes tenham suge- 2001, o Presidente Bush recomendou a seus
rido que foi o capitalismo ou a democracia conterrâneos que era seu dever patriótico
que triunfou sobre o comunismo, Cross irem aos shoppings e “comprar”.
constrói uma argumentação convincente de Embora o livro de Gary Cross focalize
que é o consumismo que define nossa era, os Estados Unidos, sua análise pode ser
e é a lente por meio da qual a maioria das aplicada a uma parcela cada vez maior da
pessoas vê nosso tempo.1 população mundial. Conforme um estudo
O alcance da sociedade de consumo recente, 1,7 bilhão de pessoas – 27% da
pode ser medido pelos grandes aumentos humanidade – já entraram na sociedade de
na aquisição de automóveis, fast-food, apa- consumo. Desse grupo, aproximadamen-
relhos eletrônicos e outros símbolos do te 270 milhões estão nos Estados Unidos
estilo de vida moderno. Mas o argumento e Canadá, 350 milhões na Europa Ociden-
de que é o consumismo que define nossa tal e 120 milhões no Japão. Porém, quase
era tem raízes mais profundas: a necessi- metade dos consumidores mundiais vive
dade de comprar e consumir, atualmente, agora nos países em desenvolvimento, in-
domina o espírito de muitas pessoas, pre- cluindo 240 milhões na China e 120 mi-
enchendo o espaço anteriormente ocupado lhões na Índia – cifras que dispararam dra-
pela religião, família e comunidade. O con- maticamente nas últimas duas décadas à
sumo tem proporcionado a centenas de medida que a globalização introduziu mi-
milhões de pessoas um novo sentido de lhões de pessoas no mercado de bens de
independência e tornou-se um padrão co- consumo, fornecendo ao mesmo tempo
mum para medir a realização pessoal. O tecnologia e capital necessários para sua
tempo dedicado à igreja, agora, é menor produção e disseminação.2

29
xxix
Estado do Mundo 2004
PREFÁCIO

No trigésimo aniversário do Worldwatch te descrito tão cruamente, ajudou a alimen-


Institute, esta edição de Estado do Mun- tar o crescimento sem paralelo da econo-
do examina como consumimos, por que mia global ao longo das últimas cinco dé-
consumimos e que impacto nossas esco- cadas, criando rendas e empregos para
lhas de consumo têm sobre o planeta e centenas de milhões de pessoas.3
nossos semelhantes. Com capítulos sobre Entretanto, a busca desenfreada do con-
alimento, água, energia, governança, eco- sumo também impôs um alto custo, um
nomia e a redefinição da boa vida, a pre- custo que cresce pelo menos tão rápido
miada equipe de pesquisadores do quanto o próprio consumo. O consumo
Worldwatch pergunta se uma sociedade hoje absorve grandes quantidades de recur-
menos consumista é possível – e passa a sos, muitos dos quais estão sendo consu-
argumentar como é crucial. midos agora além dos níveis de sustentabi-
Naturalmente, o consumo é necessário lidade. Somente nos últimos 50 anos, o uso
para a vida e o bem-estar da humanidade, e mundial de água doce triplicou, enquanto o
se a escolha é entre ser parte da sociedade consumo de combustíveis fósseis quintu-
de consumo ou estar entre os 2,8 bilhões plicou. Os recursos renováveis estão par-
de pessoas que mal sobrevivem com me- ticularmente sob ameaça, desde os lençóis
nos de US$ 2 diários, a resposta é fácil. freáticos em queda no norte da China até
Aumentos maciços na ingestão de calori- os pesqueiros exauridos do Atlântico Nor-
as, qualidade de moradia, eletrodomésticos te. Ao longo do tempo, melhorou a eficiên-
e muitas outras amenidades da metade do cia do uso humano dos recursos, e a exaus-
século passado ajudaram a tirar centenas tão de recursos foi substituída por outras,
de milhões de pessoas da pobreza. mas o padrão da metade do século passa-
Porém, o consumo entre as ricas eli- do permanece claro: a poluição e degrada-
tes mundiais, e cada vez mais na classe ção de recursos, conseqüência do consu-
média, tem, nas últimas décadas, ido mui- mo crescente, continuam a piorar, e o pre-
to além de saciar as necessidades ou mes- ço está sendo medido não só em ecossiste-
mo de realizar sonhos, para tornar-se um mas prejudicados, mas em doença e misé-
fim em si mesmo. É como se o mundo ria humanas – particularmente entre os mais
estivesse agora seguindo a exortação do pobres. Os bilhões de toneladas de dióxido
analista de varejo, pós II Guerra Mundial, de carbono que se acumulam na atmosfera
Victor Lebow, que disse “nossa gigantes- como resultado do aumento dos níveis de
ca economia produtiva... exige que faça- consumo de combustíveis fósseis estão
mos do consumo nosso meio de vida, que agora levando esses problemas em nível
convertamos a compra e uso de bens em mundial na forma da mudança climática.4
rituais, que procuremos nossa satisfação O desafio real está adiante. A corrida
espiritual, nossa auto-satisfação, no con- global ao consumo adquiriu um ímpeto
sumo... Precisamos que coisas sejam con- extraordinário que pressionará cada vez
sumidas, queimadas, gastas, substituídas mais a humanidade e a natureza nas dé-
e descartadas num ritmo cada vez mais cadas futuras. Esse ímpeto é, por exem-
acelerado”. Esse modelo, embora raramen- plo, visível na China, saída da inexistên-

30
xxx
Estado do Mundo 2004
PREFÁCIO

cia virtual de carros particulares em 1980 No desenvolvimento do tema consumo


para 5 milhões de carros em 2000 – e – ao longo de Estado do Mundo deste ano
que provavelmente terá 24 milhões de au- – procuramos ir além da descrição dos di-
tomóveis em 2005, deixando de fora ain- lemas que este impõe, passando pela ex-
da mais de 1 bilhão de compradores em ploração dos meios que possam contê-lo e
potencial.5 redirecioná-lo com o fim de melhorar as
Não somente centenas de milhões de perspectivas do bem-estar e sustentabili-
pessoas no mundo em desenvolvimento dade humanas. Nas páginas seguintes, os
entrarão na sociedade de consumo, como autores mostram como em tudo, desde
os níveis de consumo per capita daqueles nosso uso da energia e água até nosso con-
que já fazem parte dela continuarão a au- sumo de alimentos, podemos fazer esco-
mentar à medida que casas e automóveis lhas que melhorarão nossa saúde, criarão
aumentem de tamanho e quinquilharias pro- empregos e reduzirão as pressões sobre os
liferem. E, ainda mais, conforme o consu- ecossistemas naturais do mundo.
mo per capita cresce, o número absoluto Para alcançar esse objetivo, intercala-
de pessoas também continua a aumentar – mos nos capítulos de Estado do Mundo
quase 3 bilhões de seres humanos serão 2004 artigos curtos sobre uma variedade
adicionados em meados do século. O efei- de produtos do cotidiano – de computa-
to conjunto de consumo e população é par- dores a frangos e refrigerantes –, a fim de
ticularmente alarmante, mas entre os dois permitir que os leitores vejam esses bens
o consumo é mais renitente. A maioria das sob uma nova perspectiva. Também mos-
projeções mostra que a população mundial tramos muitas circunstâncias nos quais os
estabilizará na segunda metade do século à consumidores estão se organizando para
medida que as taxas de fertilidade declinem. adquirir bens tais como produtos de ma-
Mas o consumo simplesmente continuará deira cultivada sustentavelmente, cacau or-
a aumentar. gânico e café de “comércio justo”. Em-
É esta perspectiva intimidante que le- bora esses movimentos, em sua maioria,
vou a equipe de pesquisa do Worldwatch a sejam diminutos em comparação com a
focar a maior parte do seu trabalho no ano economia maior do consumo, estão cres-
passado no consumo, seguindo as pega- cendo rapidamente e poderão, em breve,
das inovadoras de nosso ex-colega Alan tornar-se uma força poderosa em muitos
Durning, que escreveu How Much is mercados.
Enough? em 1992. Durning chamou aten- Nosso objetivo em Estado do Mundo
ção para um enigma que está, atualmente, 2004 não é abordar uma das questões mais
tornando-se cada vez mais visível: a busca importantes de nossa época somente para
obsessiva do consumo não somente sola- informação e motivação de nossos leito-
pará a qualidade de vida daqueles que vi- res, mas trabalhar com nossos associa-
vem na sociedade de consumo, mas tam- dos em todo o mundo para fornecer idéi-
bém diminuirá a capacidade daqueles fora as concretas a todos aqueles que queiram
da classe consumista de satisfazerem suas abandonar a rotina do consumo. Em parte
necessidades básicas.6 o consumismo é, naturalmente, um desa-

31
xxxi
Estado do Mundo 2004
PREFÁCIO

fio social que exigirá uso efetivo de regu- Guide, a Silicon Valley Toxics Coalition e
lamentação oficial e política fiscal para al- o Center for a New American Dream.
cançar o bem comum. Porém, mais do Seria ingenuidade subestimar o desafio de
que na maioria das questões, mudanças conter o ímpeto consumista. Poucas forças
nas práticas de consumo requererão mi- são tão poderosas ou disseminadas. Porém,
lhões de decisões individuais que podem à proporção que os custos do consumo de-
somente ter origem nas bases. senfreado tornem-se claros, acreditamos que
Como ajuda neste processo estare- as idéias inovadoras descritas nestas páginas
mos, em breve, abrindo um portal de também serão aceitas num ritmo acelerado.
consumo no website do Worldwatch que No longo prazo, tornar-se-á aparente que atin-
conterá material selecionado de Estado gir objetivos geralmente aceitos – atendimen-
do Mundo, links com organizações que to das necessidades básicas humanas, me-
trabalham ativamente em campanhas so- lhoria da saúde humana e apoio a um mundo
bre consumo e dicas sobre como tornar- que nos possa sustentar – exigirá que con-
se um consumidor mais informado. Esse trolemos o consumo em vez de permitirmos
portal também incluirá um guia para Es- que o consumo nos controle.
tado do Mundo que terá dúzias de vinhe- Esperamos que você leia, analise e ques-
tas sobre itens comumente usados, como tione as informações e idéias desenvolvi-
também sugestões para encontrar alter- das nestas páginas. Aguardamos suas su-
nativas mais sustentáveis. Adicionalmen- gestões para o fortalecimento das futuras
te, o portal fornecerá informações de edições de Estado o Mundo.
contatos para muitas das organizações
parceiras em todo o mundo que ajuda- Christopher Flavin
ram a reunir informações para este livro Presidente
e que estão trabalhando para mudar os Worldwatch Institute
hábitos de consumo, incluindo o Green Novembro de 2003

32
xxxii
Estado do Mundo 2004
ESTADO DO MUNDO: UM ANO EM RETROSPECTO

Estado do Mundo:
Um Ano em Retrospecto
Em seguida à reação positiva à inovação da 2002 até a impressão de Estado do Mundo
seção “Estado do Mundo: Um Ano em 2004, em outubro de 2003. Novamente, é
Retrospecto” no ano passado, continuamos um misto de avanços, retrocessos e passos
a documentar os vários eventos e desafios em falso em todo o mundo, que afetam os
ao longo do caminho para o desenvolvimento objetivos sociais e ambientais da sociedade.
sustentável. A edição deste ano foi compilada Não houve ênfase em abrangência, e sim
pela bibliotecária pesquisadora Lori Brown, no destaque de eventos que aumentaram a
com contribuições de toda a equipe. Zöe conscientização das ligações entre pessoas
Chafe, Lisa Mastny e Radhika Sarin deram e meio ambiente. Sempre apreciamos
uma ajuda especial na composição da nova qualquer feedback dos nossos leitores e
cronologia. esperamos continuar compilando a
A cronologia, este ano, cobre eventos e cronologia, à medida que avançamos no
relatórios significativos desde outubro de novo milênio.

33
xxxiii
Estado do Mundo 2004
ESTADO DO MUNDO: UM ANO EM RETROSPECTO

CLIMA CRIANÇAS ALIMENTOS CLIMA


A ONU informa que o Relatório divulga que O Programa Mundial Observações de
setor de seguros 72 grupos, num de Alimentos alerta satélite do Oceano
poderá perder até US$ conflito armado na que 40 milhões de Ártico mostram que a
150 bilhões anuais, na Ásia, África, América pessoas na África área coberta de gelo é
próxima década, Latina e Europa, estão ameaçadas de a menor dos últimos
devido a danos utilizam crianças, inanição, devido a 20 anos.
relacionados à principalmente entre fatores climáticos,
mudança climática. 14 e 17 anos, como questões de saúde,
soldados. distúrbios civis e
políticas econômicas.

ÁGUA POLUIÇÃO ENERGIA


Estudo revela que a extração O petroleiro Prestige, com Oito veículos de célula de
de mananciais para uso 77.000 toneladas de petróleo, combustível a hidrogênio
doméstico, industrial e quebra-se, contaminando o são entregues a
pecuário deverá aumentar pelo litoral da Galícia, na Espanha, autoridades japonesas e
menos 50% até 2025. desencadeando protestos americanas.
mundiais.

CRIANÇAS S AÚDE DIREITOS HUMANOS


Autoridades divulgam que pelo Ministros de Saúde na UE Grupo de direitos humanos no
menos 300.000 crianças de estendem proibição à Paquistão revela que pelo
até cinco anos trabalham em publicidade do fumo na TV, menos 461 mulheres foram
minas na Colômbia, rádio, jornais, Internet e mortas no ano por membros
arriscando-se a contrair eventos esportivos na Europa. da família, em “defesa
doenças respiratórias. da honra”.

TURISMO BIODIVERSIDADE ENERGIA


Com quase um terço dos UNESCO cria 18 novas A última turbina do maior
turistas mundiais passando reservas da biosfera em 12 projeto offshore de energia
férias no litoral do países, estendendo a primeira eólica entra em operação em
Mediterrâneo, técnicos biosfera trans-fronteira Horns Rev, devendo gerar 2%
alertam sobre graves na África. da energia da Dinamarca.
conseqüências ambientais.

34
xxxiv
Estado do Mundo 2004
ESTADO DO MUNDO: UM ANO EM RETROSPECTO

CLIMA CLIMA SEGURANÇA


Um relatório australiano O RU anuncia planos para Os Estados Unidos lançam
revela que a mudança reduzir as emissões uma campanha de
climática provocada pelo domésticas de carbono em bombardeio generalizado no
homem é o fator 60% até 2050, bem além do Iraque, suscitando questões
preponderante em 70 das compromisso de Kyoto. de ligações petrolíferas,
piores secas na história oferta futura de energia e
do país. segurança mundial.

GOVERNANÇA ENERGIA ECONOMIA


Grupo ambiental americano Relatório prevê que as O Banco Mundial estima que
acusa o governo Bush de ter turbinas eólicas fotovoltaicas os combatentes na guerra
realizado mais de 100 expandirão, de um mercado civil boliviana extorquiram,
mudanças que de US$ 9,5 bilhões hoje, em 20 anos, US$ 1 bilhão
enfraqueceram a legislação para US$ 89 bilhões de corporações nacionais.
ambiental. até 2012.

BIOTECNOLOGIA DIREITOS HUMANOS ECOSSISTEMAS


Relatório divulga que a área A ONU informa que 30 Cientistas revelam que muitas
global com lavouras milhões de mulheres e plantas e animais aparentam
transgênicas aumentou 12% crianças na Ásia e Pacífico reagir à mudança climática
mundialmente, atingindo foram vítimas de tráfico nos deslocando-se de suas áreas
58,7 milhões de hectares. últimos 30 anos, “no maior ou iniciando mais cedo as
comércio escravo da atividades primaveris.
história”.

POLUIÇÃO POPULAÇÃO ÁGUA


A ONU informa que usinas A ONU projeta que até 2050 A ONU revela que 263 bacias
de energia a carvão e a população mundial atingirá hidrográficas são
incineradores de lixo nos 8,9 bilhões, caindo da compartilhadas por duas ou
países em desenvolvimento previsão anterior de mais nações, criando conflitos
são fontes da maioria das 9,3 bilhões. em potencial para cerca de
contaminações por mercúrio. 40% da população global.

35
xxxv
Estado do Mundo 2004
ESTADO DO MUNDO: UM ANO EM RETROSPECTO

GENÉTICA PESQUEIROS GOVERNANÇA


Cientistas anunciam ter Cientistas revelam que a Os membros da Comissão
finalmente concluído o pesca industrial matou 90% Internacional sobre a Pesca
rastreamento do código das maiores e mais da Baleia aprovam a
genético humano. economicamente importantes Iniciativa de Berlim, votando
espécies de peixe. a favor de uma agenda
focada em conservação e
não em consumo.

SAÚDE ENERGIA FLORESTAS


Relatório revela que mortes Comportas da Barragem das Relatório divulga que o
causadas pela malária Três Gargantas são fechadas desmatamento na Amazônia
continuam e o Rio Yangtze, na China, aumentou 40% em
“vergonhosamente altas”, começa a encher o comparação a 2001, e o
com mais de 3.000 crianças reservatório, que terá uma Brasil registra o segundo
africanas morrendo capacidade de geração de maior aumento em 15 anos.
diariamente. 18,2 gigawatts até 2009.

ECONOMIA ÁGUA ALIMENTOS


O Índice de Compromisso Pela primeira vez na América A rede de fast-food
com o Desenvolvimento do Sul, 4 países cooperam McDonald’s exige de seus
classifica a Holanda como a na gestão de um manancial fornecedores de carne a
melhor amiga do de água subterrânea: o eliminação gradativa de
desenvolvimento entre 21 Guarani, o maior aqüífero do antibióticos promotores de
países ricos, com base em continente. crescimento.
ajuda a nações pobres.

PESQUEIROS SAÚDE CRIME


O governo do Canadá declara Os 192 membros da OMS A ONU lança a “alfândega
o fim da pesca de bacalhau adotam por unanimidade o verde” para combater o
em quase todo o seu mar primeiro tratado de saúde comércio ilegal
territorial no Atlântico, pública destinado a reduzir multibilionário de produtos
devido ao declínio dos mortes e doenças químicos, resíduos perigosos
estoques. relacionadas ao fumo. e espécies ameaçadas.

36
xxxvi
Estado do Mundo 2004
ESTADO DO MUNDO: UM ANO EM RETROSPECTO

SAÚDE BIOTECNOLOGIA CLIMA POVOS


A OMS anuncia que a Irrompe uma áspera Cientistas relatam INDÍGENAS
Síndrome Respiratória disputa entre EUA e que o hemisfério Quatro mulheres
Aguda Grave (SARS) UE sobre lavouras norte da Terra ficou Pehuenche terminam
foi contida após transgênicas e os mais quente a partir um protesto de 6 anos
disseminar-se por 30 Estados Unidos de 1980 do que em contra uma barragem
países, matando 812 solicitam a formação qualquer época hidrelétrica que
e contaminando de um painel formal durante os últimos inundará suas terras
8.439 pessoas. da OMC para julgar a 2.000 anos. ancestrais no Chile.
questão.

CLIMA MINERAÇÃO CAMADA DE OZÔNIO


A Europa adota a primeira lei 15 das maiores empresas Cientistas informam que o
climática de comercialização mundiais de mineração e buraco de ozônio sobre a
de emissões, dando ao produção de metais Antártica atingiu o recorde
dióxido de carbono um valor comprometem-se a não de 26 milhões de
de mercado em toda a UE explorar sítios de Patrimônio quilômetros quadrados, e
quando iniciarem os da Humanidade. pode expandir-se ainda mais.
negócios em 2005.

ALIMENTAÇÃO ENERGIA ECOSSISTEMAS


Agências de ajuda informam O maior apagão da história Relatório da ONU revela que
que a AIDS está dos Estados Unidos e o número de áreas
incrementando a fome no sul Canadá afeta 50 milhões de protegidas ultrapassou
da África, onde 7 milhões de pessoas em oito estados e 100.000, cobrindo uma
agricultores morreram da duas províncias. superfície de terra maior que
epidemia. a Índia e a China juntas.

FLORESTAS S A ÚD E GOVERNANÇA
Cientistas informam que Mortes causadas por onda Reunião da OMC fracassa
10% das espécies arbóreas de calor na França superam em meio a disputas sobre
do planeta estão ameaçadas 14.800 após as barreiras comerciais e
de extinção, devido à temperaturas terem, subsídios agrícolas, quando
atividade madeireira, repetidamente, excedido 40 uma coalizão de países em
fragmentação florestal e graus centígrados. desenvolvimento muda o
plantações de espécies equilíbrio de força nas
alienígenas invasivas. negociações.

37
xxxvii
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE

2
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE

CAPÍTULO 1

O Estado do
Consumo Hoje
Gary Gardner, Erik Assadourian
e Radhika Sarin

A China bem merece a reputação de ser o 2015, nesse ritmo, os analistas da indús-
país da bicicleta. Durante todo o século XX, tria calculam que 150 milhões de automó-
milhões de bicicletas, literalmente, apinha- veis estarão congestionando as ruas chi-
vam as ruas de suas cidades, não apenas nesas – 18 milhões a mais do que circula-
como meio de transporte pessoal, mas tam- vam nas ruas e rodovias dos Estados Uni-
bém como veículo de entrega – levando de dos em 1999. A classe emergente de con-
tudo, desde materiais de construção até sumidores chineses está aderindo entusi-
frangos a caminho do mercado. Mesmo asticamente ao aumento da mobilidade e
nos anos 80 poucos automóveis circula- elevação do status social representado pelo
vam nas ruas chinesas.1 automóvel – milhões aguardam durante
Um visitante dos anos 80 que retorne meses e assumem dívidas substanciais
hoje a Xangai ou outra cidade chinesa di- para tornarem-se membros pioneiros da
ficilmente a reconhecerá. Em 2002, havia nova cultura automobilística chinesa.2
10 milhões de carros particulares e o nú- As vantagens desse caminho
mero de proprietários crescia acelerada- desenvolvimentista são evidentes para as
mente: a cada dia, em 2003, cerca de autoridades governamentais, que o encora-
11.000 mais veículos juntavam-se ao trá- jam. Cada novo automóvel fabricado na
fego das rodovias chinesas – 4 milhões China representa dois novos postos de tra-
de carros novos no ano. As vendas au- balho para trabalhadores chineses, e a renda
mentaram 60% em 2002 e em mais de que recebem estimula, por sua vez, outros
80% no primeiro semestre de 2003. Até setores da economia chinesa. Ademais, a
corrida para atender à demanda está atrain-
do investimentos maciços de empresas es-
As unidades de medidas mencionadas neste livro são
métricas, salvo quando o uso normal determine de
trangeiras – a General Motors investiu US$
outra forma. 1,5 bilhão em uma nova montadora em Xan-

3
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE

gai, enquanto a Volkswagen comprometeu- restas, clima, diversidade biológica e saúde


se a aplicar US$ 7 bilhões, ao longo dos pró- humana será extremamente grave.5
ximos 5 anos, no aumento de produção.3 Apesar dos perigos à frente, há poucos
A China está, naturalmente, seguindo indícios de qualquer desaceleração da loco-
um caminho muito bem marcado, embora motiva consumista – nem mesmo em paí-
já tenham passado-se oito décadas desde ses como os Estados Unidos, onde a maio-
que o uso generalizado do automóvel po- ria dispõe de uma oferta ampla dos bens e
pularizou-se nos Estados Unidos. Entretan- serviços necessários à condução de uma vida
to, a história automotiva da China não está digna. Em 2003 os Estados Unidos dispu-
ligada nem aos chineses nem ao automó- nham de mais carros particulares do que de
vel. Dos estabelecimentos de fast-food às motoristas, e os utilitários esportivos,
câmeras descartáveis, e do México à Áfri- beberrões de gasolina, estavam entre os ve-
ca do Sul, grande parte do mundo está hoje ículos mais vendidos do país. Novas habi-
entrando na sociedade de consumo num tações aumentaram 38% em 2002, em com-
ritmo alucinante. Segundo uma estimativa, paração a 1975, apesar de haver um núme-
a “classe consumista” possui hoje mais de ro menor de pessoas, em média, por mora-
1,7 bilhão de adeptos – com quase a meta- dia. Os próprios americanos estão maiores
de deles no mundo “em desenvolvimento”. também – tão maiores, na realidade, que uma
Uma cultura e estilo de vida que se torna- indústria multibilionária surgiu para atender
ram comuns na Europa, América do Nor- às necessidades desses cidadãos, oferecen-
te, Japão e em alguns outros bolsões do do tamanhos maiores de roupas, mobília
planeta no século XX e que se globalizam mais resistente e até mesmo ataúdes mais
no século XXI.4 espaçosos. Se as aspirações consumistas da
A sociedade de consumo tem, claramen- nação mais rica do mundo não podem ser
te, um forte encanto e traz consigo muitos saciadas, as perspectivas de controle do
benefícios econômicos. Também seria in- consumo nos outros países, antes do
justo argumentar que as vantagens obtidas desnudamento e degradação por completo
por uma geração anterior de consumidores do nosso planeta, são desanimadoras.6
não deveriam ser compartilhadas pela gera- Entretanto, nem tudo está perdido.
ção seguinte. Todavia, o aumento disparado Defensores do consumo, economistas,
do consumo na última década – e as proje- legisladores e ambientalistas vêm desen-
ções alucinantes que logicamente dele deri- volvendo opções criativas para atender às
vam – indica que o mundo como um todo necessidades das pessoas e, ao mesmo
se verá, em breve, frente a um grande dile- tempo, reduzir os custos ambientais e so-
ma. Caso os níveis de consumo que as vá- ciais associados ao consumo em massa.
rias centenas dos milhões de pessoas mais Além de ajudar as pessoas a encontrar o
afluentes gozam hoje repliquem-se por, pelo equilíbrio entre muito e pouco consumo,
menos, metade dos cerca de 9 bilhões de dão maior ênfase a bens e serviços públi-
pessoas que deverão ser adicionadas à po- cos, a serviços em lugar de bens, a bens
pulação mundial em 2050, o impacto em com maior teor de reciclados e a alterna-
nossa oferta de água, qualidade do ar, flo- tivas genuínas para os consumidores.

4
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE

Conjuntamente, essas medidas poderão quádruplo deveu-se ao aumento


ajudar na obtenção de alta qualidade de vida populacional (vide Quadro 1-1), mas o
com um mínimo de agressão ambiental e volume maior ocorreu em função do avan-
desigualdade social. A chave é aplicar um ço da prosperidade em vários países. Es-
olho crítico não apenas na “quantidade” sas cifras globais mascaram gigantescas
do consumo, mas também na disparidades nos gastos. Os 12% da po-
“racionalidade”. (Vide Capítulos 5 e 8.) pulação mundial que vivem na América do
O consumo não é um mal. As pessoas Norte e na Europa respondem por 60%
precisam consumir para sobreviver, e os do consumo privado global, enquanto a
mais pobres precisam consumir mais para terça parte da humanidade que vive no Sul
terem vidas dignas e oportunidades. Porém da Ásia e na África Subsaariana, repre-
o consumo ameaça o bem-estar das pes- senta apenas 3,2%. (Vide Tabela 1-1.)7
soas e do meio ambiente quando se torna Em 1999, cerca de 2,8 bilhões de pes-
um fim em si mesmo – quando se torna o soas, duas entre cada cinco no planeta –
principal objetivo de vida de um indivíduo, sobreviviam com menos de US$ 2 por dia,
por exemplo, ou a medida máxima de su- o que as Nações Unidas e o Banco Mun-
cesso da política econômica de um gover- dial consideram como mínimo para aten-
no. As economias de consumo em massa der às necessidades básicas. Aproximada-
que geraram um mundo de abundância para mente, 1,2 bilhão de pessoas viviam sob
muitos no século XX vêem-se frente a um “extrema pobreza”, medida por uma ren-
desafio diferente no século XXI: enfocar da diária média de menos de US$ 1. Entre
não o acúmulo indefinido de bens, e sim os mais pobres estão centenas de milhões
uma melhor qualidade de vida para todos, de agricultores de subsistência, que, por
com o mínimo de dano ambiental. definição, não têm salário e raramente en-
volvem-se em transações comerciais. Para
Consumo em Cifras eles, e para todos os pobres do mundo,
os gastos em consumo concentram-se
Por qualquer medida – despesas domésti- quase que totalmente no atendimento às
cas, número de consumidores, extração de necessidades básicas.8
matéria-prima – o consumo de bens e ser- Embora a maior parte dos gastos de
viços tem aumentado constantemente nas consumo ocorra nas regiões mais ricas do
nações industrializadas durante décadas, e mundo, o número de consumidores distri-
cresce aceleradamente em muitos países bui-se mais eqüitativamente entre as regi-
em desenvolvimento. As cifras contam a ões industrializadas e em desenvolvimen-
história de um mundo sendo transformado to. Isso ficou evidente pela pesquisa reali-
por uma revolução do consumo. zada pelo ex-consultor do Programa das
As despesas domésticas – o que se Nações Unidas para o Meio Ambiente
gasta em bens e serviços em nível famili- (PNUMA), Matthew Bentley, que descre-
ar – ultrapassaram US$ 20 trilhões em ve a existência de uma “classe de consu-
2000, contra US$ 4,8 trilhões em 1960 midor” global. Essas pessoas têm renda
(em dólares de 1995). Parte desse aumento superior a US$ 7.000 anuais em termos de

5
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE

paridade de poder aquisitivo (uma medida mas seus membros caracteristicamente dis-
de renda ajustada ao poder aquisitivo em põem de televisão, telefones e Internet, junto
moeda local), ou seja, aproximadamente o à cultura e idéias que esses produtos trans-
nível da linha oficial de pobreza da Europa mitem. Essa classe de consumidor soma
Ocidental. A própria classe de consumidor cerca de 1,7 bilhão de pessoas – mais de
global varia muito em termos de riqueza, um quarto do mundo. (Vide Tabela 1-2.)9

QUADRO 1-1. E QUANTO À POPULAÇÃO?


A Divisão de População das Nações Unidas aproximadamente, 3 milhões de pessoas ao ano,
calcula que a população mundial crescerá 41% e a Índia aumente em quase 16 milhões, esse
até 2050, atingindo 8,9 bilhões de pessoas. Da contingente americano adicional causa maior
mesma forma que a crescente aquisição de impacto ambiental. Ele é responsável por 15,7
aparelhos eletrodomésticos e automóveis pode milhões de toneladas adicionais em emissões de
acabar com a economia de energia conquistada carbono na atmosfera, contra apenas 4,9
pelas melhorias de eficiência, esse aumento nos milhões de toneladas na Índia. Países ricos, com
números humanos ameaça neutralizar qualquer populações em crescimento, precisam atentar
avanço na redução do volume de bens que cada para o impacto tanto do seu consumo quanto
pessoa consome. Por exemplo, mesmo que o de suas políticas populacionais.
americano comum coma 20% menos carne em Outras tendências demográficas menos
2050 do que comia em 2000, o consumo total de discutidas mesclam-se também ao consumo
carne nos Estados Unidos será aproximadamente sob formas surpreendentes. Por exemplo, em
5 milhões de toneladas superior em 2050 devido, função do aumento da renda, urbanização e
unicamente, ao crescimento populacional. famílias menores, o número de pessoas em um
Com a expectativa de 99% do crescimento único domicílio, entre 1970 e 2000, caiu de 5,1
populacional ocorrer nas nações em para 4,4 nos países em desenvolvimento e de
desenvolvimento, esses países precisarão 3,2 para 2,5 nas nações industrializadas,
considerar cuidadosamente o duplo objetivo da enquanto o número total de domicílios
estabilização populacional e maior consumo aumentou. Cada nova residência naturalmente
para o desenvolvimento humano. O mundo requer espaço e materiais. Além disso, as
industrializado poderá ajudar os países em economias obtidas com um maior número de
desenvolvimento a estabilizar suas populações pessoas compartilhando energia,
dando apoio ao planejamento familiar, educação eletrodomésticos e mobiliário são perdidas
e melhoria da situação das mulheres. E poderá quando menos pessoas vivem na mesma casa.
reduzir o impacto de um maior consumo Assim, alguém morando só nos Estados
ajudando na adoção de tecnologias mais limpas Unidos consome 17% mais energia, per capita,
e mais eficientes. do que uma moradia com duas pessoas. Então,
Mas seria um erro considerar o crescimento mesmo em algumas nações européias e no
populacional como um desafio enfrentado Japão, onde a população total não sofre um
apenas pelas nações pobres. Quando se aumento significativo, ou até mesmo nem
misturam crescimento populacional e altos cresce, a dinâmica doméstica em
níveis de consumo, como ocorre nos Estados transformação deve ser analisada como
Unidos, a importância do primeiro exacerba-se. condutora de maior consumo.
Por exemplo, embora a população dos Estados _______________________________________
Unidos aumente a um ritmo de, FONTE: vide nota final 7.

6
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE

Tabela 1-1. Gastos com Consumo e Quase a metade dessa classe de consu-
População, por Região, 2000 midor global vive nos países em desenvolvi-
Participação Participação mento, e somente China e Índia respondem
nos Gastos na por 20% do total mundial. (Vide Tabela 1-3.)
Região Mundiais do População Na verdade, a classe conjunta de consumi-
Consumo Mundial
Privado
dores nesses dois países, com 362 milhões
de pessoas, é maior do que esta classe em
(percentual)
Estados Unidos e
toda a Europa Ocidental (embora o consumi-
Canadá 31,5 5,2 dor chinês ou indiano comum, naturalmente,
Europa Ocidental 28,7 6,4 consuma significativamente menos do que o
Leste da Ásia e
europeu). Entretanto, grande parte do mundo
Pacífico 21,4 32,9 em desenvolvimento não está representada
América Latina e neste incremento de novo consumo: a classe
Caribe 6,7 8,5 de consumidor da África Subsaariana, a me-
Europa Oriental e nor de todas, é de apenas 34 milhões de pes-
Ásia Central 3,3 7,9 soas. Na realidade, a região tem ficado essen-
Sul da Ásia 2,0 22,4 cialmente à margem da prosperidade vivida pela
Austrália e maior parte do mundo nas últimas décadas.
Nova Zelândia
Medidas em termos de gastos per capita de
1,5 0,4
consumo privado, a África Subsaariana
Oriente Médio e
África do Norte 1,4 4,1
caiu 20% em 2000, em comparação às
África Subsaariana 1,2 10,9 duas décadas anteriores, distanciado-se
cada vez mais do mundo industrializado.10
FONTE: vide nota final 7.

Tabela 1-2. Classe de Consumidores, por Região, 2002


Número de Pessoas Classe de Consumidores Classe de Consumidores
Pertencentes à Classe como Parcela da como Parcela da Classe
Região de Consumidores População Regional de Consumidores Globais1
(milhões) (percentual) (percentual)
Estados Unidos e Canadá 271,4 85 16
Europa Ocidental 348,9 89 20
Leste da Ásia e Pacífico 494,0 27 29
América Latina e Caribe 167,8 32 10
Europa Oriental e Ásia Central 173,2 36 10
Sul da Ásia 140,7 10 8
Austrália e Nova Zelândia 19,8 84 1
Oriente Médio/África do Norte 78,0 25 4
África Subsaariana 34,2 5 2
Países Industrializados 912 80 53
Países em Desenvolvimento 816 17 47

Mundo 1.728 28 100


1
A soma não confere devido a arredondamentos.
FONTE: vide nota final 9.

7
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE

Tabela 1-3. Dez Maiores Populações veis na Ásia para os níveis da média mundi-
Nacionais de Classe de Consumidor, 2002 al adicionaria 200 milhões de veículos à fro-
Populaçao da Participação
ta global – uma vez e meia o número de
Classe de na População carros existentes, hoje, nos Estados Unidos.
País Consumidores Nacional Preocupações quanto ao impacto desse tipo
(milhões) (percentual) de desenvolvimento demonstram a urgên-
Estados Unidos 242,5 84 cia da busca de caminhos alternativos, sus-
China 239,8 19
121,9 12
tentáveis, para a prosperidade da região. Ao
Índia
Japão 120,7 95 mesmo tempo, temores quanto a aumentos
Alemanha 76,3 92 potenciais do consumo asiático ficarão des-
Federação Russa 61,3 43 locados caso ofusquem a necessidade de
Brasil 57,8 33
53,1 89
reformas nos países ricos, onde altos níveis
França
Itália 52,8 91 de consumo têm sido a regra por décadas.
Reino Unido 50,4 86 Os antigos países industrializados da Euro-
pa e América do Norte, juntamente com Ja-
FONTE: vide nota final 10.
pão e Austrália, são responsáveis pelo maior
volume de degradação ambiental global as-
sociada ao consumo.12
Os países em desenvolvimento não só As tendências do consumo abrangem
dispõem de grandes blocos de consumido- praticamente todo e qualquer bem e servi-
res como também têm maior potencial para ço, que podem ser categorizados sob diver-
expandir suas fileiras. Por exemplo, o grande sas formas. De maior interesse são os itens
contingente de consumidores da China e fundamentais, como água e alimentos; suas
Índia constitui apenas 16% da população, tendências indicam se as necessidades bási-
enquanto na Europa esta cifra atinge 89%. cas estão sendo satisfeitas. Outros itens de
Efetivamente, na maioria dos países em consumo indicam como as opções de vida
desenvolvimento, a classe de consumido- estão se desenvolvendo para as pessoas e o
res representa menos da metade da popu- nível de conforto que estão tendo.
lação – às vezes muito menos –, havendo Em termos de necessidades básicas, as
bastante espaço para crescimento. Com tendências são mistas. A absorção diária de
base apenas nas projeções populacionais, a calorias aumentou tanto no mundo industria-
classe de consumidores globais está proje- lizado quanto nos países em desenvolvimen-
tada, conservadoramente, para atingir pelo to, desde 1961, à medida que a oferta de ali-
menos 2 bilhões de pessoas até 2015.11 mentos ampliou-se pelo menos em nível glo-
Esses números indicam que a história do bal. Todavia, a Organização das Nações Uni-
consumo no século XXI poderá referir-se das para Alimento e Agricultura (FAO) divul-
tanto a nações consumidoras emergentes ga que 825 milhões de pessoas ainda estão
quanto a tradicionais. Em um dos seus in- subnutridas e que, em 1961, uma pessoa ab-
formativos em 2003, o Programa das Na- sorvia, diariamente, 10% a mais de calorias
ções Unidas para o Meio Ambiente obser- (2.947 calorias) no mundo industrializado do
vou que o incremento da posse de automó- que as pessoas consomem, hoje, no mundo

8
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE

em desenvolvimento (2.675 calorias). A pre- volvimento. Mesmo assim, o consumo de


sença da fome frente à oferta recorde de ali- carne está subindo nas regiões mais prós-
mentos reflete a realidade de seu alto custo peras do mundo em desenvolvimento, à
para a grande parcela da população pobre medida que as taxas de renda e urbaniza-
mundial, que não dispõe de renda suficiente ção aumentam. Metade da carne suína
para adquiri-los. Na Tanzânia, por exemplo, mundial é consumida na China, por exem-
onde os gastos per capita domésticos foram plo, enquanto o Brasil é o segundo maior
de US$ 375 em 1998, 67% das despesas fa- consumidor de carne bovina, em seguida
miliares destinavam-se à alimentação. No Ja- aos Estados Unidos. E a carne está sendo
pão, as despesas domésticas per capita fo- cada vez mais consumida como fast-food,
ram de US$ 13.568 naquele ano, porém ape- freqüentemente mais intensiva em termos
nas 12% foram gastos em alimentação. (Vide de energia para produzir. De acordo com
Tabela 1-4.)13 um recente estudo de marketing, a indús-
tria de fast-food na Índia está crescendo a
uma taxa de 40% ao ano, devendo gerar
Tabela 1-4. Proporção das Despesas
Domésticas em Alimentação mais de um bilhão de dólares em vendas
até 2005. Enquanto isso, um quarto da sua
Despesa Parcela Gasta população continua subnutrida – uma situ-
Doméstica Per em ação praticamente inalterada ao longo da
País Capita, 1998 Alimentação última década.14
(dólares)1 (percentual) Água limpa e saneamento adequado,
Tanzânia 375 67
instrumentais para prevenir a disseminação
Madagáscar 608 61
Tajiquistão 660 48 de doenças contagiosas, são também ne-
Líbia 6.135 31 cessidades básicas de consumo. Da mes-
Hong Kong 12.468 10 ma forma que ocorre com a maioria dos
Japão 13.568 12
16.385 16
bens, o acesso à água e ao saneamento está
Dinamarca
Estados Unidos 21.515 13 mais disponível para as populações mais
ricas, embora a situação dos mais pobres
1
Paridade em poder aquisitivo. neste particular tenha melhorado um pou-
FONTE: vide nota final 13.
co durante a última década. Em 2000, 1,1
bilhão de pessoas não tinham acesso à água
Os ricos do mundo não só absorvem potável, definido como a disponibilidade de,
mais calorias do que os pobres, mas essas pelo menos, 20 litros por pessoa, por dia, a
calorias provêm de alimentos mais intensi- uma distância de um quilômetro da mora-
vos em recursos, como carne bovina e la- dia do consumidor. E duas em cada cinco
ticínios, que são produzidos por meio do pessoas ainda não dispunham de instala-
uso de grandes volumes de grãos, água ções sanitárias adequadas, como uma liga-
e energia. (Vide Capítulos 3 e 4.) As ção com sistemas de esgotos ou fossa sép-
pessoas nos países industrializados obtêm tica, ou até mesmo latrina de fossa. As po-
856 de suas calorias diárias de produtos pulações rurais são as que mais sofrem.
animais, contra 350 nos países em desen- Em 2000, apenas 40% das populações ru-

9
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE

rais dispunham de instalações sanitárias são o mínimo necessário para atender às


adequadas, em comparação com 85% dos necessidades básicas de alfabetização e
habitantes urbanos.15 comunicação.16
Conforme cresce a renda, as pessoas A prosperidade crescente também dá
obtêm acesso a outros bens de consumo acesso a bens que asseguram novos ní-
que não os alimentos. O uso de papel, por veis de conforto, conveniência e entrete-
exemplo, tende a aumentar à medida que nimento para milhões de pessoas. (Vide
as pessoas tornam-se mais alfabetizadas e Tabela 1-5.) Em 2002, 1,12 bilhão de fa-
aumentam os elos de comunicação. Glo- mílias, cerca de três quartos da popula-
balmente, o consumo de papel mais que ção mundial, possuíam pelo menos um
sextuplicou, entre 1950 e 1997, tendo do- televisor. Assistir à TV tornou-se uma das
brado desde meados dos anos 70; o britâ- principais formas de lazer, com o cida-
nico médio consumiu 16 vezes mais papel dão médio do mundo industrializado pas-
no final do século XX do que no início. sando três horas – metade do seu tempo
Na realidade, a maior parte do papel mun- de lazer – na frente de um televisor, dia-
dial é produzida e consumida nos países riamente. A TV oferece aos telespec-
industrializados: só os Estados Unidos pro- tadores acesso a notícias locais e entre-
duzem e utilizam um terço do papel mun- tenimento, mas também exposição a
dial, e os americanos consomem mais de incontáveis produtos de consumo veicu-
300 quilos anuais per capita. Em contras- lados em comerciais e durante os pro-
te, nas nações em desenvolvimento como gramas. E a visão que emerge da tela tem
um todo, as pessoas consomem 18 quilos um escopo cada vez mais global. Dentre
de papel cada uma, anualmente. Na Índia, os 1,12 bilhão de domicílios com televi-
a cifra anual é de 4 quilos, e em 20 nações sores, 31% eram assinantes de TV a
da África é de menos de 1 quilo. O cabo, expostos freqüentemente a uma
PNUMA estima que 30–40 quilos de papel cultura global de entretenimento.17

Tabela 1-5. Consumo Familiar, Países Selecionados, Cerca de 2000


Gastos Familiares Energia Aparelhos de Linhas Telefones Computadores
País em Consumo Elétrica Televisão Telefônicas Celulares Pessoais
(Dólares de 1995 (kWh (por mil habitantes)
per capita) per capita)
Nigéria 194 81 68 6 4 7
Índia 294 355 83 40 6 6
Ucrânia 558 2.293 456 212 44 18
Egito 1.013 976 217 104 43 16
Brasil 2.779 1.878 349 223 167 75
Coréia do Sul 6.907 5.607 363 489 621 556
Alemanha 18.580 5.963 586 650 682 435
Estados Unidos 21.707 12.331 835 659 451 625

FONTE: vide nota final 17.

10
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE

Muitas dessas conveniências eram con- forto ou sobrevivência, mas que tornam a
sideradas como luxo quando surgiram ori- vida mais agradável. Essas compras inclu-
ginalmente, mas são agora consideradas em desde os pequenos prazeres diários,
necessidades. Realmente, onde infra-es- como doces e refrigerantes, até grandes
truturas sociais desenvolveram-se em tor- aquisições, como iates oceânicos, jóias e
no deles, alguns desses bens de consumo carros esportes. Os gastos nesses produ-
tornaram-se parte integrante do dia-a-dia tos não representam necessariamente con-
moderno. Os telefones, por exemplo, duta censurável por parte da sociedade glo-
transformaram-se num instrumento es- bal de consumo, uma vez que pessoas sen-
sencial de comunicação – em 2002, havia satas podem discordar quanto ao que cons-
1,1 bilhão de linhas fixas e outro 1,1 bi- titui consumo excessivo. Mas esses gas-
lhão de aparelhos celulares. Um percentual tos são uma indicação da riqueza exceden-
significativo da população mundial, inclu- te que existe em muitos países. Na realida-
indo a grande maioria dos consumidores de, os valores gastos no consumo extremo
globais, hoje dispõe no mínimo de acesso contestam a visão de que muitas das ne-
básico a telefones. As comunicações tam- cessidades básicas dos pobres mundiais
bém avançaram após a introdução da não-atendidas sejam muito dispendiosas
Internet. Esta adição mais recente às co- para atender. A provisão de alimentação ade-
municações modernas conecta hoje cerca quada, água potável e educação básica para
de 600 milhões de usuários.18 os mais pobres pode ser realizada gastan-
Uma grande parcela dos gastos em con- do-se muito menos do que se gasta anual-
sumo está concentrada em produtos reco- mente em cosméticos, sorvetes e ração de
nhecidamente desnecessários para o con- animais de estimação. (Vide Tabela 1-6.)19

Tabela 1-6. Gasto Anual em Itens de Luxo Comparado com os Recursos Necessários
para o Atendimento de Necessidades Básicas Selecionadas
Gasto Objetivo Social ou Econômico Investimento Extra
País Anual Anual Necessário para
Atingir o Objetivo
Cosméticos US$ 18 bilhões Saúde reprodutiva para todas as mulheres US$ 12 bilhões
Ração de animais de
estimação na Europa e
Estados Unidos US$ 17 bilhões Erradicação da fome e má-nutrição US$ 19 bilhões
Perfumes US$ 15 bilhões Alfabetização universal US$ 5 bilhões
Cruzeiros marítimos US$ 14 bilhões Água potável para todos US$ 10 bilhões
Sorvetes na Europa US$ 11 bilhões Vacinação de todas as crianças US$ 1,3 bilhão

FONTE: vide nota final 19.

A crescente febre do consumo durante dores como medida de consumo. Entre


o século XX levou a um maior uso de ma- 1960 e 1995 o consumo mundial de mine-
térias-primas, o que complementa os gas- rais aumentou 2,5 vezes, metais, 2,1 ve-
tos familiares e a quantidade de consumi- zes, produtos madeireiros 2,3 e produtos

11
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE

sintéticos, como plásticos, 5,6 vezes. Esse Enquanto isso, o apetite mundial cres-
crescimento superou o aumento da popu- cente por papel pressiona cada vez mais as
lação mundial, tendo ocorrido mesmo quan- florestas globais. Reservas virgens desti-
do a economia global mudou para abran- nadas à produção de papel, por exemplo,
ger mais indústrias de serviços, como tele- representam, aproximadamente, 19% da
comunicações e finanças, que não são tão colheita mundial de madeira e 42% da ma-
intensivas em materiais como indústria, deira produzida para uso “industrial” (tudo
transportes e outros setores outrora domi- menos lenha). Em 2050, a indústria de ce-
nantes. A duplicação do consumo de me- lulose poderá representar mais da metade
tais, por exemplo, ocorreu mesmo quando da demanda industrial da madeira global.22
estes se tornaram menos essenciais para a O consumo de matérias-primas como
geração de riqueza: em 2000, a economia metais e madeira poderá, em princípio,
global consumiu 45% menos metais do que separar-se do consumo de bens e servi-
três décadas anteriores para gerar um dó- ços, uma vez que muitos produtos pode-
lar de produto econômico.20 rão ser remanufaturados ou fabricados de
O consumo de combustível e materi- materiais reciclados. Todavia, os materiais
ais reflete o mesmo padrão de desigual- na maioria das economias no século XX
dade global encontrado no consumo de não circularam mais de duas ou três vezes.
produtos finais. Só os Estados Unidos, Mesmo hoje, a reciclagem fornece apenas
com menos de 5% da população global, uma pequena parcela dos materiais utiliza-
consomem aproximadamente um quarto dos nas economias mundiais. Cerca de me-
dos recursos mundiais de combustíveis tade do chumbo consumido atualmente
fósseis, queimando quase 25% do car- vem de fontes recicladas, como também
vão, 26% do petróleo e 27% do gás na- um terço do alumínio, aço e ouro. Apenas
tural mundial. Adicionando-se a isso o 13% do cobre vem de fontes recicladas,
consumo de outras nações ricas, a em comparação a 20% em 1980. Enquan-
dominância de apenas uns poucos países to isso, a reciclagem do lixo urbano conti-
sobre o consumo de materiais globais faz- nua, em geral, baixa, mesmo nas nações
se evidente. Em termos de consumo de que têm condições de implantar uma infra-
metais, os Estados Unidos e Canadá, Aus- estrutura de reciclagem. As 24 nações que
trália, Japão e Europa Ocidental – que de- compõem a Organização para Cooperação
têm, entre si, 15% da população mundial e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e
– consomem 61% do alumínio produzi- fornecem esses dados, por exemplo, têm
do a cada ano, 60% do chumbo, 59% do uma taxa média de reciclagem de apenas
cobre e 49% do aço. O consumo per 16% para o lixo urbano; metade deles recicla
capita também é alto, especialmente em menos de 10% do seu lixo.23
relação ao que é verificado nas nações Enquanto isso, a parcela do suprimento
mais pobres. O americano comum con- total de fibra de papel originária de fibra
some 22 quilos de alumínio por ano, en- reciclada teve um crescimento apenas mo-
quanto o indiano consome 2 quilos e o desto, de 20% em 1921 para 38% hoje.
africano, menos de 1 quilo.21 Esse pequeno aumento, frente a aumentos

12
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE

bem superiores no consumo de papel, sig- ciações psicológicas, cada um dos quais
nifica que o volume de papel não-reciclado potenciais incrementadores do consumo.25
é maior do que nunca. À luz das projeções As motivações fisiológicas desempe-
da FAO de que o consumo global de papel nham um papel central no estímulo ao con-
aumentará em quase 30% entre 2000 e sumo. O desejo inato do estímulo prazeroso
2010, a parcela de papel a ser reciclada será e alívio do desconforto são motivações
de importância crucial e terá um grande poderosas que evoluíram durante milênios
impacto sobre a saúde das florestas mun- para facilitar a sobrevivência, como quan-
diais nos anos futuros.24 do a fome leva uma pessoa a buscar comi-
da. Esses impulsos são reforçados pelas
Motivadores Díspares, experiências dos consumidores. Produtos
que nos satisfizeram no passado são lem-
Resultados Comuns brados como prazerosos, aumentando o
desejo de consumi-los novamente. Nas
O apetite global por bens e serviços é movi- sociedades de consumo, onde alimentos e
do por um conjunto de influências, em gran- outros bens são abundantes, esses impul-
de parte, independentes, desde avanços sos estão levando a níveis danosos de con-
tecnológicos e energia barata até novas es- sumo devido, em parte, a serem mais esti-
truturas comerciais, meios poderosos de mulados ainda pela propaganda. De fato,
comunicação, crescimento populacional e estudos psicológicos recentes constataram
até mesmo necessidades sociais dos seres que esses impulsos podem até ser incita-
humanos. Esses motivadores díspares – al- dos subconscientemente, despertando um
guns heranças naturais, outros acidentes da desejo maior, como por uma bebida após a
história e outros mais inovações humanas – sensação de sede ter sido instigada.26
interagiram para impulsionar a produção e a Hábitos de consumo, também, têm
demanda a níveis recordes. No processo, raízes sociais. O consumo é, em parte, um
criaram um sistema econômico de abundân- ato social através do qual as pessoas ex-
cia sem precedentes e impacto ambiental e pressam suas identidades pessoais e grupais
social sem paralelo. – escolhendo o jornal de uma certa linha
A história começa com o consumidor. política, por exemplo, ou a moda preferida
Economistas de renome, desde Adam entre pares sociais. Motivadores sociais
Smith, têm alegado que os consumidores podem ser impulsionadores insaciáveis de
são atores “soberanos” que fazem esco- consumo, contrastando com o desejo por
lhas racionais a fim de maximizar sua sa- alimento, água ou outros bens, que está
tisfação. Ao contrário, os consumidores circunscrito aos limites da capacidade. Em
tomam decisões falhas por intermédio de 1954, o cidadão britânico comum, por
um conjunto de julgamentos baseados em exemplo, podia contar com uma base ma-
informações incompletas e tendenciosas. terial ampla – alimentos, vestuário, abrigo
Suas decisões são basicamente movidas e acesso a transporte em quantidade sufi-
pela propaganda, regras culturais, influên- ciente para levar uma vida digna. Assim, o
cias sociais, impulsos fisiológicos e asso- gasto maior que acompanhou a duplicação

13
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE

da riqueza em 1994 foi, provavelmente, uma diretas nos consumidores. Os australianos,


tentativa de satisfazer necessidades sociais por exemplo, já têm hoje uma economia de
e psicológicas. Após o primeiro par de sa- 2.900 dólares australianos na compra de
patos, por exemplo, a posse de sapatos pode um automóvel, devido a reduções tarifárias
não ter nada a ver com a proteção dos pés, que entraram em vigor após 1998. E o
e sim com conforto, estilo ou status. Tais Acordo da Tecnologia de Informação da
desejos podem ser ilimitados e, portanto, Organização Mundial de Comércio, em
ter o potencial de manter o consumo em 1996, eliminou por completo as tarifas so-
constante crescimento.27 bre a maioria dos computadores e outras
Estoques abundantes de bens, produto tecnologias de informação, com algumas
de gigantescos aumentos de eficiência pro- reduções chegando a 20–30%. As oito ro-
dutiva desde a Revolução Industrial, esti- dadas das negociações comerciais globais
mulam ainda mais a propensão social e psi- desde 1950 atiçaram a expansão econômi-
cológica da humanidade de consumir. Um ca mundial.29
operário industrial moderno produz numa Um mundo globalizante também permi-
semana o que suas contrapartidas no sé- tiu que grandes corporações buscassem
culo XVIII realizavam em quatro anos. Ino- além-fronteiras uma mão-de-obra mais ba-
vações, como a linha de montagem de rata – chegando a pagar poucos centavos
Henry Ford, reduziram drasticamente o por hora. (Vide Capítulo 5.) Zonas de
tempo de produção de uma carroceria, de processamento de exportação (ZPEs) –
12,5 horas em 1912 para 1,5 hora em 1913 áreas industriais minimamente regulamen-
– e têm melhorado tremendamente desde tadas que produzem bens para o comércio
então. Hoje, uma montadora da Toyota no global – vêm multiplicando-se ao longo das
Japão produz 300 Lexuses completos, por últimas três décadas, em resposta à deman-
dia, empregando apenas 66 operários e 310 da por mão-de-obra barata e ao desejo de
robôs. Aumentos de eficiência como estes incrementar exportações. Das 79 ZPEs em
reduziram dramaticamente os custos e 25 países em 1975, houve um aumento
incrementaram as vendas. Isso é mais evi- para cerca de 3.000 em 116 nações em
dente na indústria de semicondutores, na 2002, com as zonas empregando cerca de
qual eficiências de produção ajudaram a re- 43 milhões de trabalhadores na montagem
duzir o custo de um megabit de computa- de tênis, brinquedos, vestuário e outros
ção, de cerca de US$ 20.000 em 1970, para bens por muito menos do que custariam
aproximadamente US$ 0,02 em 2001. Ta- nos países industrializados. As zonas au-
manha ordem de grandeza em capacidade mentam a disponibilidade de mercadorias
de computação a custos tão reduzidos ati- baratas para consumidores globais, porém
çou a revolução da informática.28 são freqüentemente criticadas por abusos
A globalização também baixou os pre- em direitos trabalhistas e humanos.30
ços e estimulou o consumo. A partir de 1950 Enquanto isso, inovações tecnológicas
rodadas sucessivas de negociações comer- de todos os tipos aumentaram a eficiência
ciais reduziram gradativamente as tarifas industrial, elevando a capacidade das pes-
de muitos produtos, com conseqüências soas e das máquinas na extração dos re-

14
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE

cursos. Hoje, frotas de “supertraineiras”, apenas 7% maior no período 1997–2001


por exemplo, podem processar centenas de do que no período 1970–74. E as redu-
toneladas de peixe por dia. São responsá- ções nos custos dos transportes ajuda-
veis, em parte, por declínios da ordem de ram a disponibilizar maior quantidade de
80% sofridos por comunidades de peixes bens para um maior número de pesso-
oceânicos nos 15 anos desde o início da as. As taxas de frete aéreo caíram em
exploração comercial. Os equipamentos de quase 3% anuais na maioria das rotas
minas também são mais musculosos: nos internacionais entre 1980 e 1993, o que
Estados Unidos, as mineradoras hoje dedi- ajuda a explicar por que produtos pere-
cam-se à “remoção de cumes”, que pode cíveis como maçãs da Nova Zelândia ou
reduzir a altura de uma montanha em deze- uvas do Chile são hoje facilmente en-
nas de metros. Além disso, a capacidade contradas em supermercados europeus
dos caminhões octuplicou, aumentando de e americanos. Os mercados em expan-
32 para 240 toneladas entre 1960 e início são também permitem às empresas au-
dos anos 90. E a produção por mineiro mentar a divisão da mão-de-obra utili-
americano mais que triplicou no mesmo zada na produção e entrega de bens e
período. Finalmente, serrarias de cavaco – serviços e conseguir maior economia de
instalações que lascam árvores inteiras em escala, cada uma das quais reduzindo
cavacos para papel e compensados – po- ainda mais os custos de produção.32
dem transformar mais de 100 cargas de O ritmo incomparável desses avanços
árvores em cavacos diariamente. Esses tecnológicos durante o século XX levou à
avanços da capacidade humana em explo- adoção cada vez mais acelerada de novos
rar imensas áreas de recursos naturais, e a produtos. Nos Estados Unidos, passaram-
custo baixo, ajudam a suprir os mercados se 38 anos até que o rádio chegasse a uma
com produtos baratos – um estímulo a audiência de 50 milhões de pessoas, 13 anos
maior consumo.31 para a televisão atingir igual número e ape-
nas 4 anos para a Internet fazer o mesmo.
Isso manteve as linhas de produção em ple-
Nas sociedades de consumo, no funcionamento nas indústrias da in-
onde os alimentos e outros bens são formação, nas quais a Lei de Moore – a
abundantes, os impulsos estão regra empírica de que a capacidade
levando a níveis danosos de consumo. microprocessadora dobra a cada 18 meses
– provocou o lançamento de computadores
e outros produtos digitais cada vez mais pos-
santes. O suprimento regular de novos pro-
A energia barata e a melhoria dos dutos, por sua vez, provocou giro acelera-
transportes também alimentaram a pro- do nas últimas duas décadas – aumentando
dução, reduzindo custos e facilitando o ainda mais o consumo.33
aumento da distribuição. Apesar do sur- As forças que movem o consumo são
to nos preços do petróleo nos anos 70, encontradas até nas realidades econômi-
o preço deflacionado do petróleo estava cas que as modernas corporações enfren-

15
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE

tam. A maioria das empresas


Bilhões de Dólares
tem custos fixos substanciais – 500
maquinaria pesada, prédios fa- (base=2001)
bris e veículos de entrega ne- 400
cessários para produzir e ven-
der seus produtos. Uma indús- 300 Mundo
tria de última geração de
semicondutores, por exemplo,
200
custa hoje algo em torno de US$
3 bilhões, um gigantesco inves- Estados Unidos
timento, que deve gerar retor- 100
no mesmo quando as vendas Fonte: McCann-Erickson
estão fracas. Os custos fixos, 0
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
então, representam risco finan-
ceiro. Esse perigo pode ser re- Figura 1-1. Gastos em Publicidade nos Estados Unidos
duzido por meio do aumento e Mundiais, 1950–2002
da produção e das vendas,
para que os custos fixos diluam-se por onde os anúncios representam cerca de
um maior volume de produtos e maior dois terços do espaço de um jornal co-
diversidade de mercados. Assim, a pres- mum, quase metade da correspondência
são constante para a cobertura dos cus- que os americanos recebem, e cerca de
tos fixos cria uma urgência na amplia- um quarto da programação da televisão.
ção da produção – e na busca de novos Mas a publicidade também expande-se
clientes para adquirirem a produção con- mundialmente. Gastos em publicidade
tínua dos bens.34 fora dos Estados Unidos aumentaram 3,5
A necessidade de novos clientes in- vezes ao longo de 20 anos, com os mer-
centiva as empresas a desenvolver uma cados emergentes mostrando um cresci-
gama de novos instrumentos destinados mento particularmente acelerado. Na
a estimular a demanda, muitos dos quais China, os gastos em anúncios publicitá-
se aproveitam das necessidades fisioló- rios aumentaram 22% só em 2002.35
gicas, psicológicas e sociais das pesso- A publicidade está cada vez mais dirigida
as. A propaganda tem sido, talvez, o mais e sofisticada, como se vê pelos esforços
poderoso desses instrumentos. Hoje, a de veiculação de produtos nos filmes e pro-
publicidade permeia quase todos os as- gramas de televisão. Estudos recentes cons-
pectos da mídia, incluindo transmissões tataram que mais da metade dos casos de
comerciais, mídia impressa e Internet. Os novos fumantes entre a juventude deveu-
gastos globais em publicidade atingiram se à sua exposição ao fumo em filmes, por
US$ 446 bilhões em 2002 (em dólares de exemplo. E apesar de uma “proibição” vo-
2001), um aumento quase nove vezes luntária na veiculação de produtos por par-
superior a 1950 (Vide Figura 1-1.) Mais te da indústria, nos Estados Unidos a
da metade foi gasta nos Estados Unidos, veiculação efetiva quase duplicou, com 85%

16
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE

dos 250 principais filmes realizados entre vido a essa explosão do financiamento. Um
1988 e 1997 mostrando fumantes em cena. dos diretores da General Motors, Philip
De fato, o fumo está mais predominante Murtaugh, realça a importância do crédito
nos filmes do que entre a população dos na China: “Assim que implantamos o tipo
Estados Unidos. Com Hollywood de sistema financeiro abrangente da GM,
auferindo talvez metade da sua receita de como temos nos Estados Unidos, anteci-
vendas fora dos Estados Unidos, o fumo pamos um grande salto nas vendas”.38
nos filmes continua a formar padrões de Finalmente, políticas governamentais
conduta também. E os estúdios estrangei- são, às vezes, responsáveis pelo incremen-
ros prestam-se, cada vez mais, como to do consumo. Subsídios econômicos,
veículos de propaganda do tabaco. Entre que hoje totalizam cerca de US$ 1 trilhão
1991 e 2002, cerca de três quartos dos anuais, mundialmente, age como uma
filmes produzidos em Bollywood (o equi- marola através da economia, estimulando
valente indiano de Hollywood) continham o consumo ao longo do seu curso. O go-
cenas de fumantes.36 verno dos Estados Unidos, por exemplo,
Práticas inovadoras de vendas também desde a II Guerra Mundial, subsidiou a
ajudaram a incrementar a demanda. A intro- construção de residências suburbanas por
dução do cartão de crédito nos Estados Uni- intermédio de benefícios fiscais e outros
dos, nos anos 40, ajudou a aumentar o total incentivos. Lares suburbanos espaçosos
do consumo quase onze vezes entre 1945 e ajudaram a atiçar o consumo de uma vas-
1960. Hoje, o uso maciço de cartões de cré-
ta gama de bens de consumo duráveis,
dito é incentivado vigorosamente, uma vez
incluindo refrigeradores, televisores, mo-
que os lucros das empresas emitentes de-
bílias, lavadoras e automóveis. Estes, por
pendem da manutenção de grandes saldos
sua vez, requerem enormes quantidades
mensais por parte dos consumidores. Em
2002, 61% dos usuários de cartões de cré- de matérias-primas, um terço do ferro e
dito nos Estados Unidos mantiveram um aço, um quinto do alumínio e dois terços
saldo médio mensal em aberto de US$ do chumbo e borracha nos Estados Uni-
12.000, a uma taxa de juros anual de 16%. dos. E a expansão dos subúrbios levou a
(Vide Capítulo 5.) Dessa forma, um usuário um maior gasto público em novas rodovi-
pagaria cerca de US$ 1.900 anuais em cus- as, postos de bombeiros, delegacias de
tos financeiros – mais do que a renda média polícia e escolas. O Centro de Tecnologia
per capita (na paridade de poder de com- Distrital de Chicago constatou, no final dos
pra) de pelo menos 35 países.37 anos 90, que empreendimentos imobiliári-
O crédito também incentiva o gasto na os de baixa intensidade são cerca de 2,5
Ásia, América Latina e Europa Oriental. No vezes mais intensivos no uso de materiais
Leste Asiático, a parcela familiar dos em- do que os empreendimentos de alta densi-
préstimos bancários totais aumentou de dade. Assim, a decisão de subsidiar resi-
27%, em 1997, para 40% em 2000. Em dências suburbanas teve um grande efeito
vários países, as principais montadoras nos padrões de consumo nos Estados
estão ampliando sua linha de produção de- Unidos na última metade do século XX.39

17
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE

Problemas no Paraíso de restos rochosos e minérios. À medi-


da que os metais rareiam, o refugo ten-
Em Capitalismo Natural, uma análise das de a aumentar: para se obter o ouro ne-
economias industriais em 1999, seus auto- cessário para fazer uma aliança de ca-
res, Paul Hawkins, Amory Lovins e Hunter samento, são produzidas cerca de 3 to-
Lovins, declaram que os Estados Unidos neladas de resíduo tóxico. 41
geram um volume gigantesco do que estes
chamaram de “desperdício” – todo gasto
para o qual nenhum valor é recebido. Esses Quase todos os ecossistemas
desembolsos pagam por uma multidão de mundiais estão perdendo lugar
subprodutos indesejados do sistema econô- para residências, fazendas,
mico americano, inclusive poluição hídrica shoppings e fábricas.
e atmosférica, tempo perdido em engarra-
famentos do trânsito, obesidade e crime,
entre muitos outros. De acordo com os cál- O refugo do consumo é igualmente
culos dos autores, esse desperdício custou sombrio, especialmente nos países ricos.
aos Estados Unidos pelo menos US$ 2 trilhões O habitante comum de um país da OCDE
em meados dos anos 90 – cerca de 22% do gera 560 quilos de lixo urbano por ano e,
valor da economia. Essa estimativa, eviden- com exceção de três, todos os 27 países
temente, é uma projeção, porém a análise é geraram mais, per capita, em 2000 do
útil ao chamar a atenção de forma abrangente que em 1995. Mesmo nos países consi-
à quase despercebida subestrutura das eco- derados líderes em política ambiental,
nomias industriais modernas. O custo como a Noruega, a redução dos fluxos
ambiental e social das economias industriais de lixo é um desafio constante. Em 2002,
está cada vez mais evidente.40 o norueguês comum gerou 354 quilos de
Realmente, a própria existência do lixo, 7% mais do que no ano anterior. A
desperdício, ou refugo no sentido mais proporção do lixo reciclado também
tradicional – seja de domicílios, minas, cresceu, porém estancou em menos da
canteiros de obras e fábricas –, demons- metade do total gerado. Enquanto isso,
tra que as economias industriais são fa- os americanos continuam sendo os cam-
lhas em seus projetos. Contrastando peões mundiais do lixo, produzindo, per
com os bens e serviços produzidos pe- capita, 51% mais lixo urbano do que o
los milhões de outras espécies do nosso habitante comum de qualquer outro país
planeta, que geram subprodutos úteis e da OCDE. Há um vislumbre de boas no-
não refugo sem valor, as economias hu- tícias dos Estados Unidos: o índice per
manas são projetadas sem muita aten- capita aparentemente estabilizou-se nos
ção aos resíduos da produção e do con- anos 90. Mesmo assim, somando-se os
sumo. O impacto dessa falha é gigan- altos níveis de lixo por cidadão america-
tesco, a começar pelo extrativismo. Por no ao crescimento contínuo da popula-
cada tonelada aproveitável de cobre, por ção dos Estados Unidos, chega-se a um
exemplo, são descartadas 110 toneladas entulho descomunal.42

18
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE

As tendências do uso dos recursos e manguezais em assustadores 2,5%. Tam-


da saúde dos ecossistemas indicam que bém mencionou grandes perdas anuais,
as áreas naturais também estão sob o difíceis de quantificar, de recifes de co-
estresse das pressões crescentes do con- ral, pradarias e terras cultivadas. Apenas
sumo. (Vide Tabela 1-7.) Uma equipe in- as florestas temperadas e boreais mostra-
ternacional de ecólogos, economistas e ram revitalização, aumentando 0,1% ao
biólogos conservacionistas publicaram um ano após décadas de declínio. Verificações
estudo em Science, em 2002, indicando constantes de declínio ambiental global
que quase todos os ecossistemas mundi- podem ser encontradas no Índice Planeta
ais estão perdendo lugar para residências, Vivo, um instrumento desenvolvido pela
fazendas, shoppings e fábricas. Como re- WWF International (Fundo Mundial para
vela o estudo, a relva marinha e leitos de a Natureza) para medir a saúde das flo-
algas estão declinando 0,01–0,02% ao ano, restas, oceanos, rios e outros sistemas
florestas tropicais 0,8%, pesqueiros ma- naturais. O Índice mostra um declínio de
rinhos 1,5%, ecossistemas de água doce 35% na saúde ecológica do planeta desde
(pântanos, baixios, lagos e rios) 2,4% e 1970. (Vide Figura 1-2.)43
Tabela 1-7. Tendências Globais dos Recursos Naturais e do Meio Ambiente
Indicador Ambiental Tendência
Combustíveis fósseis O consumo global de carvão, petróleo e gás natural foi 4,7 vezes maior em 2002 do que em
e a atmosfera 1950. Os níveis de dióxido de carbono em 2002 foram 18% maiores do que em 1960, e estão
estimados em 31% a mais desde o início da Revolução Industrial, em 1750. Os cientistas
atribuíram a tendência de aquecimento durante o século XX ao acúmulo de dióxido de carbono
e outros gases retentores de calor.
Degradação de Mais da metade das terras alagadas do planeta, desde pântanos costeiros a baixios interioranos,
ecossistemas foi perdida devido, em grande parte, à drenagem ou aterro para loteamentos ou agricultura.
Cerca da metade da cobertura florestal original do mundo também já deixou de existir, enquanto
outros 30% estão degradados ou fragmentados. Em 1999, o consumo global de madeira para
combustível, madeireiras, papel e outros produtos foi mais que o dobro do consumo de 1950.
Nível do mar O nível do mar subiu 10 – 20 centímetros no século XX, uma média de 1– 2 milímetros ao ano,
como conseqüência do degelo da massa continental polar e da expansão dos oceanos devido à
mudança climática. Pequenas ilhas-nações, embora responsáveis por menos de 1% das emissões
globais de gases de estufa, correm o risco de serem inundadas pelo aumento do nível do mar.
Solo/terras Cerca de 10 – 20% das terras cultivadas mundiais sofrem algum tipo de degradação, enquanto
mais de 70% dos pastos globais estão degradados. Ao longo do último meio século, a degradação
do solo reduziu a produção de alimentos em cerca de 13% nas terras cultivadas e 4% nos pastos.
Pesqueiros Em 1999, o pescado total foi 4,8 vezes o volume de 1950. Apenas nos últimos 50 anos as
frotas de traineiras pescaram pelo menos 90% de todos os grandes predadores oceânicos –
atum, marlim, peixe-espada, tubarão, bacalhau, halibut, arraia e linguado.
Água O bombeamento excessivo da água subterrânea está causando declínio dos lençóis freáticos em
regiões agrícolas chave na Ásia, África do Norte, Oriente Médio e Estados Unidos. A qualidade
da água também está deteriorando-se devido ao escoamento de fertilizantes e pesticidas,
produtos petroquímicos que vazam de tanques de armazenagem, solventes clorados, metais
pesados despejados pelas indústrias e lixo radioativo de usinas nucleares.

FONTE: vide nota final 43.

19
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE

1970=1,0 sumo já haviam excedido a


3,0 capacidade ecológica do pla-
neta no final dos anos 70 ou
2,5 início dos anos 80. Tamanho
superconsumo só é possível
2,0 por meio da redução dos es-
Índice do Produto
Mundial Bruto toques das reservas naturais,
1,5
como quando a água de poço
é bombeada a ponto de redu-
1,0 Índice Planeta Vivo
zir os níveis freáticos. 44
0,5
A busca agressiva de uma
sociedade de consumo de
Fonte: Maddison, FMI, WWF Intl, PNUMA, RP
0,0 massa também corre-laciona-
1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 se com um declínio dos indi-
cadores de saúde em muitos
Figura 1-2. Mudanças na Atividade Econômica e na países. “Doenças do consu-
Saúde dos Ecossistemas, 1970–2000 mo” continuam a crescer. O
fumo, por exemplo, um hábi-
Uma medida do impacto do consu- to de consumo alimentado por dezenas
mo humano sobre os ecossistemas glo- de bilhões de dólares em publicidade,
bais é encontrada no sistema de conta- contribui para cerca de 5 milhões de
bilidade da “pegada ecológica,” que mede mortes, mundialmente, a cada ano. Em
a quantidade de terra produtiva que uma 1999, despesas médicas e perdas de pro-
economia requer para produzir os recur- dutividade relacionadas ao tabaco custa-
sos de que precisa e assimilar seus resí- ram aos Estados Unidos mais de US$ 150
duos. Cálculos realizados pelo grupo bilhões – quase uma vez e meia a receita
californiano Redefining Progress reve- das cinco maiores multinacionais de fumo
lam que a Terra possui 1,9 hectare, per naquele ano. Igualmente, o excesso de
capita, de terras produtivas para suprir peso e a obesidade, resultantes geralmente
recursos e absorver resíduos. Todavia, de uma dieta inadequada e estilo de vida
são tão grandes as demandas ambientais cada vez mais sedentário, afetam mais de
das economias mundiais que o cidadão um bilhão de pessoas, reduzindo a quali-
comum hoje utiliza 2,3 hectares de terra dade de vida, custando bilhões em trata-
produtiva. Esse número global oculta, mento de saúde à sociedade e contribu-
certamente, uma enorme variedade de indo para o aumento acelerado da diabete.
pegadas ecológicas – desde os 9,7 hec- Nos Estados Unidos, cerca de 65% dos
tares demandados pelo americano co- adultos estão com excesso de peso ou
mum, até o 0,47 hectare utilizado pelo obesos, causando uma perda anual de
moçambicano comum. A análise das pe- 300.000 vidas e pelo menos US$ 117 bi-
gadas revela que os níveis totais de con- lhões em tratamento de saúde em 1999.45

20
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE

O fracasso da tese de que mais tuições. Dados de outros países prósperos


riqueza e consumo proporcionam às são mais encorajadores, embora já estejam
pessoas uma vida mais realizada evidentes alguns sinais de desengajamento
social. A participação organizacional conti-
pode ser o argumento mais eloqüente nua alta em muitos países europeus, mas o
para uma reavaliação da nossa nível de envolvimento e interação pessoal
abordagem do consumo. está em queda em algumas nações e a par-
ticipação é, freqüentemente, mais transitó-
ria do que no passado. Até na Suécia, com
A “saúde social” em geral também caiu fortes redes comunitárias e sociais, há si-
nais preocupantes: o engajamento político
nos Estados Unidos nos últimos 30 anos,
é cada vez mais passivo e os níveis de con-
conforme o Índice de Saúde Social da Uni-
fiança nas instituições estão caindo.47
versidade Fordham. Esse índice documenta
Robert Putnam, professor de Políticas
aumentos da pobreza, suicídio juvenil, ca-
Públicas da Universidade de Harvard, identi-
rência de seguro-saúde e desigualdade de
ficou limitações de tempo, dispersão
renda a partir de 1970. E apesar de possuir
residencial e longa permanência frente à tele-
níveis de consumo superiores à maioria das visão como os três destaques da sociedade
nações industrializadas, os Estados Unidos americana que podem explicar o declínio no
têm o pior escore em inúmeros índices de engajamento cívico e, em conjunto, respon-
desenvolvimento: está em último lugar en- sáveis por parte da situação. Todos os três
tre os 17 países da OCDE medidos no Ín- estão ligados ao alto consumo: pressões de
dice de Pobreza Humana dos países indus- tempo estão freqüentemente ligadas à neces-
trializados, do Programa das Nações Uni- sidade de trabalhar longas horas para susten-
das para o Desenvolvimento, que compila tar hábitos de consumo; a dispersão é resul-
indicadores de pobreza, analfabetismo fun- tado da dependência do automóvel e do de-
cional, longevidade e inclusão social.46 sejo de casas e terrenos maiores; e o longo
Um estudo da OCDE também docu- tempo frente à televisão ajuda a promover o
mentou o desengajamento de envolvimento consumo através da exposição à publicidade
cívico em alguns países industrializados, e programações que freqüentemente roman-
particularmente os Estados Unidos e Aus- tizam estilos consumistas de vida.48
trália. Em ambos os países, o número de Talvez a prova mais contundente de o
associados em organizações formais tem consumo contínuo estar gerando benefíci-
caído, como tem caído também a intensi- os decrescentes esteja nos estudos que com-
dade de participação em termos de presen- param o nível cada vez mais alto de riqueza
ça e disposição de assumir lideranças. En- pessoal nos países ricos, com a parcela es-
quanto isso, interações sociais informais – tagnada da população, nessas nações, que
jogar cartas com vizinhos, ir a piqueniques, alega estar “muito feliz”. Embora a felicida-
etc. – também declinaram sensivelmente em de auto-revelada entre os pobres tenda a
ambos os países, da mesma forma que os crescer com o aumento da renda, os estu-
níveis de confiança entre pessoas e insti- dos revelam que o elo entre felicidade e au-

21
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE

mento de renda é quebrado logo que níveis sociedades para um caminho menos dano-
modestos de renda são atingidos. O fracas- so, a maioria das pessoas nos países in-
so da tese de que mais riqueza e consumo dustrializados ainda continua numa rota de
proporcionam às pessoas uma vida mais consumo ascendente e muitas outras, nos
realizada pode ser o argumento mais elo- países em desenvolvimento, permanecem
qüente para uma reavaliação da nossa abor- atoladas na pobreza. A fim de promover o
dagem do consumo.49 interesse experimental por um novo papel
O desapontamento pela capacidade de o para o consumo, qualquer visão terá que
consumo produzir vidas mais realizadas está incluir respostas a quatro quesitos-chave:
gerando descontentamento entre acadêmicos,
legisladores e a população. Um grande nú- • Estará a classe de consumidor global
mero de livros publicados nos anos 90 docu- tendo uma qualidade de vida melhor
mentou o desagrado com as sociedades or- em função dos seus níveis crescen-
ganizadas em torno do consumo. Os títulos tes de consumo?
dizem tudo: O Americano Pródigo, O Ame- • Poderão as sociedades perseguir o
ricano Estressado, Um Século Todo consumo de forma equilibrada, espe-
Consumista, Confrontando o Consumo e O cialmente harmonizando o consumo
Alto Preço do Materialismo, entre outros. ao ambiente natural?
Embora as análises divirjam, todos esses au- • Poderão as sociedades reformular as
tores expressam o ponto de vista de que as opções do consumo para uma esco-
sociedades focadas no consumo não são sus- lha genuína?
tentáveis, por razões ambientais ou sociais.
• Poderão as sociedades priorizar o
Descontentamento com um compro-
atendimento às necessidades básicas
misso com o alto consumo ficou patente
de todos?
também em termos políticos e básicos.
Vários governos europeus já estão De modo geral, os consumidores es-
implementando ou planejando reformas de tarão se beneficiando da cultura global
horários de trabalho e férias, por exemplo. de consumo? Indivíduos, importantes
E algumas pessoas na Europa e nos Esta- árbitros dessa questão, podem conside-
dos Unidos estão começando a adotar esti- rar os custos pessoais associados a altos
los de vida mais simples. De forma lenta, níveis de consumo, dívida financeira,
mas constante, já é evidente o interesse das tempo e estresse relacionado ao trabalho
pessoas em atribuir ao consumo um papel para sustentar um alto consumo e ao tem-
mais coadjuvante do que principal.50 po necessário para limpar, melhorar, guar-
dar ou, de outra forma, manter as pos-
Um Novo Papel ses. E como o consumo substitui o tem-
para o Consumo po com família e amigos.
Tanto indivíduos quanto legisladores de-
Apesar dos problemas associados à socie- vem analisar o aparente paradoxo de que a
dade de consumo, e não obstante as medi- qualidade de vida, freqüentemente, é melho-
das experimentais para redirecionar as rada quando se age dentro de limites clara-

22
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE

mente definidos sobre o consumo. As flo- taxas de renovação; e os empregadores


restas, por exemplo, podem ser freqüentemente premiam trabalhadores que
disponibilizadas para todos indefinidamente passam longas horas no trabalho. Cada um
se não forem exploradas mais rapidamente desses excessos impõe um preço em bem-
que sua taxa de renovação. Igualmente, aque- estar pessoal ou social. Existem inúmeras
le que adotar parâmetros claros de bem-es- formas imaginativas de harmonizar as op-
tar pessoal – exercitando-se diariamente e ções de consumo às necessidades sociais e
alimentando-se bem, por exemplo – prova- ambientais – desde legislação estabelecendo
velmente terá uma qualidade de vida melhor níveis obrigatórios de teores de reciclagem,
do que outro que consuma de forma até leis de “devolução” de produtos que res-
desordenada e irrestrita. Na realidade, a pre- ponsabilizam os fabricantes pelos produtos
missa básica da economia do consumo em e resíduos que criam.
massa – ou seja, que o consumo ilimitado é Terceiro, estarão sendo proporciona-
aceitável, e até desejável – choca-se, funda- das aos consumidores oportunidades de
mentalmente com os padrões de vida do escolha genuínas, que os ajudam a aten-
mundo natural e com os ensinamentos so- der suas necessidades? Claramente, as
bre moderação, comuns a filósofos e líde- sociedades de consumo em massa ofere-
res religiosos em todas as culturas e através cem mais produtos e serviços do que qual-
de grande parte da história da humanidade. quer outro sistema econômico da história
da humanidade. Todavia, os consumido-
res nem sempre encontram o que preci-
A premissa básica da economia do sam. Consideremos os transportes: o aces-
consumo em massa – ou seja, que so seguro e conveniente a apenas cinco
o consumo ilimitado é aceitável, e alternativas – andar a pé, de bicicleta,
até desejável – choca-se, transportes públicos, transporte solidário
fundamentalmente, com os ou carro particular – poderá proporcionar
padrões de vida do mundo natural. opções mais eficazes de levar as pessoas
a seus destinos do que uma escolha entre
100 modelos numa revendedora de auto-
móveis. E onde a escolha genuína estiver
Segundo, será que nosso consumo está presente a opção mais desejável pode não
economicamente, socialmente e ambien- ser acessível, como ocorre com alimen-
talmente equilibrado? Nas sociedades de tos orgânicos em alguns países. Os go-
consumo em massa, as leis e incentivos eco- vernos precisam reformular incentivos e
nômicos freqüentemente encorajam as pes- regulamentos econômicos para facilitar às
soas a cruzar importantes limiares econô- empresas a oferta de opções acessíveis
micos, ambientais e sociais. Bancos e agên- que atendam às necessidades dos clien-
cias de crédito instam os consumidores a tes. Também têm um papel na contenção
assumir dívidas pesadas; empresas e indiví- dos excessos do consumo, principalmen-
duos exploram florestas, água subterrânea te através da remoção de incentivos para
e outros recursos renováveis além de suas consumir – desde a energia subsidiada até

23
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE

a promoção de empreendimentos imobili- defensivas. A necessidade de gastar bilhões


ários de baixa densidade. de dólares em guerras, segurança de fron-
Finalmente, poderão as sociedades cri- teiras e manutenção da paz está segura-
ar uma ética de consumo que priorize o mente relacionada à negligência mundial
atendimento às necessidades básicas de aos prementes problemas sociais e
todos? O bem-estar físico – incluindo aces- ambientais. O mesmo ocorre em termos
so adequado a alimentos sadios, água po- comunitários. Gastos em educação particu-
tável e saneamento, educação, tratamento lar, comunidades cercadas, sistemas de alar-
de saúde e segurança pessoal – é base de me doméstico são apenas algumas das for-
todas as realizações individuais e sociais. mas em que a falta de investimentos nos
Negligenciar essa base inevitavelmente li- mais pobres retorna para assombrar os ri-
mitará a capacidade de muitos realizarem cos. Atender às necessidades básicas de to-
seu potencial pessoal – e sua capacidade dos, então, tanto é certo quanto inteligente.
de fazer contribuições significativas à so- Tratar dessas quatro questões daria ao
ciedade. Num mundo em que há mais pes- consumo um papel menos central em nos-
soas vivendo com menos de US$ 2 por dia sas vidas e liberaria tempo para o aperfei-
do que há na classe de consumidores glo- çoamento comunitário e o fortalecimento
bais, a busca contínua por maior riqueza das relações interpessoais – fatores que os
pelos ricos – quando há pouca evidência psicólogos dizem ser essenciais para uma
de que isso aumente a felicidade – suscita vida realizada. Ao redirecionar as priorida-
questões éticas graves. des sociais em direção à melhoria do bem-
Além do imperativo ético, a assistência a estar das pessoas, em vez de simplesmen-
todos é uma razão de auto-ajuda. A falta de te acumular bens, o consumo poderá agir
atenção às necessidades dos mais pobres não como o motor que conduz a econo-
pode causar maior insegurança aos mais mia, e sim como um instrumento que pro-
prósperos e maiores gastos em medidas porciona uma qualidade melhor de vida.

24
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE

AT R Á S D O S B A S T I D O R E S

Sacos Plásticos
Sacos plásticos são o item de densidade é o padrão industrial para os
consumo mais comum na face sacos plásticos.) O polietileno é
da Terra. Sua leveza, baixo superaquecido e a resina líquida é
custo e impermeabilidade os extraída com um tubo, semelhante ao
tornam extremamente processo de fabricar macarrão.
convenientes para carregar Quando se obtém a forma
mantimentos, peças de desejada, a resina é
vestuário ou qualquer outra resfriada e endurecida,
compra do dia-a-dia, sendo podendo ser achatada,
difícil imaginar a vida sem eles. selada, reforçada,
As primeiras “embalagens” plásticas perfurada ou impressa.2
para pão, sanduíches, frutas e outras Os sacos plásticos
verduras surgiram nos Estados Unidos, em típicos, que pesam apenas alguns gramas e
1957. Sacos plásticos de lixo já estavam têm poucos milímetros de espessura,
presentes nos lares e ao longo das calçadas poderiam parecer completamente inócuos
em todo o mundo no final dos anos 60. Mas não fosse o gigantesco volume da produção
esses itens popularizaram-se realmente em global. Fábricas em todo o mundo
meados dos anos 70, quando um novo produziram aproximadamente 4–5 trilhões de
processo de produção barata de sacos sacos plásticos – desde grandes sacos de
plásticos tornou possível para os grandes lixo e sacolas resistentes para lojas até sacos
varejistas e supermercados oferecerem a mais finos para supermercados – em 2002, de
seus clientes uma alternativa para os sacos acordo com estimativas do Chemical Market
de papel. Hoje, em cada cinco sacos usados Associates, uma firma de consultoria da
nos mercados, quatro são plásticos, do tipo indústria petroquímica. A América do Norte e
de duas alças, semelhantes a uma camiseta.1 Europa Ocidental são responsáveis por
Esses sacos partem do petróleo bruto, quase 80% do consumo desses produtos. Os
gás natural ou outros derivados americanos descartam, anualmente, 100
petroquímicos, que são transformados nas bilhões de sacos plásticos, que estão se
fábricas de plásticos em cadeias de tornando cada vez mais comuns também nas
moléculas de hidrogênio e carbono, nações mais pobres. E hoje sacos produzidos
conhecidas como polímeros ou resina de na Ásia representam um quarto dos sacos
polímero. (Resina de polietileno de alta usados nas nações ricas.3

25
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: SACOS PLÁSTICOS

A produção de sacos plásticos 2000, em Sidnei, Austrália, recolheram


consome cerca de 20–40% menos energia 76% dos restos de comida gerados nos
e água do que a produção de sacos de eventos esportivos e vila olímpica
papel e gera menos poluição e resíduos usando utensílios e sacos plásticos
sólidos, conforme avaliações de ciclo de biodegradáveis, que se decompõem tão
vida por parte de grupos industriais e rapidamente quanto o alimento,
não-industriais. Representantes da eliminando a necessidade de separar o
indústria de plástico também observam lixo. (Na primavera seguinte, a
que sacos de papel ocupam menos compostagem adubou os jardins da
espaço num aterro e que nenhum dos cidade.) 6
dois produtos decompõe-se sob as Em outros países, governos e
condições predominantes nos aterros. indivíduos propõem uma solução mais
(Sob condições adequadas, o saco de permanente, que não dependa de nova
papel decompõe-se rapidamente, tecnologia. A Aliança de Mulheres de
enquanto o mesmo não ocorre com o Ladack e outros grupos de cidadãos
saco plástico.)4 lideraram uma campanha bem-sucedida
Porém muitos sacos não encontram o no início dos anos 90 para proibir sacos
caminho dos aterros. Alguns são levados plásticos naquela província da Índia,
pelo ar depois de descartados. No Quênia, onde o dia 1 o de maio é agora
fazendeiros e conservacionistas reclamam comemorado como “Dia da Proibição do
contra sacos presos em cercas, árvores e Plástico”. Bangladesh deu início à sua
mesmo nas goelas de pássaros. Em própria proibição após constatar que
Xangai, o governo estava gastando tanto sacos descartados estavam entupindo
dinheiro na limpeza de sarjetas, esgotos e esgotos e drenos pluviais, aumentando
templos antigos que lançou uma as inundações e a incidência de doenças
campanha para encorajar as pessoas a veiculadas pela água. 7
darem nós nos sacos, para impedi-los de Em janeiro de 2002, o governo da
serem levados pelo vento. O irlandês África do Sul agiu, exigindo que a
denomina os sacos, onipresentes, de sua indústria fabricasse sacos mais
“bandeira”; os sul-africanos resolveram resistentes e mais caros, a fim de
apelidá-lo de “flor nacional”.5 desencorajar o descarte – provocando
Alguns fabricantes introduziram uma redução de 90% em seu uso. A
recentemente no mercado sacos Irlanda criou um imposto de 15 centavos
plásticos biodegradáveis ou orgânicos, por saco a partir de março de 2002, o que
fabricados com amidos, polímeros ou levou a uma redução de 95% em seu uso.
ácido polilático, e não polietileno. Até Austrália, Canadá, Índia, Nova Zelândia,
agora, estes correspondem a menos de Filipinas, Taiwan e Reino Unido também
1% do mercado a preços proibitivos, planejam proibir ou taxar os sacos
conforme o Biodegradable Products plásticos. 8
Institute, uma associação que promove Supermercados em todo o mundo
o uso de materiais poliméricos estão tomando a iniciativa de encorajar
biodegradáveis. Não obstante, os seus clientes a dispensarem os sacos – ou
organizadores dos Jogos Olímpicos trazerem suas próprias sacolas –

26
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: SACOS PLÁSTICOS

concedendo um pequeno desconto por despencou. “É bom para os negócios e


saco ou cobrando uma pequena taxa por também para o meio ambiente”,
estes. A Weaver Street Market, uma acrescentou . Entretanto, a idéia de levar
mercearia comunitária na Carolina do sacolas reutilizáveis sempre que se vai às
Norte, deu um passo além ao vender compras é tão simples e óbvia que a
sacolas de lona com desconto. As vendas maioria das pessoas pode não perceber o
dessas alternativas duráveis grande impacto que pode ter.9
quintuplicaram, declarou o gerente James
Watts, e o uso de sacos plásticos — Brian Halweil

27
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE

CAPÍTULO 2

Escolhendo Melhor
a Energia
Janet L. Sawin

Aninhadas entre as ondulantes e verdes sível que flui mágica e silenciosamente para
colinas ao sul do Estado de West Virginia, iluminar um cômodo, resfriar um refrige-
encontram-se velhas cidades como Clear rador, aquecer um fogão ou dar vida à tele-
Creek, Duncan Fork, Superior Bottom e visão. Entre uma conta de energia e outra,
White Oak. As Montanhas Apalaches nes- a maioria pouco pensa a respeito.
sa região abrigam algumas das pessoas Todavia, no momento em que alguém
mais pobres dos Estados Unidos. Durante aciona um interruptor de luz, ou liga um
gerações, os habitantes dependeram da mi- computador, uma reação em cadeia entra
neração do carvão para seus empregos e em ação. A corrente flui para o imóvel, atra-
sustento. Mas muitos acreditam que “as vés de linhas de transmissão que se esten-
Apalaches estão sendo assaltadas” e que a dem por meio de campos e vias urbanas,
indústria que os sustentaram por gerações trazendo eletricidade de usinas distantes. Ao
está hoje empobrecendo-os. Cumes estão longo do caminho, grande parte dessa ener-
sendo explodidos para extrair o carvão que gia perde-se pela resistência nas linhas de
cobriam. No processo, montanhas trans- transmissão e dissipa-se como calor.
formaram-se em terra agreste, florestas Para criar eletricidade, em grande parte
nobres desapareceram, córregos entupi- do mundo pilhas gigantescas de carvão são
ram-se com lodo tóxico, poços secaram e conduzidas por correias transportadoras
comunidades inteiras foram expulsas.1 para serem pulverizadas em um fino pó e
A quilômetros de distância desses cu- lançadas numa fornalha na usina. O fogo
mes áridos, alguém chega em casa e acen- produz vapor d’água, que move um gera-
de a luz, querendo apenas clarear a escuri- dor, a fim de produzir uma corrente elétri-
dão, sem pensar no que isso envolve além ca. No processo, a usina emite poluentes
das paredes da casa. Para a grande maioria que causam chuva ácida e nevoeiro
de pessoas, a eletricidade é uma força invi- enfumaçado, como também mercúrio e

28
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA

dióxido de carbono (CO2), um gás de aque- tura e o modo de vida de povos indígenas,
cimento global. No máximo, 35% da ener- da Amazônia ao Ártico.
gia do carvão é convertida em eletricidade, A intensidade energética – ou seja, o
o que significa que quase dois terços são insumo de energia por dólar de produto –
perdidos sob a forma de calor de escape, da economia global está em declínio, tendo
sem beneficiar ninguém e freqüentemente havido melhorias contínuas de eficiência
prejudicando os ecossistemas vizinhos. E energética nas décadas recentes. Todavia,
todo esse carvão tem que ser transportado essas melhorias estão sendo neutralizadas
para a usina, por trens ou chatas, de locais por um nível cada vez maior de consumo
como as Montanhas Apalaches ou sul de em todo o mundo. Naturalmente, não é de
West Virginia.2 se estranhar que o uso de energia esteja
Tudo o que consumimos ou utilizamos crescendo nos países em desenvolvimen-
– nossos lares, seu conteúdo, nossos car- to, onde a maioria das pessoas nunca diri-
ros e as vias que percorremos, as roupas giu um carro, ligou um ar-condicionado ou
que usamos e os alimentos que comemos cozinhou utilizando outra coisa que não le-
– requer energia para ser produzido e em- nha ou dejeto animal. À proporção que ob-
balado, distribuído às lojas ou em domicí- têm melhoria de vida, seu uso de energia
lio, operado e depois descartado. Raramente aumenta, e vice-versa.
pensamos de onde vem essa energia ou O que é mais surpreendente é o aumen-
quanto consumimos – ou de quanto real- to dramático do uso de energia em muitos
mente precisamos. países industrializados. Em comparação a
Seja na forma de gasolina para alimen- apenas 10 anos atrás, por exemplo, os
tar um carro, ou urânio para gerar eletrici- americanos estão dirigindo carros maiores
dade, a energia necessária para sustentar e menos eficientes, comprando casas mai-
nossas economias e estilos de vida propor- ores e mais eletrodomésticos. Conseqüen-
ciona grande conveniência e benefícios. temente, o consumo de petróleo nos Esta-
Mas também impõe altos custos à saúde dos Unidos aumentou ao longo da década
humana, aos ecossistemas e até à seguran- em quase 2,7 milhões de barris/dia – mais
ça. O consumo de energia afeta tudo, des- do que é consumido, diariamente, na Índia
de a dívida externa de um país (devido às e no Paquistão, que, conjuntamente, têm
importações de combustíveis) até a estabi- mais de quatro vezes a população dos Es-
lidade do Oriente Médio. Desde o ar que tados Unidos. Será que essa demanda cres-
respiramos até a água que bebemos, nosso cente é sustentável? E deverá haver uma
uso da energia afeta a saúde das gerações mudança fundamental no modo que pro-
atuais e futuras. O uso ineficiente e insus- duzimos e consumimos energia?3
tentável da biomassa em países pobres leva O tipo e o volume de energia que as pes-
ao desmatamento e desertificação, enquanto soas consomem são influenciados por vári-
o uso insustentável de combustíveis fós- os fatores, incluindo renda, clima, recursos
seis está alterando o clima global. E à me- disponíveis e políticas corporativas e gover-
dida que buscamos fontes mais remotas de namentais. Por intermédio de impostos,
combustível, colocamos em perigo a cul- subsídios, regulamentos, normas e investi-

29
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA

mentos em infra-estrutura, os governos in- 2000, a mesma energia por dólar de PIB
fluenciam como, onde, quanto e que forma consumida em 1970, o consumo de energia
de energia utilizamos. Mas nós, como con- teria totalizado 177 quads, em vez dos 98,5
sumidores, não somos meros e impotentes quads efetivamente consumidos. De acor-
espectadores. Somos aqueles que adquirem do com o analista de energia Amory Lovins,
veículos, eletrodomésticos, roupas, casas e medidas de eficiência energética, promulga-
outros bens e serviços, com base em das a partir de meados dos anos 70, propor-
parâmetros como preço, moda e valores. No cionaram uma economia de US$ 365 bilhões
fundo, dentro dos limites de disponibilidade para os Estados Unidos só em 2000.5
e acessibilidade, são os consumidores que
escolhem o produto a ser comprado e sua
utilização; e, assim, são os consumidores que Com apenas 2% das reservas
podem provocar mudanças. globais e 4,5% da população total,
os Estados Unidos continuam
Tendências Globais do sendo o maior consumidor
Uso de Energia mundial de petróleo.
Entre 1850 e 1970, a população mundial mais
que triplicou e a energia consumida aumen- O potencial para poupanças futuras nos
tou 12 vezes. Em 2002, nossos números já Estados Unidos e outros países continua
haviam crescido mais 68% e o consumo de gigantesco. Ainda desperdiçamos imensas
combustíveis fósseis outros 73%. O uso de quantidades de energia. Consideremos o
energia alimentou o crescimento econômi- caminho percorrido da mina de carvão até
co e vice-versa, mas não estão tão estreita- o interruptor de luz e imaginemos essas
mente ligados, como acreditava-se outrora. perdas de energia através de toda a eco-
Antes da primeira crise global do petróleo, nomia e em cada país. Nos Estados Uni-
muitos economistas pensavam que o con- dos, por exemplo, para cada 100 unida-
sumo maior de energia era pré-requisito de des de energia que alimenta usinas, prédi-
crescimento econômico. Mas quando os os, veículos e fábricas, apenas 37 unida-
preços do petróleo deram um salto repenti- des emergem como serviços úteis, tais
no, no início dos anos 70, governos e con- como calor, eletricidade e mobilidade. Glo-
sumidores reagiram, estabelecendo padrões balmente, a eficiência média da conver-
de eficiência e conservando combustível. são de energia primária em energia útil é
Entre 1970 e 1997, a intensidade global de de 28%. E as perdas variam enormemen-
energia caiu 28%, enquanto a produção eco- te de um uso ou país para o próximo: por
nômica continuou a crescer.4 exemplo, Lovins calcula que apenas 14%
Quanto mais eficientemente produzirmos do petróleo na boca do poço chega às ro-
e consumirmos energia, de menos energia das de um automóvel moderno.6
necessitaremos para os mesmos serviços. O consumo de energia, especialmente
Caso os Estados Unidos consumissem, em de petróleo, vem crescendo constantemen-

30
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA

te, com apenas uma pequena desaceleração, Hoje, os povos mais ricos do mundo
durante as crises dos anos 70. Apenas a consomem, em média, 25 vezes mais ener-
Europa Oriental e os antigos estados sovi- gia, per capita, do que os pobres. Na rea-
éticos sofreram declínios no consumo de lidade, quase um terço da população mun-
energia. Os países industrializados conti- dial não dispõe de acesso à eletricidade ou
nuam a consumir a maior parcela do pe- outros serviços modernos de energia, en-
tróleo global – 62%. O consumo de petró- quanto outro terço dispõe apenas de aces-
leo nos Estados Unidos duplicou a partir so limitado. Cerca de 2,5 bilhões de pes-
de 1960. Embora sua participação no con- soas, a maioria na Ásia, dispõem apenas
sumo global tenha caído consideravelmen- de madeira ou outra biomassa para sua
te desde 1960, começou a subir novamen- energia. O cidadão americano comum
te durante os anos 90. Com apenas 2% das consome cinco vezes mais energia que o
reservas globais e 4,5% da população to- cidadão global, 10 vezes mais que o chi-
tal, os Estados Unidos continuam sendo o nês e quase 20 vezes mais que o indiano.
maior consumidor mundial de petróleo.7 (Vide Tabela 2–1.) 8

Tabela 2-1. Consumo de Energia e Emissões de Dióxido de Carbono Anuais, Países Selecionados
Emissões de Dióxido
País Energia Comercial Petróleo Eletricidade de Carbono
(toneladas de (barris por dia por (quilowatt-hora (toneladas por
equivalência em mil habitantes) por pessoa) pessoa)
petróleo por pessoa)

Estados Unidos 8,1 70,2 12.331 19,7


Japão 4,1 42,0 7.628 9,1
Alemanha 4,1 32,5 5.963 9,7
Polônia 2,4 10,9 2.511 8,1
Brasil 1,1 10,5 1.878 1,8
China1 0,9 4,2 827 2,3
Índia 0,5 2,0 355 1,1
Etiópia 0,3 0,3 22 0,1
1
Excluindo Hong Kong.
FONTE: vide nota final 8.

Há também extremas desigualdades den- habitação permanente. O mesmo ocorre em


tro do mundo em desenvolvimento, onde o outros países, de Gana ao Vietnã.9
consumo de energia cresce mais rapida- Mais e mais pessoas no Sul conso-
mente e onde só o uso do petróleo quadru- mem, em média, tanta energia quanto no
plicou desde 1970. Por exemplo, a Índia Norte, e estudos indicam que suas rendas
tem uma crescente classe de consumidor estão aumentando a uma taxa mais acelera-
que dispõe de automóveis e eletrodomésti- da do que qualquer outra experimentada pelo
cos, enquanto 48% das famílias vivem sem mundo industrializado. (Vide Quadro 2-1.)

31
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA

QUADRO 2-1. SURTO DA DEMANDA ENERGÉTICA NA CHINA E ÍNDIA


Embora a China e Índia abriguem mais de um domésticos, iluminação, fogões a gás e maior
terço da população mundial, representam mobilidade.
hoje apenas 13% do consumo global de A demanda por petróleo crescerá
energia. Mas esse consumo está crescendo rapidamente também à medida que mais e mais
rapidamente, e essas duas nações dependem pessoas adquiram automóveis. A produção
significativamente do carvão – a China em interna de petróleo atualmente atende a cerca
mais de 70% para sua energia comercial e a de dois terços das necessidades chinesas, mas
Índia em mais de 50%. A Agência os consumidores irão, em breve, depender
Internacional de Energia projeta que a muito mais das importações caso a demanda
demanda crescente na China e na Índia dobre, até 2025, como se espera – fazendo
representará mais de dois terços do aumento com que a China supere o Japão como o
global esperado no consumo de carvão entre segundo maior consumidor mundial depois
hoje e 2030. Esses gigantes populacionais dos Estados Unidos. As vendas de automóveis
causarão, então, impactos colossais no na China aumentaram 82% durante o primeiro
mercado global de energia e no meio ambiente semestre de 2003 em relação ao mesmo
nas décadas futuras. período do ano anterior. Às taxas projetadas
de crescimento, a frota chinesa de veículos
Os níveis de renda aumentaram rapidamente
particulares poderá saltar dos 5 milhões em
em ambos os países, graças ao declínio da taxa 2000 para quase 24 milhões até o final de
de crescimento populacional e aceleramento 2005, aumentando substancialmente o
do crescimento econômico. A economia congestionamento de ruas e da poluição
chinesa mais que quadruplicou desde 1980. atmosférica.
Durante os anos 80, a demanda de eletricidade O crescimento nas compras dos chamados
na China aumentou mais de 400% devido às SUVs (veículos utilitários esportivos),
aquisições de eletrodomésticos. Na Índia, o pródigos no consumo de combustível, excedeu
número de famílias “afluentes” – com renda até mesmo as expectativas dos fabricantes. Na
mensal de US$ 220 ou mais – sextuplicou em Índia, as vendas de SUVs representam, hoje,
apenas cinco anos, enquanto o número de 10% das compras de veículos e poderão, em
famílias de baixa renda caiu significativamente. breve, superá-las.
Essas tendências apontam para um
aceleramento, alimentando uma classe – Tawni Tidwell
crescente de consumidores que deseja ter ________________________________________
acesso às conveniências de aparelhos FONTE: vide nota final 10.

A China já é o maior consumidor de carvão alta, em expansão. No futuro, entretanto,


do mundo e o 3º maior de petróleo, en- as pessoas no mundo em desenvolvimen-
quanto o Brasil é o sexto maior, a Índia o to estarão mais restringidas pela exaustão
oitavo e o México o décimo.10 de recursos e realidades ambientais. A
Até hoje, o consumo de energia no Sul Terra não pode prover o suficiente para a
tem sido limitado principalmente por ques- população global atual viver como o cida-
tões de renda e infra-estrutura – a falta de dão americano comum ou até mesmo o
acesso a estradas e eletricidade restringiu europeu comum. (Vide Capítulo 1.) Por
o uso de automóveis e aparelhos, por exemplo, se o consumidor comum chinês
exemplo, mesmo entre as classes média e utilizasse a mesma quantidade de petróleo

32
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA

de um americano comum, a China neces- mo mundial de petróleo. Os Estados Uni-


sitaria de 90 milhões de barris/dia – 11 dos são, de longe, o maior consumidor
milhões a mais do que o planeta produziu, mundial de energia para os transportes,
diariamente, em 2001. No futuro, o cres- devorando mais de um terço do total glo-
cimento populacional, mudança climática bal. A partir de uma base reduzida, entre-
e outros desafios ambientais poderão tanto, o consumo de energia para trans-
estressar os sistemas naturais a seus limi- portes está atualmente aumentando mais
tes, enquanto os combustíveis convenci- rapidamente na Ásia, Oriente Médio e Áfri-
onais não poderão atender ao crescimen- ca do Norte.12
to projetado da demanda energética. Na Na realidade, os transportes são a for-
realidade, muitos analistas prevêem que, ma de consumo de energia com crescimen-
mesmo às taxas atuais de consumo, a pro- to mais acelerado em todo o mundo, pro-
dução mundial de petróleo atingirá seu pico vocado, em parte, pela mudança dos mei-
antes de 2020. Isso tem implicações gi- os de transporte utilizados pelas pessoas e
gantescas para o nosso estilo de vida e cargas para outros mais flexíveis, porém
modo de mobilidade.11 mais intensivos no consumo de energia.
Embora mais passageiros viajem de trem
A Energia que nos Move em vez de avião, e mais cargas por navios
do que por outros meios, mesmo mudan-
Durante o século XX, a humanidade tor- ças relativamente pequenas nas escolhas do
nou-se uma espécie extremamente móvel. transporte causam impactos significativos.
Nos países industrializados, hoje, é comum Apenas 0,5% da distância total que as pes-
alguém viajar 10.000 ou até mesmo 50.000 soas percorrem anualmente é realizada pelo
quilômetros em um ano. E grande parte ar; entretanto, os aviões consomem cerca
do que utilizamos como consumidores, de 5% da energia de transportes. E os ca-
desde nosso próprio computador até o ali- minhões requerem quatro a cinco vezes
mento que comemos, atravessa continen- mais energia que as ferrovias ou navios para
tes e oceanos para chegar até nós. Há ape- o mesmo peso e distância.13
nas 150 anos, movimentos eram limita- Porém o fator mais determinante do
dos à distância que uma pessoa ou animal aumento progressivo do consumo de ener-
pudesse percorrer a pé. Para cerca de um gia para transportes é a crescente depen-
terço da humanidade, certamente, isso ain- dência do carro particular. Cerca de 40,6
da é realidade. Para os outros dois terços, milhões de carros de passeio saíram das
entretanto, uma maior mobilidade de pes- linhas de montagem em 2002, cinco vezes
soas e propriedade causou impactos pro- o total de 1950. A frota global hoje ultra-
fundos, alterando tudo, desde o trabalho passa 531 milhões de unidades, aumentan-
e família até a natureza e o planejamento do em cerca de 11 milhões de veículos anu-
de nossas cidades. almente.14
Hoje, o transporte representa quase 30% Cerca de um quarto desses veículos
do uso global de energia e 95% do consu- estão nas estradas americanas, onde os

33
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA

automóveis e caminhões leves representam Em bases per capita, a posse de um


40% do consumo nacional de petróleo e automóvel na Europa Ocidental e Japão é
contribuem com outro tanto para a mudança comparável aos níveis dos Estados Unidos
climática, da mesma forma que toda a ati- no início dos anos 70, enquanto a Europa
vidade econômica do Japão. A distância total Oriental compara-se aos Estados Unidos nos
percorrida por americanos excede a de to- anos 30. Mas rendas em alta, mudanças de
das as outras nações industrializadas jun- estilo de vida, mulheres entrando na força
tas – não só por suas dimensões territoriais, de trabalho, políticas nacionais que incen-
mas também porque os americanos prefe- tivam a mobilidade e a queda dos custos de
rem dirigir quando outros andam a pé ou combustíveis provocaram um crescimen-
de bicicleta. Como observou recentemente to significativo. A posse de automóveis, por
um consultor de transportes, “o automó- pessoa, no Japão quadruplicou entre 1975
vel ficou parecido com os aparelhos de te- e 1990, e na Polônia aumentou 15 vezes,
levisão. Há mais deles numa casa do que desde o início dos anos 70 até 2001. Ape-
olhos para vê-los”. Hoje há mais carros do nas cerca de 20% dos veículos mundiais
que americanos habilitados para dirigi-los, estão na Ásia e região do Pacífico, mas os
e a maioria das famílias possui dois ou mais números lá estão crescendo a um ritmo de
veículos.15 10-15% ao ano. (Vide Tabela 2-2.)16

Tabela 2-2. Frotas de Veículos Particulares e Comerciais,


Países Selecionados e Total, 1950–99
País 1950 1960 1970 1980 1990 1999
(milhões de veículos)
Estados Unidos 49,2 73,9 108,4 155,8 188,8 213,5
Japão — 1,3 17,3 37,1 56,5 71,7
Alemanha — 5,6 15,5 24,6 32,2 45,8
China — — — 1,7 5,8 12,8
Índia — 0,5 1,1 1,9 4,2 8,2
Argentina — 0,9 2,3 4,3 5,9 6,6
África do Sul 0,6 1,2 2,1 3,4 5,1 6,6
Reps. Tcheca e
Eslovaca 0,2 0,4 1,0 2,6 3,7 5,1
Mundo 70,4 126,9 246,4 411,0 583,0 681,8

FONTE: vide nota final 16.

O tamanho e peso dos veículos também tabelecidos em lei federal. Na realidade, a


têm aumentado – uma tendência que já eli- economia de combustível dos veículos ame-
minou mais de 20 anos de melhorias de efi- ricanos seria um terço maior do que é hoje
ciência ganhas nos Estados Unidos, através caso o peso e desempenho tivessem perma-
de padrões de eficiência de combustível es- necido constantes desde 1981.

34
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA

Ironicamente, o Modelo T da Ford mas cidades dos países em desenvolvimen-


Motor Company obtinha melhor quilome- to. E o dinheiro que se investe em infra-
tragem, quase um século atrás, do que o estrutura rodoviária significa menos inves-
Ford médio de hoje (se bem que com uma timentos em outras áreas, o que agrava as
velocidade máxima de 70 quilômetros por desigualdades sociais existentes para aque-
hora). Quase metade dos veículos que os les que não podem utilizar o meio de trans-
americanos adquirem hoje são SUVs e porte predominante. Mesmo nos Estados
caminhões leves bebedores de gasolina. Unidos, cerca de um terço da população é
E o desejo por veículos maiores é conta- pobre demais, velha demais, ou jovem de-
gioso. Caso as tendências atuais conti- mais para dirigir um carro.19
nuem, em 2030 metade dos veículos de
passeio mundiais serão SUVs ou outros
caminhões leves.17 Os europeus ocidentais hoje
As pessoas também viajam para mais utilizam transportes públicos
longe. Entre 1952 e 1992, enquanto o nú-
para 10% dos seus trajetos
mero de pessoas no Reino Unido aumen-
tava 15%, a distância que estas dirigiam urbanos e os canadenses 7%,
triplicou. E de 1970 a 2000, os quilôme- contra apenas 2% dos americanos.
tros percorridos nos países da União Eu-
ropéia (UE) mais que duplicaram. Nos
Estados Unidos, o número de percursos
As escolhas que as pessoas fazem para
por família aumentou 46% entre 1983 e
seu deslocamento são influenciadas, em gran-
1995, enquanto o tempo médio de viagem
de parte, por políticas governamentais, como
cresceu mais de 5%.18
Embora a mobilidade contribua para o impostos sobre veículos e combustíveis, re-
bem-estar econômico e social, há altos gras do uso do solo e subsídios para trans-
custos externos associados à extensão e portes aéreos e automóveis, em detrimento
natureza de nossas viagens. Mundialmen- do transporte público e uso de bicicletas. Há
te, quase um milhão de pessoas – a maioria um século, os EUA lideravam o mundo em
pedestres – são mortas em acidentes de transporte público. Em 1910, quase 50 vezes
trânsito, anualmente, e o número de mor- mais americanos deslocavam-se para o tra-
tes causadas por poluição atmosférica vei- balho em trens do que em carros, e uma dé-
cular é maior. À medida que o uso de veí- cada depois quase todas as principais cida-
culos aumenta, as vias congestionam-se, des americanas dispunham de malhas ferro-
desperdiçando horas produtivas e reduzin- viárias. Mas, após a II Guerra Mundial, o
do a eficiência dos veículos. Os custos de governo deu ênfase à construção de rodovi-
transporte rodoviário não-coberto pelos as e auto-estradas Hoje, quem se desloca para
motoristas – poluição atmosférica, ruído, o trabalho de carro tem subsídios em estaci-
congestionamentos, acidentes e danos às onamentos, enquanto aqueles que utilizam
estradas – começam a 5% do PIB nos pa- transportes públicos recebem consideravel-
íses industrializados, aumentando em algu- mente menos, e os ciclistas nada. Assim, não

35
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA

é de se estranhar que a média de passageiros so dos Estados Unidos promulgou uma lei
nos transportes seja menor hoje que há 50 triplicando um crédito fiscal corporativo nas
anos, apesar da duplicação da população dos compras de SUVs, da ordem de US$ 75.000
Estados Unidos. Uma exceção para essa ten- cada, comparado com uma dedução de US$
dência é a cidade de Nova Iorque, onde, de- 2.000 para veículos elétricos híbridos.22
vido à alta densidade e proliferação de táxis e Apesar das políticas norte-americanas
opções de transportes urbanos, apenas 25% e dos baixos preços de combustível, alguns
dos seus habitantes têm habilitação para diri- americanos preferem pagar mais, a fim de
gir. E em cidades como Denver, Colorado, consumir menos. Enquanto os motores
onde os serviços estão melhorando ou ampli- modernos de combustão interna são ape-
ando, a utilização de transportes de massa nas 20% eficientes, os carros híbridos po-
voltou a crescer.20 dem ir mais longe com um litro de com-
Em contraste, muitos países destinaram bustível. Em janeiro de 2003, cerca de
recursos significativos para os transportes 150.000 motoristas em todo o mundo com-
públicos, desencorajando o uso de veículos praram um carro híbrido; muitos desses
particulares por meio de políticas de trânsito novos proprietários estão nos Estados Uni-
e cobrança de taxas. No Japão e Europa, gran- dos, onde as vendas mensais do modelo
de parte dos investimentos em infra-estrutu- Prius, da Toyota, foram quatro vezes mais
ra de transportes após a II Guerra Mundial que no Japão. (Vide Quadro 2-2.)23
centrou-se em trens e ônibus urbanos. Hoje,
quase 92% das pessoas que se deslocam ao
QUADRO 2-2. SÓ EFICIÊNCIA
centro de Tóquio utilizam trens, com apenas
NÃO BASTA
55% utilizando carros. Os europeus ociden-
tais, hoje, utilizam transportes públicos para Inúmeros estudos constataram que, ao longo dos
10% dos seus trajetos urbanos e os canaden- próximos 10–15 anos, a economia de
ses 7%, contra apenas 2% para os america- combustível dos novos carros e caminhões leves
nos. Isso é significativo porque, para cada nos Estados Unidos poderá aumentar em até um
terço com as tecnologias existentes. A mais longo
quilômetro rodado por um veículo particular,
prazo, o uso de materiais compostos leves,
consome-se duas a três vezes mais combus- porém resistentes, da era espacial, com base em
tível do que por transporte público.21 fibras de carbono, desenho avançado e tecnologia
As diferenças nas tendências dos trans- híbrida ou de célula de combustível, poderá no
portes também explicam-se pelos preços. O mínimo triplicar a economia de combustível.
crescimento mais acelerado na propriedade Todavia, melhorias de eficiência irão apenas
e uso de um veículo particular ocorre ca- começar a resolver os problemas associados às
nossas escolhas de transporte. E os avanços de
racteristicamente em países com os mais eficiência, por si só, poderão na realidade
baixos preços de combustível e automóveis. encorajar as pessoas a utilizar mais energia,
Os carros e a gasolina são mais baratos nos incrementando suas viagens e compras de
Estados Unidos do que na Europa, por veículos já que os custos de energia representam
exemplo, por não sofrerem tanta taxação. uma parcela menor das despesas totais.
Na realidade, os maiores beberrões de ga- ___________________________________________________________________________________________________
FONTE: vide nota final 23.
solina são subsidiados: em 2003, o Congres-

36
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA

A crescente conscientização sobre os do carro e a poluição. Motoristas em Lon-


problemas da poluição atmosférica, segu- dres passavam metade de seu tempo pre-
rança e congestionamentos associados aos sos no trânsito, andando na mesma veloci-
automóveis motivou medidas severas para dade que os londrinos de um século atrás.
redução do aumento do trânsito, particu- Mas, em resposta a um pedágio promulga-
larmente nos países em desenvolvimento. do no início de 2003, os níveis de trânsito
Em 1999, um grupo de cidadãos em San- caíram 16% em média nos primeiros me-
tiago, Chile, uniu-se ao grupo ambiental ses e a maioria dos motoristas começou a
Greenpeace numa campanha de um ano utilizar os serviços públicos. Taxas de con-
para modernizar o sistema de transportes gestionamento para centros urbanos foram
urbanos. Como resultado, Santiago hoje implantadas anos atrás em Cingapura e
dispõe de vias exclusivas para ônibus, as Trondheim, na Noruega, e mais recente-
ruas mais largas estão restritas ao trans- mente em Toronto e Melbourne, com re-
porte público em dias de alta poluição e o sultados semelhantes.26
uso do transporte urbano aumentou con- Em outros países as pessoas preferiram
sideravelmente.24 compartilhar frotas de veículos, em vez de
A Prefeitura de Bogotá, na Colômbia, possuí-los, e em alguns casos abrir mão
começou a trocar os carros por bicicletas deles por completo. Uma rede conjunta,
em algumas vias no final dos anos 80, e até Eurocities – Comissão Européia, está no
2025 planeja proibir o uso do automóvel momento promovendo uma “nova cultura
durante o horário de pico. O ex-prefeito da mobilidade” por toda a UE, objetivando
Enrique Peñalosa, o impulsionador desse melhorar a qualidade de vida e deslocar a
movimento, acredita que os carros são “o dependência dos carros para transportes
instrumento mais poderoso de diferencia- públicos, bicicletas e andar a pé. Zermatt,
ção e alienação social que temos na socie- na Suíça, faz uso do seu status de longo tem-
dade”, pois desviam recursos da educação po livre de carros como apelo de vendas
e outros serviços sociais. Hoje, Bogotá dis- para os turistas, e 280 famílias em Freiburg,
põe de um bom sistema de transportes pú- na Alemanha, foram as primeiras entre mais
blicos, os níveis de poluição caíram e o tem- de 40 comunidades alemãs a decidir viver
po gasto durante os horários de pico foi sem automóveis. Aparentemente, uma vez
reduzido à metade. Inúmeras outras cida- que as pessoas dispõem de alternativas se-
des, desde Zurique, na Suíça, até Portland, guras, confortáveis e confiáveis, um maior
em Oregon, reduziram os níveis de polui- número delas prefere viver sem carros.27
ção ao mesmo tempo em que aumentaram
o uso dos transportes públicos, através do A Energia Onde
replanejamento das áreas urbanas e melhoria
de eficiência nos transportes.25
Vivemos e
“Taxas de congestionamento” sobre Trabalhamos
veículos que entram nos centros das cida-
des, juntamente com investimentos em Mundialmente, as pessoas consomem cer-
transporte público, também reduziram o uso ca de um terço de toda a energia nos prédi-

37
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA

os – para aquecimento, refrigeração, culi- res e em maior número. E à medida que cai
nária, iluminação e uso de eletrodomésti- a quantidade de pessoas por residência, de-
cos. A demanda de energia relacionada a vido a uma variedade de tendências sociais,
prédios está crescendo rapidamente, parti- aumenta o número de casas necessárias para
cularmente dentro dos nossos lares.28 uma determinada população. Cada residên-
Mas há grandes diferenças no uso do- cia adicional requer materiais de construção,
méstico de energia de um país para outro. iluminação aquecimento e refrigeração, apa-
As pessoas nos Estados Unidos e Canadá relhos eletrodomésticos e freqüentemente
consomem 2,4 vezes mais energia em casa mais carros e vias – tudo que requer energia
do que na Europa Ocidental. Uma pessoa para produzir e operar. Entre 1973 e 1992, a
comum, no mundo em desenvolvimento, redução do tamanho das famílias, só nos
consome cerca de um nono da energia em países industrializados, foi responsável por
prédios do que a pessoa comum do mundo um aumento de 20% no consumo per capita
industrializado, mesmo incluindo combus- de energia.31
tíveis não-comerciais. Entretanto, uma par- Eletrodomésticos são os consumidores
cela bem maior da energia total nos países de energia de crescimento mais acelerado
em desenvolvimento é consumida em casa, do mundo, responsáveis por 30% do con-
devido à ineficiência de combustíveis e sumo de eletricidade dos países industriali-
tecnologias. Na China, os domicílios con- zados e 12% das emissões de gases de es-
somem cerca de 40% da energia nacional; tufa. A saturação da propriedade de gran-
na Índia, 50% e na maioria da África é ain- des aparelhos nessas nações é continuamen-
da maior, em comparação aos 15–25% do te compensada pela difusão de novos, in-
mundo industrializado.29 clusive computadores e outras formas de
Embora talvez um quarto da população tecnologia da informação (TI), enquanto os
mundial disponha de abrigos inadequados ganhos de eficiência obtidos a partir dos
ou até abrigo nenhum, para muitas outras anos 70 estão sendo desperdiçados na tro-
pessoas o tamanho de suas casas aumenta ca por mais (e maiores) amenidades. (Vide
mesmo quando o número de pessoas por Quadro 2-3.) O tamanho médio de refrige-
família diminui. Os Estados Unidos repre- radores nas residências americanas, por
sentam o caso extremo, onde as novas re- exemplo, aumentou 10% entre 1972 e
sidências cresceram quase 38% entre 1975 2001, e a quantidade por residência tam-
e 2000, para 210 m2 – duas vezes o tama- bém subiu. O ar-condicionado também se-
nho das residências típicas da Europa ou guiu um caminho semelhante: em 1978,
Japão, e 26 vezes o espaço de habitação do 56% dos lares americanos dispunham de
africano comum.30 sistemas de refrigeração, a maioria dos
À medida que os lares tornam-se maio- quais consistiam de pequenas unidades ins-
res devido, em grande parte, aos baixos pre- taladas nas janelas; 20 anos depois, três
ços da energia, cada lar individual tem mais quartos dos lares dispunham de condicio-
espaço para aquecer, resfriar e iluminar, nadores de ar e quase a metade consistia
como também espaço para aparelhos maio- de sistemas centrais.32

38
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA

QUADRO 2-3. OS ALTOS E BAIXOS DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO


A era da tecnologia da informação prometia reduz o volume de energia utilizada para
um caminho mais claro para o construir e ocupar novos prédios. A TI tem
desenvolvimento sustentável e para uma também sido creditada a grande parte do
economia sem papel. Aparentemente não crescimento econômico dramático que muitos
cumpriu nenhum dos dois. Até hoje os países obtiveram no final dos anos 90 – uma
impactos da TI sobre o consumo global de tendência não-acompanhada por aumentos
energia apresentam um quadro complexo. semelhantes no consumo de energia devido à
Os americanos consomem 2% da sua expansão de setores menos intensivos em
eletricidade apenas para operar os energia como o banqueiro e financeiro.
computadores e a Internet, enquanto o Outros benefícios da TI incluem:
consumo do ciclo de vida de toda a infra- • Um novo chip de computador e o desenho
estrutura da Internet na Alemanha absorve 3– de equipamento podem reduzir a energia
4% da energia nacional. Atribui-se grande parte de stand-by em até 90%.
do aumento de consumo de energia a novas
indústrias (como os provedores da Internet), • O mais novo veículo híbrido-elétrico da
aos métodos de comunicação (como aparelhos Toyota dispõe de um sistema eletrônico e
celulares) e novas formas de gestão da software que continuamente otimiza a
informação criadas através do uso da TI. Ao operação de componentes-chave,
invés de reduzir o consumo de papel, o correio assegurando um desempenho constante de
eletrônico na realidade aumentou-o em 40%, modo mais eficiente.
com impactos dramáticos no uso associado de • Pesquisadores do Pacific Northwest
energia – desde a operação de impressoras até o National Laboratory estão desenvolvendo
apoio a um dos maiores setores de energia uma “grade inteligente”, que induzirá os
intensiva do mundo, a indústria de papel. E consumidores a variar suas cargas
embora pedidos feitos por meio eletrônico energéticas à medida que as tarifas de
parecessem, à primeira vista, exigir menos eletricidade mudarem. Isso aumentará a
energia do que o deslocamento para lojas eficiência operacional de usinas existentes,
diferentes, isso, de fato, não ocorreu. Um reduzindo a necessidade de capacidade
estudo de “telecompras” revelou nenhuma adicional de grade e permitindo controles e
economia de transporte, enquanto outro sensores avançados para melhorias de
constatou que custou 55% mais em eficiência dos aparelhos. Também irá
combustível para entregar compras de proporcionar energia renovável, com
supermercado feitas on-line. acesso mais fácil à grade e aos mercados
Conforme alguns relatos, entretanto, os energéticos.
consumidores nas nações industrializadas
estão reduzindo seu consumo de energia com – Tawni Tidwell
TI através de mudanças em inventários de ________________________________________
produtos e através do teletransporte, que FONTE:vide nota final 32.

Entre 2000 e 2020, o consumo de ele- muitos outros estão “desligados” mas não
tricidade para os aparelhos no mundo in- desconectados – será provavelmente o
dustrializado poderá aumentar 25%. A consumidor de maior crescimento. Em
energia stand-by – a eletricidade que é 2020, poderá representar 10% do consu-
consumida quando computadores, televi- mo total de eletricidade nesses países,
sores, aparelhos de fac-símile, estéreos e exigindo quase 400 usinas adicionais de

39
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA

500 megawatts, que emitirão mais de 600 sa energia é gerada através de combustí-
milhões de toneladas de dióxido de carbo- veis tradicionais, não-comerciais. Por
no anualmente.33 exemplo, quase três quartos da popula-
Nos países em desenvolvimento, a ção da Índia depende da biomassa tradi-
maior parte das necessidades energéticas cional para cozinhar. Mesmo assim, a
relacionadas aos prédios é para a cozi- demanda por aparelhos modernos está
nha, aquecimento de água e aquecimento crescendo também no mundo em desen-
espacial – o básico – e a maior parte des- volvimento. (Vide Tabela 2-3.)34

Tabela 2-3. Posse de Eletrodomésticos nos Países Industrializados


e em Desenvolvimento, Anos Selecionados
País Ano Refrigerador Lavadora de Lavadora de Condicionador
Roupa Prato de Ar
(número por 100 domicílios)
Estados Unidos 1973 100 70 25 47
1992 118 77 45 69
1998 1151 77 50 72
Japão 1973 104 96 0 16
1992 117 99 0 131
Europa Ocidental2 1973 91 69 5 0
1992 111 89 24 1
Índia 1994 7 2 - -
1996 9 4 - -
1999 12 6 - -
China rural/urbana 1981 0/0 0/6 - 0/0
1991 2/53 12/83 - 0/0
1998 9/76 23/91 - 1/20
1
Outras fontes mostram aumentos contínuos até 2000. 2Reino Unido, Alemanha Ocidental, França e Itália.
FONTE: vide nota final 34.

Na realidade, grande parte do cresci- é gigantesco. Na Índia, vendas de refrige-


mento da demanda de eletricidade, desde radores frost-free estão projetadas a cres-
1990, ocorreu no mundo em desenvolvi- cer quase 14% ao ano. A Agência Interna-
mento, onde o consumo per capita aumen- cional de Energia espera que, com base em
tou mais rapidamente que a renda e onde o políticas vigentes, a demanda mundial de
consumo de energia de prédios triplicou eletricidade duplique entre 2000 e 2030,
entre 1971 e 1996. A posse de um televisor com o maior aumento de demanda nos pa-
quintuplicou no leste da Ásia e Pacífico íses em desenvolvimento e o crescimento
entre 1985 e 1997. Mas as taxas de pene- mais acelerado em lares residenciais.35
tração de eletrodomésticos ainda são rela- Todavia, as mesmas necessidades po-
tivamente baixas nos países em desenvol- deriam ser atendidas com muito menos
vimento, e assim o potencial de crescimento energia. Programas de eficiência demons-

40
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA

traram alta eficácia até hoje, e as melhorias é possível. No início dos anos 90, frente a
contínuas podem nos ajudar a avançar no um aumento anual de 14% na demanda de
atendimento a essa demanda crescente. Os eletricidade, o governo da Tailândia deu iní-
Estados Unidos implantaram padrões na- cio a uma parceria com fabricantes para
cionais em 1987 após uma proliferação de melhorar a eficiência dos prédios, ilumina-
programas em âmbito estadual. Em res- ção e eletrodomésticos frios (como refri-
posta, os fabricantes obtiveram grandes geradores e condicionadores de ar). Em
economias no consumo de energia de ele- 2000, a Tailândia havia excedido suas me-
trodomésticos, quase triplicando a efici- tas de economia de energia e redução de
ência de novos refrigeradores entre 1972 CO2 em pelo menos 200%. Só entre 1996
e 1999, proporcionando, ao mesmo tem- e 1998, a participação de mercado de refri-
po, economia aos consumidores. Na Eu- geradores eficientes disparou de 12 para
ropa, os preços mais altos de energia, com- 96%. E no Brasil, graças, em grande parte,
binados com normas e selos, como o Blue a normas voluntárias e de rotulagem, os
Angel (Anjo Azul) da Alemanha, influen- consumidores reduziram o consumo de
ciaram as opções dos consumidores e le- energia relacionada a refrigeradores em
varam os fabricantes a produzir produtos 15% entre 1985 e 1993.37
mais eficientes, a fim de competir, e as- Melhorias no desenho e construção de
sim transformar mercados inteiros. (Vide prédios também poderão gerar economias
Capítulo 5.) Ainda assim, muito mais pode significativas de energia. De acordo com o
ser feito. As tecnologias disponíveis hoje analista de energia Donald Aitken, “os pré-
podem avançar a eficiência dos eletrodo- dios continuam sendo o aspecto mais me-
mésticos em, pelo menos, mais 33% ao nosprezado da ciência econômica da ener-
longo da próxima década, e outras gia, e a oportunidade mais inexplorada para
melhorias no consumo de energia de se- melhoria de eficiência”. O potencial de eco-
cadores, televisores, iluminação e nomia nos prédios existentes é gigantesco,
stand-by poderão economizar mais da e os consumidores já começaram a realizar
metade do crescimento projetado do con- melhorias. Na UE, a construção de prédios
sumo no mundo industrializado até 2030.36 é responsável por mais de 12% da ativida-
Nos países em desenvolvimento, as de econômica, e mais da metade disso en-
pessoas poderiam economizar até 75% da volve reinstalação de prédios existentes.
sua energia, por meio de melhorias no iso- Mas as edificações novas têm maior po-
lamento dos prédios, cozinha, aquecimen- tencial para economia e os números não
to, iluminação e aparelhos eletrodomésti- são insignificantes – só nos Estados Uni-
cos. Infelizmente, a difusão de tecnologias dos 1,7 milhão de casas residenciais foram
mais eficientes é extremamente lenta, de- construídas em 2002.38
vido aos altos custos iniciais, à falta de Uma vez que novas edificações duram
combustíveis modernos, como gás pelo menos 50–100 anos – e alguns sécu-
encanado, e às falhas nos sistemas de dis- los – é essencial que estejam adequadas
tribuição existentes. Entretanto, experiên- desde o início. Mesmo em climas frios,
cias na Tailândia e no Brasil mostram o que as pessoas podem reduzir as necessida-

41
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA

des de aquecimento das novas constru- dos Unidos, incluindo as necessidades


ções em até 90%, através de uma combi- energéticas para a compensação do calor
nação de projeto e melhorias materiais, de escape. O uso pleno, apenas de
embora a iluminação e outras demandas tecnologias avançadas de iluminação, po-
energéticas também possam ser reduzidas. derá eliminar a necessidade de 120 usinas
Como a maioria das pessoas não constrói de 1.000 megawatts nos Estados Unidos,
suas próprias casas ou escritórios, a efi- economizando dinheiro e melhorando, ao
ciência do projeto de construção e dos mesmo tempo, a saúde e produtividade
materiais depende, em geral, de regulamen- humana.41
tos governamentais. Os prédios da Encorajada pelo programa americano
Califórnia são muito mais eficientes do que LEED (sigla em inglês para Liderança em
a média dos Estados Unidos, uma vez que Desenho Energético e Ambiental) – uma
o código de construção do estado é atua- norma voluntária para “prédios verdes” –
lizado regularmente, com base em uma imobiliária construiu o primeiro edi-
tecnologias correntes. Talvez o mais fício verde em Nova Iorque. Estes apar-
revelador seja o fato de que, enquanto o tamentos em Battery Park consumirão
consumo per capita de eletricidade tenha 35% menos energia e 65% menos eletri-
dobrado ao longo dos últimos 30 anos no cidade do que um prédio comum durante
resto do país, permaneceu constante na as horas de pico, com PVs atendendo, pelo
Califórnia.39 menos, 5% da demanda. E no Dia da Ter-
As demandas energéticas dos prédios ra, em maio de 2003, a Toyota inaugurou
podem ser reduzidas dramaticamente sem um novo complexo na Califórnia,
aumentar os custos de construção por meio construído com aço de automóveis
da aplicação de uma abordagem integrada reciclados, com projeto e iluminação efi-
ao “pacote” construtivo (paredes, tetos, cientes e com um dos maiores sistemas
fundações, etc.) e sistemas mecânicos e fotovoltaicos da América do Norte.42
elétricos. Muitos dos novos prédios na Da Califórnia ao Quênia e à Alemanha,
Europa e região do Pacífico asiático foram os consumidores estão instalando sistemas
construídos com a incorporação dessa fotovoltaicos, desde diminutos até de dimen-
abordagem, inclusive o prédio do Parlamen- sões de megawatts, nos telhados de resi-
to Europeu em Estrasburgo, na França, o dências e escritórios. Em 2002, mais de
Potsdamer Platz, em Berlim, e o Aurora 40.000 residências japonesas adicionaram
Place, em Sidnei, Austrália.40 140 megawatts de instalações fotovoltaicas,
“Prédios verdes” estão surgindo em graças ao apoio governamental. A geração
todo o mundo, que incluem características local de eletricidade com energia solar ou
adicionais poupadoras de energia, como luz eólica não é apenas mais limpa do que a con-
diurna, refrigeração natural, janelas de alto vencional, mas também reduz ou elimina
desempenho, isolamento superior e siste- perdas de transmissão e distribuição, que
mas fotovoltaicos (PVs). Conforme o variam de 4–7% nas nações industrializadas
Rocky Mountain Institute, a iluminação até mais de 40% em algumas regiões do
consome até 34% da eletricidade dos Esta- mundo em desenvolvimento.43

42
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA

Em outros países as pessoas estão pin- argumentam que a intensidade energética,


tando telhados e plantando jardins para re- na realidade, está aumentando em algumas
duzir seu consumo de energia em 10–50%. nações, pois estas efetivamente importam
Os alemães desenvolveram uma tecnologia insumos energéticos do exterior. Por exem-
moderna de telhado verde, inspirados nos plo, segundo uma estimativa, a energia in-
telhados e paredes de grama da Islândia. corporada nas importações australianas
Substituir as superfícies escuras, absorven- supera a das suas exportações.46
tes de calor dos telhados com plantas, re- A energia investida em determinado item
duz a temperatura ambiente e o consumo durante sua vida útil chama-se a “energia
de energia para aquecimento e refrigera- incorporada” daquele objeto. O volume de
ção. Exemplos de telhados verdes podem energia incorporada contida em um item
ser vistos em todo o mundo, da Prefeitura depende em grande parte da tecnologia apli-
de Chicago ao Aeroporto Schiphol, de cada em sua criação, do grau de automação,
Amsterdã, à Fabrica da Ford Motor do combustível utilizado por uma determi-
Company em Rouge River, Michigan – em nada máquina ou usina – e sua eficiência –
todos os seus 4,2 hectares.44 e da distância percorrida pelo item desde
seu começo até sua compra. O valor difere
Energia em Tudo que consideravelmente de local a local e até
mesmo de residência a residência.
Adquirimos Segundo algumas estimativas, as pes-
soas podem morar numa casa típica du-
Tudo que usamos possui insumos rante 10 anos antes que a energia consumida
energéticos associados e compostos, e a nela exceda o que entrou em seus compo-
maior parcela do consumo global de ener- nentes – vigas de aço, fundações de cimen-
gia destina-se à produção de nossos veí- to, vidros das janelas e esquadrias, pisos e
culos, eletrodomésticos, prédios e até nos- carpetes, paredes pré-fabricadas, revesti-
sas roupas e alimentos. Nos anos 70, a mento de madeira ou escadas – e sua cons-
fabricação desses produtos exigia 25–70% trução. E a energia incorporada na estrutu-
de energia total (com grande variação de ra raramente é estática. Conforme velhos
país a país). Esse percentual vem caindo materiais são removidos e novos instala-
constantemente em todos os países, pois dos, mais um quarto ou piso, a energia in-
os setores de transportes e construção corporada na casa aumenta.47
cresceram com maior rapidez, mas o con- Da mesma forma que ocorre com ca-
sumo de energia na indústria ainda está sas, são necessários altos volumes de ener-
aumentando à medida que adquirimos e gia para a montagem de nossos automó-
usamos mais e mais produtos.45 veis, construção e operação de indústrias e
Muitos bens manufaturados atravessam fabricação dos vários insumos que com-
fronteiras e oceanos para chegar até nós, põem um carro. A maior parte do consu-
onde a energia necessária para fabricá-los mo de energia associado à fabricação de
e transportá-los é omitida das contas naci- um veículo está na manufatura de aço, plás-
onais. Conseqüentemente, alguns técnicos ticos, vidros, borrachas e outros insumos

43
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA

materiais. Quanto maior o veículo, maior o do mundo, o transporte de alimentos para


volume de energia exigida, aumentando lojas locais e depois para as residências está
mais a importância da tendência em dire- entre as mais crescentes fontes de emissão
ção a carros maiores e SUVs. E assim que de gás de estufa.50
colocamos um carro na estrada, suas ne- A produção de nossos alimentos tam-
cessidades estendem-se a toda energia ne- bém requer volumes maciços de energia.
cessária para construção e manutenção de Embora grande parte venha do sol, quase
rodovias e pontes por onde viajamos, esta- 21% da energia fóssil que consumimos
cionamentos, revendedoras de autos e pe- destina-se ao sistema alimentar global.
ças e os muitos postos de abastecimento David Pimentel, da Universidade Cornell,
necessários para mantê-lo em movimento. estima que os Estados Unidos destina cer-
No total, o consumo de energia associado ca de 17% de seu consumo de combustí-
a um automóvel pode ser 50–63% maior veis fósseis à produção e consumo de ali-
do que o consumo direto de combustível mentos: 6% para a produção agropecuária,
ao longo de sua vida útil, e também os im- 6% para processamento e embalagem e 5%
pactos ambientais são gigantescos.48 para distribuição e cozimento.51
Mas a maior parcela do consumo de A questão quanto a se o consumo da
energia associado aos veículos é a gasolina energia incorporada está subindo em alguns
que os movem. Para dirigi-los, o petróleo é países é discutível, dependendo em grande
extraído da terra, transportado para locais parte da intensidade energética dos países
adequados e refinado. O refino do petróleo fabricantes dos bens consumidos. Por
é uma das maiores indústrias de energia exemplo, a Coréia do Sul possui a indústria
intensiva do mundo – e a maior nos Esta- siderúrgica mais eficiente do mundo em ter-
dos Unidos. Em 1998, o refino do petróleo mos de energia e o transporte por navio é
representou 8% de todo o consumo relativamente eficiente em ternos de ener-
energético dos Estados Unidos.49 gia. Assim, a exportação de carros coreanos
Em muitos países, uma parcela cada vez para países com siderúrgicas menos efici-
maior do consumo de combustível para trans- entes, como os Estados Unidos, poderá efe-
porte domiciliar é na ida aos gigantescos tivamente reduzir a energia incorporada dos
veículos nas rodovias americanas.52
“hipermercados” fora de áreas urbanas, que
estão substituindo as mercearias de bairro.
Hoje, muitas pessoas utilizam quase a mes-
ma energia para recolher alguns alimentos que Em 1998, o refino do petróleo
os produtores consumiram para transportá- representou 8% do consumo total
las ao mercado. E quanto mais longe o ali- de energia dos Estados Unidos.
mento viaja, maior sua energia incorporada,
não só por necessitar de mais combustível
para transporte, mas também por necessitar
de maior número de conservantes e aditivos, Na realidade, há diferenças extremas
refrigeração e embalagem. Em grande parte na intensidade de energia da indústria

44
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA

manufatureira de um país para outro. No alidade, a quantidade e tipo de energia que


início dos anos 90, os japoneses e alemães consumimos é resultado de dois tipos de
consumiam menos da metade da energia, escolha: aquelas que fazemos como soci-
por unidade de produção em suas indús- edade e aquelas que fazemos como indi-
trias pesadas, que os canadenses e ameri- víduos e famílias. As decisões da socie-
canos, devido principalmente a diferenças dade de taxar ou subsidiar atividades –
nos preços de energia. Japão, Coréia do como motorização ou construção de es-
Sul e países da Europa Ocidental possu- tradas, por exemplo – encorajam as pes-
em os setores industriais mais eficientes, soas a adotar certos estilos de vida, tanto
enquanto os países em desenvolvimento, estendendo quanto limitando suas opções.
o antigo bloco soviético e uns poucos pa- Porém, como consumidores individuais
íses industrializados – particularmente os ainda temos escolhas importantes a fazer,
Estados Unidos e Austrália – possuem o desde o quanto dirigimos até se iremos
menos eficiente. Todavia, alguns países calafetar nossas casas. Duas pessoas com
em desenvolvimento aproveitaram a opor- a mesma renda, vivendo na mesma socie-
tunidade e deram um salto para tecnologias dade e sob climas semelhantes, freqüen-
modernas, rivalizando o Japão e Europa temente consomem quantidades muito di-
em eficiência industrial.53 ferentes de energia como resultado de suas
Ao dar apoio a itens e processos que escolhas pessoais.
têm menos energia incorporada, como A fim de atender às necessidades
também às empresas que os produzem, energéticas de bilhões de pessoas que hoje
os consumidores podem reduzir signifi- não dispõem de serviços modernos, e ao
cativamente o consumo de energia da so- mesmo tempo equilibrar o consumo de
ciedade. Infelizmente, até agora, progra- energia com o mundo natural, novas esco-
mas de rotulagem informam apenas o con- lhas energéticas terão que ser feitas – tanto
sumo direto de energia dos produtos, e individual quanto socialmente. Políticas go-
não sua energia plena incorporada, difi- vernamentais são uma forma de as socie-
cultando a comparação de um produto dades fazerem escolhas energéticas, e as
com outro. Apesar disso, muitos consu- políticas que afetam o preço da energia es-
midores já pouparam grandes volumes de tão entre as mais importantes.
energia através da reciclagem e da com- À medida que as economias desenvol-
pra de materiais reciclados, em vez de vem-se, fatores como clima, densidade
depender de recursos virgens. A produ- populacional e taxa de urbanização tornam-
ção de alumínio de material reciclado, por se menos importantes, e os preços relativos
exemplo, requer 95% menos energia do a energia convertem-se em fatores fundamen-
que sua fabricação da matéria-prima.54 tais para se determinar a intensidade energética
de um país. Países com maiores tarifas –
Política e Escolha como Japão e Alemanha – também têm me-
nor intensidade energética, enquanto aqueles
Constantemente fazemos escolhas que com tarifas menores são, em geral, muito
afetam nosso consumo de energia. Na re- mais intensivos em energia, como os Esta-

45
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA

dos Unidos, em gás e petróleo, Austrália, em mento, como aquelas introduzidas recen-
carvão, e a Escandinávia, em eletricidade.55 temente em Londres, também podem en-
Quando os preços estão baixos, o corajar as pessoas a fazerem escolhas
consumo de energia para os indivíduos energéticas mais eficientes.57
representa a parcela menor do custo de Até mesmo a escolha do tamanho e
explorar um negócio, fabricar um pro- localização da residência é influenciada
duto ou administrar um lar; conseqüen- por impostos, políticas habitacionais e
temente, investimentos em economia de normas. Os Estados Unidos oferecem
energia são baixos. A longo prazo, os pre- uma dedução fiscal plena sobre juros em
ços afetam o que decidimos possuir, o hipotecas, permitindo às pessoas adqui-
tamanho de nossas casas, quando utili- rir residências de qualquer tamanho, mas,
zamos nossos carros e eletrodomésticos ao mesmo tempo, encorajando lares mai-
e até os bens e tecnologias à nossa dis- ores em comunidades estendidas. A polí-
posição. Entretanto, políticas governa- tica fiscal da Suécia também favorece a
mentais desempenham um papel impor- aquisição de uma propriedade, porém,
tante, às vezes sustentando ou reduzindo devido à política habitacional ter se con-
os preços de energia. Por intermédio de centrado durante décadas em apartamen-
subsídios, impostos, normas e outras tos, a maioria das pessoas optou por esse
medidas, políticas governamentais têm tipo de moradia, resultando assim em ci-
um impacto direto sobre a oferta, deman- dades mais compactas. Os lares e seu
da e eficiência energética de nossos la- conteúdo são mais eficientes em locais
res, aparelhos, carros e fábricas.56 como Califórnia e Japão, onde os códi-
Impostos sobre automóveis e combus- gos de construção e normas de eletrodo-
tível em muitos países, juntamente com mésticos estão se tornando cada vez mais
investimentos em transportes públicos e rigorosos à medida que as tecnologias
infra-estrutura ciclista, afetam as tendên- aprimoram-se. 58
cias de propriedade e distância percorrida E os governos podem influenciar o vo-
por automóveis e até as características da lume de energia incorporada nos produtos
frota veicular, podendo encorajar o uso de que as pessoas utilizam e o que é descarta-
ônibus, bicicletas e trens. Onde os gover- do. Pelo menos 28 países – do Brasil e Uru-
nos ou empresas subsidiam o transporte guai até a China, passando pela Europa –
público, as pessoas são mais propensas a hoje obrigam os fabricantes a receber seus
deslocarem-se de ônibus ou metrô do que produtos de volta para reutilização e
de automóvel. Na Dinamarca, onde o im- reciclagem. Assim, as empresas interessam-
posto sobre registros de veículos ultrapas- se mais e investem na desmontagem e
sa o preço de varejo do automóvel, e onde reciclagem de sua mercadoria e aumentam
a infra-estrutura de ferrovias e ciclovias a qualidade e vida útil de seus produtos,
estão bem desenvolvidas, mais de 30% das reduzindo o volume de energia que é utili-
famílias nem possuem carro – principal- zado em sua fabricação.59
mente porque não o desejam, e não porque Mesmo assim, a maioria dos países
não poderiam tê-lo. Taxas de congestiona- incentiva viagens de avião e automóvel em

46
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA

detrimento de alternativas menos intensi- Pelos menos 28 países hoje


vas em energia, e tendem mais para ener- obrigam os fabricantes a receber
gia convencional versus energia renovável, seus produtos de volta para
e novos suprimentos versus medidas de
reutilização e reciclagem.
eficiência. Em meados dos anos 90, os
governos mundiais distribuíram US$ 250–
300 bilhões em subsídios anuais para com- Juntamente com os bilhões de dólares
bustíveis fósseis e energia nuclear. Desde fornecidos anualmente pelo Banco Mundi-
então, vários países em transição e desen- al e agências de crédito à exportação, para
volvimento reduziram os subsídios projetos de combustível fóssil intensivo em
energéticos significativamente, porém sub- carbono, os subsídios nacionais também
sídios globais para energia convencional impedem alternativas possíveis, como efi-
permanecem em níveis muito mais altos ciência e tecnologias de energia renovável,
do que para suas alternativas, como ener- e encorajam indústrias de energia intensiva
gias renováveis e eficiência energética. E a transferirem-se para países em desenvol-
países em todo o mundo investem volu- vimento, sendo oportunidades perdidas para
mes gigantescos de recursos em grandes essas nações darem um salto em direção a
infra-estruturas de transportes e indústri- novas tecnologias.62
as de energia intensiva, em vez de opta- O fracasso em internalizar os custos
rem por alternativas menos intensivas e plenos de energia age como um subsídio
menos danosas.60 também, pois os consumidores não pagam
Devido ao fato de subsídios reduzi- diretamente pelos impactos ambientais,
rem artificialmente o preço de energia, sociais ou de segurança de suas escolhas
podem levar ao consumo excessivo. energéticas – seja a escolha da fonte de
Políticas sul-coreanas diminuíram os energia ou da quantidade que decidem con-
preços de eletricidade, solapando as sumir. Durante décadas, tentativas gover-
metas nacionais de melhoria de eficiên- namentais para resolver os problemas
cia. No final dos anos 90, o consumo energéticos e desafios associados enfo-
familiar per capita nesse país ultrapas- caram quase que inteiramente a redução da
sou os níveis médios da Europa. E as intensidade de produção, em vez de ata-
subvenções freqüentemente beneficiam car as motivações e problemas associa-
mais aqueles que não precisam. Até dos ao nosso sempre crescente consumo.
2003, por exemplo, o governo da Nigéria Infelizmente, as melhorias em eficiência
concedia, anualmente, mais de US$ 2 energética obtidas na ponta de produção têm
bilhões em subsídios aos combustíveis, sido mais do que neutralizadas pelos níveis
que beneficiavam tantos os ricos quan- crescentes de consumo na ponta do con-
to os pobres. Estes também encoraja- sumidor.
ram o contrabando de combustível ba- Mas vários países começaram a pro-
rato para fora do país, forçando a mover o consumo sustentável através de
Nigéria a importá-lo a um custo maior.61 impostos verdes, deslocando o ônus fiscal

47
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA

da mão-de-obra para a energia e outros re- através de mercados de energia verde. Até o
cursos, devido freqüentemente a preocu- fim de 2002, mais de 980 megawatts de
pações ambientais, como mudança climá- nova capacidade renovável havia sido adici-
tica. Como parte do seu esforço para redu- onada para atender à demanda de clientes
zir dramaticamente as emissões de gás de de energia verde nos Estados Unidos, e ou-
estufa, por exemplo, a Alemanha instituiu tros 430 megawatts estavam projetados ou
novos impostos sobre energia convencio- em construção. E como resultado de cam-
nal em 1999, concedendo incentivos finan- panhas estudantis reclamando por liderança
ceiros para a conservação de energia e no manejo ambiental, os campi da Universi-
tecnologias de energia renovável, como tam- dade da Califórnia e Los Angeles College
bém redução da carga fiscal sobre folhas District comprometeram-se a reduzir o con-
de pagamento.63 sumo de energia, adquirindo energia verde e
Enquanto políticas governamentais instalando sistemas fotovoltaicos nos prédi-
agem influenciando o consumo de ener- os. Esses dois sistemas universitários, jun-
gia sob várias formas, as decisões indivi- tos, podem aumentar as instalações
duais dos consumidores também causam fotovoltaicas conectadas à grade nos Esta-
grande impacto. Em todo o mundo, os con- dos Unidos em 30%.64
sumidores estão fazendo a diferença, para Alguns consumidores estão indo mais
melhor ou pior. Se compram um novo além. Autoridades locais e representantes
veículo híbrido ou “Hummer”, se viajam municipais de toda a Europa assinaram a
de avião, trem ou bicicleta, ou se decidem Declaração de Bruxelas em prol de uma
não ir a lugar algum, são, todas, escolhas Política Urbana de Energia Sustentável,
que fazem diferença. Infelizmente, mais e comprometendo-se a trabalhar pelo uso de
mais consumidores estão escolhendo apa- energia sustentável na Europa e encorajan-
relhos eletrodomésticos maiores, lares do a criação de um arcabouço legal em
mais amplos e veículos que mais parecem apoio à iniciativa. Em 1992, as populações
tanques para percursos individuais em de mais de 30 municípios holandeses vota-
vias urbanas para shopping centers ou ram para eliminar os carros do centro de
hipermercados. Em contrapartida, mas suas cidades, enquanto por todo o país, por
nem tanto, outros consumidores estão ad- exigência da população, os estacionamen-
quirindo carros híbridos eficientes, esco- tos de bicicletas excedem, de longe, as áreas
lhendo produtos agrícolas cultivados lo- para automóveis nas estações de trem. Os
calmente, instalando sistemas foto- alemães e suíços iniciaram o com-
voltaicos e comprando energia verde. partilhamento de carros nos anos 80 e o
(Vide também Capítulo 6.) conceito ampliou-se desde então para mais
Em grande parte da Alemanha e Dina- de 550 comunidades em oito países euro-
marca, as pessoas individualmente, e como peus, com pelo menos 70.000 membros.
parte de cooperativas, instalaram turbinas O compartilhamento de carros está se di-
eólicas para fornecimento de energia local fundindo na América do Norte também,
às suas comunidades. Em outros países, as com programas em mais de 40 cidades, de
pessoas estão explorando energia renovável Seattle a Washington, D.C.66

48
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA

Comunidades em mais de 40 países cri- veículos, aparelhos e posses – motiva mai-


aram ecovilas, buscando conquistar esti- or consumo de energia. Mas será que che-
los de vida sustentáveis, através de proje- gará um ponto além do qual um maior con-
tos e construções ecológicos, uso de ener- sumo proporcionará apenas pequenos be-
gia renovável e passiva, espaços comuni- nefícios marginais? De quanto realmente
tários de construção e agricultura orgâni- precisamos para alcançar uma boa quali-
ca local. Mas não é preciso viver numa dade de vida?
ecovila para reduzir o consumo geral de Para responder essas perguntas, é bom
energia e o impacto sobre o meio ambi- verificar a relação entre a qualidade vida
ente natural. Os californianos provaram percebida em várias nações e seu consu-
isso quando a crise de energia de 2001 mo de energia. O Índice de Desenvolvimen-
os levou, por meio de mudanças to Humano (IDH) foi criado pelas Nações
comportamentais e tecnológicas, a con- Unidas para enfatizar pessoas, em vez de
sumir 7,5% menos eletricidade do que no apenas crescimento econômico, como foco
verão anterior. E em Londres uma nova do desenvolvimento. Este mede conheci-
comunidade – ZED (sigla em inglês de mento, longevidade e padrões de vida. O
Condomínio de Emissão Zero), cujas uni- analista de energia Carlos Suárez mapeou a
dades habitacionais foram totalmente ven- correlação entre IDH e consumo de ener-
didas antes da conclusão – foi construída gia. Para os mais pobres, mesmo peque-
pra minimizar a poluição e consumo de nos aumentos no consumo de energia po-
energia, através de uma combinação de
dem provocar melhorias dramáticas na
tecnologias verdes e projetos, proximida-
qualidade de suas vidas, tanto direta quan-
de a transportes públicos, uma frota com-
to indiretamente. Por exemplo, a luz elétri-
partilhada de veículos elétricos e medido-
ca reduz o estresse ocular e estende o tem-
res expostos com destaque, permitindo
po disponível para educação; os combus-
aos moradores acompanhar seu consumo.
O arquiteto Bill Dunster, inspirado pelo fato tíveis modernos para cozinhar diminuem
de grande parte da energia ser desperdiçada os riscos à saúde e bombas elétricas redu-
devido a escolhas rotineiras, declara que zem o tempo gasto recolhendo água.
“pode-se obter uma melhor qualidade de Melhorias dos serviços de energia também
vida fazendo essas mudanças, então por podem oferecer oportunidades para aumen-
que não fazê-las?”66 to da renda e também para mais melhorias
É uma premissa generalizada que a qua- na qualidade de vida. De acordo com
lidade de vida e o consumo de energia es- Suárez, o benefício adicional por unidade
tão inexplicavelmente ligados. A energia de energia cai quando o consumo de ener-
pode melhorar a vida fornecendo serviços gia atinge 1.000 quilos de equivalência em
que atendam às necessidades básicas e li- petróleo (kgep) por pessoa, por ano. E en-
vrem as pessoas de doenças, fome, frio e tre 1.000–3.000 kgep por pessoa, os bene-
pobreza. E o desejo por uma “melhor qua- fícios do consumo adicional de energia co-
lidade de vida” – ainda muito freqüente- meçam a declinar significativamente. Além
mente definida como um lar maior e mais desse ponto, mesmo triplicando o consu-

49
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA

mo per capita de energia de um país, isso Bem-estar. (Vide Capítulo 8.) Esta é uma
não se correlacionaria com um aumento no classificação numérica de 180 países, ba-
IDH daquele país. Países que se aproxi- seada em 87 indicadores de bem-estar
mam de 3.000 kgep per capita incluem Itá- humano e de ecossistemas, incluindo saú-
lia, Grécia e África do Sul; em contrapartida, de, educação, riqueza e direitos e liberda-
os americanos consomem quase três ve- des individuais, como também diversida-
zes mais por pessoa.67 de e qualidade de ecossistemas, qualidade
do ar e da água e uso dos recursos. De
acordo com o índice, a Suécia ocupa o
primeiro lugar em bem-estar mundial, en-
A Alemanha instituiu novos quanto os Emirados Árabes Unidos (EAU)
impostos sobre energia figuram quase em último; todavia, o cida-
convencional em 1999, concedendo dão comum nos EAU consome quase o
incentivos financeiros para dobro da energia do sueco. (Vide Tabela
conservação de energia e 2-4.) Os austríacos, por outro lado, con-
somem cerca de 61% da energia do sue-
tecnologias de energia renovável.
co; contudo, ainda figuram próximos ao
topo em termos de bem-estar. Assim, não
há uma relação fixa entre consumo de
Numa tentativa diferente de medir a energia e bem-estar visível, e há potencial
qualidade de vida, o pesquisador Robert para grandes avanços no front do consu-
Prescott-Allen desenvolveu o Índice do mo, com melhoria da qualidade de vida.68

Tabela 2-4. Consumo de Energia e Bem-Estar, Países Selecionados


Classe de Classe de Consumo Comparação com Consumo
País Bem-Estar1 per capita2 per capita da Suécia
(percentual)
Suécia 1 10 100
Finlândia 2 6 112
Noruega 3 8 104
Áustria 5 26 61
Japão 24 19 70
Estados Unidos 27 4 140
Federação Russa 65 17 71
Kuwait 119 3 162
Emirados Árabes Unidos 173 2 190
1
De um total de 180 países. 2Baseado em fornecimento total de energia primária.
FONTE: Vide nota final 68.

Isso é encorajador porque o status-quo te, mundialmente, que os atuais padrões de


é insustentável – social, econômica ou consumo de energia estão efetivamente de-
ambientalmente. Está cada vez mais eviden- gradando a qualidade de vida de muitas pes-

50
Estado do Mundo 2004
ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA

soas – agravando a poluição atmosférica e Embora essa taxa de crescimento seja al-
hídrica, aumentando os problemas de saúde tamente improvável, dificilmente as fontes
e elevando os custos econômicos e de se- convencionais de combustíveis fósseis aten-
gurança associados à extração e uso de com- derão à demanda crescente ao longo do pró-
bustíveis, como também enfraquecendo os ximo século. E cada vez mais nosso consu-
sistemas naturais dos quais dependemos para mo de combustíveis e tecnologias convenci-
nossa própria existência, inclusive o clima onais ameaçará ainda mais o meio ambiente
global. Muitas nações em desenvolvimento, natural, a saúde pública e a estabilidade inter-
nacional, com graves implicações em nossa
com populações gigantescas em áreas den-
qualidade de vida. Seremos pressionados para
samente povoadas, estão percebendo esses
atender às necessidades energéticas mundi-
limites rapidamente e começando a
ais, mesmo com energia renovável e grandes
administrá-los. Por exemplo, os graves pro- melhorias em eficiência, caso as tendências
blemas de congestionamentos e poluição em atuais de consumo continuem. Padrões de
Xangai forçaram a cidade a limitar o regis- consumo terão que mudar também. Precisa-
tro de novos veículos mensalmente.69 remos encontrar novas formas de satisfazer
Poderá a Terra sustentar nossas necessi- as necessidades do corpo e da mente e ao
dades crescentes de energia no século XXI, mesmo tempo reduzir o consumo de energia
mesmo com uma mudança rápida e dramáti- para os transportes e nossos prédios enquanto
ca para tecnologias mais eficientes e uso mais minimizamos a energia incorporada em tudo
intenso de energia renovável? Ninguém sabe que adquirimos.
ao certo, mas com certeza não será fácil. O Secretário-Geral da Organização para
Aumentos populacionais e níveis crescentes Cooperação e Desenvolvimento Econômi-
de consumo per capita – particularmente nos co, que representa as nações mais ricas do
países em desenvolvimento, onde 75% do mundo, reconheceu recentemente que em
mundo vive hoje – têm o potencial de suplan- todo o mundo “existe um consenso cres-
tar até mesmo os mais ambiciosos esforços cente de que os padrões de consumo de
da tecnologia energética.70 energia precisam ser alterados radicalmen-
Em 2050, a população global está proje- te”. Governos poderão ajudar a determinar
tada para aumentar mais de 40%, para 8,9 o consumo de energia por meio de medidas
como investimentos em infra-estrutura, re-
bilhões de pessoas. Se cada pessoa no mun-
gulamentos, incentivos e tarifas. Vontade
do em desenvolvimento consumir o mesmo
política e programas eficazes e adequados
volume de energia que uma pessoa comum
são essenciais para promover a mudança.72
em países de alta renda hoje – um nível sig- Mas também cabe a nós, como indiví-
nificativamente abaixo do consumo per duos – tanto como consumidores como
capita dos Estados Unidos – o consumo de membros de comunidades diversificadas –,
energia no mundo em desenvolvimento au- reconhecer os elos entre nossas escolhas
mentará mais de oito vezes entre 2000 e de consumo e os impactos que causamos
2050. Caso todos no planeta consumissem no mundo todo. Devemos saber lidar com
nesse ritmo, o uso global de energia aumen- os limites que teremos à frente e mudar a
taria cinco vezes ao longo desse período.71 maneira que consumimos energia.

51
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: COMPUTADORES

AT R Á S D O S B A S T I D O R E S

Computadores
A economia da informação produtos químicos que podem ser
pós-industrial é muitas vezes associados a cânceres, abortos e
erradamente caracterizada defeitos congênitos. Essas
como precursora de uma era instalações também
de “desmaterialização”, geram volume
porque minúsculos exagerado de lixo
semicondutores, o químico, que contaminou
ingrediente básico para os os lençóis freáticos em
chips de computador e numerosos centros de alta
dispositivos eletrônicos, geram alto tecnologia. O condado de
valor e utilidade. Mas, na realidade, Santa Clara, na Califórnia,
semicondutores são intensivos em materiais terra natal da indústria de
do que a maioria dos produtos semicondutores, contém mais
“tradicionais”. Um simples microchip de 32 locais de lixo tóxico do que qualquer outro
megabites requer pelo menos 72 gramas de condado nos Estados Unidos.2
produtos químicos, 700 gramas de gases O número de computadores no mundo
elementares, 32.000 gramas de água e 1.200 quintuplicou de 1988 a 2002 – de 105
gramas de combustíveis fósseis. Outros 440 milhões para mais de meio bilhão. Cada um
gramas de combustíveis fósseis são usados desses aparelhos é uma armadilha tóxica.
para operar o chip durante seu ciclo de vida Um monitor típico, com tubo de raio
– quatro anos de operação por três horas catódico (CRT), contém de dois a quatro
diárias. A massa total de materiais quilogramas de chumbo, bem como fósforo,
secundários usados para produzir um chip bário e cromo hexavalente. Outros
de 2 gramas é 630 vezes a do produto final. ingredientes tóxicos incluem o cádmio, nos
Comparativamente, os recursos necessários resistores e semicondutores do chip, berílio,
para fabricação de um automóvel pesam em nas placas-mãe e conectores e retardadores
torno de duas vezes o produto final.1 de chama à base de bromo, nas placas de
Os chips são fabricados em “ambientes circuito e capas plásticas.
limpos”, livres de poeira e outras partículas Plásticos, incluindo cloreto de polivinil
prejudiciais às delicadas membranas de (PVC), compõem até 6,3 quilos de um
silicone. No entanto, os trabalhadores nesses computador comum. A combinação de
ambientes ficam expostos a uma gama de vários plásticos torna a reciclagem um

52
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: COMPUTADORES

desafio. PVC é particularmente difícil de coletado para reciclagem nos Estados


reciclar, contaminando outros plásticos Unidos são enviados para a Ásia,
durante o processo.3 principalmente China, Índia e Paquistão. De
A indústria eletrônica é o maior setor acordo com a Agência de Proteção
manufatureiro de crescimento mais rápido no Ambiental dos Estados Unidos, é 10 vezes
mundo e, devido às altas taxas de mais barato enviar monitores de CRT para a
obsolescência do produto, o lixo eletrônico (e- China do que reciclá-los internamente. Esse
lixo) cresce rapidamente. Até 2005, um custo maior, juntamente com o fraco sistema
computador irá tornar-se obsoleto para cada regulatório das nações recebedoras, está
novo computador colocado no mercado incentivando o comércio tóxico a despeito
americano. Muitas vezes, computadores são da proibição internacional, nos termos do
descartados não porque estejam quebrados, tratado principal sobre resíduos perigosos,
mas porque a rápida evolução da tecnologia a Convenção de Basel. (Os Estados Unidos
torna-os indesejáveis ou incompatíveis com são o único país industrializado que não
software mais novo. Os americanos ratificou a Convenção de Basel; a sua
substituem seus computadores desktop exportação de materiais perigosos continua
Pentium logo após dois a três anos de uso. As legal e recentemente tornou-se isenta dos
grandes instituições sempre fazem um regulamentos.)6
upgrade regularmente; 50.000 empregados da Uma investigação da Basel Action
Microsoft, em todo o mundo, recebem um Network e Greenpeace China, em dezembro
novo computador a cada três anos em média.4 de 2001, constatou que a maioria dos
Pesquisadores governamentais calculam computadores em Guiyu, um centro de
que três quartos de todos os computadores processamento de e-lixo na China, provém
vendidos nos Estados Unidos estão jogados da América do Norte, e em menor proporção
em porões e armários de escritórios, à espera do Japão, Coréia do Sul e Europa. O estudo
do descarte. Aqueles que estão quebrados averiguou que nessas instalações de
muitas vezes terminam em aterros ou “reciclagem” os computadores são
incineradores. Cerca de 70% dos metais desmontados a martelo, formões, chaves de
pesados encontrados nos aterros americanos fenda e até mesmo “na marra”. Os
provêm do e-lixo. Essas toxinas podem trabalhadores quebram os monitores CRT
lixiviar no solo e água subterrânea, causar para retirar o cabeçote de cobre, enquanto o
danos ao sistema nervoso central, resto do monitor é jogado ao ar livre ou nos
perturbações endócrinas, interferir no rios. Os residentes locais dizem que a água
desenvolvimento cerebral e causar danos a agora tem gosto ruim, devido ao chumbo e
órgãos caso as pessoas sejam expostas a outros contaminadores.7
elas. A queima de PVC e os retardadores de Sem nenhuma roupa de proteção ou
chama à base de bromo, por exemplo, liberam máscaras, os trabalhadores usam pincéis ou
dioxinas e furanos – dois dos mais letais as próprias mãos nuas para abrir cartuchos
poluentes orgânicos persistentes.5 vazios de impressoras e recolher o toner
Velhos computadores do mundo restante em baldes. Conforme a Xerox e
industrializado são enviados para o Canon, o negro-de-fumo e outros
estrangeiro, por meio da indústria de ingredientes do toner causam irritação
reciclagem, que estima que 50–80% do e-lixo respiratória e pulmonar. Os trabalhadores

53
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: COMPUTADORES

também são expostos aos vapores tóxicos para regulamentar a disposição final do
da solda de chumbo e estanho quando e-lixo em aterros e incineradores, o fluxo
aquecem as placas de circuito para de computadores para os países em
recuperar o conteúdo de ouro dos chips, e desenvolvimento provavelmente
os banhos de ácidos usados para dissolver aumentará, a menos que outras medidas
e precipitar o ouro emitem gases de cloro e sejam introduzidas para lidar com o lixo. Em
dióxido sulfúrico. Pilhas de cabos de PVC 2002, o parlamento da União Européia
são queimadas ao ar livre, para recuperar a adotou duas diretivas sobre o “princípio da
fiação de cobre. Ironicamente a China responsabilidade do produtor”, exigindo
proibiu a importação de resíduos sólidos em que os fabricantes de produtos eletrônicos
1996 e acrescentou uma proibição específica diminuam gradativamente o uso de
em 2000 contra computadores usados, materiais prejudiciais e sejam
monitores e CRTs, mas a implementação responsabilizados pela recuperação e
dessas leis é muito fraca.8 reciclagem do e-lixo.9
À proporção que as nações
industrializadas adotem leis mais rigorosas — Radhika Sarin

54
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: COMPUTADORES

CAPÍTULO 3

Incrementando a
Produtividade Hídrica
Sandra Postel e Amy Vickers

Na xícara do café desta manhã e no gole áreas da China, Índia, Irã, México, Oriente
do chá da tarde residem moléculas de água Médio, África do Norte, Arábia Saudita e
que circularam pela atmosfera terrestre Estados Unidos. Muitos córregos e rios –
milhares e milhares de vezes. Esse líquido inclusive os grandes, como o Amu Dar’ya,
tem estado presente no planeta por pelo Colorado, Ganges, Indus, Rio Grande e o
menos 3 bilhões de anos, circulando entre Amarelo – secam hoje durante parte do ano.
terra, mar e ar. Impelido pelo sol, esse ci- Grandes lagos interioranos, particularmente
clo cria uma ilusão de abundância – água o Mar de Aral, na Ásia Central, e o Lago
doce aparentemente ilimitada, pois cai do Chad, na África, estão reduzidos a meras
céu, ano após ano. sombras do que foram. Mundialmente, áre-
Ao longo das duas últimas décadas, en- as alagadas de água doce – ecossistemas
tretanto, essa ilusão foi desfeita pela escala que realizam um esplêndido serviço de puri-
de influências humanas sobre os ficação da água – diminuíram pela metade.
ecossistemas de água doce da Terra – os Pelo menos 20% das 10.000 espécies de
rios, lagos, terras alagadas e aqüíferos sub- peixe de água doce estão ameaçadas de
terrâneos que armazenam, movem e limpam extinção ou já estão extintas.1
a água à medida que ela circula. Lençóis A escala e ritmo dos impactos huma-
freáticos estão em queda devido à extração nos sobre os sistemas de água doce ace-
predatória da água subterrânea em grandes leraram ao longo do último meio século,

Sandra Postel é co-autora de Rivers for Life: Managing Water for People and Nature (Island Press, 2003) e
diretora do Projeto de Políticas Globais para a Água em Amherst, MA. Amy Vickers, autora do premiado
Handbook of Water Use and Conservation: Homes, Landscapes, Business, Industries, Farms (WaterPlow
Press, 2001), é engenheira e especialista em conservação hídrica, residente em Amherst, MA.

55
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA

juntamente com o crescimento popula- Um Novo Conceito para a


cional e o consumo. Mundialmente, as
demandas hídricas triplicaram. O núme-
Gestão da Água
ro de grandes represas (com pelo menos
Diferentemente do cobre, petróleo e da
15 metros de altura) saltou de 5.000 em
maioria das outras commodities, a água
1950 para mais de 45.000 hoje – uma taxa
doce não é apenas um recurso que adquire
média de construção equivalente a duas
valor apenas quando é extraído e colocado
grandes represas por dia, durante 50
em uso. Mais fundamentalmente, a água
anos. Por algum tempo, registramos ape-
doce é o sustentáculo da vida. Quando bom-
nas os benefícios desses projetos de en-
beamos ou desviamos água para atender
genharia, dando pouca atenção aos cus-
demandas humanas, exploramos um siste-
tos sociais e ecológicos. Medimos os
ma vivo do qual miríades de outras espéci-
hectares adicionais irrigados, os quilo-
es dependem para sua sobrevivência e que
watt-hora gerados e a população atendi-
presta serviços valiosos para a economia
da, mas não os pesqueiros destruídos, as
humana. A função desempenhada só pelas
espécies aquáticas ameaçadas, as pesso-
terras alagadas pode valer cerca de US$
as desalojadas de seus lares ou a
20.000 por hectare, por ano.4
sustentabilidade dos padrões de uso da
O fato da nossa contabilidade econômi-
água criados por grandes empreendimen-
ca não refletir esses serviços significa que o
tos hídricos.2
custo real do nosso uso da água é sensivel-
Uma sociedade sustentável e segura é
mente maior do que pensamos. À medida
uma que atenda suas necessidades hídricas
que mais e mais água é desviada para agri-
sem destruir os ecossistemas dos quais
cultura, indústria e cidades, o volume res-
depende ou as perspectivas das gerações
tante para executar o trabalho da natureza
futuras. A boa notícia é que é possível atin-
fica cada vez menor. A uma certa altura, os
gir esse objetivo.
ecossistemas deixam de funcionar. As trá-
Atualmente, a agricultura é responsá- gicas condições de saúde e econômicas em
vel por cerca de 70% do consumo global torno do Mar de Aral, que perdeu mais de
de água, a indústria por 22% e as cidades 80% do seu volume devido a desvios fluvi-
e municípios por 8%. As oportunidades ais excessivos, são um alerta claro sobre o
para o aumento da eficiência do uso da fatídico destino dessa trajetória.5
água nas fazendas, fábricas e em cidades Hoje os cientistas sabem que
e lares têm sido minimamente exploradas. ecossistemas sadios requerem não apenas
Só melhorias de eficiência, entretanto, não uma quantidade e qualidade mínimas de
serão suficientes. Face ao crescimento água, e sim um padrão de fluxo que se as-
populacional e afluência crescente, as pes- semelhe a seu regime natural de vazão. Isso
soas têm um papel importante a desempe- ocorre porque as espécies passaram milê-
nhar fazendo escolhas responsáveis sobre nios adaptando-se à variabilidade do fluxo
seus padrões de consumo – desde dietas da natureza – o ciclo natural de altos e bai-
até compras de materiais.3 xos, enchentes e secas – e suas vidas es-

56
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA

tão harmonizadas a ele. Elas migram, ge- gurará que as extrações permaneçam den-
ram, nidificam e alimentam-se segundo as tro dos limites ecológicos definidos por ci-
leis da natureza. Ao perturbar os padrões entistas e pelas comunidades. Nos Estados
naturais de fluxo, através da construção de Unidos, num caso envolvendo alocação de
barragens, represas e projetos de desvio de água na Ilha de Oahu, a Corte Suprema do
rios, a humanidade involuntariamente des- Havaí determinou, em agosto de 2000, que
trói muitas das condições de habitat e de cada desvio particular de água fique subor-
sustentação de vida que nossos companhei- dinado “a um interesse público superior nes-
ros terrenos – e os serviços ecológicos que sa riqueza natural” e que o interesse públi-
nos prestam – necessitam.6 co, que inclui o ecossistema, deve ser
O que isso implica para o consumo e priorizado frente a usos comerciais priva-
gestão da água doce? Significa que o velho dos nas decisões de alocação de água.7
objetivo do esforço contínuo para atender O estabelecimento de limites para o uso
a demandas cada vez maiores é um empre- de rios e outros ecossistemas de água doce
endimento fadado ao fracasso. A otimização é a chave para o avanço econômico sus-
de um equilíbrio entre o atendimento das tentável, pois protege os ecossistemas que
necessidades humanas e a proteção das escoram a economia enquanto promovem
funções valiosas dos ecossistemas requer melhorias na produtividade hídrica – o be-
a alocação de água suficiente durante todo nefício líquido derivado de cada unidade
o ano para a sustentação dessas funções. de água extraída do meio ambiente natural.
Uma vez estabelecida essa alocação, o de- Da mesma forma que a melhoria de
safio é utilizar a água remanescente para produtividade da mão-de-obra – a produ-
satisfazer as demandas humanas de forma ção por trabalhador – ajuda uma econo-
eficiente, eqüitativa e produtiva. mia, também o fazem as melhorias na pro-
Para realizar essa mudança é mais fácil dutividade hídrica – a produção por metro
falar do que fazer. Porém, aqui e ali começa cúbico de água. (Um metro cúbico equi-
a acontecer. Na Austrália, as extrações de vale a 1.000 litros.)
água da bacia hidrográfica do Rio Murray- Medida a grosso modo como o valor
Darling – o maior e mais economicamente de bens e serviços econômicos por metro
importante do país – foram limitadas, num cúbico de água consumida, a produtivi-
esforço para coibir a deterioração grave de dade hídrica tende a aumentar, juntamen-
sua saúde ecológica. Esforços que já tarda- te com a renda nacional, por três razões
vam: a vazão do Murray caiu tanto em 2003 principais. Primeiro, porque a produção
que seu estuário ficou entupido com areia. agrícola é tão intensiva em água e os pre-
A inovadora legislação hídrica da África do ços são tão baixos, em relação à maioria
Sul, em 1998, exigiu o atendimento às ne- de outros bens, que uma mudança em di-
cessidades hídricas básicas tanto das pes- reção a uma economia mais industrializa-
soas quanto dos ecossistemas antes que a da aumentará a produção econômica por
água seja alocada a usos não-essenciais. Essa metro cúbico de água. Segundo, porque
“reserva” de água doce é priorizada e, se leis de controle de poluição, como as
for implementada como se pretende, asse- adotadas no Japão, Estados Unidos e mui-

57
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA

tos países europeus, freqüentemente tor- transformação para indústrias de serviço,


nam mais econômico para as fábricas a produtividade hídrica tende a aumentar
reciclar e reutilizar sua água de processo ainda mais. A economia da Alemanha, por
em vez de despejá-la no meio ambiente. E exemplo, hoje gera US$ 40 de produção
o terceiro motivo é que à medida que as por metro cúbico de água, mais de 10 ve-
economias deslocam-se de indústrias de zes a da Índia. (Vide Figura 3-1.)8

Bangladesh
Egito
Fonte: FAO, USGS, OCDE
(Dólares de 2000)
Índia
Peru
China
Indonésia
México
Federação Russa
África do Sul
Estados Unidos
Brasil
Espanha
Austrália
França
Alemanha

0 10 20 30 40
PIB por metro cúbico de consumo

Figura 3-1. Produtividade Hídrica de Economias Nacionais,


Países Selecionados, 2000

A produtividade hídrica nos Estados Unidos têm todos os sinais reveladores do


Unidos (que destina uma parcela muito uso insustentável da água – inclusive
maior de água para a agricultura irrigada exaustão de água subterrânea, perda de
do que a Alemanha) registra cerca de US$ terras alagadas, dizimação de pesqueiros
18 por metro cúbico. Hoje, a economia e rios secos. Por quê? Legisladores ainda
dos Estados Unidos gera 2,6 vezes mais não impuseram limites ao uso humano da
valor econômico por metro cúbico extra- água em níveis ecologicamente sustentá-
ído dos seus rios, lagos e aqüíferos do veis – uma barreira que promoveria efeti-
que em 1960. (Vide Figura 3-2.) Mesmo vamente níveis muito maiores de produti-
assim, apesar desse avanço, os Estados vidade hídrica.9

58
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA

PIB real por metro cúbico de extração anual de água dial, uma vez que a distribui-
20 ção de água é freqüentemente
Fonte: USGS, OCDE
(base=2000) desigual também dentro de
15 países. A China, por exemplo,
tem 21% da população mun-
10 dial, mas apenas 7% da água
doce do planeta – e a maior
5
parte encontra-se na região
sul do país. A Planície Norte
da China, que inclui o Rio
0
Amarelo, é uma das regiões
1950 1960 1970 1980 1990 2000
mais populosas do mundo,
Figura 3-2. Produtividade Hídrica dos Estados com escassez hídrica. Abri-
Unidos, 1950–2000 gando cerca de 450 milhões
de pessoas, seu suprimento
per capita de água é de menos de 500 metros
Riqueza Hídrica, cúbicos por ano, quase igual à Argélia. O
consumo de água na Planície Norte já su-
Pobreza Hídrica pera o suprimento sustentável. Quase todo
ano, o baixo Rio Amarelo seca completa-
O ciclo hidrológico da Terra distribui água mente antes de alcançar o mar. E por toda
de forma irregular por todo o planeta. Ape- a planície, que produz um quarto dos grãos
nas seis países – Brasil, Rússia, Canadá, da China, os lençóis freáticos estão caindo
Indonésia, China e Colômbia – representam a uma taxa de 1–1,5 metro ao ano. Como
metade do suprimento renovável total de observa o economista hídrico Jeremy
água doce, de 40.700 quilômetros cúbicos Berkoff, a escassez de água na Planície
(contando apenas o escoamento de rios e Norte da China “afetará mais aqueles com
águas subterrâneas, sem a evaporação e menor condição de suportá-la e pequenos
transpiração vegetal). O fato de uma região agricultores que cultivam grãos em locais
ser hidrologicamente rica ou pobre depen- mais isolados”.11
de, em parte, de quanto do legado global Locais de pobreza hídrica geralmente
recebe em relação à sua população. O Cana- exercem maior pressão sobre rios e
dá, por exemplo, situa-se próximo ao topo aqüíferos do que locais de riqueza (vide
da riqueza hídrica, com mais de 92.000 Tabela 3-1) porque em climas mais secos
metros cúbicos de água por habitante. No a produção agrícola – intensiva no uso da
lado pobre do espectro estão a Jordânia, com água – requer irrigação. O consumo de
um manancial renovável anual de 138 metros água per capita do Egito é quase o dobro
cúbicos por habitante, Israel com 124 e o da Rússia, não porque os egípcios sejam
Kuwait, com basicamente nada.10 mais sedentos (embora consumam mais
Entretanto, as cifras nacionais masca- do que sua parcela justa do Nilo), e sim
ram grande parte do estresse hídrico mun- porque toda sua região agrícola necessita

59
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA

de irrigação, contra apenas 4% na Rússia. verdes, campos de golfe e piscinas em cada


Os Estados Unidos, todavia, emergem efe- quintal. Mas esse luxo tem um preço alto –
tivamente como uma nação pródiga no uso a exaustão de aqüíferos e importações de
da água: possui uma das maiores taxas per água do distante Rio Colorado às custas do
capita de consumo em todo o mundo, contribuinte. Por outro lado, um sobrevôo
mesmo irrigando apenas 11% da sua re- pela Etiópia, no leste da África, onde, em
gião agrícola.12 2003, mais de 12 milhões de pessoas en-
frentaram a fome, revela uma terra seden-
ta de água, mesmo com 84% da vazão do
Tabela 3-1. Extrações Anuais Nilo fluindo por seu território. Devido à
Estimadas de Água, Per Capita,
influência do poder, da política e do dinhei-
Países Selecionados, 2000
ro, a escassez natural de água não implica
Extrações de Água privação; nem também a abundância natu-
País Per Capita ral implica acesso.13
(metros cúbicos por pessoa
Facilitar tanto o sobreconsumo quanto
por ano) o subconsumo são dois aspectos do desa-
Etiópia 42 fio global da água. A tarefa mais urgente é
Nigéria 70 fornecer a todos os povos pelo menos um
Brasil 348
África do Sul 354 volume mínimo de água potável e sanea-
Indonésia 390 mento necessários para uma boa saúde.
China 491 Hoje, uma em cada cinco pessoas no mun-
Federação Russa 527 do em desenvolvimento – 1,1 bilhão ao todo
Alemanha 574
Bangladesh 578 – enfrenta riscos diários de doença e morte
Índia 640 por lhe faltar “acesso razoável” a água po-
França 675 tável, definida pelas Nações Unidas como
Peru 784
México
a disponibilidade de, pelo menos, 20 litros
791
Espanha 893 por pessoa por dia, de uma fonte a uma
Egito 1.011 distância não-superior a 1 quilômetro do
Austrália 1.250 lar. A grande lacuna na disponibilidade tem
Estados Unidos 1.932
quase nada a ver com escassez de água. A
FONTE: vide nota final 12. Indonésia, por exemplo, tem um legado
natural de água superior a 13.000 metros
cúbicos por pessoa; entretanto, um quarto
Assim, o quadro só estará completo se da sua população não tem acesso a água
considerarmos afluência e pobreza. Para potável. Globalmente, proporcionar aces-
isso, basta voar até Phoenix, Arizona, no so universal a 50 litros por pessoa, por dia,
sudoeste dos Estados Unidos, para ver uma até 2015, exigirá menos de 1% das extra-
cidade-oásis que desafia seu legado hídrico ções atuais em todo o mundo. Há água mais
natural. Embora seu índice pluviométrico do que suficiente, porém, até agora, faltam
seja de apenas 19 cm anuais, Phoenix pos- vontade política e compromissos financei-
sui uma paisagem exuberante de gramados ros para proporcionar acesso aos pobres.14

60
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA

Em 2000, a Assembléia Geral das Na- tísticas da ONU, cinco países – Bangladesh,
ções Unidas adotou, como uma das Metas Camoros, Guatemala, Irã e Sri Lanka –
Desenvolvimentistas do Milênio para 2015, obtiveram sucesso em reduzir à metade a
a redução pela metade da parcela de pesso- parcela de suas populações carentes de água
as sem condições de acesso à água potá- potável entre 1990 e 2000. (Essas estatís-
vel. Dois anos depois, na Cúpula Mundial ticas, entretanto, não incluem a descoberta
sobre Desenvolvimento Sustentável, em de níveis venenosos de arsênio em poços
Joanesburgo, as nações comprometeram- de água subterrânea em extensas áreas de
se igualmente a reduzir à metade, até 2015, Bangladesh.)16
a proporção de pessoas sem acesso a sa- A África do Sul avançou também na
neamento adequado. A difusão de serviços prestação de serviços de água. Quando o
de saneamento tem ficado bem atrás do Congresso Nacional Africano assumiu o
fornecimento de água doméstica, deixan- poder, em 1994, cerca de 14 milhões de
do 2,4 bilhões de pessoas, mundialmente, sul-africanos não tinham acesso a água
sem saneamento básico. (Vide Tabela 3-2.) potável. A constituição pós-apartheid,
A fim de atender aos novos compromis- ratificada em 1996, declarou a água po-
sos, os serviços de água terão que alcançar tável um direito universal, e a lei da água
mais 100 milhões de pessoas, e o sanea- de 1998, que estabeleceu uma reserva
mento adequado outras 125 milhões de hídrica em duas partes – atender às ne-
pessoas, anualmente, entre 2000 e 2015.15 cessidades hídricas de todas as pessoas e
ecossistemas –, concedeu prioridade má-
xima à prestação de serviços de abasteci-
Tabela 3-2. Populações sem Acesso a Água mento de água. Entre 1994 e abril de 2003,
Potável e Saneamento, 2000 o Programa Comunitário de Abastecimen-
to de Água e Saneamento do país propor-
Parcela da População cionou acesso a 8 milhões de pessoas, a
Sem Acesso a
um custo médio de US$ 80 por pessoa. As
Água Saneamento autoridades estimam que os 6 milhões de
Região Potável Adequado pessoas restantes terão acesso até 2008.17
(percentual) A fim de atender à população mais po-
África 36 40 bre da África do Sul e, também, conseguir
Ásia 19 53 uma recuperação razoável de custos, foi
América Latina e estabelecido um preço baixo de “linha de
Caribe 13 22 vida” para os primeiros 25 litros diários,
FONTE: vide nota final 15. aumentando a tarifa acima desse nível. Uma
vez que até a tarifa mínima onerava as fa-
mílias pobres, as autoridades começaram
Embora ambiciosas, essas metas a conceder gratuidade a esse volume. Nas
conquistáveis são marcos essenciais no regiões onde o governo contratou empre-
caminho para uma cobertura universal de sas privadas para gerir os sistemas de água,
água e saneamento. De acordo com esta- entretanto, a recuperação de custos parece

61
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA

ter adquirido prioridade sobre o direito cons- mudar as dietas, a fim de satisfazer as neces-
titucional à água, provocando protestos da sidades nutricionais com menos água.
população. Em Joanesburgo, por exemplo, Uma grande parte da água armazenada
onde a concessionária assinou um contra- por trás de barragens, e desviada através de
to de gestão com a corporação francesa canais de irrigação, nunca beneficia uma la-
Suez, foram instalados hidrômetros de pa- voura. Uma análise em 2000 constatou que
gamento prévio que só fornecem às famí- a eficiência de irrigação da água de superfí-
lias a quantidade paga antecipadamente. cie varia entre 25 e 40% na Índia, México,
Empresas privadas de água, preocupadas Paquistão, Filipinas e Tailândia; entre 40 e
principalmente em aumentar os lucros para 45% na Malásia e Marrocos e entre 50 e
seus acionistas, pouco incentivo têm para 60% em Israel, Japão e Taiwan. A grande
atender às necessidades básicas dos pobres, parcela de água que não atinge as raízes das
a não ser quando obrigadas, pelos poderes lavouras não é, necessariamente, perdida ou
públicos, a fazê-lo.18 desperdiçada: pode, por exemplo, escorrer
por um campo ou canal e recarregar o len-
Água, Lavouras e Dietas çol subterrâneo, transformando-se no su-
primento de outro agricultor. Todavia, parte
A agricultura consome cerca de 70% de toda é perdida pela evaporação do solo ou super-
fícies de canais. De qualquer forma, essas
a água extraída dos rios, lagos e aqüíferos
ineficiências acarretam altos custos:
subterrâneos da Terra, e até 90% em mui-
indisponibilidade de água quando e onde ne-
tos países em desenvolvimento. Projeções
cessária, habitats aquáticos destruídos des-
recentes indicam que, até 2025, inúmeras necessariamente, maior área de terra tornan-
bacias hidrográficas e nações enfrentarão do-se salina e maior volume de água doce
uma situação em que 30% ou mais de suas poluído por sais e pesticidas.20
necessidades de irrigação não poderão ser A maioria das regiões obteve ganhos ape-
atendidas, devido à escassez de água. Essas nas modestos na melhoria da eficiência de
incluem a maioria das bacias da Índia, as irrigação. Com a água de irrigação,
bacias Hai e Amarela, na China, do Indus, freqüentemente cobrada a menos de um
no Paquistão, e muitas bacias hidrográficas quinto do seu custo real, e com a extração
da Ásia Central, África Subsaariana, África de água subterrânea praticamente não-regu-
do Norte, Bangladesh e México.19 lamentada, os agricultores e gestores de ir-
Elevar a produtividade do uso da água rigação têm pouca motivação para moderni-
agrícola é crucial para o atendimento das ne- zar suas práticas. Melhorias na regulação e
cessidades alimentares das pessoas à medida confiabilidade na distribuição de água são
que o estresse hídrico aumente e se espalhe. pré-requisitos para muitas das medidas de
Esse desafio tem três partes principais: for- eficiência que os próprios agricultores po-
necer e aplicar água à agricultura com maior dem tomar. Produtores de alguns distritos
eficiência, aumentar a produtividade por litro da Califórnia, por exemplo, gostariam de
de água consumida, tanto por lavouras transferir-se para sistemas mais eficientes
irrigadas quanto alimentadas pela chuva, e de irrigação, porém precisam de maior se-

62
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA

gurança sobre a freqüência, taxa de vazão e dução em 20–90%. Essa combinação pode
duração de seu fornecimento de água antes significar uma duplicação ou triplicação da
de fazê-lo.21 produtividade hídrica.22
Há um rico cardápio de escolhas para a Mundialmente, métodos de microirri-
melhoria da produtividade da água de irri- gação (inclusive gotejamento e micro-
gação, inclusive um conjunto de medidas espargidores) são utilizados em aproxima-
técnicas, gestoras, institucionais e agronô- damente 3,2 milhões de hectares ou pouco
micas. Um número cada vez maior de agri- mais de 1% das terras irrigadas. Um pu-
cultores em todo o mundo está constatan- nhado de países carentes de água hoje de-
do, por exemplo, que sistemas de irrigação pende, e muito, deles. (Vide Tabela 3-3.)
por gotejamento – que fornecem água di- Ademais, a área sob gotejamento e outras
retamente às raízes das plantas em baixo técnicas de microirrigação ampliou-se sen-
volume, através de tubos perfurados insta- sivelmente em vários países ao longo da
lados sobre ou sob o solo – podem econo- última década: mais do dobro no México e
mizar água, incrementando as colheitas ao África do Sul, um aumento de 3,5 vezes
mesmo tempo. Comparados à irrigação na Espanha e quase nove vezes no Brasil.
convencional por inundação ou valas, mé- Embora partindo de uma base pequena,
todos de gotejamento freqüentemente re- China e Índia também ampliaram o uso de
duzem o volume de água distribuída aos irrigação por gotejamento, a fim de lidar
campos em 30–70%, aumentando a pro- com a crescente escassez hídrica.23

Tabela 3-3. Uso de Gotejamento e Microirrigação,


Países Selecionados, 1991 e Cerca de 20001
Área Irrigada por Gotejamento e Parcela da Área Total Irrigada sob
Outros Métodos de Microirrigação Gotejamento e Microirrigação
País 1991 Cerca de 2000 Cerca de 2000
(mil hectares) (percentual)
Chipre 25,0 35,6 90
Israel 104,3 125,0 66
Jordânia 12,0 38,3 55
África do Sul 102,3 220,0 17
Espanha 160,0 562,8 17
Brasil 20,2 176,1 6
Estados Unidos 606,0 850,3 4
Chile 8,8 62,1 3
Egito 68,5 104,0 3
México 60,6 143,1 2
China 19,0 267,0 <1
Índia 17,0 260,0 <1

1
A microirrigação inclui métodos de gotejamento (tanto superficial quanto subsuperficial) e
microespargidores; o ano de divulgação varia de país a país.
FONTE: vide nota final 23.

63
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA

Mudanças nos padrões de produção e mente. A maioria dos cerca de 800 mi-
métodos de cultivo também oferecem opor- lhões de pessoas famintas ou malnutridas
tunidades para se colher mais por gota. Esse pertencem a famílias de agricultores da
desafio é mais destacado na produção de África Subsaariana e sul da Ásia. Para
arroz, o alimento básico preferido de cerca elas, os equipamentos convencionais de
da metade da população global. Mais de 90% irrigação são muito dispendiosos, e o
do arroz mundial é cultivado na Ásia, onde acesso à água de irrigação é sua esperan-
muitos rios e aqüíferos já estão excessiva- ça para colheitas mais estáveis e produti-
mente explorados e a pressão para desviar vas, maior segurança alimentar e melho-
água das fazendas para as cidades está au- res rendas. Aumentar o acesso dos agri-
mentando. Ao longo do último quarto de cultores pobres à irrigação, por meio da
século, a adoção generalizada de variedades disseminação de tecnologias acessíveis
de arroz de alta produtividade e amadureci- para pequenas áreas, melhoraria imensa-
mento precoce levou a um aumento de 2,5 mente a produtividade hídrica – gerando
a 3,5 vezes o volume de arroz colhido por melhor saúde e benefícios sociais por li-
unidade de água consumida – uma conquis- tro de água consumida.26
ta impressionante. Maiores ganhos serão Um modelo de sucesso está em
mais difíceis de serem obtidos. Muitos es- Bangladesh, onde agricultores pobres ad-
tudos demonstraram, todavia, que a prática quiriram mais de 1,2 milhão de bombas a
tradicional de inundar arrozais durante a es- pedal que lhes dão acesso a lençóis rasos e
tação de cultivo não é essencial para aumen- permitem cultivos durante a estação seca,
tar a produção. Aplicar um espelho d’água aumentando suas rendas em US$ 100, em
mais raso, ou até mesmo deixar os arrozais média, por cada bomba de US$ 35 no pri-
secos entre irrigações, pode, em alguns ca- meiro ano. A International Development
sos, reduzir o uso de água em 40–70% sem Enterprises, do Colorado, está hoje desen-
perda significativa de produção.24 volvendo sua experiência em Bangladesh e
Igualmente, pesquisadores constataram em inúmeros outros países, numa iniciati-
que a produção de grãos pode ser susten- va multidoadora internacional chamada Ini-
tada com 25% menos de água de irrigação ciativa Mercadológica de Irrigação para
do que é normalmente utilizado, contanto Pequenos Produtores, que objetiva facili-
que as lavouras recebam água suficiente tar o acesso de agricultores pobres à irri-
durante seus estágios críticos de cresci- gação – incluindo sistemas de gotejamento
mento. Chamada de irrigação de déficit, de baixo custo e bombas a pedal – com a
essa prática está se tornando um recurso meta de livrar da pobreza cerca de 30 mi-
necessário em algumas áreas carentes de lhões de famílias rurais até 2015.27
água. Na Planície Norte da China, por exem- Por grandes áreas da Índia, grupos
plo, os agricultores hoje irrigam o trigo três comunitários estão reativando o uso de
vezes numa safra em vez de cinco.25 açudes tradicionais, barragens de deten-
Para muitos agricultores pobres, a ção e outros equipamentos para captação
questão não é como irrigar com maior e armazenagem de água da chuva, para
eficiência, e sim como irrigar, simples- irrigar suas lavouras durante a estação

64
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA

seca e recarregar os lençóis freáticos. No


distrito de Alwar, em Rajasthan, 2.500 Tabela 3-4. Água Consumida para Suprir
Proteínas e Calorias, Alimentos Selecionados1
açudes (chamados de johads) foram
construídos em 500 vilarejos, aumentan- Água Consumida Água Consumida
do a produção agrícola e de leito signifi- para Suprir 10 para Suprir
cativamente. Ao repor a água subterrânea, Alimento Gramas de Proteína 500 Calorias
os johads também elevam o lençol freático (litros)
Batatas 67 89
de uma média de 60 metros abaixo da su- Amendoim 90 210
perfície para 6 metros.28 Cebola 118 221
Esses exemplos mostram apenas algu- Milho 130 130
mas das inúmeras formas pelas quais agri- Feijão 132 421
Trigo 135 219
cultores e gestores de água podem aumen-
Arroz 204 251
tar a eficiência da irrigação, fazendo me- Ovo 244 963
lhor uso da chuva e aumentando a produti- Leite 250 758
vidade agrícola por litro de água consumida. Aves 303 1.515
Carne Suína 476 1.225
Por intermédio de suas escolhas dietéticas,
Carne Bovina 1.000 4.902
consumidores individuais também têm um
papel importante a desempenhar – um que 1
Baseado na produção agrícola e na produtividade hídrica
se mostrará vital para dobrar a produtivi- da Califórnia; leva em consideração apenas as exigências
dade hídrica da agricultura. hídricas das lavouras, não eficiências de irrigação ou outros
Os vários alimentos que ingerimos exi- fatores.
FONTE: vide nota final 29.
gem volumes de água imensamente dife-
rentes para serem produzidos. Também
variam nos seus valores nutricionais – in-
cluindo energia, proteína, cálcio, gordura, Com seu alto teor de carne, a dieta co-
vitaminas e ferro. A combinação dessas duas mum nos Estados Unidos requer 5,4 metros
características dá uma medida da produti- cúbicos de água por pessoa, por dia – o
vidade nutricional da água – quanto valor dobro de uma dieta vegetariana, igualmen-
nutricional é derivado de cada unidade de te (ou mais) nutritiva. Mesmo uma saída
água consumida. Utilizando o consumo de parcial de produtos animais faria uma dife-
água na agricultura e a produção da rença imensa. Por exemplo, a redução de
Califórnia, os pesquisadores Daniel Renault produtos animais pela metade e substitui-
e Wes Wallender estimaram a produtivida- ção por produtos vegetais altamente nutri-
de nutricional da água para as principais tivos diminuiria a intensidade hídrica da di-
lavouras e produtos alimentícios. Os resul- eta americana em 37%. Realizar essa tran-
tados foram reveladores: é necessário cin- sição até 2025, quando a população dos
co vezes mais água para suprir 10 gramas Estados Unidos deverá somar mais de 350
de proteína da carne bovina do que do ar- milhões de pessoas, reduziria as necessi-
roz, e quase 20 vezes mais água para su- dades hídricas alimentares da nação, na-
prir 500 calorias da carne bovina do que quela ocasião, em 256 bilhões de metros
do arroz. (Vide Tabela 3-4.)29 cúbicos por ano – uma economia equiva-

65
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA

lente à vazão anual de 14 rios Colorado. concentrado requer uma infra-estrutura


Muitos outros benefícios resultariam tam- capital-intensiva complexa, que exerce
bém – inclusive redução de doenças cardí- grande pressão sobre os mananciais super-
acas, menor crueldade com os animais e ficiais e subterrâneos finitos.32
menor poluição de córregos e baías causa-
da por currais industriais.30 QUADRO 3-1. DESSALINIZAÇÃO –
Mundialmente, assegurar uma dieta SOLUÇÃO OU SINTOMA?
sadia para todos, face à crescente es-
cassez hídrica, exigirá ajustes em ambas Um número crescente de cidades está
as pontas do espectro dietético. O bi- recorrendo à água do mar dessalinizada ou
lhão malnutrido de pessoas no mundo água salobra como prevenção à futura
escassez hídrica. Existem atualmente cerca de
precisa alimentar-se mais, a fim de vi- 9.500 usinas de dessalinização em todo o
ver com saúde. A ampliação do acesso a mundo, com uma capacidade instalada
níveis mínimos de água de irrigação po- estimada de 11,8 bilhões de metros cúbicos
derá ajudar a atingir esse objetivo. Uma por ano – 0,3% do atual consumo mundial.
Um processo intensivo no uso de energia, a
participação mais eqüitativa da água in-
dessalinização está concentrada no Golfo
corporada nos alimentos, através do Árabe e Oriente Médio, ricos em petróleo,
comércio e programas de ajuda, também responsáveis por cerca da metade da
será importante. E a mudança dietética capacidade global. Entretanto, tanto as
sensata descrita acima para a população necessidades energéticas quanto os custos
vêm caindo com a melhoria das tecnologias, e
dos Estados Unidos liberaria água sufi-
a capacidade mundial de dessalinização está
ciente para proporcionar dietas sadias a expandindo a uma taxa anual de cerca de
cerca de 400 milhões de pessoas, quase 11%. O projeto israelense de gerar até metade
um quarto do número que se antecipa do seu abastecimento urbano de água da
será adicionado à população do mundo dessalinização até 2008 poderá efetivamente
liberar outros mananciais para uma
em desenvolvimento até 2025.31 distribuição eqüitativa com os palestinos.
Porém, será que para a maioria do mundo
Cidades e Lares a dessalinização é uma opção sensata ou
outra solução dispendiosa para o
abastecimento? Em termos unitários, a
As demandas – e carências – de água em
maioria das medidas de conservação e
muitas cidades por todo o mundo aumen- eficiência pode atender às novas
tam aceleradamente. Com quase metade da necessidades hídricas a 10–25% do custo de
população global hoje vivendo em áreas produção de água dessalinizada. Não faz
urbanas, que deverá aumentar para 60% muito sentido dessalinizar o mar e, no
até 2030, satisfazer os desejos cada vez processo, lançar mais gases de estufa na
atmosfera, quando a redução de desperdícios
maiores dos ricos pela água e as necessi- e o aumento da eficiência poderão suprir
dades dos pobres é um grande desafio. (Vide água com melhor custo/benefício e menor
Quadro 3-1.) Embora as cidades sejam res- dano ecológico.
ponsáveis por menos de 10% das extra- ________________________________________
ções mundiais de água doce, seu consumo FONTE: vide nota final 32.

66
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA

Demandas excessivas de água têm cus- manutenção. (Vide Tabela 3-5.)


to. A maioria das 16 megacidades mundiais Freqüentemente, são os países pobres,
– aquelas com 10 milhões de habitantes ou cuja população carece de suprimento su-
mais – situa-se entre regiões que sofrem ficiente, que têm as maiores taxas de des-
estresse hídrico de fraco a agudo, uma perdício de água, embora a reputação do
condição em que as extrações exaurem os setor privatizado nos países industriali-
mananciais disponíveis. À medida que a de- zados seja longe de exemplar. (Vide Qua-
manda urbana vai aumentando, a pressão dro 3-2.) Vazamentos e outras perdas dos
sobre a agricultura e áreas rurais para ven- sistemas de abastecimento – comumente
derem ou abrirem mão de seus direitos à chamados “água não-contabilizada”
água intensifica-se.33 (ANC) ou “água não-faturada” – são o
Uma manchete de primeira página so- volume retirado, mas que nunca chega
bre o uso da água urbana pode ser resu- ou nunca é registrado como tendo sido
mida em uma palavra: desperdício. “Pre- entregue a um consumidor final. Geral-
cisamos... reduzir vazamentos, especial- mente é calculado como a diferença en-
mente nas muitas cidades onde as perdas tre a água “produzida” (conforme medi-
de água atingem o nível assustador de ção no ponto de extração ou estação de
40%, ou mais, do manancial total”, decla- tratamento) e a água vendida (baseada em
ra o Secretário-Geral das Nações Unidas, leituras de hidrômetros dos consumido-
Kofi Annan. Vazamentos e outras perdas res), embora o setor, há muito, careça de
são, em muitos casos, fontes de desper- normas consistentes para definir, medir
dício negligenciadas ou ocultas: muitos e informar a ANC. A maior parte da ANC
gestores de sistemas de abastecimento não é o resultado de vazamentos em adutoras
dão conta de 15–40% do seu fornecimen- e tubulações sem manutenção adequada;
to. Em regiões dos países em desenvolvi- também ocorrem roubo e defeitos em
mento, como a África, é comum 50–70% hidrômetros, particularmente em sistemas
da água extraída dissipar-se através de antigos e malcuidados. Assim, grande
vazamentos, conexões ilegais e contabili- parte da ANC representa água que pode-
dade falha. Até um terço do abastecimen- ria abastecer outros consumidores, e
to de água de uma cidade típica do Golfo outra parte dela resulta em perda de re-
Árabe pode perder-se por vazamentos em ceita, pois a água é utilizada e não-paga.
tubulações e adutoras. Taiwan perde qua- O valor econômico da água perdida de-
se 2 milhões de metros cúbicos diariamen- vido a falhas na leitura de hidrômetros
te com vazamentos, volume equivalente a ou roubo freqüentemente chega a 10 ve-
325 milhões de descargas de sanitários. zes o custo operacional marginal associ-
Calcula-se que essas perdas atinjam US$ ado a vazamentos.35
200 milhões ao ano.34 As cidades americanas, consideradas
A “prestação de contas” da água é o como possuidoras das tecnologias e
indicador principal da eficiência e gestão infra-estrutura hídricas mais modernas,
das concessionárias; todavia, elas têm ANCs que variam entre 10 e 30% e,
comumente falham nessa tarefa básica de às vezes, mais. Na ausência de códigos

67
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA

nacionais que definam e meçam as perdas


QUADRO 3-2. PRIVATIZAÇÃO E
de água, alguns estados estabeleceram
VAZAMENTO: OMISSÃO DE
suas próprias normas. Estas variam de 7,5 PRESTAÇÃO DE CONTAS
a 20%, mas não são bem aplicadas. Ape-
nas uns poucos estados publicam os nú- Apesar das promessas de maior eficiência
meros de perda de água. Por exemplo, e sistemas de “gestão inteligente” que
Kansas, cuja região ocidental cobre o supostamente viriam junto à privatização
aqüífero declinante de Ogallala, possui dos sistemas de abastecimento de água,
várias empresas privadas não prestam
uma norma ANC de 15%; entretanto, os conta dos volumes maciços de água que
números mais recentes divulgados sobre seus sistemas perdem em vazamentos e
as perdas estaduais relacionam 52 forne- outros usos, não-medidos ou justificados.
cedores com ANCs de 30% ou mais. A As metas de redução das perdas de água
seu crédito, o Programa Hídrico de Kansas , tão alardeadas pelas empresas privadas
determinou a redução de ANC como uma da Grã-Bretanha, ainda estão para ser
alcançadas e a realidade é que algumas
das suas metas prioritárias.36 “empresas ainda não atingiram seus níveis
econômicos de vazamento”, de acordo
com um relatório da Câmara dos Comuns.
A medição correta de vazamentos é ainda
Tabela 3-5. Vazamentos e Perdas em Sistemas de mais complicada no Reino Unido, devido
Abastecimento de Água, Países Selecionados ao fato de apenas 20% dos domicílios
possuírem hidrômetros, o que torna as
Estimativa das
Perdas Médias no estimativas de vazamentos da empresa
País Área de Serviço Suprimento Total “sujeitas a manipulação”, de acordo com o
relatório. Em seguida à privatização dos
(percentual) sistemas de água, em 1989, os níveis de
África do Sul Joanesburgo 42 vazamento em todo o setor hídrico do RU
Tshwane (Pretória) 24 atingiram o nível médio de 30% em 1995.
Albânia Nacional até 75 O Departamento de Serviços de Água, que
Canadá Kingston, Ontario 38 regula o setor de abastecimento e
Cingapura Nacional 5 saneamento da Inglaterra e País de Gales,
Dinamarca Copenhague 3 interveio e estabeleceu metas obrigatórias
Espanha Nacional 24–34 para redução de vazamento. Várias
Estados Unidos Nacional 10–30
empresas com altos níveis de perda,
Bethlehem, PA 27
França Paris 30
notadamente a Thames Water Utilities
Nacional até 50 LTD, atendem a áreas que enfrentam
Japão Fukuoka 5 quedas de abastecimento. Em 2003,
Jordânia Nacional 48 vazamentos e perdas de água pela Thames
Quênia Nairobi 40 Water foram responsáveis por mais de
República Tcheca Nacional 20–30 25% do total de vazamentos na Inglaterra
Taiwan Nacional 25 e País de Gales; todavia, a empresa atende
Taipei 42 apenas a 15% dos consumidores faturados
nessas regiões.
FONTE: vide nota final 35. ________________________________________
FONTE: vide nota final 35.

68
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA

A recuperação da água “perdida” índice de vazamento exceda 10%. Em


por vazamentos, falha de medição ou 2000, apenas 8 dos 40 maiores fornece-
contabilização corrupta representa um dores da Dinamarca reportaram uma per-
enorme manancial inexplorado que pode- da acima de 10%. (Vide Quadro 3-3 para
ria ajudar cidades e regiões que enfren- uma descrição de outros programas de
tam escassez a atender suas reais neces- eficiência urbana.) 37
sidades hídricas. Argumentos de que per- A redução de vazamentos e o uso mais
das por vazamentos não são significati- eficiente da água também poupam ener-
vas porque recarregam os aqüíferos ou gia, uma vez que o bombeamento, trata-
abastecem outros usuários ignoram o fato mento e distribuição da água requerem
de que extrações têm custo. A água energia em cada estágio. Os sistemas de
deslocada da sua “área de serviço” original água da Califórnia são um dos maiores
na natureza e dissipada a usuários de tubu- consumidores de energia do estado, por-
lações falhas causa secas em rios, destrui- que transportam a água a longas distânci-
ção de habitats e desaparecimento de vida as e por regiões altas. Em média, o
silvestre. Da mesma forma que as cavida- bombeamento de um acre-pé (1.234
des dentárias, tubulações corroídas podem metros cúbicos) de água, por meio do
ficar sem atenção por um tempo, mas te- Aqueduto do Rio Colorado, para o sul da
rão que ser cuidadas; quanto mais tempo o Califórnia consome cerca de 2.000 kWh
problema for negligenciado, mais custoso de eletricidade, enquanto o envio de um
será para reparar. Caso a infra-estrutura acre-pé para o mesmo destino, através do
existente não seja estanque, os projetos de Projeto Estadual de Água, requer cerca de
capital propostos, destinados a atender às 3.000 kWh. Numa residência típica do sul
“necessidades” hídricas, são ilusórios. da Califórnia, a energia necessária para o
Copenhague, na Dinamarca, com ape- fornecimento de água potável chega a atin-
nas 3% de ANC (cerca de 1,6 metro cúbi- gir o terceiro lugar em importância, após
co por pessoa, por ano, ou um galão por condicionadores de ar e refrigeradores.
dia), é uma exceção positiva ao controle Uma vez que o uso mais eficiente da água
historicamente fraco do setor hídrico. O reduz o consumo de energia, também re-
Departamento de Águas de Copenhague duz a produção dos gases de estufa
também tem sofrido um declínio constan- alteradores do clima, que ameaçam pertur-
te no consumo per capita domiciliar diá- bar vazões fluviais e sistemas hidrológicos
rio, entre seu meio milhão de habitantes, em todo o mundo.38
desde que implantou metas de conserva- A conservação da água obviamente
ção e iniciou uma série de campanhas conserva energia, mas a conservação da
educativas e aumentos tarifários. energia também conserva a água. Usinas
Talvez o incentivo mais forte para a termelétricas (a carvão, petróleo, gás na-
manutenção de sistemas ajustados na Di- tural, nuclear ou geotérmica) consomem
namarca seja o fato de as concessionári- água pela evaporação, quando o calor ex-
as serem taxadas (0,7 euros ou 85 cen- cessivo é retirado dos condensadores. A
tavos de dólar por metro cúbico) caso o extração dos combustíveis utilizados para

69
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA

operar essas usinas também consome dade fornecida. Assim, a família média
água. A geração de energia hidrelétrica re- norte-americana, utilizando 10.000 kWh
sulta na evaporação da água de reserva- de eletricidade por ano, está indiretamente
tórios. Em conjunto, a água necessária consumindo também mais 83 metros
para atender às demandas energéticas é cúbicos de água – um volume equivalen-
substancial – nos Estados Unidos chega te a quase 14.000 descargas de um vaso
a cerca de 8,3 litros por kWh de eletrici- sanitário eficiente.39

QUADRO 3-3. PROGRAMAS URBANOS DE CONSERVAÇÃO HÍDRICA QUE


POUPAM ÁGUAE DINHEIRO

Várias cidades e sistemas de água lançaram Hídrica, tem uma das menores taxas de
programas de eficiência hídrica nos últimos vazamento (cerca de 5%) do Japão, com um
anos, e várias outras conseguiram uma consumo per capita de aproximadamente
economia impressionante de custo e consumo: 20% menos do que outras cidades do
• Cingapura reduziu o índice de água não- mesmo tamanho. Fukuoka conseguiu essas
contabilizada de 10,6 para 6,2%, entre 1989 economias através de esforços em detecção
e 1995, e economizou mais de US$ 26 de vazamentos e reparo, técnicas
milhões, evitando gastos de capital na sofisticadas de leitura, coleta de águas
expansão de suas instalações, por meio de pluviais, utilização de água recuperada para
iniciativas agressivas de detecção e reparo sanitários, instalação de dispositivos
de vazamentos, renovação de adutoras e eficientes de torneiras em mais de 90% das
100% de leituras (incluindo o Corpo de residências e promoção de programas de
Bombeiros). Em 2003, a ANC caiu para conscientização pública das questões
5%. Hidrômetros industriais e comerciais hídricas.
são substituídos a cada quatro anos e • Desde o final dos anos 80, o Departamento
hidrômetros residenciais a cada sete anos, de Água do Estado de Massachusetts
para assegurar faturamento correto e (MWRA, na sigla em inglês), que abastece
minimizar perdas de água não-medida. Os mais de 40 cidades na área de Boston,
gestores de água de Cingapura também reduziu a demanda em toda a rede em cerca
promovem educação pública, programas de 25%, por intermédio da implementação
escolares, auditorias hídricas e reutilização de um programa abrangente de redução de
de água não-potável pelas indústrias. demanda que incluía reparos de vazamentos
Conexões ilegais são sujeitas a multas de até e instalação de equipamentos e dispositivos
US$ 50.000 ou três anos de detenção. Em eficientes na tubulação. Isso permitiu o
1995, os 3 milhões de habitantes da cidade cancelamento de um projeto para represar
consumiram, em média, 1,2 milhão de o Rio Connecticut – uma proposta
metros cúbicos por dia; em 2003, a politicamente polêmica – e poupou aos
demanda total de água havia aumentado 2,1 milhões de consumidores do MWRA
apenas 8%, embora a população tenha mais de meio bilhão de dólares só em
crescido 40%, para 4,2 milhões. dispêndio de capital.
• Fukuoka, no Japão, conhecida como a __________________________________________
Cidade com Consciência de Conservação FONTE: vide nota final 37.

70
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA

O uso doméstico de água varia sensi- domésticos (lavadoras de roupa e prato),


velmente em todo o mundo e revela mui- e que reduzem vazamentos, consomem
to sobre as diferenças de riqueza e cultu- apenas 151–170 lpcd. Desde 1997, to-
ra. (Vide Figura 3-3.) Por exemplo, os dos os sanitários, mictórios, torneiras e
habitantes do Reino Unido consomem chuveiros instalados nos Estados Unidos
apenas cerca de 70% da água consumida são obrigados a satisfazer as normas
pelo americano mais poupador. Estima- estabelecidas pela Lei de Política
se que o consumo interno nos lares dos Energética (EPAct, na sigla em inglês) de
Estados Unidos é de uma média de 262 1992. Até 2020, essas normas de efici-
litros per capita, por dia (lpcd). As resi- ência deverão poupar cerca de 23–34
dências que instalam utensílios eficien- milhões de metros cúbicos por dia, água
tes em termos de consumo de água (sa- suficiente para abastecer de quatro a seis
nitários, chuveiros e torneiras) e eletro- cidades do tamanho de Nova Iorque.40

Quênia (domicílios conectados) Fonte: Vide nota final 40


Uganda (domicílios conectados)
Tanzânia (domicílios conectados)
Copenhague, Dinamarca
Reino Unido
Cingapura
Manilha, Filipinas,
Waterloo, Canadá
Melbourne, austrália
Sidnei, Austrália
Seattle, Estados Unidos
Tampa, Estados Unidos
Phoenix, Estados Unidos

0 200 400 600 800 1.000


Litros per capita, por dia

Figura 3-3. Consumo Doméstico de Água, Cidade e Países Selecionados

Estudos de 16 localidades nos Estados como conseqüência de investimentos di-


Unidos revelam que as reduções de água feridos ou evitados em aumento de capa-
conforme as normas da EPAct pouparão cidade ou em novas instalações de trata-
às concessionárias US$ 166 a US$ 231 mento e armazenamento de água potável.
milhões ao longo dos próximos 15 anos, As necessidades energéticas das instala-

71
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA

ções de tratamento de água e esgoto estão de 6 latas de cerveja. O gramado irriga-


projetadas para caírem em 6 bilhões de do médio consome cerca de 38.000 li-
kWh anuais. Parte dessa poupança de tros por verão. E o pior: um morador de
água, energia e custos, todavia, já está Orange County, cidade da Flórida com
ameaçada: vários grandes fabricantes de carência de água, foi faturado em 15,9
utensílios estão promovendo agressiva- milhões de litros em um ano, a maior
mente as vendas de portentosos boxes de parte utilizada na irrigação de sua pro-
chuveiros com múltiplos bocais que es- priedade de 2,4 hectares. Esse volume
guicham mais de 300 litros por minuto – equivale, a grosso modo, ao consumo
mais do que a maioria da população mun- anual de 900 quenianos. 43
dial consome em um dia.41 Gramados bem aparados e carpetes
Quando se trata do consumo de água de grama em áreas privadas, públicas e
e dos custos pagos por ricos e pobres, à beira de vias nos Estados Unidos co-
ocorre uma típica inversão de relação: brem 12 a 20 milhões de hectares, uma
aqueles que consomem mais pagam me- área maior do que o estado de Louisiana
nos, e aqueles que pouco consomem pa- – mais do que é plantado em qualquer
gam mais. Populações urbanas de baixa cultura agrícola. Os Estados Unidos
renda e pobres, não-conectadas à rede, também possuem cerca de 60% dos
freqüentemente são forçadas a recorrer campos de golfe mundiais; seus
a suprimentos alternativos e caros, como 700.000 hectares absorvem cerca de 15
vendedores de água, que podem cobrar bilhões de litros de água por dia. Gra-
muitas vezes mais do que usuários pa- mados e campos de golfe não apenas
gam pela água encanada. Por exemplo, bebem volumes gigantescos de água,
os pobres em Nova Délhi pagam a ven- mas também o fazem durante os meses
dedores informais US$ 4,50 por metro mais quentes do verão, quando a vazão
cúbico de água, quase 500 vezes o cen- de muitos rios e córregos estão em seus
tavo de dólar pago por metro cúbico por níveis mais baixos. 44
quem dispõe de ligação domiciliar. Em Entusiastas por gramados e jardins dos
Manilha, vendedores cobram dos pobres Estados Unidos aplicam, anualmente, mais
42 vezes mais do que os usuários de 45 milhões de quilos de fertilizantes e
conectados. 42 produtos químicos para eliminar insetos,
As demandas hídricas domésticas ervas daninhas e fungos. Na realidade, os
dos mais ricos assumem uma trajetória moradores utilizam quase 10 vezes mais
ascendente dramática diante de grama- pesticidas por hectare de grama do que
dos irrigados. Em volume, o maior pro- agricultores aplicam nas lavouras. Fertili-
blema de bebida nos Estados Unidos não zantes e produtos químicos não-absorvi-
é o álcool, e sim a rega de gramados. A dos diretamente pelas gramas e plantas
irrigação diária dos gramados e jardins freqüentemente escoam para córregos ou
dos Estados Unidos consome cerca de infiltram-se em aqüíferos, onde podem
30 bilhões de litros de água – um volu- contaminar a água potável e eutrofizar la-
me que encheria 14 bilhões de pacotes gos e lagoas. (Vide Quadro 3-4.)45

72
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA

QUADRO 3-4. BEBENDO O GRAMADO E A FARMÁCIA DO VIZINHO


“É de manhã, você sabe onde estão os seus inclusive protetores solares, antibióticos e
remédios?” pergunta Christian Doughton, da plastificantes.
Agência de Proteção Ambiental dos Estados Praticamente nenhuma literatura médica
Unidos, num artigo em The Lancet. “Muito documenta a extensão, riscos ou solução para o
provavelmente, alguns estão a caminho de problema das drogas como poluentes e seu
córregos, rios e talvez até fazendas locais, na efeito à saúde humana e ao meio ambiente. No
forma de biossólidos de esgoto utilizados momento, não há, a rigor, regulamentação
como fertilizante”. Num estudo de quanto a PFCPs contaminadores na água
amostragem de 139 córregos em 30 estados, a potável. Pelo menos com os pesticidas,
U.S. Geological Survey constatou que 80% algumas comunidades não estão assumindo
continham traços de pelo menos um produto, riscos. No Canadá, tanto o subúrbio de
seja droga, hormônio endócrino-perturbador, Hudson, em Montreal, quanto o de Halifax, na
Nova Escócia, proíbem o uso cosmético
inseticida ou outro produto químico – alguns
(puramente estético) de pesticidas, como nos
em níveis que, comprovadamente, causam
gramados. “Melhor errar por excesso de
danos a peixes e outras vidas aquáticas. Isso
segurança do que sofrer enquanto se aguarda
não deve surpreender, visto que os Estados
comprovação científica”, assinalou um líder
Unidos são os maiores usuários de pesticidas comunitário. Apesar de uma contestação à lei,
e que mais de 3 bilhões de receitas são por parte das indústrias químicas e de
fornecidas anualmente para quase metade dos jardinagem, a Corte Suprema do Canadá
americanos que tomam, no mínimo, um determinou que todos os municípios
medicamento por dia. Estudos no Canadá, canadenses têm o direito de proibir o uso de
Reino Unido e Alemanha também constataram pesticidas em propriedades públicas e privadas.
resíduos de produtos farmacêuticos e de __________________________________________
cuidados pessoais (PFCPs) em água doce, FONTE: vide nota final 45.

Embora espargidores e sistemas mais rísticas naturais da paisagem, em vez de


eficientes de irrigação possam reduzir o con- eliminá-las. Igualmente, campos de golfe
sumo de água em jardins, está ocorrendo como os do Prairie Dunes Country Club,
uma mudança mais fundamental na mania em Hutchinson, Kansas, e The Landings, em
americana por gramados, através de um Savannah, Geórgia, estão reduzindo o uso
movimento emergente de paisagismo natu- da água por meio de medidas como irriga-
ral e plantas nativas. Residências e empre- ção controlada pelo tempo, rega limitada dos
sas estão obtendo economias duradouras e tees e fairways, uso de plantas nativas, con-
substanciais de água com o plantio de gra- servação das características naturais dos
ma nativa resistente à seca, proteção vege- terrenos acidentados e manutenção orgâni-
tal, flores silvestres e plantas que vicejam ca do solo e das plantas.46
naturalmente em seus climas locais. Proje- A participação em organizações de
tos em Prairie Crossing, uma subdivisão na paisagismo natural, como Wild Ones e
periferia de Chicago, e na sede da Sears, Ecological Landscaper, está aumentando
Roebuck & Company, em Hoffman Estates, rapidamente, demonstrando o desejo das
Illinois, por exemplo, integram as caracte- pessoas por um relacionamento mais sa-

73
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA

dio com a terra. Outros conscientizam-se consumidoras de água incluem termelétricas,


quanto aos benefícios financeiros. A metalúrgicas e siderúrgicas, indústrias de
CIGNA Corporation, de Bloomfield, papel e celulose, químicas, petrolíferas e
Connecticut, gastou cerca de US$ 63.000 fabricantes de máquinas. A maioria utiliza os
ao longo de cinco anos para converter maiores volumes de água em refrigeração,
grande parte dos 120 hectares do seu gra- lavagem, processamento e aquecimento.49
mado corporativo num aprazível descam- Um número impressionante de usuários
pado com trechos de flores silvestres, lu- industriais e comerciais reduziu suas deman-
crando várias centenas de milhares de das hídricas de 10 a 90%, aumentando, ao
dólares anuais em economia no uso de mesmo tempo, sua produtividade e lucros.
água, fertilizantes, pesticidas e equipamen- (Vide Tabela 3-6.) Freqüentemente, esses
tos e manutenção. Como disse o paisagis- investimentos em eficiência hídrica são pa-
ta da CIGNA, “o que devemos fazer, gas- gos dentro de dois anos, gerando poupança
tar 5.000 dólares em controle de pragas?” de energia e também benefícios na preven-
ção da poluição. Por exemplo, em 2002, a
Uso de Água Industrial Unilever, multinacional produtora de alimen-
tos e produtos para o lar e cuidados pesso-
e Consumo de Bens ais, consumiu em média 4,3 metros cúbi-
Materiais cos de água por tonelada de produção, uma
redução de um terço dos 6,5 metros cúbi-
As indústrias são responsáveis por cerca de cos por tonelada consumidos em 1998.50
22% de todas as extrações mundiais de água Embora para muitas indústrias a redução
doce; no entanto, têm uma participação bem de custos seja a principal motivação para in-
maior nos países industrializados (59% em vestimentos em eficiência, existem também
média) do que nos países em desenvolvimento outros incentivos, incluindo a necessidade de
(10%). As demandas industriais nas econo- cumprir as regras de licenciamento, avanços
mias em desenvolvimento e emergentes es- das tecnologias de tratamento in-loco que per-
tão aumentando rapidamente e competirão mitem que a água de processamento seja
pelas escassas reservas tanto nas cidades reciclada e reutilizada e a disponibilidade de
quanto nos campos. Ademais, as indústrias água não-potável recuperada a custo baixo.
geram grandes volumes de água servida, e Por exemplo, todo o esgoto de Cingapura é
nos países em desenvolvimento grande parte tratado em seis estações de recuperação de
desta continua sendo despejada, sem trata- água para reutilização pelas indústrias, ajudan-
mento, em rios e córregos vizinhos, poluin- do a preservar a água de alta qualidade para
do o pouco que resta de água potável.48 consumo humano e outras finalidades. Tarifas
O volume total da demanda de água in- mais altas para água e esgoto também podem
dustrial não é bem avaliado devido ao fato agir como um incentivo de conservação para
de as grandes indústrias freqüentemente as indústrias; entretanto, tais estratégias
extraírem água – sem medição – diretamen- tarifárias às vezes têm efeito contrário nos for-
te de seus poços ou de rios e córregos vizi- necedores, por motivarem os consumidores a
nhos. Mundialmente, as maiores indústrias desistir do sistema e abrir poços artesianos.51

74
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA

Tabela 3-6. Exemplos de Economia de Água Industrial pela Conservação


Categoria Industrial
ou Produto Empresa Economia Medidas de Eficiência Hídrica

Laticínios United Milk 657.000 metros Sistemas de membranas de osmose reversa (OR),
(leite e derivados) Plc. Inglaterra cúbicos/ano; recupera e trata o condensado do leite para reutilização
US$ 405.000 pela fábrica, eliminando a necessidade de abastecimento
por ano externo. O excesso da água recuperada é posto à venda
para outros usuários na área industrial.

Computadores IBM, mundial 690.000 metros A economia de água em 2000 foi de 4,6% do total
(fábricas e cúbicos/ano utilizado; 375.000 metros cúbicos por ano poupados
laboratórios) com múltiplos projetos de eficiência hídrica e 315.000
metros cúbicos poupados com reciclagem e
reutilização.

Siderurgia Columbia Steel 1,63 milhão de Substituição do sistema de resfriamento por fluxo
Casting Co. metros cúbicos/ único, por torres de resfriamento recirculantes.
Inc., North ano US$ 588.000 Instalação de sistemas de reciclagem e tanques de
Portland, OR, ao ano armazenagem para captação de águas pluviais e
EUA reutilização de água não-potável de lavagem.
Otimização de práticas industriais.

Farmacêuticos Millpore Corp., 31.000 metros Água servida de processamento, reciclada através de
(pesquisa de ciência Jaffrey, NH, cúbicos/ano; tecnologia OR; investimento de US$61.000, retornado
de vida e EUA US$ 55.000 em 1,2 anos em redução de custos de água, água servida
biofarmacêuticos) ao ano e energia.

Chocolate Ghirardelli 78.840 metros Instalação de anel recirculante de resfriamento de água,


Chocolate Co., cúbicos/ano eliminando o uso de água potável para o resfriamento
San Leandro, do chocolate em grandes tanques.
CA, EUA

Construção Gusto Homes, 50% de economia O projeto Millenium Green envolveu a instalação de
Habitacional Inglaterra de água nas sistema de coleta de água pluvial e armazenagem
residências subterrânea em 24 residências e escritório da empresa.
(50 metros Instalação também de sanitários de descarga dupla,
cúbicos/ano) chuveiros e sanitários aerados e aquecedores solares
de água.

Produtos Agrícolas Unigro, Plc. 9.000–18.000 Instalações seladas, com controle climático, utilizam
(frutas, legumes, Inglaterra metros o sistema Greengro Farming e incluem irrigação de
vegetais e ervas cúbicos/ano; precisão e coleta de águas pluviais, requerendo 30%
livres de pesticidas) US$ 7.400 menos água por unidade de produção do que a irrigação
ao ano convencional.

Cerveja Anheuser-Busch 90.850 metros Hidrômetros instalados em todas as instalações para


Inc., nacional, cúbicos/ano medir o consumo. Equipamentos de garrafas e latas
EUA recalibrados.

FONTE: Vide nota final 50.

Com a expansão de empresas industri- As indústrias de alimentação e bebidas, ce-


ais nos países em desenvolvimento, car- lulose e papel e têxtil são responsáveis por
gas poluentes estão aumentando juntamente mais de três quartos das cargas poluentes
com a demanda pela água industrial, amea- da água nos países em desenvolvimento.
çando a vida aquática e a saúde humana. Por exemplo, a água de enxágüe têxtil con-

75
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA

tém tinturas que exaurem os níveis de oxi- produtos de papel reciclado em vez de pa-
gênio de rios e lagos quando despejada sem pel virgem, por exemplo, poupa não só ár-
tratamento. Ao captar e reciclar essas tin- vores e energia, mas também a água utiliza-
turas dentro do processo fabril, as indús- da na manufatura do papel. E produtos de
trias podem reduzir as cargas poluentes e alumínio fabricados com sua sucata reque-
economizar em custos de insumos. Em rem apenas 17% da água que o mesmo pro-
Gana, na África Ocidental, um programa- duto necessita se feito de alumínio bruto.54
piloto, chamado de Sistema de Manejo de
Troca do Estoque de Rejeitos, objetiva au-
QUADRO 3-5. MEDIDAS QUE
mentar a reutilização e reciclagem de rejeitos
PODEMOS TOMAR PARA
industriais, a fim de proteger os
REDUZIR NOSSO IMPACTO
ecossistemas costeiros, fluviais e lacustres.
SOBRE A ÁGUA DOCE
Com o slogan “lixo de um, matéria-prima
de outro”, a iniciativa tem recebido uma • Adquirir menos bens materiais.
resposta entusiástica das indústrias locais.52 • Adotar dietas nutritivas, com menos
Da mesma forma que escolhas individu- carne vermelha.
ais de dietas e paisagens podem fazer uma • Selecionar plantas e gramas nativas para
jardins e paisagismo e depender apenas
grande diferença no impacto humano sobre
das chuvas.
corpos d’água, também o fazem as escolhas
• Instalar aparelhos e utensílios mais
de consumo de bens materiais. (Vide Quadro eficientes em termos de água e energia.
3-5.) Praticamente tudo que se compra – de • Pressionar por normas de uso do solo
roupas a computadores e a automóveis – que protejam áreas alagadas, aqüíferos e
necessita de água para ser fabricado, e este bacias hidrográficas.
processo pode também resultar em poluição • Participar de comissões locais de gestão
de córregos e lagos também. As pessoas que de água, a fim de monitorar e
dirigem veículos utilitários esportivos, ávidos implementar estratégias de proteção
hídrica.
consumidores de gasolina, em vez de carros
eficientes no consumo de combustível, por
exemplo, não estão apenas gastando cerca
de três vezes mais gasolina por quilômetro Prioridades Políticas
rodado, mas também estão indiretamente uti-
lizando muito mais água, uma vez que são Não há mistério algum sobre o fato de o
necessários 18 litros de água para produzir enorme volume de água extraído para con-
apenas um litro de gasolina.53 sumo humano ser desperdiçado e mal-ad-
No credo ambientalista de reduzir, ministrado: as políticas que embasam deci-
reutilizar, reciclar, a redução de compras sões sobre a água, na maioria das vezes,
materiais sempre tem lugar de destaque no fomentam ineficiências e más alocações, e
topo. Quando as pessoas adquirem algo, não a conservação e uso sustentável. Em
todavia, podem diminuir seus impactos à vez de nos desesperarmos frente a uma nova
água e energia escolhendo produtos fabri- era de escassez hídrica, precisamos con-
cados com materiais reciclados. Comprar frontar velhos erros e desperdícios.

76
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA

Em primeiro lugar, é essencial que No leste de Massachusetts, os


governos cumpram suas obrigações e moradores secaram o Rio Ipswich
protejam a segurança pública da água. durante vários anos devido
A maioria dos ecossistemas de água
à extração maciça de água
doce não é avaliada nem valorizada pelo
mercado; todavia, sustentam nossas
subterrânea para irrigação
economias e vidas com serviços que de jardins.
valem centenas de bilhões de dólares
ao ano. Leis e regulamentos que sal- A água subterrânea não está apenas mal-
vaguardem essas funções são cruciais, regulamentada, mas também seu uso é
pois as forças de mercado apenas – in- freqüentemente subsidiado sob várias for-
clusive a tarifação e comercialização mas. No Texas, os agricultores que bom-
da água – nunca poderão proteger ade- beiam água do aqüífero Ogallala, em que-
quadamente valores não-cotados. A di- da, podem pleitear um abatimento de
retriz da água de 2000, da União Eu- exaustão em seu imposto de renda. Os agri-
ropéia, a Lei da Água de 1998, da Áfri- cultores indianos recebem energia subsidi-
ca do Sul, e um punhado de leis esta- ada, no valor de US$ 4,5–5 bilhões ao ano,
duais dos Estados Unidos são exem- para bombear 150 bilhões de metros cúbi-
plos promissores de governos tentan- cos de água subterrânea – um incentivo
do assumir suas responsabilidades na perverso para exaurir os aqüíferos nacio-
proteção da segurança pública no que nais. Embora sustentem a produção no
diz respeito à água. 55 curto prazo, esses subsídios, na realidade,
Governos e autoridades comunitári- aceleram o ritmo de exploração excessiva
as precisam instituir ou fortalecer regu- e o dia do ajuste final. Com a água subter-
lamentos sobre a água subterrânea. Um rânea contribuindo US$ 25–30 bilhões anu-
recurso coletivo clássico, a água sub- ais para a economia agrícola da Ásia, urge
terrânea é vulnerável ao uso predatório, a adoção e implementação de políticas que
uma vez que o impacto conjunto de cada levem a seu uso sustentável.57
usuário, agindo por interesse próprio, é Uma tarifa escalonada é um instrumen-
a exaustão do suprimento para todos. O to econômico que pode proporcionar um
uso sustentável de aqüíferos renováveis uso mais eficiente e eqüitativo da água.
exige que nossas retiradas não excedam Com esse método, o preço unitário da água
o nível de recarga. Entretanto, como para um consumidor aumenta juntamente
assinalam os pesquisadores do Instituto com o volume utilizado. Isso permite que
Internacional de Gestão da Água, em Sri um nível básico de água domiciliar tenha
Lanka, “em nenhum lugar do mundo um preço bastante baixo, enquanto um
existe um regime tão perfeito efetiva- maior uso é cobrado a uma taxa mais alta,
mente em ação... Pouquíssimo está sendo de modo escalonado. Um estudo em 2002
feito para reduzir a demanda da água de 300 cidades indianas constatou que
subterrânea ou economizar o seu uso”. 56 apenas 13% utilizam essas estruturas

77
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA

tarifárias de blocos ascendentes. Ademais, da vazão do rio assume prioridade sobre os


mesmo quando elas são aplicadas, os blo- interesses particulares dos moradores na
cos de menor preço incluem, às vezes, manutenção de seus gramados verdes.59
muito mais água do que seria necessário Juntamente com regulamentos rígidos
para satisfazer as exigências básicas de um e tarifação mais efetiva, os mercados da
domicílio. Em Bangalore, por exemplo, os água podem ajudar a melhorar a eficiência
dois primeiros blocos, conjuntamente, de uso e alocação. Com um teto estabele-
abrangeram 50 metros cúbicos de água cido nas extrações da bacia hidrográfica do
por mês, um consumo similar ao uso do- Murray-Darling, na Austrália, por exemplo,
miciliar médio nos Estados Unidos.58 a comercialização da água entre vendedo-
Particularmente nos locais ricos, só a res e compradores está ajudando a realocar
tarifa não desencoraja o uso pródigo da água. o manancial disponível. A cidade de Adelaide
Nos domicílios de renda alta com extensos poderá, em breve, adquirir água dos agri-
gramados, por exemplo, manter a grama cultores, uma vez que já atingiu o limite de
verde durante o ano todo é freqüentemente sua extração do rio. A capacidade de nego-
mais importante do que a conta de água. ciar água encoraja os consumidores a
Nessas áreas, o próximo passo é restringir conservá-la, já que podem vender a que foi
o uso da água. No leste de Massachusetts, poupada e faturar uma renda extra. Onde
os moradores secaram o Rio Ipswich du- existem títulos ou direitos claros sobre a
rante vários anos devido à extração maciça propriedade da água, “limitar-conservar-e-
de água subterrânea para irrigação de jar- negociar” pode ser uma estratégia eficaz
dins, que exauriu suas vazões de verão. O para a proteção de ecossistemas e incre-
grupo conservacionista American Rivers mento da produtividade hídrica.
relacionou o Rio Ipswich em 2003 como Finalmente, consumidores individuais
um dos 10 rios mais ameaçados do país. têm também que fazer importantes esco-
Em maio, o Departamento de Proteção lhas de política pessoal. Ao optar por uma
Ambiental estabeleceu restrições obrigatóri- dieta sadia e menos intensiva no uso de
as para a extração de água em cada cidade água, uma paisagem atraente e adequada
licenciada a utilizar o Ipswich. Quando a ao clima e um estilo de vida com menos
vazão atinge um determinado nível, essas bens materiais, as pessoas poderão re-
comunidades instituem medidas legais de duzir seu impacto sobre os sistemas de
conservação hídrica. Devido a um verão água doce da Terra, sem sacrificar sua
chuvoso em 2003, ainda não foi realizado satisfação pessoal. Essas opções pode-
um teste real dessa política. Mas deixa evi- rão transformar os consumidores de água
dente que o interesse do estado na proteção em gestores da água.

78
Estado do Mundo 2004
INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA

AT R Á S D O S B A S T I D O R E S

Sabonetes Antibacterianos
“Livrar-se dos germes é hoje incentivará a demanda dos
mais divertido do que consumidores por sabonetes
nunca”, diz o rótulo de um incrementados, inclusive
frasco de sabonete líquido antimicrobianos. Na Índia e China, onde
com aroma de fruta Dial, o os sabonetes líquidos são vistos como
maior fabricante de produtos caros de luxo, a
sabonetes antibacterianos Procter & Gamble está
dos Estados Unidos. Na agora produzindo uma
realidade, o disparo na versão antibacteriana de
produção e uso globais de seu sabonete em barra,
tais produtos apresenta alguns Safeguard.2
riscos não tão divertidos para a Todos os sabões são produzidos
saúde e meio ambiente. por meio de uma reação química conhecida
Sabonetes líquidos e gel para banho como saponificação, na qual um sal alcalino,
com propriedades antibacterianas como soda cáustica (hidróxido de sódio),
tornaram-se cada vez mais populares nos potassa (hidróxido de potássio) ou barrela, é
últimos anos. Nos Estados Unidos, 75% aquecido com uma gordura vegetal ou
dos sabonetes líquidos e aproximadamente animal (sebo) e água. No processo, a
30% dos sabonetes em barra contêm agora gordura transforma-se em glicerol líquido
triclosan e outros compostos químicos (glicerina – que é normalmente removida
formulados para atacar os germes para outros usos cosméticos ou
superficiais. Embora rotulada de farmacêuticos) e sais ácidos graxos – que
antibacteriana, a maioria é na realidade formam os coalhos do sabão bruto. Esses
antimicrobiana, atacando tanto vírus coalhos são fervidos em água, para remoção
quanto bactérias. 1 de impurezas, despejados em fôrmas e
O mercado mundial para sabonetes está cortados em barras.3
projetado pra crescer continuamente, de Alguns dos mais antigos restos de
US$ 5,5 bilhões em 2003 para US$ 6,1 sabonetes foram encontrados em potes de
bilhões em 2008, informa o Icon Group, uma barros, datados de 2800 a.C., na Babilônia.
empresa de pesquisa mundial de mercado. O Antes do aparecimento das versões
maior crescimento deverá ocorrer na Ásia e germicidas, em 1948, os sabonetes
no Pacífico, onde a indústria de sabonetes eliminavam os microorganismos, tornando a
prevê que o crescimento econômico sujeira e oleosidades superficiais

79
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: SABONETES ANTIBACTERIANOS

escorregadias o bastante para que tóxicas – compostos de cloro cancerígenos,


pudessem ser esfregadas e enxagüadas. perturbadores hormonais, que se dispersam
Desde a II Guerra Mundial, os produtos facilmente no meio ambiente e são recolhidos
químicos engendrados pelo homem na cadeia alimentar. O triclosan também pode
alteraram a receita tradicional. Entre eles, causar náusea, vômito e diarréia se ingerido,
surfactantes, que intensificam a espuma e a o que é um problema, já que os sabonetes
solubilidade, compostos antimicrobianos, com “sabor de fruta” podem induzir as
tais como triclosan, e plastificantes, crianças a experimentá-los.7
conhecidos como ftalatos.4 Mais urgentemente, entretanto, a
Do mesmo modo que qualquer indústria, Associação Médica Americana e os Centros
a fabricação de sabonetes consome de Controle e Prevenção de Doenças
matérias-primas e energia, tais como (CCDs) estão advertindo contra o uso
combustíveis fósseis para aquecer caldeiras, doméstico de sabonetes antibacterianos,
gerando poluição atmosférica quando uma vez que esses produtos contribuem
queimados. Outros subprodutos incluem para o aumento de bactérias resistentes a
resíduos graxos sólidos e produtos medicamentos. A Organização Mundial de
químicos que podem escoar, poluindo os Saúde lançou uma campanha contra o uso
cursos d’água. Mas não precisa ser assim. indiscriminado de antibióticos, observando
Na Tunísia, uma indústria que fabrica que doenças como tuberculose, pneumonia
sabonetes a partir de resíduos da e malária revelaram-se resistentes a vários
prensagem do óleo de oliva instalou antibióticos comumente usados em seu
caldeiras eficientes e controla as emissões tratamento. O triclosan age destruindo as
de resíduos na atmosfera e na água – e a enzimas nas paredes da célula da bactéria e
fábrica vem economizando mais dinheiro, assim elas não podem se reproduzir; este
anualmente, do que o custo inicial de ataca a mesma enzima que o antibiótico
modernização.5 isoniazid, usado para o tratamento da
Além do efluente industrial, existe o tuberculose.8
problema do escoamento pelo ralo, após o Ademais, estudos demonstraram que os
banho, do sabonete usado. Um estudo do sabonetes antimicrobianos têm a mesma
U.S. Geological Survey, de 2002, constatou eficácia no combate aos germes que os
que substâncias químicas em medicamentos sabonetes comuns. “Constatamos que os
e detergentes – entre as quais triclosan e sabonetes antimicrobianos e
ftalatos – estão penetrando nos cursos antibacterianos não possuem nenhuma
d’água dos Estados Unidos em baixas qualidade superior aos sabonetes comuns”,
concentrações, através dos esgotos. Isso é declara Elaine Larson, professora Associada
preocupante, já que os níveis aceitáveis não da Faculdade de Farmácia da Columbia
foram estabelecidos para água potável para University e autora líder de um relatório do
a maioria dessas substâncias.6 National Institute of Health, de 1992, sobre
O triclosan e outros antimicrobianos o assunto. Os autores recomendam lavar as
suscitam questões preocupantes para a mãos com sabonete comum e água morna
saúde e o meio ambiente. A fabricação de após a ida ao sanitário e antes de preparar
triclosan pode criar dioxinas altamente os alimentos como o melhor modo de

80
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: SABONETES ANTIBACTERIANOS

prevenir resfriados e doenças transmitidas promocional e produtiva em todo o mundo.


pelos alimentos.9 “Os sabonetes e loções antibacterianos
Como também, apesar da obsessão devem ser destinados a pacientes doentes,
moderna pela limpeza, uma casa sem não a uma família sadia”, observou Dr.
nenhuma bactéria não é, necessariamente, Stuart Levy, da Alliance for Prudent Use of
uma boa coisa. Na realidade, pode ter um Antibiotics, da Universidade Tufts. Para
efeito oposto: um estudo recente chegou à conter a disseminação de germes nos
conclusão de que adolescentes que viveram hospitais, os CCDs aconselham que
em fazendas e eram regularmente expostos à profissionais de saúde usem gel com base
poeira e germes eram menos propensos a alcoólica para as mãos, pois não apresentam
asma e sintomas alérgicos do que os os mesmos riscos de resistência aos
adolescentes criados em outros ambientes antibióticos que os antimicrobianos. O gel
rurais. Pesquisadores sugerem que a pode também ser usado nos lares onde um
exposição a bactérias, fungos e poeira pode membro da família seja portador de AIDS ou
na verdade ajudar a fortalecer os sistemas outro problema do sistema imunológico.
imunológicos das crianças.10 Mas como esses produtos não podem
A solução? Os consumidores devem limpar a velha sujeira comum, eles não são
parar de comprar sabonetes e outros substitutos para o simples e velho
produtos de limpeza antimicrobianos, uma sabonete.11
atitude que pode eventualmente forçar a
indústria a reduzir a intensidade — Mindy Pennybacker, The Green Guide

81
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO

CAPÍTULO 4

Controlando Nossa
Alimentação
Brian Halweil e Danielle Nierenberg

Em meados dos anos 80, os cafeicultores selo de “comércio justo”, que garante aos
mexicanos informaram à organização ho- produtores de café um preço fixo acima
landesa de ajuda Solidaridad que mal con- dos níveis internacionais – um preço que
seguiam manter-se. Enquanto a fartura de cubra seus custos de produção e asse-
café no mercado mantivera baixos os pre- gure uma vida decente – e estabelece uma
ços do produto in natura, os programas série de outras condições sociais e
de ajuda internacional dos países industri- ambientais, desde o direito a se organiza-
alizados pouca utilidade tinham. Além dis- rem em cooperativas até certos requisi-
so, a Solidaridad soube que os produtores tos básicos de segurança. Em contraste
com o relacionamento injusto, em que o
e suas famílias adoeciam quando aplica-
bebedor de café aparentemente beneficia-
vam os fungicidas e outros agrotóxicos
se – embora involuntariamente – do so-
em voga em todo o mundo. Tudo isso
frimento do produtor, os compradores do
suportado em prol de cada xícara de ex-
café Max Havelaar pagam um pequeno
presso e cappuccino tomada pelos holan- ágio para assegurar uma vida melhor aos
deses, milhares de quilômetros de distân- produtores e comunidades no outro ex-
cia – e não por mexicanos.1 tremo do negócio.2
A Solidaridad reagiu, unindo-se com A idéia não era original. Já nos anos
outros grupos holandeses de ajuda para 50, grupos como Oxfam, no Reino Uni-
criar a Fundação Max Havelaar. (Max do, Ten Thousand Villages, nos Estados
Havelaar foi uma personagem escrupu- Unidos, e Stichting Ideele Import, na
losa de uma novela holandesa do século Holanda, ofereciam produtos dos países
XIX, que retratava a crueldade do trata- em desenvolvimento. Porém, a influên-
mento colonial nas Índias Orientais Ho- cia dessas “lojas do Terceiro Mundo” era
landesas.) A Fundação desenvolveu um limitada e o mercado pequeno.3

82
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO

A inovação efetiva da Max Havelaar Uma Revolução em


foi “introduzir alimentos de comércio jus-
to ao mercado de massa e operar com Cada Garfada
empresas comerciais”, de acordo com
Rita Oppenhuizen, que dirige as relações Naturalmente as pessoas não comem ape-
públicas da Fundação. Quinze anos após nas por uma questão de sobrevivência,
o primeiro pacote de café com o rótulo mas também para socializarem-se, por
Max Havelaar chegar ao porto de prazer e satisfação e definirem quem são.
Rotterdam, a marca pode ser encontrada Cada vez mais, as pessoas estão comen-
em pelo menos 90% dos supermercados do para fazer uma declaração política e
holandeses e detém uma participação de ajudar a mudar a forma como os produ-
mercado de 3%. A Câmara Baixa do Par- tores cultivam suas lavouras. Alimento
lamento, a maioria dos ministérios e qua- “justo” é apenas uma entre um crescente
se todos os governos provincianos ser- número de distinções que as pessoas hoje
vem o café Max Havelaar. Chocolate com utilizam para assegurar que seus hábitos
o rótulo Max Havelaar foi introduzido em alimentares não destruirão o planeta ou
1993 e é utilizado por quatro dos princi- os produtores. “Certificação orgânica”,
pais chocolateiros holandeses. O mel se- para frutas e legumes, “criado a pasto”,
guiu-se em 1995. As primeiras bananas para carne bovina, “pescado sustentavel-
certificadas pela Max Havelaar chegaram mente”, para frutos do mar, e “benéfico
em 1996 (e hoje representam 5% do mer- às aves”, para café, cacau e lavouras de
cado holandês), e o chá, em 1998. 4 florestas tropicais, são outros rótulos que
Mais recentemente, a noção de que os se vêem com mais freqüência hoje em
alimentos poderiam ser “justos” evoluiu dia. Os consumidores que procuram es-
ainda mais. Nos Estados Unidos, a United ses produtos não estão simplesmente
Fruit Workers desenvolveu uma campa- buscando uma promoção ou embalagem
nha de maçãs justas, que é um programa vistosa: são proativos e inquisitivos.
de colaboração entre trabalhadores rurais, Porém, essas distinções continuam à
produtores de maçã e supermercados para margem – apesar de uma cozinha de
assegurar aos trabalhadores nos poma- contestação em rápido crescimento, mas
res – muitos dos quais são imigrantes relativamente pequena – e a maioria das
recém-chegados – salário, direito de or- pessoas não estão prontas a se verem
ganização e acesso aos benefícios soci- como comedores ativistas nem como
ais básicos. Agricultores e a Associação conhecedores das origens íntimas de sua
do Solo no Reino Unido colaboram para próxima refeição. O aumento do comér-
estender a distinção “comércio justo” a cio internacional de alimentos e a proli-
produtos agrícolas locais, argumentan- feração de alimentos altamente proces-
do que os caprichos do mercado livre e a sados e embalados distanciaram ainda
consolidação do agronegócio causaram mais a maioria das pessoas daquilo que
às áreas rurais da Grã-Bretanha os mes- comem, tanto geográfica quanto psico-
mo danos provocados na África.5 logicamente. 6

83
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO

Mas, devido à humanidade destinar ta- A alta dependência de produtos quí-


manha parcela da superfície do planeta para micos, desde antibióticos e pesticidas até
a produção de alimentos – 25%, mais do fertilizantes e preservativos alimentícios,
que a área florestal mundial –, é impossível representa a maneira “convencional” de
separar a forma como os agricultores cul- produzir alimentos – ou seja, a maioria
tivam os alimentos da saúde de rios, áreas dos ministérios de agricultura, colégios e
alagadas, florestas e nosso ambiente de agências de extensão agrícola promovem
vida. De acordo com um relatório da União campos de monocultura e um coquetel
de Cientistas Engajados, nossas escolhas correspondente de produtos químicos.
alimentares equiparam-se aos transportes Os agricultores aceitam exporem-se a
como a atividade humana com maior im- agrotóxicos como um risco inevitável que
pacto sobre o meio ambiente. Um estudo gostariam de não assumir, e os consumi-
europeu constatou que o consumo de ali- dores aceitam os resíduos desses tóxi-
mentos é responsável por 10 a 20% do cos como uma realidade infeliz que gos-
impacto ambiental do domicílio médio. tariam de esquecer. Muitos dos riscos
Quando Annika Carlson-Kanyama, da Uni- suportados por agricultores, consumido-
versidade de Estocolmo, comparou o vo- res e empresas alimentícias estão envol-
lume de emissões de gás de estufa gerado vidos na mesma síndrome de consumo
por diferentes opções alimentares, verifi- conspícuo que permeia outros aspectos
cou que uma refeição rica em carne, com da economia. (Vide Capítulo 1.) Por
ingredientes importados, emite nove vezes exemplo, os defensores de lavouras
mais carbono que uma refeição vegetaria- transgênicas, freqüentemente criadas para
na feita com ingredientes produzidos local- combinar o material genético de espéci-
mente, que não precisam ser transporta- es totalmente não-relacionadas que não
dos a longas distâncias.7 se reproduziriam naturalmente, sugerem
Não importa o que se adquira, seja a pes- que essas lavouras são essenciais para
ca marinha chilena de traineiras industriais ajudar a alimentar a crescente população
que varrem os peixes dos oceanos, maçãs global e baixar os preços dos alimentos.
impregnadas de pesticidas transportadas do Quaisquer riscos advindos dessa última
outro lado do planeta ou carne criada em geração de tecnologia agrícola, eles ar-
fábricas gigantescas inchadas com esterco, gumentam, são superados pelos benefí-
muitas compras de alimentos hoje susten- cios de mais alimentos, e alimentos mais
tam formas destrutivas de agricultura. (Vide baratos. (Atualmente, essa tecnologia é
Quadro 4-1.) Para as pessoas que vivem em utilizada não para alimentar os famintos,
nações ricas, onde não há fome generaliza- mas principalmente para cultivar milho e
da, a ubiqüidade e a modicidade mascaram soja para ração de gado e o crescente
muitos desses problemas. O “charme” as- apetite humano por carne.)9
sociado a alimentos de luxo também enco- Talvez o exemplo mais evidente de
rajou os ricos a fecharem os olhos ao modo consumo em desordem no suprimento de
como tais itens chegam às suas mesas. (Vide alimentos seja as cinturas mais largas e o
Quadro 4-2.)8 aumento perturbador da obesidade, que

84
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO

QUADRO 4-1. VARRENDO OS MARES

Frotas industriais já pescaram pelo menos também desaparecerão os milhões de


90% de todos os grandes predadores comunidades e empresas que dependem deles
oceânicos – atum, marlim, peixe-espada, para alimento e renda.
tubarões, bacalhau, halibut, arraias e linguados A solução para esse problema, dizem os
– só nos últimos 50 anos, conforme um estudo técnicos, exige cooperação internacional. Em
em Nature, em 2003. “Somos tão bons na 2002, na Cúpula Mundial sobre
matança”, diz o pesquisador sênior da Desenvolvimento Sustentável, 192 nações
Universidade Dalhousie, no Canadá, Ransom assinaram um acordo voluntário para restaurar
Myers, “que nem sabemos quanto já os estoques pesqueiros à sua produção
perdemos”. De acordo com oceanógrafos não- máxima sustentável até 2015. Isso significará
ligados ao estudo, essa pesquisa fornece a reduzir a porcentagem de peixes mortos
“melhor evidência até agora de que as recentes anualmente, através da redução de cotas, corte
colheitas de peixe têm sido sustentadas e de subsídios, redução do bycatch (pescado
mantidas em níveis altos apenas porque as indesejado que é descartado por não ser
frotas têm buscado e explorado economicamente viável) e criação de redes de
agressivamente populações de peixes cada vez reservas marinhas para proteção de estoques
mais distantes”. pesqueiros.
O uso generalizado de traineiras possantes Em âmbito local, organizações
(imensos barcos que raspam, literalmente, o conservacionistas marinhas estão ajudando os
fundo do oceano) e outros que arrastam consumidores a identificarem peixes
linhas com anzóis com vários quilômetros de sustentáveis nos mercados e restaurantes
extensão, tem sido uma receita mortal para a locais, fornecendo fichas práticas de
maioria dos grandes peixes predadores informação. De tamanho adequado para caber
mundiais. Quando esses predadores numa carteira, essas fichas fornecem uma
desapareceram dos oceanos, peixes menores relação abreviada de opções de espécies
conseguiram incrementar suas populações, ecologicamente amigáveis. A Seafood Choices
porém só por pouco tempo, até que elas, Alliance, uma coalizão de chefs, hoteleiros,
também, foram pescadas excessivamente. São atacadistas, varejistas e pescadores, foi um
aqueles peixes maiores, conforme Boris passo além. Está incentivando os restaurantes,
Worm, co-autor do Instituto de Ciências hotéis e mercados a não venderem espécies
Marinhas da Alemanha, que “valorizamos que estão em declínio.
mais” por seus serviços ao ecossistema e à __________________________________________
economia. E se os peixes desaparecerem, FONTE: vide nota final 8.

está se tornando uma epidemia, não ape- é a tendência cada vez maior de as em-
nas nas nações mais ricas, mas nos cen- presas de alimentos, em busca de clien-
tros urbanos de países pobres também. tes, inundarem a mídia com publicidade e
Nutricionistas, psicólogos e defensores de tornarem os alimentos tão ubíquos quan-
consumidores concordam que pelo menos to possível – uma combinação que torna a
uma das causas da epidemia de obesidade gula quase inevitável.10

85
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO

QUADRO 4-2. ALIMENTOS DE LUXO


Do “foie gras” às barbatanas de tubarão e ao não mais se reproduza na natureza. Só os
caviar, os consumidores em todo o mundo americanos importam mais de 40.000 quilos
sempre almejaram alimentos raros e de caviar por ano –
exóticos, como símbolos de riqueza e representando mais de 40% das vendas
charme. Pagam caros por eles, apesar do seu mundiais – apesar do preço de US$ 2.000
valor nutricional, às vezes, marginal: o por quilo.
comércio de US$ 57 bilhões de café, cacau, Pescadores também chegam a matar 100
vinho e fumo vale mais do que o comércio milhões de tubarões a cada ano para
internacional de grãos. O crescimento das alimentar o apetite mundial por carne de
classes consumidoras em países como a tubarão e sopa de barbatana de tubarão –
China e Índia significa que mais pessoas em uma iguaria na China desde 960 d.C., e hoje
todo o mundo têm acesso a esses alimentos. venerada na cozinha chinesa em todo o
A distinção desses itens advém, em parte, mundo. Os caçadores capturam e cortam as
do seu alto preço e escassez, embora isso barbatanas com os tubarões ainda vivos,
invariavelmente mascare as condições lançando-os de volta ao mar, onde morrem
brutais e ecologicamente desastrosas por afogados ou de hemorragia. Na Ásia, os
trás da produção. comerciantes podem chegar a oferecer 30–40
Consideremos o “patê de foie gras”. espécies diferentes e podem vender as
Embora os franceses consumam 90% de barbatanas até a US$ 400 por quilo. Mas,
todo o “foie gras”, este é considerado uma do mesmo modo que o esturjão, os tubarões
iguaria por consumidores ricos em todo o reproduzem-se lentamente e a pesca
mundo. O nome, que significa literalmente predatória está provocando uma queda
fígado gordo, dá pouca indicação de como é rápida em seus estoques.
produzido. O “foie gras” é feito forçando Grupos de proteção aos animais,
patos e gansos a ingerirem grandes volumes ecólogos, biólogos marinhos, chefs e outros
de alimento através de tubos. Isso faz seus grupos interessados estão envidando
fígados crescerem de forma anormal – esforços para proibir e estigmatizar certos
chegam a pesar mais de 10 vezes o tamanho tipos de cozinha de luxo e, em termos mais
de um fígado normal de aves – sem falar na gerais, tentar fazer com que as pessoas
série de outros problemas de saúde, reflitam antes de comer. Defensores do bem-
incluindo hemorragia hepática, lesões na estar dos animais fazem campanhas para
garganta e até mesmo asfixia. que os restaurantes e chefs nos Estados
O comércio global do caviar afetou o bem- Unidos e Grã-Bretanha retirem o “foie gras”
estar animal de forma diferente. Caviar é a de seus cardápios. Na Holanda, os chefs
ova não-fertilizada da fêmea do esturjão e, voluntariamente fizeram isso (embora os
mais recentemente, do salmão, da espátula e fregueses ainda peçam), e outros países
outras espécies que se popularizaram proibiram a alimentação forçada de patos e
quando as populações do esturjão gansos. A Convenção sobre o Comércio
encolheram. Pesca predatória, perda de Internacional de Espécies da Fauna e Flora
habitat, poluição e as lentas taxas de Silvestre Ameaçadas de Extinção solicitou o
reprodução desses grandes peixes estabelecimento de cotas mais rígidas de
contribuíram para o declínio mais marcante pescado e exportação, como também um
nos estados da ex-União Soviética no Mar sistema universal de rotulagem de caviar.
Cáspio, fonte de mais de 90% da ova do Órgãos internacionais também empenham-
esturjão. Técnicos pesqueiros especulam se na proibição da prática destrutiva de
que todas as espécies de esturjão estão sob coleta de barbatanas de tubarões.
algum tipo de ameaça de extinção; o esturjão _________________________________________
beluga, a fonte mais famosa de caviar, talvez FONTE: vide nota final 8.

86
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO

Parte do papel evolutivo do consumi- Boicotes de empresas de alimentos e de


dor incluirá entender que – embora possa produtos, movimentos lobistas de comu-
parecer polêmico – o alimento barato pode nidades locais contra certos pesticidas e a
nem sempre ser desejável, particularmente seleção de vários alimentos com selo eco-
quando o preço marcado não reflete os lógico são exemplos do poder que os con-
subsídios que os governos concedem a sumidores podem exercer para influenciar
produtores ou o custo da limpeza dos pro- a agricultura.
blemas ambientais causados pela agricul- À primeira vista, forçar gigantes do
tura. Pesquisas recentes na Alemanha, Es- agronegócio a mudar pode parecer uma
tados Unidos e Reino Unido revelam que fantasia; todavia, a McDonald’s recente-
as pessoas pagam bilhões de dólares, anu- mente, respondendo às preocupações de
almente, para limpar a poluição e lidar com ativistas de direitos animais e ambientalistas,
os outros custos associados à agricultura encorajou seus fornecedores a mudarem
moderna: desde a remoção de pesticidas da certas práticas industriais. E Kraft, a maior
água potável, passando pelos reparos aos empresa de alimentos do mundo, anunciou
danos da erosão do solo, até a perda de planos para parar com sua publicidade
aves e outras vidas silvestres.11 dirigida às crianças, reduzir o tamanho de
Preços artificialmente baixos também suas porções e eliminar alguns dos seus
mascaram o fato de que alimentos cultiva- produtos mais nocivos à saúde. William
dos na vizinhança e consumidos sazonal- Vorley, do Instituto Internacional para o
mente podem ser, quase sempre, mais bara- Meio Ambiente e Desenvolvimento, argu-
tos e mais sadios do que os alimentos culti- menta que o alto nível de concentração do
vados e transportados de milhares de quilô- agronegócio, em que apenas um punhado
metros de distância. Por exemplo, levanta- de grandes empresas controlam cada eta-
mentos realizados no sudoeste da Inglaterra pa da cadeia alimentar, pode na realidade
revelaram que alimentos vendidos em cen- facilitar esse tipo de ativismo, uma vez que
trais de abastecimento e através de esque- os alvos são relativamente poucos e óbvi-
mas de entregas diretas das fazendas – in- os. Essa lógica ajudou a deslanchar o pro-
clusive frutas, legumes, carne, ovos e pro- jeto “Corrida ao Topo”, para “direcionar as
dutos com certificação orgânica – eram, em poucas redes de supermercados que do-
média, 30–40% mais baratos do que os mes- minam o mercado nos Estados Unidos para
mos produtos nos supermercados locais.12 um sistema alimentar mais verde e justo”.
Embora os executivos das empresas de A concentração “torna os varejistas mais
alimentação e economistas freqüentemente sensíveis às campanhas desenvolvidas em
apontem a demanda do consumidor por torno da ética, segurança ou meio ambien-
alimentos baratos como o motivador bási- te”, observa Vorley, porque nenhuma rede
co da forma como cultivamos, os consu- deseja aparecer como a menos ética pe-
midores causaram pouco impacto direto rante o grande público.13
sobre a forma como a produção de alimen- Embora estas pareçam ações isoladas de
tos evoluiu. Entretanto, isso não quer dizer consumidores, objetivam assumir o contro-
que os consumidores não tenham força. le de como o alimento é produzido e afastar

87
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO

o sistema global de alimentos de sua trajetó- comida, brincar e aninhar-se, mas a carne
ria atual. As manifestações locais dessa “de- que produzem é mais sadia e saborosa do
mocracia alimentar” serão naturalmente di- que a produzida em fazendas industriais.14
ferentes em todo o mundo, e as motivações Uma vez que os porcos se dão bem sob
nem sempre serão humanitárias, mas inclui- essas condições mais naturais, Willis pode
rão preocupações mais egoístas como sa- criá-los sem uso de antibióticos e
bor, segurança alimentar, saúde pessoal e a estimuladores de crescimento, o que reduz
preservação de espaços abertos. As ofertas seus custos. E em vez de vender a carne
nos supermercados comuns são, obviamen- para uma das grandes empresas que con-
te, infindáveis. Mas algumas das mudanças trolam a maior parte da produção suína dos
mais profundas que os “comedores” podem Estados Unidos – Smithfield ou IBP –,
Willis comercializa sua carne através do
fazer incluem repensar sua relação com a
Niman Ranch, uma empresa da Califórnia,
carne vermelha, selecionar alimentos pro-
formada em 1982 para distribuir carne de
duzidos sem agrotóxicos e comprar alimen-
animais criados humanitariamente aos con-
tos produzidos localmente. A carne repre-
sumidores e restaurantes.15
senta o segmento mais intensivo em recur- Willis é parte de um movimento cres-
sos da nossa dieta; agrotóxicos mantêm os cente de criadores e consumidores para
produtores atados a uma paisagem agrícola devolver os rebanhos de volta às suas
monótona; e os alimentos locais represen- raízes. Embora a mudança possa parecer
tam a melhor esperança de devolver o poder antiquada, produtores que criam animais ao
tanto para as pessoas que cultivam os ali- ar livre – e consumidores que adquirem a
mentos como àqueles que os consomem. carne rotulada como “alimentada a pasto”
ou free-range – estão ajudando a limpar o
Da Fazenda à Fabrica – e que se tornou o setor mais ecologicamente
destrutivo e insalubre da produção animal.
de Volta à Fazenda (Vide Figura 4-1.) A produção global de
carne quintuplicou desde 1950, e a fazen-
Como a maioria dos suínos no Centro-Oeste
da industrial é o método de produção com
dos Estados Unidos, as mais de 200 por- o crescimento mais acelerado em todo o
cas criadas na fazenda de Paul Willis, em mundo. Sistemas industriais são responsá-
Iowa, adoram comer milho. Mas os ani- veis por 74% da produção mundial de aves,
mais de Willis têm uma dieta e estilo de vida 50% da produção suína, 43% da bovina e
muito diferentes dos outros 15 milhões de 68% da produção de ovos. Os países in-
porcos criados no estado. Juntamente com dustrializados dominam a produção, mas
os grãos que comem diariamente, os por- as nações em desenvolvimento estão ex-
cos de Willis pastoreiam em campos, não pandindo-se rapidamente e intensificando
estando confinados nas fábricas de con- seus sistemas produtivos. De acordo com
creto que dominam a produção suína ame- a Organização das Nações Unidas para Ali-
ricana. Os animais de Willis não só têm a mentos e Agricultura (FAO), a Ásia possui
oportunidade de exibir seus comportamen- o setor pecuário de maior desenvolvimen-
tos naturais e instintivos, como fuçar por to, depois da América Latina e Caribe.16

88
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO

Ração INSUMO PRODUTO Esterco


• Uma caloria de carne • Esterco da atividade suína
bovina, suína ou de ave intensiva armazenado em
necessita de 11– 17 lagoas pode infiltrar na
calorias de ração. água subterrânea ou poluir
• 95% da safra de soja é águas superficiais vizinhas.
consumida por animais, e Metano
não pessoas. • Gado com flatulência
• Ração contendo farelo de emite 16% da produção
carne e osso pode causar a mundial de metano, um
doença da vaca louca, que poderoso gás de estufa.
afetou milhares de cabeças Doença
de gado nos países • O consumo de produtos
industrializados. animais com alto teor de
Água gordura saturada e
• A produção de 8 onças de colesterol está ligado ao
carne bovina requer câncer, doenças cardíacas e
25.000 litros de água. outras doenças crônicas.
Aditivos • As condições das
• Vacas, porcos e frangos fazendas industriais podem
recebem 70% de todas as disseminar E. coli,
Salmonella e outras
drogas antimicrobianas dos
patogenias veiculadas pelos
Estados Unidos.
alimentos.
Combustíveis Fósseis • A doença de Creutzfeldt-
• Uma caloria de carne Jakob, variante humana da
bovina consome 33% mais doença da vaca louca,
energia de combustível matou pelo menos 100
fóssil do que uma caloria pessoas.
de energia da batata. Fonte: vide nota final 16.

Figura 4-1. Carne Industrial: Insumos e Produtos

Alguns podem argumentar que a pro- Todavia, é questionável se o sistema que


dução moderna de carne é a única maneira fornece toda essa carne poderá persistir,
de atender ao apetite crescente por ela em uma vez que aumentam suas deficiências e
todo o mundo. Em 2020, as populações dos prosperam alternativas como vegeta-
países em desenvolvimento consumirão rianismo e carne criada em pasto.17
mais de 39 quilos per capita – o dobro do Os problemas em cascata das fazendas
que se comia nos anos 80. Nos países in- industriais começam com as condições res-
dustrializados, todavia, as pessoas ainda tritas e a alimentação do confinamento. Va-
consumirão o maior volume de carne – 100 cas são ruminantes, o que significa que di-
quilos por ano em 2020, ou o equivalente à gerem gramíneas, leguminosas e resíduos
lateral de um boi, 50 frangos e 1 porco. agrícolas. Mas sua ração em confinamento

89
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO

consiste de um misto de milho e soja, já que mento e disseminação de microorganismos


vacas e outros animais sob essa dieta po- na carne, uma vez que freqüentemente
dem adquirir peso rapidamente – e gado mais chegam aos matadouros cobertos de fe-
gordo obtém maior preço. Embora muitos zes. “O problema”, de acordo com
consumidores tenham se adaptado ao sa- Langford, “não está no consumidor cui-
bor, textura e aparência da carne industrial dar bem do que come, e sim... no proces-
entremeada de gordura, esse gado alimenta- so industrial do alimento”.20
do a grãos tem vários custos ocultos. Em Esses tipos de inovações e tecnologias
primeiro lugar, as vacas tendem a sofrer de das fazendas industriais modernas têm o
inchaço, acidose, abscessos hepáticos, ga- potencial de causar desastres na segurança
ses e outros sintomas dessa dieta rica. Se- alimentar. Por exemplo, a encefalopatia
gundo, a dieta padrão nas fazendas industri- espongiforme bovina (BSE, conhecida
ais tem sido ligada também à disseminação como doença da vaca louca) é causada por
de patogenias transmitidas por alimentos, um vírus transmitido pela ração feita com
como Escherichia coli 0157:H7, que pode resíduos de outros ruminantes, podendo ser
contaminar a carne ou legumes, se o ester- disseminado para seres humanos que con-
co bruto for utilizado como adubo. Verifi- sumam a carne contaminada. Desde seu
cou-se que a dieta de grãos também enco- surgimento no Reino Unido, em 1986, a
raja o desenvolvimento do micróbio nocivo BSE tem sido detectada em 33 países, e
no estômago da vaca, enquanto uma dieta autoridades sanitárias calculam que 139
gramínea elimina o micróbio.18 pessoas em todo o mundo sucumbiram à
Essa é uma das razões por que os reba- doença de Creutzfeldt-Jakob, variante da
nhos são alimentados com níveis baixos de doença em seres humanos.21
antibióticos. Nos Estados Unidos, o gado Igualmente, surtos de gripe do frango
bovino consome oito vezes mais antibióti- em granjas abarrotadas de galinhas em
cos por volume do que os seres humanos. Hong Kong, durante os últimos cinco anos,
De acordo com a Organização Mundial de provocaram o abate maciço de milhares de
Saúde e a FAO, o uso generalizado dessas frangos. A doença saltou a barreira das es-
drogas na pecuária está ajudando a criar pécies pela primeira vez em 1997, matan-
micróbios resistentes a antibióticos e difi- do 6 das 18 pessoas contaminadas. Em
cultando o combate a doenças tanto em 2003, a gripe do frango disseminou-se en-
animais quanto em seres humanos. Porém, tre seres humanos novamente, matando
as condições amontoadas e insalubres en- duas pessoas. Dr. Gary Smith, da Facul-
fraquecem ainda mais os animais e dade de Medicina Veterinária, da Universi-
Salmonella, E. coli e outras doenças mor- dade da Pensilvânia, alerta que essa e ou-
tais podem disseminar-se rapidamente num tras doenças continuarão a disseminar-se,
rebanho pouco saudável.19 porque “a forma moderna de criação en-
Animais criados em condições de ajun- volve maior deslocamento de animais en-
tamento, diz Ian Langford, da Universida- tre fazendas do que no passado... O pro-
de de East Anglia, encoraja o desenvolvi- blema é que a pecuária opera em âmbito

90
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO

global, nacional e regional”. A recente epi- menos carne, é pouco provável que os
demia de aftosa no Reino Unido é um exem- grãos não-utilizados cheguem a bocas fa-
plo perfeito de como umas poucas vacas mintas, mas significa efetivamente que ha-
podem disseminar a doença através de uma verá consideravelmente menor pressão so-
nação inteira.22 bre terras agrícolas para cultivar gigantes-
Além das quebras na segurança alimen- cas monoculturas de milho e soja.24
tar, nutricionistas constatarem que o gado A reversão dos problemas de saúde e
alimentado com grãos não é tão sadio quan- ambientais causados por nosso apetite por
to o alimentado com capim. Animais con- carne moderna significará consumir me-
finados acumulam ácidos graxos Ômega 6 nos produtos animais. Animais criados em
(a má gordura), que estão ligados ao cân- pastos não se desenvolvem com a mesma
cer, diabetes, obesidade e distúrbios velocidade que os animais confinados, e as
imunológicos. Em contraste, a carne ali- pastagens sustentarão menos animais do
mentada a pasto contém ácidos graxos que podem ser espremidos em confi-
Ômega 3, como aqueles encontrados em namentos. Mas a demanda pela carne está
peixes gordurosos, que ajudam a reduzir o crescendo, especialmente no mundo em
colesterol. Além disso, produtos alimenta- desenvolvimento, onde o aumento da ren-
dos a pasto têm níveis mais altos de ácido da e desenvolvimento urbano estão mudan-
limoléico conjugado, que pode bloquear o do os hábitos alimentares. De acordo com
desenvolvimento de tumores e reduzir o David Brubaker, ex-vice-presidente execu-
risco de obesidade e outras doenças.23 tivo e presidente do Conselho da PennAg
Essas razões de saúde motivaram mui- Industries, as pessoas nas nações em de-
tas pessoas a preferirem carnes alimenta- senvolvimento não têm o luxo da escolha
das a pasto, sem antibióticos, hormônios entre carnes alimentadas a pasto ou orgâ-
ou qualquer outro insumo utilizado em fa- nicas. Em vez disso, galgam a escada
zendas industriais. Mas as pessoas que li- protéica e seguem o mau exemplo de pro-
mitaram seu consumo de carne podem tam- duzir e consumir produtos animais de bai-
bém estar interessadas nas implicações eco- xa qualidade impostos pelos Estados Uni-
lógicas de retornar os animais ao pasto. De dos e outros nações de fast-food. Coibir
acordo com o cientista canadense Vaclav esse apetite significará encorajar as nações
Smil, alimentar os animais com grãos é em desenvolvimento a preservarem os
“altamente ineficiente e um uso absurdo de métodos tradicionais de criação de gado,
recursos”. A produção de apenas uma ca- que tanto sustentam as economias locais
loria de carne – bovina, suína ou aviária – como enriquecem o meio ambiente.25
requer 11–17 calorias de ração, conforme Os insumos ineficientes das fazendas
Smil, enquanto animais criados em pastos industriais são espelhados nos produtos
quase não precisam de grãos. Conseqüen- ineficientes em termos de dejetos. Quando
temente, uma dieta com alto teor de carne dejetos do gado são utilizados para adubar
alimentada a grãos poderá exigir duas a lavouras, enriquece o solo e é a parte es-
quatro vezes mais terra do que uma dieta sencial de uma fazenda sadia – uma das
vegetariana. Quando as pessoas comem razões principais de os agricultores em todo

91
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO

o mundo criarem animais. Todavia, o dejeto galpões. Também achou um nicho no mer-
produzido por milhares de animais em cado filipino ao oferecer aos consumido-
confinamento geralmente excede a área de res o gosto de antes. Suas galinhas são parte
terra disponível para manejá-lo. Assim, o nativas e parte Sasso (uma raça francesa),
esterco transforma-se de valioso recurso mais adaptadas ao clima das Filipinas, con-
agrícola para resíduo tóxico. O esterco trariamente às brancas, que se ressentem
contém nitratos, que em altas concentra- do calor. As galinhas de Inocêncio não são
ções podem causar metemoglobinemia apenas criadas sem agressividade, mas são
(síndrome do bebê azul), câncer, flores- nutritivas e de bom sabor. Têm apenas 5%
cência de algas e eutrofização de águas de gordura, em comparação a 35% das
superficiais. As lagoas utilizadas para ar- brancas, e não contêm antibióticos.27
mazenar resíduos líquidos também são A criação de espaço e mercado para
vulneráveis a desastres naturais, como acon- esses tipos de granjas requer, às vezes,
teceu na Carolina do Norte, quando rom- mais do que ações dos produtores. Na
peram durante o Furacão Floyd, em 1999, Polônia, onde quase todas as granjas cri-
poluindo quilômetros de cursos d’água com am alguns porcos alimentados a capim ou
excremento e causando uma mortandade feno, grandes corporações de carne já
maciça de peixes.26 começaram a instalar-se. Animex, a sub-
Agricultores que começam a ter uma sidiária polonesa da Smithfield, o maior
percepção diferente do papel dos animais produtor mundial de carne suína, tem pla-
freqüentemente usufruem uma série de nos de transformar parte das terras pro-
benefícios inesperados. Nas Filipinas, dutivas mais ricas do país em áreas de
Bobby Inocêncio mudou a forma de mui- confinamento animal (ACAs), como as
tos filipinos produzirem e consumirem fran- que ponteiam as paisagens dos estados de
go. Anteriormente um produtor industrial, Carolina do Norte e Iowa, nos Estados
Inocêncio criou frangos brancos para Pure Unidos. Todavia, ativistas do Animal
Foods, uma das maiores empresas das Fi- Welfare Institute, dos Estados Unidos,
lipinas, seguindo o modelo padrão de es- uniram-se a Andrzej Lepper, diretor do
premer dezenas de milhares de aves em Sindicado dos Fazendeiros da Polônia, em
galpões apinhados de gaiolas. Mas em 1997 oposição à tentativa da Smithfield de as-
ele decidiu revitalizar empreendimentos sumir a indústria suína polonesa. Ao de-
avícolas locais que sustentam fazendas fa- monstrar aos produtores poloneses como
miliares. Começou a criar galinhas caipiras as ACAS destruíram muitas fazendas pe-
e a ensinar a outros criadores como fazer quenas de gado nos Estados Unidos, es-
o mesmo. Suas aves circulam livremente peram convencê-los, e ao governo polo-
em áreas arborizadas em sua propriedade, nês, a resistir à agricultura corporativa.28
cercadas com redes de pesca recicladas. E Essas coalizões estão motivando algu-
sua fazenda é lucrativa – em parte, porque mas corporações a mudarem seus concei-
seus custos por ave são sensivelmente tos sobre como a carne é produzida. Em
menores: nenhum antibiótico, promotores 2002, cedendo à pressão de grupos de di-
de crescimento, rações caras ou imensos reitos animais e saúde pública, a McDonald’s

92
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO

anunciou que não mais compraria ovos de nível aceitável. Desde os anos 50, o Minis-
frangos confinados e forçados à postura de tério de Agricultura e o Ministério de Pro-
ovos adicionais por inanição – práticas já teção Ambiental da Lituânia vêm esforçan-
proibidas na Europa, mas ainda permitidas do-se para reduzir as taxas de aplicações
nos Estados Unidos. Em 2004, a McDonald’s de fertilizantes e pesticidas na região norte
exigirá que seus fornecedores não utilizem de Karst, epicentro agrícola do país, onde
antibióticos para promover o crescimento e a água subterrânea tinha tornado-se alta-
dará preferência a fornecedores indiretos que mente contaminada. E em 1993 começa-
não os utilizem.29 ram a encorajar os agricultores a abrirem
Uma vez que a McDonald’s é um dos mão de produtos químicos.31
maiores compradores de frango dos Estados Ofereceram aulas de produção orgâni-
Unidos, a decisão da empresa de mudar seus ca, prestaram apoio técnico no campo e re-
padrões terá um efeito dominó em toda a in- muneraram os agricultores nos primeiros
dústria de carne. Wendy’s, Burger King e anos de conversão. O programa cresceu de
Kentucky Fried Chicken contrataram recen- 9 fazendas com certificação orgânica em
temente especialistas em bem-estar animal 1993 para 106 em 1998, e depois para 290
para pesquisarem e desenvolverem novos em 2001, cobrindo 6.469 hectares, junta-
padrões, a fim de assegurar melhor bem-es- mente com 8 empresas de processamento
tar animal. O Banco Mundial também mudou orgânico certificadas e 11 outras empresas
seus critérios de financiamento de projetos com certificação orgânica. Esse setor ainda
representa uma pequena fração da área e
pecuários de porte nas nações em desenvol-
mercado totais do país. Não obstante, as
vimento. Em 2001, o Banco declarou que à
taxas de contaminação da água subterrânea
medida que o setor cresce “há um perigo sig-
nas comunidades vizinhas às fazendas con-
nificativo de exclusão dos mais pobres, ero- vertidas caíram substancialmente, e a po-
são do meio ambiente e ameaça à segurança pulação local desfruta uma nova fonte de
alimentar global”. Prometeu adotar uma alimentação, livre de produtos químicos.32
“abordagem focada nas pessoas” para proje- Outras regiões em todo o mundo tam-
tos de desenvolvimento pecuário que redu- bém utilizam a agricultura orgânica para
zam a pobreza, protejam a sustentabilidade evitar a poluição da água subterrânea.
ambiental, assegurem segurança alimentar e Desde 1992, autoridades municipais em
promovam o bem-estar animal.30 Munique e Leipzig vêm oferecendo incen-
tivos financeiros a agricultores que ado-
Alimentos sem Poluição tem métodos orgânicos, tendo constata-
do a queda dos níveis de nitrato na água
Há apenas poucos anos, beber água na subterrânea não-tratada de mais de 40
Lituânia era um risco de saúde pública. Em miligramas por litro, nos anos 80, para
algumas regiões as concentrações de ni- menos de 26 miligramas em 1996. As con-
trato, um subproduto de fertilizantes, ve- cessionárias nessas cidades alemãs não
nenoso em altas doses, estavam muito aci- apenas remuneram e prestam consultoria:
ma dos limites de segurança – seis vezes o a empresa de água de Munique assessora

93
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO

a comercialização de produtos orgânicos é apenas uma reação às fazendas industri-


cultivados em seu distrito e só serve pro- ais. É uma forma mais sadia da humanida-
dutos orgânicos locais em sua cantina. (As de produzir alimentos. À medida que for
autoridades calculam que o total gasto até aumentando o custo da agricultura intensi-
hoje é apenas um sétimo do que teriam va em produtos químicos, uma abordagem
despendido em nova tecnologia de purifi- mais orgânica à agricultura poderá ser a
cação e processamento da água.)33 única opção.35
Como esses órgãos governamentais O interesse público em alimentos orgâ-
constataram, embora os produtos orgâni- nicos já elevou as vendas globais a cerca
cos sejam mais caros nos mercados – re- de US$ 23 bilhões em 2002, um aumento
sultado, dizem os analistas, de distribui- superior a 10% em comparação ao ano an-
ção e comercialização limitadas –, o culti- terior, conforme a Organic Monitor, uma
vo orgânico pode efetivamente ser mais empresa de consultoria que acompanha a
barato que várias outras formas. Pesqui- indústria. Agricultores, da Austrália à Ar-
sadores da Universidade de Essex verifi- gentina, cultivam lavouras orgânicas em
caram que o custo de remover pesticidas quase 23 milhões de hectares, e muitos
da água potável na Inglaterra é equivalen- outros cultivam sem agrotóxicos, por es-
te a um quarto do que os agricultores pa- colha ou necessidade, mas não são certifi-
gam pelos produtos químicos. Também cados como orgânicos. A América do Nor-
calcularam que a agricultura orgânica cus- te e Europa ainda são responsáveis pela
ta à sociedade um terço, em termos de maior parte das vendas, embora os merca-
poluição por pesticidas, erosão e outras dos estejam crescendo rapidamente em to-
conseqüências, do que a agricultura não- das as regiões. (Vide Figuras 4-2 e 4-3.)36
orgânica. Um estudo nas Filipinas com- Alguns dos maiores obstáculos à disse-
provou que os custos à saúde dos agri- minação contínua da agricultura orgânica
cultores devido à aplicação de pesticidas tendem a ser conceituais. Muitos produto-
– dias de afastamento por doença, con- res, pesquisadores agrícolas e pessoas que
sultas médicas e medicação – excederam fazem as políticas agrícolas simplesmente
o valor das lavouras salvas de pragas, sem acreditam que cultivar com pouco, ou ne-
falar no custo dos próprios pesticidas.34 nhum, produto químico não seja viável em
Uma vez que o escoamento de larga escala. É verdade que os agricultores
agrotóxicos perturba ou simplesmente mata que realizam a conversão para a produção
os organismos benéficos que vivem no solo, orgânica freqüentemente enfrentam queda
córregos, lagos e cursos d’água, não é de de produção nos primeiros anos, enquanto
surpreender que estudos em todo o mundo a qualidade e vida do solo e populações de
tenham comprovado que as fazendas or- insetos recuperam-se de anos de assalto
gânicas abrigam um número e uma diver- com produtos químicos. Pode levar várias
sidade maiores de aves, insetos, plantas sil- safras para refinar a nova abordagem. E,
vestres, minhocas e outras espécies do que devido à ênfase na diversidade de culturas
as fazendas não-orgânicas vizinhas. Em como meio de reduzir os problemas de pra-
outras palavras, a agricultura orgânica não gas, as fazendas orgânicas não cultivarão

94
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO

a mesma lavoura a cada ano, dificultando a tudos demonstraram que a agricultura or-
competição com outras fazendas na pro- gânica pode ser igualmente produtiva e,
dução total de uma única cultura. Mas es- geralmente, mais lucrativa.37

Canadá (US$ 850 milhões)


Japão (US$ 350 milhões)
Resto do Mundo (US$ 725 milhões)

Estados Unidos
(US$ 11 bilhões)
Alemanha (US$ 2,8 bilhões)

Reino Unido (US$ 1,6 bilhão)


Outros
Europeus
(US$ 3,2 bi) Itália (US$ 1,2 bilhão)
Fonte:
França (US$ 1,2 bilhão)
IFOAM

Figura 4-2. Vendas Globais de Alimentos Orgânicos,


Cerca de 2002

Milhões de hectares
12
Fonte: IFOAM

10

0
a

lia

s
ido

ai

ina
a

á
nça
a

ha
ido

nad
áli

tin

anh
ugu

pan
Itá

Ch
Un

Fra
str

gen

Un

Ca
em
Ur
Au

Es
ino
Ar

Al
do

Re
ta
Es

Figura 4-3. Principais Plantios Nacionais em Área


Orgânica Certificada, Cerca de 2002

95
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO

Uma pesquisa recente, comparando pro- agricultura orgânica, difíceis de quantificar


duções orgânicas e não-orgânicas em es- em termos monetários, são ingredientes
tações de pesquisa agrícola nos Estados essenciais em qualquer comparação”. Nick
Unidos, constatou que produções orgâni- Parrott, da Universidade de Cardiff, que
cas de milho representaram 94% da pro- recentemente avaliou o potencial da agri-
dução convencional; trigo orgânico, 97% cultura orgânica no mundo em desenvol-
e soja, 94%; tomates orgânicos não mos- vimento, encontrou inúmeros exemplos na
traram diferença alguma.38 Ásia, África e América Latina de como a
Um estudo de sete anos no Distrito adoção da agricultura orgânica aumentou
Maikaal, na Índia central, envolvendo a produtividade em comparação a “práti-
1.000 agricultores que cultivaram 3.200 cas tradicionais não-melhoradas”. E ob-
hectares, comprovou que a produção mé- serva: “Muitos casos mostram que a agri-
dia de algodão, trigo, chili e soja foi igual cultura orgânica aumenta a segurança ali-
ou até 20% superior nas fazendas orgâni- mentar e receita agrícola. Isso ocorre com
cas do que nas convencionais vizinhas. Pro- sistemas certificados dirigidos basicamente
dutores e cientistas agrícolas atribuíram a mercados do norte e sistemas informais
as produção maiores nessa região seca à dirigidos a mercados locais”. Parrot des-
ênfase em lavouras de cobertura, creve vários mecanismos em operação,
compostagem, esterco e outras práticas inclusive o uso de esterco e compostagem
que aumentaram a matéria orgânica (que para ajudar a conservar água, protegendo
ajuda a reter água) no solo.39 os agricultores contra a seca, e a elimina-
Um estudo em Quênia constatou que ção de insumos artificiais dispendiosos,
enquanto os agricultores orgânicos em “áre- que pode reduzir o endividamento.41
as de alto potencial” (aquelas com índices Talvez uma pergunta mais importante
pluviométricos acima da média e alta quali- do que se a agricultura orgânica é viável
dade do solo) produziam menos milho do seja por quanto tempo mais os agricultores
que os agricultores convencionais, os agri- poderão continuar a depender de
cultores orgânicos em áreas de recursos agrotóxicos em altas doses. As pragas têm
mais fracos consistentemente superavam demonstrado uma capacidade impressio-
a produção convencional. Em ambas as nante de se desviar, resistir e evoluir em
regiões, os agricultores orgânicos auferiam torno de qualquer coisa que lancemos em
maiores lucros líquidos, retorno de capital sua direção, e hoje os agricultores efetiva-
e retorno de mão-de-obra.40 mente perdem uma parcela maior de suas
Um relatório da FAO em 2002 obser- lavouras devido a pragas do que perdiam
vou que “sistemas orgânicos podem du- 50 anos atrás. Até mesmo lavouras
plicar ou triplicar a produtividade de sis- transgênicas, alardeadas como ajuda à eli-
temas tradicionais” nos países em desen- minação do uso de pesticidas, são vulnerá-
volvimento, mas acrescentou que compa- veis à rotina da resistência. Pesquisadores
rações dão um “quadro limitado, restrito da Universidade Estadual de Iowa desco-
e freqüentemente errôneo”, uma vez que briram pelo menos quatro espécies de er-
“os múltiplos benefícios ambientais da vas daninhas comuns que desenvolveram

96
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO

resistência ao herbicida Roundup, produto animais quantidades indiscriminadas de


utilizado com plantas tolerantes a herbicidas antibióticos e hormônios e até mesmo
que têm sido cultivadas no Centro-Oeste aplicar lodo de esgoto em seus campos.
há menos de uma década. Estas necessita-
rão de maior aplicação de pesticida. Nesse
esforço inútil, os agricultores gastaram bi- Pessoas que consomem frutas e
lhões de dólares atacando pragas cada vez legumes orgânicos expõem-se a um
mais resistentes com pesticidas cada vez
terço dos resíduos tóxicos que se
mais potentes, e a maioria desses pesticidas
acabou em nossa água, ar, solo e corpos.42
exporiam com produtos
Embora os benefícios públicos da convencionais.
agricultura orgânica – redução da polui-
ção hídrica ou aumento da vida silvestre Há evidências abundantes de que os agri-
– estejam alimentando parte do cresci- cultores expostos regularmente a pesticidas
mento das vendas, o maior interesse veio correm um risco maior de contrair certos
de consumidores com maior interesse cânceres, distúrbios do sistema imunológico,
pessoal. Pais, por exemplo, podem pre-
doença mental e uma variedade de outras
ferir alimentar seus bebês com alimentos
condições. Testes em animais demonstraram
infantis orgânicos – sabendo que peque-
que altas doses de produtos químicos comuns
nos corpos em desenvolvimento são mais
são altamente tóxicas. Porém, a maioria dos
sensíveis a pesticidas endócrino-
técnicos concorda que é mais difícil identifi-
perturbadores, resíduos de antibióticos e
hormônios de crescimento e outros in- car os efeitos à saúde da exposição crônica a
gredientes sintéticos utilizados rotineira- níveis menores de pesticidas em alimentos
mente na produção de alimentos. Ou po- ou água subterrânea. Reguladores governa-
dem decidir por mudança para toda a fa- mentais em geral consideram que o nível de
mília. A agricultura orgânica é o único segurança para seres humanos é de 100 ve-
sistema de produção alimentar no qual os zes, ou até 1.000 vezes, menos do que os
consumidores têm uma idéia clara das níveis que não causam efeito adverso em
práticas permitidas e proibidas, e os pro- estudos animais. Porém, a exposição dietética
dutores não só têm que demonstrar que humana pode exceder essas definições con-
não estão aplicando poluentes conheci- servadoras de risco aceitável.
dos no solo, como também precisam se- “A possibilidade de atingirmos um ní-
guir uma série de práticas que efetiva- vel inseguro aumenta devido aos múltiplos
mente restaurem a paisagem, desde ro- resíduos na dieta”, além da exposição à
tação da lavoura, passando por cultivo de água potável, ao ar e outras fontes, diz
cobertura, até a compostagem. Esse ní- Edward Groth, cientista sênior da
vel de transparência não existe na maio- Consumers Union. Groth observa que 40
ria da produção de alimentos, onde é per- diferentes pesticidas com organofosfato
mitido aos agricultores utilizar um coque- são aprovados para uso em lavouras só
tel de produtos químicos, ministrar aos nos Estados Unidos e, devido a todos os

97
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO

organofosfatos compartilharem o mesmo sua urina que crianças que consumiram


mecanismo de efeitos tóxicos, “é razoá- alimentos convencionais. 44
vel supor que os impactos sejam aditivos A maioria dos estudos sobre os impac-
ou sinérgicos”. Pesquisadores constata- tos à saúde e ecológicos do uso de
ram recentemente que homens com níveis pesticidas foi realizada no mundo industri-
maiores de três pesticidas comuns em sua alizado. Mas algumas dessas preocupações
urina tiveram contagens de esperma dra- são mais agudas no mundo em desenvolvi-
maticamente baixas e maior incidência de mento, não só porque os agricultores lá
esperma irregular. E toxicólogos estão hoje continuam a utilizar alguns dos pesticidas
constatando que uma mistura de fertilizan- mais tóxicos – aqueles proibidos em na-
tes químicos (nitratos) e pesticidas, os ções mais ricas – mas também porque es-
principais insumos da agricultura indus- ses mesmos agricultores estão sentindo que
trial que freqüentemente acabam juntos na o uso mais intenso de produtos químicos
água subterrânea, pode efetivamente agra- está se tornando mais caro e inadequado
var os efeitos adversos à saúde da expo- para suas condições. Na Índia, de acordo
sição a cada um deles. Groth acrescenta com o Ministério da Agricultura, 32 dos
que a exposição de crianças situa-se pro- 180 pesticidas registrados para uso foram
vavelmente na faixa de perigo, devido a proibidos em outros países devido a ques-
seus pequenos corpos e maior sensibili- tões de saúde. Entre 1998 e 2001, a Índia
dade. “Mas o tipo de dano que estamos produziu 40.000 toneladas desses compos-
falando” – dano ao sistema nervoso, que tos anualmente. Monocrotofós, um inseti-
aparece mais tarde, por exemplo, como cida altamente nocivo ao sistema neuroló-
uma deficiência de aprendizado – “é sutil gico, cujo registro foi cancelado nos Esta-
e difícil de ser detectado sem estudos cui- dos Unidos em 1988, é o pesticida mais
dadosos em grandes populações”, diz ele.43 vendido na Índia.45
A exposição é claramente agravada pelo Embora a maioria das pessoas escolha
consumo de alimentos cultivados com os alimentos orgânicos por aquilo que não
pesticidas. Pesquisadores, ao analisarem contêm, comprovou-se recentemente que
milhares de amostras de alimentos do De- esses produtos possuem concentrações
partamento de Agricultura dos Estados substancialmente maiores de antioxidantes
Unidos, verificaram que pessoas que con- e outros compostos benéficos à saúde do
somem frutas e legumes orgânicos ex- que os alimentos produzidos com
põem-se a um terço dos resíduos tóxicos pesticidas. Um estudo da Universidade da
a que se exporiam com produtos conven- Califórnia confirmou uma antiga suspeita
cionais, que provavelmente também po- entre alguns nutricionistas e cientistas
deriam conter seis vezes mais resíduos agrícolas de que o uso intensivo de
múltiplos de pesticidas. E um estudo re- pesticidas e fertilizantes químicos pode
cente comprovou que crianças que se ali- afetar a capacidade das lavouras de sinte-
mentaram predominantemente com pro- tizarem certos fitoquímicos – compostos
dutos e sucos orgânicos tinham apenas um que possuem propriedades antioxidantes
sexto dos subprodutos de pesticidas em e são associados à redução de riscos de

98
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO

câncer, derrame, doença cardíaca e ou- A preservação de sabores distintos e o


tras enfermidades. Alguns observadores “direito de degustar” são apenas parte da
apontaram a ironia de os produtos con- missão de um novo movimento internacio-
vencionais trazerem não só traços de pro- nal chamado Slow Food (Alimento Lento).
dutos químicos reconhecidamente, ou Esse grupo, de 17 anos, com 75.000 mem-
suspeitados de serem, cancerígenos como bros em 80 países, vê as interações sociais
menos compostos que ajudam nosso or- entre consumidores e cozinheiros, açouguei-
ganismo a precaver-se do câncer.46 ros e fazendeiros, como também refeições
compartilhadas com amigos e familiares,
Coma Aqui como inseparáveis do prazer de comer.
Carlo Petrini, fundador e presidente, ob-
Um dos conceitos mais em voga na indús- serva que o preço que as sociedades paga-
tria alimentícia é o de “rastreamento”. A ram para ter acesso a qualquer tipo de ali-
mento em qualquer época do ano é “o de-
expressão descreve a capacidade de um
senvolvimento deliberado de espécies com
restaurante, mercado ou comprador saber
características apenas funcionais para a
a origem de um determinado alimento, quem
indústria alimentícia, e não para o prazer
o produziu, que produtos químicos foram do alimento, e o conseqüente sacrifício de
aplicados nele e inúmeras outras caracte- muitas variedades e raças no altar da pro-
rísticas que vão além das preocupações tra- dução em massa”.47
dicionais de sabor, preço e embalagem. Nos Andes peruanos, a Associação para
Obter essas informações depende, em gran- Conservação da Natureza e Desenvolvi-
de parte, do encurtamento da distância en- mento Sustentável (Andes) está não ape-
tre agricultor e consumidor. nas tentando preservar os padrões tradi-
A motivação para consumir alimentos cionais de cultivo como forma de melho-
locais é tão variada quanto os próprios ali- rar a renda agrícola, como também revi-
mentos. Donas de casa reagindo a notíci- gorar um corredor comercial de alimen-
as alarmantes e almejando alimentos fres- tos leste-oeste, iniciado pelos incas há
cos. Cidadãos rebelando-se contra uma milhares de anos. Em Choquecancha, a
cadeia alimentar distante. Ambientalistas cidade central ao longo desse corredor, as
tentando conter o alastramento urbano e pessoas trocam alimentos planaltinos (ba-
a perda de espaços verdes. Nutricionistas tatas, porquinhos-da-guiné, lama, feijão-
pressionando por menos alimentos pro- de-lima, amaranto e tubérculos locais
cessados. Agricultores tentando resgatar como ulloca, oca e mashua) por outros
seus meios de vida. Políticos, em países da planície (cacau, coca, manga, papaia e
em desenvolvimento, esperando que ali- coco). Para os peruanos que se mudaram
mentos cultivados internamente possam para áreas urbanas, onde a cozinha de fast-
ajudá-los a reter divisas preciosas. Chefs, food e alimentos processados estão subs-
donos de restaurantes e culinaristas des- tituindo a alimentação local, esse merca-
pertando para os prazeres da cozinha re- do permite que compartilhem alimentos
gional e de pratos artesanais. montanheses variados, usufruídos na re-

99
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO

gião por milhares de anos. Nesse caso, as Nos Estados Unidos, o item alimentar co-
pessoas não estão apenas pagando pelo mum viaja 2.500–4.000 quilômetros, cer-
valor nutricional, segundo Alejandro ca de 25% mais longe do que em 1980. No
Argumedo, da Andes, mas também “para Reino Unido, os alimentos viajam 50% mais
preservar o manejo espiritual das culturas longe do que há duas décadas. Uma refei-
montanhesas, das culturas planaltinas e ção “tradicional” domingueira na Grã-
das variedades indígenas que proporcio- Bretanha, feita com ingredientes importa-
nam melhor nutrição”. A Andes planeja dos, gera quase 650 vezes as emissões de
abrir um restaurante em Cuzco que se es- carbono relacionadas aos transportes que
pecializaria em alimentos regionais.48 a mesma refeição feita com ingredientes
O movimento para a preservação de produzidos localmente. (Vide Figura 4-4.)
fazendas, terras agrícolas e culinária está Como resultado, as pessoas que consomem
evoluindo numa ocasião em que os alimen- produtos locais podem ajudar a poupar
tos viajam mais e são controlados por um grandes quantidades de energia, reduzir as
número extremamente pequeno de entida- emissões de gás de estufa, conservar o di-
des globais. O valor do comércio interna- nheiro em suas comunidades e ganhar uma
cional de alimentos triplicou a partir de certa paz de espírito, que vem de conhecer
1960, tendo seu volume quadruplicado. seus produtores.49

Morangos Fonte: Jones


8.772 km
CALIFÓRNIA

Brócolis Batatas
8.780 km 2.447 km
GUATEMALA ITÁLIA

Mirtilo Britânicos
48 km Vagem
18.835 km
9.532 km
NOVA ZELÂNDIA
TAILÂNDIA

Quartos de Reses
Cenouras
21.462 km
9.620 km
AUSTRÁLIA
ÁFRICA DO SUL

Figura 4-4. Ingredientes Locais Versus Importados: Grã-Bretanha

100
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO

Uma boa regra empírica é que quanto agricultores criaram basicamente o que
mais um alimento viaja, menor é o valor chamamos de ‘Zonas de Liberdade’, ou
retido pelo produtor e a comunidade rural. seja, culturas livres de agrotóxicos, livres
O transporte, embalagem, processamento de insumos corporativos, livres de se-
e intermediação do alimento engole parce- mentes híbridas, livres no futuro de pa-
las cada vez maiores do preço final. Esse tentes e lavouras transgênicas”. Traba-
vazamento de dinheiro das comunidades – lhando com organizações de produtores,
e a capacidade dos alimentos locais de aju- grupos femininos e religiosos, Navdanya
dar a estancá-lo – pode ser particularmen- implantou mais de 20 bancos de semen-
te relevante onde as pessoas ainda estejam tes em sete estados. Organizadores do
engajadas na agricultura. Um estudo da movimento calculam que atendem a mais
New Economics Foundation, em Londres, de 10.000 produtores e resgataram mais
constatou que cada £10 gastas em um es- de 1.500 variedades de arroz, centenas
tabelecimento local vale £25 para a comu- de variedades de painços, leguminosas,
nidade, comparado com apenas £14 quan- oleaginosas e legumes.51
do o mesmo valor é gasto num supermer- Diversidades agrícolas locais podem
cado – ou seja, uma libra, dólar, peso ou suprir tudo que houver para comer em
rúpia gasto localmente gera quase o dobro muitas das nações mais pobres, onde as
de renda para a economia local.50 pessoas não têm condições de adquirir ali-
Esse multiplicador é parte da motiva- mentos importados. Em Zimbábue, agri-
ção por trás do movimento Navdanya cultores urbanos encontraram um merca-
(Nove Sementes), da Índia, fundado em do para legumes indígenas nos morado-
1987 pela Fundação de Pesquisa para a res das cidades que almejam um elo
Ciência, Tecnologia e Ecologia, destina- gastronômico com a identidade cultural do
da a proteger variedades locais de trigo, seu país. As famílias dependem de apro-
arroz e outras culturas contra patentes, ximadamente 25 legumes indígenas, inclu-
catalogando-as e declarando-as como indo quiabo, cleome, pepino e cabaça, que
propriedade comum. “Iniciamos o movi- proporcionam uma fonte de legumes
mento como precaução contra a engenha- folhosos, altamente nutritivos, de agosto
ria genética e monopólios de patentes a dezembro – época característica de es-
agrícolas”, explicou o ativista e cientista cassez –, dando aos pobres tanto uma fon-
indiano Vandana Shiva, que dirige te de renda como de nutrição. O Instituto
Navdanya, “e também para incrementar de Criação de Lavouras está ajudando os
as economias locais”. Navdanya come- agricultores no cultivo de suas lavouras
çou implantando bancos de sementes lo- distribuindo sementes e desenvolvendo
cais, lojas de suprimentos agrícolas e ins- tecnologias de processamento e preserva-
talações de armazenagem, encorajando ção. Os governos também podem enco-
uma mudança para agricultura orgânica, rajar economias agrícolas domésticas atra-
a fim de reduzir a dependência de produ- vés de programas de aquisição que levem
tos químicos importados. “Neste momen- produtos locais a repartições públicas,
to temos mais de 3.000 vilarejos onde os hospitais e escolas.52

101
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO

“Programas de lanches escolares, por compra mais direta de alimentos geralmente


exemplo, podem proporcionar um estímu- significa consumir mais frutas e legumes
lo significativo para a expansão dos mer- frescos e porque muitas das etapas adicio-
cados de alimentos, se o produto for cul- nais entre agricultor e consumidor retiram
tivado localmente”, escreveu recentemente nutrientes e fibras e adicionam gordura, açú-
o cientista agrícola, e Prêmio Nobel, car, sal e outros recheios.) Em contraste com
Norman Borlaug, no New York Times, as decisões internas por trás de poucas por-
quando reivindicou maior auto-suficiência tas corporativas, as centrais agrícolas de
alimentar na África. Em 2000, vários dis- abastecimento, agricultura apoiada pela co-
tritos escolares no norte da Itália promul- munidade e comércio alimentício local, to-
garam novas leis, que exigem que as es- dos tendem a devolver as tomadas de deci-
colas regionais dêem preferência a pro- são às comunidades locais.54
dutos locais e orgânicos em suas com-
pras. Há atualmente mais de 300 serviços
escolares de refeições orgânicas na Itália Comer não é escolha, e
e centenas de outros serviços de refeições sim necessidade.
locais. Autoridades e cidadãos pressiona- Porém, temos efetivamente o
ram por essa mudança, em parte, para
preservar a paisagem rural e meios de vida
direito – e a responsabilidade –
agrícola, e também constataram que re- de escolher como nosso
feições mais frescas, com menos ingredi- alimento é produzido.
entes processados, eram mais econômi-
cas, mais sadias e de melhor sabor.53 Em muitas comunidades esse comér-
Maior auto-suficiência, por sua vez, sig- cio local não mais existe. O açougueiro e
nifica que as nações, regiões e comunida-
padeiro da esquina, a leiteria e fábrica de
des exercem maior controle sobre como o
conservas locais fecharam sob ondas de
alimento é produzido. “No mercado alimen-
consolidação. À medida que restaurantes,
tício atual, existem grandes desigualdades
cantinas escolares, supermercados e ou-
em relação ao poder de voto e, mais funda-
mentalmente, em relação a controle”, con- tros empreendimentos alimentícios come-
forme a socióloga JoAnn Jaffe, da Univer- çarem a comprar alimentos mais localmente
sidade de Regina, no Canadá, uma situação – e à medida que os consumidores exigi-
devida, em parte, à forma como o sistema rem – a infra-estrutura esquecida poderá
alimentício alastrou-se. Jaffe sugere uma ressurgir gradativamente. Navdanya abriu
estratégia retaliatória de “comer menos na recentemente um café local em Nova
cadeia mercadológica” através de compras Délhi, semelhante ao café Andes, em
de alimentos o mais localmente possível, a Cuzco, ligando o campo à cidade ao pro-
fim de retomar a soberania e criar um mover tradições alimentares indianas e ce-
feedback direto entre agricultor e consumi- lebrações que girem em torno das colhei-
dor. (Comer menos na cadeia alimentícia tas sazonais. Em Hope’s Edge, Maya Jani,
será, freqüentemente, mais sadio porque a do Navdanya, explica: “Navdanya deseja

102
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO

resgatar os alimentos e bebidas indígenas da compras numa central local de abasteci-


extinção por meio do prazer – e rapidamen- mento ao preparo de refeições sem carne,
te, antes que nosso paladar seja totalmente e até a compra de café e cacau de comér-
dominado pela Pepsi e Coca-Cola”. Duran- cio justo, grupos pequenos, mas crescen-
te os escaldantes meses do verão, o festival tes, em todo o mundo estão votando com
panna, do Navdanya, celebra bebidas refres- seus garfos e suas carteiras por um siste-
cantes tradicionais, inclusive as fermenta- ma alimentício mais sadio.
das feitas com coco, manga, lechia, cevada O consumidor típico não irá, necessa-
e rododendro. “Nossos festivais são uma riamente, tomar essas medidas sozinho. E
forma de ajudar as pessoas a renovarem as embora poucas pessoas tolerassem seus
crenças em suas tradições”.55 governos ditarem o que deviam comer,
governos detêm poder considerável para
A Ascensão da Democracia mudar a forma de cultivarmos alimentos
Alimentícia – por todos os meios, desde regulamen-
tos sobre quais produtos químicos os agri-
Democracia alimentícia é um termo que cultores podem utilizar até o tipo de pes-
pode melhor descrever o número crescen- quisa promovida em universidades agrí-
te de agricultores, consumidores, chefs e colas. (Vide Quadro 4-3.) Como observa-
empresas alimentícias que resistem à ten- do anteriormente, governos compram vo-
tação de comer cegamente, em vez de cons- lumes consideráveis de alimentos para lan-
cientemente. Entretanto, repensar nossa ches escolares, repartições públicas e exér-
relação com o alimento não é simplesmen- citos – o governo dos Estados Unidos ser-
te abandonar a carne vermelha ou a supos- ve mais de 26 milhões de refeições diaria-
ta conveniência de fazer compras numa mente a crianças em escolas, por exem-
rede de supermercados. plo – e podem utilizar essas compras para
Mudar nossa dieta é reaver algo em incentivar certos mercados agrícolas.
nossas vidas que foi perdido – nossa liga- (Vide também Capítulo 6.) A Agência de
ção com os alimentos e com as pessoas Proteção Ambiental Sueca juntou-se recen-
que o produzem. Seja agricultor, dono de temente à Administração de Alimentos e à
restaurante, político, banqueiro, empresá- Agência de Consumo suecas numa cam-
rio, estudante buscando carreira ou pais panha para ligar os hábitos alimentares não
preocupados, todos precisamos saber mais apenas à nutrição, mas também ao meio
sobre o alimento que compramos e consu- ambiente. Essa iniciativa colaborativa re-
mimos. E há quantidades infinitas de aces- sultou num livro de culinária chamado Mat
sos para nos alimentarmos mais conscien- Med Känsla för Miljö – Alimentos com
temente e reforçarmos a democracia ali- Consciência Ambiental –, argumentando
mentícia. Comer não é escolha, e sim ne- que os consumidores podem reduzir subs-
cessidade. Porém, temos efetivamente o tancialmente o uso de energia na cadeia
direito – e a responsabilidade – de escolher alimentar por meio de escolhas alimentí-
como nosso alimento é produzido. Das cias corretas.56

103
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO

No âmbito dos alimentos, governos e


QUADRO 4-3. POLÍTICAS
corporações freqüentemente são lentos em
PRIORITÁRIAS PARA
REPENSARMOS NOSSA RELAÇÃO efetuar mudanças sem que haja algum cla-
COM OS ALIMENTOS mor público, persistente e generalizado.
Historicamente, as maiores vitórias rela-
• Os governos devem realocar os recursos cionadas aos alimentos, inclusive a
aplicados anualmente em subsídios rotulagem obrigatória mostrando conteú-
agrícolas – mais de US$ 300 bilhões –
do e valor nutricional, originaram-se em
para apoio à agricultura ecológica.
iniciativas de consumidores, apesar da
• Os governos devem considerar taxar
pesticidas, fertilizantes sintéticos,
relutância de governos e da indústria ali-
fazendas industriais e outros insumos mentícia. Em retrospecto, as mudanças
poluentes ou práticas agrícolas. sempre pareceram lógicas e bem atrasa-
• Os governos devem colaborar com das. A energia necessária de base, por sua
organizações agrícolas para o aumento da vez, freqüentemente origina-se de uma
parcela de suas terras com produção mudança de conceitos. Mudar nosso car-
orgânica para 10%, durante os próximos dápio coletivo, escreve Stuart Laidlaw em
10 anos, através da melhoria dos
Secret Ingredients: The Brave New World
programas de certificação orgânica,
incrementando capacitação orgânica nas of Industrial Food, significa produzir ali-
universidades agrícolas, centros de mentos que “não matem peixes ou façam
pesquisa e agências de extensão e crianças correrem para dentro durante o
concedendo subsídios ou créditos fiscais recreio, para fugir de pesticidas... Deve-
a agricultores nos primeiros anos da mos adotar esse comportamento... não
conversão.
porque o alimento em nosso prato seja
• Os governos devem reformar acordos melhor para nós, e sim porque será me-
internacionais de comércio, por meio da
lhor para o planeta”. O potencial para re-
proibição de garantia de preços internos
e tarifas em mercadorias importadas, a criar o cardápio coletivo é imenso – como
fim de eliminar subsídios à exportação, também a necessidade. Mas o esforço
“dumping” de alimentos e outras sempre dependerá de indivíduos motiva-
práticas injustas de comércio, que dos, que busquem um meio de vida mais
restringem a capacidade das nações de seguro, uma comunidade mais forte, um
protegerem e construírem economias
meio ambiente mais sadio ou, simplesmen-
agrícolas domésticas.
te, uma refeição deliciosa. 57
• Governos, em âmbito nacional e local,
devem instituir licitações para escolas,
hospitais, repartições públicas e outras
instituições, para apoiar lavouras
cultivadas ecologicamente por
agricultores locais.
________________________________________
FONTE: vide nota final 56.

104
Estado do Mundo 2004
CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO

AT R Á S D O S B A S T I D O R E S

Água Engarrafada
A próxima vez que você for ao águas estejam protegidas da
supermercado local, poderá poluição, pode ocorrer
surpreender-se com a incidência de bactérias
variedade de escolha de água naturais, uma vez que a
engarrafada, desde marcas água não é desinfetada.
nobres como Perrier e Evian Ainda que os
até as populares, engarrafadas engarrafadores
pelo próprio supermercado. precavenham-se, a
Mundialmente, o consumo de contaminação é sempre
água engarrafada está possível, como ocorreu, em
crescendo a uma taxa anual de 1990, com o recall mundial da
12%, embora em mercados mais novos, Perrier, devido aos altos níveis de benzeno.2
como a Índia, esteja aumentando em até Nos Estados Unidos, a Food and Drug
50% anualmente. Consumidores em todo o Administration (agência norte-americana para
mundo gastam hoje cerca de US$ 35 bilhões o controle de drogas e alimentos) define água
anuais em água engarrafada.1 mineral natural como a que contém 250 ppm
Embora o conteúdo possa parecer igual (partes por milhão) de sólidos totais
por toda parte, água engarrafada é dissolvidos e é originária de uma nascente
essencialmente apresentada de três formas subterrânea protegida. A água de fonte, por
diferentes: água mineral natural, água de outro lado, não precisa ter uma composição
fonte e água purificada. De acordo com a invariável de minerais e é, usualmente, mais
definição da União Européia, “água mineral barata. A água purificada, também chamada
natural é considerada como sendo de água potável, é retirada de lagos, rios ou
bacteriologicamente pura, tendo por origem fontes subterrâneas e é tratada – tornando-se
um lençol de água ou um depósito quase idêntica à água da torneira. 3
subterrâneo e proveniente de uma nascente, A popularidade disparada da água
explorada através de um ou mais pontos engarrafada decorre de várias razões. Na
naturais ou perfurados”. Na Europa, a Ásia e Pacífico, o crescimento populacional
reputação da água mineral como benéfica à e problemas com a qualidade e
saúde remonta ao Império Romano. abastecimento da água são as mais
Entretanto, os benefícios reais desses importantes. (De modo geral, 1,5 bilhão de
minerais são, atualmente, tidos como pessoas em todo o mundo não têm acesso a
mínimos. Embora as nascentes dessas água potável, e 12 milhões de pessoas

105
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: ÁGUA ENGARRAFADA

morrem anualmente por doenças veiculadas combustíveis fósseis no seu transporte por
por água insalubre). Embalagens de grande caminhão, trem ou navio, em vez de adutora.
volume tornaram a água engarrafada mais O Fundo Mundial para a Natureza, embora
acessível na Índia e nos Estados Unidos e observando que 75% da água engarrafada é
em muitos outros países no início dos anos produzida para consumo local, argumenta
90. E, motivados pela propaganda, muitos que as companhias internacionais deveriam
consumidores compram água engarrafada investir em engarrafadoras para o mercado
como uma alternativa a refrigerantes e local e transportar a água engarrafada em
álcool, porque é considerada mais saudável embalagens de grande volume. Mesmo
do que a água da torneira, e particularmente assim, isso seria mais ineficiente do que os
na França, porque tem melhor sabor.4 sistemas públicos de água potável.7
Porém, muitos estão preocupados com Um dos maiores problemas
os custos ambientais da produção da água enfrentados pela água engarrafada é o
engarrafada. Uma preocupação maior é que refugo plástico. Conforme o Container
a demanda crescente por água possa Recycling Institute, cerca de 14 bilhões de
estressar os recursos aqüíferos existentes. garrafas de água foram vendidos nos
Nos últimos anos, muitas companhias Estados Unidos em 2002, 90% das quais
internacionais de bebidas vêm explorando foram jogadas no lixo – mesmo que a
os abundantes mananciais do Canadá como maioria delas tenha sido feita com plástico
fonte de água engarrafada. Numa medida de PET reciclável. Em junho de 2003, o
prevenção, muitas províncias canadenses Conselho de Controle da Poluição, da
proibiram, ou estão considerando proibir, a Bengala Ocidental, na Índia, determinou
exportação de água a granel.5 que os fabricantes de garrafas fossem
O Container Recycling Institute relata responsabilizados pela coleta e reciclagem
que as vendas de resina virgem (tereftalato de garrafas usadas. Regulamentações
de polietileno – PET), o plástico mais usado eficazes promovendo a reciclagem de
nas garrafas de água, dispararam para 738 garrafa existem também na Áustria,
milhões de quilos em 1999, mais do que o Bélgica, Canadá, Dinamarca, Finlândia,
dobro do volume de 1990. A produção de 1 Alemanha, Holanda, Noruega, Suécia,
quilo de plástico PET requer 17,5 kg de água Suíça e 11 estados dos Estados Unidos.8
e resulta em emissões atmosféricas de 40 Os americanos dizem que a razão
gramas de hidrocarbonos, 25 gramas de principal de eles beberem água
óxidos sulfúricos, 18 gramas de monóxido engarrafada é por ser mais segura do que
de carbono, 20 gramas de óxido de a água da torneira. Mas um estudo
nitrogênio e 2,3 kg de dióxido de carbono. quadrienal do Conselho de Defesa dos
Só em termos de uso de água, a quantidade Recursos Naturais testou mil garrafas
gasta na fabricação das garrafas é muitas vendidas nos Estados Unidos e detectou
vezes maior do que a quantidade a ser que um quinto continha produtos
engarrafada.6 químicos tais como tolueno, xileno ou
E no que concerne à distribuição, a estireno – tidos como, ou com
grande diferença entre a água engarrafada e possibilidade de serem, cancerígenos – e
a água da torneira provém da queima de neurotoxinas. Na Índia, testes realizados

106
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: ÁGUA ENGARRAFADA

em fevereiro de 2003 pelo Centro para Unidas, para assegurar a sustentabilidade


Ciência e Meio Ambiente encontraram ambiental, é reduzir à metade, até o ano de
níveis altos de pesticidas em amostras de 2015, o número de pessoas sem acesso a
água, resultando na retirada de água potável. Todavia, considerando os
certificados oficiais de qualidade de uma impactos ambientais do uso e descarte da
série de marcas e em advertências água engarrafada, vale a pena indagar se
dirigidas à Coca-Cola e PepsiCo.9 não existiria uma melhor forma de distribuir
As Nações Unidas declararam 2003 esse recurso vital. Para os felizardos que
como o Ano Internacional da Água Doce, e têm opção, a água da torneira (filtrada, se
estão trabalhando no sentido de melhorar a necessário) é a escolha mais barata e
qualidade da água doce em todo o menos poluidora.10
mundo.Um dos objetivos da Meta de
Desenvolvimento do Milênio, das Nações — Paul McRandle, The Green Guide

107
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: FRANGOS

AT R Á S D O S B A S T I D O R E S

Frangos
A maior parte das são os frangos de corte) –
galinhas tem dois aproximadamente a metade
destinos: são criadas do tamanho de um campo
para pôr ovos de futebol americano.
(poedeiras) ou Cada galpão pode acomodar
unicamente pela carne mais de 90.000 frangos; uma vez
(frango de corte). que a criação de frangos tornou-se
Começam sua jornada ao um negócio altamente tecnológico: um
longo da cadeia alimentícia fazendeiro pode, normalmente, administrar
industrial nas granjas de um galpão inteiro com pouca mão-de-obra.
propriedade da Tyson Foods, Perdue Embora muitos desses fazendeiros sejam
Chicken, ou qualquer outra empresa de proprietários de terra e arquem com a maior
agronegócio. Lá, os ovos são conservados parte do risco financeiro, estes não são
aquecidos por incubadoras cuidadosamente donos dos pintos que cuidam. Do início ao
controladas.Os criadores providenciam que fim, os pintos são propriedade da empresa.
todos os pintos saiam do ovo quase ao O galpão custa cerca de US$ 250.000, mais
mesmo tempo, pela inseminação artificial outros US$ 200.000 pelos equipamentos
das matrizes. Após a saída do ovo, os para seu funcionamento; juntando os
pintos destinados a poedeiras entram em frangos, ração e outras despesas gerais, os
contato com seres humanos pela primeira e, custos iniciais nos países industriais
muitas vezes, única vez. Com um dia de chegam a US$ 1 milhão no mínimo.2
nascidos, os operários selecionam as Uma vez na fazenda, cada poedeira é
fêmeas, jogando os machos em grandes colocada numa bateria de gaiolas de arame
recipientes. Esses infelizes pintos são com outras nove aves. Essas poedeiras
moídos (às vezes, ainda vivos), para uso produzirão, cada uma, cerca de 300 ovos por
como fertilizantes ou ração animal.1 ano – mais de três vezes o que as mesmas
As fêmeas são enfileiradas numa linha galinhas punham um século atrás, graças à
de montagem e debicadas, dolorosamente, manipulação genética e drogas de
com lâminas quentes. Após 18–20 semanas, crescimento misturadas ao alimento. As
são enviadas para criadores contratados galinhas também são induzidas a pôr mais
(juntamente com a ração, antibióticos e ovos pela iluminação artificial contínua.
outros insumos). As poedeiras são Suas gaiolas, empilhadas umas sobre as
abrigadas em galpões de 18 m x 110 m (como outras e cobertas de fezes, permitem pouco

108
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: FRANGOS

movimento. Elas assustam-se facilmente, que 37% dos frangos destinados ao corte,
porque raramente têm qualquer contato encontrados nos principais fornecedores,
humano. Geralmente, as únicas aves que os estavam contaminados com patógenos
produtores entram em contato são aquelas resistentes a antibiótico.) Freqüentemente,
que, de algum modo, escaparam da gaiola esses frangos ganham peso com tanta
ou morreram de estresse.3 rapidez que não podem manter-se em pé. Os
Não é de estranhar que galinhas frangos criados em fazendas industriais
criadas nessas condições sejam mais muitas vezes manquejam, e muitos morrem
vulneráveis e morram mais cedo do que de ataque cardíaco, porque seus corações
as galinhas criadas da maneira não são fortes o bastante para suportar
tradicional. De fato, em torno de um ano, seus corpos desproporcionais. 6
mais ou menos, a maior parte das Quando estão pesando cerca de 2 kg, os
galinhas está tão desgastada que sua frangos de corte são arrebanhados por
produção de ovos diminui. Os operários (“pegadores”), estufados em
produtores costumavam enviá-las para gaiolas e levados para fábricas de
serem processadas em alimento para cães processamento. Operários separam, cortam
e gatos, nuggets e mesmo alimento e pesam os frangos para distribuição em
infantil. Mas em alguns lugares elas são mercearias e restaurantes. Envoltas em
abatidas na fazenda ou enviadas para plásticos, as sobrecoxas, asas e coxas
mercados de animais vivos, onde a carne pouco assemelham-se ao animal vivo.
de aves no fim de sua vida poedeira Algumas embalagens trazem um aviso aos
ainda é valorizada pelo seu sabor.4 consumidores para cozinharem bem o
Os frangos de corte têm uma vida ainda frango, a fim de evitar que a carne, muitas
mais curta. Embora não sejam mantidos em vezes contaminada com fezes, transmita
gaiolas individuais, são apinhados em doenças, tais como Escherichia coli e
compartimentos com pouco espaço – cada Salmonella, comuns em ambientes de
um tem cerca de 22 cm x 22 cm. Tais aves criação industrial.7
não são expostas à luz natural ou ar fresco e Porém, nem todos os fazendeiros estão
têm dias artificialmente longos, porque os criando galinhas industrialmente. Conforme
compartimentos, sem janelas, são a Organização para Alimentos e Agricultura
iluminados até 23 horas por dia.5 das Nações Unidas (FAO), galinhas de
Esses frangos comem, diariamente, cerca quintal e caipiras chegam a representar
de 0,86 kg de ração especialmente 70% da produção de ovos e carne em
formulada, podendo conter antibióticos e alguns dos países mais pobres. Essas
estimuladores do crescimento. Embora os galinhas não somente fornecem alimento,
frangos sejam eficientes na conversão de como são, também, fonte de segurança
grãos em proteína, as condições em que são econômica. Como declara Robyn Alders, da
criados os tornam vulneráveis a doenças FAO, os fazendeiros podem usá-las como
respiratórias. Assim, os produtores vêm, há um tipo de “cartão de crédito, disponível a
muito, adicionando antibióticos cada momento, para venda ou troca em
semelhantes aos usados para tratar doenças sociedades em que o dinheiro não é
humanas. (Em 2002, um estudo averiguou abundante”. Elas são também uma fonte

109
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: FRANGOS

importante de fertilizante e controle de orgânicas certificadas, Ralph e Kimberlie


pragas. Projetos em Bangladesh e África Cole criam 600 galinhas por ano em pastos e
do Sul estão melhorando a saúde das aves, grãos orgânicos. As galinhas ciscam em
propiciando renda para membros de pequenos gramados perto de galinheiros
comunidades pobres e dando às espécies móveis, que podem ser movidos de um
de galinhas nativas – já adaptadas ao calor campo para o outro. Os Coles referem-se às
e às condições de baixos insumos – uma galinhas como parte de “sua equipe de
chance de sobrevivência.8 melhoramento do solo”, porque estas fertilizam
Alguns produtores de galinha e ovos em a terra e controlam as pragas. Criar galinhas
países ricos estão atendendo à demanda de dessa maneira – em vez de em fazendas
consumidores por galinhas orgânicas, industriais – pode ajudar o meio ambiente e é,
criadas sem agressão. Nas West Wind seguramente, mais gentil com as aves.9
Farms, a única fazenda no estado do
Tennessee que produz carnes e aves — Danielle Nierenberg

110
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: FRANGOS

AT R Á S D O S B A S T I D O R E S

Chocolate
A próxima vez que você provar uma produção aumentou
barra de chocolate pense neste substancialmente nas
gosto como uma referência a últimas décadas,
algumas das florestas crescendo quase um
mais ameaçadas do quarto desde 1990..2
mundo – e nos Uma vez que os
milhões de cacaueiros necessitam de um
fazendeiros que vivem suprimento abundante e
perto delas. O chocolate constante de água, só pode ser
provém das sementes de uma cultivado comercialmente em biomas de
pequena árvore de floresta tropical, o cacau floresta tropical. Esta limitação é uma
(Theobroma cacao). O cacau é nativo do espécie de bênção econômica: seja qual for
norte da América do Sul e talvez também do o valor que o cacau agrega às áreas de
sul da América Central. Seu fruto tem o floresta tropical, este não pode ser reduzido
tamanho aproximado de um melão pequeno se tal fruto for cultivado em outro lugar. Isso
e é recheado com essas sementes – as tem também grande importância para a
amêndoas de cacau. Elas são processadas conservação porque todas as principais
de vários modos para fabricação de licor de áreas de cacau – no Caribe, América Central
cacau, manteiga de cacau e chocolate.1 e do Sul, arquipélago indonésio-malaio e
O cacau é cultivado comercialmente em África Ocidental – são “hotspots de
quase 60 países, mas a produção está biodiversidade”. Estas são regiões que
concentrada em apenas alguns deles. foram identificadas como prioritárias para a
Costa do Marfim, o maior produtor conservação global por serem
mundial, produziu cerca de 35% da extraordinariamente ricas em biodiversidade
colheita mundial de amêndoa de cacau em e altamente ameaçadas. O cacau é uma
2002, abaixo de seu pico de 41%, em 1999 lavoura hotspot.3
e 2001. Os cinco maiores produtores, em O cacaueiro requer sombra, podendo
2002 – Costa do Marfim, Gana, Indonésia, crescer sob a cobertura da floresta. Nas
Nigéria e Brasil – representaram 79% da áreas de floresta tropical, a agricultura
produção global. Atualmente, as geralmente substitui a floresta, mas o cacau
plantações de cacau cobrem mais de permite que os fazendeiros ganhem dinheiro
70.000 km2 em todo o mundo, uma área um sob as árvores – ou pelo menos sob
pouco maior do que a Irlanda. A área de algumas árvores. (Colheitas razoáveis

111
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: CHOCOLATE

podem ser provavelmente alcançadas O cacau tem também um grande


mesmo mantendo-se 50–60% da cobertura potencial social fora do Brasil e Malásia,
original.) Infelizmente, a maior parte do onde é quase totalmente cultivado em
cacau mundial é cultivado em terras que já grandes fazendas; o cacau é,geralmente,
perderam muito de sua cobertura original.) – uma cultura de pequenos proprietários.
devido ao próprio cacau ou a alguma outra Milhares de fazendas de cacau da África
atividade que o precedeu. Na Indonésia, por Ocidental têm menos de 1 hectare, e o
exemplo, o cultivo do cacau freqüentemente tamanho médio de uma fazenda na Costa do
seguiu-se à derrubada da floresta primária. Marfim é inferior a 3 hectares. O cacau
Apesar da sua tolerância ao sombreamento, funciona bem em pequena escala porque
o cacau tem sido muitas vezes um agente de tem um valor relativamente alto e porque o
desmatamento, embora comumente o cacaueiro reage a cuidados especiais.
resultado seja um pequeno desmatamento. Pequenos proprietários capacitados, cujas
Isso porque o cacau é muitas vezes roças de cacau são pequenos “jardins”,
cultivado juntamente com outras culturas podem alcançar níveis de produtividade
arbóreas nativas ou introduzidas. Algumas superiores às grandes fazendas, que
dessas agroflorestas são bastante possuem árvores demais para serem
complexas e sustentam uma parcela
cuidadas individualmente. Potencialmente,
considerável da vida silveste local. Por
pelo menos, o cacau compensa o trabalho.6
outro lado, o cacau é algumas vezes
Mas do ponto de vista dos fazendeiros
cultivado como monocultura a sol aberto,
essa compensação está mal-distribuída. No
uma alternativa que sustenta uma
varejo, o negócio de chocolate vale $42–60
diversidade bem menor.4
bilhões, anualmente, dependendo de como
Numa escala global, a contribuição do
o “produto chocolate” é definido. É difícil
cacau para o desmatamento tropical é
determinar quanto desse dinheiro
ínfima– talvez um terço de 1% da área efetivamente retorna às fazendas, porém,
original de floresta tropical mundial tenha uma estimativa muito generosa seria de 6 a
agora cultivo de cacau. Porém, numa escala 8% e, talvez, consideravelmente menos.
regional, o cultivo do cacau tem sido, às Entretanto, mesmo essa pequena parcela da
vezes, uma força importante na natureza.Por riqueza do cacau significa uma vida melhor
exemplo, o cacau representa mais de 13% para milhões de fazendeiros e suas famílias.
das terras florestais originais da Costa do Contudo, a economia do cacau, como sua
Marfim e ainda está eliminando florestas em ecologia, tem também um lado
partes da África Ocidental e Indonésia. Mas triste.Aparentemente, a exploração da mão-
não precisa ser assim. Em alguns locais, o de-obra predomina na zona cacaueira da
cultivo do cacau já tornou-se um sistema de Costa do Marfim. Denúncias constantes de
facto de conservação. Na Bahia, Brasil, por que alguns fazendeiros estão escravizando
exemplo, e ao sul dos Camarões central, o milhares de trabalhadores infantis migrantes
cacau é cultivado sob floresta nativa rala, desencadearam críticas generalizadas da
em áreas onde resta pouca floresta. indústria. Em 2002, a Costa do Marfim
Inadvertidamente, as fazendas tornaram-se, reagiu, ratificando um tratado contra a
na verdade, florestas.5 exploração do trabalho infantil e as grandes

112
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: CHOCOLATE

companhias de chocolate lançaram uma procure um selo de “comércio justo” ou a


campanha com o objetivo de certificar o marca de um produtor semelhante,
chocolate da Costa do Marfim como “livre socialmente responsável. E mesmo que o
da escravidão” até 2005. (Não se pode cacau não tenha um certificado de
calcular que efeito a guerra civil do país terá “cultivado à sombra”, vale a pena procurar
nesse objetivo.)7 um produto orgânico. Um dos pesticidas
O que poderiam fazer os consumidores de cacau mais comuns na África Ocidental,
em relação a isso? Da próxima vez que você por exemplo, é o lindano, um
decidir deliciar-se com chocolate, procure organoclorado, primo do DDT. A
um rótulo que prometa três coisas. eliminação de tais produtos químicos seria
Primeiro, uma alta concentração de cacau. uma benesse tanto para trabalhadores
Geralmente, mais cacau significa melhor rurais quanto para as florestas. 8
qualidade e – pelo menos potencialmente –
mais renda para o produtor. Depois, — Chris Bright

113
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: CAMARÕES

AT R Á S D O S B A S T I D O R E S

Camarões
Há muito, camarões Nos fins dos anos 90,
têm constado nos os Estados Unidos
cardápios de ultrapassaram o
populações costeiras. Japão como o
Pinturas nas tumbas cliente principal
do antigo Egito retratam do mercado de
cenas de pescadores retirando camarões do camarão, com as
Nilo. E por séculos produtores do sudeste importações
asiático mantêm camarões nativos anuais alcançando 300.000 toneladas.
confinados em lagoas litorâneas para uma Na verdade, em 2001 o camarão havia
coleta fácil.1 substituído o atum enlatado como a primeira
Hoje, a multibilionária indústria de escolha em frutos do mar nos pratos
camarão pouco assemelha-se à pesca do americanos. Entretanto, os japoneses
camarão de outrora. Por uma razão, esse continuam encabeçando o consumo per
pequeno crustáceo de muitas pernas não é capita, apesar do recuo da economia, que
mais uma iguaria usufruída principalmente ajudou a diminuir o consumo anual de
por quem vive perto da fonte. Hoje, camarão para menos de 3 kg por pessoa.4
quantidades imensas de camarões são Partindo de um início modesto há
produzidas no mundo em desenvolvimento poucas décadas, a indústria do camarão
para consumo no Japão, Estados Unidos e tornou-se uma das mais lucrativas
Europa Ocidental. A produção de camarão atividades pesqueiras do mundo. Estados
não é mais um negócio pequeno: em 2001, Unidos e Japão, sozinhos, importaram um
mais de 4,2 milhões de toneladas de volume equivalente a US$ 7 bilhões em
camarões entraram no mercado mundial.2 2000. No entanto, essa indústria é também
A China produz mais camarão que uma das mais destrutivas.
qualquer outro país: mais de 1,2 milhão de Aproximadamente, três quartos do camarão
toneladas em 2000, mais do dobro do seu no mercado são pescados imoderadamente
total em uma década antes e três vezes mais – principalmente por barcos de pesca
do que seus concorrentes mais próximos – puxando imensas redes cônicas (arrasto)
Índia, Tailândia e Indonésia. Porém, o sobre estuários, baías e plataformas
grosso da pesca chinesa permanece no país. continentais. As traineiras varrem o leito do
A honra do primeiro lugar na exportação de mar de forma semelhante a uma derrubada
camarão fica com a Tailândia.3 de mata – destruindo o habitat e escavando

114
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: CAMARÕES

o que esteja no caminho das redes. Esse extirpados. Os manguezais têm muitas
método arrasa alguns dos pontos mais funções, servindo como local de procriação
biologicamente produtivos dentro do e habitat a muitas espécies (inclusive
ecossistema marinho.5 proporcionando criatórios para 85% das
A pesca do camarão, como é praticada espécies comerciais de peixes tropicais),
atualmente, não é apenas destrutiva, mas funcionando como filtro da água e
também incrivelmente inconseqüente. oferecendo proteção vital contra a erosão
Tartarugas, peixes e outras espécies do litoral e tempestades tropicais violentas.
marinhas arrastadas nas redes são Quase um quarto dos manguezais
consideradas “pesca indesejada”, não- remanescentes do mundo foi destruído nas
lucrativa, e geralmente são jogados – últimas duas décadas, na maior parte para
mortos – de volta ao mar. Em áreas dar lugar a fazendas de camarão.8
temperadas, a relação da pesca indesejada Uma série de abusos de direitos
para o camarão é de 5:1. Nos trópicos, essa humanos tem acompanhado a grave
relação chega a 10:1, e é mais alta em alguns degradação ambiental da cultura do
pesqueiros. No total, a pesca do camarão é camarão, ao tempo em que poderosos
responsável por um terço da pesca interesses dos criadores chocam-se com os
descartada no mundo, enquanto produz habitantes locais prejudicados pela
menos de 2% do pescado mundial.6 atividade. Caracteristicamente, investidores
Nos anos 80, novas tecnologias domésticos e estrangeiros, com pouco ou
inovadoras provocaram um incremento na nenhum laço com as comunidades locais,
aqüicultura do camarão, suplementando a entram para implantar as fazendas
captura oceânica. Em 1989, criatórios de destruindo, no processo, recursos vitais,
camarões floresceram ao longo do litoral esgotando meios de vida e deixando a
tropical em todo o mundo e produziram um população desamparada. Confisco de terra,
quarto da safra mundial de camarões. Desde intimidação violenta de pescadores locais e
então, a participação de mercado do até assassinatos são muito comuns.9
camarão cultivado estabilizou-se, com seu O físico e advogado ambiental indiano
crescimento prejudicado, em parte, por Vandana Shiva fez uma estimativa de que,
surtos de doenças disseminadas em em média, uma fazenda de camarão cria
criatórios densamente povoados.7 talvez 15 empregos na fazenda e 50
A aqüicultura de camarão não é mais empregos em segurança ao redor da
benigna, ecologicamente, do que a captura fazenda, enquanto desloca 50.000 pessoas
natural. Uma fazenda típica de camarão pela perda da terra e abandono da
produz quantidades copiosas de lixo, agricultura e pesca tradicionais. Um
altamente tóxico. Produtos químicos e pescador filipino lamentava: “O camarão
fertilizantes utilizados nas fazendas escoam vive melhor do que nós. Eles têm
para manguezais e estuários, enquanto eletricidade, mas nós não. O camarão tem
criadores jogam grande quantidade de lixo água limpa, nós não. O camarão tem muita
diretamente no oceano. comida, e nós passamos fome”.10
Onde são instaladas fazendas de A indústria de camarão tem um longo
camarão, os manguezais nativos são caminho a percorrer antes que possa ser

115
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: CAMARÕES

considerada, remotamente, sustentável; e ambientais comunitários, em áreas de


muitos grupos de defesa sugerem que os fazendas, estão juntando-se a grupos não-
consumidores simplesmente não comam governamentais internacionais para
camarão, para diminuir a carga em ambos, promover uma cultura mais ecologicamente
ecossistemas e pessoas. Numa nota segura do camarão. Em um caso, o Projeto
positiva, um consórcio envolvendo o de Ação em Manguezais e a Federação de
Banco Mundial, a Organização das Nações Pequenos Pescadores do Sri Lanka
Unidas para Alimentos e Agricultura (FAO) aproximam comunidades de pescadores e
e o Fundo Mundial para a Natureza está outros interessados para promoverem a
explorando normas de certificação conservação e trabalharem com criadores
ambiental para a aqüicultura. E o Sea Turtle de camarão, a fim de coibir a destruição
Restoration Project e outros estão dos manguezais, protegendo o habitat
trabalhando com a indústria para dos peixes.11
desenvolver e promover dispositivos que
reduzam, drasticamente, a pesca — Dave Tilford,
indesejada. Enquanto isso, grupos Center for a New American Dream

116
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: CAMARÕES

AT R Á S D O S B A S T I D O R E S

Refrigerantes
Os refrigerantes, com sua 2003, a licença de funcionamento de
doçura decadente, provaram uma fábrica da Coca-Cola depois de
ser donos de um apelo universal. reclamações dos habitantes sobre
Em 2002, as pessoas beberam 185 poços secando, piora da
bilhões de litros de refrigerante, qualidade da água restante
constituindo-se a terceira e liberação de efluentes
bebida comercial mais popular tóxicos. Porém, após
do mundo, depois do chá e do pressão da Coca-Cola
leite. No entanto, Company, um dos
diferentemente dos dois, o maiores investidores
refrigerante é uma mistura estrangeiros na economia
complexa de ingredientes, incluindo indiana, o governo nacional está
água, adoçantes, dióxido de carbono, dúzias considerando a revogação dessa medida.
de sabores naturais e artificiais e Mais recentemente surgiram novos
freqüentemente cafeína. Toda essa mistura é problemas para as companhias de
cuidadosamente acondicionada em garrafas refrigerantes na Índia, quando cientistas do
e latas atraentes, comercializada e grupo ambientalista Centre for Science and
distribuída, para a delícia de consumidores the Environment detectaram pesticidas nas
em quase todos os países do mundo.1 principais marcas de refrigerante em todo o
A água é o principal ingrediente do país – uma descoberta mais tarde
refrigerante e é também vital para o confirmada pelo governo.2
processamento de seus outros ingredientes Os refrigerantes devem muito do seu
e materiais de embalagem. As instalações de gosto, textura e todas suas calorias à
uma engarrafadora média produz mais de generosa dose de adoçantes. Um lata média
300.000 litros de bebida diariamente – um de refrigerante comum, 355 mililitros, tem 38
processo que requer até 1,5 milhão de litros gramas (ou 150 calorias) de adoçantes
de água, o bastante para atender às adicionados. Ao tempo em que contribuem
necessidades mínimas de pelo menos 20.000 para a cárie dentária, os adoçantes
pessoas. Na verdade, em algumas áreas com substituem alimentos mais saudáveis ou,
estresse hídrico, engarrafadoras entraram quando consumidos conjuntamente com a
em conflito com comunidades locais. Em dieta costumeira, aumenta a ingestão
Plachimada, na Índia, por exemplo, as calórica total. Assim a adição de açúcares
autoridades locais revogaram, em abril de pode levar à deficiência de nutrientes ou

117
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: REFRIGERANTES

obesidade. Essa é uma preocupação garrafas de vidro. Uma vez empacotados, os


especial com relação a crianças e refrigerantes são enviados, regionalmente,
adolescentes, que são mais vulneráveis à por caminhões para mercados, restaurantes,
deficiência alimentar e cujos hábitos escolas e máquinas automáticas.Para ter
alimentares são particularmente flexíveis. certeza de que as pessoas vão comprar essas
Nos Estados Unidos, quando o consumo bebidas, os fabricantes de refrigerantes
anual de refrigerante dobrou para 185 litros gastam bilhões em publicidade – na
por pessoa, entre 1970 e 2001, o consumo de televisão, outdoors e Internet, entre outros
leite caiu 30%. Ao mesmo tempo, a ingestão meios. A Coca-Cola Company e PepsiCo., os
total de cálcio, por adolescentes, caiu dois maiores fabricantes de refrigerantes, são
significativamente, enquanto os índices de o 13o e 20o maiores anunciantes do mundo.
excesso de peso e obesidade quase que Conjuntamente, gastaram US$ 2,4 bilhões em
triplicaram, passando para 14% (enquanto publicidade em 2001. Os fabricantes também
chegava a 61% nos adultos). Um estudo trabalham por trás dos bastidores para
recente demonstrou que crianças que garantir um suprimento de refrigerante para
ingerem bebidas adoçadas com açúcar são, todos que subitamente desejem algo doce.
freqüentemente, mais obesas e que esse Por exemplo, nos Estados Unidos, as
risco aumenta outros 60% com cada bebida engarrafadoras freqüentemente assinam
adicional consumida.3 contratos de exclusividade com a direção de
Cafeína é um dos outros principais escolas, oferecendo uma parcela dos lucros
ingredientes dos refrigerantes – presente em na venda de um determinado volume – uma
80% do volume global nas 10 principais estratégia que está sendo replicada em todo
bebidas carbonadas. Embora a indústria de o mundo.5
refrigerantes alegue que usa cafeína para A lata média de refrigerante, uma vez
realçar o sabor, estudos demonstraram que aberta, dura talvez 20 minutos antes de ser
as pessoas não notaram diferenças jogada fora. Nos Estados Unidos, quase
significativas em amostras cafeinadas e sempre termina no lixo. Se os americanos
descafeinadas. Mais provavelmente, a tivessem reciclado os 32 bilhões de latas de
cafeína é adicionada por suas propriedades refrigerantes que jogaram fora em 2002,
estimulantes, que dão ao refrigerante uma teriam economizado 435 milhões de
excitação extra, bem como ajuda a fidelizar toneladas de alumínio – o suficiente para
clientes. A cafeína fisiologicamente cria reconstruir toda a frota aérea comercial
hábito com apenas 100 miligramas diários – mundial mais de uma vez e meia.Uma
e com menos em crianças. Uma lata de Pepsi coalizão de grupos ambientalistas nos
contém 41 miligramas de cafeína.4 Estados Unidos está, atualmente,
Enquanto em alguns países as trabalhando para criar uma nova lei, que
engarrafadoras ainda dependam de garrafas estabelecerá uma meta nacional de 80% de
de vidros reutilizáveis, usam mais comumente recuperação de recipientes de bebidas e
recipientes plásticos ou latas de alumínio. Em permitirá à indústria desenvolver seu
2001, engarrafadoras em todo o mundo próprio sistema para esse fim.Essa
encheram 159 bilhões de recipientes estratégia teve grande sucesso na Suécia,
plásticos, 112 bilhões de latas e 72 bilhões de onde uma meta nacional tem mantido uma

118
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: REFRIGERANTES

taxa de recuperação de 86%, motivada início de 2004. Atualmente, a Califórnia taxa


principalmente por um depósito de 10 junk food, o que ajuda a reduzir o consumo
centavos de dólar por garrafa, imposto pela total, servindo ao mesmo tempo como uma
indústria. Michigan, o único estado dos fonte potencial de receita para educação da
Estados Unidos com depósito de 10 saúde. Alguns países, tais como Suécia e
centavos por garrafa, tem uma taxa de Polônia, chegaram a banir comerciais nos
recuperação de 95%.6 programas infantis da televisão,
Enquanto os ambientalistas esperam reconhecendo a vulnerabilidade da
diminuir o volume do descarte, audiência às mensagens de marketing. No
nutricionistas e autoridades governamentais entanto, as vendas de refrigerantes
procuram moderar o consumo total de cresceram 2,1% em 2002, globalmente. Os
refrigerantes, principalmente para combater especialistas da indústria prevêem que o
a crescente obesidade epidêmica infantil. A refrigerante ultrapassará o leite como a
Califórnia, por exemplo, promulgou segunda bebida mais consumida,
legislação que eliminará gradativamente a mundialmente, nos próximos cinco anos.7
venda de junk food (inclusive refrigerantes)
nas suas escolas primárias públicas até o — Erik Assadourian

119
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA

CAPÍTULO 5

Rumos para uma


Economia Menos
Consumista
Brian Halweil e Danielle Nierenberg

Em 1895, o caixeiro viajante King Camp do tempo daquele conceito introduzido por
Gillette teve a idéia de vender lâminas de Gillette e seus contemporâneos.2
barbear descartáveis – um produto que os
consumidores teriam que comprar cons- Consumo como
tantemente. As vendas logo dispararam,
atingindo mais de 70 milhões em 1915, ten-
Meio de Vida
do a Gillette hoje transformado-se numa
Os avanços tecnológicos do último século
empresa com um faturamento anual de US$
tornaram possível “produzir mais que a de-
10 bilhões. O que começou como um veí-
manda e oferecer mais que o necessário”,
culo de alto lucro para um comerciante
assegurar um fluxo inesgotável de vendas como observou o jornalista Edward Rothstein
transformou-se num conceito amplamente recentemente no New York Times. Cresci-
adotado – a obsolescência programada.1 mento econômico infindável, motivado pelo
Pulando para o presente: em meados de consumo descontrolado, tem sido elevado
2003, a Walt Disney anunciou que iria, em ao status de religião moderna. Isso é tanto
breve, testar no mercado um novo DVD, um objetivo de executivos corporativos,
destinado a substituir os videodiscos e cas- desejosos de manter acionistas felizes, como
setes de locadoras e que deixam de funcio- é uma meta de líderes políticos com um olho
nar após um tempo predeterminado. A aber- na vitória nas próximas eleições.3
tura da embalagem hermeticamente fecha- Deixando de lado se posse material e fe-
da dispara uma contagem regressiva quí- licidade humana trilham o mesmo caminho
mica que torna o disco inutilizável após (vide Capítulo 8), alguns observadores ar-
meras 48 horas. As sofisticadas tecnologias gumentam que produção em massa, consu-
envolvidas podem ser estritamente do sé- mo em massa e sistemas de descarte em
culo XXI, mas a filosofia subjacente vem massa são nada menos do que simples ne-

120
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA

cessidade econômica. Em 1950, por exem- igualdade social, as nações ricas precisari-
plo, o analista de marketing americano Victor am reduzir seu uso de materiais em até 90%
Lebow escreveu que “Nossa economia al- ao longo das próximas décadas.6
tamente produtiva... exige que façamos do No momento, o mundo lança-se na dire-
consumo um meio de vida... Precisamos que ção oposta. Economias modernas são capa-
as coisas sejam consumidas, queimadas, zes de produzir imensas quantidades de bens
desgastadas, substituídas e descartadas a um a um custo muito baixo. Isso leva tanto pro-
ritmo cada vez mais intenso”.4 dutores quanto consumidores a considera-
Mas a veneração compulsiva no altar do rem mais e mais produtos como nada mais
consumo colocou a humanidade à beira de um que commodities que podem ser descarta-
abismo ambiental – exaurindo recursos, dis- das com relativa rapidez, e não como itens
seminando poluentes perigosos, minando que incorporam valiosos materiais e energia
ecossistemas e ameaçando conturbar o equilí- e que devem ser bem conservados e
brio climático do planeta. Afastar-se desse pre- projetados para uma longa vida útil.
cipício exigirá um recuo radical das preten- Matérias-primas baratas, muitas delas ori-
sões humanas sobre os recursos da Terra. ginárias de países em desenvolvimento, sus-
As profundas divisões de classe da hu- tentam a fartura consumista. As quantidades
manidade dificultam essa tarefa. Mesmo quan- globais de matérias-primas comercializadas
do crescem evidências de que a classe global internacionalmente estão aumentando signi-
de consumidores, com cerca de 1,7 bilhão ficativamente, porém os preços das
de pessoas (vide Capítulo 1), precisará con- commodities têm mantido-se numa trajetória
ter seu apetite material voraz, um número descendente desde meados dos anos 70, con-
igualmente significativo de pessoas numa tinuando uma queda que remete ao início do
classe média global emergente busca emular século XX. A extração maciça de combustí-
a aparente “boa vida.” E quase 3 bilhões de veis, minerais e madeira assola ecossistemas
pessoas – os pobres do mundo – lutam para dos países em desenvolvimento, provoca dis-
sobreviver com poucos dólares por dia.5 túrbios sociais e, em alguns casos, causa
Há muito se vem repetindo que o plane- guerras devastadoras por recursos, mesmo
ta não poderá suportar o ônus de todos no quando as pessoas nas áreas em conflito
mundo em desenvolvimento possuírem tan- auferem pouco benefício.7
tos carros, refrigeradores e outros bens de
consumo como americanos, europeus ou
japoneses. Do ponto de vista da justiça e
igualdade global, entretanto, a solução não
Matérias-primas baratas, muitas
pode ser um sistema de apartheid do con- delas originárias de países em
sumo, que apóia a farra ocidental e nega desenvolvimento, sustentam a
aos pobres um padrão de vida decente. Pelo fartura consumista.
contrário, os ricos precisam conter seus
apetites materiais descomunais. Cálculos
aproximados indicam que, para acomodar Embora as velhas nações industriali-
o duplo imperativo de proteção ambiental e zadas continuem sendo os principais pro-

121
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA

dutores, volumes crescentes de merca- as soluções precisam levar em considera-


dorias estão sendo fabricadas em países ção as formas como os países em desen-
pobres. Particularmente nas indústrias de volvimento estão atados à economia global
mão-de-obra intensiva, como no setor e seu desejo de emular o modelo intensivo
têxtil e de confecções, as corporações em materiais que ainda são vistos como
multinacionais estão continuamente em representativos da “vida boa”. É crucial
busca de mão-de-obra mais barata, en- desenvolver formas de aliviar o ônus
quanto muitos países em desenvolvimento ambiental associado ao consumo, particu-
tentam competir entre si mantendo os larmente para que um aumento dos níveis
salários baixos. A China surgiu como um de consumo nos países mais pobres seja
grande produtor de bens de consumo plenamente compatível com a meta de
baratos, exportados principalmente para sustentabilidade.
o mercado norte-americano. Seu supe- A fim de seguir em direção a uma eco-
rávit comercial com os Estados Unidos nomia menos consumista, tanto consu-
disparou de pouco mais de US$ 10 bi- midores quanto produtores precisarão
lhões em 1990 para US$ 103 bilhões em atentar cuidadosamente para o pleno ci-
2002. Até o México, há muito um pólo clo de vida dos produtos. Isso significa
de fábricas de baixo custo, vê-se cada que precisarão ater-se não apenas às ca-
vez mais incapaz de competir, uma vez racterísticas do produto propriamente
que os salários na China são, em média, dito, como quanta energia seu uso requer,
apenas um quarto do que se paga nesse mas também aos materiais e métodos
país. De 2001 para cá, um sétimo das produtivos utilizados em sua fabricação
indústrias de exportação mexicanas, as e os tipos e qualidade de rejeitos gerados
maquiladoras, fecharam.8 no processo. Além disso, consumidores
Há grande divergência de opiniões quan- e produtores precisarão considerar se os
to a tais estratégias de exportação e a bus- produtos prestam os serviços e confor-
ca de um comércio livre mais abrangente tos desejados, quanto tempo irão durar e
poderem alcançar um desenvolvimento sig- o que lhes acontecerá quando atingirem
nificativo. Mas, independentemente de sa- o fim de sua vida útil.
lários baixos serem vistos como ingredien- Uma variedade de ferramentas está,
tes inevitáveis de uma estratégia exporta- potencialmente, à disposição de governos,
dora bem-sucedida, ou como símbolo de empresas e consumidores individuais para
exploração e impedimento a mercados in- que estes avancem em direção ao objeti-
ternos vibrantes, o que fica evidente é que vo global de uma economia menos
sustentam o consumismo. consumista. Muitas não só estão em dis-
A classe global de consumidores é, ob- cussão, como já começam a ser
viamente, a chave para reformular a rela- implementadas. Para fazer a diferença,
ção entre consumo e sustentabilidade – não entretanto, essas iniciativas terão que ser
só porque esta reivindica o grosso dos re- incrementadas significativamente, e as
cursos globais, mas também porque suas barreiras políticas e estruturais à mudan-
ações ecoam por todo o mundo. Todavia, ça terão que ser derrubadas.

122
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA

A Caixa de Ferramentas como os subsídios, causam impactos


desvirtuantes e prejudiciais. Por exemplo,
Governamental os custos ambientais e da saúde associa-
dos ao do automóvel não são cobrados dos
Os governos podem tomar uma série de
motoristas, o que barateia uma viagem in-
medidas para facilitar a transição para
dividual de automóvel em comparação a
uma economia menos consumista. Entre
uma viagem de trem ou por outros meios.
as ações necessárias, as principais são
Subsídios e externalidades não-compensa-
reformular políticas fiscais e de subsídi-
das, em conjunto, equivalem a 5–6% da
os, estabelecer regras licitatórias favorá-
economia global – aproximadamente o
veis ao meio ambiente e estabelecer nor-
mesmo que a economia alemã.10
mas adequadas para produtos e progra-
mas de rotulagem.
Inúmeros subsídios permitem que os Tabela 5-1. Estimativas de Subsídios e
preços de combustível, madeira, metais e Externalidades Globais Ambientalmente Danosas
minerais (e os produtos que os incorpo- Externalidades
ram) sejam bem menor do que seriam sem Setor Subsídios Quantificáveis Total
(bilhões de dólares)
os benefícios, encorajando maior consu-
Agricultura 260 250 510
mo. Falta de dados disponíveis impede uma
Combustíveis
contabilidade completa dos subsídios em Fósseis, Energia
atividades ambientalmente danosas, e as Nuclear 100 200 300
metodologias e definições podem divergir Transporte
Rodoviário 400 380 780
de estudo a estudo. Porém, um relatório Água 50 180 230
recente da Organização para Cooperação e Pesca 25 n.d. 25
Desenvolvimento Econômico (OCDE) es- Silvicultura 14 78 92
tima que os subsídios globais atinjam algo Total 849 1.088 1.937
em torno de US$ 1 trilhão por ano, com os
países membros da OCDE representando FONTE: vide nota final 10.
três quartos do total.9
Um estudo realizado pelos pesquisado- A eliminação gradativa de subsídios
res Norman Myers e Jennifer Kent relacio- destrutivos e o deslocamento, mesmo de
na subsídios perversos em seis setores – uma parcela desses recursos, para energia
agricultura, energia, transporte rodoviário, renovável, tecnologias de eficiência, méto-
água, pesca e silvicultura –, somando US$ dos limpos de produção e transportes pú-
850 bilhões, ou mais, anuais. Além disso, blicos dariam um impulso poderoso à tran-
há cerca de US$ 1,1 trilhão de sição para a sustentabilidade.
“externalidades” ambientais quantificáveis. Uma reforma fiscal ecológica é outra
(Vide Tabela 5-1.) Embora não sejam sub- medida-chave. A intenção é fazer com que os
sídios no sentido formal, representam efe- preços de mercado reflitam o custo ambiental
tivamente custos não-compensados, que pleno das atividades econômicas de uma for-
têm que ser assumidos pela sociedade e que, ma mais adequada. Tributos de carbono,

123
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA

impostos sobre o uso de energia não-renovável Discutida teoricamente desde o final


e materiais virgens, taxas de aterros sanitári- dos anos 70, a realocação fiscal ecológica
os e outros encargos sobre resíduos e polui- começou a tornar-se realidade nos anos
ção incentivariam os fabricantes a distancia- 90 num número cada vez maior de países
rem-se do uso pesado de combustíveis fós- europeus, com maior ímpeto entre 1990 e
seis, incrementaria a produtividade energética 1994. Dinamarca, Alemanha, Itália,
e de materiais e coibiria a geração de resídu- Holanda, Noruega, Suécia e Reino Unido
os e emissões. Em vez da simples imposição introduziram reformas que ligam uma sé-
de um novo imposto, entretanto, o conceito rie de impostos verdes a reduções em con-
mais em discussão é a realocação fiscal. Os tribuições sociais. A receita de impostos
sistemas fiscais atuais tornam o uso de re- ambientais na União Européia (UE), antes
cursos naturais extremamente barato e enca- do ajuste da inflação, mais que quadrupli-
recem a mão-de-obra. A receita ecofiscal se- cou entre 1980 e 2001, para 238 bilhões
ria aplicada no alívio do ônus fiscal que hoje de euros (Vide Tabela 5-2.) O grosso des-
recai sobre o trabalho, o que incentivaria a sa receita deriva de impostos sobre gaso-
criação de emprego.11 lina, diesel e veículos a motor.12

Tabela 5-2. Receita Fiscal Ambiental, União Européia, Anos Selecionados


Impostos Ambientais 1980 1990 2001

(bilhões de euros)
Receita 54,6 130,4 237,7
(percentual)
Receita como Parcela de Todos os Impostos e
Contribuições Sociais 5,8 6,2 6,5
Receita como Parcela do Produto Interno Bruto 2,2 2,5 2,7
FONTE: vide nota final 12.

Não obstante esses totais, realocações Isso não quer dizer que nada foi con-
ecofiscais, até hoje, ainda são relativa- quistado. Na Alemanha, por exemplo, um
mente poucas. Impostos ambientais nos ecoimposto sobre formas diferenciadas de
países da OCDE representam, em mé- consumo de energia foi introduzido origi-
dia, apenas 6–7% de toda a receita fis- nalmente em 1999, com quatro aumentos
cal. Impostos sobre folhas de pagamen- anuais subseqüentes. Em 2002, já havia aju-
to e contribuições sociais, por outro lado, dado a evitar emissões de mais de 7 mi-
têm uma carga de 25%. (Na União Euro- lhões de toneladas de dióxido de carbono
péia, devido a seus programas sociais (CO2). As receitas anuais aumentaram de
extensos, o ônus fiscal da mão-de-obra aproximadamente US$ 4 bilhões em 1999
é muito maior – entre 45 e 47% no final para cerca de US$ 19 bilhões em 2003. As
dos anos 90).13 reduções nas contribuições sociais,

124
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA

viabilizadas por esses recursos, ajudaram al subiu para 60%, tendo o governo decla-
a criar 60.000 postos adicionais de traba- rado que a indústria, em breve, terá que
lho em 2002, um número que deverá cres- pagar a taxa plena caso não atinja uma meta
cer para 250.000 até 2010.14 voluntária para 2010 de redução das emis-
sões de CO2 em até 35%.16
Para chegar a ser uma ferramenta im-
Todas as economias modernas portante para a sustentabilidade, o escopo
podem ser mais enxutas sem da reforma ecofiscal precisaria ser bem
que isso implique em sua mais ampla e eliminar todas as brechas.
Isso exigirá vencer difíceis batalhas políti-
condenação.
cas contra aqueles interessados em manter
o status-quo. O desafio é ilustrado pela ex-
Infelizmente, ecoimpostos são enfraque- periência alemã, na qual políticos oposici-
cidos freqüentemente por uma série de bre- onistas e setores da mídia lançaram uma
chas – concessão de isenções a certas in- intensa campanha desabonadora do
dústrias ou fontes energéticas, aplicação de ecoimposto. Tendo alcançado rapidamente
alíquotas reduzidas a empresas de energia uma ampla aceitação junto a todos os par-
intensiva ou concessão de reembolsos par- tidos políticos e o grande público nos anos
ciais a empresas. Isso quase sempre é fei- 90, a reforma ecofiscal sofreu um declínio
to em nome da preservação da igualmente veloz em sua popularidade logo
competitividade da indústria doméstica no que foi implementada.17
mercado internacional. Esses argumentos Outra ferramenta importante que os
perderiam força se as políticas nacionais governos podem utilizar é a licitação, con-
fossem harmonizadas. (Vide Capítulo 7.) forme descrito detalhadamente no Capítu-
Isso é o que a União Européia está tentan- lo 6. Seja em âmbito federal ou municipal,
do fazer com uma diretriz para taxação de autoridades governamentais nos países in-
energia, que deverá entrar em vigor em dustrializados gastam trilhões de dólares em
2004. Até hoje, entretanto, as deliberações concorrências públicas todo ano. Ao ad-
iniciadas em 1997 resultaram num texto quirir produtos ambientalmente desejáveis,
desapontador de concessões que enfraque- poderão exercer uma forte influência so-
ceram o projeto original.15 bre o modo como esses produtos são
Na Alemanha, o carvão e combustíveis projetados, sua eficiência e durabilidade, e
de jatos não estão sujeitos ao ecoimposto. também se são manejados responsavelmen-
Empresas dos setores mineiros e te no fim de sua vida útil. Regras de aquisi-
manufatureiros, concessionárias de servi- ção bem planejadas podem provocar ino-
ços públicos, construtoras e empreendimen- vações tecnológicas e ajudar a implantar
tos agrícolas são taxados a apenas 20% da mercados verdes.18
taxa nominal aplicada ao gás natural, óleo Os governos poderão influenciar o de-
para aquecimento e eletricidade. Entretan- senvolvimento de produtos ainda mais, atra-
to, no início de 2003, essa taxa preferenci- vés de instrumentos normativos. Normas

125
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA

nacionais têm sido adotadas em um número se em padrões de desempenho relativamen-


crescente de países para poupar energia e te baixos. Preocupado com esses proble-
água, por exemplo. Em 2000, 43 países dis- mas, um relatório recente da OCDE argu-
punham de programas de eficiência em ele- mentou: “A fim de evitar uma descrença
trodomésticos – sete vezes mais do que em geral nos esquemas de rotulagem, algum
1980. A maioria deles na Europa e Ásia.19 tipo de instrumento normativo pode ser
Normas que forçam o mercado a exigir necessário para sinalizar aos consumido-
que fabricantes atendam padrões mínimos res que certos esquemas são mais adequa-
são bem complementadas por programas dos para certas questões que outros”. Esse
de ecorrotulagem, que motivam o merca- regulamento pode tomar a forma de pro-
do ao oferecer aos consumidores as infor- gramas de certificação. Uma variedade de
mações necessárias para tomarem decisões órgãos certificadores (agências governa-
responsáveis de compra e, conseqüente- mentais ou grupos privados especializados)
mente, encorajar os fabricantes a projeta- pode avaliar se um produto está em con-
rem e comercializarem produtos mais formidade com as normas vigentes ou ve-
ecoamigáveis.20 rificar a correção das alegações ambientais
Esquemas de rotulagem foram desenvol- feitas pelos fabricantes.22
vidos para uma vasta gama de produtos, in- Todas as ferramentas discutidas aqui
cluindo eletrodomésticos, eletricidade, pro- – eliminação gradativa de subsídios,
dutos de madeira e produtos agrícolas como realocação fiscal, licitações verdes, nor-
café e banana. Alguns enfocam um único mas para produtos e programas de
produto ou classe de produto, enquanto ou- rotulagem – precisarão ser expandidas
tros avaliam uma ampla série de itens. O dramaticamente para colocar o consumo
primeiro e mais abrangente programa de numa base sustentável; mas o esforço para
rotulagem – o Anjo Azul, da Alemanha – acaba conseguí-lo é extremamente árduo. O fra-
de celebrar seu 25o aniversário. O número
casso da comunidade internacional em
de produtos cobertos cresceu de cerca de
chegar a um acordo sobre reduções de
100 em 1981 para 3.800 hoje. Tanto os pro-
subsídios agrícolas, durante a rodada de
gramas de rotulagem governamentais quan-
to os privados cresceram aceleradamente negociações no México, em setembro de
nos últimos anos.21 2003, demonstrou claramente quão arrai-
Na realidade, há rótulos concorrentes gados são os interesses particulares.
em algumas áreas, o que pode confundir
os consumidores e até mesmo frustrar op- Enxuto e Limpo
ções ecoamigáveis de consumo. Alguns
programas, particularmente aqueles patro- As economias industrializadas mobilizam
cinados pelas indústrias, podem fazer ale- gigantescas quantidades de combustíveis,
gações vagas ou sem substância sobre o metais, minerais, materiais de construção
teor de reciclagem de um produto, méto- e matérias-primas florestais e agrícolas. Um
dos de cultivo orgânico, biodegradabilidade estudo para a União Européia constatou que
e outras questões. Outros podem basear- em 1997 a produção per capita de materi-

126
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA

ais somou cerca de 80 toneladas


Toneladas
por americano, 51 toneladas por 100
cidadão da UE e 45 toneladas por Fonte: WRI
japonês. Por meio de 80 Produção Doméstica
metodologias diferentes, um es- para Consumo
tudo do World Resources Institute 60 Fluxos Ocultos
chegou a números semelhantes,
embora tenha assinalado os flu- 40
xos japoneses de materiais em
20
apenas 21 toneladas por pessoa.23
Nenhuma das economias in- 0
dustrializadas é hoje verdadeira- Estados Unidos Alemanha Japão
mente sustentável. Todas as
economias modernas podem ser Figura 5-1. Necessidades Materiais Per Capita nos
mais enxutas sem que isso im- Estados Unidos, Alemanha e Japão, 1996
plique em sua condenação. Sen-
do seus níveis de padrão de vida
relativamente equivalentes, se europeus por mineradoras para chegar ao minério),
podem viver com praticamente metade materiais de dragagem, dióxido de car-
da produção material que é mobilizada bono e outras emissões e poluentes, além
para os americanos (e os japoneses até de perda do solo, devido à erosão de ter-
com menos), há bastante espaço para ras cultivadas. A expressão “fluxos ocul-
melhoria nos Estados Unidos – o arqué- tos” é adequada, pois são em grande parte
tipo do consumo que grande parte do res- invisíveis para os consumidores. É o
to do mundo esforça-se para emular. caso, particularmente, das crescentes
Na realidade, a maior parte do fluxo quantidades de resíduos associados à
de materiais nas economias industrializa- extração de recursos nos países em de-
das não tem finalidade alguma e, efetiva- senvolvimento, posteriormente importa-
24
mente, nunca passa pelas mãos de con- dos pelas nações industrializadas.
sumidor algum. Os chamados fluxos Lidar com fluxos ocultos exige que
ocultos representam um pouco mais de algumas das atividades mais destrutivas
60% do fluxo total na UE – uma parcela – mineração, fundição e extração de ma-
que tem se mantido mais ou menos deira, particularmente – sejam reduzidas.
inalterada nas últimas duas décadas. Nos Isso pode ser obtido através da melhoria
Estados Unidos, fluxos ocultos são res- da eficiência energética e material,
ponsáveis por mais de 70%; no Japão, incrementando a reciclagem e reutilização,
por um pouco menos da metade. (Vide e estendendo a vida útil dos produtos para
Figura 5-1.) Esses fluxos ocultos inclu- que haja menor necessidade de extração
em rejeitos da mineração e de outras in- de matérias-primas virgens. Mas há tam-
dústrias, acúmulo de terra (terra retirada bém bastante espaço para redução do

127
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA

impacto ambiental dos bens e serviços E por quê? Enquanto o consumo de


efetivamente oferecidos aos consumido- materiais, por unidade, declinou, as pre-
res. Desmaterialização, produção limpa e ferências e desejos do consumidor man-
sistemas de laço fechado de resíduo zero têm-se numa espiral ascendente: carros e
são alguns dos conceitos-chave por trás casas estão cada vez maiores e mais so-
de uma nova abordagem. fisticados, as viagens são para lugares
Uma variedade de estudos e avaliações cada vez mais distantes, dietas estão cada
afirmou o potencial de uma estratégia de vez mais concentradas em carnes e há
sempre um fluxo constante de “novida-
“desmaterialização” – um conceito criado
des” e acessórios afins. E as economias
pelos co-fundadores do Rocky Mountain
industrializadas passaram por inesperado
Institute, Amory e Hunter Lovins, o eco-
efeito repique: menor energia por unidade
empresário Paul Hawken e o pesquisador ou menor exigência de materiais equivale
e político alemão Ernst Ulrich von a menores custos de consumo, o que, por
Weizsäcker. Objetiva reduzir o volume de sua vez, encoraja maior uso. Ganhos de
matérias-primas necessárias para criação eficiência vêm sendo, repetidamente, neu-
de um produto, através, por exemplo, da tralizados ou superados. Por exemplo,
produção de papel mais fino e veículos maior eficiência de combustível significa
mais leves e redução do volume de ener- que motoristas podem viajar mais longe
gia necessária para operar produtos – de pelo mesmo custo. E o número cada vez
lâmpadas a lavadoras e automóveis. Es- maior de automóveis significa que a de-
pecificamente, os defensores da desma- manda de combustível e materiais como
terialização pugnam por políticas “Fator alumínio, cobre, aço e plásticos, da indús-
10”, que buscam oferecer um dado volu- tria automotiva, continua subindo. A des-
me de bens e serviços com um décimo de peito da importância da desmaterialização,
insumo material.25 ela, por si só, não será suficiente frente à
Embora o potencial tecnológico para força irresistível do consumo.27
desmaterialização esteja longe de ser Os produtos tóxicos da nossa socie-
exaurido, já está havendo um certo dade material são outro motivo de preo-
desatrelamento entre crescimento econô- cupação. Defensores da “produção lim-
mico e produção material. Na União Eu- pa” dizem que há diversas oportunidades
ropéia, por exemplo, a produtividade dos para reduzir, e talvez eliminar, a depen-
recursos (medida como produto interno dência de materiais tóxicos na industria-
bruto por necessidades totais de materi- lização, evitando a poluição atmosférica
ais) melhorou 39% entre 1980 e 1997. e hídrica e impedindo a geração de resí-
Porém, essa conquista não se traduziu em duos perigosos.28
menor demanda global pelos recursos: na Uma fábrica de papel e celulose no Rio
Europa Ocidental, América do Norte e Ja- Androscoggin, em Jay, Maine, é um
pão, o consumo total de recursos tem per- exemplo inspirador. No início dos anos
manecido relativamente constante e em 90, a fábrica, pertencente ao gigante in-
níveis altos e insustentáveis.26 dustrial International Paper, era grande

128
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA

poluidora e mantinha um relacionamento Na Europa Ocidental, América do


antagônico com seus operários e comu- Norte e Japão, o consumo total de
nidade local. Uma reforma administrati- recursos tem permanecido em níveis
va resultou em colaboração ativa com
interessados locais, e regulamentos
altos e insustentáveis.
ambientais estaduais e comunitários fo-
ram fatores fundamentais de mudança.
Ambientalistas em todo o mundo consi-
Um foco inicial no modelo de contenção deram a comunidade de Kalundborg, na Di-
de efluentes para posterior tratamento e namarca, como desbravadora da ecologia
destinação, conhecido como end-of-pipe, industrial. Uma teia cada vez mais compacta
cedeu lugar rapidamente a medidas de de relações simbiônticas entre várias empre-
prevenção de poluição. A fábrica reduziu sas locais foi lentamente tecida ao longo das
dramaticamente as liberações de últimas três décadas, gerando ganhos eco-
poluentes orgânicos e mercúrio; eliminou nômicos e ambientais. Por exemplo, o gás
emissões de dioxina, furano e clorofór- natural que antes queimava nas torres da
mio e reduziu as emissões de particulados maior refinaria da Dinamarca está sendo uti-
à metade. Reduziu, também, a geração lizado como insumo numa fábrica de pape-
de resíduos perigosos, de 2,72 milhões lão; cinza em suspensão, dessulfurizada, de
de quilos em 1990 para 136.000 quilos uma termelétrica a carvão (também a maior
em 1998, e cortou o volume de resíduos do país), é destinada a uma fábrica de ci-
sólidos em aterros em 91%.29 mento; e lodo contendo nitrogênio e fósforo
De forma mais ambiciosa, a adminis- de uma indústria farmacêutica é utilizado
tração da fábrica esforçou-se para se afas- como fertilizante por agricultores vizinhos.31
tar da ortodoxia industrial em que, na Em vez de um plano diretor, a rede exis-
modalidade “berço-a-túmulo”, matérias- tente em Kalundborg evoluiu, na realidade,
primas são extraídas e processadas, e lenta e espontaneamente a partir de uma série
substâncias não diretamente úteis à indús- de acordos bilaterais, todos concluídos por
tria transformam-se em refugo indesejado. serem economicamente atraentes. Essa ex-
periência apresenta uma alternativa real e efe-
Um sistema alternativo “berço-a-berço”
tiva à ortodoxia industrial. Porém, a replicação
busca criar sistemas integrados, de laço
desse modelo pode não ser muito fácil. O
fechado, onde os subprodutos de uma in-
estabelecimento de uma simbiose industrial
dústria viram insumo de outra, em vez de de resíduo-zero leva um tempo considerável.
converterem-se em bombas-relógio Talvez seja mais viável construir essas teias
ambientais. (Vide Quadro 5-1.) Alguns recíprocas peça por peça, em vez de desen-
subprodutos, incluindo as cinzas da inci- volver projetos excessivamente ambiciosos
neração de lodo e casca e dióxido de car- logo de início. Mesmo assim, a noção de pro-
bono de um forno de cal, estão sendo uti- dução limpa está despertando um interesse
lizados por outras indústrias locais. Na crescente em todo o mundo. Entre outras,
realidade, várias empresas decidiram im- algumas empresas estão se empenhando nes-
plantar-se próximas à fabrica para apro- se objetivo na China, Fiji, Índia, Japão,
veitamento dos seus subprodutos.30 Namíbia, Filipinas, Porto Rico e Tailândia.32

129
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA

QUADRO 5-1. AALTERNATIVA BERÇO-A-BERÇO


Imaginemos um mundo onde tudo que ecossistema, proporcionando alimento para
fazemos, usamos e consumimos nutre a outras criaturas vivas, os materiais de berço-a-
natureza e a indústria – um mundo onde o berço circulam em ciclos de laço fechado,
crescimento é bom e a atividade humana gera fornecendo nutrientes para a natureza ou
uma pegada ecológica agradável e restauradora. indústria. Esse modelo reconhece dois
Embora isso possa parecer heresia para metabolismos, dentro dos quais os materiais
muitos no mundo do desenvolvimento fluem como nutrientes sadios.
sustentável, as qualidades destrutivas do Primeiro, os ciclos nutrientes da natureza
sistema industrial moderno de berço-a-túmulo constituem o metabolismo biológico.
podem ser consideradas como resultado de um Materiais destinados a um fluxo ótimo no
problema fundamental de planejamento, e não a metabolismo biológico são nutrientes
conseqüência inevitável do consumo e da biológicos. Produtos concebidos com esses
atividade econômica. Efetivamente, o bom nutrientes, como embalagens biodegradáveis,
planejamento – o planejamento ético, baseado são destinados a serem utilizados e devolvidos
nas leis da natureza – pode transformar o fazer com segurança ao meio ambiente, para
e consumir numa força regeneradora. alimentar sistemas vivos. Segundo, o
Esse novo conceito de planejamento – metabolismo técnico, destinado a refletir os
conhecido como berço-a-berço – vai além da ciclos berço-a-berço do planeta, é um sistema
modernização de sistemas industriais para de laço fechado, em que recursos sintéticos e
redução dos seus efeitos danosos. Abordagens minerais de alta tecnologia, e valiosos –
convencionais à sustentabilidade nutrientes técnicos – circulam num ciclo
freqüentemente fazem do uso eficiente de perpétuo de produção, recuperação e
energia e materiais seu objetivo final. Embora refabricação. Idealmente, todos os sistemas
possa ser uma estratégia útil de transição, tende humanos que compõem o metabolismo técnico
a reduzir os impactos negativos sem são movidos pela energia renovável do sol.
transformar a atividade danosa. A reciclagem de Nutrientes biológicos e técnicos já estão no
carpetes, por exemplo, pode reduzir o mercado. O tecido de estufaria Climatex
consumo, porém, caso o forro contenha PVC, Lifecycle é uma mistura de lã livre de resíduos
como a maioria dos forros de carpetes, o de pesticidas e rami cultivado organicamente,
produto reciclado ainda está numa viagem só tingido e processado inteiramente com
de ida para o aterro, onde se transforma em produtos químicos não-tóxicos. Todos seus
resíduo perigoso. insumos de produto e processo foram
O planejamento berço-a-berço, por outro definidos e selecionados em função da
lado, oferece um arcabouço onde os ciclos segurança humana e ecológica, dentro do
efetivos e regenerativos da natureza metabolismo biológico. Resultado: os retalhos
proporcionam modelos para projetos do tecido são transformados em feltro e
humanos totalmente positivos. Dentro dessa utilizados por clubes de jardim como matéria
estrutura podemos criar economias que vegetal para cultivo de frutas e legumes,
purificam o ar, terra e água; que dependem da devolvendo os nutrientes biológicos do tecido
receita solar e não geram nenhum resíduo ao solo.
tóxico; que utilizam materiais seguros e sadios, Enquanto isso, a Honeywell está lançando
reabastecendo o planeta e sendo eternamente uma fibra de carpete de alta qualidade chamada
reciclados, e que geram benefícios que realçam Zeftron Savant, feito da fibra de nylon 6,
toda a forma de vida. perpetuamente reciclável. Zeftron Savant foi
Ao longo da última década, a estrutura projetada para ser recuperada e repolimerizada
berço-a-berço evoluiu constantemente da – retornada a suas resinas constituintes – para
teoria à prática. No mundo industrial, está se transformar-se num novo material para novos
criando um novo conceito de materiais e de carpetes. Na realidade, a Honeywell pode
fluxos de materiais. Da mesma forma que recuperar o velho e convencional nylon 6 e
ocorre no mundo natural, onde o “resíduo” de transformá-lo em Zeftron Savant, ou seja, uma
um organismo circula através de um efetiva reciclagem “ascendente”, e não

130
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA

QUADRO 5-1. (continuação)


“descendente”, de um material industrial. O polímeros sintetizados e tratores,
nylon é “rematerializado”, e não- computadores e moinhos desenhados e
desmaterializado – um produto fabricados. As cidades enviam esses materiais
verdadeiramente berço-a-berço. para o mundo, recebendo-os de volta à
Na indústria de carpetes comerciais, medida que transitam pelos ciclos de laço
sistemas de recuperação de materiais estão fechado. Enquanto isso, o campo pode ser
proporcionando um modelo para o considerado o lar do metabolismo
desenvolvimento de metabolismos técnicos. A biológico.Os materiais lá gerados – alimentos,
Shaw Industries, por exemplo, desenvolveu madeiras, fibras – são criados por meio das
uma placa de carpete de nutriente técnico para interações da energia solar, solo e água e são a
seus clientes comerciais. A empresa garante fonte da nutrição biológica das comunidades
que toda fibra de seus carpetes de nylon 6 será rurais e cidades vizinhas. Um dos papéis
recebida de volta e retransformada em fibra de fundamentais das cidades nesse metabolismo
nylon 6 para carpete, e seu forro seguro de é devolver a nutrição biológica de forma
poliolefina retornado a forro seguro de segura e sadia, digamos, como fertilizante
limpo, ao solo rural. Esses fluxos de
poliolefina. Matéria- prima a matéria-prima.
nutrientes e energia são os metabolismos
Um ciclo de berço-a-berço.
duplos da cidade viva, a força motriz das
A placa de carpete de nutriente técnico da economias vibrantes do futuro.
Shaw é concebida como um produto de serviço, Mesmo nações grandes e influentes como a
um elemento-chave da estratégia berço-a-berço. China adotaram estratégias berço-a-berço.
Produtos de serviço são bens duráveis, como Criado a partir de uma tradição de 4.000 anos
carpetes e lavadoras, projetados por seu de agricultura sustentável, o Vice-Ministro de
fabricante para serem devolvidos e Ciência e Tecnologia, Deng Nan, anunciou em
reutilizados.O produto presta um serviço ao setembro de 2002 que a China dará início ao
cliente enquanto o fabricante mantém a desenvolvimento de indústrias e produtos
propriedade dos bens materiais do produto. Ao com base em princípios berço-a-berço,
fim de um determinado período de uso, o através do Centro de Desenvolvimento
fabricante retoma o produto e reutiliza seus Sustentável China–Estados Unidos. A China
materiais em outro produto de alta qualidade. já está desenvolvendo uma vila berço-a-berço
Amplamente praticado, o conceito de produto como também empreendimentos de energia
solar e eólica.
de serviço pode mudar o estilo de consumo, à
A estratégia berço-a-berço revela nossos
medida que os sistemas humanos movidos a projetos como expressões encantadoras de
energia renovável reutilizam materiais valiosos, criatividade, como sistemas de sustentação de
através dos ciclos de vida de muitos produtos. vida em harmonia com os fluxos de energia,
Em larga escala, esse conceito pode almas humanas e outros seres vivos. Quando
transformar a natureza das economias. Em isso tornar-se o símbolo das economias
Chicago, por exemplo, esses princípios são produtivas, o próprio consumo terá sido
um referencial para os esforços do Prefeito transformado.
Richard Daley de transformar a cidade na mais
verde da América, um pólo de eficiência – William McDonough e Michael
energética e fluxos benéficos de materiais. Braungart, McDonough Braungart Design
Numa economia berço-a-berço, as cidades Chemistry
são o lar e a fonte principais da nutrição ______________________________________
técnica – o local onde metais são forjados, FONTE: vide nota final 30.

131
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA

Tome de Volta Rohner e a empresa de desenho têxtil Design


Tex desenvolveram, em conjunto, um te-
É muito mais provável que o consumo de cido de estofamento que, uma vez removi-
recursos seja minimizado e a geração de do de uma cadeira ao final de sua vida útil,
resíduos e emissões evitada se os fabrican- decompõe-se naturalmente.35
tes, desde o início, incorporarem conside- A filosofia do PRP nasceu na Diretiva
rações ambientais ao projeto de produtos, de Embalagem da Alemanha, em 1991.
desenvolvimento de tecnologias de produ- Responsabilizando os produtores pela de-
ção e seleção de materiais. A fim de incen- volução e manejo dos resíduos das emba-
tivar as empresas a seguirem essa direção, lagens, a lei provocou reduções constan-
um número crescente de governos promul- tes de materiais de embalagem. E o mais
gou leis que tratam do “princípio de res- importante: atribui-se a ela a motivação de
ponsabilidade do produtor” (PRP), obrigan- muitos governos na Europa, Ásia e Amé-
do as empresas a aceitarem os seus produ- rica Latina abraçarem esse conceito. Des-
tos de volta no final de sua vida útil. Esses de então, a abordagem PRP disseminou-
princípios proíbem disposição final em ater- se muito além das embalagens para abran-
ros e incineração da maioria dos produtos, ger uma variedade crescente de produtos
estabelecem requisitos mínimos de e indústrias, incluindo aparelhos elétricos
reutilização e reciclagem, especificam se os e eletrônicos, máquinas de escritório, au-
produtores devem ser responsabilizados tomóveis, pneus, mobília, produtos de
individualmente ou coletivamente pelos pro- papel, baterias e materiais de construção.
dutos devolvidos e estipulam se os produ- (Vide Tabela 5-3.)36
tores podem cobrar uma taxa quando re- A Europa continua no centro do movi-
cebem seus produtos de volta.33 mento PRP. Muitos governos europeus ins-
A meta do PRP é induzir fabricantes a tituíram leis sobre o PRP e a União Euro-
reavaliarem os impactos totais do ciclo de péia promulgou diretivas para embalagens,
vida de seus produtos. Idealmente, elimi- produtos eletrônicos, baterias e automóveis
narão peças desnecessárias, abandonarão numa iniciativa para harmonizar esforços
embalagens dispensáveis e desenharão pro- nacionais às vezes divergentes.37
dutos facilmente desmontáveis, recicláveis, Motivada por preocupações sobre o
remanufaturáveis ou reutilizáveis.34 acelerado acúmulo de lixo elétrico e eletrô-
Parte do desafio é desenvolver materi- nico de computadores, celulares e equipa-
ais que possam ser facilmente reutilizados mentos semelhantes, a UE adotou uma
ou que, de outra forma, não permaneçam Diretiva para Equipamentos Elétricos e Ele-
em aterros durante séculos. Por exemplo, trônicos em fevereiro de 2003. Os países
a gigante química alemã BASF inventou um membros devem implementar legislação
novo material feito de fibra de nylon 6 infi- nacional até agosto de 2004 (estão livres
nitamente reciclável; pode ser retornada a para impor políticas mais restritivas) e os
suas resinas constituintes e transformada produtores dos equipamentos terão que
em novos produtos. A empresa têxtil suíça implantar sistemas de devolução e manejo

132
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA

Tabela 5-3. Leis sobre o Princípio de Responsabilidade do Produtor, Setores Selecionados1

Área de Produção
ou Setor Países com Legislação PRP

Embalagens Mais de 30 países, inclusive Alemanha, Brasil, Coréia do Sul, China, Holanda,
Hungria, Japão, Peru, Polônia, República Tcheca, Suécia, Taiwan e Uruguai
(apenas vasilhames de bebidas).

Equipamentos Elétricos Atualmente, mais de uma dúzia de países, inclusive Alemanha (voluntariamente),
e Eletrônicos Bélgica, Brasil, Coréia do Sul, China, Dinamarca, Holanda, Itália, Japão, Noruega,
Portugal, Suécia, Suíça e Taiwan.

Veículos Alemanha, Brasil, Dinamarca, França, Holanda, Japão, Suécia e Taiwan.

Pneus Brasil, Coréia do Sul, Finlândia, Suécia e Taiwan; Uruguai está considerando
medidas voluntárias.

Baterias Pelo menos 15 países, inclusive Alemanha, Áustria, Brasil, Holanda, Japão,
Noruega e Taiwan; Uruguai está considerando medidas voluntárias.

1
As diretivas na União Européia foram promulgadas em todos os setores cobertos pela tabela, exceto
pneus. Além das regras nacionais adotadas individualmente por países membros da UE, essas diretivas
são obrigatórias para todos os atuais 15 membros (e serão obrigatórias para os 10 países do Leste
Europeu que estão prestes a se tornar membros).
FONTE: vide nota final 36.

do lixo elétrico e eletrônico gratuitamente cantes de equipamentos elétricos e eletrôni-


aos consumidores até agosto de 2005. Para cos não mais utilizem chumbo, mercúrio,
produtos comercializados antes de agosto cádmio, cromo hexavalente e retardadores
de 2005, os custos deverão ser comparti- de chama bromados PBDE e PBB em pro-
lhados entre todos os produtores, confor- dutos vendidos após 1o de julho de 2006. Há
me sua participação de mercado; para itens uma preocupação crescente em todo o mun-
vendidos posteriormente, os produtores têm do quanto a esses materiais perigosos; o
responsabilidade individual. (Embora a res- Japão é o líder na eliminação dessas subs-
ponsabilidade individual seja um incentivo tâncias dos produtos elétricos e eletrônicos
para adoção de mudanças de projeto e a China anunciou que modelará sua políti-
ambientalmente amigáveis que reduzam os ca à diretiva da UE.39
custos dessa responsabilidade, há também Os Estados Unidos ficaram para trás
o perigo de sistemas individuais de retorno na questão da responsabilidade do pro-
provocarem duplicação de esforços e pos- dutor. A oposição da indústria bloqueou
sivelmente maiores custos.)38 legislação federal sobre devolução. É ten-
Uma diretiva paralela sobre Restrições a tador presumir que empresas norte-ame-
Substâncias Perigosas exige que os fabri- ricanas que operam mundialmente aca-

133
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA

barão decidindo que, já que são obriga- entes. Fabricantes de carpetes e alguns dos
das a atender às exigências do PRP na seus maiores fornecedores, por exemplo,
Europa e em outros países, poderiam vêem a devolução como um veículo de
adotar essas políticas também nos Esta- vantagem competitiva, tendo iniciado uma
dos Unidos. A IBM começou a implantar variedade de programas para a reutilização
programas de devolução já em 1989, na e reciclagem de carpetes usados. A Kodak
Europa, e depois iniciou um programa deu início a um programa de devolução de
mais restrito nos Estados Unidos em câmeras descartáveis em 1990 (porém
1997. Mas a IBM pode ser uma exceção; acredita-se que um quarto dessas câmeras
o que se vê atualmente oferece pouca ainda acabe em lixões). A Nike implantou
esperança para que isso ocorra.40 um programa chamado “Reutilize-um-Sa-
Vários governos estaduais e muni- pato”, numa reciclagem “descendente” de
cipais (incluindo Flórida, Maine, tênis usados. A borracha da sola e a espu-
Massachusetts, Minnesota, Carolina do ma da meia-sola dos tênis usados são con-
Sul e Wisconsin) demonstraram interes- vertidas em material de revestimento de
se em leis de devolução no estilo euro- pistas de corrida e outras instalações atléti-
peu. Caso surgisse um conjunto de re- cas e playgrounds. O tecido da parte supe-
gulamentos locais, poder-se-ia esperar rior transforma-se em estofamento para
que as empresas decidissem que regras carpetes.43
nacionais (embora talvez ainda voluntá- Mas o progresso ainda é limitado nos
rias) seriam preferíveis. Foi exatamente Estados Unidos. E, apesar de avanços
isso que ocorreu em relação às baterias significativos na Europa, ainda há alguns
de níquel-cádmio – tendo a indústria lan- desafios técnicos e políticos. A reci-
çado uma iniciativa nacional de devolu- clagem de plásticos tem mostrado-se re-
ção e reciclagem em 1995.41 sistente a soluções fáceis, como tam-
Algumas empresas estão imple- bém certos materiais de embalagem que
mentando ações voluntárias de devolução, consistem de um amálgama complexo de
para que se evitem programas obrigató- camadas de materiais diferentes. A opo-
rios. Sob crescente pressão das autori- sição da indústria está longe de ser der-
dades normativas e grupos locais para rubada. Na Alemanha, o setor de varejo
cuidarem do lixo eletrônico, grandes fa- está minando uma tentativa ambiciosa de
bricantes de computadores como Dell, exigir a devolução de todas as garrafas e
Hewlett Packard e IBM implantaram pro- latas de bebida e desencorajar o uso de
gramas voluntários. Todavia, as taxas de descartáveis. Finalmente, o ritmo acele-
devolução tendem a ser baixas, pois co- rado com que muitos aparelhos eletrôni-
bram dos consumidores US$ 20–30 na cos, como celulares, palm-pilots e com-
devolução do produto.42 putadores, ficam obsoletos é um desafio
Outras empresas e indústrias vêem o tremendo: é difícil implantar sistemas efi-
PRP como uma oportunidade de reduzir cientes de coleta quando o giro é tão ace-
custos de produção ou angariar simpatia lerado e o volume de materiais acumula-
de consumidores ambientalmente consci- se tão rapidamente.44

134
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA

Repensando Produtos e produto, pode ser um incentivo para as em-


presas seguirem esse caminho.45
Serviços Quando produtos não se desgastam ra-
pidamente, não precisam ser substituídos
As economias industriais modernas são ca-
com tanta freqüência. Uma implicação ób-
pazes de produzir imensas quantidades de
via é que serão produzidos menos produ-
bens com tanta facilidade, e a um custo
tos, o que significaria que as empresas fa-
tão baixo, que há um grande incentivo para
riam menos negócios. Mas haverá maior
considerar a maioria das mercadorias como
oportunidade e incentivo para manter, re-
descartável, destinada a se desfazer rapi-
parar, atualizar, reciclar, reutilizar e
damente, em vez de projetar e fabricar du-
remanufaturar produtos, e assim mais ne-
rabilidade. Muitos bens de consumo são
gócios e maior potencial de emprego du-
feitos de tal forma que desencorajam repa-
rante a vida de um produto.
ros e substituição de peças e, às vezes, tor-
A reciclagem e remanufatura já torna-
nam isso praticamente impossível. E mes-
ram-se indústrias de porte. A Agência de
mo quando algo pode ser reparado, o cus-
Reciclagem Internacional, em Bruxelas, es-
to é freqüentemente muito alto em relação
tima que em pelo menos 50 países a indús-
a um produto novo. Isso se deve ao fato
tria de reciclagem processa mais de 600
de o custo de descarte dos valiosos mate-
milhões de toneladas anualmente. Com um
riais e mão-de-obra incorporados em no-
faturamento anual de US$ 160 bilhões, a in-
vos produtos não estarem plenamente re-
dústria emprega mais de 1,5 milhão de pes-
fletidos no preço de compra.
soas. A reciclagem não só mantém os mate-
Durabilidade, reparabilidade e capacidade
riais fora de lixões e incineradores, como
de instalar novas versões (upgradability) são
proporciona uma poupança substancial de
essenciais para minorar o impacto ambiental
energia ao substituir a extração de novas
do consumo. Para facilitar reforma e aper-
matérias-primas e processamento por ma-
feiçoamento (para que a durabilidade não se
teriais secundários. (Vide Tabela 5-4.)46
traduza em um beco sem saída tecnológico
que impeça a introdução de desenhos mais
eficientes), uma abordagem “modular” dá Tabela 5-4. Economia de Energia Obtida pela
acesso a peças e componentes individuais, Substituição da Produção Primária por
permitindo sua fácil substituição. Empresas Materiais Secundários
como Xerox (copiadoras e impressoras) e Material Economia
Nortel (telecomunicações) adotaram essa fi-
(percentual)
losofia. Trabalhando para estender e Alumínio 95
incrementar a vida útil de um produto, as Cobre 85
empresas poderão extrair desempenhos cada Plástico 80
Aço 74
vez melhores dos recursos incorporados nos
Chumbo 65
produtos, em vez de vender a maior quanti- Papel 64
dade possível. Embora a legislação do PRP
não trate da questão da longevidade de um FONTE: vide nota final 46.

135
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA

A remanufatura também está transfor- O princípio da responsabilidade do pro-


mando-se em um grande negócio, particu- dutor, a remanufatura e conceitos afins le-
larmente em áreas como componentes de vam, logicamente, a toda uma nova manei-
veículos a motor. Essa atividade em todo o ra de pensar os produtos, como uma eco-
mundo poupa, no mínimo, 11 milhões de nomia funciona e o que deve alcançar. Em
barris de petróleo por ano – um volume de vez de simplesmente vender bens – o má-
eletricidade igual ao gerado por cinco usinas ximo possível, sem se interessar com o que
nucleares – e um volume de matéria-prima acontece após a venda –, os fabricantes
que encheria 155.000 vagões ferroviários avançam para prestar um serviço deseja-
anualmente. Nos Estados Unidos, a do. No futuro, os consumidores poderão
remanufatura é um negócio de mais de US$ arrendar ou alugar produtos, em vez de
50 bilhões anuais, empregando quase meio adquiri-los. Ao manter a propriedade, os
milhão de pessoas diretamente em 73.000 fabricantes também mantêm-se responsá-
empresas diferentes; isso equivale aproxima- veis pela manutenção e reparos adequados,
damente a toda a força de trabalho do setor tomam as medidas necessárias para esten-
de bens de consumo duráveis nos Estados der a vida útil e, finalmente, recuperam os
Unidos. De acordo com Walter Stahel, do componentes e materiais para reciclagem,
Product-Life Institute, em Genebra, o setor reutilização ou remanufatura. Podem tra-
de remanufatura nos países membros da UE balhar diretamente com seus clientes ou
representa cerca de 4% do PIB da região.47 varejistas. Mas a ênfase estaria no “varejo
A Xerox é uma das pioneiras desse con- de qualidade”, assessorando clientes sobre
ceito, tendo adotado uma iniciativa de Ma- as melhores opções de arrendamento dis-
nejo de Reciclagem de Bens em 1990. poníveis e sobre qualidade e manutenção
Embora a empresa já tenha feito alguma dos produtos; aconselhando-os como es-
remanufatura, esse programa levou a Xe- tender a vida útil com um mínimo de con-
rox a projetar seus produtos desde o início sumo de energia e materiais e diagnosti-
tendo a remanufatura em mente, e a fazer cando se os aperfeiçoamentos ou outras
cada peça reutilizável ou reciclável. Como mudanças maximizariam a utilidade de um
resultado, 70–90% dos equipamentos (me- determinado produto. Tal sistema seria
didos em peso) retornaram à Xerox no fi- como construir um tipo totalmente novo
de economia de serviços, muito diferente
nal de sua vida útil para serem refeitos. Da
da economia de serviços atual.49
mesma forma que alguns dos seus con-
correntes, a Xerox também remanufatura
cartuchos usados para copiadores e im-
pressoras; em 2001, refez ou reciclou cer- Consumir melhor não significa
ca de 90% dos 7 milhões de cartuchos e deixar de manter a moderação
toners devolvidos por seus clientes. No to- nos níveis gerais de consumo.
tal, a empresa calcula que projetos
ambientalmente amigáveis mantiveram pelo
menos meio milhão de toneladas de lixo ele- Várias empresas começaram a transfor-
trônico fora de lixões entre 1991 e 2001.48 mar esse conceito em realidade. A Xerox já

136
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA

arrenda três quartos dos seus equipamen- onais, utiliza 40% menos matéria- prima e
tos. A Carrier Corp., em vez de vender equi- incorpora energia, podendo ser totalmen-
pamento de ar-condicionado, está criando te remanufaturado em novos carpetes, em
um programa de venda de serviços de re- vez de ser descartado ou sofrer
frigeração, assessorando clientes sobre me- “reciclagem descendente” para produtos
didas de eficiência energética que ajudarão de menor valor.52
a reduzir as necessidades de ar-condicio- Talvez no seu lance mais audacioso, a
nado. A Dow Chemical e Safety-Kleen de- Interface introduziu o “Arrendamento Sem-
ram início ao arrendamento de solventes pre Verde” em 1995, com o qual a empresa
orgânicos para clientes industriais e comer- retém a propriedade do produto e permane-
ciais, aconselhando-os quanto ao uso ade- ce responsável por mantê-lo limpo median-
quado e recuperando esses produtos, em te uma remuneração mensal. Inspeções re-
vez de deixar o cliente com a responsabili- gulares permitiriam à empresa concentrar-
dade de descartá-los. Isso é um forte in- se apenas na substituição das placas com
centivo para utilizarem menos solventes.50 maior desgaste, em vez de todo o carpete,
Algumas empresas especializam-se em como no passado. Essa substituição mais
“contratação de desempenho”, ajudando direcionada ajuda a reduzir o volume de
clientes institucionais – empresas privadas, material necessário em cerca de 80%.53
órgãos governamentais, hospitais e outros Porém, apenas uma meia-dúzia de ar-
– a identificarem formas de reduzir seu rendamentos foram efetivamente realizados,
consumo de energia, matérias-primas e pois a maioria dos clientes optou pela com-
água. Num contraste marcante com os in- pra tradicional. O programa não teve suces-
teresses comerciais tradicionais, impediu o so por várias razões, algumas específicas
consumo de recursos e evitou o desperdí- ao negócio de carpetes. Alguns clientes acha-
cio e poluição que fazem essas empresas ram o contrato de arrendamento muito com-
prosperarem.51 plexo ou muito inflexível, amarrando-os num
Um exemplo freqüentemente citado de acerto de longo prazo que limitava suas op-
uma empresa buscando reinventar-se dessa ções futuras. Mas talvez o maior problema
forma é a Interface, um dos maiores fabri- tenha sido o custo – um reflexo da ênfase
cantes de tapetes comerciais. Após seu fun- da Interface em material e serviços de ma-
dador e diretor-presidente, Ray Anderson, nutenção de alta qualidade. No final, a em-
experimentar uma epifania ambiental em presa viu-se forçada a abandonar o arrenda-
meados dos anos 90, a empresa empenhou- mento “sempre-verde”.54
se numa iniciativa para reduzir drasticamente A história da Interface é, ao mesmo tem-
seu impacto ambiental, saindo de vendas po, encorajadora e acauteladora. É claro
para arrendamento de carpetes. Conseguiu que o novo modelo comercial que a em-
reduzir substancialmente seu consumo de presa estava propondo ainda enfrenta obs-
água e energia e cortou sua dependência táculos gigantescos. Mas, da mesma for-
de matérias-primas de petróleo. Em 1999, ma que ocorre com todos os desafios radi-
introduziu “solenium”, um material que dura cais às práticas estabelecidas, uma aceita-
quatro vezes mais que os carpetes tradici- ção ampla não virá facilmente.

137
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA

Consumo Público e duos e famílias, há um aspecto mais am-


plo e estrutural para o qual os governos
Crédito Sustentável precisam atentar.
A predominância de padrões de consumo
Tecnologias mais eficientes e limpas são ins-
altamente individualizados leva, inevitavelmen-
trumentos essenciais da caixa de ferramen-
te, à multiplicação de muitos bens e serviços
tas da sustentabilidade. E a emergência de
em escala grandiosa. Isso praticamente as-
um novo tipo de economia de serviços pro-
segura a redundância e muito mais necessi-
porcionará espaço adicional de manobra na
dades materiais do que seria necessário. Go-
busca de uma economia mais sustentável.
Mais cedo do que tarde, todavia, precisare- vernos e comunidades podem agir para con-
mos confrontar o espectro do consumismo seguir um melhor equilíbrio entre formas
insaciável. Há o perigo do dragão do consu- públicas e privadas de consumo. Mesmo nas
mo suplantar até mesmo métodos e sociedades mais orientadas para o mercado
tecnologias mais sofisticados criados para há bibliotecas, piscinas e parques públicos.
tornar o consumo mais enxuto e Esse compartilhamento organizado de equi-
supereficiente. Consumir melhor não signifi- pamentos e amenidades pode ser ampliado.
ca deixar de manter a moderação nos níveis Por exemplo, o compartilhamento de auto-
gerais de consumo. Vale recordar o alerta do móveis está ganhando adesões rapidamente
economista ecológico Herman Daly: “Fazer em cidades européias e em outros países,
com maior eficiência aquilo que não deveria proporcionando uma alternativa necessária,
nem ter sido feito não é motivo de alegria”.53 se bem que parcial, à propriedade de veícu-
Como deveriam conduzir-se as socie- los e ao aluguel estritamente comercial de
dades na tarefa de desencorajar o consu- automóveis. Governos podem facilitar essas
mo “excessivo”? Embora um imposto de iniciativas estabelecendo regimes fiscais fa-
luxo, bem planejado, possa desempenhar voráveis. Comunidades locais também podem
um papel útil, sempre haverá polêmica implantar sistemas de compartilhamento de
sobre o que seja luxo desnecessário. Aqui- ferramentas, para que ninguém precise pos-
escendo à “soberania do consumidor”, as suir individualmente uma furadora, serra cir-
sociedades capitalistas deixam quase que cular ou cortador de grama.56
inteiramente a critério das pessoas a deci- A ação governamental também é indis-
são de comprar, considerando regulamen- pensável para superar os imensos empeci-
tos governamentais como uma intrusão lhos estruturais a níveis menores de con-
indesejada (enquanto convenientemente sumo e a formas mais públicas de consu-
ignoram as tentativas incessantes de ma- mo. E isso é muito mais evidente nos trans-
nipulação dos “consumidores soberanos” portes: padrões de habitações espalhadas,
através de campanhas publicitárias). Cla- de baixa densidade, traduzem-se em gran-
ramente, uma abordagem “comandar-e- des distâncias separando as residências,
controlar” não é viável nem desejável. Mas locais de trabalho, escolas e lojas – fazen-
enquanto decisões específicas de fazer do com que andar a pé, de bicicleta ou pe-
compras devem ficar a critério de indiví- gar um ônibus ou metrô torne-se uma ta-

138
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA

refa difícil ou impossível. Embora a deci- consumidor cada vez mais alto. Porém, a
são sobre que tipo de automóvel comprar capacidade de anunciantes projetarem no-
seja do consumidor, a necessidade de vas “necessidades” ultrapassa facilmente o
comprá-lo, ou não, freqüentemente foge de alcance do bolso do consumidor; “dese-
seu controle. Da mesma forma, na mora- jos” sempre parecem maiores do que os
dia, os proprietários dispõem de escolhas meios disponíveis.
sobre aquecimento e ar-condicionado. Mas Particularmente a partir dos anos 90, a
é decisão das incorporadoras e construto- poupança na maioria dos países da OCDE
ras se uma residência terá isolamento ade- começou a cair, enquanto as dívidas fami-
quado e janelas eficientes em energia; es-
liares subiam. Jovens adultos, vulneráveis
sas decisões fundamentais ditam as neces-
ao marketing agressivo direto de bancos e
sidades de aquecimento e refrigeração du-
outros emitentes de cartões de crédito, es-
rante a vida de uma casa.
tão afundando cada vez mais num atoleiro
Reconhecendo essas realidades, a OCDE
tem referido-se a uma “infra-estrutura de de dívidas. O número de jovens de 20 a 24
consumo” que força as pessoas a adotar anos à beira da falência pessoal na Alema-
padrões involuntários de consumo. Da mes- nha, por exemplo, aumentou um terço só
58
ma forma que é importante para os consu- entre 1999 e 2002.
midores escolher produtos mais eficientes, O endividamento dos consumidores
só isso não pode superar essas limitações americanos cresce hoje duas vezes mais rá-
estruturais. Políticas governamentais avan- pido que suas rendas. O crédito ao consu-
çadas – melhor planejamento do uso do solo, midor a receber disparou nas últimas duas
normas e padrões focados no meio ambi- décadas, atingindo US$ 1,8 trilhão em julho
ente e a criação de uma infra-estrutura pú- de 2003. (Vide Figura 5-2.) A proporção de
blica revigorada, que permita maior provi- portadores de cartões de crédito com sal-
são social de certos bens e ser-
viços – ajudarão a assegurar que Bilhões de Dólares
2.000
os consumidores não sejam (base=2001)
compelidos a fazer “escolhas”
consumo-intensivas.57 1.500
Outra área-chave em que
uma ação governamental faz-se
1.000
necessária é o crédito ao con-
sumidor. O rufo inexorável da
500
propaganda, insinuando que
marcas corporativas simboli- Fonte: Federal Reserve Board
zam estilos desejáveis de vida e 0
que a felicidade individual está 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
intrinsecamente relacionada aos Figura 5-2. Crédito ao Consumidor a Receber
produtos que possuímos, aju- nos Estados Unidos, 1950–2003
da a propelir a preferência do

139
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA

dos em aberto no final de cada mês aumen- midores, oferecendo condições vantajosas de
tou para 61%, e o endividamento médio su- financiamento para determinadas aquisições.
perou US$ 12.000 em 2002. No Reino Uni- Os governos do Japão e Alemanha fazem isso
do, a dívida do consumidor quase triplicou em apoio à instalação de telhados solares em
(em bases atuais) entre 1991 e 2001. Na residências, porém muitas outras aquisições
Alemanha, o crédito ao consumidor dobrou ecoamigáveis poderiam ser incentivadas da
em 1989–99 para 216 bilhões de euros, e mesma forma. Ou governos podem oferecer
em 2001 quase um quarto de todas as famí- descontos direcionados. O governo do Ca-
lias tinham dívidas pendentes. E o número nadá, por exemplo, anunciou em agosto de
de famílias holandesas buscando proteção 2003 que iria destinar C$ 131,4 milhões (US$
contra credores dobrou em 1992–99.59 95 milhões) para um programa que oferece
Até meados dos anos 90, consumidores um desconto médio de C$ 1.000 por resi-
fora da América do Norte e Europa Ociden- dência, a fim de motivar proprietários a faze-
tal raramente assumiam um grande volume rem melhorias em eficiência energética.61
de dívidas pessoais. Hoje, os gastos com A fim de encorajar ainda mais a fabrica-
cartões de crédito estão aumentando rapi- ção e compra de produtos ambientalmente
damente entre consumidores emergentes, de benignos, os governos poderiam desenvol-
classe média, na Ásia, América Latina, Eu- ver políticas que oferecessem descontos fis-
ropa Oriental e até em partes da África. O cais a produtos de melhor desempenho, ta-
volume de dinheiro gasto por sul-coreanos xando aqueles que fiquem aquém dos pa-
por meio de cartões de crédito mais que drões. Poderia ser criado um sistema gra-
duplicou em 2001, mas 2,5 milhões destes duado onde os níveis tanto de descontos
estão inadimplentes. Falências pessoais es- quanto de taxas seriam escalonados confor-
tão aumentando não apenas na Coréia do me a eficiência, durabilidade ou nível de be-
Sul, mas também na Argentina, Brasil, Chi- nefício ambiental de determinado produto.
le, China, México e Tailândia.60 Essa combinação, conhecida como “taxa-
Embora o crédito ao consumidor esteja desconto”, tem sido utilizada para produto-
hoje atrelado à manutenção de uma econo- res de energia, porém o conceito ainda não
mia hiperprodutiva, que encoraja as pessoas
foi implementado num cenário consumidor.
a assumir altas dívidas pessoais, as finanças
Um sistema taxa-desconto poderá até ser
de uma economia de consumo sustentável
mais eficaz se for atrelado a outras políti-
terão que desenvolver formas que permitam
cas, como leis de ecorrotulagem e PRP.62
– e premiem – a compra de produtos eficien-
tes, de alta qualidade, duráveis e
ambientalmente amigáveis. Estes, sem dúvi- Livrando-se da Armadilha
da, terão maior custo inicial de aquisição, mas do “Ganhar-e-Gastar”
ao longo do tempo serão mais economica-
mente vantajosos para os consumidores do Os países industrializados são extraordi-
que produtos mais baratos e frágeis, que te- nariamente produtivos – ou seja, a mes-
rão de ser substituídos com freqüência. ma quantidade de produto pode ser
Os governos poderão ajudar os consu- fabricada com cada vez menos trabalho

140
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA

humano. Nos Estados Unidos, por exem- um papel central, a canalização de ganhos
plo, apenas cerca de 12 horas semanais de produtividade para maior tempo de lazer,
de trabalho foram necessárias para pro- em vez de aumento de salário, que poderia
duzir, em 2000, o mesmo que em 40 ho- redundar em consumo crescente, também
ras em 1950. Em princípio, isso pode ser faz sentido sob uma perspectiva ecológica
transformado em um de dois objetivos: (presumindo-se que um maior tempo de
elevação de salários (em linha com a pro- lazer não se traduza em atividades
dutividade), conservando a jornada de ambientalmente questionáveis, como via-
trabalho constante, ou concessão de mai- gens aéreas longas para férias em locais
or tempo de lazer, mantendo constante a “exóticos”).64
renda do trabalho. Na prática, quase sem- Levou quase um século para se che-
pre tem sido o primeiro. A maioria das gar à semana de 40 horas na maioria dos
pessoas tem ficado presa a um padrão países industrializados. Onde outrora ha-
de “ganhar-e-gastar”. Maior disponibili- via uma tendência comum para jornadas
dade de renda traduz-se em maior des- menores por todo o mundo industrializa-
pesa de consumo. E a sedução da propa- do, há hoje uma divergência cada vez
ganda, o acompanhamento de status mais maior entre Estados Unidos e Europa.
elevados e outros fatores fazem com que Numa reversão da situação antes dos anos
cada centavo ganho seja necessário para 70, os americanos hoje trabalham perío-
continuar na senda batida do consumo.63 dos mais longos que a maioria dos euro-
Desde a ascensão da industrialização em peus (trabalhadores japoneses, entretan-
massa do final do século XIX tem havido to, ainda têm, de longe, a maior jornada
um cabo-de-guerra contínuo entre patrões de trabalho). (Vide Figura 5-3.)65
e sindicatos sobre a jor-
nada de trabalho. Os Horas
empregados batalham 2.800 Fonte: Hayden
pela redução das horas 2.600 Reino Unido
de trabalho, seja dire-
2.400
tamente, diminuindo-se
Japão
realmente a jornada, ou 2.200
maior período de féri-
as, aposentadoria mais 2.000 Alemanha
França
cedo ou ausência re- 1.800
munerada. A motivação Estados Unidos
básica disso foi o de- 1.600
sejo de melhoria da 1.400
qualidade de vida e cri- 1913 1929 1938 1950 1960 1973 1990 1998
ação de mais empre-
gos. Embora as ques- Figura 5-3. Jornada Anual de Trabalho por Pessoa Empregada
tões ambientais não te- nos Principais Países Industrializados,
nham desempenhado Anos Selecionados, 1913–98

141
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA

A maioria dos empregadores tem se mos- para a introdução de maior flexibilidade,


trado relutante em concordar com maiores com patrões e empregados promovendo
reduções, e a mudança no equilíbrio patrão- conceitos e interesses concorrentes. Os
sindicato, com o enfraquecimento deste e o patrões buscam a capacidade de ligar e
aumento da pressão da globalização, dificul- desligar a torneira da oferta de mão-de-obra
tou qualquer mudança. Em linhas gerais, um de acordo com as flutuações na demanda
emprego em tempo integral, algo como 40 de seus produtos. Os empregados pleitei-
horas semanais, ainda é considerado normal am opções mais individualistas para aco-
para qualquer um que deseja considerar-se modar as necessidades pessoais e familia-
elegível para um emprego com oportunida- res e conquistar maior “soberania de tem-
des de avanço na carreira. Porém, a discus- po”. Vários modelos promissores surgiram
são deslocou-se de jornadas semanais fixas na Europa. (Vide Tabela 5-5.)66

Tabela 5-5. Novas Abordagens para a Jornada de Trabalho na Europa


País Situação

Bélgica Implantou um sistema de “crédito de tempo”, permitindo às pessoas trabalharem uma


semana de quatro dias até 5 anos e tirar férias de um ano durante a carreira, recebendo uma
remuneração do governo.

Dinamarca Inaugurou um sistema pioneiro de férias pagas para educação, cuidado infantil e estudos
universitários que permite rotação entre empregados e desempregados. (Variações disso
foram posteriormente implementadas na Bélgica, Finlândia e Suécia).

Holanda Em 1982, o governo, empresas e sindicatos concordaram em reduções da jornada em troca


de moderação salarial. A semana de trabalho foi reduzida de 40 para 38 horas em meados
dos anos 80 e para 36 horas no início dos anos 90. A redução parcial voluntária cresceu
dramaticamente, com trabalhadores com meio turno tendo direito ao mesmo salário/hora,
benefícios e oportunidades de promoção dos trabalhadores em tempo integral. A legislação
em 2000 estendeu o direito de redução de horas a todos os trabalhadores, enquanto
trabalhadores com meio turno podem solicitar períodos mais longos.

FONTE: vide nota final 66.

Mais do que os americanos, os euro- Juliet Schor, relata que “durante a pri-
peus preferem reduções da jornada em meira metade dos anos 90, um quinto de
lugar de aumento de renda. Mesmo as- todos os americanos passaram por algum
sim, as pesquisas revelam que quase dois tipo de redução voluntária da jornada de
terços de todos os empregados nos Es- trabalho, com um pouco mais da metade
tados Unidos trabalhavam mais tempo do desejando que fosse uma mudança per-
que desejado no final dos anos 90, con- manente”. “Redução da jornada” é a reti-
tra metade em 1992. Ao mesmo tempo, rada, ou retirada parcial, da força de traba-
todavia, a economista do Boston College, lho, que é às vezes disparada por uma mu-

142
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA

dança de valores e comportamentos para estruturada para uma expansão econômica


fora do consumismo. (Embora algumas perpétua? Afinal, a cultura consumista desem-
pessoas reduzam suas jornadas voluntaria- penha um papel importante: assegura que os
mente, outras, entretanto, são forçadas a bens produzidos por uma economia
aceitar trabalhar meio turno, contra sua hiperprodutiva sejam, efetivamente, adquiri-
vontade.)67 dos. Isso significa que o acúmulo do capital
Por outro lado, trocar renda por tempo pode seguir adiante, o que move a inovação
não é uma opção realista para muitas pesso- tecnológica e que, por sua vez, resulta na
as, em vista das tendências adversas do salá- produtividade cada vez maior da mão-de-obra
rio. Nos Estados Unidos, os salários médios (e que proporciona, pelo menos em princí-
estagnaram entre o início dos anos 70 e me- pio, rendas e poder aquisitivo crescentes,
ados para fins dos anos 90. Mas as médias necessários ao consumismo). Essa dinâmica
mascararam um alto grau de desigualdade na pode desmoronar caso os consumidores não
distribuição de renda durante o último quarto gastem bastante.70
de século. Para 10% dos trabalhadores na E há outro complicador: embora a
faixa baixa, os salários em 2001 não eram sustentabilidade exija que apetites materiais
superiores a 1979; na realidade, 70% da for- sejam contidos, as gigantescas sobrecapa-
ça de trabalho não se deu melhor, não tendo cidades que têm surgido em muitas indústri-
praticamente ganho real de salário até 1998.68 as parecem exigir que o consumo seja esti-
Uma fração significativa da população mulado. O setor automotivo global, por exem-
sentiu-se compelida a trabalhar períodos plo, está trabalhando a apenas 70% de sua
adicionais, freqüentemente pegando outros capacidade. No setor de semicondutores, a
empregos apenas para se manter. No todo, utilização da capacidade está a 65% e nos
há inúmeras tendências contraditórias. Na equipamentos de telecomunicações, meros
Europa, as tendências foram mais favorá- 50%. A economia mundial defronta-se com
veis, mas o crescimento salarial ficou para contradições crescentes. Economias movi-
trás da expansão da produtividade da mão- das por exportações em vários países em de-
de-obra. Para serem viáveis, então, políti- senvolvimento estão rapidamente ampliando
cas de redução de jornadas de trabalho sua produção. Na China, os setores siderúr-
precisam ser acompanhadas por aumen- gicos, químicos, de materiais de construção
tos de salário, a fim de estreitar o diferen- e telefones celulares, por exemplo, deverão
cial de renda entre ricos e pobres.69 dobrar suas capacidades de produção nos
próximos três anos, aumentando a pressão.71
Nova Dinâmica e Valores Uma enorme fatia das exportações
mundiais está sendo absorvida pela
Como foi descrito por todo este capítulo, com terra do consumismo par-excellence,
ajuda de uma grande variedade de ferramen- os Estados Unidos. Durante os anos
tas programáticas, as economias modernas 90, a economia americana agia mais e
podem ser muito menos intensivas em con- mais como um grande aspirador, su-
sumo. Entretanto, o que significa consumir gando grande parte da produção
menos para uma economia capitalista superavitária mundial. (Vide Quadro 5-2.)

143
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA

QUADRO 5-2. CONSUMIDORES AMERICANOS, PRODUTOS BARATOS E


EXPLORAÇÃO GLOBAL DA MÃO-DE-OBRA

Durante a última década, os consumidores uma autoridade supervisora arbitrária; casos


americanos aumentaram seus gastos anuais em de abusos físicos, sexuais e verbais são
bens e serviços a uma taxa média de 3% ao comuns e bem documentados; e sindicatos são
ano, ou quase tão rápido quanto nas décadas proibidos.
anteriores. Se o consumo é medido por Os eventos da nova economia global
quantidade de itens, todavia, em vez de fluxos agravaram esses problemas. A crise financeira
de dinheiro, as taxas de aquisição para uma da Ásia, no final dos anos 90, foi resultado
gama variada de produtos manufaturados são direto de reformas neoliberais impostas pelo
muito maiores. O pensamento econômico Tesouro dos Estados Unidos, através do Fundo
padrão vê essa tendência como simples ganho Monetário Internacional, que levaram um
no bem-estar dos consumidores. Mas, sob um número de economias asiáticas ao colapso, sob
ponto de vista ambiental, é negativo. Novos o peso da privatização e liberalização do
conceitos econômicos e evidências também capital. Os salários por toda a região
reconhecem que quando o gasto satisfaz despencaram após a crise. Salários e benefícios
objetivos de status e sociais, em vez de na indústria de confecção da Indonésia caíram
necessidades puramente funcionais, há muito para 15 centavos de dólar por hora. Em
menos bem-estar real a ser ganho do consumo Bangladesh, que se tornou o quarto maior
adicional. O motivo principal das altas taxas exportador de confecções para os Estados
de aquisição de produtos é que os preços Unidos, os salários caíram para uma faixa de 7–
caíram significativamente na última década. 18 centavos por hora. A Wal-Mart, que
Entretanto, isso não foi devido à maior controla 15% do mercado americano de
eficiência ou tecnologia. A estrutura e normas confecções e é a maior rede varejista de
que regem a economia global deprimiram os vestuário do mundo, continuamente pressiona
custos da mão-de-obra e saquearam os os custos de mão-de-obra nas fábricas chinesas
recursos naturais. – que podem ser até de 13 centavos por hora, e
Consideremos o caso do vestuário, um a norma é abaixo de 25 centavos. (Linhas mais
produto historicamente valioso. Em 1920, a caras, como Ralph Lauren e Ellen Tracy,
família típica americana gastava 17% de suas também dependem da mão-de-obra barata da
despesas totais em roupas. Em 2001, essa China.) Os trabalhadores têm tido pouco
cifra foi de meros 4,4%, apesar de os sucesso na resistência a essas condições, pois
consumidores estarem comprando muito mais as empresas transnacionais simplesmente
peças. Realmente, o vestuário tornou-se tão mudam-se caso estes façam exigências, e
barato que é difícil até dar de graça. O excesso porque os donos das fábricas gozam de
de roupas é atribuído em grande parte à proteção política de seus governos. Ademais, o
exploração da mão-de-obra feminina nas deslocamento de trabalhadores rurais da terra e
fábricas de confecções da Ásia e América dos meios de vida em conseqüência das
Central. A parcela de mão-de-obra na atividades das empresas transnacionais assegura
produção está em níveis historicamente um fluxo constante de novos recrutas para as
baixos, e os salários caíram abaixo da linha de fábricas urbanas.
subsistência. Relatos em primeira mão de Enquanto isso, esses fatores levaram ao
trabalhadores e observadores ocidentais nas declínio dos preços nos Estados Unidos, onde o
fábricas que produzem para Disney, Nike, Liz preço de confecções caiu 10% ao longo da última
Claiborne e muitas outras empresas década, com uma queda especial após o débâcle
americanas comprovaram que as pessoas asiático. O número de peças adquiridas disparou,
freqüentemente trabalham mais de 100 horas aumentando em incríveis 73% entre 1996 e
semanais. Os trabalhadores são submetidos a 2001. Os consumidores reduziram a freqüência

144
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA

QUADRO 5-2. (continuação)


do uso de roupas novas e descartam suas O consumo sustentável requer preços mais
compras num ritmo recorde. Até 2001, o altos para bens de consumo e uma mudança
consumidor americano comum adquiria 48 peças para melhor qualidade, produtos mais duráveis
novas de roupa por ano. As taxas de descarte do feitos por trabalhadores mais bem-
consumidor aumentaram 10% ao ano durante os remunerados, sob condições ambientalmente
anos 90 e as roupas tornaram-se um produto seguras. Isso ajudará a satisfazer critérios
descartável e, portanto, plenamente disponível. elementares de justiça, como o direito de
Embora menos dramática, ocorreu uma trabalhadores estrangeiros e domésticos a uma
dinâmica semelhante com outros bens de vida decente e direito de todos compartilharem
consumo. Os consumidores americanos da abundância do planeta. Mas essa é uma
gastam cerca de US$ 30 bilhões ao ano em questão não só de consumo, mas também
brinquedos, 60% dos quais são feitos em política. As políticas atuais distanciam-se
fábricas chinesas, onde salários e condições dessas condições de sustentabilidade.
de trabalho são semelhantes àqueles das Pesquisas consideráveis sobre os efeitos do
confecções. Desde 1994, os preços de Banco Mundial e do Fundo Monetário
brinquedos caíram 33%, e as crianças Internacional revelam que estes representam
ganham, em média, 69 brinquedos por ano. basicamente os interesses do governo dos
Os preços de computadores pessoais e Estados Unidos e corporações americanas, às
equipamentos periféricos caíram 81% desde custas dos trabalhadores e indústrias locais em
1997, como resultado de chips mais países pobres. À medida que aumenta a
poderosos, salários baixos e desembaraço de oposição à economia global, o governo dos
custos ambientais. Em 2001, quase 23 Estados Unidos responde com grandes
milhões de computadores novos foram aumentos nos gastos militares. Uma economia
adquiridos, com quantidades semelhantes global justa e sadia deverá finalmente enraizar-
sendo descartadas. Estima-se que em 2005, se numa estrutura mundial de salários altos
63 milhões de computadores pessoais serão bastante para sustentar uma forte demanda
descartados só nos Estados Unidos. Queda interna, num equilíbrio mais íntimo de poder
de preços e aumento de quantidades também entre capital e trabalho e maior distribuição
caracterizam eletrodomésticos, equipamentos eqüitativa de renda e riqueza. A necessidade de
esportivos internos e externos, ferramentas e ambientalistas desenvolverem uma causa
ferragens. Os preços nas lojas de comum com outros interessados em justiça e
departamento caíram quase um terço desde paz globais torna-se, assim, uma tarefa da
1993, e bens duráveis caíram 57%. Isso deve- maior urgência.
se em parte à pressão constante nos preços
da Wal-Mart, pois esta empresa explora mão- – Juliet Schor, professora de Sociologia,
de-obra externa e interna, obtendo vantagens Boston College
com subsídios em transportes e degradação _______________________________________
ambiental não-registrada. FONTE: vide nota final 73.

A partir de 1995, a demanda interna nos valor positivo de US$ 3,7 bilhões em 1991
Estados Unidos cresceu o dobro da taxa para um negativo de US$ 503 bilhões em
de outras nações industrializadas. O saldo 2002 – um nível recorde. Os dólares que
da balança de pagamentos dos Estados fluíram para fora dos Estados Unidos,
Unidos (medindo fluxos comerciais e para pagar importações crescentes, estão
transferências financeiras) saiu de um voltando aos Estados Unidos à medida que

145
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA

investidores estrangeiros compram notas Uma série de investimentos e inovações


do tesouro, títulos, ações e imóveis. Esses tecnológicas para realizar a mudança em
fluxos de dólar criaram um imenso reser- direção à sustentabilidade suavizarão a tran-
vatório de liquidez global. Essa explosão de sição. Promovendo fontes renováveis de
crédito tem sido a principal força motriz da energia; expandindo sistemas de transpor-
atividade econômica mundial. Mas enco- tes urbanos; substituindo maquinaria, equi-
rajou grandes e exagerados investimentos pamentos, prédios e veículos ineficientes
em praticamente todo setor de porte. E o por outros modelos, muito mais eficientes;
bem-estar da economia global tem mostra- redesenhando produtos mais duráveis –
do-se cada vez mais dependente de um todas essas atividades representam, efeti-
consumo em contínua expansão nos Esta- vamente, um programa de estímulo ecoló-
dos Unidos. Alguns observadores, inclusi- gico para a economia.
ve os analistas do Economic Policy É essencial reformular não apenas a
Institute, em Washington, e Stephen Roach, economia, mas também o pensamento eco-
economista-chefe da Morgan Stanley, pen- nômico. Já atores econômicos estão pre-
sam que esse sistema é intrinsecamente parados para responder a sinais de cresci-
instável, não podendo permanecer indefi- mento quantitativo. O conceito de produto
nidamente em expansão.72 interno bruto, onde todas as atividades eco-
nômicas são jogadas, contribuam ou não
para o bem-estar, reina supremo. (Vide
Uma economia sustentável Capítulos 1 e 8.) Uma economia sustentá-
vel necessita de uma forma diferente de
necessita de uma forma diferente
medir a atividade humana e de sinalizar a
de medir a atividade humana e de investidores, produtores e consumidores.
sinalizar a investidores, Precisa de uma teoria diferente, abando-
produtores e consumidores. nando-se a premissa ultrapassada de que o
crescimento quantitativo é incondicional-
mente desejável e abraçando-se, em vez
É certo então, tanto sob uma perspec- disso, a noção de crescimento qualitativo.
tiva ambiental quanto econômica, que é che- O mais fundamental, entretanto, é uma
gada a hora para uma alteração de curso. mudança na percepção humana de valor
Mas será que uma recalibração é viável? econômico. Em Capitalismo Natural, Amory
Certamente, um grande e repentino declínio Lovins e os co-autores Hunter Lovins e Paul
no consumo provavelmente faria a econo- Hawken defendem “uma nova percepção de
mia mundial cair em parafuso. Porém é valor, uma mudança da aquisição de bens
muito mais provável que uma economia como medida de afluência para uma econo-
menos consumista venha a surgir mia na qual o recebimento contínuo de qua-
gradativamente. Isso daria tempo para uma lidade, utilidade e desempenho promova o
reorientação de como funciona uma eco- bem-estar”. Nessa economia, receitas e lu-
nomia, dando às empresas uma oportuni- cros corporativos não mais seriam associa-
dade de ajustarem-se.73 dos à maximização da quantidade de coisas

146
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA

produzidas e vendidas, mas sim à obtenção ticulares, especialmente nos setores de


de mais serviços e melhores desempenhos energia e mineração, são exímios defen-
de um produto, minimizando, assim, o con- sores de subsídios lucrativos e opositores
sumo de energia e materiais e maximizando de reformas fiscais significativas. Por toda
a qualidade.74 a economia, muitas empresas industriais
Na medida em que a explosão do estão presas ao modelo comercial com o
“ponto-com” dos anos 90 foi uma ilusão, qual estão familiarizadas e inclinadas a
mostrou efetivamente o potencial para se manter as premissas de ontem, em vez de
perceber valores sob novas formas – me- aventurarem no território ainda desconhe-
nos ligadas à mobilização de recursos físi- cido da devolução de produtos e concei-
cos. O futuro pode não estar na “conta- tos afins. E os varejistas, particularmente
gem de olhos” – ou seja, quantos pares de nos Estados Unidos, estão fortemente ori-
olhos podem ser atraídos para um website entados a maximizar vendas de produtos
em particular –, mas consumidores, indus- baratos em vez de buscar um varejo de
triais, instituições financeiras e governos qualidade. O poder de resistência desses
precisam desenvolver um novo conceito do interesses não deve ser subestimado. Uma
que é realmente valioso e o que, conseqüen- economia menos orientada ao consumo é
temente, vale a pena realizar. possível, mas necessitará de ação gover-
Sem dúvida alguma, obstáculos políti- namental, educação do consumidor e nú-
cos sérios terão que ser superados. Os que meros crescentes de desbravadores
se preocupam apenas com interesses par- corporativos para fazê-la surgir.

147
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: TELEFONES CELULARES

AT R Á S D O S B A S T I D O R E S

Telefones Celulares
Telefones celulares hoje são países, promovido pela
onipresentes. Em 1992, menos Organização Mundial de Saúde
de 1% da população mundial para determinar se o uso de
possuía um celular e somente um celulares pode estar relacionado
terço de todas as nações tinha com cânceres de cabeça e
uma rede de telefonia celular. pescoço, deve ser concluído em
Apenas 10 anos depois, 18% 2004. Sem dados de longo prazo
das pessoas já tinham um celular disponíveis, os pesquisadores
– 1,14 bilhão, mais do que o 1,10 estão recomendando aos usuários
bilhão com linha fixa convencional a colocação de um dispositivo em
– e mais que 90% dos países seus celulares para manter o
dispunham de uma rede. 1 aparelho mais afastado. E um estudo
Agora, europeus enviam e recebem de um grupo organizado pelo governo
textos curtos nos seus celulares mais do britânico desencorajou o uso excessivo de
que usam a Internet de seus celulares por crianças.3
computadores.Os filipinos lideram o envio Similarmente aos computadores, os
de textos via celular, mundialmente; na celulares são produtos de vida curta,
realidade, “mensagens de textos” via celular representando a mais patente ameaça à
dos manifestantes para organizar saúde humana e ao meio ambiente, quando
demonstrações contra o Presidente Joseph são criados ou destruídos, porque contêm
Estrada contribuíram para sua expulsão. Na chips semicondutores, ricos em substâncias
África, os celulares ultrapassam as linhas tóxicas. Análises de ciclo de vida revelam a
fixas numa média mais alta do que em placa de circuitos contendo o chip do
qualquer outro continente; lá, donos de celular, o visor de cristal líquido e as
celulares que alugam seus aparelhos fazem baterias como os maiores riscos, seguidos
um benefício aos habitantes de vilarejos, da capa plástica, de difícil reciclagem. Nos
que anteriormente tinham de caminhar Estados Unidos, segundo maior mercado
quilômetros para fazer uma ligação.2 mundial de celulares depois da China,
Como as pessoas usam seus celulares aparelhos são rejeitados depois de 18
principalmente para bater papo, o aparelho meses, e o grupo de pesquisa INFORM
atrai ondas de rádio mais perto de suas calcula que até 2005 os consumidores terão
cabeças do que a maioria de outros acumulado cerca de 500 milhões de celulares
aparelhos eletrônicos. Um estudo de 10 usados, que provavelmente terminarão em

148
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: TELEFONES CELULARES

um aterro, onde poderão lixiviar cerca de seus produtos, incentivando empresas


141.500 quilos de chumbo.4 como a Sony a investir em tecnologias que
O tamanho diminuto torna os celulares sejam facilmente recicláveis.7
mais fáceis de serem descartados do que Holanda, Noruega, Suécia e Suíça
computadores, mas são também mais implantaram o “princípio de
facilmente reaproveitados. O prolongamento responsabilidade do produtor”, incluindo
da vida dos celulares dessa maneira diminui celulares, nos quais os consumidores
seu ônus ambiental. Grupos beneficentes pagam, antecipadamente, taxas de descarte
associaram-se a empresas para para financiar a reciclagem. Em alguns
recondicionar aparelhos usados – alguns países, programas de certificação informam
são programados para discar serviços de aos consumidores quais celulares são mais
emergência e oferecidos a vítimas de ambientalmente amigáveis: na Alemanha, o
violência doméstica ou idosos, enquanto selo Blue Angel é usado em celulares que
outros são revendidos em países em atendem às exigências de conteúdo tóxico e,
desenvolvimento – e empresas, como a na Suécia, o TCO Development certifica
ReCelular, compram e vendem celulares aparelhos conforme critérios de emissões,
usados a granel.5 ergonomia e ambientais, inclusive se são
Normas competitivas entre redes de facilmente recicláveis.8
celulares são uma das razões por que eles Duas diretivas, da Comissão Européia,
são descartados tão rapidamente nos entraram em vigor em 2003, com o mais forte
Estados Unidos. Inversamente, a Europa alerta ambiental jamais sinalizado à indústria
tem a mesma norma desde o início dos anos eletrônica. A diretiva Waste Electrical and
80. Uma vez que as empresas que exploram Electronic Equipment (Descarte de
equipamentos ultrapassados teriam muito a Equipamentos Elétricos e Eletrônicos)
perder, a indústria tem obstaculizado tornará cada empresa responsável pela
tentativas da International coleta e reciclagem de seus novos produtos
Telecommunication Union para se chegar a após 13 de agosto de 2005, enquanto todas
um consenso sobre um padrão único; no as empresas serão responsáveis,
entanto, alguns observadores da indústria coletivamente, pelos produtos eletrônicos
acreditam que tal movimento será inevitável colocados no mercado antes dessa data.
à medida que for aumentando o número de Uma regra associada proíbe o uso de certas
usuários .6 toxinas em produtos eletrônicos, incluindo
No final, incentivos para empresas chumbo, mercúrio, cádmio, cromo
projetarem e reciclarem celulares menos hexavalente e certos retardadores de chama
tóxicos têm melhores perspectivas para brominados.9
minimizar-se a carga ambiental. A partir de Novas leis européias estão fomentando o
1998, o Japão obrigou os fabricantes a surgimento de tecnologias ecologicamente
receber de volta a maioria dos aparelhos amigáveis. Por exemplo, a Nokia tem
eletrônicos; essa decisão estende-se hoje a trabalhado com cientistas acadêmicos para
computadores e normas estão em estudo desenvolver plásticos e telefones
para outros produtos eletrônicos. As biodegradáveis, que se desmontam, para fácil
empresas devem pagar pela reciclagem de reciclagem, pela ação do calor.10

149
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: TELEFONES CELULARES

A Silicon Valley Toxics Coalition, da No âmbito internacional, no fim de 2002, a


Califórnia, está lutando para que os Secretaria da Convenção da Basiléia sobre o
Estados Unidos revoguem a legislação de comércio de resíduos perigosos convocou os
devolução. Na falta de leis nacionais, principais fabricantes para formar um novo
Minnesota introduziu legislação tornando grupo de trabalho sobre telefonia celular.
os produtores responsáveis por certos Ultimamente, os perigos à saúde provenientes
materiais tóxicos, Massachusetts proibiu do lixo eletrônico têm recebido mais atenção
o lixo eletrônico nos aterros sanitários e da mídia, devido à comprovação, por ativistas
criou um fundo para reciclagem de ambientais, da exportação de lixo eletrônico
eletrônicos, a Califórnia introduziu uma dos Estados Unidos para a Ásia. A Secretaria
proibição limitada e espera que os da Convenção pretende que esse novo grupo
governos locais cubram os custos da de pesquisa sobre telefonia celular seja a
reciclagem, Nova Iorque recentemente primeira de várias iniciativas que busquem
obrigou os comerciantes a aceitar e trabalhar conjuntamente com a indústria em
reciclar qualquer celular vendido por eles, problemas do lixo associado a produtos
e outros estados estão elaborando específicos.12
legislação para reduzir a quantidade do
descarte eletrônico permitido.11 — Molly O‘Meara Sheehan

150
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: TELEFONES CELULARES

CAPÍTULO 6

Comprando para as
Pessoas e o Planeta
Lisa Mastny

Na primavera de 2001, dois estudantes do Em todo o mundo, mais e mais univer-


Connecticut College, no nordeste dos Es- sidades, corporações, órgãos governamen-
tados Unidos, distribuíram uma petição tais e outras instituições estão reavaliando
ambiciosa. Preocupados com as emissões seus hábitos de compra e incorporando
de poluentes danosos do colégio, pediram questões ambientais em todas as etapas de
apoio aos colegas para um aumento vo- suas aquisições. Ao fazê-lo, ajudam a in-
luntário da taxa de atividades estudantis, a centivar mercados para uma gama variada
fim de levantar recursos para inclusão da de produtos ambientalmente desejáveis. As
universidade numa cooperativa local de vendas globais de lâmpadas fluorescentes
energia renovável. Mais de três quartos dos compactas, eficientes no consumo de ener-
estudantes assinaram a petição, que obte- gia (LFCs), aumentaram quase 13 vezes
ve apoio unânime, tanto da administração desde 1990 para cerca de 606 milhões de
estudantil quanto do Conselho de unidades em 2001. O uso de energia solar
Curadores. Embora a cooperativa tenha e eólica avançou em mais de 30% ao ano,
fechado um ano depois, as sementes para ao longo dos últimos cinco anos, em paí-
a transição haviam sido plantadas. Em ja- ses como Japão, Alemanha e Espanha. Nos
neiro de 2003, o Connecticut College já Estados Unidos, as vendas no varejo de
atendia a 22% de suas necessidades atra- produtos orgânicos cresceram pelo menos
vés da energia eólica – a maior parcela de 20% ao ano desde 1990 para US$ 11 bi-
energia obtida dessa forma por um colé- lhões por ano, enquanto as vendas de car-
gio ou universidade americana.1 ros elétricos híbridos duplicaram em 2001.2

Uma versão mais detalhada deste capítulo foi publicada como Worldwatch Paper 166, Purchasing Power:
Harnessing Institutional Procurement for People and the Planet (Washington, DC: Worldwatch Institute,
julho 2003).

151
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA

Mesmo assim, os mercados verdes são Esverdeando as Aquisições


minúsculos em comparação com os conven-
cionais. O Natural Marketing Institute, dos
Institucionais
Estados Unidos, estima que a demanda glo-
Através dos artigos que compram, as ins-
bal por produtos de “saúde e sustentabilidade”
tituições exercem grande influência sobre
– desde transporte alternativo até alimentos
o futuro do planeta. Quase todas as aqui-
orgânicos – atingiu a cifra recorde de US$
sições que uma organização realiza, seja
546 bilhões em 2000. Mas isso ainda é ape-
de uma resma de papel para copiadoras
nas cerca de 1% da economia mundial total.3
ou um novo prédio comercial, têm custos
Mercados verdes estão se dando melhor
em algumas regiões do que em outras. Na ocultos que oneram o meio ambiente e a
Europa, por exemplo, o papel reciclado hoje população mundial. Muitos produtos re-
custa o mesmo preço, ou até menos, que o querem imensos insumos de água, madei-
papel virgem, principalmente porque sua pro- ra, energia, metais e outros recursos, nem
cura vem aumentando continuamente. Com- sempre renováveis. E freqüentemente con-
pradores municipais em Dunquerque, na Fran- têm produtos químicos tóxicos que, quan-
ça, economizam aproximadamente 50 centa- do liberados no meio ambiente, ameaçam
vos de dólar por resma (cerca de 16%) ao a saúde dos seres humanos e sistemas
exigir papel reciclado. Nos Estados Unidos, ecológicos dos quais dependemos. Esses
entretanto, os compradores ainda pagam um impactos podem ocorrer em qualquer eta-
ágio de 4–8% pelo conteúdo reciclado. Ape- pa do ciclo de vida de um produto: na ob-
sar de intensos esforços para incrementar a tenção da matéria-prima, industrialização,
participação do papel reciclado no mercado, embalagem, transporte, uso e até mesmo
cerca de 95% do papel para impressão e de após o descarte.6
escrever (que representa mais de um quarto Que poder tem a aquisição institucional?
do mercado americano de papel) ainda deriva Consideremos o setor público. Nos países
de madeira virgem. O uso interno de papel industrializados, as aquisições públicas che-
reciclado, na realidade, caiu nos últimos anos, gam a representar 25% do produto interno
e caso a demanda não se recupere, a infra- bruto (PIB). (Vide Figura 6-1.) As licita-
estrutura fabril poderá desaparecer.4 ções governamentais só na União Euro-
Esses mercados são ainda menores no péia (UE) totalizaram mais de US$ 1
mundo em desenvolvimento, embora o inte- trilhão em 2001, ou cerca de 14% do
resse em energia renovável e outras áreas PIB. Na América do Norte, atingiu US$
esteja crescendo em muitos países. O uso 2 trilhões, ou aproximadamente 18% do
geral de recursos no mundo em desenvolvi- PIB. Essas aquisições ocorrem em to-
mento ainda é baixo em relação ao mundo dos os âmbitos de governo: em 2002, o
industrializado, porém a demanda consumista governo federal americano gastou cer-
crescente por tudo, de carros a computado- ca de US$ 350 bilhões em bens e servi-
res, tornará o fortalecimento de mercados ços (excluindo gastos militares), enquan-
locais para tecnologias ambientalmente segu- to estados e municípios gastaram mais
ras cada vez mais importante.5 de US$ 400 bilhões. 7

152
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA

Percentual alimentos para lanchonete.


30
Fonte: OCDE
Nos Estados Unidos, cer-
25 ca de 3.700 colégios e uni-
20 versidades, conjuntamente,
adquiriram aproximada-
15 mente US$ 250 bilhões em
10 bens e serviços em 1999 –
o equivalente a quase 3%
5 do PIB nacional, e mais do
0 que o PIB de qualquer país
abaixo dos 18 maiores. Ins-
ido

ia
lia
á
nça

ça

ão
a

ha

os

da
a
nad
arc

anh

str

Suí

id

lan
Jap
pan
Itá
Un

tituições religiosas também


Fra

Un
nam

Áu
Ca

em

Ho
Es
ino

os têm esse poder, adminis-


Al
Di

tad
Re

trando um imenso número


Es

de escolas e templos em
Figura 6-1. Gastos Governamentais como Parcela do PIB todo o mundo. E institui-
em Países Selecionados, 1998 ções internacionais, como
as Nações Unidas e o Ban-
Corporações, universidades, entidades co Mundial, adquirem grandes quantida-
religiosas e outras grandes instituições des de bens e serviços para suas ativida-
também têm grande poder aquisitivo. des nos países industrializados, como
Muitas empresas, por exemplo, compram também para manter seus escritórios de
não apenas miríades de produtos acaba- campo e operações no mundo em desen-
dos, como canetas e computadores, mas volvimento – tendo assim uma oportuni-
também matérias-primas, embalagem e dade singular de ajudar a construir mer-
outros bens como insumos para seu pro- cados sustentáveis em todo o mundo. Só
cesso fabril. Segundo uma estimativa, o as Nações Unidas compraram quase US$
gasto agregado das empresas ao longo de 4 bilhões em bens e serviços em 2000.9
suas “cadeias de suprimento” supera, em Mas o enorme volume de suas aquisi-
muito, o consumo dos produtos finais. À ções é apenas uma das razões por que as
medida que a produção torna-se cada vez instituições podem ser agentes poderosos
mais global, as indústrias podem desem- de mudanças ambientais positivas. “Con-
penhar um papel importante, influencian- trariamente a muitas pessoas, grandes ins-
do o comportamento ambiental de forne- tituições adotam uma abordagem muito
cedores em outros países, inclusive no sistêmicas em suas compras”, observa
mundo em desenvolvimento.8 Scot Case, do Center for a New American
Enquanto isso, as universidades gas- Dream, de Maryland. “Aquisições são cla-
tam bilhões de dólares anualmente em ramente definidas em contratos detalha-
uma enorme diversidade de compras, dos, que especificam quase todos os as-
desde prédios de campus universitário até pectos do produto ou serviço a ser adqui-

153
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA

rido”. Com metodologias estruturadas já


QUADRO 6-1. ESVERDEANDO
implantadas, a inserção de considerações
CONTRATOS DE COMPRA
ambientais nas aquisições institucionais
pode ser um processo relativamente fácil, Nos contratos com fornecedores, os
com vantagens significativas.10 compradores poderão estipular que:
A maioria das organizações que reali- • Produtos possuam um ou mais atributos
ambientalmente positivos como
zam compras de alto valor as fazem sob a conteúdo reciclado, eficiência energética
forma de concorrência pública, ou seja, ou hídrica, baixa toxicidade ou
recebem propostas de vários fornecedo- biodegradabilidade.
res em potencial para adjudicarem o con- • Produtos gerem menos resíduos,
inclusive menos embalagem, sejam
trato. “Esverdear” a licitação significa que, duráveis, reutilizáveis ou
além de especificar os requisitos básicos remanufaturados – a cidade de Santa
em termos de quantidade, preço, função Mônica, na Califórnia, exige que seus
clientes forneçam produtos de limpeza
ou segurança, os compradores insti- sob forma concentrada, a fim de evitar
tucionais também fazem exigências embalagens.
ambientais a seus fornecedores. Por • Produtos atendam a certos critérios
exemplo, podem exigir que os produtos ambientais durante o processo fabril ou
produtivo, como papel processado sem
satisfaçam certas normas de eficiência cloro ou originário de madeira de floresta
energética ou tenham um teor específico de manejo sustentável.
de material reciclado, ou até mesmo que • Fornecedores recuperem ou levem de
os próprios fornecedores tenham creden- volta itens como baterias, equipamentos
ciais verdes. (Vide Quadro 6-1.) (Os com- eletrônicos ou carpetes no fim de suas
vidas úteis – algumas agências federais
pradores também podem estipular certos nos Estados Unidos hoje utilizam
critérios de justiça social, embora isso não contratos de “laço fechado”, obrigando
seja muito comum. O governo da Bélgica, empreiteiras a recolher produtos usados
de petróleo, pneus e cartuchos de toner
por exemplo, está considerando proibir para disposição final.
contratos públicos com empresas cujas • Os próprios fornecedores possuam
condições de produção sustentem regimes credenciais ambientais – algumas
antidemocráticos ou que não respeitem aquisições governamentais na Suíça dão
preferência a empresas que implantaram,
direitos humanos.)11 ou estejam implantando, sistemas de
Em muitas compras institucionais co- manejo ambiental.
muns, existem hoje alternativas menos inten- __________________________________________
sivas em recursos, menos poluentes e me- FONTE: vide nota final 11.
nos prejudiciais à saúde humana e ambiental
do que suas contrapartidas convencionais. Ao
adquirir papel com até mesmo uma pequena outros recursos: o grupo Environmental
porcentagem de conteúdo reciclado, por Defense, de Nova Iorque, estima que, caso
exemplo, as instituições podem desviar volu- todo o setor de catálogos dos Estados Uni-
mes significativos de lixo dos aterros. Po- dos adotassem em suas publicações apenas
dem também economizar energia, madeira e 10% de papel reciclado, a economia só em

154
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA

madeira seria suficiente para atravessar sete xicos podem reduzir os custos de indeniza-
vezes todo o território americano com uma ções de seguro e de trabalhadores associados
cerca de 1,8 metro de altura.12 a certos acidentes de trabalho.14
A aquisição de produtos mais verdes tam- Talvez o mais importante, a demanda
bém pode trazer benefícios à saúde de funci- institucional crescente poderá desempenhar
onários e ocupantes de prédios. Muitas com- um papel preponderante na criação de mer-
pras comuns, inclusive tintas para paredes e cados maiores para bens e serviços mais
móveis, pesticidas para prédios e manuten- verdes. Se esses consumidores buscarem
ção de áreas externas, como também produ- cada vez mais produtos e serviços mais be-
tos de limpeza e manutenção, contêm ingre- néficos ao meio ambiente, os produtores
dientes tóxicos, como metais pesados e com- terão mais incentivo para projetá-los e pro-
postos orgânicos voláteis. Essas substâncias duzi-los. À medida que os mercados para
podem poluir o ar interno e acumular-se em esses produtos crescerem, impulsionados
tecidos vivos, ameaçando a saúde humana e pelas forças da concorrência e da inovação,
ambiental. O Projeto de Prevenção à Polui- as economias de escala resultantes acaba-
ção, da Janitorial Products, divulgou que 6 rão por reduzir os preços, tornando as com-
pras verdes mais acessíveis a todos.
em cada 100 faxineiros no estado de Wa-
shington ficaram ausentes do serviço devido
a doenças relacionadas ao uso de produtos Pioneiros da
tóxicos de limpeza, particularmente limpado- Compra Verde
res e desengraxantes de vidros e sanitários.13
Muitas instituições têm constatado que A maioria das instituições que compram
aquisições verdes também poupam dinheiro. verde visam aquisições menores, como
Alguns produtos verdes são mais baratos que papel e artigos de escritório, fáceis de ma-
suas alternativas tradicionais. Por exemplo, nejar sem mudanças significativas nas prá-
cartuchos reciclados de toner para impresso- ticas organizacionais. Porém, algumas ou-
ras e copiadoras chegam a custar até um terço tras já começaram a reestruturar fundamen-
do preço do produto original. Outros itens, talmente a forma de fazerem negócios.
como sanitários de descarga baixa ou lâmpa- Em termos corporativos, os pioneiros da
das fluorescentes compactas, proporcionam compra verde incluem empresas em pratica-
economia considerável ao longo de sua vida mente todos os setores da economia, inclu-
útil. Embora as LFCs cheguem a custar até 20 indo bancos, hotéis, montadoras, varejistas
vezes mais que as lâmpadas incandescentes, de confecções e supermercados. (Vide Ta-
duram 10 vezes mais e consomem um quarto bela 6-1.) Muitas dessas empresas são moti-
da eletricidade para gerar a mesma vadas por um auto-interesse esclarecido: es-
luminosidade. Adquirir produtos que sejam tão constatando que, ao adotarem medidas
duráveis, remanufaturados ou recicláveis pode de eficiência energética e outras mudanças
baixar os custos da manutenção, substituição em pequena escala em suas operações inter-
ou disposição final de um produto. Enquanto nas, podem reduzir seus impactos ambientais
isso, produtos de limpeza e outros menos tó- e também incrementar sua rentabilidade.

155
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA

Tabela 6-1. Exemplos de Aquisições Verdes em Empresas Selecionadas

Bank of America Incrementou compras de papel reciclado em 11% em 2001 para 54% do papel adquirido. Reutiliza e
recupera móveis de escritórios e carpetes e utiliza materiais reciclados nos utensílios e balcões de
serviço do banco. Pretende incluir exigências ambientais em todos os contratos futuros com fornecedores.

Boeing Até 1999, modernizou mais da metade de seu espaço funcional com iluminação eficiente, reduzindo
os custos de energia em US$ 12 milhões ao ano e economizando energia suficiente para suprir
cerca de 16.000 residências.

Canon Dá prioridade em suas aquisições globais a quase 4.600 fornecedores de artigos verdes de escritório
aprovados pela empresa. Atualmente procura esverdear suas licitações para construção de instalações
no Japão, Ásia e América do Norte. Um amplo plano de ação direcionado a fornecedores redundou
em níveis altos de cumprimento a políticas vigentes.

Federal Express Em 2002, comprometeu-se a substituir todos os 44.000 veículos da frota com caminhões elétricos
a diesel, aumentando a eficiência de combustível pela metade e reduzindo as emissões de fumaça
e fuligem em 90%.

Hewlett-Packard Em 1999, decidiu adquirir papel apenas de fontes florestais sustentáveis. Prioriza fornecedores
que vendem produtos verdes e mantém práticas comerciais verdes. Restringe ou proíbe o uso de
certos produtos químicos na industrialização e embalagem.

IKEA Prioriza madeira de florestas que sejam certificadas como de manejo sustentável ou em transição
para esse padrão. Adquire madeira através de um processo de quatro etapas que encoraja os
fornecedores a buscar certificação florestal.

McDonald’s Gastou mais de US$ 3 bilhões em compras com teor reciclado entre 1990 e 1999, inclusive
bandejas, mesas, carpetes e embalagem. Em 2001, adotou embalagens compostáveis para alimento
feitas de amido recuperado de batata e outros materiais. Instalou iluminação de eficiência energética
nos restaurantes.

Migros Em 2002, esse supermercado suíço tornou-se o primeiro varejista europeu a deixar de comprar
suprimentos de óleo de palma de fontes não-seguras, ecologicamente, na Malásia e Indonésia.
Realiza auditorias nos fornecedores para constatar cumprimento dos critérios ambientais e rotula
produtos que “protegem florestas tropicais”.

Riu Hotels Ao mudar para compras a granel de itens de café da manhã, essa cadeia alemã de hotéis conseguiu
reduzir o lixo em 5.100 quilogramas anuais, poupando 24 milhões de itens de embalagens individuais
e uma média de 5 milhões de sacos plásticos de lixo a cada ano.

Staples Em 2002, comprometeu-se a incrementar o conteúdo reciclado médio em seus artigos de papel para
30% e eliminar gradativamente as compras de florestas ameaçadas. Utiliza iluminação e material de
cobertura de eficiência energética em seus prédios. Até o final de 2003 pretende adquirir apenas
produtos de papel reciclado para operações internas e aumentar suas compras de energia verde em 5%.

Starbucks Desde novembro de 2001, ofereceu incentivos financeiros e preferência de fornecimento a produtores
de café que atendiam a determinados padrões ambientais, sociais, econômicos e de qualidade. Em
2002, 28% da fibra de papel utilizada era pós-consumo e 49% continham fibra não-branqueada.

Toyota Em 2001, trocou 1.400 itens de artigos de escritório e 300 computadores e outros equipamentos por
alternativas verdes. Atingiu 100% de compras verdes nessas áreas em 2002. No exercício financeiro
de 2001, adquiriu 500.000 kWh de energia eólica e pretende aumentar para 2 milhões de kWh ao ano.

FONTE: vide nota final 15.

156
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA

Em 1992, o Business Council for pações com prejuízos à saúde e ao meio


Sustainable Development endossou essa ambiente associados aos produtos de algo-
abordagem como ecoeficiência. A dão tradicional, que requerem altos insumos
L’Oreal, o maior fabricante mundial de de pesticidas e fertilizantes químicos. “É a
cosméticos, reduziu suas emissões de gás única forma inteligente de fazer negócio”,
de estufa em 40% entre 1990 e 2000, au- diz Heidi McCloskey, diretora de
mentando, ao mesmo tempo, a produção Sustentabilidade Global da Nike Apparel.
em 60%, principalmente através da ins- “Ao administrar e retirar todos os produ-
talação de iluminação eficiente em toda tos danosos, a Nike não correrá o risco de
sua área e a introdução de um programa custos maiores no futuro”. Em 2001, mais
de reciclagem para reduzir a incineração de um terço das peças de algodão que a
do lixo. Anheuser-Busch e IBM estão en- empresa produziu continham pelo menos
tre as várias outras empresas que vêm 3% de algodão orgânico certificado.17
economizando milhões de dólares por A Nike está na vanguarda das empresas
meio de melhorias em eficiência que hoje pretendem assumir um papel de
energética e hídrica.15 destaque na introdução de produtos verdes
Mesmo nos casos em que a compra no mercado. Em 2001, ajudou a lançar a
verde não leva a economias diretas, esta Bolsa Orgânica, uma rede de 55 empresas
pode trazer benefícios comerciais. Num que pretende ampliar substancialmente o uso
estudo recente para o Centro de Estudos de algodão orgânico na indústria ao longo
Avançados em Aquisições, Craig Carter e dos próximos 10 anos. Outras empresas,
Marianne Jennings verificaram que o au- incluindo Texas Instruments, Levi Strauss
mento da responsabilidade social e Ford Motor Company, juntaram-se à Co-
corporativa está geralmente correlacionado alizão de Papel Reciclado, fundada em 1992,
com receitas maiores, ambientes de traba- para utilizar a força do poder aquisitivo
lho mais sadios e seguros e melhoria de corporativo para incrementar a oferta e qua-
relacionamento com clientes e fornecedo- lidade de produtos de papel reciclado (e afas-
res – fatores que superam, em muito, qual- tar as empresas do papel virgem antes que
quer potencial custo monetário. Compras regulamentos o façam). Os 270 membros
verdes também podem ser uma forma de da coalizão adquiriram quase 150.000 tone-
empresas ganharem pontos em relações ladas de papel reciclado em 2002, com um
públicas com seus defensores e críticos teor pós-consumo médio de 29%.18
(embora alguns grupos ambientais aleguem Mas equilibrar compras verdes com
que isso é apenas demagogia).16 motivação corporativa de lucro pode ser
Muitas empresas também perceberam um processo delicado. Uma vez que as
que podem perder competitividade se con- empresas têm, no final das contas, de se
tinuarem adotando métodos intensivos em manter fiéis a seus propósitos, acionis-
recursos ou ambientalmente destrutivos. O tas e fornecedores, em alguns casos fa-
fabricante de produtos esportivos Nike, por zer a coisa certa pode ainda ser uma des-
exemplo, incrementou o teor de algodão vantagem competitiva. Jeffrey Hollender,
orgânico em seus artigos devido a preocu- diretor-presidente da Seventh Generation,

157
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA

fabricante de produtos ambientalmente ria dos outros países, onde já ocorrem


seguros, observa que sua empresa está compras verdes, as normas ou “reco-
constantemente comparando a urgência mendam” que os adquirentes conside-
de incrementar o conteúdo reciclado de rem opções ambientalmente desejáveis
seus produtos com o alto custo de fazê- ou não há norma alguma, embora com-
lo. “No fundo, é muito melhor fabricar pradores tenham condições de conside-
um produto menos benéfico ao meio rar variáveis ambientais nas aquisições.
ambiente durante um certo tempo do que Da mesma forma que em termos indus-
se ver fora do ramo e sem condições de triais, grande parte da atividade gover-
fazer qualquer diferença”. Hollender diz: namental tem focado a compra de pro-
“O truque é conseguir um equilíbrio en- dutos reciclados ou eficientes em ener-
tre avançar rápido demais e não avançar gia, apesar de o interesse em energia
rápido o bastante”.19 renovável e outras aquisições verdes
Ao longo da última década, as deman- também ter aumentado. 21
das por licitações públicas mais verdes Também tem havido uma onda de
também aumentaram. Mais recentemen- compras verdes por parte de governos
te, os delegados presentes à Cúpula Mun- municipais, estaduais e regionais.
dial de 2002 sobre Desenvolvimento Sus- Christoph Erdmenger, coordenador das
tentável, em Joanesburgo, reiteraram a atividades de ecolicitações do Conselho
necessidade de “promover políticas de li- Internacional para Iniciativas Ambientais
citações públicas que encorajem o desen- Locais (ICLEI, na sigla em inglês), ob-
volvimento e difusão de bens e serviços serva que na maioria dos países agressi-
ambientalmente seguros”. Muitos gover- vos em aquisições verdes foram as auto-
nos também reconhecem, cada vez mais, ridades locais que se puseram na van-
o valor de operações verdes como forma guarda. Na Europa, 250 líderes munici-
de reduzir custos e alcançar objetivos mais pais em mais de 30 países compromete-
abrangentes de políticas ambientais, como ram-se, na Declaração de Hanover de
redução do lixo e atendimento das metas 2000, “a utilizar seu poder aquisitivo para
de eficiência energética.20 direcionar o desenvolvimento, visando
Embora alguns governos já tenham soluções sociais ambientalmente segu-
adotado medidas para esverdear suas ras”. Kolding, na Dinamarca, estabeleceu
aquisições 20 anos atrás, a maior parte uma meta ambiciosa em 1998 de incor-
das ações só ocorreu a partir dos anos porar considerações ambientais a 100%
90. (Vide Tabela 6-2.) Vários países – de sua estrutura de aquisições até 2002.
incluindo Áustria, Canadá, Dinamarca, Em maio de 2001, cerca de 70% de seus
Alemanha, Japão e Estados Unidos – pedidos especificavam e incorporavam
hoje possuem leis ou políticas rigorosas exigências ambientais, principalmente nas
que obrigam órgãos governamentais a áreas de alimentos, equipamentos de es-
comprarem verde (embora isso não sig- critório, produtos de limpeza, informática
nifique que sempre o façam). Na maio- e artigos para tratamento de saúde.22

158
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA

Tabela 6-2. Exemplos de Aquisições Governamentais Verdes

Áustria As atividades em âmbito municipal datam do final dos anos 80. Legislação federal de 1990
e 1993 obriga os órgãos públicos a inserirem critérios ambientais nas especificações dos
produtos. (A Lei de 1993 foi adotada por oito das nove províncias.) A partir de 1997, o
Ministério do Meio Ambiente ajudou as prefeituras e outros ministérios a comprarem
verde. Em 1998, o governo aprovou diretrizes básicas de aquisições verdes em setores como
o de equipamentos de escritório, construção, limpeza e energia.

Canadá Existe uma forte estrutura nacional, legislativa e política para aquisições verdes. As metas
incluem atingir 20% das compras federais de energia de fontes verdes até 2005 e, onde for
viável, tanto em termos de custo quanto operacionais, operar 75% da frota de veículos
federais com combustíveis alternativos até abril de 2004. O programa Canadá Ambiental
orienta os compradores a considerarem os impactos do ciclo de vida de um produto,
utilizarem produtos ecorrotulados e adotarem critérios de eficiência energética e outros
verdes em suas aquisições.

Dinamarca Líder mundial em aquisições verdes. Uma lei de 1994 obriga todos os órgãos públicos
federais e municipais a utilizarem produtos reciclados ou recicláveis, e também todas as
autoridades a adotarem uma política de aquisições verdes. Em 2000, 10 dos 14 condados já
haviam adotado essa política. Pelo menos metade dos municípios também declarou já
dispor de políticas implantadas ou em implantação.

Alemanha Legislação federal sobre o lixo obriga as instituições públicas a darem preferência a produtos
verdes nas suas aquisições. Diretrizes estaduais e municipais também exigem a inclusão de
critérios ambientais nas licitações, embora critérios econômicos assumam prioridade nas
avaliações;

Japão Outro líder mundial em aquisições verdes, a partir de atividades municipais desde o início dos
anos 90. Uma lei de 2001 obriga organizações governamentais federais e municipais a
desenvolverem políticas e compras específicas de produtos verdes. No início de 2003, 47
órgãos municipais e 12 das principais prefeituras estavam comprando verde, com quase a
metade dos 700 municípios tendo implantado essa política. O maior avanço está nos
setores de papel, artigos de escritório, informática, veículos e eletrodomésticos.

Reino Unido Regulamentos permitem aos compradores utilizarem critérios ambientais nas aquisições,
contanto que isso não prejudique a livre concorrência. As autoridades podem escolher que
peso aplicar a critérios ambientais e outros ao adjudicarem contratos. Órgãos governamentais
são obrigados a adquirir pelo menos 5% de sua energia de fontes renováveis até março de
2003, quando deverão aumentar para 10% até 2008.

Estados Unidos Uma ampla variedade de leis e diretrizes exige que os órgãos federais adquiram itens verdes,
incluindo produtos com conteúdo reciclado e eficientes em energia, e veículos bi-combustível.
A coordenação e implementação nas agências têm sido fracas, mas estão melhorando.
Entre os estados, 47 do total de 50 possuem programas “compre reciclado” desde o final
dos anos 80. Pelo menos uma dúzia de estados ampliaram esses programas para incluir
outras compras verdes.

FONTE: Vide nota final 21.

159
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA

Os Estados Unidos também têm teste- papel reciclado sobre o suprimento padrão
munhado um maior avanço no esverde- nos escritórios de muitos países europeus
amento das aquisições públicas mais em às demandas cumulativas dos poderes pú-
âmbito estadual e municipal do que fede- blicos, que têm proporcionado a esse pro-
ral. Em 1999, Santa Mônica, na Califórnia, duto uma vantagem competitiva. Uma mu-
tornou-se a primeira cidade a adquirir 100% dança semelhante ocorreu quando o gover-
de sua energia municipal de fontes no dos Estados Unidos aumentou para 30%
renováveis, inclusive energia geotérmica e a norma de teor reciclado nas compras de
eólica. O estado de Minnesota hoje tem órgãos federais, em 1998. Em 1994, apenas
cerca de 110 contratos diferentes para pro- 12% do papel de copiadoras adquirido por
dutos e serviços verdes, incluindo veícu- agências federais tinha conteúdo reciclado,
los bicombustível, produtos de limpeza de e mesmo assim apenas 10% de material
baixa toxicidade, computadores eficientes reciclado. Em 2000, entretanto, 90% do papel
em energia e tinta sem solventes. Outros adquirido pelos dois principais comprado-
pioneiros locais incluem os estados de res do governo tinha conteúdo reciclado de
Massachusetts, Vermont e Oregon; a cida- 30%. O aumento da demanda pública não
de de Seattle, Washington e o condado de só incrementou o padrão global do mercado
Kalamazoo, em Michigan.23 para teor reciclado como também ajudou a
No mundo em desenvolvimento, Taiwan elevar o padrão do principal fornecer de pa-
é um dos poucos países que formalizaram pel reciclado para o governo, Great White.25
aquisições públicas verdes, declarando uma Aquisições governamentais verdes po-
preferência por produtos verdes aprovados dem ser particularmente eficazes em influ-
num decreto presidencial de 1998. Outros enciar mercados onde o setor público pos-
governos promulgaram leis em apoio a pro- sui uma participação significativa da deman-
gramas de reciclagem; todavia, as iniciati- da global ou onde a tecnologia esteja mu-
vas para agilizar a promoção e compra de dando rapidamente, como no caso dos equi-
produtos reciclados não têm avançado mui- pamentos de computadores. O governo dos
to. Está se discutindo a inclusão de com- Estados Unidos, maior comprador indivi-
pras verdes nas políticas públicas no Brasil, dual de computadores, adquire mais de 1
Irã, México e Tailândia, e o governo de milhão anualmente – cerca de 7% dos com-
Mauritius movimenta-se para um uso maior putadores mundiais. Em 1993, o Presiden-
de plásticos e papéis reciclados, tendo in- te Bill Clinton assinou uma medida provi-
troduzido lâmpadas mais eficientes de neon sória (executive order) exigindo que os ór-
na iluminação pública.24 gãos federais só adquirissem equipamen-
Na maioria dos casos, ainda é cedo para tos de computadores que atendessem às
julgar o impacto global desses pioneiros. exigências de eficiência descritas no pro-
Todavia, alguns sucessos de destaque apon- grama Energy Star, do governo. Hoje, em
tam para a tremenda capacidade das aquisi- grande parte como resultado desse aumen-
ções verdes influenciarem mercados. Por to de demanda, 95% de todos os monitores,
exemplo, o ICLEI atribui a ascendência do 80% dos computadores e 99% das impres-

160
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA

soras vendidas na América do Norte aten- sucatas que acabam em aterros. Até 2007,
dem às normas do Energy Star. Os analis- 85% (em peso) de cada veículo novo de-
tas atribuíram um salto semelhante no de- verá ser fabricado com componentes
sempenho ambiental dos produtos eletrô- recicláveis (atualmente a reciclagem de
nicos japoneses à predominância desse país veículos está limitada a 75% de peso me-
nas aquisições verdes desses itens.26 tálico). A DaimlerChrysler pretende su-
perar esse padrão e atingir 95% da ca-
Pressões e Motivadores pacidade de reciclagem até 2005, em
parte através do incremento do seu uso
Instituições de todos os tipos sofrem, cada de plásticos recuperados e outros ma-
vez mais, uma ampla variedade de pressões teriais. Caso seja amplamente adotado,
normativas e de consumidores para que fa- esse processo de reciclagem poderá
çam compras verdes. Por exemplo, muitos poupar à indústria automotiva mundial
governos hoje dão rebates, isenções fiscais US$ 320 milhões anuais. 28
e outros incentivos econômicos para enco- Os governos não são os únicos a for-
rajar empresas, escolas, indivíduos e outros çar as instituições a comprar verde. Em
consumidores a investirem em tudo, desde todo o mundo, consumidores individuais
aparelhos eletrodomésticos eficientes em estão começando a incorporar preocupa-
energia até veículos bicombustível. Em ções pessoais sobre sua saúde, meio am-
2002, a Arquidiocese de Los Angeles rece- biente e justiça social e a realizar compras
beu milhares de dólares de rebates munici- mais verdes em âmbito domiciliar. Hoje,
pais quando a Catedral de Nossa Senhora cerca de 63 milhões de adultos america-
dos Anjos tornou-se o primeiro prédio reli- nos, ou aproximadamente 30% das famí-
gioso a instalar painéis solares no telhado, lias, realizam alguma forma de compras
gerando energia suficiente para suprir a igreja ambientais ou socialmente conscienciosas,
e mais de 60 residências.27 de acordo com uma pesquisa realizada pela
Os governos também estão utilizando LOHAS Consumer Research. No Reino
seu poder normativo para forçar institui- Unido, compras éticas por indivíduos –
ções a realizarem compras mais verdes. em setores que vão de alimentos orgâni-
Novas leis ou regulamentos que obrigam cos até energia renovável – aumentaram
os fabricantes a satisfazerem determinados 19% entre 1999 e 2000, seis vezes mais
padrões de eficiência energética ou rápido do que os mercados globais nos
reciclagem influenciam a forma como mui- vários setores.29
tas empresas hoje projetam e fabricam seus Esses consumidores, cada vez mais,
produtos. Montadoras, por exemplo, tive- esperam melhor desempenho ambiental
ram que repensar tanto suas fontes quanto das instituições que os orientam, das em-
seu uso de materiais, a fim de atender às presas que apóiam e dos produtos que
disposições de uma nova diretriz da União compram. Os fabricantes nos Estados
Européia sobre veículos no fim de sua vida Unidos divulgam um volume crescente de
útil, objetivando reduzir a proporção de pedidos de informação de consumidores

161
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA

sobre seus produtos, como, por exemplo, seu foco no setor privado: “É importante
o teor reciclado. A Pesquisa do Milênio visar as corporações, porque têm uma ima-
sobre Responsabilidade Social Corpo- gem. O objetivo é aumentar o custo de fa-
rativa, em 1999, constatou que cerca de zer negócio de forma ambientalmente da-
60% dos consumidores em 23 países es- nosa”. Marx acredita que boicotes e outras
peram que as empresas, além de realiza- ações de maculação pública podem ser
rem lucros e gerarem empregos, resolvam muito mais eficazes para conseguir mudan-
questões-chaves ambientais e sociais atra- ças ambientais do que, por exemplo, lobbies
vés dos seus negócios.30 por ações normativas que podem levar anos
A pressão dos consumidores foi instru- ou até mesmo décadas.32
mental na decisão das autoridades munici-
pais em Ferrara, Itália, de introduzir alimen-
tos orgânicos nos lanches escolares. Após Hoje, cerca de 63 milhões de
um grupo de pais preocupados chamar adultos, ou o aproximadamente
atenção à baixa qualidade da comida servi- 30% das famílias nos Estados
da nos jardins de infância em 1994, a Pre- Unidos, realizam alguma forma
feitura formou uma comissão para estudar
de compras ambientalmente
a possibilidade de realizar mudanças nas li-
citações de alimentos. Dentro de quatro responsáveis.
anos, Ferrara havia sistematizado suas aqui-
sições de alimentos orgânicos num edital Em outros casos, as ONGs estão en-
especial de licitação e, em 2000, 80% dos trando em parcerias com as principais
alimentos servidos nos jardins de infância corporações para ajudá-las a redirecionarem
municipais eram orgânicos.31 seu grande poder aquisitivo para objetivos
Números crescentes de consumidores, ambientais. A Aliança para Inovações
acionistas e organizações não-governamen- Ambientais, um projeto da Environmental
tais (ONGs) também estão participando de Defense, uma ONG sem fins lucrativos,
boicotes e outras ações diretas de pressão está trabalhando com empresas como
a empresas para mudarem suas práticas de Citigroup, Starbucks, Briston-Myers
compras. Nos últimos anos, grupos Squibb e Federal Express para alterar
ativistas, como a Rainforest Action suas compras de papel, veículos e ou-
Network (RAN) e ForestEthics, organiza- tros produtos. E o Programa Salvado-
ram atos públicos nos Estados Unidos e res do Clima, uma iniciativa conjunta do
em todo o mundo para pressionar grandes Fundo Mundial para a Natureza e Center
varejistas, como a Home Depot, a parar de for Energy and Climate Solutions, da
adquirir produtos de madeira oriundos de Virginia, trabalha com empresas globais
florestas virgens. (Vide Quadro 6-2.) como Johnson & Johnson, IBM, Nike e
Michael Marx, diretor executivo da Polaroid para incrementar sua eficiên-
ForestEthics, observa que um fator-chave cia energética e uso de energia verde.
por trás do sucesso dessas campanhas foi Igualmente o World Resources Institute

162
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA

está recrutando grandes empresas para megawatts de nova energia verde até
ajudá-lo a atingir seu objetivo de desen- 2010 – capacidade suficiente para
volver mercados corporativos para 1.000 750.000 lares americanos.33

QUADRO 6-2. COMPROMISSO DA HOME DEPOT COM PRODUTOS DE


MADEIRA SUSTENTÁVEL

Em meados dos anos 90, a Rainforest Action 20 milhões para mais de US$ 200 milhões.
Network (RAN), de São Francisco, lançou A decisão da empresa causou um efeito
uma campanha de destaque para pressionar a marola significativo nos mercados de produtos
Home Depot, maior varejista mundial de para o lar e de construção. Dentro de um ano
artigos para o lar, a aprimorar suas práticas de sua mudança de política, varejistas que
compradoras de madeira. Essa cadeia representavam mais de um quinto da madeira
varejista de Atlanta vende mais de US$ 5 vendida para o mercado de reformas
bilhões em produtos de madeira, portas, residenciais nos Estados Unidos, inclusive
compensados e outros anualmente através de seus principais concorrentes, Lowe’s e
suas 1.450 lojas em todo o mundo. Wickes, Inc., anunciaram que eles também
RAN agiu em boicotes, demonstrações em iriam eliminar gradativamente produtos de
lojas, campanhas publicitárias e ativismo florestas ameaçadas, substituindo-os por
acionário para chamar a atenção do público à madeira certificada. Duas das maiores
prática da Home Depot de adquirir madeira construtoras do país também
oriunda de florestas sob grave ameaça de comprometeram-se a não comprar madeira
extinção na Colúmbia Britânica, Sudeste ameaçada.
Asiático e Amazônia. Em agosto de 1999, em Essas mudanças de política elevaram o
resposta a essa pressão, a empresa anunciou padrão global da indústria madeireira. Com
que iria eliminar gradativamente todas as muitas empresas hoje movimentando-se para
compras de madeira virgem até o final de obter aprovação do FSC, em breve será um
2002. Em janeiro de 2003, já havia reduzido entrave para outros produtores de madeira não
suas compras de lauan da Indonésia (madeira se certificarem. Michael Marx, da
nobre tropical utilizada em componentes de ForestEthics, observa que “ uma declaração da
portas) em 70%, deslocando mais de 90% de Home Depot fez mais para mudar as práticas
suas compras de cedro para florestas de madeireiras da Colúmbia Britânica do que 10
segunda e terceira geração nos Estados anos de protestos ambientais”.
Unidos. Hoje, a empresa informa saber as Porém, críticos lamentam que a Home Depot
fontes originais de aproximadamente 8.900 não tenha ido longe o bastante no uso de sua
produtos de madeira. força de mercado para influenciar seus
A Home Depot também comprometeu-se a fornecedores. Um obstáculo tem sido o custo
dar preferência a produtos certificados como mais alto na compra de madeira certificada ou
originários de florestas sob manejo sustentável. na produção de alternativas sintéticas, embora a
(Atualmente, cerca de 1% da madeira vendida Home Depot tenha concordado em absorver
mundialmente é certificada). Entre 1999 e 2002, qualquer aumento de preço. Outro desafio foi
o número de seus fornecedores que vendiam afastar consumidores de opções
madeira aprovada pelo Forest Stewardship ambientalmente inseguras. De acordo com a
Council (FSC) – Conselho de Manejo Florestal empresa, poucos clientes pedem,
–, um dos principais órgãos de certificação especificamente, madeira certificada.
florestal, saltou de apenas 5 para 40, e o valor _______________________________________________________
de suas compras certificadas disparou de US$ FONTE: vide nota final 32.

163
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA

Superando Obstáculos táculos legais, políticos e institucionais em


todas as etapas de seu trabalho – desde o
Nos últimos anos, a economista Júlia estabelecimento de um programa de aqui-
Schreiner Alves vem tentando forçar seu sições verdes até a seleção dos produtos
patrão, o governo do estado de São verdes. Se essas barreiras não forem su-
Paulo, no Brasil, a esverdear suas aqui- peradas e a lacuna entre boas intenções e
sições. Com uma população de 30 milhões, resultados práticos não for preenchida, as
São Paulo é o primeiro entre todos os es- atuais iniciativas pioneiras de aquisições
tados brasileiros em poder aquisitivo. Mas verdes poderão ser engolidas pela cres-
Alves é uma das únicas pessoas em sua cente maré do consumo.
repartição a pressionar por compras mais Devido ao complexo arcabouço legal
verdes, e diz que muitos colegas, particu- em torno das licitações, a inserção de exi-
larmente no Departamento de Compras, gências verdes no processo de compra é
são simplesmente insensíveis ao potenci- geralmente mais fácil de falar do que de
al de as aquisições verdes gerarem mu- fazer. Regras licitatórias podem variar a
danças ambientais positivas.34 depender do volume, valor ou tipo de aqui-
Em termos práticos, o sucesso de com- sição, criando dificuldades para o com-
pras verdes freqüentemente é resultado do prador determinar se considerações
papel do comprador profissional. O Depar- ambientais são compatíveis com os pro-
tamento de Licitação de uma instituição cedimentos existentes. Compras verdes
exerce um poder considerável. Nos Esta- podem ser particularmente desafiadoras no
dos Unidos, os departamentos de compras mundo em desenvolvimento, em que nor-
governamentais supervisionam 50–80% de mas ambientais ou de produtos são
todas as aquisições. Quando a compra é freqüentemente tão fracas que comprado-
altamente centralizada, uma única decisão res realizam aquisições de má qualidade
tomada por apenas um ou um punhado de ou até perigosas. Corrupção e fiscaliza-
compradores pode causar uma tremenda ção fraca nas licitações dão pouco incen-
marola, influenciando a comprar os pro- tivo aos compradores para agirem com
dutos utilizados centenas e até milhares maior eficiência ou comprarem produtos
de pessoas. Dessa forma, as aquisições ambientalmente seguros.36
de compradores institucionais têm Quando governos em todo o mundo
freqüentemente maiores conseqüências atualizam seus procedimentos licitatórios e
para o planeta do que as escolhas diárias fecham as brechas que fomentam inefici-
da maioria dos consumidores domésticos.35 ência, desperdício e corrupção, isso pode:
Infelizmente, muitos compradores ain- ou levar a regulamentos mais restritivos,
da não estão explorando seu tremendo que dificultam comprar verde, ou oferecer
poder para alavancar mudanças. Em al- novas oportunidades. A Comissão Européia,
guns casos, simplesmente não têm conhe- por exemplo, está hoje explorando as pos-
cimento da influência que poderiam exer- sibilidades legais de aquisições verdes nos
cer. Mas também enfrentam graves obs- termos das Diretrizes de Aquisições da

164
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA

União Européia, que historicamente nunca Muitas iniciativas de aquisições


fizeram referência a questões ambientais. verdes falham porque as
Um comunicado de julho de 2001 analisou organizações não estabelecem
como critérios verdes poderiam ser inte-
grados em diferentes etapas das aquisições
metas rígidas para a atividade
da UE, desde especificação de produtos até e não há prestação de contas.
seleção de fornecedores.37
Além das incertezas legais correntes, Mesmo quando o clima político é mais
as aquisições verdes enfrentam gigantes- receptivo, compradores enfrentam outros
cos desafios políticos À medida que cres- obstáculos às compras verdes. Na maioria
cem os mercados de produtos ambiental- das instituições, as regras os obrigam a ad-
mente desejáveis, as indústrias que man- quirir o produto ou serviço que melhor atenda
têm interesse na produção convencional às suas necessidades no menor preço, o que
(como a indústria petrolífera, empresas elimina produtos mais ambientalmente de-
de fertilizantes e outros fabricantes de sejáveis, mais caros. Luz Aída Martinez
produtos ambientalmente inseguros) pro- Meléndez, do Ministério do Meio Ambiente
vavelmente sairão perdendo. Esses inte- e Recursos Naturais do México, reclama que
resses estão exercendo uma influência encontrar produtos alternativos acessíveis
significativa para pressionar decisões de é uma das maiores barreiras a compras ver-
compras institucionais, a fim de impedir des em seu departamento.39
que os produtos alternativos ganhem es- Mas algumas instituições estão encon-
paço. Durante anos, Tom Ferguson, da trando formas inovadoras de lidar com a
Perdue AgriRecycle, tem comparecido a questão do preço. Em 2001, a cidade de
feiras comerciais e angariado apoio de Chicago e 48 subúrbios reuniram seus re-
compradores governamentais para seu cursos jurisdicionais para adquirir um blo-
fertilizante orgânico, derivado de dejetos co maior de eletricidade a uma taxa reduzi-
reciclados de aves. Mas não está pene- da, aplicando o valor economizado no aten-
trando no mercado, diz este, porque os dimento de pelo menos 20% das necessi-
códigos de especificações federais não dades energéticas do grupo de fontes
permitem que compradores adquiram renováveis até 2006. A cidade de Kansas e
produtos alternativos como os que ven- o condado de Jackson, no Missouri, con-
de. Ferguson observa que grupos indus- cordaram em pagar um ágio de 15% para
triais poderosos, como o Fertilizer combustíveis alternativos, produtos de lim-
Institute, protegerão os contratos quími- peza e outros considerados ambientalmente
cos do agronegócio a qualquer custo. E seguros. Outras instituições permitem que
“se o produto ou serviço não estiver den- compradores comparem produtos com
tro das especificações governamentais, base no custo em função da vida útil, em
então as mãos do comprador governa- vez de simplesmente no valor de aquisição
mental – não importa quão bem-intenci- – que freqüentemente demonstra que a
onado seja – estão amarradas”.38 opção verde é mais barata.40

165
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA

Também há obstáculos institucionais partida às suas iniciativas de aquisições ver-


internos a aquisições verdes. Devido a des em 1994, com produtos de limpeza
muitas organizações não possuírem um his- menos tóxicos, porque já existia um amplo
tórico de responsabilidade ambiental, fazer conhecimento sobre produtos alternativos.
com que funcionários reconheçam os be- Sem muita pesquisa adicional, os compra-
nefícios da adoção de práticas mais dores podiam substituir limpadores tradici-
ambientalmente seguras pode levar tempo. onais por opções menos tóxicas em 15 das
Compradores, gerentes e usuários finais 17 categorias de produtos, economizando
estão muito acostumados ao status-quo e 5% em custos anuais e evitando a compra
resistentes a novos métodos que possam anual de 1,5 tonelada de materiais perigo-
complicar seu trabalho. Ademais, persiste sos. A Rede de Aquisições Verdes, do Japão,
muito ceticismo quanto à funcionalidade de que encoraja os consumidores de todos os
muitos produtos verdes. Por exemplo, tipos a comprarem verde, é bem-sucedida
muitos compradores ainda evitam adquirir porque enfoca principalmente artigos de es-
papel reciclado porque acreditam que sua critório e produtos eletrônicos. (Alguns dos
qualidade seja de baixo padrão, embora es- seus membros, que incluem prefeituras,
ses tipos de problemas já venham sendo corporações e ONGs, atingiram 100% de
superados em grande parte. aquisições verdes nesses itens.)42
Selecionar um foco para aquisições ver- Uma maneira importante de institucio-
des pode também ser uma tarefa desafia- nalizar as aquisições verdes é estabelecer
dora. Deveria uma instituição visar produ- uma política ou lei explícita, reforçando a
tos menores, como produtos de limpeza, atividade. A estratégia de Copenhague, que
móveis para escritórios e papel, ou itens entrou em vigor em 1998, especificou que
maiores, como prédios e transportes? dentro de dois anos todos os artigos de
Idealmente, a iniciativa enfocaria mudan- escritório tinham que ser isentos de PVC,
ças que pudessem fazer a maior diferença todas as fotocopiadoras tinham que utilizar
no todo em termos de benefícios 100% de papel reciclado, todas as impres-
ambientais e influência de mercado. Porém soras tinham que imprimir nas duas faces
isso geralmente não ocorre. Stuttgart, na do papel e todos os cartuchos de toner ti-
Alemanha, por exemplo, enfoca suas aqui- nham que ser reutilizados.43
sições verdes principalmente em papel, pro- Porém, ter uma política nem sempre
dutos de limpeza e equipamentos de garante que será aplicada. A norma avan-
informática, embora 80% dos gastos mu- çada de licitações de madeira do Reino Uni-
nicipais sejam em eletricidade, aquecimen- do é um exemplo. Em 2000, em resposta à
to e construção e renovação de prédios.41 crescente preocupação mundial sobre ati-
No final das contas, o alvo de uma insti- vidades madeireiras ilegais, o governo cen-
tuição poderá depender de suas prioridades tral adotou uma política exigindo que to-
ambientais, limitações legais e financeiras e dos os departamentos e agências “se em-
facilidade ou probabilidade de realizar mu- penhassem ativamente” na compra de pro-
danças. Santa Mônica, na Califórnia, deu dutos de madeira certificada como origi-

166
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA

nária de florestas de manejo sustentável. papel”. Quanto mais específicas e


Uma investigação do Greenpeace, em abril quantificáveis forem as metas de uma
de 2002, todavia, revelou que as autorida- instituição, maior a probabilidade de ocor-
des, claramente, desconsideraram essa lei rerem aquisições verdes.46
quando reformaram a Sala do Gabinete do Em alguns casos, as instituições não
Governo, em Londres, com sapele da Áfri- impõem sanções por não-cumprimento,
ca, uma madeira ameaçada. Investigando havendo pouco incentivo para os compra-
o incidente, a Comissão de Auditoria dores seguirem os regulamentos. A pes-
Ambiental da Câmara dos Comuns confir- quisa da Agência de Proteção Ambiental
mou que não tinha havido “qualquer evi- em 2000, por exemplo, atribuiu o
dência sistemática ou até mesmo empírica descumprimento da legislação americana
de qualquer mudança nos padrões de aqui- de “comprar reciclado” à falta de aplica-
sições de madeira”.44 ção da lei; mesmo quando os comprado-
Muitas leis de aquisições verdes nos Es- res tinham conhecimento das regras, nem
tados Unidos também deixam a desejar. Nos sempre as consideravam obrigatórias. A
termos da Lei de 1976 sobre Conservação e fim de encorajar o cumprimento,
Recuperação de Recursos Naturais, e suas Vorarlberg, na Áustria, realiza hoje uma
reedições subseqüentes, as agências fede- competição regional para premiar a pre-
rais estão obrigadas a considerar o uso de feitura mais ambientalmente amigável por
produtos reciclados, biofundamentados e suas práticas de compras, enquanto, nos
outros ambientalmente desejáveis em suas Estados Unidos, Massachusetts premia os
licitações e contratações acima de um valor melhores compradores verdes do estado,
determinado. Porém, dois relatórios recen- município ou setor privado.47
tes da Agência de Proteção Ambiental (EPA) Ao mesmo tempo, a maioria dos siste-
e do Departamento Geral de Contabilidade mas institucionais de contabilidade não fo-
dos Estados Unidos comprovaram que não ram planejados para rastrear aquisições de
apenas poucas agências federais estavam produtos reciclados ou verdes, dificultan-
atendendo às exigências legais, mas também do a monitoração da atividade. A
que a maioria dos compradores sequer ti- descentralização em andamento nas opera-
nha conhecimento das normas.45 ções de compra de muitos governos, uni-
Julian Keniry, diretora do programa versidades e outras atividades de compras
Ecologia no Campus, da National Wildlife institucionais agravam o problema contábil.
Federation, diz que muitos esforços de Os principais órgãos públicos do Canadá
aquisições verdes falham porque as or- hoje emitem cerca de 35.000 cartões de
ganizações não estabelecem metas rígi- crédito individuais, que permitem aos fun-
das para a atividade e não há prestação cionários selecionar e debitar seus própri-
de contas. “Só políticas não é suficien- os suprimentos até um teto prefixado, en-
te”, diz. “Precisam ser acompanhadas de quanto mais da metade das compras fede-
um processo de estabelecimento de me- rais nos Estados Unidos são debitadas em
tas. Do contrário, são apenas palavras no cartões bancários governamentais.48

167
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA

Algumas instituições estão lidando confirmar sua origem. Sem o tempo ou


com o problema de monitoração da for- antecedentes científicos para uma pesqui-
ma antiga: conferindo à mão os recibos sa extensa da oferta de produtos verdes,
de compras verdes. Outros, porém, es- muitos compradores simplesmente prefe-
tão desenvolvendo sistemas mais sofisti- rem que alguém lhes diga o que comprar.50
cados. Kolding, na Dinamarca, está cri- A ausência de informações ambientais
ando uma forma eletrônica de registrar seguras deixou muitos fabricantes,
aquisições verdes, e o governo dos Esta- ambientalistas e outros confusos sobre o
dos Unidos avançou inserindo um siste- que exatamente constitui um produto ou
ma automatizado de rastreamento de pro- serviço “verde”. Deverá um papel
dutos verdes no sistema federal de aqui- “ambientalmente seguro”, por exemplo,
sições. Outras instituições isentam-se to- conter uma porcentagem máxima de con-
talmente da responsabilidade, transferin- teúdo reciclado? Vir de uma floresta explo-
do o ônus para os fornecedores. A vare- rada sustentavelmente? Ser processado
jista de energia renovável americana sem uso de cloro? Ou uma combinação
Green Mountain Energy, por exemplo, dessas? Para muitos produtos verdes, ain-
exige que seu fornecedor de papel Boise da não existem padrões ou especificações
Cascade apresente relatórios sumários ambientais amplamente reconhecidos. Em
sobre todas as compras de papel alguns casos, os produtos verdes são tão
reciclado da Green Mountain.49 inovadores que apenas um punhado de
empresas os produzem, ou são submeti-
Identificando dos a tamanha mudança tecnológica que
Produtos Verdes padrões ou especificações simplesmente
nem foram desenvolvidos. Entretanto, sem
Um desafio adicional nas compras verdes um acordo sobre o que seja efetivamente
é saber exatamente o que procurar. Relati- “verde”, muitos fabricantes relutam em in-
vamente pouco se sabe sobre as caracte- vestir em tecnologias mais ambientalmente
rísticas ambientais da maioria dos produ- seguras.51
tos e serviços no mercado hoje, dificultan- Felizmente, estão sendo desenvolvidas
do o trabalho de comparação eficaz dos ferramentas sofisticadas para ajudar tanto
produtos pelos compradores. Traçar as fabricantes quanto compradores a avaliar
origens de um produto por toda a cadeia o desempenho ambiental dos produtos.
produtiva pode ser complicado. Um com- Uma técnica particularmente promissora,
prador pode, involuntariamente, adquirir a avaliação de ciclo de vida, oferece uma
papel originário de florestas virgens do su- metodologia para identificar e quantificar
deste da Ásia (onde as florestas estão rapi- os insumos, produtos e impactos
damente sendo desmatadas para agricultu- ambientais potenciais de um determinado
ra e outros fins) porque foi reembalado e produto ou serviço por toda a sua vida.
vendido sob tantas marcas diferentes que (Vide Quadro 6-3.) A Volvo, por exemplo,
mesmo a maioria dos vendedores não pode hoje aplica considerações de ciclo de vida,

168
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA

QUADRO 6-3. AABORDAGEM DE CICLO DE VIDA


Uma abordagem de ciclo de vida nos permite iniciativa busca desenvolver e disseminar
verificar as conseqüências involuntárias de ferramentas práticas para avaliar
nossas ações durante toda a vida dos produtos oportunidades, riscos e compensações
– desde a extração da matéria-prima até a associados a produtos e serviços ao longo do
disposição final. Oferecendo informações mais seu ciclo de vida. A iniciativa é regida por um
completas sobre tudo, desde nossos sistemas Painel Internacional de Ciclo de Vida, que
de transportes até nossas fontes energéticas, também age como o principal fórum global
pode nos ajudar a reorientar o consumo numa para especialistas e interessados em ciclo de
direção mais sustentável. “Os consumidores vida em todo o mundo.
estão cada vez mais interessados no mundo A Iniciativa contribui também para um
por trás dos produtos que adquirem”, observa arcabouço de programas decenais mais
Klaus Töpfer, diretor executivo do PNUMA amplos, que promovem as normas de
(Programa das Nações Unidas para o Meio consumo e produção sustentáveis solicitadas
Ambiente). “O conceito de ciclo de vida na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento
significa que cada um de nós, por toda a cadeia Sustentável de 2002, em Joanesburgo. O Plano
do ciclo de vida de um produto, do berço ao de Ação de Joanesburgo enfatizou a
túmulo, tem responsabilidade e um papel a necessidade de “políticas que melhorem os
desempenhar”. produtos e serviços fornecidos, reduzindo ao
Em 2001, em resposta a uma convocação de mesmo tempo impactos ambientais e à saúde e
governos por uma economia de ciclo de vida, o utilizando, onde seja indicado, abordagens
PNUMA e a Sociedade de Toxicologia e científicas, como a análise de ciclo de vida.”
Química Ambiental iniciaram, conjuntamente,
uma Iniciativa de Ciclo de Vida. Através de – Guido Sonnemann, Divisão de
seus três programas principais – Gestão de Tecnologia, Indústria e Economia, PNUMA
Ciclo de Vida, Inventário de Ciclo de Vida e ___________________________________________
Avaliação do Impacto do Ciclo de Vida –, a FONTE: vide nota final 52.

a fim de prestar informações detalhadas Acordos também estão surgindo, pelo


sobre os vários impactos ambientais que menos entre alguns grupos interessados,
surgem durante a fabricação e uso dos ve- sobre como definir certos produtos ver-
ículos. E o novo software BEES (sigla em des, como papel e produtos de limpeza. Em
inglês para Construir para a Sustentabilidade novembro de 2002, cerca de 56 grupos
Ambiental e Econômica) do Departamento ambientalistas da América do Norte adota-
de Comércio dos Estados Unidos utiliza ram um conjunto de critérios ambientais
dados de ciclo de vida para assessorar com- comuns para papel ambientalmente desejá-
pradores na comparação e classificação do vel e divulgaram orientação detalhada para
desempenho ambiental e econômico de assessorar compradores em suas escolhas.
materiais de construção, com base nos seus Naquele mesmo ano, compradores gover-
impactos relativos em áreas como aqueci- namentais, representantes da indústria e
mento global, qualidade do ar interno, grupos ambientalistas uniram-se sob uma
exaustão de recursos e resíduos sólidos.52 nova Iniciativa Norte-Americana de Aqui-

169
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA

sições Verdes, a fim de desenvolverem cri- critérios estabelecidos pela Green Seal,
térios e linguagem contratual uniformes para uma organização americana sem fins lu-
aquisições verdes de energia, papel e pro- crativos que desenvolveu padrões
dutos de limpeza. Um grupo de trabalho ambientais rigorosos em cerca de 30 ca-
conquistou uma grande vitória ao concor- tegorias de produtos. Uma das grandes pre-
dar com um conjunto único de critérios para ocupações é que a escolha de produtos de
a identificação de produtos verdes de lim- rotulagem específica poderá criar uma
peza em contratos públicos (anteriormen- barreira comercial injusta, nos termos da
te, os compradores chegavam a utilizar até regras da Organização Mundial do Comér-
17 tipos diferentes de linguagem cio, discriminando pequenos fornecedo-
contratual).53 res, que talvez não possam arcar com os
Muitos compradores (e outros consu- custos de qualificação às condições dos
midores) também procuram orientação so- rótulos. (Vide Capítulo 7.)55
bre iniciativas nacionais, regionais e globais
de ecorrotulagem. Ecorrótulos são selos de
aprovação utilizados para indicar que um A Rede de Aquisições Verdes,
produto atende a critérios específicos de do Japão, tem hoje cerca de
segurança ambiental durante uma ou mais 2.730 membros, incluindo Sony,
etapas de seu ciclo de vida. Embora a varie-
Toyota e Canon.
dade de produtos e serviços ecorrotulados
seja relativamente pequena, esses rótulos já
podem ser encontrados em vários itens, des- Tem surgido também forte oposição
de eletricidade verde até produtos de madei- à ecorrotulagem por parte da indústria,
ra. Os certificadores incluem órgãos gover- particularmente nos Estados Unidos. O
namentais, ONGs, grupos profissionais ou presidente da Green Seal, Arthur
privados e entidades de certificação interna- Weissman, explica que fabricantes como
cional. (Vide também Capítulo 5.)54 Procter & Gamble, principal produtor de
Algumas instituições permitem que seus artigos domésticos, utilizam várias táti-
compradores exijam especificamente itens cas – desde argumentos legais até forte
ecorrotulados em seus contratos. A cidade lobby governamental – para evitar que
de Ferrara, na Itália, por exemplo, procura produtos verdes certificados entrem no
comprar papel com o rótulo da Nordic mercado americano. “Na visão deles, in-
Swan. Porém muitos compradores (parti- terrompo o relacionamento com o con-
cularmente governamentais) hesitam em sumidor”, diz Weissman... “terceiros in-
endossar produtos ecorrotulados específi- terferindo com a marca”. 56
cos, exigindo, em vez disso, que seus for- Em alguns casos, fabricantes globais
necedores satisfaçam os critérios básicos com múltiplas linhas de produtos têm
dos rótulos. O estado da Pensilvânia de- resistido aos esforços de especificar qual-
monstrou o desejo de adquirir apenas pro- quer um dos seus produtos como
dutos de limpeza e tintas que atendam aos ambientalmente desejável, por temerem

170
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA

que isso possa denegrir suas ofertas con- Disseminando o Movimento


vencionais. “Assim que as empresas co-
mecem a identificar alguns dos seus pro- Durante muitos anos o esforço de divulgar
dutos como ambientalmente desejáveis, e promover práticas mais verdes de com-
os consumidores irão querer saber o que pras perdeu-se entre duplicação de traba-
tem de errado com os outros produtos, lho e pouca articulação de idéias. Mas isso
explica Scot Case, diretor de Estratégias está mudando. Hoje, iniciativas em âmbito
de Aquisição do Center for a New internacional, regional e local buscam não
American Dream. “Uma empresa poderá só enfrentar os obstáculos a aquisições
sofrer ações legais caso seus clientes verdes, mas também acelerar sua adoção.
venham a saber que muitos dos seus pro- E à medida que mais instituições reconhe-
dutos de limpeza, por exemplo, são po- cem os benefícios, compartilham informa-
ções tóxicas de conhecidos cancerígenos ções e aprendem com os sucessos e fra-
e toxinas reprodutivas”.57
cassos mútuos.
Hoje, várias outras ferramentas tam- Várias organizações e redes, especial-
bém ajudam os compradores a identifi- mente na Europa, América do Norte e Ja-
car com mais facilidade produtos e ser- pão, publicam hoje informações sobre aqui-
viços ambientalmente desejáveis. Muitas sições verdes, recolhem histórias de suces-
organizações divulgam diretrizes de aqui- so e divulgam tendências. Visam principal-
sições verdes ou listas de produtos como mente instituições com forte poder aquisi-
referência para seus compradores ou for- tivo, como governos e grandes corpora-
necem manuais detalhados de treinamento ções, embora muitas de suas estratégias
para orientar os compradores através do também sejam aplicáveis em menor esca-
processo. A Agência de Proteção la. Alguns desses grupos entram em par-
Ambiental dos Estados Unidos, por exem- ceria diretamente com líderes industriais e
plo, dá recomendações para a aquisição autoridades governamentais para encora-
de cerca de 54 produtos diferentes com jar aquisições mais verdes. Outros congre-
conteúdo reciclado, incluindo cones de gam comunidades para boicotarem ou, de
trânsito, cartuchos de toner, madeira plás- outra forma, pressionarem fabricantes ou
tica, mangueiras de jardim e isolamento outras instituições a mudar suas práticas
predial. A cidade de Gotenburgo, na Sué- de compra. Muitos também aplicam seus
cia, realiza seminários de treinamento, recursos para promover debates públicos
palestras e workshops para orientar com- e gerar interesse da mídia no movimento
pradores e outros interessados sobre exi- de aquisições verdes.
gências legais, ferramentas específicas e O Programa Ecoaquisições, do ICLEI,
melhores práticas para aquisições verdes. lançado em 1996, é líder na promoção de
Em 2000, 80–90% dos funcionários mu- aquisições verdes entre governos, empresas
nicipais (tanto compradores quanto usu- e outras instituições por toda a Europa. Mais
ários finais) haviam sido treinados em de 50 cidades e prefeituras em 20 países per-
aquisições verdes.58 tencem hoje à Rede Compre Verde, do gru-

171
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA

po, que ajuda seus membros na troca de in- para 130 especificações de contrato em
formações e experiências, na união de esfor- âmbito municipal, estadual e federal, para
ços e nas aquisições verdes conjuntas. A or- 523 normas de desempenho ambiental de
ganização também realiza conferências anu- produtos e para 25 listas de vendedores e
ais e edita uma revista, distribuída para mais produtos que atendem a essas normas.60
de 5.000 compradores na Europa. E, em um O Center for a New American Dream,
dos seus primeiros esforços, a ICLEI está de Maryland, ajuda grandes compradores,
trabalhando num projeto para quantificar a particularmente governos estaduais e mu-
economia ambiental associada a aquisições nicipais, a incorporarem considerações
verdes, a fim de determinar a melhor manei- ambientais em suas decisões de compra.
ra de combinar estrategicamente o poder de Seu Programa de Estratégias Aquisitivas foi
compra das cidades e divulgar aquisição ver- um motivador por trás da Iniciativa Norte-
de por toda a Europa. Por exemplo, o projeto Americana de Aquisições Verdes, em 2002,
constatou que a substituição dos 2,8 milhões que visa gerar uma massa crítica para aqui-
de computadores que os governos da UE sições verdes no continente. O grupo tam-
adquirem anualmente por modelos eficientes bém pretende agir como câmara de com-
em energia poderá reduzir as emissões euro- pensação para informações sobre aquisições
péias em mais de 830.000 toneladas de dióxido verdes para fabricantes, compradores e for-
de carbono equivalente.59 necedores.61
Na América do Norte, o principal pro- A Rede de Aquisições Verdes (RAV), do
ponente de aquisições institucionais verdes Japão, agrega cerca de 2.730 organizações,
é o programa Aquisições Ambientalmente De- incluindo mais de 2.100 empresas (entre
sejáveis, da Agência de Proteção Ambiental elas Panasonic, Sony, Fuji, Xerox, Toyota,
(EPA), criado em 1993 por decreto presi- Honda, Canon, Nissan e Mitsubishi); 360
dencial. O programa oferece apoio e infor- prefeituras em locais como Tóquio, Osaka,
mações em áreas como construção, produ- Yokohama, Kobe, Sapporo e Kyoto e 270
tos de escritório, serviços de conferências e grupos de consumidores, cooperativas e
impressão, produtos de limpeza, aquisições outras ONGs. A RAV realiza seminários e
para lanchonetes e produtos eletrônicos. A exposições pelo país sobre aquisições ver-
EPA também lançou vários projetos-piloto, des, publica diretrizes de compras e livros
incluindo parcerias com o Departamento da de dados ambientais de diferentes produ-
Defesa (para esverdear operações e instala- tos e serviços e distribui prêmios a organi-
ções militares) e com o Serviço Nacional de zações exemplares.62
Parques (para ajudar os parques tanto a Na área de educação superior, mais de
esverdearem suas compras quanto educa- 275 presidentes e chanceleres de universi-
rem os visitantes sobre consumo). Através dades em mais de 40 países assinaram a
da sua base central de dados, a EPA tam- Declaração de Talloires, em 1990, um pla-
bém atua como câmara de compensação para no de ação de 10 pontos que, entre outras
mais de 600 produtos e serviços coisas, encoraja as universidades a estabe-
ambientalmente desejáveis, incluindo links lecerem políticas e práticas de conserva-

172
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA

ção de recursos, reciclagem, redução de minar histórias de sucesso e outros eventos


lixo e operações ambientalmente seguras. de aquisições verdes.64
No setor hoteleiro, a International Hotels Já há esforços incipientes para disse-
Environment Initiative, uma rede global sem minar aquisições verdes no mundo em de-
fins lucrativos de mais de 8.000 hotéis em senvolvimento, embora ainda reste muito
11 países, patrocina uma ferramenta da trabalho a ser feito. O programa ERNIE
Web para ajudar hotéis a melhorarem seu (Aquisições Ecorresponsáveis em Países em
desempenho ambiental (e economizarem Desenvolvimento e Economias Quase In-
dinheiro) através de compras diversificadas, dustrializadas) do ICLEI, apoiado pela Glo-
desde iluminação eficiente em energia até bal Environment Facility, está trabalhando
pisos, refrigeradores e frigobares com autoridades locais em várias cidades
ambientalmente desejáveis.63 – inclusive São Paulo, Brasil; Durban, Áfri-
ca do Sul, e Puerto Princessa, Filipinas –
para desenvolver projetos-piloto de aquisi-
Desde 1992, DaimlerChrysler vem ções verdes. A iniciativa enfoca basicamen-
explorando as florestas tropicais te a compra de eletrodomésticos eficientes
em energia e visa superar várias barreiras
brasileiras à procura de fibra de
de mercado e, dentre outras, as licitações
coco e borracha natural seguras, verdes, inclusive a necessidade de capaci-
que utiliza hoje em assentos e tar fornecedores e fabricantes locais.65
apoios de cabeça dos veículos. Uma forma de as instituições ajudarem a
disseminar aquisições verdes no mundo em
desenvolvimento é por meio de suas próprias
Há esforços também para chamar mais licitações, fortalecendo mercados verdes lo-
a atenção da mídia para aquisições verdes. cais. Por exemplo, as Nações Unidas, Banco
Em fevereiro de 2001, a Agência de Prote- Mundial, agências doadoras e corporações
ção Ambiental da Dinamarca lançou uma multinacionais operando nesses países podem
campanha intensiva na televisão, em jornais esforçar-se para adquirir uma maior parcela
e folhetos para despertar interesse em pro- de seus bens e serviços de fornecedores ver-
dutos ecorrotulados. A Rede de Aquisições des locais, ajudando a capacitar a produção
Verdes do Japão empenhou-se promovendo sustentável. Desde 1992, DaimlerChrysler
aquisições verdes na televisão, jornais e se- vem explorando as florestas tropicais brasi-
minários governamentais e corporativos. Or- leiras à procura de fibra de coco e borracha
ganizações de todos os tipos hoje também natural seguras, que hoje utiliza em assentos
utilizam a Internet para informar seus com- e apoios de cabeça dos veículos. Com isso, a
pradores sobre aquisições verdes, dando di- montadora não só elimina o uso de insumos
cas e indicando links para produtos e servi- sintéticos nessas peças, como também
ços alternativos. O condado de King, no es- incrementa mercados locais de materiais
tado de Washington, utiliza seu website renováveis, gerando renda e emprego para
abrangente e boletins via e-mail para disse- os produtores.66

173
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA

Na maioria dos casos, todavia, já é um to dentro quanto fora das instituições mem-
grande desafio conseguir simplesmente que bros. Esse grupo interagências espera tam-
instituições internacionais comprem dos bém incorporar critérios de justiça social
países em desenvolvimento, quanto mais às decisões licitatórias dos membros.68
comprar verde. Embora algumas dessas Evidentemente, as instituições mundi-
instituições tentem efetivamente comprar ais têm um poder significativo de realizar
localmente, suas aquisições geralmente fa- mudanças sociais e ambientais por inter-
vorecem empresas do mundo industriali- médio de suas aquisições. Mas não im-
zado. (Na realidade, a maioria das agências porta quão ambientalmente seguras sejam
doadoras atrelam sua ajuda a aquisições em essas aquisições: elas ainda utilizam recur-
seus próprios países.) Em 2000, apenas um sos e geram resíduos. A fim de mitigar
terço das aquisições do sistema das Nações realmente os impactos de seu consumo,
Unidas foi no mundo em desenvolvimento. as instituições precisarão buscar meios
Ocasionalmente, essas instituições fazem para atender a suas necessidades sem ad-
exigências socialmente responsáveis em quirirem novos produtos – por exemplo,
suas aquisições: o UNICEF, por exemplo, eliminando compras desnecessárias e es-
busca desenvolver políticas e estratégias de tendendo a vida útil dos produtos existen-
origens que apóiem metas nacionais de in- tes. Pori, na Finlância, implementou um
cremento ao bem-estar das crianças. Mas, serviço urbano de reutilização de merca-
até agora, raramente especificam critérios dorias que permite aos funcionários de
ambientais devido, em parte, ao risco de qualquer repartição municipal negociar ou
essas especificações contratuais alienarem dar produtos que não precisem mais. E
pequenos fornecedores que talvez não pos- desde 1994 o projeto SWAP (sigla em in-
sam atendê-las.67 glês de Sobras com Objetivo), da Univer-
Ao incrementar aquisições verdes nos sidade de Wisconsin-Madison, subseqüen-
países em desenvolvimento, as instituições temente ampliado para todo o estado, vem
internacionais podem não apenas estimular ajudando a redirecionar produtos usados
mercados, mas também aprimorar sua ima- – como mobília de escritório, computa-
gem em função das constantes críticas dores e outros – de aterros para outros
sobre os impactos ambientais de suas ati- usuários no campus e em todo o estado.69
vidades. Há interesse crescente, por exem- Aquisições verdes não são a única for-
plo, em inserir critérios ambientais nas lici- ma de minimizar os problemas associa-
tações associadas a empréstimos do Ban- dos ao consumo excessivo. Mas é um
co Mundial, como parte de esforços maio- passo importante no caminho para um
res para esverdear as operações do Banco. mundo mais sustentável. Como indivídu-
O Banco está hoje trabalhando com uma os, precisaremos pressionar organizações
coalizão de outros bancos multilaterais de para as quais trabalhamos e das quais de-
desenvolvimento, agências da ONU e pendemos para que se unam a nós na
ONGs para estimular aquisições verdes tan- construção deste mundo.

174
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA

AT R Á S D O S B A S T I D O R E S

Papel
Durante a maior parte de sua história, o papel fibroso como conhecemos
papel existiu como uma mercadoria foi inventado na China, menos de
preciosa e rara. Agora cobre o 2.000 anos atrás. Nos dois
planeta. Nos tempos atuais, milênios seguintes, trapos e
dificilmente notamos a cânhamo eram as matérias-primas
quantidade de papel mais populares na fabricação do
passando por nossas vidas. papel. A Bíblia de Guttenberg, o
Do conteúdo de nossas primeiro e segundo esboço da
caixas de entradas às Declaração de Independência
cédulas de nossas carteiras dos Estados Unidos e as obras
e até as embalagens de originais de Mark Twain foram
nossos jantares congelados, o todos impressos em papéis feitos de
papel está sempre à mão. cânhamo. Só a partir de 1850 Friedrich
Mundialmente, o consumo do papel Gottlob Keller, da Alemanha, inventou um
aumentou mais de seis vezes na última método de fabricar papel a partir da
metade do século XX. Os Estados Unidos – madeira.Foram necessárias várias décadas
com 331 kg por pessoa, anualmente, e para árvores tornarem-se a matéria-prima
aproximadamente 30% do uso total mundial preferida, quando outros refinaram as
por ano – são o maior consumidor de papel. técnicas de Keller e descobriram novos
Numa base per capita, os japoneses vêm a métodos de produção em massa de papel,
seguir, com 250 kg por pessoa. Embora baseados na madeira.2
inventado como um meio de comunicação, No século XXI, dificilmente pensamos em
cerca da metade do papel consumido pela papel derivado de outra coisa que não de
sociedade atualmente tem outro destino: papel. Realmente, 93% do papel atual vem de
embalagem. De precioso a descartável – o árvores, e a produção de papel é responsável
papel hoje é responsável por grande parte pela colheita de um quinto da madeira em
do lixo moderno, representando 40% do lixo todo o mundo. Atualmente, 55% do
sólido urbano que sobrecarrega muitos suprimento total provém do corte de novas
países industrializados.1 árvores, 7% provêm de fontes não-arbóreas e
Embora o papel seja derivado do os 38% restantes são provenientes da
“papiro”, uma planta aquática colhida, reciclagem de papel feito de madeira.3
amassada e prensada para que os antigos Árvores em todo o mundo alimentam o
egípcios registrassem seus hieróglifos, o suprimento de papel. As florestas dos

175
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: PAPEL

Estados Unidos são responsáveis pela grande quantidade de água e energia. No


maior contribuição, com 30% do total, mundo todo, a indústria de papel e celulose
porém, nas últimas décadas, essa parcela é o quinto maior consumidor industrial de
está diminuindo à medida que a China e energia e usa mais água para produzir uma
outros países em desenvolvimento tonelada do produto do que qualquer outra
aumentam a produção. A produção de papel indústria. As fábricas de papel podem ser
mudou dentro dos Estados Unidos. Quando vizinhos detestáveis, emitindo odores
se coibiu a exploração de madeira nas desagradáveis e gerando muita poluição da
florestas antigas do noroeste, a produção água e do ar e grande quantidade de
de papel transferiu-se para as florestas resíduos sólidos. Embora as fábricas de
secundárias, biologicamente ricas, do papel no mundo industrializado tenham
sudeste. Essas florestas agora fornecem um tomado algumas providências para
quarto do papel mundial. E florestas tornarem-se mais limpas, fábricas em outros
secundárias fornecem 54% do total de papel lugares continuam a despejar na atmosfera,
derivado de madeira virgem em todo o solo e cursos d´água quantidades
mundo. Plantações arbóreas (muitas vezes estarrecedoras de resíduos tóxicos não-
plantadas em terras recém-desmatadas) tratados.5
chegam quase a 30% e as antigas, na Indivíduos e grandes instituições podem
maioria florestas boreais, são responsáveis ajudar a reduzir a carga de papel de vários
pelos 16% restantes.4 modos – desde sendo mais cuidadosos no
O processo de transformar árvores em seu uso no escritório a sendo mais
papel começa na serraria, onde uma série de diligentes na sua reciclagem. A reciclagem
lâminas circulares reduz toros a pequenas salva mais do que árvores. O uso de
lascas. As lascas são transportadas para conteúdo reciclado, em vez de fibras
moagem em usinas a milhares de virgens, para produzir papel gera 74%
quilômetros de distância, onde são menos poluição atmosférica e 35% menos
cozinhadas com produtos químicos em poluição da água.6
gigantescos caldeirões de pressão e Grandes instituições podem,
transformados em uma pasta úmida com a particularmente, desempenhar um papel-
consistência de um mingau. Lavada e chave direcionando o mercado para papéis
branqueada várias vezes, essa mistura é reciclados. Em 2002, os 270 membros da
finalmente prensada e secada, resultando Recycled Paper Coalition, com sede nos
em rolos enormes de papel para consumo. Estados Unidos – uma organização de
No final, um pedaço de papel de escrever grandes indústrias, organizações não-
pode conter fibras de centenas de diferentes governamentais e órgãos oficiais, formada
árvores trazidas coletivamente de milhares para usar o poder da compra a granel para
de quilômetros de distância, da floresta para apoiar o mercado de papel reciclado –
o consumidor. comprou quase 150.00 toneladas de papel
Fabricar papel é uma atividade reciclado, com um conteúdo médio, pós-
extremamente intensiva em recursos. Uma consumo, de 24%.7
tonelada de papel requer duas ou três vezes A administração dos resíduos de
seu peso em árvores, acompanhado de uma embalagens também pode gerar bons

176
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: PAPEL

dividendos. A Alemanha é pioneira nessa agrícolas (palhas de cereais, fibras de


área, com um decreto, em 1991, exigindo que algodão, cascas de bananas, cascos de
embaladores e distribuidores recebessem de coco e outros), e mesmo retalhos de jeans.
volta e reutilizassem, ou reciclassem, Muitas agrofibras rendem mais polpa por
materiais de embalagem, inclusive papel. Nos hectare do que florestas ou plantações
três anos seguintes, a reciclagem de papel arbóreas e necessitam menos de pesticidas
descartado na Alemanha subiu para 54%, e herbicidas. Menos produtos químicos,
após ficar estagnada em 45% por quase 20 tempo e energia são necessários para fazer
anos. Em 2003, o Parlamento da União a polpa de fibras agrícolas porque contêm
Européia adotou uma lei exigindo que os menos lignina, uma substância semelhante
governos membros estabelecessem metas de à goma que ajuda plantas e árvores a
60% para reciclagem do papel até 2008.8 manterem-se eretas. No futuro, algumas
O papel também está voltando, em dessas fontes não-madeireiras poderão
escala limitada, a suas origens não- outra vez tornar-se matérias-primas
madeireiras. Várias fibras alternativas estão significativas de papel.
agora no mercado – desde o cânhamo,
sempre presente, ao kenaf (um membro — Dave Tilford,
folhudo da família dos hibiscos), resíduos Center for a New American Dream

177
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA

CAPÍTULO 7

Articulando Globalização,
Consumo e Governança
Lisa Mastny

Em maio de 2003, uma delegação de líderes nia Equatoriana declaram que a posição de
indígenas da Amazônia Equatoriana e Perua- nossas comunidades é não para a explo-
na visitou Washington, DC, para expor o pe- ração do petróleo, não para diálogo e ne-
sado ônus ambiental e social da extração de gociações, não para desmatamento, não
petróleo por corporações americanas em suas para contaminação e não para todas ativi-
terras. Em seguida às reuniões em Washing- dades ligadas ao petróleo”.2
ton, a delegação seguiu para Houston, Texas, Esses líderes indígenas trazem vividamente
para encontros com a Burlington Resources, à tona o dano enorme e, quase sempre, ocul-
uma empresa que possui duas concessões to que o consumo dos países mais ricos do
de petróleo numa área de 400.000 hectares mundo pode causar a povos e lugares distan-
dentro de seu território ancestral.1 tes. A visita dessa delegação colocou uma face
Em nome dos 100.000 Shuar, Achuar humana na tendência da economia global
e Quichua que vivem em aproximadamente moderna de isolar os consumidores dos vári-
1,6 milhão de hectares de florestas tropi- os impactos negativos de suas compras ao
cais virgens, a delegação entregou uma distanciar as diferentes fases do ciclo de vida
carta ao diretor-presidente da Burlington de um produto – da extração da matéria-
Resources, exigindo que a empresa ces- prima ao processamento, uso e disposição
sasse todas as atividades na área e deixas- final. Quando as vendas de veículos utilitá-
se o território imediatamente. Citando a rios esportivos dispararam nos Estados
contaminação tóxica e destruição flores- Unidos durante a última década, por exem-
tal deixadas pelas operações petrolíferas plo, será que alguns de seus novos propri-
anteriores em outros locais na Amazônia, etários pararam para pensar na ligação en-
o presidente da Federação Independente tre sua aquisição e o destino de povos indí-
dos Povos Shuar declarou enfaticamente genas cujas vidas e meios de vida foram
que “os povos Shuar e Achuar da Amazô- vilipendiadas na ânsia pelo petróleo?3

178
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA

Embora a visita da delegação da Ama- começaram a aparecer por toda a Europa


zônia tenha sido, de certa forma, um aler- Oriental e antiga União Soviética, às ve-
ta, também oferece alguma esperança, pois zes nas mesmas praças onde antes esta-
demonstrou como os desafios ambientais vam os bustos dos líderes comunistas. E
e sociais que acompanham a globalização visitantes a alguns dos pontos mais remo-
econômica estão incentivando formas ino- tos do mundo em desenvolvimento
vadoras de mobilização política através de freqüentemente deparam-se com quios-
fronteiras internacionais. A fim de mudar- ques da Coca-Cola no fim da estrada. A
mos para padrões de produção e consumo própria McDonald’s hoje opera 30.000
ambientalmente sustentáveis mundialmen- restaurantes em 119 países, enquanto a
te, precisaremos fortalecer essas alianças empresa alemã Siemens está representada
em busca de novas regras básicas, neces- em 190 países, onde vende telefones ce-
sárias para forjar uma economia global fun- lulares, computadores, medicamentos,
damentada na proteção e não na pilhagem artigos de iluminação e sistemas de trans-
das riquezas naturais do planeta. portes. (Vide Tabela 7-1.)5
A rápida globalização da economia de
A Disseminação do consumo ao longo dos anos 90 esteve
“McMundo” intimamente ligada à expansão geral da
economia, provocando o crescimento
Em seu livro Jihad vs. McWorld, publi- acelerado na movimentação de bens, ser-
cado em 1995, Benjamin Barber foi in- viços e dinheiro através de fronteiras in-
crivelmente profético ao descrever nos- ternacionais. O valor do comércio mun-
so mundo complicado, em que dois ce- dial de bens aumentou quase 50% du-
nários aparentemente contraditórios de- rante a década, saltando de US$ 4,22
senrolam-se simultaneamente: um “onde trilhões para US$ 6,25 trilhões. Expor-
cultura é lançada contra cultura, pessoas tações de serviços comerciais bancári-
contra pessoas, tribos contra tribos” e os, de consultoria e turismo ampliaram-
outro, onde “o ímpeto de forças econô- se ainda mais rapidamente. (Vide Figura
micas, tecnológicas e ecológicas... exi- 7-1.) Investimentos estrangeiros diretos
gem integração e uniformidade e... hip- (IED) também aumentaram dramatica-
notizam as pessoas em todo o planeta com mente, atingindo um pico de US$ 1,4
o universo fast de música, computador, trilhão em 2000. A explosão de IED foi
comida..., um McMundo unido pela co- disparada, em parte, por um frenesi de
municação, informação, entretenimento e fusões corporativas, embora essa ten-
comércio”.4 dência tenha revertido-se dramaticamen-
A difusão global do “McMundo” está te nos últimos anos, em resposta à
levando rapidamente a sociedade ociden- desaceleração econômica global e enfra-
tal de consumo ao resto do planeta. Logo quecimento geral da confiança empre-
após a queda do Muro de Berlim, em 1989, sarial após os ataques terroristas aos
outdoors de cigarros e bebidas ocidentais Estados Unidos, em setembro de 2001.

179
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA

Tabela 7-1. A Disseminação do “McMundo”

Corporação Presença Global

Hennes & Mauritz Empresa sueca de confecções que emprega 39.000 pessoas em 17 países europeus e
Estados Unidos. Opera 893 estabelecimentos e pretende inaugurar mais 110, expandindo-
se para o Canadá em 2003. O faturamento em 2002 foi de US$ 6,8 bilhões. H&M tem
fornecedores na Europa e Ásia.

Levi Strauss Empresa americana que vende confecções em mais de 100 países, com marca registrada
em 160 nações. Emprega 12.400 pessoas mundialmente. Divulgou vendas totais de
US$ 4,1 bilhões em 2002 e uma receita líquida de US$ 151 milhões em 2001.

Tata Group O Tata Group opera em sete setores industriais, incluindo transportes, energia, produtos
químicos e serviços de comunicação. Desenvolvida na Índia, hoje tem parcerias em 11
países em todo o mundo. Divulgou um faturamento de US$ 2,9 bilhões em 2001– 2002,
mais que o dobro do ano anterior.

Altria Group, Inc. O Altria Group é a empresa controladora de Kraft Foods, segunda maior empresa de
alimentos do mundo, e da Philip Morris, a mais lucrativa empresa internacional de
cigarros. O Altria Group teve uma receita líquida de US$ 80,4 bilhões em 2002,
incluindo US$ 28,7 bilhões do mercado internacional de tabaco. Emprega 169.000
pessoas em 150 países.

Siemens Essa empresa alemã emprega 426.000 pessoas e está representada em 190 países. Vende
telefones celulares, computadores, medicamentos, artigos de iluminação e sistemas de
transporte. Em 2002, o faturamento líquido da Siemens somou US$ 96,4 bilhões, 79%
dos quais internacionalmente. Um milhão de pessoas possuem ações da empresa.

Yum! Brands Anteriormente parte da PepsiCo, essa empresa e suas seis subsidiárias – KFC, Pizza Hut,
Taco Bell, A&W, All-American Food Restaurants e Long John Silvers – registraram um
faturamento global superior a US$ 24 bilhões em 2002. Opera 32.500 restaurantes em
mais de 100 países e empregou 840.000 pessoas em 2002. Yum! Brands inaugurou 1.000
restaurantes fora dos Estados Unidos em 2001, quase 3 por dia. A China hoje tem 800
KFCs e 100 Pizza Huts.

McDonald’s Corp. McDonald’s serve 46 milhões de fregueses diariamente. Opera 30.000 restaurantes em
119 países. Sua receita total em 2002 foi US$ 15,4 bilhões. No dia da inauguração na
cidade de Kuwait, a fila do drive-thru tinha 10 quilômetros de extensão.

Domino’s Pizza Domino’s inaugurou seu 7.000o estabelecimento em 2001 e opera em 60 países. As vendas
em todos os países totalizaram US$ 4 bilhões em 2002. Seu serviço de entrega em
domicílio percorre mais de 14 milhões de quilômetros só nos Estados Unidos. Utiliza 67,7
milhões de quilos de queijo anualmente e 12,1 milhões de quilos de pepperoni.

Coca-Cola Coca-Cola vende mais de 300 marcas de refrigerantes em mais de 200 países. Mais de 70%
da sua receita vem de fora dos Estados Unidos e, em 2002, sua receita líquida atingiu
US$ 19,6 bilhões. Coca-Cola emprega 60.000 pessoas só na África.

FONTE: vide nota final 5.

180
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA

O crescimento do comércio e investimen- cativo. Igualmente, o valor das exportações


tos globais das últimas décadas contribu- mundiais de peixe quase triplicou entre 1976
íram para baixar os custos de muitos bens e 2001, atingindo US$ 56 bilhões em 2001.
de consumo, como vestuário, computa- Ao mesmo tempo, o mundo testemunhou
dores e brinquedos – um fenômeno que uma deterioração da saúde dos pesqueiros
está sendo saudado por economistas tra- mundiais, com a Organização das Nações
dicionais e condenado por críticos da far- Unidas para Alimentos e Agricultura esti-
ra do consumo global. (Vide Capítulo 5.)6 mando que 75% dos estoques mundiais já
foram explorados além de seus li-
Trilhões de Dólares
9
mites sustentáveis.7
(base=2001) Num tipo um pouco diferente
8
de troca global, países cujas pe-
7
gadas ecológicas superam sua ca-
6 Bens e Serviços
pacidade ecológica disponível
5 freqüentemente importam bens de
4 países com superávit, levando a
3 déficits comerciais ecológicos.
Bens
2 (Vide Capítulo 1 para uma análise
1 do sistema de contabilidade da pe-
Fonte: FMI gada ecológica, que mede a área
0
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
de terra produtiva que uma eco-
nomia requer para produzir os re-
Figura 7-1. Exportações Mundiais de Bens cursos de que necessita e assimi-
e Serviços, 1950–2002 lar seus resíduos.) As nações va-
riam muito no volume desses
Um subcomponente da expansão geral déficits; países tão diversificados como
mais ampla do comércio mundial foi o cres- Japão, Holanda, Emirados Árabes Unidos
cimento acelerado do comércio numa sé- e os Estados Unidos são, todos, grandes
rie de commodities ambientalmente sensí- importadores de capital ecológico. (Vide
veis, como minerais, produtos florestais, Figura 7-3.) Embora haja momentos em
peixes e produtos agrícolas. (Vide Figura que esse tipo de transferência global faz
7-2.). O valor do comércio mundial de pro- sentido ecológico e econômico, ele efeti-
dutos florestais, por exemplo, quadrupli- vamente capacita os países a viverem além
cou entre 1961 e 2001, atingindo um pico de seus meios ecológicos.8
de US$ 148 bilhões em 2000, antes de cair A crescente globalização da economia
para US$ 132 bilhões em 2001. Ao mesmo mundial também serve para proteger con-
tempo, a cobertura florestal global vem sumidores e produtores do lixo gerado
caindo consistentemente. O comércio, de pela fabricação, uso e descarte final da
forma alguma, é o único fator responsá- infinidade de bens e bugigangas que
vel, porém desempenhou um papel signifi- caracterizam a economia do consumo.

181
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA

Milhões de Toneladas
60
Fonte: FAO

50
Açúcar e Adoçantes
40

30
Arroz
Legumes e
20 Verduras
Soja

10
Carne

0
1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005

Figura 7-2. Exportações Mundiais de Commodities Selecionadas,


1961–2001

Hectares
25
Fonte: Redefining Progress

20
Capacidade Disponível Pegada Ecológica

15

10

0
ssia
ia

a
ina

ico

ul

nça
ul

.
Mé l

ael

ão

da

ido

adá
a

ia
dia
Fin l i a

s
.U
si

ido
éci
ési

anh
Índ

nd
oS
oS
Bra

lan
Jap

á
Isr

lân
Ch

E.A
x

Un

n
Fra

str
Gr
on

Un
â

Ca
em
ad
ad

l
Ho

Ze
Au
Ind

ino
réi

os
ric

Al

na

tad
Re
Co
Áf

Zo

Es

Figura 7-3. Pegada Ecológica por Pessoa


em Nações Selecionadas, 1999

182
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA

A conseqüente mentalidade do “longe dos desencorajando o esforço de lidar com


olhos, longe do coração” tem o efeito de esses padrões de consumo nas suas pró-
passar adiante esses ônus para outros, prias raízes (Vide Quadro 7-1.)

QUADRO 7-1. O COMÉRCIO JUSTO E O CONSUMIDOR


Como o poeta e fazendeiro Wendell Berry trabalhadores migrantes desprotegidos mexem
observou recentemente: “Um dos resultados montanhas de lixo eletrônico – queimando
principais – e uma das necessidades principais plásticos, quebrando tubos de raios catódicos e
– do industrialismo é a separação das pessoas, despejando ácido sobre placas de circuitos para
locais e produtos de suas histórias”. extrair metais preciosos e outros materiais
Praticamente cada minuto na vida do valiosos. A fumaça cancerígena permeia o ar em
consumidor moderno contém, ocultas, torno dos lixões. Os mananciais da região já
interações com pessoas e porções do planeta ficaram tão poluídos que a água potável precisa
centenas de milhares de quilômetros de ser trazida por caminhões-pipa, de 30
distância. A rede do comércio global permite quilômetros de distância.
que consumidores, em grande parte, abdiquem Os desejos dos consumidores e o bem-estar
da dependência do seu ambiente imediato. A daqueles presos ao processo de atender a
conseqüência infeliz é o isolamento dos esses anseios podem entrelaçar-se de formas
consumidores dos efeitos profundos que suas complexas. A população local pode depender
escolham poderão ter nas vidas das pessoas financeiramente das indústrias que produzem
do outro lado da linha da produção e consumo. os bens, mesmo sofrendo os efeitos nocivos
Enquanto os benefícios do comércio livre causados por elas. O mal é visto como um
fluem para consumidores e intermediários, o efeito colateral infeliz, mas inevitável. Porém,
ônus flui rotineiramente para o outro lado –os o dano aos recursos locais e as condições
pontos finais ao longo das linhas do comércio. adversas sob as quais as pessoas labutam são
Extraímos recursos e despejamos lixo em áreas tipicamente subprodutos dos esforços de
ocupadas pelos pobres e sub-representados. manter preços baixos para o consumidor final.
Embora haja sempre alguém na outra Para citar um exemplo, a indústria de banana
extremidade da linha para aceitar o trabalho do Panamá emprega 70% da população. A fim
sujo de limpar o que é deixado pelos de incrementar a produção, as bananas são
consumidores do mundo industrializado, cultivadas em gigantescas monoculturas,
aqueles freqüentemente prejudicados não altamente dosadas com pesticidas aplicados
estão entre os indenizados, ou a indenização é diretamente por trabalhadores sem proteção,
ofuscada pelo dano aos recursos locais vitais. ou através da pulverização aérea
O problema crescente do lixo eletrônico é um indiscriminada. Os produtos químicos poluem
exemplo gritante. Os consumidores têm poucos os mananciais e têm sido associados à maior
motivos para se deterem com o que se esconde incidência de câncer nas comunidades
dentro de um computador ou telefone celular próximas às plantações. Em suma, o bem-estar
ou sobre que fim levou um item eletrônico dos trabalhadores e comunidades é deixado de
descartado por um modelo mais novo. Para ver fora do preço final.
o que acontece, teriam que viajar a locais como Melhores práticas dependem de os
a região Guiyu da Província Guangdong, na consumidores conhecerem os problemas e
China. Centenas de caminhões rodam por lá apoiarem sistemas melhores. Na indústria da
diariamente, carregando computadores, banana, grupos ativistas começaram a chamar
impressoras e televisores usados da América do atenção para o sofrimento dos trabalhadores,
Norte para lixões espalhados entre os pequenos levando algumas empresas a mudarem suas
vilarejos da região. Por um dólar ou dois ao dia, práticas. Dole, por exemplo, está

183
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA

QUADRO 7-1. (continuação)


incrementando seus esforços para cultivar Produtores com mercados mais estáveis
bananas orgânicas sem pesticidas. E as ganham condições para adotar uma visão mais
plantações latino-americanas da Chiquita são de longo prazo. Os membros da Cooperativa
hoje 100% certificadas pelo Projeto Melhores Miraflor, na Nicarágua – como muitas
Bananas, da Rainforest Alliance, que cooperativas de café de comércio justo –,
inspeciona plantações com o fim de verificar a cultivam café orgânico à sombra em áreas
aplicação de práticas sustentáveis, mais sadias outrora submetidas a altas doses de pesticidas.
para os consumidores e para o meio ambiente, Embora sua participação no mercado ainda seja
como também benéficas para os trabalhadores. pequena, as vendas de café de comércio justo
O “comércio justo” está surgindo em relação a cresceram 12% em 2001 em comparação com o
algumas commodities como um instrumento que aumento do consumo de café, de apenas 1,5%.
proporciona aos agricultores e produtores Os consumidores têm o poder de tornar o
independentes maior controle sobre a venda de sistema global de comércio mais justo e
seus produtos e uma ligação mais íntima com sustentável. A indignação às condições injustas
consumidores finais. Sob o sistema de comércio e a demanda de mercado por produtos mais
justo, pequenos produtores reúnem-se e formam socialmente responsáveis poderão ajudar a
cooperativas, vendendo diretamente a varejistas a mudar a forma como as empresas fazem
um preço mínimo garantido. Atualmente, o café é negócio e criar um ambiente melhor para
o exemplo mais evidente. Nos últimos anos, os aqueles nas pontas da produção e consumo.
preços pagos aos agricultores despencaram aos Quando os efeitos do consumo estão ocultos,
níveis mais baixos da história, enquanto os lucros os custos sociais e ambientais tendem a ser
dos grandes varejistas mantinham-se substanciais. deixados de fora da contabilidade e reformas
Na América Central, mais de meio milhão de são mais difíceis de se realizar. Uma maior
trabalhadores perderam seus empregos. Vilarejos conscientização por parte dos consumidores e
outrora prósperos transformaram-se em cidades uma disposição de agir em função dessa
fantasmas, com seus antigos habitantes vivendo conscientização, entretanto, poderão religar os
amontoados em perigosas favelas nas periferias itens de consumo a suas histórias e
dos centros urbanos. contrabalançar o prejuízo que freqüentemente
Através do comércio justo, muitos acompanha o consumo inconsciente.
produtores podem manter-se. Membros da
Cooperativa Oromiya, na Etiópia, obtêm mais – Dave Tilford,
que o dobro do que seus vizinhos recebem Center for a New American Dream
vendendo café no mercado livre. O comércio ___________________________________________
justo também traz benefícios ambientais. FONTE: vide nota final 9.

A atenção do mundo despertou original- cinco países num período de 16 meses –


mente para o problema da exportação de lixo colocou em destaque o crescente comér-
de forma significativa em meados dos anos cio internacional de resíduos nocivos e só-
80, quando uma série de incidentes ampla- lidos. Mais recentemente, a profusão de lixo
mente divulgados pela mídia – como o eletrônico criada pela era da informática
itinerante “batelão de lixo” da Filadélfia, um levou a um próspero comércio internacio-
navio carregado com cinza tóxica que foi nal de produtos descartáveis, como com-
proibido de descarregar em três estados e putadores, televisores, telefones, etc.9

184
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA

Com mercados de bens de consumo já safio é desenvolver estratégias que permi-


se tornando saturados nos países industri- tam um pulo direto para uma economia na
alizados, as estratégias corporativas cada qual produtores utilizem tecnologias verdes
vez mais se voltam para visões de cresci- de ponta de forma generalizada e consumi-
mento acelerado nos países em desenvol- dores adotem aquisições sustentáveis como
vimento, levando a aumentos na compra rotina. (Vide Capítulos 5 e 6.)11
de qualquer tipo de mercadoria, desde car- Mais de dois anos depois dos ataques
ros e televisores até papel e fast food. Essa terroristas em Nova Iorque e Washing-
tendência está particularmente mais pro- ton, que colocou o Jihad e o McMundo
nunciada na região da Ásia e do Pacífi- em rota de direta de colisão, está se tor-
co, que abriga hoje cerca de 684 milhões nando cada vez mais claro que nenhum
de membros da classe global de consumi- dos dois cenários trará um futuro estável
dores – mais que na Europa Ocidental e e seguro. Logo antes do primeiro aniver-
América do Norte juntas. (Vide Capítulo 1.) sário do 11 de setembro, dezenas de mi-
Embora seja eticamente problemático su- lhares de pessoas em todo o mundo reu-
gerir que os países em desenvolvimento não niram-se em Joanesburgo, África do Sul,
têm direito às mesmas opções de consumo para a Cúpula Mundial sobre Desenvol-
de materiais que há muito vêm sendo con- vimento Sustentável. Os participantes da
sideradas como naturais pelos consumido- conferência rejeitaram implicitamente
res ocidentais, a adoção global do padrão ambos, Jihad e McMundo, enquanto
de consumo dos países industrializados
abraçaram a causa da construção de uma
criaria pressões insuportáveis sobre a saú-
sociedade ambientalmente segura e soci-
de dos sistemas naturais da Terra.10
almente justa. Os proponentes do desen-
Face a esse enigma, alguns analistas do
volvimento sustentável, em todo o mun-
mundo em desenvolvimento passaram a
do, enfrentam hoje o desafio de manter
enfatizar mais as oportunidades do que os
tanto a atenção pública quanto a vonta-
problemas que aguardam os países em tran-
de política focadas na necessidade ur-
sição para economias ambientalmente sus-
gente de dar vida aos muitos acordos
tentáveis. O Conselho de Cooperação Inter-
internacionais importantes forjados em
nacional da China sobre Meio Ambiente e
Joanesburgo, inclusive os compromissos
Desenvolvimento, por exemplo, observou
para a transformação dos padrões insus-
numa declaração recente que “o padrão de
tentáveis de produção e consumo.
consumo per capita extremamente baixo da
China é uma oportunidade para que se evi-
tem os erros de muitos outros países, que Cooperação Global para o
desenvolveram níveis muito altos de consu- Consumo Sustentável
mo de energia e materiais. O redirecio-
namento para padrões mais sustentáveis de A atenção internacional concentrou-se pri-
consumo poderá resultar em empreendimen- meiramente nas questões de produção e
tos domésticos mais competitivos e maior consumo uma década antes da conferên-
acesso aos mercados internacionais”. O de- cia de Joanesburgo, quando as Nações

185
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA

Unidas realizaram a Cúpula da Terra no Rio repetidos pronunciamentos das autoridades


de Janeiro, em 1992. Nessa reunião histó- norte-americanas de que o estilo de vida
rica, os governos reconheceram oficial- americano não era negociável no Rio.13
mente que padrões subjacentes de produ- A responsabilidade de supervisionar o
ção e consumo são importantes forças acompanhamento recaiu sobre a Comissão
motrizes do desenvolvimento insustentável das Nações Unidas sobre Desenvolvimen-
e enfatizaram a responsabilidade das nações to Sustentável (CDS), um órgão intergo-
pela reversão dessa situação. Desde então, vernamental que se reúne anualmente para
questões de produção e consumo vêm sen- conferir os esforços de implementação dos
do tratadas como faces de uma mesma acordos gerados no Rio. A CDS tem sido
moeda no mundo da política internacional. um fórum útil para várias discussões so-
Essa fusão reflete os laços inextricáveis bre questões de produção e consumo entre
entre dois fenômenos: é impossível utilizar observadores governamentais e não-gover-
produtos sustentáveis sem que sejam pro- namentais ao longo da última década. Po-
duzidos. Mas a relação também reflete a rém, apesar de toda falação, as delibera-
realidade de a maioria dos governos consi- ções produziram muito pouco em termos
derarem mais politicamente palatável dis- de ações concretas.14
cutir o lado “produção” da equação do que Uma exceção foi o esforço bem-sucedi-
questões polêmicas de estilo de vida.12 do de revisão das Diretrizes das Nações
A Agenda 21, o extenso plano de ação Unidas para Proteção ao Consumidor. Es-
para desenvolvimento sustentável que sur- sas diretrizes não são obrigatórias, mas mes-
giu da conferência do Rio, acentuou a mo assim proporcionam um instrumento
disparidade entre as “demandas excessivas para os governos utilizarem no desenvolvi-
e estilos de vida insustentáveis entre os seg- mento de suas próprias políticas. As diretri-
mentos mais ricos” e a incapacidade de zes revistas, adotadas em 1998, encorajam
pobres atenderem suas necessidades bási- governos a implementarem uma variedade
cas de alimentação, boa saúde, abrigo e de inovações de políticas para promover o
educação. Também exigiu que instituições consumo sustentável, inclusive a realização
internacionais e governos nacionais empre- de testes ambientais imparciais de produtos,
endessem um número de iniciativas para fortalecendo mecanismos normativos para
reverter padrões de produção e consumo proteção dos consumidores e incorporando
insustentáveis, como a promoção de maior práticas sustentáveis nas operações gover-
eficiência energética e de recursos, namentais. Infelizmente, uma pesquisa rea-
minimização da geração de lixo, lizada em 2002 pelo Programa das Nações
encorajamento de decisões sensatas de Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e
aquisição tanto por indivíduos quanto go- Consumers International concluiu que os
vernos e mudanças em direção a sistemas países estavam avançando muito lentamen-
de preços que incorporem custos te na implementação das diretrizes, com 38%
ambientais ocultos. Esses compromissos dos que responderam revelando que nem ti-
ganharam destaque especial em função dos nham conhecimento destas.15

186
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA

Várias outras organizações internaci- O PNUMA é outro ator ativo nos esfor-
onais estiveram ativas nas questões de ços para promover consumo sustentável em
produção e consumo durante a década escala global. Esse programa das Nações
após a Cúpula da Terra. A Organização Unidas, sediado em Nairobi, lançou uma Ini-
para Cooperação e Desenvolvimento ciativa de Ciclo de Vida em 2002, reunindo
Econômico, com sede em Paris, um líderes industriais, acadêmicos e legisladores,
fórum de políticas econômicas e soci- para encorajar o desenvolvimento e dissemi-
ais para os principais países industriali- nação de instrumentos práticos para avalia-
zados do mundo, patrocinou uma série ção dos impactos ambientais dos produtos
de reuniões e pesquisas visando enco- ao longo de suas vidas. O PNUMA também
rajar governos a implementarem políti- coopera com outras agências das Nações
cas inovadoras sobre produção e consu- Unidas e Banco Mundial para incentivar a co-
mo sustentáveis, incluindo sistemas de laboração no esverdeamento de procedimen-
ecorrotulagem que ajudem os consumido- tos licitatórios nessas instituições. Trabalha
res a selecionar produtos ambientalmente com indústrias de porte na busca de um con-
seguros, legislação de “devolução”, que sumo sustentável, inclusive nos setores de
obriga os fabricantes a recolher as emba- publicidade, moda, finanças e varejo, para
lagens e produtos descartados, reduções encorajá-los a adotar medidas que promovam
nos subsídios governamentais a indústrias a produção e consumo sustentáveis. E pro-
ambientalmente danosas e impostos cura engajar organizações não-governamen-
ambientais para internalizar os custos tais (ONGs) na mudança para o consumo
ambientais nos preços dos produtos. sustentável, inclusive grupos de consumido-
(Vide Capítulo 5.)16 res e de jovens.(Vide Quadro 7-2.)17

QUADRO 7-2. UTILIZANDO O PODER DOS JOVENS PARA MUDAR O MUNDO

Há mais de 1 bilhão de jovens entre as idades de comprar mais. Com a globalização do cinema,
15 e 24, de acordo com o Fundo de População televisão e publicidade, há o perigo de que a
das Nações Unidas, e mais de 500 milhões de tendência dessa mídia de glorificar estilos jovens
jovens entrarão na força de trabalho nos países e materialistas de vida nos países mais afluentes
em desenvolvimento ao longo da próxima do mundo possa ter um impacto negativo nas
década. Esses números sinalizam a imensa atitudes e padrões de consumo de outros jovens.
influência em potencial que os jovens podem ter Em resposta a essas tendências, o Programa
na determinação de um futuro melhor, como das Nações Unidas para o Meio Ambiente e
resultado de suas escolhas de estilo de vida e UNESCO realizaram uma pesquisa em 2000 –
contribuições profissionais. Porém, os poderes chamada “Será que o Futuro é Seu?” – sobre
de compra e tomada de decisão de 1 bilhão de atitudes de consumo entre jovens de 18 a 25
jovens hoje estão longe de uma homogeneidade. anos. Mais de 8.000 pessoas em 24 países
Metade deles vive na pobreza. Na outra ponta responderam à pesquisa, fornecendo
do espectro, jovens em sociedades afluentes informações importantes sobre as aspirações e
representam uma parcela crescente do consumo interesses da juventude, sua conscientização
total, e estão sob pressão constante para sobre o consumo ambientalmente e eticamente

187
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA

QUADRO 7-2. (continuação)


responsável e sua visão quanto a seu papel na um jovem nos Camarões viaja de vilarejo a
melhoria do mundo para o futuro. A pesquisa vilarejo ensinando outros jovens como utilizar
constatou que os jovens têm conhecimento do a água com maior segurança e eficiência; jovens
impacto de seu uso e descarte de produtos, mas “comissários de supermercados” na Suécia
têm menos consciência do impacto de seus iniciaram um diálogo com supermercados para
hábitos de compra, particularmente alimentos e assegurar que produtos sustentáveis sejam
vestuário. Comprovou também que os jovens facilmente disponibilizados aos consumidores
consideram as questões ambientais, de direitos e, nos Estados Unidos, jovens desenvolveram
humanos e saúde como de grande importância um guia de presentes com sugestões de artigos
para o futuro, mas, para lidar com elas, de comércio justo e ambientalmente amigáveis.
priorizam a ação individual sobre a coletiva. Em resposta aos resultados da pesquisa e de
Embora a pesquisa tenha verificado que os um workshop subseqüente realizado para
jovens geralmente não relacionam seu discuti-los, PNUMA e UNESCO lançaram o
comportamento pessoal aos problemas Projeto YouthXchange, para desenvolver
globais, há, não obstante, muitos exemplos de instrumentos que ajudem os jovens a agir na
jovens ativistas empenhados em pressionar promoção do consumo sustentável.
suas comunidades e governos a promoverem
consumo sustentável. Por exemplo, um – Isabella Marras, Programa das Nações
ativista peruano de 23 anos recrutou a Shell Unidas para o Meio Ambiente
para um projeto de instalação de painéis ____________________________________________
solares num vilarejo remoto nas montanhas; FONTE: vide nota final 17.

Os anos 90 também viram governos Biodiversidade Biológica, em 2000, con-


avançarem em direção ao fortalecimento cordaram em obedecer a um sistema de
de vários tratados internacionais sobre consentimento prévio informado para
ameaças ao meio ambiente global. Estes transportes internacionais de organismos
são mais obrigatórios do que as ativida- geneticamente modificados e produtos que
des cooperativas descritas acima e, assim, os contenham, dando aos países importa-
formam um componente-chave para es- dores maior controle quanto à utilização
forços mais amplos de mudança dos pa- doméstica desses produtos. Os países sig-
drões insustentáveis de produção e con- natários da Convenção de Estocolmo so-
sumo. Por exemplo, as nações participan- bre Poluentes Orgânicos Persistentes
tes do acordo de 1995 sobre a gestão co- (POPs) obrigaram-se a regulamentar a
operativa de pesqueiros internacionais produção e uso de 12 produtos químicos
comprometeram-se a desenvolver políti- particularmente danosos, inclusive a eli-
cas nacionais para restauração dos esto- minação completa de 9 deles. E países que
ques de peixe a níveis sadios, encorajan- concordaram com as metas de emissões
do dessa forma a pesca e consumo sus- de dióxido de carbono, nos termos do Pro-
tentáveis. Governos que assinaram o Pro- tocolo de Kyoto de 1997, na Convenção-
tocolo de Cartagena sobre Biossegurança Quadro das Nações Unidas sobre Mudan-
na Convenção das Nações Unidas sobre ça Climática, deverão mudar para energia

188
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA

menos intensiva em combustíveis fósseis, Um Marine Stewardship Council (MSC),


a fim de atendê-las.18 Conselho de Manejo Marinho, modelado no
O número de países que já ratificaram FSC, foi criado poucos anos depois. Até
formalmente tanto a convenção sobre pei- hoje, sete pesqueiros foram certificados
xes quanto a de biossegurança é suficiente como estando em conformidade com as
para pôr esses tratados em vigor, tornando normas do MSC em termos de manejo e
suas disposições obrigatórias para as na- sustentabilidade, inclusive o pesqueiro de
ções signatárias. Este ainda não é o caso salmão, do Alasca, o pesqueiro de hoki, da
da Convenção sobre os POPs ou o Proto- Nova Zelândia, e o pesqueiro de lagostas-
colo de Kyoto, embora muitos países sig- das-rochas, da Austrália Ocidental; muitos
natários já estejam ajustando suas políticas mais estão sob avaliação. Cerca de 170 fru-
nacionais aos termos desses acordos.19 tos do mar, certificados pelo MSC, estão
Além das iniciativas das instituições in- postos à venda em 14 países. Mas, da mes-
ternacionais e governos, a década, desde a ma forma que produtos florestais, estes ainda
conferência do Rio, também testemunhou representam apenas uma pequena fração da
o desenvolvimento de novos instrumentos produção total. Fazer pender a balança para
de informação, como sistemas internacio- que produtos sustentáveis sejam a regra e
nais de rotulagem e certificação, em res- não a exceção exigirá novos regulamentos e
posta ao aumento da sensibilidade dos con- incentivos para realizar uma transformação
sumidores aos laços que os unem através mais ampla no mercado global. (Vide Capí-
da cadeia produtiva global a povos e co- tulos 5 e 6.)21
munidades em terras distantes. Um exem- Para esse fim, desenvolveram-se várias
plo é a crescente popularidade de café, ba- iniciativas importantes para encorajar
nana e outros produtos agrícolas que aten- corporações globais a adotar técnicas de
dem aos critérios de rotulagem orgânica ou produção mais sustentáveis durante a últi-
de comércio justo, ou ambos. (Vide Capí- ma década. Em 2000, as Nações Unidas lan-
tulo 4.) Outro exemplo é o impacto do çaram o Global Compact, exigindo que as
Forest Stewardship Council (FSC) – Con- empresas participantes incorporem nove
selho de Manejo Florestal –, uma entidade valores essenciais relacionados a direitos
independente, formada em 1993 para esta- humanos, normas de trabalho e proteção
belecer normas para produção florestal sus- ambiental às suas operações. Mais de 1.200
tentável, através de um processo coopera- empresas em mais de 50 países já aderiram,
tivo envolvendo madeireiras e varejistas, embora críticos acusem o programa de exi-
como também organizações ambientais e gir pouco em termos de ações específicas e
moradores de florestas. Uma década de- falhar ao não proporcionar uma monitoração
pois, o FSC já havia certificado mais de 39 eficaz das implementações ou cumprimen-
milhões de hectares de florestas comerci- to. Mais recentemente, 17 grandes bancos
ais em 58 países, mais de seis vezes a área em 10 países adotaram os Princípios do
de 1998, embora ainda apenas 1% das flo- Equador para gestão de riscos ambientais e
restas mundiais.20 sociais nas operações de empréstimo. Os

189
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA

bancos participantes concordaram em exi- relutância por parte de muitos governos


gir dos clientes de grandes projetos, como em se comprometerem a um efetivo pro-
barragens e usinas elétricas, aderência às grama de ação claro nesse sentido. Não
normas ambientais e sociais do Banco Mun- obstante, o Plano de Ação oficial assinado
dial, que estão rapidamente transformando- pelos governos estipula que todos os paí-
se em fundamentos internacionais básicos ses deverão promover padrões de produ-
para investimentos públicos e privados.22 ção e consumo sustentáveis e que gover-
Apesar desses avanços, a dura realida- nos, organizações internacionais, setor
de é que, desde 1992, os ganhos limita- privado e ONGs, entre outros, deverão
dos conquistados na mudança em direção desempenhar papéis importantes para a
a padrões mais sustentáveis de produção realização das mudanças necessárias. En-
e consumo têm sido, em grande parte, tre outras coisas, o Plano de Ação exige
superados pelo crescimento global contí- investimentos crescentes em produção
nuo da sociedade de consumo. Delegados mais limpa e ecoeficiência, aumento da
passaram muitas horas durante a Cúpula responsabilidade ambiental e social-
Mundial em Joanesburgo debatendo so- corporativa e promoção da internalização
bre o que fazer para reverter essa situa- dos custos ambientais e de políticas de
ção. O poder de interesses particulares e aquisições públicas ambientalmente segu-
a inércia institucional traduziram-se em ras. (Vide Quadro 7-3.)23

QUADRO 7-3. DESTAQUES DO PLANO DE AÇÃO DE JOANESBURGO

O Plano de Ação de Joanesburgo é um dos incluí-las nas políticas de desenvolvimento


dois documentos negociados na Cúpula sustentável.
Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável. • Focar a juventude, especialmente nos
Encoraja países a cumprirem os países industrializados. Utilizar
compromissos assumidos na Cúpula da Terra, instrumentos de informação ao
realizada em 1992 no Rio de Janeiro, através consumidor e campanhas publicitárias
da participação numa estrutura decenal de para comunicar aos jovens questões de
programas sobre produção e consumo produção e consumo sustentáveis.
sustentáveis. As expectativas e metas gerais
dessa estrutura incluem: • Promover implementação do princípio do
• Fazer com que países industrializados “produtor paga”, que internaliza custos
ambientais e incorpora o ônus financeiro
assumam a liderança na promoção da
da poluição ao preço de um produto.
produção e consumo sustentáveis.
• Incorporar análise de ciclo de vida às
• Através de responsabilidades comuns, políticas, a fim de rastrear um produto
porém diferenciadas, assegurar que todos desde sua produção até o consumo e
os países beneficiem-se do processo de disposição final. Utilizar essa abordagem
mudança em direção à produção e para aumentar a eficiência do produto.
consumo sustentáveis. • Apoiar políticas de licitações públicas que
• Fazer da produção e consumo encorajem o desenvolvimento de bens e
sustentáveis questões entrelaçadas e serviços ambientalmente seguros.

190
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA

QUADRO 7-3. (continuação)


• Desenvolver fontes energéticas mais certificação com normas de ISO e Diretrizes
limpas, eficientes e acessíveis, para da Global Reporting Initiative (Iniciativa de
diversificar o oferta. Eliminar Relatórios Globais).
gradativamente subsídios energéticos que • Recolher exemplos de custo/benefício na
inibem o desenvolvimento sustentável. produção mais limpa e promover métodos
• Encorajar iniciativas voluntárias da de produção mais limpa, especialmente
indústria que promovam a responsabilidade nos países em desenvolvimento e entre
ambiental e social corporativa, pequenas e médias empresas.
especialmente entre instituições financeiras. ___________________________________________
Exemplos incluem códigos de conduta, FONTE: vide nota final 23.

O Plano de Ação também endossa o insustentáveis de produção e consumo. (Vide


desenvolvimento de um arcabouço decenal Tabela 7-2.) Por exemplo, um projeto de re-
de programas em âmbito internacional em forma de bicicletas, liderado pela ONG ho-
apoio a iniciativas regionais e nacionais. landesa Velo Mondial e apoiado pelo fabri-
Essas iniciativas visam acelerar a mudança cante de bicicletas Shimano, pretende reco-
em direção a uma produção e consumo lher veículos desse tipo para conserto e dis-
sustentáveis, proporcionando inclusive uma tribuição na África. Os parceiros da iniciati-
melhor variedade de produtos e serviços va esperam recolher 12.500 bicicletas (um
aos consumidores, prestando-lhes mais in- contêiner) por semana no primeiro ano, au-
formações sobre saúde e segurança de vá- mentando para embarques diários até 2006,
rios produtos e implantando programas de conforme a demanda. E o Programa
capacitação e transferência de tecnologia Colaborativo de Normas de Rotulagem e
para ajudar a compartilhar esses ganhos de Eletrodomésticos, dos Estados Unidos,
com os países em desenvolvimento. Em uma iniciativa envolvendo mais de 36 go-
junho de 2003, as Nações Unidas realiza- vernos e também várias organizações in-
ram uma reunião de técnicos em Marro- ternacionais e ONGs, empenhar-se-á em
cos para dar início a esse processo, como reduzir o consumo residencial e comercial
também organizaram reuniões regionais de energia em 5%, através do desenvolvi-
nesse sentido na Ásia e América Latina.24 mento de normas de eficiência energética,
Além do processo formal descrito acima, rotulagem e assistência técnica a 35 países
a Cúpula Mundial também gerou mais de 230 em desenvolvimento. Muitas dessas par-
acordos de parceria, nos quais vários inte- cerias são muito promissoras, mas será
ressados comprometeram-se a adotar ações importante que ONGs e outros defensores
conjuntas para ajudar a atingir a variedade de do desenvolvimento sustentável monitorem
metas relacionadas ao desenvolvimento sus- seus esforços de implementação, para que
tentável acordadas em Joanesburgo. Várias compromissos louváveis são sejam esque-
dessas parcerias estavam ligadas especifica- cidos quando o ímpeto gerado por
mente ao desafio complexo de mudar padrões Joanesburgo começar a esmorecer.25

191
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA

Tabela 7-2. Parcerias Selecionadas de Produção e Consumo Ligadas à Cúpula Mundial


sobre Desenvolvimento Sustentável

União Civil Árabe para Manejo de Resíduos

Líder: Sociedade Assistencial de Mães e Crianças (Bahrein ).


Outros: Conselho de Ministros Árabes Responsáveis pelo Meio Ambiente; Sociedade de Proteção Ambiental
do Kuwait; Rede do Golfo para ONGs Ambientais; Grupo Jovem Ajial.
Seis governos árabes estão trabalhando com as Nações Unidas e ONGs locais para criar uma estratégia regional
que facilite o envolvimento da sociedade civil em projetos comunitários de gestão de resíduos sólidos.
Envolverão ativamente mulheres e jovens e iniciarão processos relevantes de transferência de tecnologia.

Conscientização e Treinamento em Produção e Consumo Sustentáveis

Líder: Divisão de Tecnologia, Indústria e Economia do PNUMA.


Outros: governos da Holanda e Suécia; Consumers International; Centros Nacionais de Produção mais Limpa.
As Nações Unidas estão trabalhando com dois governos e várias ONGs internacionais para aumentar a
conscientização sobre produção e consumo sustentáveis entre governos e executivos de pequenas e médias
empresas em 30 países. Os grupos também empenham-se em aumentar a participação de governos de 20 para
50%, implementando as Diretrizes das Nações Unidas de Proteção ao Consumidor ao longo de três anos.

A Iniciativa de Sustentabilidade do Cimento

Líder: Conselho Mundial do Comércio para Desenvolvimento Sustentável.


Outros: governo de Portugal; Universidade UN (Japão); 12 grandes empresas de cimento; WWF International;
25 outros patrocinadores em 15 países.
Iniciada em 1999, essa parceria identifica e facilita os esforços das empresas de cimento na implementação de
práticas sustentáveis. Incorporando governos nacionais, empresas e ONGs, abre diálogo com as empresas de
cimento sobre questões como gestão da mudança climática, uso de matérias-primas, saúde funcional e processos
comerciais internos. Empresas representando um terço da capacidade mundial de cimento estão envolvidas,
com três delas já implementando um protocolo de dióxido de carbono.

Introdução a Normas Sociais na Produção

Líder: Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento (Alemanha).


Outros: Agência Alemã de Cooperação Técnica; Faber Castell; Sindicato dos Metalúrgicos da Alemanha;
autoridades públicas da Ásia.
O governo alemão está coordenando esforços para implementar uma “carta social” nas fornecedoras indianas
da Faber Castell. O Sindicato dos Metalúrgicos da Alemanha desenvolveu a carta, conforme normas da
Organização Internacional do Trabalho. Foi realizado um workshop de implementação com vários parceiros
em 2002, e os parceiros empresariais submeteram-se a uma primeira inspeção.

192
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA

Tabela 7-2. (continuação)


Venda de Produtos Responsáveis via Grandes Redes Varejistas na Europa: Melhores Práticas e
Diálogo

Líder: Reseau de Consommateurs Responsables Asbl.


Outros: Comissão Européia; Rede Européia de Consumo Responsável; CSR Europe; Centro do Meio Ambiente,
Ética & Sociedade de Oxford; Die Verbraucher Initiative; grupos de consumidores na Itália e Dinamarca.
Várias ONGs européias de consumidores, apoiadas pela Comissão Européia e representantes de universidades,
realizaram uma conferência em junho de 2003 sobre a Distribuição de Produtos Éticos via Grandes Redes
Varejistas da UE. Também compilaram um banco de dados de 20 estudos de caso de varejo na UE e empenharam-
se para envolver vários interessados num diálogo sobre melhores formas de disponibilizar mais produtos
ambientalmente e socialmente responsáveis nos supermercados europeus.

Diálogo Jovem sobre Consumo, Estilos de Vida e Sustentabilidade

Líder: Federação Alemã de Organizações de Consumo.


Outros: governos da Alemanha, México e Peru; PNUMA; UNESCO; Consumers International; grupos nacionais de
consumidores e jovens; Massachusetts Institute of Technology; Media Ecology Technology Association.
Com o apoio de três governos, várias ONGs de consumidores estão aumentando a conscientização sobre questões
de consumo entre jovens, através de troca de idéias on-line e workshops. Estão criando uma rede, baseada na
Europa e México, para educar jovens consumidores sobre o impacto do consumo no desenvolvimento sustentável.

Certificação de Turismo Sustentável

Líder: Conselho de Turismo da Costa Rica.


Outros: governos de Belize, Guatemala, Honduras, El Salvador, Nicarágua e Panamá; Comissão de Certificação
do Turismo Sustentável; Sistema de Integração da América Central.
O Conselho de Turismo da Costa Rica está trabalhando com cinco governos da América Central e associações de
turismo para transferir um programa bem-sucedido de turismo sustentável da Costa Rica para oito países da América
Central até 2006. Promoverão o uso de produtos agrícolas e artesanato local e, ao mesmo tempo, integrarão
questões econômicas, ambientais e socioculturais a modelos comerciais.

FONTE: vide nota final 25.

De Joanesburgo a reunião internacional, embora com fei-


ção relativamente diferente, a reunião
Cancun e Além ministerial da Organização Mundial do
Comércio (OMC) em Cancun, no Méxi-
Um ano após a Cúpula Mundial sobre co, em setembro de 2003. A OMC tem
Desenvolvimento Sustentável, a atenção uma visão de mundo fundamentalmente
mundial voltou a focar outra importante diferente da filosofia de desenvolvimen-

193
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA

to sustentável que embasou os acordos eliminar barreiras disfarçadas, e não evitar


do Rio e Joanesburgo; entretanto, suas que os países empreendessem políticas le-
disposições têm um grande impacto na gitimamente motivadas por questões
capacidade de ambos, consumidores e ambientais ou de saúde e segurança. Po-
governos, de promoverem práticas co- rém as novas restrições da OMC abriram
merciais sustentáveis mundialmente. Po- caminho para uma série de disputas graves
rém, as negociações da OMC em Cancun entre o comércio e as políticas ambientais,
fracassaram, dando a governos e ativistas como os conflitos sobre leis norte-ameri-
reformistas uma oportunidade de pressi- canas que restringem importações de atum
onarem por negociações futuras em me- pescado de forma danosa aos golfinhos e
lhor equilíbrio com as questões de de- de camarão pescado de forma danosa às
senvolvimento sustentável.26 tartarugas marinhas. (Vide Tabela 7-3.)
Quando a OMC foi criada, em 1995, Embora o raciocínio jurídico que os painéis
especialistas comerciais argumentaram julgadores de disputas da OMC têm utiliza-
que os legisladores promulgavam leis ma- do em suas decisões tenha se tornado mais
liciosas, sem razão científica, e que basi- sensível a preocupações ambientais nos úl-
camente buscavam manter produtos es- timos anos, continuam a existir diferenças
trangeiros fora de suas prateleiras. Mui- fundamentais entre as regras do comércio
tos governos compartilhavam dessas pre- internacional e as práticas ambientais emer-
ocupações sobre “protecionismo verde”, gentes, que poderão impedir os esforços de
particularmente governos de países em promoverem-se padrões mais sustentáveis
desenvolvimento, temendo que o cresci- de produção e consumo.28
mento de regulamentos ambientais no Algumas dessas diferenças estão mui-
mundo industrializado impusessem uma to bem exemplificadas na longa disputa
entre União Européia (UE) e Estados Uni-
barreira expressiva a seus próprios pro-
dos em torno da venda de carne produzi-
dutos. Analistas ambientais, por outro lado,
da com hormônios de crescimento. Uma
não viam as leis, de forma alguma, como lei européia que os proíbem foi promulga-
barreiras comerciais disfarçadas, e sim da originalmente no final dos anos 80, em
como medidas legítimas visando a prote- resposta aos temores generalizados entre
ção do meio ambiente e saúde humana. consumidores de que a carne contendo
Em muitos casos, foram promulgadas hormônios pudesse causar câncer e pro-
apenas após obstinadas batalhas políticas blemas de saúde reprodutiva. Essa legis-
contra interesses particulares locais.27 lação foi aplicada igualmente ao gado na-
O acordo que criou a Organização cional e importado, passando assim pelo
Mundial do Comércio, todavia, incluiu crivo rígido da OMC de não-discrimina-
vários dispositivos que impuseram novas ção. Porém a proibição representou uma
restrições à capacidade de os governos ameaça ao setor pecuário dos Estados
promulgarem leis de proteção à saúde Unidos obcecado pelos hormônios, pois
humana, animal e vegetal. As autoridades bloqueava milhões de dólares de exporta-
argumentavam que as restrições visavam ções americanas de carne bovina.29

194
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA

Tabela 7-3. Principais Conflitos Comerciais Relacionados à Produção e Consumo


Sustentáveis

Hormônio na Carne Bovina (União Européia e Estados Unidos)

A União Européia proibiu a importação de carne bovina dos Estados Unidos após ter verificado a presença de
hormônios de crescimento, por considerá-los um risco à saúde. Os Estados Unidos ajuizaram uma ação de
contestação no Órgão de Resolução de Disputas da OMC, argumentando que a proibição representava uma
barreira comercial injusta. Em 1998, o Painel da OMC determinou que a proibição da UE contrariava as regras
da OMC. A UE recusou-se a abolir a proibição. Em 1999, em retaliação, os Estados Unidos impuseram
restrições comerciais de US$ 117 milhões anuais contra a UE. Em outubro de 2003, após a divulgação de
novos estudos que demonstravam que hormônios de crescimento representam um risco à saúde humana, a UE
emitiu uma nova diretiva, aprimorando suas proibições de vários hormônios de crescimento encontrados em
carnes. Alegando que essa nova diretiva segue as recomendações da OMC, a UE espera que os Estados Unidos
retirem suas restrições comerciais.

Atum–Golfinho (Estados Unidos e México)

Em seguida à Lei de Proteção aos Mamíferos Marinhos, os Estados Unidos impuseram um embargo ao atum
mexicano pescado por meio de técnicas polêmicas conhecidas como “enredamento de golfinhos”. O México
argumentou que esse embargo criou uma barreira comercial injusta, ajuizando uma ação nos termos da legislação
do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT). Em setembro de 1991, o painel do GATT concluiu que os
Estados Unidos não podiam embargar as importações de atum mexicano, uma vez que o embargo referia-se à
forma como o atum era produzido, e não à qualidade ou conteúdo do produto.

Camarão–Tartaruga (Índia e Estados Unidos)

A Índia, juntamente com outros países asiáticos, ajuizou uma reclamação na OMC quando os Estados
Unidos proibiram importações de camarão e produtos específicos deste fruto do mar. Nos termos da Lei de
Espécies Ameaçadas de Extinção, os Estados Unidos exigiram que barcos pesqueiros de camarão utilizassem
“dispositivos excludentes de tartarugas”, a fim de evitar que tartarugas marinhas ameaçadas ficassem presas
às redes de camarão. Os Estados Unidos perderam a questão porque discriminaram os países asiáticos ao não
lhes prestar assistência técnica adequada de proteção às tartarugas. Embora o órgão de apelação da OMC
tenha decidido contra os Estados Unidos, esclareceu que um país tem o direito de impor sanções comerciais
para proteger seu ambiente doméstico.

Peixe-Espada (Chile e União Européia)

Em 1991, receando a exaustão de seus estoques de peixe-espada, o Chile deixou de permitir que barcos
espanhóis aportassem em seu país ou obtivessem novas licenças de pesca. A pesca predatória e proibições
visando a regeneração dos pesqueiros reduziram a pesca anual de peixe-espada pela metade entre 1994 e
1999. A UE alega que o veto do Chile a barcos espanhóis, prejudicando o transporte de mercadorias de
embarcações-fábrica para navios de exportação, viola acordos da OMC sobre o livre movimento de
mercadorias. O Chile argumenta que a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar autoriza-lhe
a proteger seus recursos marinhos. Em novembro de 2000, a UE solicitou que o painel da OMC resolvesse
a disputa. O painel, todavia, foi suspenso, quando a UE e Chile chegaram a um acordo, em janeiro de 2001.
Esse acordo permitiu que alguns barcos da UE atracassem em portos chilenos e forneceu monitoramento
científico multilateral pra o pesqueiro em questão.

195
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA

Tabela 7-3. (continuação)

Amianto (França e Canadá)

O Canadá contestou uma proibição francesa ao amianto de crisotilo, um mineral cancerígeno encontrado em
muitos produtos. O Canadá alegou que uma proibição ampla violava a exigência da OMC de utilizarem-se
meios “menos restritivos ao comércio” em relação a questões de saúde. Um painel da OMC manteve a
proibição da França ao amianto. Reafirmando o fato de que amianto é cancerígeno, o painel opinou, em
fevereiro de 2001, que existem alternativas mais seguras. A sociedade civil saudou essa decisão como “a
primeira vez em seus cinco anos” que a OMC decidia a favor da saúde pública.

Organismos Geneticamente Modificados (Estados Unidos e União Européia)

A União Européia argumenta que podem existir riscos à saúde e ecologia associados a organismos
geneticamente modificados (transgênicos) e tem sido reticente na aprovação do uso ou importação
desses produtos. O governo dos Estados Unidos não considera os transgênicos perigosos à saúde e o
Canadá declarou que não há base científica para a norma da UE. Nos termos da legislação dos
transgênicos, adotada pelo Parlamento Europeu em julho de 2003 e que deverá entrar em vigor no
início de 2004, a UE estabelece que todos os produtos alimentícios e rações animais que contenham
mais de 0,9% de organismos geneticamente modificados sejam rotulados como tal e que todos os
produtos alimentícios geneticamente modificados devem ter sua origem determinada. Em agosto, os
Estados Unidos, Canadá e Argentina solicitaram à OMC a formação de um painel de arbitragem para
julgar a proibição da UE aos transgênicos.

FONTE: vide nota final 28.

O setor pecuário dos Estados Unidos caminho para o governo dos Estados Uni-
convenceu o governo a defender a causa dos retaliar, aplicando em julho de 1999,
perante a OMC, tendo o governo argumen- com autorização da OMC, tarifas de 100%
tado que a lei não se justificava cientifica- sobre US$ 117 milhões de importações eu-
mente nem se baseava numa avaliação ade- ropéias, incluindo sucos de fruta, mostar-
quada de risco. A Comissão Européia, to- da, carne suína, trufas e queijo Roquefort.
davia, sustentou que a lei era consistente Quatro anos depois, a lei européia ainda
com o princípio da precaução, uma norma estava em vigor e as sanções também,
emergente no direito internacional que pre- embora a UE esteja reclamando sua aboli-
ceitua que, “quando houver perigo de dano ção, uma vez que concluiu uma avaliação
grave ou irreversível, a falta de uma certe- de risco que, segundo ela, valida sua lei.30
za absoluta não deverá ser utilizada para Enquanto isso, UE, Estados Unidos e
postergar-se a adoção de medidas eficazes outros países estão hoje enredados em ou-
para prevenir a degradação ambiental”. Mas tra grande polêmica do comércio agrícola –
um painel de apelação da OMC decidiu, em uma com implicações importantes tanto no
fevereiro de 1998, que a lei européia viola- direito dos consumidores de fazerem suas
va, de fato, as regras da OMC, abrindo próprias escolhas quanto aos possíveis im-

196
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA

pactos à saúde e ao meio ambiente de suas tos adversos à saúde e à ecologia. A UE e a


decisões de compra. A questão agora é uma maioria dos grupos de consumidores e
moratória da União Européia à concessão ambientalistas, por outro lado, vêem a ini-
de aprovação para o plantio ou importação ciativa de rotulagem como uma solução
de muitas variedades de sementes e lavou- razoável para o impasse, pois permite al-
ras geneticamente modificadas. Após recla- gum comércio de produtos transgênicos e
mar sobre essa situação por vários anos, o ao mesmo tempo protege o direito dos con-
governo dos Estados Unidos uniu-se à Ar- sumidores de decidirem, por si mesmos,
gentina e Canadá, em maio de 2003, e com conhecimento de causa. As iniciati-
ajuizou uma ação formal na OMC, protes- vas de rotulagem gozam de amplo apoio
tando contra essa política. Alguns meses público, tanto na Europa quanto nos Esta-
depois, o Parlamento Europeu aprovou uma dos Unidos, com mais de 90% dos consu-
lei que abre caminho para que alimentos midores a favor desses programas.32
contendo organismos geneticamente modi- Nos bastidores da atual polêmica so-
ficados sejam vendidos na Europa, contanto bre transgênicos há uma questão maior:
que estejam claramente rotulados nesse sen- o que deverá ser feito quando o direito
tido e que haja um sistema implantado para comercial internacional entrar em rota de
rastrear alimentos transgênicos do porto ao colisão com os tratados ambientais in-
supermercado. As autoridades da UE espe- ternacionais necessários para encorajar
ram que a lei de rotulagem torne inócua a consumidores e produtores a mudar para
recente contestação comercial dos Estados práticas mais ambientalmente seguras?
Unidos, porém as autoridades americanas Embora nenhum país tenha, até agora,
estão céticas, argumentando que a lei de ajuizado ações formais na OMC contra
rotulagem poderá, por si só, representar uma as disposições de um tratado ambiental,
barreira injusta ao comércio.31 freqüentemente surgem argumentos so-
bre a coerência da OMC durante negoci-
ações. Essas tensões estiveram muito em
Negociações comerciais oferecem evidência durante as negociações do Pro-
oportunidades para se buscarem tocolo de Cartagena sobre Biossegurança,
em 2000, um acordo forjado sob a égide
reformas políticas necessárias à
da Convenção das Nações Unidas sobre
promoção de produção e consumo Diversidade Biológica que endossa a ne-
mais sustentáveis. cessidade de governos adotarem, ocasi-
onalmente, medidas acauteladoras para se
evitar a possibilidade de dano ambiental
Como no caso dos hormônios da carne irreversível em face de incertezas cientí-
bovina, o governo dos Estados Unidos sus- ficas. Na disputa atual EUA–Europa so-
tenta que as restrições sobre transgênicos bre os transgênicos, poderia ser questio-
violam as regras da OMC porque não há nado se as regras da OMC prevaleceriam
comprovação científica concreta de efei- sobre as disposições do protocolo de

197
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA

biossegurança ou vice-versa. Uma coali- ambiental sobre as relações entre as re-


zão internacional de ONGs lançou recen- gras da OMC e medidas comerciais con-
temente uma campanha solicitando sig- tidas em acordos ambientais multilaterais
natários para uma “Objeção Cidadã”, que e acerca do efeito de medidas ambientais
conclama a OMC a arquivar a queixa sobre acesso a mercados. Também con-
contra a UE e que a disputa seja resolvi- cordaram em se empenhar no fortaleci-
da com base nos termos do Protocolo de mento das restrições da OMC a subsídios
Cartagena. Até agora, 184 organizações pesqueiros e discutir a redução de barrei-
de 48 países assinaram.33 ras tarifárias e não-tarifárias ao comércio
Apesar da possibilidade de muitos cho- de bens e serviços ambientais.35
ques entre o direito comercial internacio- Muitos outros temas agendados para
nal e as metas e prioridades ambientais, discussão nos termos do Mandato de Doha
as negociações comerciais também ofe- também poderão ter implicações importan-
recem oportunidades para buscarem-se re- tes nos esforços para promoverem-se pa-
formas políticas necessárias à promoção drões mais sustentáveis de produção e con-
de produção e consumo mais sustentáveis. sumo. Esforços para reduzir ou redirecionar
Por exemplo, as regras e negociações da subsídios agrícolas, por exemplo, poderão
OMC poderiam ser utilizadas para enco- dar forte impulso a sistemas alimentares
rajar os países a reduzir e reformar os mais ambientalmente e socialmente segu-
subsídios governamentais a setores ros. As negociações sobre transparência nas
ambientalmente sensíveis, como agricul- licitações governamentais, por exemplo,
tura, combustíveis fósseis, pesca e silvi- seriam relevantes para iniciativas de aqui-
cultura. Ou poderiam ser utilizadas para sições verdes. E as conversações propos-
dar um tratamento de comércio preferen- tas sobre a redução de restrições em inves-
cial a “bens de consumo verdes”, como timentos internacionais e no comércio de
lâmpadas eficientes em energia, papel serviços poderão limitar o escopo dos go-
reciclado, produtos orgânicos e produtos vernos na implementação e aplicação de re-
pesqueiros e florestais certificados.34 gulamentos ambientais.36
Tanto o desejo de minimizar choques Todavia, o fracasso das negociações na
entre regras comerciais e ambientais como reunião da OMC em Cancun, em setembro
a possibilidade de promover sinergias le- de 2003, suscitou perguntas fundamentais
varam os governos a concordarem em sobre a direção futura da organização e de
Doha, no Catar, em novembro de 2001, a qualquer nova rodada de conversações co-
dar início a conversações sobre questões merciais. Nos preparativos para a reunião,
ambientais específicas, como parte de um houve pouco avanço em qualquer dos te-
Mandato de Doha para uma nova rodada mas ambientais específicos. Mas foram as
de conversações comerciais internacio- disputas sobre questões como investimen-
nais. Entre outros compromissos, os mi- tos e licitações governamentais e
nistros comerciais decidiram entrar em afloramento de tensões sobre subsídios
negociações acerca das implicações co- comerciais agrícolas que finalmente para-
merciais das exigências de rotulagem ram as negociações. As reações ao impasse

198
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA

foram mistas, mesmo entre ONGs. Alguns consenso entre uma grande diversidade de
acharam que o fracasso revelou falta de interesses em todo o mundo. Mesmo as-
vontade política no confrontamento de sim, os eventos recentes sugerem que os
questões urgentes de desenvolvimento; termos do debate estão mudando, já que
outros viram Cancun como um ponto crí- pessoas em todo o mundo perceberam que
tico fundamental em que governos de paí- nosso rumo insustentável atual ameaça
ses em desenvolvimento uniram-se numa tanto o bem-estar da humanidade quanto
nova e poderosa coalizão, apoiados por uma a saúde ecológica. Embora as forças po-
sociedade civil fortalecida.37 derosas do Jihad e do McMundo continu-
Nos meses futuros, governos e orga- em a varrer o globo, a esperança para o
nizações da sociedade civil, conjuntamente, futuro vem do crescente número de pes-
contemplarão as grandes lições dos even- soas que rejeitam ambos os caminhos e
tos recentes. O caminho à frente não está apóiam o desenvolvimento de uma comu-
totalmente claro, com a situação compli- nidade global baseada no respeito pelas
cada pela necessidade de se formar um pessoas e pela natureza.

199
Estado do Mundo 2004
ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA

AT R Á S D O S B A S T I D O R E S

Camisetas de Algodão
Em 1913 a Marinha dos Estados incluindo organofosfatos
Unidos lançou uma roupa como parathion e
de baixo branca de diazinon, que são
algodão para todo o particularmente
efetivo – primeiro nocivos ao sistema
registro do aparecimento nervoso de bebês e
da camiseta. Em 1938, a crianças.2
grande cadeia Sears Os pesticidas utilizados
introduziu uma linha de no algodão contaminam e
camisetas para uso civil. também matam trabalhadores
Mas só nos anos 50 essa rurais. Entre 1997 e 2000, os
peça tornou-se realmente campos de algodão foram os
popular, graças aos galãs rebeldes locais dos 116 casos de
Marlon Brando, James Dean e Elvis Presley.1 envenenamento agudo de agricultores por
Atualmente, camisetas são uma maneira pesticidas registrados na Califórnia. E em
relativamente barata de consumidores em 2001 a morte de mais de 500 agricultores de
todo o mundo exibirem a logomarca de uma algodão no estado produtor de Andhra
grife favorita, um time ou designer. Mas, Pradesh, na Índia, foi atribuída à exposição a
mesmo quando feitas de algodão natural, as pesticidas. Em muitos casos, agricultores
camisetas representam um custo alto para desconhecem ou não aplicam
os operários e o meio ambiente. procedimentos de segurança adequados
Algodão é a fibra mais vendida no mundo quando manuseiam e utilizam produtos
e fazendeiros, do Texas à Turquia, colhem químicos: em uma pesquisa no Benin, África
mais de 19 milhões de toneladas anualmente. Ocidental, 45% dos produtores de algodão
Todavia, o cultivo carrega no seu bojo uma declararam que usam recipientes de
carga ambiental. Os produtores aplicam pesticidas para carregar água, enquanto 20–
quase US$ 2,6 bilhões de pesticidas no 35% os utilizam para colocar leite ou sopa.
algodão, anualmente, em todo o mundo – Pessoas também foram afetadas em fábricas
mais de 10% do total global, de acordo com a e comunidades onde os pesticidas do
Pesticide Action Network North América. A algodão são produzidos: em1984, o
Organização Mundial de Saúde classificou criminoso vazamento de gás tóxico nas
muitos dos pesticidas comumente utilizados instalações da Union Carbide, no Bhopal,
no algodão como “extremamente perigosos”, Índia, matou 8.000 pessoas.3

200
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: CAMISETAS DE ALGODÃO

Na década passada, ecólogos Depois de pronta, a camiseta é


registraram danos devastadores a aves, geralmente tingida e tratada. Tinturas
peixes e outras vidas silvestres, causados químicas e, mesmo algumas tinturas
por produtos químicos usados no algodão. naturais, quase sempre contêm cobre, zinco
Antes da colheita, os agricultores e outros metais pesados, que são tóxicos e
freqüentemente utilizam herbicidas para podem poluir a água através do escoamento
desfolhar os algodoeiros e permitir fácil industrial. Os tratamentos do tecido, como
coleta das cápsulas que contêm sementes e aqueles contra manchas e enrugados, e
fibras – uma prática que pode destruir água, podem conter produtos
habitats de vida silvestre.4 petroquímicos, como o formaldeído, um
Os pesticidas do algodão podem cancerígeno.7
também poluir corpos d’água locais, Isso não quer dizer que consumidores
colocando em perigo a saúde humana e dos conscientes devam optar por tecidos
ecossistemas. Aldicarb, um composto que sintéticos. As fibras de poliéster são feitas
pode causar anormalidades no sistema de petróleo, um recurso não-renovável cuja
imunológico, mesmo em baixos níveis de extração e cujo transporte prejudicam o meio
consumo, foi encontrado na água ambiente, mais evidentemente nos
subterrânea de sete estados americanos, vazamentos de óleo. De acordo com uma
segundo a Cornell University Cooperative estimativa, se o petróleo utilizado na
Extension. E em 1998 a U.S.Geological produção e transporte for incluído, uma
Survey denunciou contaminação da água camiseta mesclada com poliéster pode
por herbicidas e inseticidas utilizados no liberar, aproximadamente, um quarto de seu
algodão, no sul. Enquanto isso, em âmbito peso em poluição atmosférica e 10 vezes seu
mundial, o desvio de água para irrigar peso em dióxido de carbono.8
algodão – uma cultura sedenta – encolheu o A China é o maior produtor mundial de
Mar de Aral, no Uzbequistão, a um quinto algodão, seguida pelos Estados Unidos e
do seu tamanho original.5 Índia. E os Estados Unidos são os
Após a colheita de um campo de principais exportadores da fibra, exportando
algodão, as cápsulas são descaroçadas mais de 10,5 milhões de fardos por ano,
para separar as fibras das sementes. As principalmente para a Ásia e México.
fibras são então empacotadas em fardos (Outros grandes exportadores são os países
de aproximadamente 225 quilos cada. (A da antiga União Soviética e a Austrália.)
indústria têxtil americana utiliza cerca de Países mais pobres, desejosos de vender
11 milhões de fardos de algodão seu algodão no mercado mundial,
anualmente) Uma fiação limpa as fibras e encontram-se, freqüentemente, em
torce para fazer os fios, que são tecidos desvantagem com os subsídios e barreiras
em teares mecânicos. O transporte da comerciais que protegem os agricultores de
fazenda para a fábrica requer energia, algodão dos Estados Unidos.9
caracteristicamente de combustíveis A China é também o principal produtor
fósseis, como também a produção de fio e mundial de camisetas, fornecendo cerca de
tecidos, já que as fiações não são mais 65% do total – a maioria vendida nos
movidas a tração animal.6 Estados Unidos e Europa. (Os americanos

201
Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: CAMISETAS DE ALGODÃO

gastaram US$ 6,2 bilhões em 478 milhões cultivado sem pesticidas e fertilizantes
de camisetas em 2002.) Do mesmo modo sintéticos. Em um projeto agrícola egípcio,
que em muitos países em desenvolvimento, o cultivo orgânico incrementou a
os trabalhadores da indústria de produção de algodão em mais de 30%,
confecções na China recebem salários sendo a fibra transformada em tecido sem
menores e trabalham mais horas. A nenhum produto químico sintético. A
indústria de confecções nos países melhor opção, em termos de bem-estar do
industrializados geralmente exploram a trabalhador, é o produto certificado pela
mão-de-obra na América Central e sudeste Fair Trade Federation. Numa tendência
da Ásia, onde a legislação trabalhista e positiva, o algodão orgânico e fabricantes
ambiental é muito menos rigorosa do que de confecções de comércio justo estão se
nos seus países de origem.10 unindo para proteger o ambiente e, ao
O que faz o usuário de camisetas? A mesmo tempo, promover a justiça social. 11
escolha mais ecológica, não sendo a
compra de roupa usada, é uma camiseta — Mindy Pennybacker,
feita de algodão orgânico certificado, The Green Guide

202
Estado do Mundo 2004
COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA

CAPÍTULO 8

Repensando a
Boa Vida
Gary Gardner e Eric Assadourian

Bogotá, a capital da Colômbia, é comumente via elevada ao custo de US$ 600 milhões,
associada com guerra civil e violência. Mas, uma solução de transporte padrão em mui-
nos fins da década de 90, a reputação da tas cidades engarrafadas por automóveis. Em
cidade começou a mudar, quando o Prefeito vez disso, o Prefeito criou um sistema de
Enrique Peñalosa liderou uma campanha transporte rápido e mais barato usando as
para melhorar a qualidade de vida lá. As linhas de ônibus existentes. O sistema trans-
matrículas escolares aumentaram em porta 780.000 passageiros diariamente
200.000 estudantes – cerca de 34% – du- – mais do que o dispendioso metrô de
rante o mandato de Peñalosa. Sua adminis- Washington, DC – e é tão bom que 15%
tração construiu ou reconstruiu totalmente dos usuários regulares são proprietários de
1.243 parques – alguns pequenos, outros carros. Peñalosa também investiu em cen-
bastante grandes – agora usados por cerca tenas de quilômetros de ciclovias e em cal-
de 1,5 milhão de visitantes anualmente. Um çadões. E incrementou a infra-estrutura cul-
sistema de transporte rápido, eficiente, aces- tural da cidade, com a construção de novas
sível a todos, foi planejado e construído. E bibliotecas e escolas, ligando-as a uma rede
a taxa de assassinatos da cidade caiu dra- de 14.000 computadores. Juntamente com
maticamente: hoje, ocorrem menos assassi- a reabilitação dos parques, as melhorias no
natos, per capita, em Bogotá do que em transporte e culturais incentivaram uma meta
Washington, DC.1 estratégica para Bogotá: orientar a vida ur-
Seja qual for o padrão, o avanço da cida- bana em torno de pessoas e comunidades.2
de é um sucesso de desenvolvimento. No Peñalosa baseia-se num parâmetro
entanto, a transformação de Bogotá foi incomum para avaliar sua estratégia de de-
alcançada de uma maneira bastante hetero- senvolvimento. “Uma cidade é bem-suce-
doxa. Quando Peñalosa assumiu, consulto- dida não quando é rica”, diz ele, “mas quan-
res propuseram a construção de uma rodo- do sua população é feliz”. Essa declaração

203
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA

esvazia décadas de conceituação de desen- dade de bem-estar deve empenhar-se em


volvimento, tanto em países pobres quan- minimizar o consumo ao necessário para
to em ricos. Resumindo: a maioria dos go- uma vida digna e gratificante.
vernos faz dos aumentos contínuos no pro-
duto interno bruto (PIB) uma prioridade Riqueza e Bem-estar
maior da política doméstica, assumindo que
estando a riqueza garantida, o bem-estar é Riqueza e bem-estar são mais parentes dis-
assegurado. No entanto, ênfase indevida na tantes do que antagonistas. Na verdade, a
geração de riqueza, especialmente pelo palavra wealth (riqueza, em inglês) deriva
encorajamento do alto consumo, pode es- da raiz weal – um sinônimo de bem-estar
tar gerando retornos decrescentes. No todo,
que tradicionalmente tem conotação co-
a qualidade de vida está se deteriorando em
munitária. No entanto, riqueza significa
alguns dos mais ricos países do globo à
atualmente bens materiais e posses finan-
medida que as pessoas vão sofrendo maior
estresse e pressão de tempo, com menos ceiras, principalmente de indivíduos – um
relacionamentos sociais satisfatórios, e à significado muito mais limitado do que
medida que o meio ambiente vai mostran- suas raízes teriam. A construção de uma
do cada vez mais sinais de perigo. Enquan- sociedade de bem-estar envolve, essenci-
to isso, nos países mais pobres a qualidade almente, resgatar o significado original e
de vida é degradada pelo não-atendimento amplo do termo riqueza.4
das necessidades básicas das pessoas.3 A idéia de bem-estar, como um objetivo
Repensar o que significa “a boa vida” é pessoal e político, é cada vez mais corri-
mais que necessário num mundo que ca- queira, aparecendo em revistas populares
minha rapidamente numa trilha de males e até em publicações oficiais de organiza-
auto-infligidos e danos planetários a flores- ções multinacionais, como The Well-being
tas, oceanos, biodiversidade e outros re- of Nation, da Organização para Coopera-
cursos naturais. Ao redefinir prosperidade ção e Desenvolvimento Econômico, em
com ênfase numa melhor qualidade de vida, 2001, e Ecosystems and Human Well-being,
em vez de numa mera acumulação de bens, da Mellennium Ecosystem Assessment, de
indivíduos, comunidades e governos po- 2003. Mesmo a Câmara dos Comuns ca-
dem concentrar-se na conquista do que as nadense aplicou o termo na legislação apro-
pessoas mais almejam.Realmente, uma vada em junho de 2003 sob o título de Lei
nova compreensão do que seja boa vida de Medição do Bem-Estar do Canadá. 5
pode ser construída não em torno da ri- Definições do conceito variam, mas
queza, e sim do bem-estar: atendimento das tendem a se aglutinar em torno de vários
necessidades básicas de sobrevivência, jun- temas:
tamente com liberdade, saúde, segurança e
relações sociais gratificantes. Naturalmen- • Base de sobrevivência, incluindo ali-
te, o consumo ainda seria importante, mas mento, abrigo e segurança:
somente na medida em que incremente a • Boa saúde, em termos pessoais e de
qualidade de vida. Realmente, uma socie- um meio ambiente robusto;

204
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA

• Boas relações sociais, inclusive uma parado com os níveis de felicidade. Nos
vida de coesão social e uma estrutura Estados Unidos, por exemplo, a renda
de apoio social; média individual mais que dobrou entre
• Segurança, tanto em termos pessoais 1957 e 2002, embora a parcela de pesso-
quanto de posses pessoais, e as descrevendo-se como “muito felizes”
• Liberdade, o que inclui a capacidade no mesmo período tenha permanecido
estática. (Vide Figura 8-1.)7
de atingir o potencial de desenvolvi-
mento. 6
Em suma, o termo de- 25.000 Renda Média Porcentagem de Pessoa Muito Felizes
100
nota essencialmente uma (base=1995)
alta qualidade de vida, na
qual as atividades diárias 20.000 80
desenvolvem-se de forma Renda Média
mais planejada, com menos
15.000 60
estresse. Sociedades cen-
tradas no bem-estar envol-
vem maior interação com 10.000 Pessoas Muito Felizes
40
a família, amigos e vizi-
nhos, uma experiência
mais direta com a natureza 5.000 20
e mais dedicação à procu-
ra de realização e expres- Fonte: Myers
0 0
são criativa do que acumu- 1955 1965 1975 1985 1995 2005
lação de bens. Estas
enfatizam estilos de vida Figura 8-1. Renda Média e Felicidade nos Estados Unidos,
que evitam abuso da pró- 1957–2002
pria saúde, do próximo ou
do mundo natural. Ou seja, geram um sen- Não é de surpreender que a relação en-
tido mais profundo de satisfação com a tre riqueza e satisfação pessoal seja dife-
vida do que as pessoas têm atualmente. rente nos países pobres. Nestes, renda e
O que é que promove uma vida gratifi- bem-estar estão bem ligados, provavelmente
cante? Nos últimos anos, psicólogos es- porque mais do que a renda individual é
tudando parâmetros de satisfação de vida usada para atender às necessidades bási-
têm, em geral, confirmado o velho adágio cas. (Vide Capítulo 1.) Constatações da
que diz que dinheiro não traz felicidade – World Values Survey, numa série de pes-
pelos menos para pessoas já afluentes. quisas, em mais de 65 países, sobre vida
Essa desconexão entre dinheiro e felici- gratificante, realizada entre 1990 e 2000,
dade nos países ricos é possivelmente mais demonstraram que renda e felicidade ten-
bem ilustrada quando o crescimento da dem a caminhar juntas até mais ou menos
renda nos países industrializados é com- US$ 13.000 de renda anual por pessoa (na

205
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA

paridade do poder aquisitivo de 1995). Além no, mas crescente, de consumidores está
desse nível, renda adicional parece gerar questionando a forma como fazem compras,
apenas melhoria modesta na felicidade o volume de “coisas” que se amontoam e
autodeclarada.8. complicam suas vidas e o tempo que gas-
Se os psicólogos estão certos sobre os tam no trabalho. Esses consumidores insa-
limites da riqueza na obtenção da felicidade, tisfeitos ainda não criaram um movimento
estão igualmente certos na descrição do que consistente porque suas ações são, basica-
contribui para uma vida gratificante. Repeti- mente, privadas, ocorrendo em bolsões des-
damente, estudos sugerem que pessoas feli- conexos em muitos países. Mesmo assim,
zes tendem a ter relações solidárias fortes, a natureza espontânea dessas atividades pode
senso de controle sobre suas vidas, boa saú- sinalizar um desejo profundo de muitas pes-
de e trabalho compensador. Muito rapidamen- soas construírem uma vida recompensadora
te, esses fatores estão cada vez mais sob para si e suas famílias.10
estresse nas sociedades industrializadas, de Talvez a expressão mais evidente de um
ritmo acelerado, nas quais as pessoas muitas desejo por uma melhor qualidade de vida
vezes tentam usar o consumo como um esteja no número crescente de pessoas que
substituto para as fontes genuínas de felici- fazem compras de olho no bem-estar. Na
dade. Entretanto, há pelo menos alguns indi- Europa, por exemplo, a demanda por ali-
víduos, comunidades e governos que, insa- mentos orgânicos elevou as vendas para US$
tisfeitos com a qualidade da vida, estão de- 10 bilhões em 2002, 8% acima do ano ante-
senvolvendo esforços para construir vidas, rior, quando um público chocado com a
vizinhanças e sociedades de bem-estar. 9 doença da vaca louca e outros sustos ali-
mentícios buscou garantias cada vez maio-
A Potência Um res de segurança em sua alimentação. Ana-
listas de mercado estimam que 142 milhões
Durante o verão de 2003, cerca de 50 mi- de europeus são consumidores de produtos
lhões de americanos inscreveram-se num orgânicos, embora um núcleo “fiel” de 20
Cadastro Nacional Não Liguem, patrocina- milhões tenha representado 69% dos gastos
do pelo governo, destinado a evitar que nesses produtos em 2001. E 150 milhões de
telemarqueteiros os telefonassem. A enxur- pessoas na Europa ou são vegetarianas ou
rada de respostas a esse novo programa do reduziram seu consumo de carne vermelha.11
governo – na essência, uma tentativa de as Enquanto isso, o grupo de consumido-
pessoas resgataram um pouco do seu tem- res nos Estados Unidos interessado em
po e privacidade das táticas de marketing compras que melhorem a saúde e o meio
cada vez mais agressivas – indica a frustra- ambiente já é bastante grande para mere-
ção que muitos sentem quando forças eco- cer o reconhecimento de pesquisadores de
nômicas começam a dominá-los, ao invés mercado como um grupo demográfico dis-
de servi-los. Entretanto, um número peque- tinto. Chamados de consumidores LOHAS*

* Sigla para “Lifestyles of Health and Sustainability”

206
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA

– pessoas que têm estilos de vida com saú- temente compensam a menor escolha. E
de e sustentabilidade – estes compram de os membros da Seikatsu não estão só; cer-
tudo, desde lâmpadas fluorescentes com- ca de 50 milhões de pessoas pertencem a
pactas e células solares a café e chocolate cooperativas locais afiliadas à Consumer
de comércio justo (produtos que pagam Coop International, uma entidade interna-
um salário justo aos produtores ou que cau- cional que facilita treinamento para coope-
sam impacto ambiental menor que os pro- rativas locais de consumidores.13
dutos comuns). Esse grupo hoje inclui qua- Em alguns casos, as pessoas voltam-se
se um terço dos americanos adultos e, em para organizações em busca de ajuda para
2000, foi responsável por cerca de US$ 230 tornar seu consumo mais verde. Uma coa-
bilhões em compras – aproximadamente lizão de organizações em 19 países, conhe-
3% dos gastos totais de consumo nos Es- cida como Plano de Ação Global, oferece
tados Unidos. Embora seja uma proporção treinamento a famílias para reduzir o lixo,
relativamente baixa, comparada com o nú- aliviar o uso de energia e mudar para pro-
mero de pessoas identificadas como con- dutos ecoamigáveis. Na Holanda, pelo me-
sumidores LOHAS, isso provavelmente nos 10.000 famílias trabalham no
deve-se às poucas opções de consumo sa- redirecionamento do seu consumo; após o
dio disponíveis atualmente.12 treinamento, essas pessoas reduziram seu
Em muitos países, as pessoas formam lixo doméstico em 28% em média. Seis a
cooperativas para alavancar seu poder de nove meses depois, já haviam alcançado
mercado por uma melhor qualidade de vida. 39%. E em 2003 o governo francês lançou
No Japão, por exemplo, a União de Coope- uma iniciativa semelhante, la famille
rativas de Consumidores Seikatsu Club, durable (a família sustentável), que ofere-
com 250.000 membros, estoca alimentos ce formas práticas de as pessoas viverem
livres de agrotóxicos e aditivos e sustentavelmente no lar, na escola, no tra-
conservantes artificiais, juntamente com balho e durante as férias.14
produtos domésticos livres de toxinas. A E nos Estados Unidos, o Center for a
cooperativa acondiciona seus produtos em New American Dream insta as pessoas a
potes reutilizáveis para reduzir o descarte viverem uma vida com “mais diversão,
de embalagens, que representa 60% do lixo menos tralhas”. Através do seu programa
doméstico. Contrariamente a muitos super- Vire a Maré, o centro encoraja as pessoas
mercados que estocam dezenas de milha- a seguirem um plano de conservação
res de itens individuais, as cooperativas ambiental simples, de nove etapas, envol-
Seikatsu Club mantêm apenas 2.000 itens, vendo ações como substituir torneiras por
principalmente produtos alimentícios. Ca- outras de eficiência hídrica e comer me-
racteristicamente, estocam apenas uma ou nos carne. Os 14.000 membros dessa ini-
duas variedades por item, mas para seus ciativa relatam terem economizado mais de
membros que buscam uma vida mais 500 milhões de litros de água e evitado que
compensadora, a melhor qualidade, os ali- mais de 4 milhões de quilos de dióxido de
mentos sadios e a redução do lixo aparen- carbono fossem liberados na atmosfera.15

207
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA

Além da mudança nos hábitos de com- quintuplicaram entre 1996 e 1998. Em


pras, muitos consumidores estão tentan- 1997, o Sistema Público de Radiodifusão
do simplificar seus estilos de vida de for- transmitiu um documentário intitulado
ma mais ampla – um processo chamado Affluenza, que tratava o consumismo como
às vezes de “mudança descendente”. A uma doença contagiosa e oferecia suges-
analista Cecile Andrews descreve a mo- tões de como se vacinar contra ela. O pro-
tivação dessas pessoas: “Muitas pessoas grama foi muito popular, sendo posterior-
[estão] apressadas, nervosas e mente distribuído para 17 países.18
estressadas. Não têm tempo pra seus Todavia, iniciativas individuais são ape-
amigos; são ríspidas com a família; não nas parte do que é necessário para construir
riem muito”. Muitas, diz ela, “buscam uma sociedade de bem-estar. Só esforços
uma maneira de simplificar suas vidas – individuais não ajudarão, necessariamente,
correr menos, trabalhar menos e gastar a criar comunidades fortes e sadias (embo-
menos. Estão começando a ‘desacelerar’ ra possam liberar tempo para maior
e gozar a vida novamente”.16 envolvimento comunitário), nem poderão li-
Estimativas sobre o número de mudan- dar com os obstáculos estruturais a uma
ças descendentes são imprecisas, porém o escolha genuína de consumo – a falta de
interesse na simplificação parece estar au- produtos orgânicos num supermercado, por
mentando. Em sete países europeus, o nú- exemplo. Alguns críticos até argumentam
mero de pessoas que voluntariamente re- que, isoladamente, iniciativas individuais
duziram suas jornadas de trabalho aumen- podem ser contraproducentes. Uma
tou a uma taxa de 5,3% ao ano durante os “individualização da responsabilidade”, como
últimos cinco anos. E a tendência em dire- observa o cientista ambiental Michael Mani-
ção à simplicidade deverá continuar. O nú- ates, desvia a atenção do papel que institui-
mero de pessoas nesses mesmos países ções comerciais e governamentais desem-
que poderiam, pelo menos parcialmente, penham na perpetuação do consumo insalu-
adotar voluntariamente um estilo de vida bre. Ademais, uma vez que indivíduos vêem
simples deverá crescer de cerca de 7 mi- seu poder residir basicamente em seus bol-
lhões em 1997 para, no mínimo, 13 mi- sos, poderão negligenciar seus papéis-cha-
lhões em 2007.17 ve como pais, educadores, membros da
Enquanto isso, duas pesquisas de opi- comunidade e cidadãos na construção de
nião nos Estados Unidos, realizadas em uma sociedade de bem-estar.19
meados dos anos 90, indicaram que apro- A necessidade de indivíduos agirem co-
ximadamente um quarto da população em- letivamente na melhoria da sua qualidade de
penhava-se para simplificar suas vidas, vida levou um grupo na Noruega a lançar,
embora a extensão dos esforços variasse em 2000, uma campanha intitulada 07/06/
muito de pessoa a pessoa. E a mídia de- 05. Seus membros estão conclamando os
monstrou um interesse crescente na maté- noruegueses para a contagem regressiva até
ria. Artigos em jornais norte-americanos 7 de junho de 2005, o centenário da inde-
sobre a simplificação de estilos de vida pendência da Noruega do domínio sueco, e

208
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA

para declararem sua independência nova- material infinito, e sim uma vida equili-
mente – dessa vez, porém, da “pobreza de brada, plena e sustentável para todos”.22
tempo” que acompanhou a ascendência da
cultura do consumo.20 Os Laços que Unem
Nos Estados Unidos, uma aliança chamada
“Fórum da Simplicidade” busca mobilizar os Humanos são seres sociais; portanto, não é
milhões de americanos às voltas com muito de se estranhar que boas relações sejam um
a fazer e com muito pouco tempo. Instituí- dos ingredientes mais importantes para uma
ram 24 de outubro de 2003 como o Dia do alta qualidade de vida. O professor de Políti-
Resgate do Tempo, instando os americanos cas Públicas de Harvard, Robert Putnam,
a deixarem o trabalho cedo, chegarem tarde, observa que “a constatação mais comum em
levarem mais tempo almoçando, ou até mes- meio século de pesquisa sobre os correlatos
mo ausentarem-se do serviço. Milhares ade- de realização de vida... é que a felicidade é
riram a eventos em casas de vizinhos, igrejas melhor vaticinada pela extensão e profundi-
locais, salões de conferências e universida- dade das relações sociais”. Assim, os esfor-
des para discutir a carência de tempo enfren- ços individuais de construção de uma vida
tada por todos os americanos. A data foi es- feliz têm mais probabilidade de sucesso se
colhida deliberadamente – nove semanas an- envolverem a família, amigos ou vizinhos.
tes do fim do ano – para lembrar aos ameri- Felizmente, esforços individuais e comunitá-
canos que são um dos povos que mais traba- rios freqüentemente andam de mãos dadas.
lham no mundo industrializado, permanecen- A pessoa que trabalha menos horas a cada
do 350 horas a mais em serviço (ou seja, nove semana tem mais tempo para a família, os
jornadas semanais), anualmente, do que o tra- amigos e a comunidade. E os laços comuni-
balhador europeu.21 tários, reforçados, por exemplo, quando vi-
Os organizadores esperam utilizar a zinhos compartilham ferramentas ou respon-
energia da iniciativa americana para ini- sabilidades no cuidado de bebês, podem re-
ciar um movimento popular centrado no duzir as despesas domésticas e ajudar as pes-
resgate do tempo para uma maior quali- soas a levarem vidas mais simples.23
dade de vida. A campanha buscaria re- Pessoas que mantêm relações sociais
formar a legislação federal de férias, jor- tendem a ser mais saudáveis – e,
nadas de trabalho e outras medidas que freqüentemente, de forma significativa.
liberariam tempo para os elementos ne- Mais de uma dúzia de estudos de longo
gligenciados da vida, como família, ami- prazo no Japão, Escandinávia e Estados
gos e comunidade. Como explica o co- Unidos revelam que as chances de morrer
ordenador do Dia do Resgate do Tempo num determinado ano, seja qual for a cau-
e produtor de Affluenza, John de Graaf, sa, são duas a cinco vezes maiores nas
“o Movimento do Tempo significa olhar pessoas isoladas do que nas socialmente
além do PIB como medida de uma boa relacionadas. Por exemplo, um estudo
sociedade e entender que o objetivo real constatou que em 1.234 pessoas que so-
da nossa economia não é o crescimento freram ataques cardíacos, a taxa de outro

209
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA

ataque em seis meses foi quase o dobro Laços sociais fortes são
para aqueles que viviam sozinhos. E um particularmente úteis na promoção
estudo de saúde e desconfiança nos Esta- do consumo coletivo, o que
dos Unidos, realizado pela Universidade de
Harvard, concluiu que a mudança para um
freqüentemente traz vantagens
estado com alto nível de relações sociais, sociais e ambientais.
vindo de um estado onde este nível é bai-
xo, melhoraria a saúde individual quase na Pesquisadores oferecem várias explica-
mesma extensão que deixar de fumar.24 ções para o elo entre relacionamento social
Um exemplo particularmente marcante e menor risco de saúde. Alguns são extre-
da relação entre relacionamento social e mamente práticos: gente relacionada tem
saúde vem de um estudo da cidade de alguém a quem recorrer quando acontecem
Roseto, na Pensilvânia, que chamou a problemas de saúde, reduzindo a probabili-
atenção dos pesquisadores nos anos 60 em dade de a doença se desenvolver numa con-
função do seu índice de doenças cardía- dição grave. Redes sociais podem reforçar
cas ser menos da metade das cidades vi- comportamentos sadios; estudos revelam
zinhas. As causas usuais dessa anomalia que as pessoas isoladas são mais propen-
– dieta, exercício, peso, fumo, predispo- sas a fumar ou beber, por exemplo. E co-
sição genética, etc. – não explicavam o munidades coesas podem ser mais efica-
fenômeno de Roseto. Na realidade, a po- zes no lobby por tratamento de saúde. Mas
pulação de Roseto era até pior em muitos a ligação pode ser mais profunda. O conta-
desses fatores de risco que seus vizinhos. to social pode efetivamente estimular o sis-
Assim, os pesquisadores investigaram tema imunológico do indivíduo a resistir a
outras explicações possíveis e verificaram doenças e estresse. Animais de laboratório,
que a cidade tinha uma estrutura social por exemplo, têm mais probabilidade de
coesa, que gerou clubes esportivos, igre- desenvolver endurecimento das artérias
jas, um jornal e um grupo de escoteiros. quando isolados, enquanto animais e seres
Socialização informal ampla era a norma. humanos isolados tendem a sofrer respos-
Posteriormente os pesquisadores atribuí- ta imunológica baixa e pressão alta.26
ram os níveis mais altos de saúde aos for- Profissionais de desenvolvimento inter-
tes laços sociais dos moradores – a maio- nacional também reconhecem que laços so-
ria vinha do mesmo vilarejo da Itália e ciais fortes são grandes incentivadores de
trabalhou duro para manter seu senso de desenvolvimento de uma nação. O Banco
comunidade nos Estados Unidos. O triste Mundial, por exemplo, vê o relacionamento
adendo a essa história é que, a partir do social como uma forma de capital – um bem
final dos anos 60, quando os laços sociais que rende uma torrente de benefícios úteis
enfraqueceram nesta cidade e por todo o para o desenvolvimento. Da mesma forma
país, o índice de doenças cardíacas au- que uma conta bancária (capital financeiro)
mentou em Roseto, vindo a superar o da rende juros, os laços sociais tendem a criar
cidade vizinha.25 vínculo, reciprocidade ou redes de informa-

210
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA

ção, que lubrificam as rodas da atividade em Bangladesh, que realiza pequenos em-
econômica. Vínculos, por exemplo, facili- préstimos a mulheres extremamente pobres,
tam as transações financeiras ao criar um que não dispõem de garantias para emprés-
clima de confiança nas relações contratuais timos bancários comuns. As mulheres or-
ou na segurança de investimentos. Um es- ganizam-se em grupos de cinco, e cada gru-
tudo de contatos sociais, realizado pelo Ban- po solicita empréstimos do Banco, às ve-
co Mundial, entre comerciantes agrícolas de zes, inferiores a US$ 100. Elas contam com
Madagáscar comprovou que aqueles que sua confiança nas vizinhas quando as con-
faziam parte de uma extensa rede de co- vidam para se unir ao grupo. Essa função
merciantes e que podiam contar com cole- da informação – algo como onde bancos
gas em épocas de dificuldades tinham renda comerciais gastam dinheiro quando compi-
superior aos comerciantes com menos con- lam um histórico de crédito de um solicitante
tatos. De fato, os comerciantes bem-relaci- – é um exemplo de como o capital social
onados declararam que as relações são mais pode reduzir os custos da atividade finan-
importantes para seu sucesso do que mui- ceira. Laços sociais também servem como
tos fatores econômicos, inclusive o preço garantia para empréstimos. Uma vez que as
de suas mercadorias ou o acesso a crédito mulheres são solidariamente responsáveis
ou equipamentos.27
pela amortização, e que uma inadimplência
Falta de capital social também parece
pode desqualificar todas as cinco para em-
estar ligado a um fraco crescimento econô- préstimos futuros, cada mulher está sujeita
mico em âmbito nacional. Stephen Knack, a uma forte pressão social para pagar.29
do Banco Mundial, alerta que níveis baixos A compensação econômica desses tipos
de confiança social podem prender nações a de relacionamentos sociais tornou o
uma “armadilha de pobreza”, em que o cír- microcrédito um sucesso em muitos paí-
culo vicioso da desconfiança, baixos inves- ses. O Grameen Bank declara que 98% de
timentos e pobreza é difícil de romper. Knack seus empréstimos são resgatados, um re-
e seus colegas testaram a relação entre con- gistro melhor do que na maioria dos bancos
fiança e desempenho econômico em 29 pa- comerciais. O Grameen inspirou a dissemi-
íses incluídos na Pesquisa de Valores Mun- nação do microcrédito mundialmente. Uma
diais. Constataram que cada aumento de 12 iniciativa conhecida como a Campanha da
pontos na medida de confiança da pesquisa Cúpula do Microcrédito estabeleceu uma
estava associado a um aumento de 1% no meta de habilitar 100 milhões de pessoas em
crescimento da renda anual, e que cada au- programas de microcrédito até 2005. No fi-
mento de 7 pontos na confiança correspondia nal de 2002, já estavam a meio caminho,
a um aumento de 1% no índice de participa- com 68 milhões de participantes.30
ção de investimentos no PIB.28 Além de melhorar a saúde e facilitar a
O papel do “veículo” social, de facilita- segurança econômica, laços sociais fortes
ção de transações econômicas, é particular- são particularmente úteis na promoção do
mente evidente nas iniciativas de consumo coletivo, o que freqüentemente
microcrédito, como as do Grameen Bank, traz vantagens sociais e ambientais. Um

211
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA

bom exemplo disso é a co-habitação, uma compartilhamento de porões para serviços


forma moderna de vida comunitária em que mecânicos e entradas comuns reduzem o
10–40 famílias vivem num conjunto espaço com pouco sacrifício da comodida-
habitacional destinado a estimular interação de. E a construção de conjuntos agrupados
entre vizinhos. A privacidade é valorizada e permite o compartilhamento de pátios sem
respeitada, porém os moradores comparti- grande perda de privacidade. Como conse-
lham espaços-chave, incluindo refeitório, qüência dessas características, a comunida-
jardins e espaços recreativos comunitári- de média de co-habitação no estudo utilizou
os. Iniciadas nos anos 60, mais de 200 apenas metade da área, por residência, que
comunidades de co-habitação estabelece- um empreendimento imobiliário suburbano
ram-se na Dinamarca. O movimento dis- convencional nos Estados Unidos.32
seminou-se para a Holanda, Escandinávia, Mas talvez a maior contribuição das co-
Austrália, Canadá e Estados Unidos, onde munidades de co-habitação para uma alta
50 novos grupos de co-habitação são im- qualidade de vida seja os laços sociais que
plantados a cada ano (embora mais da me- criam. As comunidades são auto-adminis-
tade destes não sobrevivam para ver uma tradas, encorajando interações e
comunidade estabelecida, devido aos for- compartilhamento. As crianças têm muitos
tes desafios envolvidos, inclusive na ob- adultos observando seu lazer, como há tam-
tenção de licenças e financiamento, como bém uma abundância de colegas e pessoas
também na construção da comunidade).31 para cuidar dos bebês. A maioria das comu-
Numa comunidade de co-habitação, as nidades oferece duas ou mais refeições co-
residências freqüentemente compartilham munitárias por semana, com uma média de
paredes com lares vizinhos e estão agrupa- comparecimento de 58% das famílias. Con-
das em torno de um pátio ou passarela. Veí- trastando com as refeições “rápidas” ofere-
culos estão restritos ao perímetro da comu- cidas por empresas de alimentação, que ca-
nidade. Esse desenho significa que essas co- racteristicamente servem alimentos proces-
munidades consomem menos energia e me- sados e embalados, como purê de batata ins-
nos materiais do que bairros cheios de resi- tantâneo ou pizza congelada, a abordagem
dências particulares. Um estudo de 18 co- das co-habitações para as refeições comu-
munidades nos Estados Unidos, em meados nitárias poupa tempo sem sacrificar a quali-
dos anos 90, constatou que, em comparação dade da comida. Na Comunidade Co-
ao período anterior à mudança para co-habi- Habitacional Nomad, no Colorado, por
tações, seus membros possuíam 4% menos exemplo, onde há duas refeições comunitá-
veículos, 25% menos lavadoras e secadoras rias por semana, os moradores gastam 2,5–
e 75% menos cortadores de grama. O espa- 3 horas a cada 5 a 6 semanas ajudando na
ço médio por domicílio nas 18 comunidades cozinha e na limpeza. Comparado com o
– incluindo a parcela de área comum de cada preparo de uma refeição familiar por dia, esse
unidade – foi de aproximadamente 130 m2, compartilhamento ocasional de esforço li-
dois terços do domicílio médio nos Estados bera até 9 horas de trabalho para cada famí-
Unidos em meados dos anos 90. O lia durante seis semanas.33

212
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA

Em muitos países em desenvolvimento, fiança, redes informais e solidariedade do que


o consumo coletivo é também mais viável em vilarejos com índices menores desses
em comunidades com uma forte base soci- bens sociais. E em Bangladesh, programas
al. (Vide Quadro 8-1.) Um estudo do Banco de coletas cooperativas de lixo (onde as pre-
Mundial de 64 vilarejos em Rajasthan, Ín- feituras não os forneciam) foram realizados
dia, por exemplo, comprovou que a conser- com sucesso em áreas onde certas formas
vação e o desenvolvimento de bacias de capital social – nesse caso, normas de
hidrográficas foram mais bem-sucedidos em reciprocidade e compartilhamento – eram
vilarejos que possuíam fortes níveis de con- bem desenvolvidas.34

QUADRO 8-1. A EXPERIÊNCIA DE GAVIOTAS: PRIORIZANDO O BEM-ESTAR

Gaviotas é um vilarejo com 200 habitantes na colombianas, um aquecedor de água solar


zona rural da Colômbia, com uma reputação pressurizado e uma moenda de mandioca a
mundial de desenvolvimento inovador. Sua pedal. As tecnologias enfatizam a qualidade de
abordagem é regida por uma forte vida desses aldeões, como também de outras
preocupação quanto à qualidade de vida do comunidades interessadas. Como questão de
vilarejo e ao meio ambiente natural. Seus princípio – e em linha com seu interesse
habitantes asseguram atendimento às principal em melhorar a qualidade de vida e não
necessidades básicas: os moradores nada apenas em gerar riqueza – os aldeões não
pagam pelas refeições, tratamento médico, patentearam suas invenções, que são livremente
educação e habitação. Todos os adultos têm disponibilizadas. Milhares de moinhos de
emprego, ou nos vários empreendimentos vento foram instalados por técnicos de
locais que fabricam coletores solares e Gaviotas por toda a Colômbia, tendo o desenho
moinhos de vento, na agricultura orgânica e sido copiado em toda a América Latina.
hidropônica ou em iniciativas florestais. Para os aldeões, bem-estar também significa
As necessidades sociais também são pisar leve no meio ambiente. Gaviotas é hoje
auto-suficiente em eletricidade, fazendo um uso
tratadas, através do ritmo das atividades
amplo de energia solar e eólica e do metano
cotidianas. Os membros trabalham juntos nos
produzido do esterco do gado. Seu antigo
negócios do vilarejo e fazem suas refeições
hospital com ar-condicionado e aquecimento
regularmente no grande refeitório, mesmo que
solar (hoje um centro de purificação de água) foi
cada residência tenha uma cozinha. Música e considerado por uma revista de arquitetura
outros eventos culturais fazem parte da vida japonesa como um dos 40 prédios mais
normal do vilarejo. Com o sustento e importantes do mundo. Sua agricultura é
necessidades sociais plenamente atendidas, a orgânica. E é o centro do maior projeto de
atmosfera é de paz: a comunidade nunca teve reflorestamento da Colômbia, tendo convertido
força policial, cadeia ou prefeitura em todos os dezenas de milhares de hectares de caatinga em
seus 33 anos de história. Normas comunitárias floresta, da qual a população extrai e vende
são estabelecidas pelos membros e impostas apenas resina, mesmo sabendo que a madeira
através de pressão social. seria mais lucrativa. Os aldeões acreditam que
Gaviotas é conhecida mundialmente por uma floresta sadia que gera recursos modestos é
suas muitas invenções, incluindo uma bomba melhor do que uma mata exaurida, que
d’água em que as crianças do vilarejo operam proporcione um benefício temporário.
brincando de gangorra, moinhos de vento _________________________________________
projetados para as brisas suaves das planícies FONTE: vide nota final 34.

213
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA

Criando Infra-Estruturas cipação comunitária na tomada de decisões.


O plano utiliza 66 indicadores para medir
de Bem-Estar seu desenvolvimento, tais como geração de
resíduos sólidos, custo de vida, percentual
Quando indivíduos ou comunidades bus-
de ruas principais com ciclovias, percentual
cam incrementar sua qualidade de vida,
de cobertura arbórea, comparecimento elei-
podem ficar presos a um conjunto de op-
toral, parcela de moradores voluntários,
ções disponíveis a eles. Produtos orgâni-
emissões de gases de estufa, número de
cos, garrafas reutilizáveis de bebida ou
desabrigados e índice de crimes. Muitas das
transportes públicos obviamente não po-
metas iniciais de Santa Mônica foram atin-
dem ser comprados se não estiverem à
gidas ou ultrapassadas, de acordo com a
venda. Regras e políticas que determinam
Prefeitura, e objetivos mais ambiciosos fo-
o conjunto de opções disponíveis, tais como
ram estabelecidos para 2010.36
subsídios ao petróleo, que tornam a ener-
Em âmbito nacional, o instrumento pa-
gia de combustíveis fósseis mais barata que
drão utilizado para medir a saúde social, o
a eólica, leis de uso do solo, que encorajam
PIB, é muito restrito para servir como
um zoneamento espaçado em loteamentos
referencial de bem-estar, pois soma todas
imobiliários, ou códigos de construção, que
as transações econômicas independentemen-
contestam o uso de materiais reciclados,
te de sua contribuição à qualidade de vida.
formam essencialmente a “infra-estrutura
Também ignora parcelas inteiras de ativida-
do consumo”. A criação de uma melhor
des extramercado que contribuem para o
qualidade de vida requer que todos nós –
bem-estar individual e comunitário, como
indivíduos e comunidades – ajudemos a
cuidados a crianças prestados por um dos
criar novas “infra-estruturas de bem-estar” pais que ficam em casa. Durante os anos
políticas, físicas e culturais.35 90, pesquisadores empenharam-se em de-
Alguns governos estão começando o senvolver medidas alternativas, como a Pe-
exercer sua autoridade ajudando a criar um gada Ecológica, o Indicador do Progresso
ambiente político conducente ao bem-es- Genuíno, o Índice de Desenvolvimento Hu-
tar. A mais básica de suas iniciativas é ava- mano e o Índice Planeta Vivo, a fim de com-
liar adequadamente a saúde comunitária ou plementar a perspectiva do PIB. (Vide tam-
social, como a cidade de Santa Mônica está bém Capítulos 1 e 7.) Uma dessas iniciati-
fazendo, através de um Plano Urbano Sus- vas, o Índice de Bem-Estar, desenvolvido
tentável. Implantado em 1994, o plano visa pelo consultor de sustentabilidade Robert
diminuir o consumo comunitário global, Prescott-Allen, destaca-se por sua
especialmente o uso de materiais e recur- abrangência. (Vide Quadro 8-2.)37
sos não-locais, não-renováveis, não- Além de recalibrar a medida da saúde
reciclados e não-recicláveis. Busca também ecológica, os governos estão utilizando seus
desenvolver uma diversidade de opções de extensos poderes legislativos e normativos
transportes, a fim de minimizar o uso de para determinar a forma como as pessoas
materiais perigosos ou tóxicos, para pre- consomem e os valores que uma socieda-
servar espaços abertos e encorajar a parti- de internaliza em relação ao consumo. A

214
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA

eliminação de subsídios perversos e a ado- E muitos governos na Europa estão aju-


ção de impostos sobre poluição, por exem- dando os trabalhadores e suas famílias a
plo, já se mostraram úteis na criação de tirarem um tempo extra a cada semana.
um meio ambiente mais limpo e uma me- Bélgica, Dinamarca, França, Holanda e
lhor qualidade de vida em muitos países Noruega hoje têm jornadas semanais de 35
europeus. (Vide também Capítulo 5.) a 38 horas, que, além de liberar tempo va-
lioso para os trabalhadores, freqüentemente
QUADRO8-2.MEDINDOOBEM-ESTAR ajudam a criar novos empregos. A Holanda
tem duas abordagens criativas na redução
O Índice de Bem-Estar utiliza 87 da jornada de trabalho. Os empregadores
indicadores para medir o bem-estar
humano e ecológico – desde a expectativa concedem os mesmos benefícios e opor-
de vida e taxa de matrículas escolares até a tunidades de promoção tanto a trabalhado-
extensão do desmatamento e níveis de res em meio turno quanto àqueles em tem-
emissões de carbono. Os 87 indicadores
podem ajudar os países a identificarem as po integral, tornando o trabalho em meio
áreas onde sua qualidade de vida esteja turno atraente para muitos. E o governo
sob impacto. Os valores da variedade de encoraja pais com crianças pequenas a tra-
indicadores são padronizados e somados
numa pontuação única, para facilitar a balharem o equivalente a 1,5 emprego para
comparação em 180 países. os dois, liberando mais tempo para atender
Os resultados são reveladores: cerca de à demanda maior de tempo no cuidado de
dois terços da população mundial vivem
em países com pontuação fraca ou baixa crianças pequenas. Além das reformas à jor-
para o bem-estar humano. Apenas a nada semanal de trabalho, muitos países
Noruega, Dinamarca e Finlândia figuram concedem férias familiares pagas para pais
como as melhores nos cinco níveis de
classificação. Enquanto isso, países com
com o primeiro filho. A Suécia, por exem-
uma pontuação ambiental fraca ou baixa plo, concede 15 meses de férias por crian-
cobrem quase a metade da superfície ça, pagando até 80% do salário, compara-
terrestre. E nenhum país recebeu uma boa
classificação ambiental.
do com as 12 semanas de férias sem re-
As medidas separadas de bem-estar muneração que são oferecidas nos Esta-
humano e ambiental do Índice ajudam a dos Unidos.38
cristalizar um objetivo de desenvolvimento Intervenções governamentais como
ideal: melhorar a vida das pessoas com menor
impacto possível ao meio ambiente. essas criam um ambiente familiar menos
Realmente, o Índice revela que o atendimento estressante. A Finlândia, por exemplo,
às necessidades das pessoas pode ser possui políticas muito fortes de apoio ao
realizado com uma variedade de custos
ambientais. A Holanda e Suécia têm, emprego de mães, inclusive férias remu-
aproximadamente, a mesma pontuação de neradas, isenção fiscal e recursos públi-
bem-estar humano, porém a Holanda está cos para cuidados infantis e outras medi-
muito baixa em saúde ambiental. Isso sugere das. (Em um estudo, a Finlândia foi a pri-
que a forma como uma nação atinge seus
objetivos de desenvolvimento é tão meira entre 14 nações na concessão des-
importante como se os atinge. ses benefícios.) Um estudo em 2001 do
_________________________________________ benefício psicológico dessas medidas para
FONTE: vide nota final 37.
os pais constatou que, contrariamente aos

215
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA

Estados Unidos, onde a paternidade tende cesso de “orçamento participativo” desde


a ser associada a fraco bem-estar psico- 1989, envolvendo os cidadãos diretamente
lógico, devido ao estresse envolvido e fal- nas decisões de alocação do orçamento
ta de apoio familiar, a paternidade na Fin- municipal. O processo gerou maior trans-
lândia correlacionou-se de forma neutra parência e responsabilidade governamen-
ou positiva com o bem-estar psicológico. tal, redução da parcela da receita urbana
Para os pais, os resultados foram forte- consumida pela folha de pagamento e uma
mente positivos, mas para as mães um redução no percentual de contratos adjudi-
pouco menos, indicando que o apoio para cados de forma paternalista. Também le-
elas poderia ser reforçado.39 vou a aumentos no volume de dinheiro gas-
Atingir a clareza sobre a importância da to em educação, serviços básicos e infra-
prestação de serviços públicos é fundamen- estrutura urbana – iniciativas que melhora-
tal para mudar a infra-estrutura jurídica e ram a qualidade de vida dos seus habitan-
política do bem-estar. A grande priorização tes. Além disso, o processo mobilizou mais
do consumo privado em muitos países nas pessoas a cada ano, com 40.000 dos 1,3
últimas décadas tem freqüentemente dado milhão de habitantes participando do pro-
má reputação aos serviços públicos. Porém cesso orçamentário de 1999. A maioria en-
as sociedades pagam um preço social quan- volve-se comparecendo a reuniões de bair-
do o consumo privado é perseguido às cus- ro, e assim o processo ajudou a aumentar
tas de investimentos públicos. Um relatório o envolvimento comunitário, permitiu o
de 2003 pela Fabian Society, no Reino Uni- surgimento de novos líderes e capacitou
do, demonstra isso. A privatização de esco-
algumas das comunidades mais pobres de
las públicas, observou o relatório, pode re-
Porto Alegre. O orçamento participativo já
sultar no fato de as melhores escolas atraí-
se espalhou para 140 comunidades – 2,5%
rem os melhores estudantes, enquanto as
piores escolas recebem uma parcela despro- dos municípios brasileiros.41
porcional de casos disciplinares. Transpor- Atenção para o projeto de infra-estru-
te de ônibus privatizado pode deixar rotas tura física também é crucial para a melhoria
não-lucrativas sem serviço e as rotas me- da qualidade de vida. Residências suburba-
lhores superexploradas, forçando mais pes- nas centradas no automóvel, por exemplo,
soas a utilizarem seus automóveis, como têm sido muito criticadas, por enfraquece-
ocorreu no Reino Unido, quando serviços rem a coesão comunitária, devido, em par-
locais foram privatizados.40 te, ao tempo necessário para o deslocamen-
Naturalmente, decidir o que deve ser to para o trabalho. O cientista social Robert
fornecido publicamente é um delicado pro- Putnam observou que cada 10 minutos
blema político, mas um em que o público adicionais diários está associado a um
pode e deve estar envolvido. Um exemplo declínio de 10% no envolvimento em ques-
inspirador do envolvimento público no es- tões comunitárias. Com o americano adul-
tabelecimento de prioridades para os recur- to comum gastando hoje 72 minutos por
sos públicos vem de Porto Alegre, no Bra- dia atrás do volante do carro, quase sem-
sil. As autoridades locais aplicaram um pro- pre sozinho, a coesão comunitária só pode

216
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA

sofrer. Em 2003, loteamentos suburbanos Copenhague, por exemplo, cafés ao ar li-


expandidos também foram criticados por vre, praças públicas e atores de rua atraem
seus efeitos adversos à saúde. Um estudo o público no verão, enquanto ringues de
nos Estados Unidos, com mais de 200.000 patinação, bancos aquecidos e aquecedores
pessoas em 448 condados, constatou que a gás nas esquinas tornam o inverno
aqueles que viviam em comunidades su- aprazível. E a cidade esforçou-se para faci-
burbanas de baixa densidade gastavam litar o ciclismo, não só oferecendo ciclovias,
menos tempo andando e pesavam 2,7 qui- mas também disponibilizando bicicletas me-
los mais, em média, do que aqueles que diante um depósito modesto, reembolsado
residiam em áreas densamente habitadas. quando a bicicleta é devolvida.44
Constatou-se também que os moradores Essas inovações de planejamento
suburbanos tinham a mesma propensão à ocorrem quando uma cidade leva a sério
pressão alta que os fumantes.42 a priorização da qualidade de vida. Uma
Enquanto isso, projetos urbanos podem demonstração dessa seriedade vem de
repelir – ou atrair ciclistas. Pesquisas reali- Austin, no Texas, que aplicou um pro-
zadas nos Estados Unidos indicam que uma grama de incentivo ao conhecimento
das razões principais dada pelos america- como Matriz de Critérios de Crescimen-
nos por não andarem de bicicleta é que to Inteligente, para controlar onde e como
consideram o ciclismo inseguro. E é. Me- o crescimento ocorre e realçar a qualida-
dido por quilômetro percorrido, o ciclismo de de vida. A cidade utilizou uma série de
nos Estados Unidos é mais perigoso do que critérios para pontuar projetos imobiliá-
qualquer outro meio de transporte. Toda- rios, com projetos de pontuação alta ha-
via, a taxa de acidentes com ciclistas na bilitando-se a isenções de impostos. O
Holanda e Alemanha é apenas um quarto analista Guy Dauncey descreve os crité-
da dos Estados Unidos, principalmente por- rios de incentivo desta forma:
que essas nações investem em ciclovias, Pode-se obter maior número de
semáforos que priorizam ciclistas e outros pontos para um local no centro e
equipamentos que tornam o ciclismo se- para um local a um quarteirão de
guro. A Holanda duplicou a extensão de sua um ponto de ônibus, ou dois quar-
malha de ciclovias nos últimos 20 anos e a teirões de uma estação de metrô.
Alemanha triplicou sua malha.43 Há pontos para recuos menores,
Quando são bem planejadas, as cidades varandas, becos, ruas estreitas e
podem ser locais atraentes para as pessoas orientação comunitária. Há pon-
passarem seu tempo, encorajando maior tos para uso misto residencial, co-
interação cívica. Ambos os fatores tendem mercial e varejo, para unidades
a incrementar a qualidade de vida. Ao con- residenciais acima de pontos co-
verter ruas em calçadões, misturando habi- merciais e pelo encorajamento do
tações com lojas, criando praças e parques uso da rua por pedestres. A Ma-
e tomando outras medidas, os centros ur- triz também concede pontos por
banos podem ser locais estimulantes. Em facilitar ciclismo, redução de trân-

217
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA

sito, vias verdes e habitação aces- de. Na Suécia, toda a publicidade é proi-
sível, utilizar empreiteiras e arqui- bida nas programações direcionadas a cri-
tetos locais, eficiência hídrica e anças, um grupo altamente influenciável.
energética, incorporar um merca- E nos Estados Unidos anúncios de cigar-
do e outros estabelecimentos de ro foram proibidos na televisão há déca-
varejo, preservar o patrimônio das. A União Européia recentemente am-
histórico e reutilizar prédios exis- pliou sua proibição de propaganda de ci-
tentes. Há pontos por paisagismo, garro na televisão para cobrir outra mídia,
planejamento viário, por ser con- incluindo jornais, revistas, rádio e a Internet,
sistente com projetos locais e por até 2005, como também eventos esportivos
participação e apoio locais.45 até 2006. O estabelecimento de limites na
Algumas empresas também estão co- publicidade é um tema sensível, em virtude
meçando a reconhecer que podem tornar das preocupações com a liberdade de ex-
sua própria infra-estrutura física mais pressão, porém esses exemplos demonstram
aprazível para o bem-estar dos funcio- que os países podem atingir um equilíbrio
nários. Na nova sede internacional da sadio entre garantia da liberdade de expres-
Sprint, em Kansas, uma empresa de tele- são e saúde pública.47
comunicações, os carros devem estacio- Enquanto isso, a própria publicidade está
nar em garagens na extremidade do sendo utilizada como um instrumento para
campus corporativo, forçando os funci- combater o alto número de mensagens de
onários a andarem uma certa distância consumo que bombardeia os consumido-
até o trabalho. Os prédios possuem ele- res. O grupo canadense Adbusters patro-
vadores lentos, o que encoraja o uso das cina “descomerciais” de televisão, que en-
escadas. E a área de alimentação no com- corajam os telespectadores a reduzirem o
plexo está localizada fora dos escritóri- consumo, deixarem seus carros na gara-
os, em vez de estarem convenientemente gem ou desligarem seus televisores. Alguns
no meio deles, para que os funcionários governos estão colocando publicidade ou
gastem alguma energia para almoçarem. anúncios de serviço público na televisão e
Esse projeto inovador reflete um enten- outros veículos para encorajar o consumo
dimento de que promoção do bem-estar mais sustentável, como fez o governo da
nem sempre é sinônimo de maximização Tailândia, através de comerciais humorís-
de conforto ou conveniência.46
ticos na televisão pedindo aos consumido-
Novas infra-estruturas políticas e físi-
res que gastem menos energia e água. O
cas de consumo estão sendo comple-
Programa das Nações Unidas para o Meio
mentadas por um novo e florescente
Ambiente (PNUMA) adotou uma aborda-
arcabouço cultural, particularmente na
promoção de uma ética de consumo para gem diferente, trabalhando com anuncian-
o bem-estar. Nesse sentido, as pessoas tes no desenvolvimento de propaganda que
estão cada vez mais ativas na exigência encoraje as pessoas a utilizar produtos sus-
de um melhor padrão ético na publicida- tentáveis. (Vide Quadro 8-3.)48

218
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA

QUADRO8-3.ENCORAJANDOANUNCIANTESAPROMOVERASUSTENTABILIDADE
O marketing é uma ferramenta poderosa, que direcionado a empresas e profissionais de
está freqüentemente implicada no estímulo ao marketing, para convencê-los de que “longe
consumo – e, portanto, em minar os esforços de deprimir vendas, os princípios
de se construir um mundo sustentável. Porém sustentáveis poderão ser essenciais à
o Programa das Nações Unidas para o Meio proteção tanto da saúde da marca quanto da
Ambiente está tentando transformar os lucratividade futura”. Em parceria com
marqueteiros em aliados, recrutando-os para Sustentabilidade e o PNUMA, a Associação
promoverem a sustentabilidade. Em 1999, o Européia de Agências de Comunicações
Fórum do PNUMA sobre Publicidade e elaborou um guia para as agências de
Comunicações foi estabelecido para criar uma publicidade descrevendo o mercado
conscientização de “consumo sustentável” – internacional crescente de consumo
um consumo que melhore a qualidade de vida sustentável. E a Associação Mundial de
ao mesmo tempo em que minimize as Profissionais de Pesquisa solicitou um
desigualdades sociais e ecológicas – e levantamento das reações do consumidor às
encorajar anunciantes e marqueteiros a questões de sustentabilidade.
promoverem-na. Ademais, o PNUMA está colaborando com
As principais associações empresariais setores industriais específicos – notadamente
dentro da indústria da publicidade e o automotivo, turístico e varejista – para
marketing responderam através do ajudar a desenvolver estratégias inovadoras de
desenvolvimento de publicações pró- marketing que avancem na promoção de
sustentabilidade, em colaboração com o opções sustentáveis.
PNUMA, e organizando sessões especiais
sobre desenvolvimento sustentável nos seus – Solange Montillaud-Joyel,
congressos internacionais. Por exemplo, a Programa das Nações Unidas para o
agência McCann-Ericson publicou, Meio Ambiente
juntamente com o PNUMA, um folheto _____________________________________________
intitulado “Será que Sustentabilidade Vende?” FONTE: vide nota final 48.

A educação também é importante na ções incessantes da publicidade sobre o


reformulação cultural para uma melhor desejo de consumo. No Brasil, o grupo não-
qualidade de vida. Austrália e Canadá hoje governamental Instituto Akatu vem traba-
instituíram uma disciplina de mídia no seu lhando com escolas, empresas e escotei-
currículo escolar. Esses programas ajudam ros para educar os participantes a “consu-
a conscientizar os estudantes sobre como mir com consciência”. A organização utili-
a mídia e a publicidade determinam seus za uma variedade de instrumentos – desde
valores e cultura. E os estudantes apren- a Internet até panfletos, gibis e jogos – para
dem a diferenciar entre a realidade e a ensinar as conseqüências ambientais e so-
hipérbole marqueteira – seja em comerci- ciais do consumo e para informar as pes-
ais ou incorporada na programação. A edu- soas sobre como pressionar governos por
cação do consumo, particularmente, pode mudanças de política que ajudarão a pro-
ser um corretivo necessário às proclama- mover um consumo consciente.49

219
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA

Conquistando a Boa Vida am as pessoas de forma construtiva e


prazerosa – para concertos públicos, festi-
Escondida por trás da crescente insatisfa- vais ou simplesmente interações informais
ção com a sociedade de consumo está uma viabilizadas em mercados ao ar livre. Eco-
pergunta simples: para que serve uma eco- nomias teriam um caráter local, para que
nomia? As respostas tradicionais, incluin- produtos, talentos e bens característicos de
do prosperidade, empregos e ampliação de uma região fossem preferidos às importa-
oportunidades, parecem bastante lógicas – ções de locais distantes. Ao reforçar a teia
até que se tornem disfuncionais. Quando a de relações entre agricultor e cidadão ur-
bano, artesão e cliente, produtor e consu-
prosperidade nos dá excesso de peso, o
midor, as economias locais adquirem um
trabalho excessivo nos deixa exaustos e um
caráter de “escala humana” que economi-
conceito “de poder ter tudo” nos leva a
as distantes freqüentemente carecem.
negligenciar a família e os amigos, come-
Cultivar relacionamentos requer tempo
çamos a questionar mais profundamente a
e pode envolver o confisco de muitos dos
direção de nossas vidas, como também o
“ladrões de tempo” da vida moderna, a
sistema que nos guia nessa direção. Os si-
começar com o trabalho. A experiência de
nais emergentes em algumas nações indus-
vários países europeus demonstrou que a
trializadas – e também em alguns países
semana de 40 horas, claramente, não é sa-
em desenvolvimento – sugerem que mui-
crossanta e, portanto, as pessoas podem
tos de nós estão querendo mais da vida do
chegar em casa mais cedo ou usufruírem
que uma casa maior e um carro novo. As
fins de semana mais longos para ficar com
pessoas anseiam por algo mais profundo:
seus filhos ou amigos. E habitações que não
vidas mais felizes, dignas e significativas –
sejam isoladas em subúrbios espalhados
numa palavra, bem-estar. E esperam que
suas economias sejam um instrumento para podem evitar as viagens diárias, que rou-
esse fim, e não um obstáculo. bam muitas pessoas de quantidades impres-
sionantes de tempo: um percurso de mais
de uma hora por dia, usual para muitos
suburbanos americanos, significa que um
Todos precisarão tornar-se trabalhador gasta o equivalente a seis se-
exímios em lidar com uma manas de trabalho no trânsito anualmente.
questão-chave: quanto é demais? O foco da sociedade em instrumentos pou-
padores de tempo, cuja adoção só tem le-
vado a vidas ainda mais frenéticas, precisa
As sociedades com alta qualidade de ser substituído por estilos de vida poupa-
vida são centradas nas pessoas, com aten- dores de tempo, mais simples.50
ção adequada à promoção de interações Uma sociedade de bem-estar poderá
entre seres humanos. Áreas urbanas pla- proporcionar aos consumidores uma vari-
nejadas com foco em pedestres, lazer e edade suficiente de escolhas genuínas, em
expressão humana, por exemplo, reuniri- vez de uma gama de produtos praticamen-

220
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA

te idênticos. Empresas seriam encorajadas, terna coletora de água da chuva, por exem-
através de incentivos econômicos, a for- plo, ou um vasilhame de compostagem ou
necer o que os consumidores realmente horta. Em suma, aprenderiam a amar a na-
procuram – transporte confiável, não ne- tureza e a se tornar seus defensores. Como
cessariamente um carro; ou produtos sa- o finado biólogo de Harvard, Stephen Jay
borosos, sazonais e locais, em vez de fru- Gould, disse: “Precisamos desenvolver um
tas e legumes transportados de outro país; laço emocional e espiritual com a natureza,
ou relacionamentos fortes com vizinhos em pois não podemos lutar para salvar aquilo
lugar de uma casa grande com extenso ter- que não amamos”.52
reno. Escolhas seriam redefinidas, para sig- Finalmente, uma sociedade focada no
nificarem opções que melhorem a qualida- bem-estar asseguraria que todos nela ti-
de de vida, em vez de opções entre produ- vessem acesso a alimentos sadios, água
tos ou serviços individuais. limpa e saneamento, educação, tratamen-
Para os indivíduos, a escolha genuína to de saúde e segurança física. É pratica-
provavelmente incluiria a escolha de não mente impossível imaginar uma socieda-
consumir. Todos precisarão tornar-se exí- de de bem-estar que não propicie as ne-
mios em lidar com uma questão-chave: cessidades básicas de uma pessoa. E, mais
quanto é demais? As respostas serão dife- do que isso, é inconcebível que uma soci-
rentes de pessoa a pessoa, porém uma di- edade de bem-estar satisfaça-se com seu
retriz que vale a pena considerar é uma do próprio sucesso quando outros, além dos
filósofo chinês Lau Tzu: “Saber quando se seus limites, sofrem em larga escala. Re-
tem o suficiente é ser rico”. Consumidores almente, aquelas sociedades que pontuam
que abraçam essa sabedoria antiga dão um alto no Índice de Bem-Estar, especialmente
grande passo em direção à fuga da tirania no norte da Europa, também possuem al-
da comparação social e marketing que guns dos programas de ajuda externa mais
move grande parte do consumo moderno.51 generosos do mundo.53
As pessoas numa sociedade de bem-es- Fazer a transição para uma sociedade
tar também desenvolveriam relacionamen- de bem-estar será, sem dúvida, um desa-
tos íntimos com o meio ambiente natural. fio, dado o hábito das pessoas de coloca-
Reconheceriam as árvores em seus parques rem o consumo no ápice dos valores soci-
e as flores em seus jardins com a mesma ais. Porém, qualquer movimento nessa di-
facilidade com que identificam logomarcas reção começa com duas grandes vantagens.
corporativas. Entenderiam os fundamentos Primeiro, a família humana hoje tem uma
ambientais de sua atividade econômica: de base de conhecimento, tecnologia e espe-
onde vem sua água, para onde vai seu lixo e cialização que supera em muito tudo o que
se a energia que sua usina usa para gerar qualquer geração anterior tenha conheci-
eletricidade é carvão, nuclear ou renovável. do. Ironicamente, essa base é o produto de
Provavelmente gostariam de desenvolver um sistema econômico orientado para al-
projetos em casa que os ajudassem a viver tos níveis de consumo. Mas nossas esco-
mais intimamente com a natureza – uma cis- lhas desenvolvimentistas do século XX,

221
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA

direcionadas para o consumo, independen- qualidade de vida pode ser mais imperfei-
temente de quão mal-orientadas sejam, po- to em outras sociedades industrializadas,
dem ser resgatadas agora, assegurando que mas os sinais estão lá: trabalhadores que
o estoque moderno de conhecimento e desejam mais tempo livre do que aumento
tecnologia seja investido no bem-estar, e de salário, compradores que escolhem ali-
não na continuação do acúmulo material. mentos orgânicos e outros produtos “éti-
Uma segunda vantagem é simples, po- cos”, pessoas que buscam relações fami-
rém poderosa: para muitas pessoas, uma liares mais fortes. Quando os componen-
vida de bem-estar é preferível a uma vida tes de uma sociedade de bem-estar são
de alto consumo. O ex-Primeiro-Ministro disponibilizados, a receptividade é, quase
da Holanda Ruud Lubbers captou essa re- sempre, extraordinariamente positiva.54
alidade fundamental quando observou que, Ao cultivar relacionamentos, facilitar
nos seus esforços para construírem uma escolhas sadias, aprender a viver em har-
alta qualidade de vida, os holandeses tra- monia com a natureza e atender às neces-
balham jornadas limitadas: “Preferimos sidades básicas de todos, as sociedades
assim. Desnecessário dizer que há mais podem mudar de uma ênfase no consumo
espaço para todos aqueles aspectos im- para uma ênfase no bem-estar. Isso pode-
portantes de nossas vidas que não são rá ser uma tamanha conquista no século
parte de nossos empregos, pelos quais não XXI, como os tremendos avanços em
somos pagos e para os quais nunca há tem- oportunidade, conveniência e conforto fo-
po suficiente”. O desejo de uma melhor ram no século XX.

222
Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA

Notas
Prefácio Estado do Mundo: Um Ano em
Restrospecto
1. Gary Cross, An All-Consuming
Century. Why Commercialism Won in Outubro 2002. Programa das Nações Unidas
Modern America (Nova York: Columbia para o Meio Ambiente (PNUMA), Finance
University Press, 2000). Initiative Climate Change Working Group,
2. Matthew Bentley, Sustainable Climate Change and the Financial Services
Consumption: Ethics, National Indices and Industry (Nairobi: 2002); Colin Woodard,
International Relations (dissertação para “Popularity Burdens World’s Favorite
doutorado, American Graduate School of Coastline”, Christian Science Monitor, 10/10/
International Relations and Diplomacy, 02; International Food Policy Research
Paris, 2003). Institute (IFPRI) e International Water
Management Institute, Global Water Outlook
3. Citação de Lebow de Vance Packard, to 2025: Averting an Impending Crisis
The Waste Makers (Nova York: David Mckay, (Washington, DC: IFPRI, 2002); “Pelo Menos
1960). 300 Mil Crianças Trabalham em Minas da
4. Água doce, de Igor A. Shiklomanov, Colômbia”, Reuters, 31/10/02.
Assessment of Water Resources and Water Novembro 2002. Coalition to Stop the Use of
Availability in the World (St. Petersburg, Child Soldiers, Child Soldiers 1379 Report
Russia: State Hydrological Institute, 1996), (Londres: novembro de 2002); UNESCO,
Janet L. Sawin, “Fossil Fuel Use Up”, in UNESCO Adds 18 New Sites to World Network
Worldwatch Institute, Vital Signs 2003 of Biosphere Reserves”, press release (Paris:
(Nova York: W.W. Norton & Company, 8/11/02); “Galicia (Spain) Oil Spill, November
2003), pp. 34-35. 2002”, Earthnet, 20/11/02.
5. Cifra atual e crescimento calculados, de Dezembro 2002. World Food Programme,
“Car Sales Booming in China”, All Things “Hunger Crisis Set to Worsen in 2003 Despite
Considered, National Public Radio, 17/09/03, Fresh Donations”, press release
de “China’s Private Car Ownership Tops 10 (Joanesburgo: 30/12/02); Gareth Harding, “EU
Million”, People’s Daily, 14/06/03, e de Liu Bans Tobacco Ads”, UPI Wire, 2/12/02;
Wei, “China’s Demand of Cars to Exceed 4.2 veículos de Chang-Ran Kim, “The Future is
Million in 2003”, People’s Daily, 30/07/03. Here – Japan Launches Fuel Cell Cars”,
6. Alan Durning, How Much Is Enough? Reuters, 3/12/02, e de Deena Beasley, “Honda,
(Nova York: W.W. Norton & Company, 1992). Toyota Deliver Fuel Cell Cars in California”,

223
Estado do Mundo 2004
NOTAS, UM ANO EM RESTROSPECTO

Reuters, 3/12/02; “Wind Around the World”, Nações Unidas World Water Development
Renew On Line, novembro – dezembro de 2002, Report (Paris: UNESCO Publishing and
em w w w - t e c . o p e n . a c . u k / e e r u / n a t t a / Berghahn Books, 2003).
renewonline/rol40/11.htm, visitado em 07/10/
Abril 2003. J. Travis, “Moving On: Now The
03; Human Rights Commission of Pakistan,
Human Genome is Really Done”, Science
“461 Honor Killings of Women Reported in
News, 19/04/03; “Sea Burial for Canada’s Cod
Two Provinces”, UN Wire, 12/12/02; “Warm Fisheries”, Science News, 17/05/03;
Artic Summer Melted Much Ice”, Science Organização Mundial da Saúde (OMS) e
News, 21 e 28/12/02. UNICEF, Africa Malaria Report (Genebra:
Janeiro 2003. Natural Resources Defense OMS, abril de 2003); Foreign Policy Magazine
Council, Rewriting the Rules (Nova York: 31/ e Center for Global Development, “New
12/02); David Karoly e James Risbey, Global Ranking: Netherlands is Most Development-
Warming Contributes to Australia’s Worst Friendly Nation”, press release (Washington,
Drought (Sidney: World Wide Fund for DC: 28/04/03).
Nature Australia, 15/01/03); Clive James, Maio 2003. Ransom Myers and Boris Worm,
“Global Status of Commercialized Transgenic “Rapid Worldwide Depletion of Predatory
Crops: 2002”, press release (Manila: Fish Communities”, Nature, 15/05/03; WHO,
International Service for the Acquisition of “WHO Framework Convention Tobacco
Agri-biotech Applications, 16/01/03). Control”, em www.who.int/features/2003/08/
Fevereiro 2003 PNUMA, “Power Stations en, visitado em 08/10/03; Banco Mundial,
Threaten People and Wildlife with Mercury “Multilateral Initiative to Manage South
Poisoning”, press release (Nairobi: 3/02/03); America’s Largest Groundwater Reservoir
Clean Edge, Inc., Clean Energy Trends 2003 Launched”, press release (Montevidéu,
(São Francisco: 20/02/03); “UNICEF Official Uruguai: 23/05/03).
Cites ‘Largest Slave Trade in History’”, UN Junho 2003. “Water Starts to Fill Three
Wire, 20/02/03; Department of Trade and Gorges Dam”, UN Wire, 2/06/03; PNUMA,
Industry, Our Energy Future – Creating a “New Initiative to Combat Growing Global
Low Carbon Economy, Energy White Paper Menace of Environmental Crime”, press
(Londres: fevereiro de 2003); Divisão de release (Nairobi: 2/06/03); Otto Pohl, “World
População das Nações Unidas, World Panel Will Now Act to Conserve the Whale
Population Prospects: The 2002 Revision Population”, New York Times, 17/06/03;
(Nova York: fevereiro de 2003). McDonald’s Corporation, “McDonald’s Calls
Março de 2003. “World Bank Says for Phase-Out of Growth Promoting
Companies Paid $1 Billion in Extortion Antibiotics in Meat Supply, Establishes Global
Money”, UN Wire, 7/03/03; Sid Perkins, Policy on Antibiotic Use”, press release (Oak
“Warmer Climates Accelerate Life Cycles of Brook, IL: 19/06/03); “Deforestation of
Plants, Animals”, Science News, 8/03/03; Amazon is on the Rise”, UN Wire, 26/06/03.
Global Policy Forum, “Iraq Crisis”, em Julho 2003. OMS, “SARS Outbreak
www.globalpolicy.org/ security/issues/ Contained Worldwide”, press release
irqindx.htm. Visitado em 8/10/03; Nações (Genebra: 5/07/03); Roger Thurow, “AIDS
Unidas, Water for People, Water for Life: The Fuels Famine in Africa: As Swaziland Farmers

224
Estado do Mundo 2004
NOTAS, UM ANO EM RESTROSPECTO E CAPÍTULO 1

Die, Their Land Goes Unplanted”, Wall Street dados em Liu Wei, “China’s Demand of Cars to
Journal, 9/07/03; “Europe Adopts Climate Exceed 4.2 Million in 2003”, People’s Daily, 30/
Emissions Trading Law”, Environmental 07/03; vendas de automóveis, de “Car Sales
News Service, 22/07/03. Booming in China”, All Things Considered,
National Public Radio, 17/09/03; “150mn
Agosto 2003. PNUMA e World Conservation
Chinese Families to Buy Cars in Next 15 Years”,
Monitoring Centre (WCMC), “Wild Forests
‘Living Museums’of Virtually Extinct People’s Daily, 12/03/03; frota dos EUA, de
Species”, press release (Cambridge: WCMC, Ward’s Communications, Ward’s Motor Vehicle
4/08/03); “EU ‘Regrets’ US Action on GM Facts & Figures 2001 (Southfield, MI: 2001),
Crops”, BBC World News, 8/08/03; Nancy p. 38; atitudes dos chineses, de “Car Sales
Gibbs, “Lights Out”, Time, 25 August 2003; Booming”, op. cit., esta nota.
International Council on Mining and Metals, 3. Julie Chao, “Pacific Currents: China
“Landmark ‘No-go’ Pledge from Leading Trying to Cope With Burgeoning Car Culture”,
Mining Companies”, press release (Londres: Seatle Post-Intelligencer, 8/09/03;
20/08/03); Denis Hémon e Eric Jougla, investimentos estrangeiros de Clay Chandler,
“Surmortalité liée à la Canicule d’Août 2003 – “China Goes Car Crazy: Suburbs, Drive-ins,
Rapport d’étape” (Paris: National Institute for Car Washes – This Revolution Has Wheels”,
Health and Medical Research, 25/09/03). Fortune, 11/08/03.
Setembro 2003. “Northern Hemisphere 4. Matthew Bentley, Sustainable
Temperature Hits 2,000 Year High”, Consumption: Ethics, National Indices and
Environmental News Service, 2/09/03; International Relations (dissertação de
PNUMA, “World’s Protected Areas Top doutorado, American Graduate School of
1.000,000, Exceed Size of India and China – International Relations and Diplomacy, Paris,
UN Report”, press release (Nairobi: 9/09/03); 2003).
Patrick Smith, “Poor Nations Keep Heat on
Trade”, Christian Science Monitor, 30/09/03; 5. Projeção de população, de Nações
World Meteorological Organization, Unidas, World Population Prospects, The
“Antarctic Ozone Hole Unusually Large”, 2002 Revision (Nova York: 2003).
press release (Genebra: 16/09/03); “Chile 6. U.S. Department of Transportation,
Indians End Protest Against Hydro-Power Bureau of Transportation Statistics, National
Dam”, Reuters, 19/09/03. Household Travel Survey 2001 Highlights
Report (Washington, DC: 2003); SUVs de Oak
Capítulo I. Ridge National Laboratory, Transportation
Energy Data Book, Edition 22 (Oak Ridge, TN:
O Estado do Consumo Hoje
setembro de 2002), p. 7-1; tamanho das casas,
de Joint Center for Housing Studies, State of
1. Wayne W. J. Xing, “Shifting Gears”, The
the Nation’s Housing 2003 (Cambridge, MA:
China Business Review, novembro –
Harvard University, 2003), p. 32; tamanho da
dezembro de 1997.
família de U.S. Department of Agriculture,
2. “China’s Private Car Ownership Tops 10 Economic Research Service, Race and Ethnicity
Million”, People’s Daily, 14/06/03; 11.000 por in Rural America: Marital Status and
dia é um cálculo do Worldwatch, baseado em Household Structure, em www.ers.usda.gov/

225
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 1

Briefing/RaceAndEthnic/familystructure.htm, 11. Bentley, op. cit., nota 4.


atualizado em 24/12/02; indústria da obesidade,
12. Programa das Nações Unidas para o
de Jui Chakravorty, “Catering to Obese
Meio Ambiente (PNUMA), “UNEP Urges Asia-
Becoming Big Business”, Reuters, 4/l0/03.
Pacific Towards a Cleaner, Greener
7. Gastos do consumo privado (em dólares Development Path”, press release (Nairobi: 19/
de 1995) são cálculos do Worldwatch, baseados 05/03); frota de automóveis dos EUA, de
em Banco Mundial, World Development Ward’s Communications, op. cit., nota 2, p. 38;
Indicators Database, em media.worldbank.org/ Matthew Bentley, “Forging New Paths to
secure/data/qquery.php, visitado em 2/06/03. Sustainable Development”, UNEP Background
Quadro 1-1 dos seguintes: Nações Unidas, op. Paper, Asia Pacific Expert Meeting on Promoting
cit., nota 5, p. 1; consumo projetado de carne dos Sustainable Consumption and Production
americanos e todos os dados populacionais, da Patterns, Yogyakarta, Indonésia, 21-23/05/03.
Divisão de População das Nações Unidas, banco
de dados on-line, em esa.un.org/unpp, visitado 13. Calorias diárias, de FAO, op. cit., nota 7;
em 20/09/03, e da Organização de Alimento e número de subnutridos de idem, The State of
Agricultura das Nações Unidas (FAO), FAOSTAT Food Insecurity in the World, as cited in Nações
Statistical Database, em apps.fao.org, atualizado Unidas Statistical Division, Millennium
em 30/06/03; emissões de carbono são cálculos Indicators Database, em unstats.un.org/unsd/
do Worldwatch, baseados em dados de Molly O. mi/mi_series_xrxx.asp?row_id=640, visitado em
Sheehan, “Carbon Emissions and Temperature 23/10/03; Tabela 1-4, de Banco Mundial, World
Climb”, em Worldwatch Institute, Vital Signs 2003 Development Indicators 2000 (Washington,
(Nova York: W.W. Norton & Company, 2003), pp. DC, 2000), pp. 222-24.
40-41; tamanho da família e consumo de energia,
de Nico Keilman, “The Threat of Small 14. Calorias de produtos animais, de FAO,
Households”, Nature, 30/01/03, p. 489. Tabela 1- op. cit., nota 7; consumo de carne, de Danielle
1 contém cálculos do Worldwatch, baseados em Nierenberg, “Meat Production and
dados populacionais e gastos do consumo Consumption Grow”, em Worldwatch Institute,
privado do Banco Mundial, op.cit., esta nota; os op. cit., nota 7, p. 30; fast-food na Índia, de
totais somam 98 e 99%, devido à indisponibilidade Saritha Rai, “Taste of India in U.S. Wrappers”,
de dados para países pequenos. New York Times, 29/04/03, e de Seth Mydans,
“Clustering in Cities, Asians Are Becoming
8. Números da pobreza são estimativas do
Obese”, New York Times, 13/03/03;
Banco Mundial, citadas em Millennium
subnutridos na Índia, do Programa de
Development Goals Web site, em
Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD),
www.developmentgoals.com/ Poverty.htm.
Human Development Report 2003 (Nova York:
9. Tabela 1-2, de Bentley, op. cit., nota 4. Oxford University Press, 2003), p. 199.
Parcela da classe de consumidor global é um
cálculo do Worldwatch. 15. Dados sobre água limpa e saneamento,
do UNICEF, The State of the World’s Children
10. Tabela 1-3, de Bentley, op. cit., nota 4; 2003 (Nova York: 2003), p. 95; definições de
gastos na África Subsaariana (em dólares de “água potável” e “saneamento adequado”, do
1995), do Banco Mundial, op. cit., nota 7. PNUD, op. cit., nota 14, pp. 357-58.

226
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 1

16. Janet Abramovitz e Ashley Matoon, Worldwatch Institute, dezembro de 1998), p.


Paper Cuts: Recovering the Paper 16; intensidade de metais, de Payal Sampat,
Landscape, Worldwatch Paper 249 “Metals Production Climbs”, em Worldwatch
(Washington, DC: Worldwatch Institute, Institute, op. cit., nota 19, pp. 66-67.
dezembro de 1999), pp. 6, 11-12.
21. Uso de combustíveis fósseis, de Janet
17. Tabela 1-5, do Banco Mundial, op. cit., L. Sawin, “Fossil Fuel Use Up”, em
nota 7; residências com televisores e número Worldwatch Institute, op. cit., nota 7, pp. 34-
com serviços a cabo, de International 35; metais, de Payal Sampat, “Scrapping
Telecommunication Union (ITU), World Mining Dependence”, em Worldwatch
Telecommunication Development Report Institute, Estado do Mundo 2003 (Salvador:
2002 (Genebra: 2002); média de hábitos UMA Editora, 2003), p. 113.
televisivos, de Robert Kubey e Mihaly 22. Abramovitz e Mattoon, op. cit., nota 16,
Csikszentmihalyi, “Television Addiction Is No p. 20.
Mere Metaphor”, Scientific American,
fevereiro de 2002, pp. 74-80. 23. Sampat, op. cit., nota 21, p. 114;
Organização para Cooperação e
18. Telefones de ITU, op. cit., nota 17; uso Desenvolvimento Econômico (OCDE), OECD
da Internet, de idem, “Internet Indicators: Environmental Data Compendium 2002
Hosts, Users and Number of PCs”, em (Paris: 2003), p. 14.
www.itu.int/ITU-D/ict/statistics/at_glance/
24. Dados e projeções da FAO, de
Internet02.pdf, visitado em 09/10/03.
Abramovitz e Mattoon, op. cit., nota 16, pp.
19. Tabela 1-6 dos seguintes: cosméticos e 20-21, 40, 52.
perfumes, de “Pots of Promise”, The 25. Peter Lunt, “Psychological Approaches
Economist, 24/05/03, pp. 69-71; ração e to Consumption: Varieties of Research – Past,
sorvete, do PNUD, Human Development Present and Future”, em Daniel Miller, ed.,
Report 1998 (Nova York: Oxford University Acknowledging Consumption (Londres:
Press, 1998), p. 37; cruzeiros marítimos, de Lisa Routledge, 1995), pp. 238-63.
Mastny, “Cruise Industry Buoyant”, em
Worldwatch Institute, Sinais Vitais 2002 26. Ibid.; John A. March, “Losing
(Salvador: UMA Editora, 2002), p. 122; Consciousness: Automatic Influences on
investimentos anuais adicionais necessários, Consumer Judgment, Behavior, and
de Michael Renner, “Military Expenditures on Motivation”, Journal of Consumer Research,
setembro de 2002, pp. 280-85.
the Rise”, em Worldwatch Institute, op. cit.,
nota 7, p. 119, exceto estimativa de vacinação, 27. Tim Jackson e Nic Marks,
de Erik Assadourian, “Consumption Patterns “Consumption, Sustainable Welfare and
Contribute to Mortality”, in Worldwatch Human Needs”, Ecological Economics, vol.
Institute, op. cit., nota 7, p. 108. 28, no. 3 (1999), pp. 421-42.
20. Aumentos de materiais, de Gary Gardner 28. J. R. McNeill, Something New Under the
e Payal Sampat, Mind Over Matter: Recasting Sun: An Environmental History of the 20th
the Role of Materials in Our Lives, Century World (Nova York: W.W. Norton &
Worldwatch Paper 144 (Washington, DC: Company, 2001), p. 315; fábrica da Toyota, de

227
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 1

Thomas L. Friedman, The Lexus and the Olive Institute, 22/09/03; Dogwood Alliance, “Paper
Tree (Nova York: Farrar, Strauss, Giroux, 1999), and Chipboard Production”, em www.
p. 26; custos de semicondutores de “Cost per dogwoodalliance.org/chipmill. sp#chipboard,
Megabit Trends”, IC Knowledge Web site, visitado em 22/10/03.
em www.icknowledge. com/economics/
32. Preços do Petróleo da Organização dos
products2.html, visitado em 2/09/03.
Países Exportadores de Petróleo, OPEC
29. Australiano, de “Freer Trade Cuts the Annual Statistics Bulletin 2001 (Viena: 2001),
Coast of Living”, no website da OMC, em p. 119; taxas de frete aéreo, de David Hummels,
www.wto.org/ english/thewto_e/whatis_e/ “Have International Transportation Costs
10ben_e/10b04_e.htm, visitado em 17/10/03; Declined?”, minuta (Chicago: University of
“Kingdom of Bahrain Joins WTO’s Chicago, novembro de 1999), pp. 4-5; divisão
Information Technology Agreement”, 18/10/ do trabalho, de Nathan Rosenberg,
003, em www.wto.org/english/news_e/ “Technology”, em Glenn Porter, ed.,
news03_e/news_bahrain_ita_18jul03_e.htm, Encyclopedia of American Economic History,
visitado em 17/10/03; reduções de custo, de vol. 1 (Nova York: Charles Scribner’s Sons,
Telecommunications Industry Association, 1980), pp. 294-308.
“Information Technology Agreement 33. ITU, Telecommunications Indicators in
Promises to Eliminate Tariffs on Most IT the World, 2000, em www.rtnda.org/
Products by the Year 2000”, PulseOnline resources/ wiredweb/text.html; Lei de Moore
Newsletter Archive, outubro de 1997, em da Webopedia, em www.webopedia.com/
www.tiaonline.org/media/pulse/1997/ TERM/M/Moores_Law. html, visitado em 09/
pulse1097-3.cfm, visitado em 17/10/03. 10/03.
30. Organização Internacional do Trabalho, 34. Custos de semicondutores, de Joseph
Comitê de Emprego e Política Social, I. Lieberman, White Paper: National Security
Employment and Social Policy in Respect of Aspects of the Global Migration of the U.S.
Export Processing Zones (Genebra: novembro Semiconductor Industry (Washington, DC:
de 2002); Jim Lobe, “Unions Assail WTO for Office of Senator Lieberman, junho de 2003);
Ignoring Worker Rights”, One World US, 8/ custos fixos, de Rosenberg, op. cit., nota 32.
09/03; International Confederation of Free
Trade Unions, Export Processing Zones – 35. Gastos em publicidade no mundo,
Symbols of Exploitation and a Development Estados Unidos e China, de Bob Coen,
Dead-End (Bruxelas: setembro de 2003). University McCann’s Insider’s Report on
Advertising Expenditures, junho de 2003, em
31. Ransom A. Myers e Boris Worm, “Rapid www.mccann.com/ insight/bobcoen.html,
Worldwide Depletion of Predatory Fish visitado em 09/10/03; Figura 1-1 de ibid. e de
Communities”, Nature, 15/05/03, pp. 280-83; Bob Coen, Estimated World Advertising
mineração, de Craig B. Andrews, Mineral Expenditures, em www. mccann.com/insight/
Sector Technologies: Policy Implications for bobcoen.html, visitado em 09/10/03; jornais e
Developing Countries, Industry and Energy correspondência, de John de Graff, David
Division Note No. 19 (Washington, DC: Banco Wann e Thomas Naylor, Affluenza: The All-
Mundial, 1992), e de Craig Andrews, discussão Consuming Epidemic (São Francisco, CA:
com Claudia Meulenberg, Worldwatch Berrett-Koehler Publishers, Inc., 2001), p. 149;

228
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 1

“Television Clutter in Prime Time and Early Bring Down the World Economy”, Washington
Morning Reach All Time Highs”, press release Monthly, maio de 2003, pp. 28-29.
(Nova York: American Association of
39. Subsídios econômicos, da OCDE,
Advertising Agencies e Association of
Towards Sustainable Consumption: An
National Advertisers, Inc., 12/04/99).
Economic Conceptual Framework (Paris:
36. Fumo na juventude, de Madeline A. Environment Directorate, junho de 2002), p. 41;
Dalton et al., “Effect of Viewing Smoking in subsídios a residências suburbanas, de Cohen,
Movies on Adolescent Smoking Initiation: op. cit., nota 37; Scott Bernstein, Center for
A Cohort Study”, The Lancet, 10/06/03, pp. Neighborhood Technology, Chicago,
281-85; proibição e aumento, de Stanton A. discussão com Gary Gardner, 20/10/98.
Glantz, “Smoking in Movies: A Major 40. Paul Hawken, Amory Lovins e L. Hunter
Problem and a Real Solution”, The Lancet, Lovins, Natural Capitalism: Creating the
10/06/03, p. 258; 85% e receita de vendas Next Industrial Revolution (Boston: Little,
externas, de James D. Sargeant et al., “Brand Brown, and Company, 1999), pp. 57-60.
Appearances in Contemporary Cinema Films
and Contribution to Global Marketing of 41. Sampat, op. cit., nota 21, p. 117.
Cigarettes”, The Lancet, 6/01/01, pp. 29-32; 42. OCDE, OECD Environmental Data
três vezes mais predominante, de A.R. Hazan, 2002 (Paris: 2002), p. 11; “Norway –
H. L. Lipton e S. A. Glantz, “Popular Films Household Waste Increases More Than
Do Not Reflect Current Tobacco Use”, Ever”, Warmer Bulletin, 28/06/03.
American Journal of Public Health, vol. 84,
no. 6 (1994), pp. 998-1000; Organização 43. Andrew Balmford et al., “Economic
Mundial da Saúde (OMS), ‘Bollywood’: Reasons for Conserving Wild Nature”, Science,
Victim or Ally? A Who Study on the 9/08/02; Índice do Planeta Vivo, da WWF
Portrayal of Tobacco in Indian Cinema International, PNUMA, e Redefining Progress,
(Genebra: fevereiro de 2003). Living Planet Report 2002, em www.
panda.org/news_facts/ publications/general/
37. Crescimento do crédito ao consumidor, livingplanet/index.cfm, p. 21. Tabela 1-7 de várias
de Lizabeth Cohen, A Consumer’s edições de Sinais Vitais, do Worldwatch
Republic:The Politics of Mass Consumption Institute, como segue: uso de combustíveis
in Postwar America (Nova York: Alfred A. fósseis, emissões de carbono e aumento do
Knopf, 2003), pp. 123-24; 61%, de Robert D. nível do mar, de Sinais Vitais 2003; florestas,
Manning, “Perpetual Debt, Predatory Plastic: consumo de madeira, terras agrícolas, pastos,
From the Company Store to the World of Late produção de alimentos e déficit hídrico, de
Fees and Overlimit Penalties”, Southern Sinais Vitais 2000, terras alagadas, de Sinais
Exposure, verão de 2003, p. 51; renda per Vitais 2001, água subterrânea, de Sinais Vitais
capita, do Banco Mundial, World 2000; além disso, grande redução de peixes
Development Indicators 2003 (Washington, predadores, de Myers e Worm, op. cit., nota
DC: 2003), pp. 14-16. 31. Figura 1-2, de WWF International,
38. Crescimento do crédito e citação de PNUMA, e Redefining Progress, op. cit., esta
Joshua Kurlantzic, “Charging Ahead: America’s nota, e de Angus Maddison, The World
Biggest New Export – Credit Cards – Could Economy: A Millennial Perspective (Paris:

229
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 1 E SACOS PLÁSTICOS

OECD, 2001), pp. 272-321, com atualizações do 49. Michael Bond, “The Pursuit of
Fundo Monetário Internacional World Happiness”, New Scientist, 4/10/03, pp. 40-47.
Economic Outlook Database (Washington,
50. Anders Hayden, “Europe’s Work-Time
DC: dezembro de 2002).
Alternatives”, em John de Graaf, ed., Take
44. WWF International, PNUMA, e Back Your Time (São Francisco: Berrett
Redefining Progress, op. cit., nota 43; Mathis Koehler, 2003), p. 204.
Wackernagel et al., “Tracking the Ecological
Overshoot of the Human Economy”, Sacos Plásticos
Proceedings of the National Academy of
Sciences, 9/07/02, p. 9268. 1. Film and Bag Federation, “Great
45. Mortes, de Majid Ezzati e Alan D. Moments in Plastic Bag History”, em
Lopez, “Estimates of Global Mortality www.plasticbag.com/environmental/
Attributable to Smoking in 2000”, The history.html.
Lancet, 13/09/03, pp. 847-52; US$ 150 bilhões, 2. Howard Rappaport, diretor de Plásticos
de “Annual Smoking-Attributable Mortality, e Polímeros Globais, Chemical Market
Years of Potential Life, and Economic Costs
Associates International, discussão com o
– United States, 1995-1999”, Morbidity and
autor, 2/09/03; National Economic Development
Mortality Weekly Report, 12/04/02, p. 303;
and Labour Council (Nedlac), Socio-Economic
receita, de Judith Mackay e Michael Eriksen,
Impact of the Proposed Plastic Bag
The Tobacco Atlas (Genebra: OMS, 2002), p.
Regulations, FRIDGE Study no. 29 (Cidade do
50; excesso de peso e obesidade, da OMS e
FAO, Joint WHO/FAO Expert Consultation Cabo, África do Sul: outubro de 2001).
on Diet, Nutrition and the Prevention of 3. Produção total, estimativas de 80% de
Chronic Diseases (Genebra: 2002); National uso na América do Norte e Europa Ocidental
Center for Health Statistics, Health, United e quarto da Ásia, de Rappaport, op. cit., nota
States, 2003 (Hyattsville, MD: 2003); U.S. 2; 100 bilhões, de L.J. Williamson, “It’s Not
Department of Health and Human Services, My Bag, Baby!” OnEarth, verão 2003, e de
The Surgeon General’s Call to Action to Chaz Miller, “Plastic Film”, Waste Age,
Prevent and Decrease Overweight and novembro de 2002.
Obesity, 2001 (Washington, DC: 2001).
4. Franklin Associates Inc., Resource
46. The Fordham Institute for Innovation in and Environmental Profile Analysis of
Social Policy, The Social Report 2003 (Nova Polyethylene and Unbleached Paper
York: 2003); PNUD, op. cit., nota 14, pp. 248-49. Grocery Sacks (Prairie Village, KS: 1990);
47. OCDE, The Well Being of Nations: The Nedlac, op. cit., nota 2; Fehily Timoney &
Role of Human and Social Capital (Paris: Company, “Consultancy Study on Plastic
2001), pp. 99-103. Bags”, em www.fwhilytimoney.com.
48. Robert Putnam, Bowling Alone: The 5. Jeremia Njeru, “Managing the Problem
Collapse and Revival of American of Plastic Bag Waste in Nairobi, Kenya:
Community (Nova York: Simon & Schuster, Demand-side and Supply-side Consi-
2000), pp. 189-246. derations”, apresentação na Associação de

230
Estado do Mundo 2004
NOTAS, SACOS PLÁSTICOS E CAPÍTULO 2

Geógrafos Americanos, 99a Reunião Anual, Communities”, março de 2003, em


Nova Orleans, 5-8 de março de 2003; Beijing www.wvcoalfield.com.
de Xu Zhengfeng, “Putting an End to a Plastic 2. Eficiência das usinas a carvão, de U.S.
Plague”, Inter Press Service, 17/08/99; Department of Energy (DOE), Office of Fossil
“bandeira nacional”, de Shawn Pogatchnik, Energy, “DOE Launches Project to Improve
“Ireland, Pioneer of the Plastic-bag Tax, Plans Materials for Supercritical Coal Plants”, press
Fees on Three Other Litter Sources”, release (Pittsburg, PA: 16/10/01).
Associated Press, 16/07/03; “flor nacional”,
de “South Africa Bans Plastic Bags”, BBC 3. Consumo do petróleo, calculado pelo
News, 9/05/03. Worldwatch com dados de BP, Statistical
Review of World Energy 2003 (Londres: junho
6. Biodegradable Products Institute, em de 2003), p. 38.
www.bpiworld.org; Steve Mojo, diretor
executivo, Biodegradable Products Institute, 4. Aumentos 1850-1970, de John Holdren,
discussão com o autor, 15/09/03. “The Tradition to ostlier Energy”, in Lee Schipper
et al., Energy Efficiency and Hyman Activity:
7. Ladakh de Tsewang Rigzin, “Leh’s Past Trends, Future Prospects (Cambridge, R.U.:
Seccessful Plastic Ban”, Ladags Melong, 17/
Cambridge University Press, 1992), p. 7;
06/02; Moazzem Hossain, “Bangladesh Bans
população de Molly O. Sheehan, “Population
Polythene”, BBC News, 1o/01/02.
Growth Slows”, in Worldwatch Institute, Vital
8. África do Sul, de Toby Reynolds, Signs 2003 (Nova York: W.W. Norton &
“South Africa Moves to Curb Flimsy Plastic Company), p. 67; aumento em combustíveis
Bag Scourge”, Reuters, 1/10/02; Irlanda, de fósseis até 2002, calculado pelo Worldwatch com
Sean Federico-O’Murchu, “Irish Take Lead dados de Janet L. Sawin, “Fossil Fuel Use Up”,
with Plastic Bag Levy”, MSNBC, 4/08/03; in ibid, p. 35, de BP, op. cit., nota 3, p. 38; 28%, de
outras políticas nacionais, de Pogatchnik, op. DOE, Energy Information Administration (EIA),
cit., nota 5, e de John Roach, “Are Plastic Energy in Africa (Washington, DC: Office e
Grocery Bags Sacking the Environment?”, Energy Markets and End Use, 1999), p. 8.
National Geographic, 2/09/03.
5. Economia de energia, de Howard Geller,
Energy Revolution: Policies for a
Capítulo 2. Sustainable Future (Washington, DC: Island
Escolhendo Melhor a Energia Press, 2003), p. 133; Amory B. Lovins, “U.S.
Energy Security Facts (For a Typical Year,
2000)”, fact sheet (Snowmass, CO: Rocky
1. “Mountaintop Mining”, Morning
Mountain Institute (RMI), 18/04/03).
Edition, National Public Radio, 25 de junho
de 2003; Environmental Media Services, 6. Perdas americanas em 2000, de DOE,
“Mountaintop Removal Strip Mining”, 7/05/ EIA, “Production and – Use Data”, em Annual
02, em Mining the Mountains Series, The Energy Review 1999 (Washington, DC: 2000)
Charleston Gazette Online, em (observar que o DOE reconhece que utiliza
www.wvgazette.com/static/series/mining; premissas generosas de eficiência); Amory
Penny Loeb, “The Coalfield Communities of Lovins, “Twenty Hydrogen Myths”, fact sheet
Southern West Virginia: Mining’s Impact on (Snowmass, CO: RMI, 2003), p. 11.

231
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 2

7. Europa Oriental, ex-nações soviéticas, of the Consumer”, rediff.com (Índia), 7/06/03;


países industrializados e participação no famílias de desabrigados, do Office of the
consumo de petróleo, de BP, op. cit., nota 3; Registrar General, India, “Tables on Houses,
aumento nos EUA, de DOE, EIA, Annual Household Amenities and Assets: India”,
Energy Review 2001 (Washington, DC: 2002), Census of India 2001, abril de 2003, e de idem,
com atualizações de International Petroleum “India at a Glance: Number of Households and
Monthly, julho de 2002; parcela americana das Household Types”, Census of India 1991.
reservas de Stacy C. Davis e Susan W. Diegel,
10. Consumo e aumento da renda, de Manoj
Transportation Energy Data Book: Edition
Kumar, “Tryst with Developing World
22 (Oak Ridge, TN: Oak Ridge National
Consumers: A Case Study of India”, The ICFAI
Laboratory, setembro de 2002), pp. 1-6.
Journal of Marketing Management, novembro
8. Relação do uso de energia e falta de de 2002; classificação do consumo de petróleo,
acesso das Nações Unidas, WEHAB Working de estatísticas do DOE, EIA, em
Group, A Framework for Action on Energy, www.nationmaster. com. Quadro 2-1 dos
elaborado para a Cúpula Mundial sobre seguintes: DOE, EIA, World Primary Energy
Desenvolvimento Sustentável (Nova York: Consumption, 1992-2001 (Washington, DC:
2002), p. 7; 2,5 bilhões de “Facts About
2003); IEA, World Energy Outlook (Paris:
Energy”, Cúpula de Joanesburgo, 26/08-04/
Organização para Cooperação e Desenvol-
09/02; média americana calculada pelo
vimento Econômico – OCDE – , 2002), p. 27;
Worldwatch, utilizando dados energéticos da
BP, op. cit., nota 3, e de International Energy DOE, EIA, China Country Brief (Washington,
Agency (IEA), “Renewables in Global Energy DC: 2003); Lester R. Brown, Plan B (Nova York:
Supply”, fact sheet (Paris: novembro de 2002). W.W. Norton & Company, 2003), p. 11; NCAER,
Dados energéticos incluem o uso tradicional op. cit., nota 9; Sylvester Research Ltd., World
da biomassa. Tabela 2-1 dos seguintes: Wave citado em Kumar, op. cit., esta nota; Neha
energia total (excluindo biomassa não- Kaushik, “Durables Ownership Set to Rise-
comercial) e eletricidade são dados de 2000 e NCAER Says Mid-Income Households Will
emissões de dióxido de carbono (CO2) são Grow Rapidly”, The Hindu Business Line, 27/
dados de 1999, do Banco Mundial, World 02/03; Lee Schipper, “Energy and Life: Indicators
Development Indicators 2003 (Washington, of the Link Between Energy, the Economy, and
DC: 2003), pp. 144-46, 148-50, 294-96; dados Lifestyles”, p. 6, e-mail à autora, 5/08/03; Oleg
de petróleo são de 2002, da BP, op. cit., nota 3, Dzioubinski e Ralph Chipman, Trends in
e de www.nationmaster.com, exceto para Consumption and Production: House-hold
Etiópia, que foram calculados pelo Energy Consumption, Department of Economic
Worldwatch com dados estimados de 2001 da & Social Affairs Discussion Paper nº 6 (Nova
U.S. Central Intelligence Agency, The World York: Nações Unidas, 1999), pp. 9-10; aumento
Factbook: Ethiopia (Washington, DC: 2003). nas vendas de automóveis em 2002 de “Car Sales
9. Consumo de petróleo quadruplicando, Booming in China”, All Things Considered,
da BP, op. cit., nota 3; crescimento da classe de National Public Radio, 17/09/03; crescimento
consumidores indiana, do National Council of da frota entre 2000-05 calculado com dados de
Applied Economic Research (NCAER), citado ibid., de “China’s Private Car Ownership Tops
em Sunil Jain e Nandini Lakshman, “The Return 10 Million”, People’s Daily, 14/06/03, e de Liu

232
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 2

Wei, “China’s Demand of Cars to Exceed 4.2 em 09/05/03; caminhões, de Joseph Romm com
Million in 2003”, People’s Daily, 30/07/03. Arthur Rosenfeld e Susan Herrmann, The
Internet Economy and Global Warming
11. China – calculado com dados mundias
(Washington, DC: Center for Energy and
da produção de petróleo e população, do DOE,
Climate Solutions, 1999), Capítulo V, p. 9.
EIA, International Energy Outlook 2003
(Washington, DC: 2003), Tables D2 e A15, e de 14. Lee Schipper, Indicators of Energy Use
idem, International Energy Annual 2001 and Efficiency: Understanding the Link
(Washington, DC: 2003), Table 1.2; “Analysts Between Energy and Human Activity (Paris:
Claim Early Peak in World Oil Demand”, Oil OECD/IEA, 1997), p. 18; estatísticas de
&Gas Journal Online, 12/08/02. veículos de passeio, de Michael Renner,
12. Parcela dos transportes, do IEA, World “Vehicle Production Inches Up”, em
Energy Outlook 2000 (Paris: OECD, 2000), p. Worldwatch Institute, op. cit., nota 4, p. 56;
25; parcela do consumo de petróleo, da União adições anuais, de Lester Brown, “Paving the
Européia (UE), “The EU and the World Summit Planet: Cars and Crops Competing for Land”,
on Sustainable Development: Partnerships for Alert 12 (Washington, DC: Earth Policy
Sustainable Energy”, European Union Online, Institute, fevereiro de 2001).
em europa.eu.int/comm./environment/wssd/ 15. Parcela de automóveis nos EUA e
energy_en.html; Programa das Nações Unidas contribuição para o aquecimento de
para o Meio Ambiente (PNUMA), North Renner, op. cit., nota 14; parcela do
America’s Environment: Thirty Year State of consumo de petróleo de Karl H. Hellman e
the Environment and Policy Retrospective Robert M. Heavenrich, Light-Duty
(Washington, DC: 2002), p. xv; aumento Automotive Technology and Fuel Economy
acelerado, do Painel Intergovernamental sobre Trends: 1965 Through 2003 (Washington,
Mudança Climática (IPCC), Climate Change DC: U.S. Environmental Protection Agency
2001: Mitigation (Cambridge, R.U.: Cambridge (EPA), abril 2003), Executive Summary, p. 1;
University Press, 2001), p. 368. distância percorrida, de Dean Anderson,
13. Mudança para meios mais intensivos, Progress Towards Energy Sustainability in
de UE, “Transport Overview – Market OECD Countries, Rio+5 Report (Paris: Helio
Overview and Trends: Past and Current International, 1997); americanos preferindo
Trends”, ATLAS Project, European dirigir, de Schipper, op. cit,. nota 14, p. 103;
Commission Online, em europa.eu.int/comm./ citação de Alan Pissarski, citada em Lisa Rein
energy_transport/atlas/httml/, visitado em 16/ e Robin Shulman, “The Rise of the Multi-Car
05/03, e de Molly O’Meara Sheehan, Family”, Washington Post, 19/07/03; licenças
“Escolhendo Melhor o Transporte”, em de Jane Holtz Kay, Asphalt Nation (Nova York:
Worldwatch Institute, Estado do Mundo Crown Publishers, 1997), p. 271; carros por
2001 (Salvador: UMA Editora, 2001), p. família, de Patricia S. Hu e Jennifer R. Young,
111; passageiros de ibid., p. 106; carga e Summary of Travel Trends: 1995
viagens aéreas, de Jean-Paul Rodrigue, Nationwide Personal Transportation
“Transportation and Energy”, Hofstra Survey (Washington, DC: U.S. Department
University, em people .hofsra.edu/geotrans/ of Transportation, Federal Highway
eng/ch8en/conc8en/ch8c2en.html, visitado Administration, 1999), pp. 9, 28.

233
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 2

16. Comparações com EUA, de Renner, op. EU15: 1970-2000”, ATLAS Project, EU Energy
cit., nota 14; causas de UE, op. cit., nota 13; and Transport in Figures, European
Japão de Anderson, op. cit., nota 15; Polônia Commission Online, em europa.eu.int/comm./
de Environment Policy Committee (EPC), energy_transport/ atlas/httmlu/; EUA,
Working Party on National Environmental calculado com dados de Davis e Diegel, op.
Policy, Sustainable Consumption: Sector cit., nota 7, pp. 11-8.
Case Study – Household Food Consumption: 19. Mortes de Sheehan, op. cit., nota 13, p.
Trends, Environmental Impacts and Policy 110, e de “Study: Greenhouse Gas Cuts Could
Responses (Paris: OECD, dezembro de 2001), Aid Health”, USA Today, 22/07/02; custos
p. 6; Ásia e Pacífico (inclui veículos de duas e externos de transporte rodoviário, de Sheehan,
três rodas, com motor de dois tempos) de “Sprawling Cities Have Global Effects”, in
“Making Polluters Pay”, ABD Review, maio- Vital Signs 2002 (Nova York: W.W. Norton &
junho de 2002. Tabela 2-2 dos seguintes: 1950- Company, 2002), pp. 152-53; e desigualdades
90 da American Automobile Manufacturers sociais e um terço da população dos EUA, de
Association, citado em Lynn Price et al., Kay, op. cit., nota 15, p. 33.
“Sectoral Trends and Driving Forces of Global
20. Estados Unidos lideraram em
Energy Use and Greenhouse Gás Emissions”,
transportes públicos, de Transportation
in Mitigation and Adaptation Strategies for
Research Board (TRB), National Research
Global Change, vol. 3, no. 2/4 (1998), pp. 263-
Council, Making Transit Work: Insight from
319; 1999 de Ward’s Communications, Ward’s
Western Europe, Canada, and the United
Motor Vehicle Facts & Figures 2001
States, Special Report 257 (Washington, DC:
(Southfield, MI: 2001), pp. 50-53.
National Academy Press, 2001), p. 2; trens, de
17. Tendências nos EUA, de Hellman e Kay, op. cit., nota 15, pp. 166, 192; tendências
Heavenrich, op. cit., nota 15, p. 1, e de Danny pós-guerra, de ibid., pp. 224-33, e de TRB, op.
Hakim, “Fuel Economy Hits 22-Year Low”, cit., esta nota, p. 4; subsídios para passageiros
New York Times, 3/05/03; Modelo T de “Sierra de Matthew Daly, “Congressman Considers
Club Challenges Ford’s Fuel Economy at 100”, Tax Breaks for Cyclists”, Anchorage Daily
Reuters, 5/06/03; velocidade máxima, da Ford News, 22/03/03; queda de passageiros nos
Motor Company, “Model ‘T’ Facts”, press EUA, de Sheehan, op. cit., nota 13, p. 117;
release (Dearborn, MI: 22/05/03); metade das Michael Powell, “Licensed to Drive? Forget
vendas nos EUA, de Hellman e Heavenrich, about it! Most New Yorkers Do Without
op. cit., nota 15, p. 3; outras tendências, da Wheels”, Washington Post, 19/08/03; Denver
UE, op. cit., nota 13, de Anderson, op. cit., de Surface Transportation Policy Project,
nota 15, e de Neha Kaushic, “More Car Per “Transit Grows Faster than Driving for Fifth
Car The Hindu Business Line, 10/04/03; David Year in a Row”, press release (Washington,
Healy, “The Number of Motor Vehicles in Use DC: 17 de abril de 2002).
Worldwide Will Grow from 625 Million Today
to 1 Billion”, Purchasing Magazine Online, 21. Políticas de trânsito e pedágio, de TRB,
15/01/98. op. cit., nota 20; tendências pós-guerra, de
“Reducing the City’s Footprint”, em UN
18. Dados do RU, de Anderson, op. cit, nota HABITAT, The State of the World Cities
15; EU, “Performance by Mode of Transport, Report 2001 (Nairobi: 2001), e de Kay, op.

234
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 2

cit., nota 15, pp. 233, 318-19; Tóquio, de Un Gases-Research Group”, Reuters, 2/06/03;
Habitat, op. cit., esta nota; Japoneses, de Lee economia tripla, de Robert U. Ayres, “A
Schipper, Scott Murtishaw, and Fridtjof Energia que Desperdiçamos”, World Watch,
Unander, “International Comparisons of nº 6, 2001, p. 35; eficiência aumentando o
Sectoral Carbon Dioxide Emissions Using a consumo, da UE, op. cit. nota 22, e de Horace
Cross-Country Decomposition Technique, Herring, “Does Energy Efficiency Save
Energy Journal, vol. 22, nº 2 (2001), p. 35-75; Energy? The Debate and Its Consequences”,
parcela dos EUA e Europa Ocidental, de TRB, Applied Energy, julho de 1999, pp. 209-26.
op. cit., nota 20, p. 1; parcela e relação do uso 24. Rosa Moreno, Greenpeace Chile,
de petróleo do Canadá, de Robert J. Shapiro, discussão com a autora, 27/06/03.
Kevin A. Hassett e Frank S. Arnold, The
Benefits of Public Transportation: 25. “Bogotá Car Free Day Creates New
Conserving Energy and Preserving the Air Model for Organising Transportation in World
We Breathe, em www.punlictransportation Cities”, em www.challenge.stockholm.se/
.org/pdf/preservingair. pdf. feature_ right.asp? Id Nr 5; Tooker Gomberg,
“How Bogotá Beat today from ‘Car Free City”’,
22. Crescimento mais acelerado de IEA, Habitat Newsletter, junho de 2001; other
Energy Efficiency Initiative Volume I (Paris: cities from UN HABITAT, Cities in a
OECD, 1998), p. 17, e de EU, “Transport Globalizing World: Global Report on Human
Overview – Over-all Market Drivers”, ATLAS Settlements 2001 (Sterling, VA: Earthscan
Project, European, Commission Online, em Publications, 2001), p. 142.
Europe,eu.int/comm./energy_transport/atlas/
htmlu/tomarpast.html, visitado em 16/05/03; 26. Velocidade dos motoristas em Londres e
créditos fiscais de Lee Douglas, “Oregon outras cidades, de Transport for London (TFL),
Moves to Claw Back Bush’s Big SUV Tax em www.tfl.gov.uk/tfl/cc_intro.shtml; 25% de
Break”, Reuters, 27/06/03 (tecnicamente, este TFL Press Centre, press release (Londres: 17/
é um subsídio para agricultura que dá uma 02/03 a 10/04/03), e de TFL, Central Londres
brecha para os SUVs). Congestion Charging Scheme: Three Months
On (Londres: Congestion Charging Division,
23. Eficiência moderna dos motores, de junho de 2003).
National Clean Bus Project, “Fact Sheet on
Clean Buses: Protecting Public Health, the 27. “ACCESS – EUROCITIES for a New
Environment and Providing Greater Energy Mobility Culture: Introduction”, em
Security”, distribuído na reunião do www.access-EUROCITIES.org; “Zermatt –
Environmental and Energy Study Institute, General Information: Zermatt – The Village
Washington, DC, 13/05/03, p.5; Danny Hakim, without Cars”, Agência de Turismo de Zermatt,
“Hybrid Cars Are Catching On”, New York em www.zermatt.ch/e/in_general; Freiberg e
Times, 28/01/03; vendas americanas, de escolhendo liberdade de carros, de Sam Tracy
“Toyota, Nissan Join Hands for Hybrid Cars”, e Mark Peterson, “How & Why To Be Auto-
IndiaCar.net, 3/09/02. Quadro 2-2 dos Free”, The Twin Cities Green Guide, em
seguintes: potencial de economia de www.thegreenguide.org; Comunidades alemãs
combustíveis no curto prazo, de Chris de “Bremen: A Car Free City”, em www.epe.be/
Baltimore, “US Must Cut Auto Greenhouse workbooks/tcui/example7.html.

235
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 2

28. IPCC, op. cit., nota 12, p. 91; crescimento Measures: United States of America”, in ibid,
mais acelerado, da United States Energy cooling systems from DOE, EIA, “Changes in
Association, USEA Climate Change Energy Usage in Residential Housing Units”,
Mitigation Option Hand-book, versão 1.0 em The 1997 Residential Energy Consumption
(Washington, DC: junho de 1999), Capítulo 7. Survey – Two Decades (Washington, DC: 1997),
Quadro 2-3 dos seguintes: “Cold Water Poured
29. Consumo do IEA, Cool Appliances: on IT’s Environmental Pluses”, Environment
Policy Strategies for Energy Efficient Homes Daily, 11/06/03; N. Cohen, “The Environmental
(Paris: OECD, abril de 2003), p. 11; Impacts of E-Commerce”, em L.M. Hilty e P. W.
participações diferentes, de Dzioubinski e
Gilgen, eds., Sustainability in the Information
Chipman, op. cit., nota 10, pp. 1-3, 5, 9-10.
Society, 15th International Symposium on
30. Um quarto, de “Housing”, em Unhabitat, Informatics for Environmental Protection
op. cit., nota 21; Crescimento e tamanho das (Marburg, Alemanha: Metropolis Verlag, 2001);
residências nos EUA conforme a National Klaus Fichter, “E-Commerce Sorting Out the
Association of Home Builders, citado em Environmental Consequences”, Journal of
Elizabeth Chang, “And How Do We Heat Industrial Ecology, vol. 6, no. 2 (2003); John
those Starter Castles?” Washington Post, 16/ A. Laitner, “Information Technology and U.S.
02/03; tamanho na Europa, de ENERDATA/ Energy Consumption: Energy Hog,
Odyssee, citado em European Environment Productivity Tool, or Both?” Journal of
Agency, “Indicator Fact Sheet Signals 2001 – Industrial Ecology, vol. 6, nº 2 (2003);
Chapter Households” (Copenhague: “Computer Related Electricity Use
2001); Japan Information Network, Overestimated”, Environment News Service,
“Social Environment: Housing”, em www. 5/02/01; I. Greusing e S. Zangl, “Comparing
jinjapan.org/today/society; Japan Lumber Print and Online-Mail Order Catalogues,
Journal, citado em U.S. Department of Consumer Acceptance, Environmental and
Agriculture, Foreign Agricultural Service, Economical Analysis”, IZT-Discussion Paper
Forest Products Trade Policy High-lights –
nº 44 (Berlim: Innovation Center for
junho de 2000 (Washington, DC: 2000);
Telecommunication Technology, 2000);
Africanos baseados no espaço médio de 8
Dawn Anfuso, “Readers Prefer Paper to
metros quadrados por pessoa nas cidades,
encontrado em “Housing”, op. cit., esta nota. Online”, Media Connection.com, 25/04/02;
E. Heiskanen et al, Dematerialization: The
31. Maior consumo em virtude de domicílios Potential of ICT and Services (Helsinki:
menores, de Schipper, op. cit., nota 10, p. 11. Finnish Ministry of the Environment, 2001);
32. IEA, “IEA Study Shows to Save Energy D. Takahashi, “Power Integrations’ Chip Cuts
and Reduce Harmful Emissions by Using Appliance Power Waste”, Down Jones
More Efficient Domestic Appliances”, press Newswires, 25/09/98; DOE, Office of Energy
release (Paris: 16/04/03); saturação de World Efficiency and Renewable Energy, Technology
Energy Council (WEC), “Labeling and Snapshots Featuring the Toyota Prius
Efficiency Standards”, in Energy Efficiency (Washington, DC: 2001); Patrick Mazza, The
Policies and Indicators (Londres: 2001); Smart Energy Network: Electricity’s Third
tamanho de refrigeradores, de idem, “Annex Great Revolution (Olympia, WA: Climate
1 – Case Studies in Energy Efficiency Policy Solutions, 2003).

236
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 2

33. Projeções e parcela stand-by, de IEA, op. Matthew Bentley, “Forging New Paths to
cit., nota 29, p. 12; capacidade adicional Sustainable Development”, Background
calculada pelo Worldwatch, assumindo um Paper, Asia Pacific Expert Meeting on
fator de capacidade de 75%, 7% de perdas em Promoting Sustainable Consumption and
transmissão e distribuição, utilizando projeções Production Patterns, Yogyakarta, Indonésia,
da demanda energética de 2020 (uso final) para 21-23/05/03, p. 3; refrigerados na Índia, de Jain
OCDE, de IEA, op. cit., nota 10, p. 414, e e Lakshman, op. cit., nota 9; projeções do IEA,
assumindo que uma tonelada de petróleo op. cit., nota 10, p. 29.
equivalente seja igual a aproximadamente 12
36. Economia de energia nos EUA, do
megawatt/horas de eletricidade, conforme
American Council for an Energy-Efficient
observado em BP, op. cit., nota 3; emissões de
Economy (ACEEE), “Energy Efficiency
CO2 calculadas pelo Worldwatch com dados
Progress and Potential”, fact sheet
do IEA, op. cit., nota 10, p. 417.
(Washington, DC: sem data); economia
34. Necessidades construtivas dos países financeira, de Stephen Meyers et al., Realized
em desenvolvimento, de Dzioubinski e and Prospective Impacts of U.S. Energy
Chipman, op. cit., nota 10, pp. 5, 9-10, e de Sujay Efficiency Standards for Residential
Basu, Report on India Energy Scene, Rio+5 Appliances (Berkeley, CA: Lawrence Berkeley
Report (Paris: Helio International, 1997); três National Laboratory, junho de 2002), pp. 21-
quartos dos indianos, de Office of the Registrar 41; Europa de WEC, op. cit., nota 32; melhorias
General, “Tables on Houses, Household potenciais durante a próxima década do IEA,
Amenities and Assets: India”, op. cit., nota 9, e op. cit., nota 32; melhorias até 2030, do IEA,
de idem, “India at a Glance”, op. cit., nota 9. op. cit., nota 29, p. 17.
Tabela 2-3 dos seguintes: Schipper, op. cit., nota
14, p. 144; Scott Murtishaw e Lee Schipper, 37. Economia potencial e barreiras, de
“Disaggregated Analysis of U.S. Energy Dzioubinski e Chipman, op. cit., nota 10, p. 3;
Consumption in the 1990s: Evidence of the economia na Tailândia, de Jas Singh e Carol
Effects of the Internet and Rapid Economic Mulholland, “DSM in Thailand: A Case
Growth”, Energy Policy 29 (2001, p. 1347; IEA, Study”, Parceria Programa das Nações
citado em EPC, op. cit., nota 16, p. 28; National Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)/
Bureau of Statistics, China Statistical Banco Mundial, Energy Sector Management
Yearbook (Beijing: National Statistical Press, Assistance Programme, Washington, DC,
vários anos); IEA, op. cit., nota 28, p. 35. outubro de 2002, pp. 1, 8; parcela de
refrigeradores eficientes, do governo da
35. Crescimento da demanda desde 1990, Indonésia e PNUMA, op. cit., nota 35, p. 17;
calculado pelo Worldwatch com dados do Brasi,l de Steven Nadel, Appliance Energy
IEA, op. cit., nota 10, pp. 410-11, 458-59; Efficiency: Opportunities, Barriers, and
consumo de energia relativo à renda, de Policy Solutions (Washington, DC: ACEEE,
Dzioubinski e Chipman, op. cit., nota 10, p. 4; outubro de 1997), pp. 10-11. No Brasil, quando
triplicação do consumo de energia, de Mark metas não são atingidas, as normas tornam-
Levine et al., Energy Efficiency Improvement se obrigatórias.
Utilising High Technology: An Assessment
of Energy Use in Industry and Buildings 38. Donald W. Aitkin, Putting it Together:
(Londres: WEC, 1995); televisores de Whole Buildings and a Whole Buildings

237
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 2

Policy, Research Report No. 5 (Washington, Report on the World of State Electricity Boards
DC: Renewable Energy Policy Project, and Electricity Departments, citado em M. S.
setembro de 1998), p. 6; EU, “Buildings Bhalla, “Transmission and Distribution Losses
Overview – Market Overview and Trends”, (Power)”, em Proceedings of the National
ATLAS Project, European Commission Conference on Regulation in Infrastructure
Online, em europa.eu.int/comm./ energy_ Services: Progress and Way Forward (New
transport/atlas/htmlu/bomarover.html, Delhi: The Energy and Resources Institute,
visitado em 16/05/03; novas residências nos novembro de 2000).
EUA de U.S. Census Bureau, “New 44. Economia energética, de Alexis
Residential Construction in April 2003”, fact Karolides, “An Introduction to Green Building.
sheet (Suitland, MD: 16/05/03). Part 3: Other Green Building Considerations”,
39. Economia potencial de Ayres, op. cit., RMI Solutions Newsletter, verão 2003, p. 13;
nota 23, p. 35; Califórnia de David Thor Magnusson, A Showease of Icelandic
Goldstein, Natural Resources Defense Treasures (Reykjavik: Icelandic Review, 1987),
Council, São Francisco, CA, discussão com citado em “Exploring the Ecology of Organic
Greenroof Architecture: History”, em
a autora, 26/09/03.
www.greenroofs.com/history.htm; Alemanha,
40. Ken Gewertz, “Pushing the Envelope: The de ibid.; Chicago and Amsterdam from “North
Skin’s the Thing for Conserving a Building’s American Case Studies”, em www.
Energy”, Harvard Gazette, 19/07/01). greenroofs.com/north_american_ cases.htm;
Ford Motor Company, “Ford Installs World’s
41. Lee S. Windheim at al., “Case Study: Largest Living Roof on New Truck Plant”,
Lock-heed Building 157–An Innovative Deep press release (Dearborn, MI: 3/06/03).
Day-lighting Design for Reducing Energy
Consumption”, citado em Aitkin, op. cit., nota 45. Maior parcela de consumo global do
38, p. 8; 34% de iluminação e RMI de Ellen IEA, op. cit., nota 10, p. 28; crescimento setorial
Pfeifer, “Light: The Future is Green”, Winslow e consumo de energia de Lee Schipper et al.,
Environmental News, julho de 2000, p. 1; “Energy Use in Manufacturing in Thirteen
economia de dinheiro e saúde, de ibid., p. 5, e EOCD Countries: Long Term Trends Through
1995”, Lawrence Berkeley National Laboratory,
de Windheim et. al., op. cit. esta nota, p. 8.
minuta de trabalho, 13/08/98, p. 3.
42. “First ‘Green’ High Rise Residential
46. Intensidade crescente de Stuart Baird,
Building in the World”, Real Estate Weekly,
“Heavy Industry”, em www.iclei.org/EFACTS/
2/10/02, “Governor Pataki Unveils the Solaire, HEAVY.HTM, e de Ted Trainer, “The
First ‘Green’ Residential Tower in U.S.”, ‘Dematerialisation’ Myth”, Technology in
Silicon Valley Biz Ink, 5/09/03; “Powerlight/ Society, vol. 23 (2001), pp. 505-14; Austrália,
Toyota Achieve Gold Building Standard”, de Ted Trainer, A Critical Discussion of Future
Solar Access.com, 23/04/03. Dilemmas (Victoria, Australia: Commonwealth
43. Instalações de PVs no Japão, de Paul Scientific & Industrial Research Organisation,
Maycock, PV News, maio de 2003, p. 5; perdas maio de 2002).
do Banco Mundial, World Development Report 47. Tracy Mumma, “Reducing the
1997 (Nova York: Oxford University Press, 1997), Embodied Energy of Buildings”, Home Energy
e de Indian Planning Commission, Annual Magazine Online, janeiro/fevereiro de 1995.

238
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 2

48. Energia utilizada na fabricação de em Energy for Tomorrow’s World – Acting


veículos, de “Household Greenhouse Gas Now! (Londres: 2000), p. 3; impacto dos preços
Emissions Questionnaire”, Alternatives na intensidade energética, de Schipper et al.,
Journal, spring 2000; energia total associada op. cit., nota 45, p. 12, e de Anderson, op. cit.,
aos carros de R. A. Herendeen, Ecological nota 15.
Numeracy (Nova York: John Wiley & Sons,
56. Papel dos preços, de Schipper et al., op.
1998), e de M. Wackernaged and W. Rees,
cit., nota 4, pp. 205-06.
Our Ecological Footprint (Gabriola Island,
BC, Canadá: New Society Publishers, 1996); 57. Impacto dos impostos, de Lee Schipper,
Redefining Progress, Ecological Footprint “Lifestyles and the Environment: The Case of
Accounts (Oakland, CA: sem data). Energy”, in Technological Traectories and the
Human Environment (Washington, DC: National
49. DOE, op. cit., nota 7, p. 49.
Academy Press, 1997), p. 100; Dinamarca, de
50. Energia para recolher alimentos, de EPC, Eurostar, citado em Consultores em Transportes
op. cit., nota 16, pp. 30, 37; necessidades Inovação e Sistemas et al., “Study on Vehicle
energéticas para viagens a longas distâncias, Taxation in the Member States of the European
de Brian Halweil, Home Grown: The Case for Union”, Relatório Final, elaborado para a
Local Food in a Global Market, Worldwatch Comissão Européia, DG Taxation and Customs
Paper 163 (Washington, DC: Worldwatch Union, janeiro de 2002, p. 11.
Institute, novembro de 2002), p. 15; fonte
crescente de emissões da Policy Commission 58. Dedução fiscal nos EUA, de W. Gentry,
on the Future of Farming and Food, Food & “Residential Energy Demand and the Taxation
Farming: A Sustainable Future (Londres: of Housing,”, citada em Schipper, Murtishaw,
janeiro de 2002), p. 92. e Unander, op. cit., nota 21; Suécia, de
Schipper, op. cit., nota 57, pp. 100-01; “Annex
51. Consumo pelo sistema alimentício
I – Case Studies on Energy Efficiency Policy
global, calculado pelo Worldwatch com dados
Measures: Japan”, em WEC, op. cit., nota 32.
de David Pimentel, Cornell University, e-mail
à autora, 23/07/03, e de BP, op. cit., nota 3; 59. Eric Lombardi, Take It Back! (Boulder,
Pimentel, op. cit., esta nota. CO: Eco-cycle, 2000).
52. William Moomaw, diretor internacional, 60. Subsídios em meados dos anos 90, em
Programa de Políticas Ambientais e de PNUD, World Energy Assessment 2000,
Recursos, Faculdade Fletcher de Direito e citado em Group of Eight (G8) Renewable
Diplomacia, Universidade Tufts, discussão Energy Task Force, G8 Renewable Energy
com a autora, 5/08/03. Task Force Final Report 2001 (Londres:
2001), p. 34; reduções nos anos 90, de Geller,
53. Diferenças nos preços de energia, de
op. cit., nota 5, p. 2; infra-estrutura e
Baird, op. cit., nota 46; eficiências de setores
industrialização, de Alan Durning, How Much
industriais e salto, de IPCC, op. cit., nota
Is Enough? (Nova York: W.W. Norton &
12, p. 112.
Company, 1992), p. 110.
54. Alumínio, de Baird, op. cit., nota 46.
61. Consumo de energia na Coréia do Sul,
55. Preços como fatores fundamentais, de de Dzioubinski e Chipman, op. cit., nota 10,
WEC, “Efficiency of Energy Supply and Use”, pp. 7-8; subsídios a quem não precisa, de Un

239
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 2

Habitat, op. cit., nota 25, pp. 138, 142; Mark de “More Car Sharing in Europe”, Passenger
Ashurst, “Nigeria Tackles Fuel Subsidies”, Transport (American Public Transportation
BBC News, 18/07/03. Association), 22/07/02; América do Norte, de
David Steinhart, “Car Sharing: An Idea Whose
62. Daphne Wysham, Sustainable
Time Has Come?” Financial Post, 4/05/02;
Development South and North: Climate
Change Policy Coherence in Global Trade and cidades dos EUA e países, de Car-Sharing
Financial Flows (Washington, DC: Institute for Network, em www.carsharing.net/where.html.
Policy Studies, março de 2003), pp. 3-4. 66. Ecovilas, de gen.ecovillage.org;
63. A meta é induzir emissões 25% abaixo Califórnia, de Charles A. Goldman, Joseph H.
dos níveis de 1990 até 2005; Embaixada da Eto, e Galen L. Barbose, California Customer
Alemanha, Germany’s Ecological Tax Reform, Load Reductions During the Electricity Crisis:
Background Paper (Washington, DC: sem data). Did They Help to Keep the Lights On?
(Berkeley, CA: Lawrence Berkeley National
64. Alemanha e Dinamarca, de Janet L. Laboratory, 2002), pp. 23-25; Desenvolvimento
Sawin, “Charting a New Energy Future”, em de Emissões Zero e citação de Greg
Worldwatch Institute, Estado do Mundo 2003 Rasmussen, “The Kyoto Protocol: The British
(Nova York: W.W. Norton & Company, 2003), Approach”, CBC Radio, julho de 2002.
p. 104; demanda de energia verde até o final
de 2002, de Lori Bird and Blair Swezey, 67. Relacionamento empírico, de Amulya
Estimates of Renewable Energy Developed Reddy, “Energy Technologies and Policies for
to Serve Green Power Markets in the United Rural Development”, in Thomas B. Johansson
States (Golden, CO: National Renewable e José Goldemberg, eds., Energy for
Energy Laboratory, fevereiro de 2003); Sustainable Development: A Policy Agenda
Califórnia, de “Students, Activists Win Clean (Nova York: PNUMA, 2002), pp. 117-19; Carlos
Energy Campaign”, Solar Access.com, 21 July Suárez, “Energy Needs for Sustainable Human
2003, and from “Berkeley, CA, USA: Development”, em José Goldemberg e
University of California Approves Clean- Thomas B. Johansson, eds., Energy as an
Energy and Green-Building Policy”, Solar- Instrument for Socio-Economic Development
Buzz.com, 18/07/03. (Nova York: PNUD, 1995) (utilizando dados
do PNUD de 1991-92 de 100 nações
65. Energie-Cités. “Brussels Declaration for a
industrializadas e em desenvolvimento);
Sustainable Energy Policy in Cities”,
níveis de consumo nacional, do Banco
e m w w w. e n e r g i e - c i t e s . o rg / P D F /
Mundial, op. cit., nota 8, pp. 144-46.
avis_bruxelles_en.pdf; municípios
holandeses, de “Groningen, The Car-Free 68. Robert Prescott-Allen, The Wellbeing of
City for Bikes”, em www.globalideas Nations: A Country-by-Country Index of
bank.org/sociny/SIC-100.HTML; Quality of Life and the Environment
estacionamento de bicicletas, de “Bicycles (Washington, DC: Island Press/IDRC, 2001),
and Transit: Europe and Japan”, em Charles pp. 267-68. Tabela 2-5 dos seguintes:
Komanoff, ed., Bicycle Blueprint, 1999); classificações de bem-estar, de ibid., pp. 267-
alemães e suíços de “Reduction of Air 68; classificação e participação no consumo
Pollution”, CarSharing Co-op of Edmonton, de energia da Suécia: valores calculados pelo
em www.web.net; comunidades e membros, Worldwatch com dados de 1999 do IEA,

240
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 2 E COMPUTADORES

citados em World Resources Institute et al., Company, 2002), pp. 110-11; Silicon Valley
World Resources 2002-2003 (Washington, Toxics Coalition, “Four Case Studies of High-
DC: 2003), pp. 262-63. Tech Water Exploitation and Corporate Welfare
in the Southwest”, em svtc.igc.org/resource/
69. Qualidade degradada de vida do Centro
pubs/execsum. htm, visitado em 11/09/03;
de Ciências Ecológicas, Energy Efficiency and
“locais de lixo tóxico” refere-se a sítios da
Sustainability: New Paradigms (Instituto
Agência de Proteção Ambiental dos Estados
Indiano de Ciências de Nova Délhi, sem data);
Unidos, vide Hwang, op. cit., esta nota.
registros de Xangai, de “Car Sales Booming
in Chine”, op. cit, nota 10. 3. Dados de 1998 da International
Telecommunication Union (ITU) in World Bank,
70. Parcela da população nos países em
World Development Indicators Database, em
desenvolvimento, do DOE, EIA, International
media.world bank.org/secure/ data/qquery.php,
Energy Outlook 2002 (Washington, DC:
visitado em 12/08/03; dados de 2002 de idem,
2002), pp. x-xi.
Internet Indicators: Hosts, Users, and Numbers
71. População, de U.S. Bureau of the of PCs, em www.itu.int/ITU-D/ict/statistics,
Census, International Data Base, electronic visitado em 15/07/03; Silicon Valley Toxics
database (Suitland, MD: atualizado em 10/10/ Coalition (SVTC), “Toxics in a Computer”, fact
03), e de Nações Unidas, World Population sheet, em www.svtc.org/cleance/pubs/
Prospects: The 2002 Revision (Nova York: computertoxics.pdf, visitado em 03/07/03; Ian
2003), p. 1; consumo em 2050, calculado pelo Fried, “Recycling Not Easy for PC Makers,”
Worldwatch com dados do DOE, op. cit., nota CNET News.com,22/04/03; SVTC et al., Poison
8, p. 146. Isso assume que a participação do PCs and Toxic TVs: California’s Biggest
mundo em desenvolvimento na população Environmental Crisis That You’re Never Heard
mundial permanece estável. Of (San Jose, CA: junho de 2001), p. 13.
72. Donald J. Johnston, Secretário-Geral l, 4. Basel Action Network (BAN) e SVTC,
OCDE, discurso proferido no Seminário Exporting Harm: The High-Tech Trashing of
Ministerial Informal sobre Energia, em Asia (Seattle, WA, e San Jose, CA: fevereiro
Pamplona, Espanha, 26-28/04/02. de 2002), pp. 5-6; SVTC et al., op. cit., nota 3,
p. 6; National Safety Council, Electronic
Product Recovery and Recycling Baseline
Computadores Report: Recycling of Selected Electronic
Products in the United States (Washington,
1. Eric D. Williams, Robert U. Ayres e DC: maio de 1999), p. 13.
Miriam Heller, “The 1.7 Kilogram Microchip:
Energy and Material Use in the Production of 5. BAN e SVTC, op. cit., nota 4, pp. 6-7,9,
Semiconductor Devices”, Environmental 18; SVTC et al., op. cit., nota 3, p. 15.
Science and Technology, 15/12/02, pp. 5504- 6. BAN e SVTC, op. cit., nota 4, pp. 2-3, 7-
10; Curtis Runyan, “Microchips Is Heavy”, 8, 12-13, 28.
World Watch, março/abril de 2003, p. 8.
7. Ibid., pp. 16, 18-19.
2. Ann Hwang, “Semiconductors Have
Hidden Costs”, in Worldwatch Institute, Vital 8. Ibid., pp. 17-21, 30-32.
Signs 2002 (Nova York: W.W. Norton & 9. Ibid., pp. 8, 42.

241
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 3

Capítulo 3. Incrementando a extrapoladas de dados de série de tempo em U.S.


Produtividade Hídrica Geological Survey (USGS), Estimated Use of
Water in the United States in 1995 (Reston, VA:
1. Para uma análise da situação dos 1997); PIB real, de Angus Maddison, The World
ecossistemas de água doce e biodiversidade, Economy: A Millennial Perspective (Paris:
vide Sandra Postel e Brian Richter, Rivers for Organização para Cooperação Econômica e
Life: Managing Water for People and Nature Desenvolvimento, 2001), convertido para
(Washington, DC: Island Press, 2003). dólares de 2000 através do deflator implícito de
preços do PIB dos EUA, do Bureau of Economic
2. Igor A. Shiklomanov, Assessment of Analysis, em www.bea.doc.gov/bea/dn/
Water Resources and Water Availibility in the nipaweb/NIPATableIndex.htm.
World (São Petersburgo, Rússia: Instituto
Hidrológico Nacional, 1996); World 9. Produtividade hídrica definida como
Commission on Dams (WCD), Dams and produto interno bruto (PIB) real em 2000,
Development (Londres: Earthscan, 2000). expresso em dólares dos Estados Unidos,
dividido pelas extrações estimadas de água
3. Participação setorial, do Banco Mundial, em cada ano. Figura 3-2 dos seguintes: dados
World Development Indicators (Washington, de extração de água de 1950-95 de USGS, op.
DC: 2001). cit., nota 8, convertidos em dólares de 2000
4. Robert Costanza et al., “The Value of através do deflator implícido de preços do PIB
the World’s Ecosystem Services and Natural dos EUA, do Bureau of Economic Analysis,
Capital”, Nature, 15/05/97, pp. 254-60. op. cit., nota 8; a cifra de 2000 é uma
extrapolação baseada nas extrações de 1995 à
5. Programa das Nações Unidas para o mesma taxa de mudança em extrações ocorridas
Meio Ambiente, Afghanistan: Post-Conflict entre 1990 e 1995, combinadas com o PIB real.
Environmental Assessment (Nairobi: 2003),
p. 62. 10. FAO, Review of World Water Resources
by Country (Roma: 2003). A fim de evitar
6. Postel e Richter, op. cit., nota 1. contagem dupla, utilizamos a medida de
7. Murray-Darling from “Drying Out”. The recuros hídricos renováveis internos, que
Economist, 12 July 2003, p. 38; Australia, exclui água fluindo de outros países.
South Africa, and Hawaii examples from Postel 11. Cifras de oferta de água renovável
and Richter, op. cit., nota 1. nacional, da FAO, op. cit., nota 10; cifras da
Planície Norte da China e citação de Jeremy
8. Produtividade hídrica definida como
Berkoff, “China: The South-North Water
produto interno bruto (PIB) real em 2000,
Transfer Project – Is It Justified?” Water Policy,
expresso em dólares dos Estados Unidos,
fevereiro de 2003, pp. 1-28; vazão do Rio
dividido pelas extrações estimadas de água em
Amarelo e tendências de água subterrânea, de
2000. Figura 3-1 dos seguintes: dados de
Sandra Postel, Pillar of Sand (Nova York: W.W.
extração de água para todos os países, exceto
Norton & Company, 1999), pp. 67-69, 76.
EUA, da Organização das Nações Unidas para
Alimento e Agricultura (FAO), Aquastat 12. Extrações de água são estimativas, e não
database, em www.fao.org/ag/agl/aglw/ quantidades medidas, e sua exatidão pode
aquastat/dbase/index2.jsp; extrações dos EUA variar de um país para outro. Tabela 3-1 dos

242
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 3

seguintes: extrações per capita de água para South%20Africa%a%20water%20success


todos os países, exceto os EUA, da FAO, op. %20story.doc, visitado em 09/06/03.
cit. nota 8; extrações per capita de água dos
EUA extrapoladas de dados de série de tempo 18. Tarifas em duas faixas, de John Peet,
em USGS, op. cit., nota 8, e da estimativa “Priceless: A Survey of Water”, The
populacional em FAO, op. cit., nota 8; parcela Economist, 19 de julho de 2003, pp. 3-16;
de terras agrícolas irrigadas, de Postel, op. cit., exemplo de Joanesburgo, de Ginger
nota 11, p. 42. Thompson, “Water Tap Often Shut to South
Africa Poor”, New York Times, 29/05/03.
13. Precipitação de Phoenix, de National
19. Participação da agricultura do Banco
Climatic Data Center, National Oceanic and
Mundial, op. cit., nota 3; projeçõs de Mark
Atmospheric Administration, U.S. Climate at
W. Rosegrant, Ximing Cai e Sarah A. Cline,
a Glance database, em www.ncdc.noaa.gov/
World Water and Food to 2025
oa/climate/research/cag3/cag3.html, visitado
(Washington, DC: International Food Policy
em 14/08/03; “The Ethiopian Famine”, New
Research Institute, 2002).
York Times, 28/07/03.
20. “Irrigation Options”, WCD Thematic
14. Nações Unidas; Water for People, Water Review IV.2, conforme publicado em WCD,
for Life: The Nações Unidas World Water op. cit., nota 2, p. 46.
Development Report (Paris: UNESCO
Publishing and Berghahn Books, 2003), p. 113; 21. Stuart Styles, Irrigation Training and
abastecimento natural da Indonésia, de FAO, Research Center, California Polytechnic State
op. cit., nota 10, p. 80. University, San Luis Obispo, CA, e-mail aos
autores, 30/06/03.
15. Nações Unidas, op. cit., nota 14, pp. 110-
12; Tabela 3-2 da Organização Mundial de 22. Postel, op. cit., nota 11, pp. 172, 174.
Saúde, Programa Conjunto de Monitoração 23. Cifras de 3,2 milhões de hectares, de Hervé
da OMS/UNICEF, Global Water Supply and Plusquellec e Walter Ochs, Water Conservation:
Sanitation Assessment 2000 Report, Irrigation, Water Resources and Environment
disponível em www.who.int/water_ Technical Note F.2 (Washington, DC: Banco
sanitation_health/Globassessment/ Mundial, 2003), p. 20. Tabela 3-3 dos seguintes:
GlobalTOC.htm. áreas de 1991, de Sandra Postel, Last Oasis (Nova
York: W.W. Norton & Company, 1992), p. 105,
16. OMS e UNICEF, op. cit., nota 15; D. Kirk
que foram compiladas de uma variedade de
Nordstrom, “Worldwide Occurrences of
áreas, de cerca de 2000, da Comissão
Arsenic in Ground Water”, Science, 21/06/02,
Internacional sobre Irrigação e Drenagem, em
pp. 2143-45.
www.icid.org/index_e.html, visitado em 30/06/
17. “Water Affairs and Forestry”, South 03, exceto para Chipre, Brasil, Chile e México,
Africa Yearbook 2002/3, em com cifras de 2000 da FAO, op. cit., nota 8, para
www.gcis.gov.za/docs/ publications/ Israel, com estimativas de 2000, do Ministério
yearbook/ch23.pdf, visitado em 11/06/03; de Agricultura de Israel, de acordo com Saul
cifra de 6 milhões, de “South Africa: A Water Arlosoroff, diretor, National Water Corporation-
Success Story”, em www-dwaf,pww.gov.za/ Mekorot, Tel Aviv, Israel, e-mail aos autores, 6/
Communications/Articles/Minister/2003/ 08/03, e para os Estados Unidos, com estimativa

243
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 3

de 1998, do Departamento de Agricultura dos 29. Tabela 3-4 baseada em dados em D.


Estados Unidos, 1998 Farm & Ranch Irrigation Renault e W. W. Wallender, “Nutritional Water
Survey, Census of Agriculture, em Productivity and Diets”, Agricultural Water
www.nass.usda.gov/census/census97/fris/ Management, agosto de 2000, pp. 275-96.
tb104.txt>http://www.nass.usda.gov/census/
30. Necessidades dietéticas de água de
census97/fris/tb104.txt. ibid.; a variante média da projeção
24. L. C. Guerra et al., Producing More Rice populacional dos EUA para 2025 é de 358
with Less Water from Irrigated Systems milhões conforme as Nações Unidas, Divisão
(Colombo, Sri Lanka: International Water de População, World Population Prospects:
Management Institute (IWMI), 1998), p. 11; The 2002 Revision and World Urbanization
R. Barker, Y. H. Li, and T. P. Tuong, eds., Water- Prospects: The 2001 Revision (Nova York:
Saving Irrigation for Rice, Ata de um 2003 e 2002).
Workshop Internacional em Wuhan, China, 31. Nações Unidas, World Population
23-25 de março de 2001 (Colombo, Sri Lanka: Prospects, op. cit., nota 30.
IWMI, 2001).
32. Nações Unidas, op. cit., nota 14, pp. 160-
25. Plusquellec e Ochs, op. cit., nota 23, p. 22. 61; cidades reclamando menos de 10%, do
26. FAO, The State of Food Insecurity Banco Mundial, op. cit., nota 3. Quadro 3-1 dos
in the World (Roma: 1999); Sandra Postel seguintes: capacidade de dessalinização e taxa
et al., “Drip Irrigation for Small Farmers: A de crescimento de Aqua Resources International,
New Initiative to Alleviate Hunger and Desalination Market Analysis 2003 (Evergreen,
Poverty”, Water International, março de CO: agosto de 2003); planos de Israel, do web
2001, pp. 3-23. site de “Eshkol, Nizzana and Ashkelon
Desalination Plants, Israel”, para a Indústria
27. P. Polak, B. Nanes e J. Sample, “Opening Hídrica, em www.water-technology.net/projects/
Access to Affordable Micro-Plot Irrigation for israel/, visitado em 08/09/03; queda nas
Small Farmers”, apresentado no Simpósio da necessidades de energia e custo, de Allerd
Associação de Irrigação sobre Irrigação em Stikker, “Desal Technology Can Help Quench
Pequenas Propriedades, Orlando, FL, 1999; the World’s Thirst”, Water Policy, fevereiro de
International Development Enterprises (IDE), 2002, pp. 47-55; 10-25%, de Amy Vickers,
discussão com Sandra Postel, junho de 2003; apresentação ao Programa Comunitário de
vide também Web site da IDE em www.ide- Liderança Hídrica, em 2003, Florida Institute of
international.org. Government, St. Petersburg, FL, 14/03/03.
28. Distrito de Alwar, de Himanshu Thakkar, 33. Nações Unidas, op. cit., nota 14, pp.
“Assessment of Irrigation in India”, 8 160-61.
November 1999, Contributing Paper for
“Irrigation Options”, WCD Thematic Review 34. Kofi Annan, Secretário-Geral da ONU,
IV.2, em www.dams.org/docs/kbase; vide “Towards A Sustainable Future”, apresentado
também Anil Agarwal e Sunita Narain, eds., na Palestra Ambiental Anual do Museu de
Dying Wisdom (New Delhi, India: Centre História Natural, Nova York, 14/05/02; “Water
for Science and Environment em and the Fight Against Poverty”, Programa das
www.cseindia.org. Nações Unidas para o Meio Ambiente

244
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 3

(PNUMA), discurso do Diretor Geral sobre Cingapura, e-mail aos autores, 10/09/03; África
Água e o Combate contra a Pobreza – Seminário do Sul, de “Growing Concern over Cities’
do Dia do Meio Ambiente, Beirut, Líbano, 5/ Water Losses”, South African Broadcasting
06/03; “Leakage Control and the Reduction of Corporation, 19/05/03; Taiwan de “Water
Unaccounted-for Water (UFW)”, Ata do Price Hike Necessary to Fix Old Pipes, Says
Simpósio Internacional sobre o Uso Eficiente Minister”, Taiwan News, 11/03/03; Estados
da Água em Áreas Urbanas – Formas Unidos, de Jon Maker e Nathalie Chagnon,
Inovadores de Buscar Água para as Cidades, “Inspecting Systems for Leaks, Pits, and
8-10/06/99; cidade árabe de PNUMA, “UNEP Corrosion”, Journal of the American Water
Urges Action to Better Manage the Globe’s Works Association, julho de 1999, p. 40, e de
Ground-waters”, press release (Nairobi: 5/06/ Steve Wyatt, “The Economics of Water Loss:
03); “Taiwan Leaky Pipes Losing 1.97 Million What is Unaccounted for Water?” On Tap
Cubic Meters of Water Per Day”, 15/04/02, em (National Drinking Water Clearinghouse, West
fpeng.peopledaily.com.cn/200204/15/ Virginia University, Morgantown, WV),
eng20020415_94050.shtml. outono de 2002, pp. 32-35. Quadro 3-2 de
“Office of Water Services (OFWAT): Leakage
35. Tabela 3-5 dos seguintes: Albânia, de And Water Efficiency”, Oitavo Relatório,
Agência Ambiental Européia (EEA), “EEA Comitê Especial das Contas Públicas, Câmara
Report Highlights Measures to Promote dos Comuns, Londres, 4/01/02, de OFWAT,
Sustainable Water Use”, press release “Ofwat Sets Leakage Targets For Londres”,
(Copenhague: 5/04/01); Canadá de Bill press release (Birmingham, R.U.: 26/03/03), e
Hutchins, “One-third of City’s Water Supply de “Total Leakage Increases in Severn Trent
Disappears, But Where?” Kingston This Water and is Still Rising in Thames Water”,
Week, 10/06/03; República Tcheca, França e Departamento de Serviços Hídricos, 29/07/03.
Espanha, de EEA, Sustainable Water Use in
Europe, Part 2: Demand Management 36. Janice A. Beecher, “Survey of State
Water Loss Reporting Practices”, Beecher
(Environmental Issue Report No. 1 –
Policy Research, Inc., Relatório Final para a
Copenhague: 2001), p. 22; Dinamarca, de
Associação de Obras Hídricas, Denver, CO,
“Watersave at Loughborough”, Demand
janeiro de 2002, p. 13; Wyatt, op. cit., nota 35;
Management Bulletin (National Water
The Kansas Water Office, “Assessment of
Demand Management Centre, Environment
Unaccounted for Water, Kansas 1992-2010”,
Agency, Birmingham, R.U.), fevereiro de 2003,
2001, em www.kwo.org/Reports/2010%
p. 3; Japão, de Nações Unidas, Programa de
Assessments/UFW%20assessment/
Melhores Práticas e Liderança Local, “Water
ks_ufw_text.htm; idem, “The Kansas Water
Conservation Conscious Fukuoka, Japan”, em
Plan, Fiscal Year 2003”, Water Conservation,
bestpractices.org/bpbriefs/Environment.html,
julho de 2001, p. 1.
visitado em setembro de 2003; Jordânia, de
“Seminar Address Water Losses Plaguing the 37. Copenhague, de “Watersave at
Country’s Scarce Resource”, Jordan Times, Loughborough”, op. cit., nota 35; Lis Napstjert,
6/003; Quênia, de Anna Peltola, “Simple Fixes Copenhagen Energy, e-mail aos autores, 17/
Could Bring Water to Millions-Experts”, 09/03. Quadro 3-3 dos seguintes: Ng, op. cit.,
Reuters, 13/08/02; Cingapura, de Ng Han nota 35; consumo de Cingapura em 1995 de
Tong, Departamento de Serviços Públicos, Alliance to Save Energy, Watergy: Taking

245
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 3

Advantage of Untapped Energy and Water Water Demand Management Centre,


Efficiency Opportunities in Municipal Water Environment Agency, Birmingham, R.U.),
Systems (Washington, DC: 2002), pp. 80-82; junho de 2003, p. 7; Singapore from Ng, op.
consumo em 2003 from Ng Han Tong, cit. nota 37; Manilha, de Empresa de Água de
Departamento de Serviços Públicos, Cingapura, Manilha, em www.manila wateronline.com/
e-mail aos autores, 16/08/03; Teruyoshi Shi faq.htm, visitado en 11/08/03; Waterloo de
Noda, “Integrated Approaches for Efficient Steve Gombos, Regional Municipality of
Water Use in Fukuoka”, Ata do Simpósio Waterloo, e-mail aos autores, 7/08/03;
Internacional sobre Uso Eficiente da Água em Melbourne e Sydney, de Water Services
Áreas Urbanas – Formas Inovadoras de Buscar Association of Australia, WSAAfacts 2001
Água para as Cidades, 8-10/06/99; Nações (Melbourne: 2001); exemplos dos EUA, de
Unidas, op. cit., nota 35; “Final Report: Water Peter W. Mayer et al., Residential End Uses
Conservation Planning USA Case Studies of Water (Denver, CO: AWWA Research
Project,”, Environment Agency, Demand Foundation and American Water Works
Management Centre, Birmingham, R.U., Association, 1999), pp. 91, 114. Outros dados
elaborado por Amy Vickers & Associates, Inc., de Amy Vickers, Handbook of Water Use and
Amherst, MA, junho de 1996. Conservation: Homes, Landscapes,
Businesses, Industries, Farms (Amherst, MA:
38. Robert Wilkinson, Methodology for
WaterPlow Press, 2001), pp. 17-19, 20.
Analysis of the Energy Intensity of California’s
Water Systems, and an Assessment of Multiple 41. U.S. General Accounting Office, Water
Potential Benefits Through Integrated Water- Infrastructure: Water-Efficient Plumbing
Energy Efficiency Measures (Berkeley, CA: Fixtures Reduce Water Consumption and
Ernest Orlando Lawrence Berkeley Laboratory, Wastewater Flows (Washington, DC: agosto
California Institute for Energy Efficiency, de 2000), p. 4; Amy Vickers, “Technical Issues
January 2000), p. 6; QEI, Inc., Electricity and Recommendations on the Implementation
Efficiency Through Water Efficiency, Report for of the U.S. Energy Policy Act”, relatório
the Southern California Edison Company elaborado por Amy Vickers & Associates, Inc.
(Springfield, NJ: 1992), pp. 23-24. para a Associação de Obras Hídricas,
39. “Save Water to Save Energy”, Washington, DC, 25/10/95, p. 4.
Environmental Building News, outubro de 42. Nações Unidas, op. cit., nota 14, p. 341.
2002, pp. 3-4.
43. Cifra de 30 bilhões de litros, de Vickers,
40. Figura 3-3 dos seguintes: Quênia, op. cit., nota 40, p. 140; Debbie Salamone,
Uganda e Tanzânia, de John Thompson et al., “Florida’s Water Crisis: Chapter 2, The Human
Drawers of Water II: Thirty Years of Change Thirst”, Orlando Sentinel, 7/04/02.
in Domestic Water Use and Environmental
Health in East Africa (Londres: International 44. Charles Fenyvesi, “His Whole World Is
Institute for Environment and Development, Grass: Lawn Guru Reed Funk Speaks to the
2001; Dinamarca de “Watersave at Tough Little Cultivar Inside Us All”, U.S. News
Loughborough”, op. cit., nota 35; Reino & World Report, 28/10/96, pp. 61-62; Thomas
Unido, de “Water Indicators 2001/02,” Farragher, “For Some Neighbors, It’s a Turf
Demand Management Bulletin (National War”, Boston Globe, 5/04/98.

246
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 3

45. F. Herbert Bormann et al., Redesigning 46. Vickers, op. cit., nota 40, pp. 147-49, 180.
the American Lawn: A Search for 47. F. Herbert Bormann, Diana Balmori e
Environmental Harmony (New Haven, CT: Gordon T. Geballe, Redesigning the American
Yale University Press, 1993), pp. 56, 77; U.S. Lawn, 2nd ed. (New Haven, CT: Yale University
Senate, The Use and Regulation of Lawn Press, 2001), p. 129.
Care Chemicals: Hearing Before the
Subcommittee on Toxic Substances, 48. Nações Unidas, op. cit., nota 14, p. 228.
Environmental Oversight, Research and 49. Principais indústrias consumidoras de
Development of the Committee on água, de webworld.unesco/org/water/ihp/
Environmental and Public Works, U.S. publications/waterway/webpe/pag18.html,
Senate, March 28, 1990, Audiência no visitado em agosto de 2003.
Senado 101-685 (Washington, DC: U.S. 50. Vickers, op. cit., nota 40, p. 239;
Government Printing Office, 1990), p. 1. Unilever Co., Environmental Performance
Quadro 3-4 dos seguintes: Christian G. Report 2003, p. 10, em www.unilever.com/
Daughton, “Environmental Stewardship and environmentsociety/ environmentalreporting/
Drugs As Pollutants”, The Lancet, 5/10/02, environmentalreport, visitado em agosto de
pp. 1035-36; USGS de Dana K. Kolpin et al., 2003. Tabela 3-6 dos seguintes: laticínios,
“Pharmaceuticals, Hormones, and Other construções residenciais, e produtos agrícolas,
Organic Wastewater Contaminants in de Environment Agency, 2003 Water Efficiency
U.S. Streams, 1999-2000: A National Awards: Inspirational Case Studies
Reconnaissance”, Environmental Science Demonstrating Good Practice Across All
and Technology, 15/03/02, pp. 1202-11; D. Sectors (Birmingham, R.U.: 2003), pp. 8, 15, 21;
Donaldson, T. Kiely e A Grub, Pesticide computadores, de “Companies Who Show
Industry Sales and Usage: 1998 and 1999 How It’s Done”, Demand Management
Market Estimates (Washington, DC: Agência Bulletin (National Water Demand
de Proteção Ambiental dos Estados Unidos Management Centre, Environment Agency,
–EPA –, agosto de 2002); National Birmingham, R.U.), agosto de 2002, p. 3;
Association of Chain Drug Stores, Industry farmacêuticos, de Steve Dark, Process Waste
Facts and Resources, Industry Statistics, Water Recycling (Jaffrey, NH: Millipore
“Total Retail Sales 2002 – Traditional Drug Corporation, novembro de 2002); chocolate de
Stores”, em www.nacds.org/wmspage.cfm? EBMUD Reports East Bay Water Issues, março
de 2001, p. 2; cerveja, de Global Environment
parm1=507, visitado em setembro 2003;
Management Initiative, Connecting the Drops
estudos fora dos Estados Unidos, de
Toward Creative Water Strategies
Kenneth Green, “When Pharmaceuticals
(Washington, DC: junho de 2002), p. 36.
Arrive at the Tap”, Environmental Science
& Engineering, março de 2003; EPA, “PPCPs 51. Departamento de Serviços Públicos,
as Environmental Pollutants”, em Superintendência da Água de Cingapura, em
www.epa.gov/nerlesd1/ chemistry/pharma/ www.pub.gov.sg/water_reclamation.htm,
teaching.htm, visitado em agosto de 2003; visitado em setembro de 2003.
Colin Nickerson, “A Grass Roots Drive for 52. Nações Unidas, op. cit., nota 14, pp.
Purity”, Boston Globe, 3/09/01. 227-33.

247
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 3 E SABONETES ANTIBACTERIANOS

53. Patrick Smith, “The Great Water Divide”, Regular Soap, NIH-Funded Study Shows”,
The Irish Times, 22/03/03; Aly Shady, press release (Alexandria, VA: 24 de outubro
Canadian International Development Agency, de 2002).
janeiro de 2002, em www.expressnews.
2. Philip M. Parker, The 2003-2008 World
ualberta.ca/xpressnews/rticles/
Outlook for Bar Soap (Paris: ICON Group Ltd.,
news.cfm?p_ID=1829&s=a.
2003), pp. 18-19; Euromonitor International,
54. Jennifer Gitlitz, Trashed Cans: The “Asia-Pacific Bath and Shower Products:
Global Environmental Impacts of Aluminum Small Growth, Big Potential”, 25/10/02, em
Can Wasting in America (Arlington VA: www. euromonitor.com/asiabath.
Container Recycling Institute, 2002).
3. Karen C. Timberlake, Chemistry: An
55. Postel e Richter, op. cit., nota 1. Introduction to General, Organic, and
56. Tushaar Shah et al., “Sustaining Asia’s Biological Chemistry (Nova York: Harper
Groundwater Boom: An Overview of Issues Collins, 1996), pp. 524-26.
and Evidence”, Natural Resources Forum,
4. História e ingredients, de Dru Wilson,
maio de 2003, pp. 130-41.
“Antibacterial Products May Be Case of
57. High Plains Underground Water Overkill”, The Gaston Gazette (Freedom News
Conservation District, The Cross Section, Service), 2/08/02, e de Soap and Detergent
various issues, Lubbock, TX; Shah et al., op. Association, “Cleaning Products Overview:
cit., nota 56. History”, at www.sdahq.org/cleaning/history/
58. Estudo e exemplo de Bangalore relatado ; Diane di Constanzo, “Taking Personal Care”,
em Dale Whittington, “Municipal Water The Green Guide, janeiro/fevereiro 2003.
Pricing and Tariff Design: A Reform Agenda 5. International Network for Environmental
for South Asia”, Water Policy, fevereiro de Management, “Pollution Prevention in a
2003, pp. 61-76; comparação com consumo Tunisian Oil Extraction and Soap Manufacturing
nos EUA é cálculo das autoras. Facility, Case Studies in Environmental
59. Efeito do bombeamento da água Management in Small and Medium-Sized
subterrânea na vazão do Ipswich, de USGS, Enterprises (Hamburg: março de 1999).
Concepts for National Assessment of Water 6. U.S. Geological Survey, U.S. Department
Availability and Use, Circular 1223 (Reston, of the Interior, “What’s in That Water?” press
VA: 2002); American Rivers, America’s Most release (Reston, VA 13, março de 2002).
Endangered Rivers 2003 (Washington, DC:
2003); Departamento de Proteção Ambiental 7. J. Menoutis et al., “Triclosan and Its
de Massachusetts, State Strikes Balance with Impurities”, Quantex Laboratories
Water Withdrawal Permits for Ipswich River Technology Review (Edison, NJ: Quantex
Basin Communities (Boston: 20/05/03). Laboratories, Inc., 1998-2001); Kristin Ebbert,
“Anti-bacterial Soaps”, The Green Guide,
Sabonetes Antibacterianos março de 1997.
8. “Keeping Medicines Effective:
1. Infectious Diseases Society of America Resisting Resistance”, American Medical
(IDSA), “Antibacterial Soap No Better Than News (American Medical Association), 15/10/

248
Estado do Mundo 2004
NOTAS, SABONETES ANTIBACTERIANOS E CAPÍTULO 4

01; Helen Phillips, “Too Much Triclosan?” 5. Jim Hightower, “As American as Apple
Nature, 13/08/98. Pie: Ethical Consumerism”, The Nation, 30/
09/02; United Farm Workers, “Union to Launch
9. Ed Susman, “Too Clean for Comfort”,
‘Fair Trade Apple’ Campaign”, press release,
Environmental Health Perspectives, janeiro
8/08/01; Helen Taylor, Soil Association,
de 2001. Technical Services & Business Development
10. P. Ernst e Y Cormier, “Relative Scarcity Director (SA Cert), discussion with Brian
of Asthma and Atopy Among Rural Halweil, 7/06/03.
Adolescents Raised on a Farm”, American 6. Para uma dicussão sobre o aumento do
Journal of Respiratory and Critical Care transporte dos alimentos a longa distância,
Medicine, maio de 2000, pp. 1563-66. vide Brian Halweil, Home Grown: The Case
11. Susman, op. cit. nota 9; Alliance for for Local Food in a Global Market,
Prudent Use of Antibiótics, em www.tufts.edu/ Worldwatch Paper 163 (Washington, DC:
med/apua: “CDC’s Advice to Doctors: Clean novembro de 2002).
Your Hands”, American Medical News 7. Área de superfície, da Organização das
(American Medical Association), 25/11/02. Nações Unidas para Alimento e Agricultura
(FAO), FAOSTAT Statistical Database, em
apps.fao.org, atualizado em 22/08/03; Michael
Capítulo 4. Controlando
Brower e Warren Leon, The Consumer’s Guide
Nossa Alimentação
to Effective Environmental Choices:
Practical Advice from the Union of
1. Rita Oppenhuizen, Public Relations, Concerned Scientists (Nova York: Three
Max Havelaar Foundation, discussão com Rivers Press, 1999), p. 58; Organização para
Brian Halweil, 11/08/03; Max Havelaar Cooperação e Desenvolvimento Econômico
Foundation, “Max Havelaar – A Fair Trade (OCDE), Working Party on National
Label”, background history (Amsterdã: Environmental Policy, Sustainable
outubro de 1998). Consumption: Sector Case Study Series,
2. Max Havelaar Foundation, op. cit., nota 1. Household Food Consumption: Trends,
Environmental Impacts and Policy Response
3. International Federation for Alternative (Paris: dezembro de 2001), p. 44; Niels
Trade, “A Brief History of the Alternative Jungbluth e Rolf Frischknecht, “Indicators for
Trading Movement”, em www.ifat.org/ dwr/ Monitoring Environmental Relevant Trends
resource3.html, visitado em 03/08/03, A. M. of Food Consumption”, ESU-services,
Gutiérrez, “NGOs and Fairtrade, the Switzerland, em www.esu-services.ch/
Perspectives of Some Fairtrade Organisation”, download/SETAC-food consumption-
submitted to the School of Economic and indicator.pdf; Annika Carlsson-Kanyama,
Social Studies of the University of East Anglia, “Climate Change and Dietary Choices: How
International Relations and Development Can Emissions of Greenhouse Gases from
Studies, Norfolk, U. K., 2/09/96. Food Consumption Be Reduced”, Food
Policy, fall/winter 1998, pp. 288-89. Isso,
4. Oppenhuizen, op. cit., nota 1; Max todavia, não significa que alimentos
Havelaar Foundation, op. cit., nota 1. vegetarianos sejam sempre menos poluidores

249
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 4

do que alimentos animais. Uma refeição para consumo em 2002, em www.ita.doc.gov/


vegetariana feita com ingredientes de todo o td/industry/otea/ Trade-Detail/Latest-
mundo, ou cultivados em estufas aquecidas, December/Imports/ 16/160430.html; “Shark!
pode ser muito mais poluente do que refeições Danger Exaggerated, Says US Experts”,
de carne de origem local ou conservada de Reuters, 17/06/02; Brian Handwerk, “Asian
forma a minimizar emissões de gases. Shark-Fin Trade May be Larger than
Expected”, National Geographic News, 28/
8. Quadro 4-1 dos seguintes: Ranson
04/03; Patricia Brown, “Foie Gras Fracas:
Myers e Boris Worm, “Rapid Worldwide
Haute Cuisine Meets the Duck Liberators”,
Depletion of Predatory Fish Communities”,
New York Times, 24/09/03; Caviar Emptor
Nature, 15/05/03, pp. 280-83; Andrew Revkin,
Campaign, Roe to Ruin: Executive Summary
“Commercial Fleets Reduced Big Fish by 90
(Washington, DC: Natural Resources
Percent, Study Says”, New York Times, 15/
Defense Council, dezembro de 2002).
05/03; Seaweb, “Cover Study of Nature
Provides Startling New Evidence that Only 9. Peter Pringle, Food, Inc., Mendel to
10 Percent of All Large Fish are Left in the Monsanto,The Promises and Perils of the
Ocean”, press release (Washington, DC: 14 Biotech Harvest (Nova York: Simon &
de maio de 2003); para organizações de Schuster, 2003).
conservação marinha, vide, por exemplo,
10. Marion Nestle, Food Politics: How the
Audubon Society (magazine.audubon.org/
Food Industry Influences Nutrition and
seafood), The Monterey Bay Aquarium
Health (Berkley, CA: University of California
(www.mbayaq.org), e Marine Stewardship
Press, 2002).
Council (www.msc.org); Seafood Choices
Alliance, em www.seafoodchoices.com. 11. Alemanha, Estados Unidos e Reino
Quadro 4-2 dos seguintes: Compassion in Unido, de J. N. Pretty et al., “An Assessment
World Farming, Foie Gras Campaign fact of the Total External Costs of UK Agriculture”,
sheet, em www.ciwf.co.uk/Camp/Main/Foie/ Agricultural Systems, August 2000, pp. 113-
foie_ gras_campaign.htm, visitado em 23/09/ 36, e de Jules Pretty et al., “Policy Challenges
03; World Society for the Protection of and Priorities for Internalising the Externalities
Animals, “Forced Feeding – The Facts of Modern Agriculture”, Journal of
Behind Foie Gras Production, em Environmental Planning and Management,
www.wspa.org.uk/index.php?page=179, março de 2001, pp. 263-83.
visitado em 23/09/03; tendências do caviar,
12. Sudoeste da Inglaterra, da Foundation
de Douglas F. Williamson, Caviar and
for Local Food Initiatives, Shopping Basket
Conservation Status, Management, and
Survey for South West Local Food
Trade of North American Sturgeon and
Partnership (Londres: 2002).
Paddlefish (Cambridge, R.U.: World Wildlife
Fund, maio de 2003), p. 148; TRAFFIC, 13. McDonald’s, de David Barboza com
Sturgeons of the Caspian Sea and the Sherri Day, “McDonald’s Seeking Cut in
International Trade in Caviar (Cambridge, Antibiotics in Its Meat”, New York Times, 20/
R.U.: novembro de 1996); A International 06/03; Kraft de David Barboza, “Kraft Plans
Trade Agency informa que os Estados to Rethink Some Products to Fight Obesity”,
Unidos importaram 39.289 quilos de caviar New York Times, 2/07/03; Bill Vorley e Julio

250
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 4

Berdegué, “The Chains of Agriculture”, World nota; doenças, de Neil Barnard, Andrew
Summit on Sustainable Development Opinion Nicholson e Jo Lil Howard, “The Medical
(Londres: International Institute for Costa Attributed to Meat Consumption”,
Environment and Development (HED), maio Preventive Medicine, novembro de 1995.
de 2001); William Vorley, Agribusiness and
17. Christopher Delgado, Claude Courbois
Power Relations in the Agri-Food Chain,
e Mark Rosegrant, Global Food Demand and
background paper for Policies That Work for
the Contribution of Livestock As We Enter
Sustainable Agriculture and Regenerating
the New Millennium, MSSD Discussion Paper
Rural Economies (Londres: HED, junho de
no. 21 (Washington, DC: International Food
2000), p. 21; projeto Corrida ao Topo, vide
Policy Research Institute, 1998), p. 6.
www.racetothetop.org.
18. Jo Robinson, Why Grassfed is Best! The
14. Iowa Agricultural Statistics Service,
Surprising Benefits of Grassfed Meat, Eggs
December Hogs and Pigs, Iowa (Washington,
and Dairy Products (Vashon, WA: Vashon
DC: Departamento de Agricultura dos
Island Press, 2000), p. 8; “Hay! What a Way
Estados Unidos (USDA), 30/12/02); Paul
to Fight E. coli”, Science News Online, 19/09/
Willis, gerente, Niman Ranch Pork Company,
98, em www.sciencenews.org/sn_arc98/
discussão com Danielle Nierenberg, 12/06/03.
9_19_98/Food.htm.
15. Willis, op. cit. nota 14; Niman Ranch
19. Organização Mundial da Saúde (OMS) e
Web site, em www.nimanranch.com, visitado
FAO, Antimicrobial Resistance, Fact Sheet nº
em 15/06/03.
194 (Genebra: WHO, janeiro de 2003); Mellon,
16. Cees de Haan et al., “Livestock and the Benbrook, and Benbrook, op. cit., nota 16.
Environment: Finding a Balance”, relatório de
20. Ian Langford, citado em Nick Tattersall,
estudo coordenado pela FAO, Agência de
“Stressed Farm Animals Contribute to Food
Desenvolvimento Internacional dos Estados
Poisoning: R.U. Study”, Manitoba Co-
Unidos, e Banco Mundial (Bruxelas: 1997), p.
operator’s, 15/03/01.
53; FAO “Meat and Meat Products”, FAO
Food Outlook no. 4, outubro de 2002, p. 11. 21. Departamento de Saúde e Serviços
Figura 4-1 dos seguintes: ração de Vaclav Smil, Humanos dos Estados Unidos, Food and
Departamento de Geografia, Universidade de Drug Administration, Center for Food Safety
Manitoba, discussão com Brian Halweil, and Applied Nutrition, Consumer Questions
outubro de 2002, e de Erik Millstone e Tim and Answers about BSE (Washington, DC:
Lang, The Penguin Atlas of Food: Who Eats maio de 2003).
What, Where, and Why (Londres: Penguin 22. Dr. Gary Smith, Universidade da
Books, 2003), p. 34; água, de ibid., p. 35; Pensilvânia, Faculdade de Veterinária,
aditivos, de Margaret Mellon, Charles discussão com Danielle Nierenberg, fevereiro
Benbrook e Karen Lutz Benbrook, Hogging de 2003; “Transporting Animals in Europe”,
It! Estimates of Antimicrobial Abuse in in Millstone and Lang, op. cit., nota 16, p. 64.
Livestock (Washington, DC: Union of
Concerned Scientists, 2001); combustíveis 23. I. Koizumi et al., “Studies on the Fatty
fósseis, de Millstone e Lang, op. cit., esta nota, Acid Composition of Intramuscular Lipids of
pp. 35, 62; metano, de Haan et al., op. cit., esta Cattle, Pigs, and Birds”, Journal of Nutritional

251
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 4

Science Vitaminol (Tokyo), vol. 37. nº 6 (1991), “McDonald’s Seeking Cut in Antibiotics in
pp. 545-54; Robinson, op. cit., nota 18, pp. 12- Its Meat”, New York Times, 20/06/03, de
15; vide também Eat Wild Web site em “Fast Food, Not Fast Antibiotics”, New
www.eatwild.com. York Times, 22/06/03, e de David Barboza,
“Animal Welfare’s Unexpected Allies”, New
24. Smil, op. cit., nota 16.
York Times, 25/06/03.
25. Robinson, op. cit., nota 18, p. 7;
demanda pela carne, da FAO, op. cit., nota 7, 30. “Fast Food, Not Fast Antibiotics”, op. cit.,
atualizado 09/01/03; idem, op. cit., nota 17, p. nota 29; Barboza, op. cit., nota 29; Cornelius de
11; David Brubaker, ex-diretor-presidente da Haan et al., Livestock Development:
PennAg Industries, discussão com Danielle Implications for Rural Poverty, the
Nierenberg, setembro de 2002. Environment, and Global Food Security
(Washington, DC: World Bank, 2001), pp. xii-xiii.
26. Payal Sampat, “Choques Freáticos: A
Poluição dos Principais Mananciais de Água 31. Nadia El-Hage Scialabba e Caroline
Doce do Mundo”, World Watch, vol. 13, nº 1, Hattam, eds., Organic Agriculture,
p. 10; idem, “Expondo a Poluição Freática”, em Environment and Food Security,
Worldwatch Institute, Estado do Mundo 2001 Environment and Natural Resources Series,
(Salvador: UMA Editora, 2001), p. 22; Michael nº 4 (Roma: FAO, 2002), 29.
et al., “Impacts and Recovery from Multiple 32. Ibid.; AGRIPO Agriculture and
Hurricanes in a Piedmont-Coastal Plain River Pollution, “Policy Options for Pollution
System”, Bioscience, novembro de 2002, p. 999. Control – Sustainable Farming Systems”,
27. Bobby Inocencio, Teresa Farms, course modules prepared by Lithuanian
Philippines, discussão com Danielle University of Agriculture, 2001, p. 20, em
Nierenberg, agosto de 2002; Teresa Farms, distance.ktu.It/agripo/8-sust-farming.pdf.
Management Guide SASSO Free-Range 33. Internationale Fachmesse fur
Colored Chickens (Rizal, Filipinas: sem data). Abwassertechnik, “Farmers as Water
28. Steve Tarter, “Megahog Opponent Managers? Cooperation Initiatives between
Tours Poland”, Peoria Star Journal, 12/06/ Water Supply Companies and Agriculture:
01; Tom Garrett, “Polish Delegation One of the Themes at IFAT 2002”, minuta
Investigates American Agribusiness, apresentada na Feira Internacional de
Repudiates Factory Farming”, AWI Quarterly Comércio para Tecnologia de Esgoto, no. 7,
(Animal Welfare Institute, Washington, DC), setembro de 2001, Munique, Alemanha.
outono/inverno de 1999-2000, p. 7. 34. Universidade de Essex, de Pretty et al.,
29. Ovos e poedeiras, de Elizabeth Becker, “An Assessment of the Total External Costs”,
“Advocates for Animals Turn Attention to op. cit., nota 11; Philippines from P.L. Pingali et
Chickens,” New York Times, 4/12/02, e de al., “The Impact of Pesticides on Farmer Health:
“McDonald’s USA Animal Welfare Laying A Medical and Economic Analysis in the
Hens Guidelines”, em www.mcdonalds.com/ Philippines”, em P. L. Pingali e P. A. Roger, eds.,
countries/usa/community/welfare/ Impact of Pesticides on Farmer Health and
laying_hen/index.html; antibióticos, de the Rice Environment (Norwell, MA: Kluwer
David Barboza com Sherri Day, Academic Publishers, 1995), pp. 343-60.

252
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 4

35. Fazendas orgânicas e biodiversidade, Holanda e Kenya Institute of Organic Farming


de El-Hage Scialabba e Hattam, op. cit., nota (Leusden e Nairobi: março de 1998).
31, pp. 38-53.
41. El-Hage Scialabba e Hattam, op. cit., nota
36. “The Global Market for Organic Food 31, pp. 8-10; Parrott e Marsden, op. cit., nota
& Drink,” Organic Monitor (Londres), julho 37, p. 62; Nicholas Parrott, Faculdades das
de 2003. Uma estimativa semelhante de US$ Cidades e Planejamento Regional,
23-25 bilhões em 2003 vem de Minou Yussefi Universidade de Cardiff, R.U., discussão com
e Helga Willer, eds., The World of Organic Brian Halweil, 12/09/03.
Agriculture 2003 – Statistics and Future 42. Brian P. Baker et al., “Pesticide Residues
Prospects (Tholey-Theley, Alemanha: in Conventional, IPM-grown and Organic
International Federation of Organic Foods: Insights from Three U.S. Data Sets”,
Agriculture Movements (IFOAM), 2003), p. Food Additives and Contaminants, May 2002,
24; 23 milhões de hectares e Figuras 4-2 e 4-3 pp. 427-46; Cynthia L. Curl et al.,
de ibid., p. 13. “Organophosphorus Pesticide Exposure of
37. Nicholas Parrott e Terry Marsden, The Urban and Suburban Preschool Children with
Real Green Revolution (Londres: Greenpeace Organic and Conventional Diets”,
Environmental Trust, 2002), p. 61; Rick Welsh, Environmental Health Perspectives, março de
The Economics of Organic Grain and 2003, pp. 377-82.
Soybean Production in the Midwestern 43. Edward Groth, cientista sênior,
United States, Henry A. Wallace Institute for Consumers Union, discussão com Brian
Alternative Agriculture, Policy Studies Report Halweil, 22/09/03; National Research Council,
nº 13 (Greenbelt, MD: maio de 1999); P. Mader Pesticides in the Diets of Infants and Children
et al., “Soil Fertility and Biodiversity in (Washington, DC: National Academy Press,
Organic Farming”, Science, 31/05/02. 1993); Baker et al., op. cit., nota 42; Misa Kishi
38. Bill Liebhardt, Get the Facts Straight: e Joseph Ladou, “International Pesticide Use”,
International Journal of Occupational and
Organic Agriculture Yields are Good,
Environmental Health, outubro/dezembro de
Information Bulletin nº 10 (Santa Cruz, CA:
2001; Dina M. Schreinmachers et al., “Cancer
Organic Farming Research Foundation, verão
Mortality in Agricultural Regions of
de 2001).
Minnesota”, Environmental Health
39. Peter Tschannen, Project Director, Perspectives, março de 1999; S. H. Swan et al.,
Remei AG Biore, Lettenstrasse, Suíça, “Semen Quality in Relation to Biomarkers of
discussão com Brian Halweil, 4/05/03; Tadeu Pesticide Exposure”, Environmental Health
Caldas, “A Glimpse into the Largest Organic Perspectives, September 2003, pp. 1478-84; M.
Project in Asia”, Ecology and Farming F. Cavieres et al., “Developmental Toxicity of
(IFOAM), março de 2000. a Commercial Herbicide Mixture in Mice: I,
Effects on Embryo Implantation and Litter
40. Jean-Marie Diop et al., On-Farm Agro-
Size”, Environmental Health Perspectives,
Economic Comparison of Organic and novembro de 2002, pp. 1081-85.
Conventional Techniques in High and Medium
Potential Areas of Kenya, publicação conjunta 44. Danny K. Asami et al., “Comparison of
da ETC (Educational Training Consultants) the Total Phenolic and Ascorbic Acid Content

253
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 4

of Freeze-Dried and Air-Dried Marionberry, a Brian Halweil, 18/07/03; para o movimento


Strawberry, e Corn Grown Using Conventional, Navdanya, vide www.navdanya.orf>; Francis
Organic, and Sustainable Agricultural Moore Lappé e Anna Lappé, Hoppe’s Edge:
Practices”, Journal of Agricultural and Food The Next Diet for a Small Planet (Nova York:
Chemistry, fevereiro de 2003, pp. 1237-41. Tarcher/Putnam, 2002), pp. 145-50.
45. “Stranglehold, Pesticides: What’s the 52. “The Old Ones are the Best”, New
Way Out?” Down to Earth, 15/06/03. Agriculturalist on-line, 1o/09/03, em www.new-
46. Asami et. al., op. cit., nota 14. agri.co.uk/03-5/focuson/ focuson5.html.

47. Participação no Alimento Lento, de 53. Norman E. Borlaug, “The Next Green
Ilaria Morra, Departamento de Imprensa, Slow Revolution”, New York Times, 11/07/03;
Food, e-mail a Brian Halweil, 14/07/03; Carlo Sustain: The Alliance for Better Food and
Petrini, presidente, Slow Food, e-mail a Brian Farming, “Study Visit to Italy: The Italian
Halweil, 17/07/02. School Meals System”, em www.
sustainweb.org/chain_italy_study.asp,
48. Alejandro Argumedo, Andes, Cuzco,
visitado em 1o/09/02; Anne Dolamore et al.,
Peru, e-mail a Brian Halweil, 15/03/002.
Good Food on the Public Plate: A Manual
49. Comércio e volume, da FAO, op. cit., for Sustainability in Public Sector Food and
nota 7, atualizado em 24/12/02; pesquisas nos Catering (Londres: Sustain and East Anglia
EUA, de Matthew Hora e Jody Tick, From Food Link, 2003).
Farm to Table: Making the Connection in
the Mid-Atlantic Food System (Washington, 54. JoAnn Jaffe, University of Regina, e-
DC: Capital Area Food Bank, 2001), e de Rich mail a Brian Halweil, 26/04/02, baseado em
Pirog et al., Food, Fuel, and Freeways: An JoAnn Jaffe e Michael Gertler, “Victual
Iowa Perspective on How Far Food Travels, Vicissitudes: Consumer Deskilling and the
Fuel Usage, and Greenhouse Gas Emissions Transformation of Food Systems”, em M.
(Ames, IA: Leopold Center for Sustainable D. Mehta, ed., The Sociology of
Agriculture, Iowa State University, 2001), pp. Biotechnology (Toronto: University of
1, 2; R.U. dados e Figura 4-4 de Andy Jones, Toronto Press, no prelo).
Eating Oil: Food Supply in a Changing
55. Sumários de tendências de
Climate Londres: Sustain, 2001).
consolidação estão disponíveis em William
50. New Economies Foundation, “Local Heffernan et al., Consolidation in the Food
Food Better for Rural Economy that and Agriculture System (Washington, DC:
Supermarket Shopping”, press release National Farmers Union, fevereiro de 1999),
(Londres: 7/08/01); Christopher Delgado et al., em Mary Hendrickson et al., Consolidation
Agricultural Growth Linkages in Sub- in Food Retailing and Dairy: Implications
Saharan Africa, Research Report 107 for Farmers and Consumers in a Global Food
(Washington, DC: International Food Policy System (Washington, DC: janeiro de 2001)
Research Institute, dezembro de 1998). (disponível em www.foodcircles. issouri.edu),
51. Vandana Shiva, Research Foundation e em Halweil, op. cit., nota 6; Lappé e Lappé,
for Science, Technology and Ecology, e-mail op. cit., nota 51, pp. 138-64.

254
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 4 E ÁGUA ENGARRAFADA

56. Mais de 26 milhões de refeições, do or Pure Hype? (Nova York: March 1999);
USDA, National School Lunch Program, França de Ferrier, op. cit., nota 1, p. 16.
“FAQs”, em www.fns.usda.gov/cnd/Lunch/
5. Maude Barlow, Blue Gold: The Global
boutLunch/faqs.htm, atualizado em agosto
Water Crisis and the Commodification of the
de 2003; Agência de Consoumo Sueca, de
World’s Water Supply, rev. ed. (Ottawa, ON,
OCDE, op. cit., nota 7, p. 53. No Quadro 4-3,
Canadá: Council of Canadians, primavera
mais de US$ 300 bilhões em subsídios, de
2001), pp. 46-47; Anthony DePalma, “Free
OCDE, Agricultural Policies in OECD
Trade in Fresh Water? Canada Says No and
Countries: Monitoring and Evaluation
Halts Exports”, New York Times, 8/03/99,
2002 (Paris: 2002).
6. Container Recycling Institute (CRI),
57. Mudanças históricas na política
“Plastic Soda Bottle Recycling Rate Down
alimentícia, de Nestlé, op. cit., nota 10; Stuart
Again…Virgin Resin Production Outpaces
Laidlaw, Secret Ingredients: The Brave New
Recycling”, em www.container-recycling.org/
World of Industrial Farming (Toronto:
plasrate/ ratedown.htm; dados do ciclo de
McClelland & Stewart Ltd., 2003), p. 254.
vida de PET, da Associação das Indústrias de
Plásticos da Europa, citados em Baxter CVG,
Água Engarrafada The Economic and Ecological Implications
of a Solid Waste Reduction Program, em
1. Catherine Ferrier, Bottled Water www.wastereduction.org/ Baxter/Bax5.htm.
Understanding a Social Phenomenon
(Washington, DC; World Wildlife Fund, April 7. Ferrier, op. cit., nota 1, p. 23.
2001), p. 13; taxa de crescimento do consumo, 8. Garrafas de água nos Estados Unidos
de International Year of Freshwater, “Facts de Patricia Franklin, “Letter from the Executive
and Figures: Bottled Water”, em Director”, Containers and Packaging
www.wateryear2003. org.Rajesh Mahapatra, Recycling Update (CRI, Arlington, VA), verão/
“Pesticide Findings Spur Indian Government outono de 2003, p. 2; Kalyan Moitra, “Recycle
Crack-down on Bottled Water Companies”, Onus on PET Producers, Says PCB”,
Associated Press, 21/02/03; gastos globais, Economic Times of India, 27/06/03; CRI, Bottle
de Brian Howard, “The World’s Water Crisis”, Bill Resource Guide, em www.bottlebill.org.
E Magazine, setembro/outubro de 2003, p. 28.
9. Motivos para beber água engarrafada,
2. Descrição da água e recall da Perrier, de Ferrier, op. cit., nota 1, p. 16; NRDC, op. cit.
de Ferrier, op. cit., nota 1, pp. 3, 6, 17. nota 4; Centre for Science and Environment,
3. Anne Christiansen Bullers, “Bottled “Pure Water or Pure Peril?” press release (New
Water: Better Than the Tap?” FDA Consumer Delhi: 4/02/03); Hansika Pal, “Debate Over
Magazine (.U.S. Food and Drug Pesticide Residue Clouds Bottled Water”,
Administration), julho – agosto de 2002. Economic Times of India, 6/02/03.
4. Ásia e Pacífico, de Ferrier, op. cit., nota 10. Ano Internacional da Água Doce, em
1, p. 13; falta de acesso, de Howard, op. cit. www.un.org/events/water; Millennium
nota 1, p. 3; Natural Resources Defense Development Goals em www.un.org/
Council (NRDC), Bottled Water: Pure Drink millenniumgoals.

255
Estado do Mundo 2004
NOTAS, FRANGOS E CHOCOLATE

Frangos Poultry Products: A Report by CI Members in


Australia and the United States”, apresentado
1. World Society for the Protection of pela Consumers International à Comissão do
Animals (WSPA), World Farmwatch, “The Codex sobre Resíduos de Medicamentos
Facts About Our Food Eggs”, pamphlet, em Veterinários nos Alimentos, 4-7/03/03;
www.wspa.org.uk; Paul Shapiro, Compassion Comissão Européia, “The Welfare of Chickens
Over Killing, and Bruce Freidrich, People for Kept for Meat Production (Broilers)”, Relatório
the Ethical Treatment of Animals, e-mails à do Comitê Científico sobre Saúde e Bem-Estar
autora, 15/09/03. dos Animais, 21/03/00, pp. 31-36, 42-43;
Browne, op. cit., nota 5.
2. WSPA, op. cit., nota 1; Shapiro, op. cit.,
nota 1; Freidrich, op. cit., nota 1; Stuart 7. Browne, op. cit., nota 5; Erik Millstone e
Laidlaw, Secret Ingredients: The Brave New Tim Lang, The Penguin Atlas of Food: Who
World of Industrial Farming (Toronto: Eats What, Where, and Why (Londres: Penguin
McClelland & Stewart Ltda., 2003), pp. 31-52. Books, 2003), p. 38.

3. WSPA, op. cit., nota 1; Laidlaw, op. cit., 8. “In Praise of Family Poultry”,
nota 2, p. 33; Shapiro, op. cit., nota 1; Agriculture 21 (U.N. Food and Agriculture
Compassion in World Farming, Laying Hen Organization), março de 2002.
Factsheet, em www.ciwf.co.uk/ Camp/Main/ 9. Kimberlie Cole, Westwind Farms, e-mail
Battery/battery_hen_campaign.htm, visitado a Clayton Adams, Worldwatch Institute, 14/
em 23/09/03. 08/03; West Wind Farms Web site, em
www.grassorganic.com, visitado em 02/06/03.
4. WSPA, op. cit., nota 1; Compassion in
World Farming, op. cit., nota 3; National
Animal Health Monitoring System, Part II: Chocolate
Reference of 1999 Table Egg Layer
Management in the U.S. (Washington, DC: 1. Allen M. Young, The Chocolate Tree:
Departamento de Agricultura dos Estados A Natural History of Cacao (Washington, DC:
Unidos (USDA), 2000); Michael Appleby, Smithsonian Institution Press, 1994), pp. 2-8;
vice-presidente, Farm Animals and J. C. Motamayor and C. Lanaud, “Molecular
Sustainable Agriculture, Humane Society of Analysis of the Origin and Domestication of
the United States, e-mail à autora, 26/09/03. Theobroma cacao L.”, in Johannes M. M.
Engels et al., eds., Managing Plant Genetic
5. Anthony Browne, “Ten Weeks to Live”,
Diversity (Wallingford, R.U.: CABI Publishing,
The Observer, 10/03/02; Shapiro, op. cit., nota 1.
2002), pp. 77-87.
6. Volume de ração, de Richard Reynnells,
2. Organização de Alimentos e Agricultura
National Program Leader, Animal Production
dos Estados Unidos (FAO), FAOSTAT
Systems, USDA, e-mail à autora, 26/09/03, e
Statistical Database, em apps.fao.org,
de Mack O. North, Commercial Chicken
visitado em 03/09/03.
Production Manual, 3rd ed. (Westport, CT:
AVI Publishing Company, Inc., no date), p. 3. Visão geral dos requisitos para cultivo
374; Consumers Union, “Presence of Anti- do cacau, disponíveis no website da
microbial Resistant Pathogens in Retail Organização Internacional do Cacau em

256
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CHOCOLATE E CAMARÕES

www.icco.org/questions/tree.htm, visitado em Work in February 2001”, press release (Genebra:


setembro de 2003; disseminação do cacau 28/11/00). As estimativas da receita da fazenda
pelos trópicos, de Young, op. cit., nota 1, pp. assumem uma participação de 80% da fazenda
14-47; Russell A. Mittermeier, Norman Myers, na receita anual das exportações; para 2002, essas
e Cristina Goettsch Mittermeier, Hotspots: receitas foram estimadas em US$ 4,4 bilhões,
Earth’s Biologically Richest and Most multiplicando-se a produção global (disponível
Endangered Terrestrial Ecoregions (Cidade em FAO, op. cit., nota 2) pelo preço médio de
do México: CEMEX/ Conservation 2002 (disponível no Quarterly Bulletin of Cocoa
International, 1999. Statistics da Organização Internacional do
Cacau), abusos da mão-de-obra, de “New
4. Produção comercial sob 60% de
Foundation Launched to Fight Problem in Cocoa
cobertura, de Norman D. Johns,
Industry”, U.N. Wire, 2/07/02, de Sumana
“Conservation in Brazil’s Chocolate Forest:
The Unlikely Persistence of the Traditional Chatterjee, “Chocolate Industry to Fight Child
Cocoa Agroecosystem”, Ambio, maio de Slavery”, San Jose Mercury News, 2/07/02, e de
2000, pp. 167-73. Brooke Shelby Biggs, “Slavery Free Chocolate?”
em www.alternet.org, 7/02/02.
5. Desmatamento global e Costa do
Marfim, de Rice e Greenberg, op. cit., nota 4, 8. Para um relato completo do sistema de
p. 169; B. Duguma, J. Gockowski, e J. Bakala, comércio justo, vide Fairtrade Labelling
“Small-holder Cacao (Theobroma cacao Linn.) Organizations International, em www.fairtrade.net;
Cultivation in Agroforestry Systems of West lindano, de René Philippe et al., “Rational
and Central Africa: Challenges and Chemical Pest Control”, em Dominique Mariau,
Opportunities”, Agroforestry Systems, vol. 51, ed., Integrated Pest Management of Tropical
nº 3 (2001), pp. 177-79; perda florestal na Perennial Crops (Enfield, NH: Science Publishers,
Indonésia, de François Ruf e Yoddang, “Cocoa 1997), pp. 25-35.
Migrants from Boom to Bust”, in François
Gérard and François Ruf, eds., Agriculture in Camarões
Crisis: People, Commodities and Natural
Resources in Indonesia, 1996-2001
1. Egito, de Don Brothwell e Patricia
(Richmond, Surrey, R.U.: Curzon Press, 2001),
Brothwell, Found in Antiquity – A Survey of
pp. 106, 131-32; Brasil, de Johns, op. cit., nota
the Diet of Early Peoples (Baltimore, MD;
4, pp. 31-47; Camarões, de Jum Gockowski,
John Hopkins University Press, 1998), pp. 55-
International Institute of Tropical Agriculture,
56; “A Brief History of Shrimp Farming,
e-mail ao autor, 13/12/01.
“Shrimp News International, em
6. Rice e Greenberg, op. cit., nota 4, pp. www.shrimpnews.com/ History.html,
169-70 e Tabela 2. atualizado em 1o/10/03.
7. Valor global do varejo do cacau, de Trevor 2. Globefish, citado em Foodmarket
Datson, “Chocoholism Reached Almost Exchange.com, “Shrimpe Production”, em
Epidemic Proportions,” Reuters, 12 February w w w. f o o d m a r k e t e x c h a n g e . c o m /
2003, e da Conferência das Nações Unidas sobre datacenter/product/seafood/shrimp/
Comércio e Desenvolvimento, “UN Cocoa detail/de_pi_sf_shrimp0302_01.htm,
Conference Ends 10-Day Session; Will Resume visitado em 28/08/03.

257
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAMARÕES E REFRIGERANTES

3. Produção chinesa, de ibid.; principal 9. David Barnhizer, “The Trade,


exportador, de Foodmarket Exchange.com, Environment and Human Rights: The
“Shrimp Trade”, em www.foodmarketexchange. Paradigm Case of Industrial Aquaculture and
com/datacenter/product/seafood/shrimp/ the Exploitation of Traditional Communities”,
de_oi_sf_shrimp04.htm, visitado em 28/04/03. Mangrove Action Project Web site, em
www.earthisland.org/map/ trd-hmm.htm;
4. Importações nos Estados Unidos, de Environmental Justice Foundation, Smash &
Helga Josupeit, “An Overview on the World Grab: Conflict, Corruption and Human
Shrimp Market”, September 2001, em Rights Abuses in the Shrimp Farming
www.globefish.org/presentations, visitado em Industry (Londres: 2003).
28/08/03; U.S. National Oceanic e Atmospheric
Administration, “Shrimp Overtakes Canned 10. Vandana Shiva, apresentação na Cúpula
Tuna as Top U.S. Seafood”, press release dos Povos, St. Mary’s University, Halifax, NS,
Canadá, 17/06/95; citação mencionada em
(Washington, DC: 28/08/02); Japão, de
Environmental Justice Foundation, op. cit.,
Globefish, “Shrimp”, Monthly Market Report,
nota 6, p. 1.
abril de 2003, em www.globefish.org/
marketreports/Shrimp/Shrimp4.htm, e de John 11. Consórcio de Network of Aquaculture
M. Saulnier, “European Ban on Asian Shrimp Centres in Asia-Pacific, Shrimp Farming and
Imports Puts Even More Pressure on Prices”, the Environment Web site, em www.enaca.org/
Global Seafood Magazine (Quick Frozen Shrimp/ShrimpAquacultureCertification.htm;
Foods International), abril de 2002. Told Steined, Sea Turtle Restoration Project,
Earth Island Institute, “Sea Turtles, Shrimp
5. Três quartos e US$ 7 bilhões, de Fisheries, and the Turtle Excluder Device”,
Globefish, “Shrimp”, Commodity Update, June apresentação elabora para o Tribunal dos
2002, em www.globefish.org/ publications/ Camarões nas Nações Unidas, 29/04/96, em
commodityup date/200206/ 200206.htm; Elliot www.earthsummitwatch.org/shrimp/ positions/
Norse e Les Watling, “Clearcutting the Ocean pov2.html; World Rainforest Movement, “Local
Floor”, Earth Island Journal, verão 1999. Fisherfolk Protect the Mangroves in Sri Lanka”,
6. Environmental Justice Foundation, WRM Bulletin nº 20, 10/02/99.
Squandering the Seas: How Shrimp
Trawling is Threatening Ecological Refrigerantes
Integrity and Food Security Around the
World (Londres: 2003), p. 2. 1. Beverage Marketing Corporation, Global
Carbonated Soft Drinks: A Worldview, 2003
7. Denise Johnston, Chris Soderquist e
Edition (Nova York), conforme John Rodwan,
Donella H. Meadows, The Shrimp Commodity
e-mail ao autor, 29/09/03. Em 2002, 22,3% do
System: A Sustainability Institute Report
volume de refrigerantes nos EUA foi embalado
(Hartland, VT: The Sustainability Institute,
para ser servido em máquinas; assim, não
2000) p.3.
incluem água ou dióxido de carbono (Ibid.);
8. Isabel de la Torre, “The Unpalatable por motivo de simplicidade, o foco aqui
Prawn”, Earth Island Journal, primavera concentra-se na maioria dos refrigerantes,
de 2000. embalados diretamente para os consumidores.

258
Estado do Mundo 2004
NOTAS, REFRIGERANTES

2. Paul Vallely, Jon Clarke e Liz Stuart, “Coke Griggs, e-mail ao autor, 19/12/01; Roland R.
Adds Life? In India, Impoverished Farmers Griffiths e Elen M. Vernotica, “Is Caffeine a
Are Fighting to Stop Drinks Giant Flavoring Agent in Cola Soft Drinks? Archives
“Destroying Livelihoods’”, The of Family Medicine, agosto de 2000, p. 732;
Independence, 25/07/03; Surendranath C., Ronald R. Watson, “Caffeine: Is it Dangerous
“Coca-Cola: Continuing the Battle in Kerala”, to Health?” American Journal of Health
Corp Watch, 10/07/03; Edward Luce, “Pepsi Promotion, primavera de 1988; Roland
and Coca-Cola Deny Pesticide Claims”, Griffiths, Johns Kopkins University School of
Financial Times, 5/08/03; Centre for Science Medicine, e-mail ao autor, 22/01/02; cafeína
and the Environment, “Government Confirms em Pepsi, de “Caffeinated Kids”, Consumer
Pesticides in Soft Drinks”, press release (Délhi, Reports, julho de 2003, p. 28.
Índia: 21/08/03).
5. Beverage Marketing Corporation,
3. Cerca de 25% do volume nos Estados Global Beverage Packaging, 2002 Edition
Unidos consiste de refrigerantes dietéticos (Nova York: 2002), conforme Rodwan, op. cit.,
(conforme o Departamento de Agricultura nota 1; Laurel Wentz, “Global Marketers Spend
(USDA), Serviço de Pesquisa Econômica, Per $71 Million”, Advertising Age, 11/11/02, em
Capita Food Consumption Data System: w w w. a d a g e . c o m / i m a g e s / r a n d o m /
Beverages, em www.ers.usda.gov/ Data/ GloboMarketers2000.pdf, visitado em 26/09/03;
FoodConsumption/Spreadsheets/ Steven Manning, “How Corporation Are
beverage.xls, visitado em 1o/08/03), que Buying Their Way Into America’s Classrooms”,
substituem adoçantes de alta intensidade em The Nation, 27/09/99, pp. 11-18.
açúcares. Embora esses adoçantes sejam,
essencialmente, não-calóricos, não 6. Jennifer Gitlitz, Trashed Cans: The
contribuindo assim diretamente para a Global Environmental Impacts pf Aluminum
obesidade, há um debate contínuo sobre sua Can Wasting in America (Arlington, VA:
segurança. Dados do consumo nos EUA, de Container Recycling Institute, junho de 2002);
USDA, op. cit., esta nota; absorção de cálcio, número de latas, de Beverage Marketing
de Claude Cavadini et al., “U.S. Adolescent Corporation, Beverage Packaging in the U.S.,
Food Intake Trends from 1965 to 1996”, 2003 Edition (Nova York: 2003), conforme
Archives of Disease in Childhood, vol. 83, no. Rodwan, op. cit., nota 1, com cálculos
1 (2000), p. 19; Departamento de Saúde e baseados em Gitlitz, op. cit., esta nota;
Serviços Humanos dos Estados Unidos, The “Summary of the National Beverage Producer
Surgeon General’s Call to Action to Prevent Responsibility Act of 2002: Senate Bull 2220”,
and Decrease Overweight and Obesity, 2001 factsheet (Athens, GA: Grassroots Recycling
(Washington, DC: 2001); David S. Ludwig et Network, sem data); Suécia e Michigan, de
al., “Relationship Between Consumption of Gitlitz, op. cit., esta nota, pp. 27-28.
Sugar-Sweetened Drinks and Childhood 7. Erika Hayasaki, “Schools to End Soda
Obesity: A Prospective, Observational Sales,” Los Angeles Times, 28/08/02; imposto
Analysis”, The Lancet, 17/02/01, p. 507. sobre junk-food, de Michael F. Jacobson e Kelly
4. Componente de cafeína, de Euromonitor D. Brownell, “Small Taxes on Soft Drinks and
International, Soft Drinks: The International Snack Foods to Promote Health”, American
Market, 2001 Edition, conforme Trudy Journal of Public Health, junho de 2000, pp.

259
Estado do Mundo 2004
NOTAS, REFRIGERANTES E CAPÍTULO 5

854-57 (atualmente os impostos são recolhidos 6. Juliet Schor, “The Triple Imperative:
a um fundo geral); Suécia e Polônia, de Global Ecology, Poverty and Worktime
Euromonitor International, Marketing to Reduction” (Boston, MA: Boston College,
Children: A World Survey, 2001 Edition, de maio de 2001, inédito); 90% de redução, de
Trudi Griggs, Euromonitor, e-mail ao autor, 25/ Gary Gardner e Payal Sampat, Mind Over
01/02, e de Ingrid Jacobsson, “Advertising Ban Matter: Recasting the Role of Materials in
and Children: Children Have the Right to Safe Our Lives, Worldwatch Paper 144
Zones”, Current Sweden, junho de 2002; (Washington, DC: Worldwatch Institute,
vendas e projeções de Beverage Marketing dezembro de 1998), p. 25.
Corporation, op. cit., nota 1.
7. Tendências do comércio de matérias-
primas, do Banco Mundial, “Change in
Capítulo 5. Rumos para uma Commodity Production and Trade”, Global
Economia Menos Consumista Commodities Markets Online, at
www.worldbank.org/prospects/gmconline/
1. Richard B. Brightwell, “A Short index.htm, abril de 2000, p. 10; preços de
Biography of King Camp Gillette”, em commodities, do Fundo Monetário
w w w. c r e e k s t o n e . n e t / r a z o r s / Internacional, International Financial
kingcampgillette.htm, visitado em 18/09/03; Statistics Yearbook (Washington, DC:
“King C. Gillette Disposable-Blade Safety annual), e de Michael Renner, “Commodity
Razor,” Inventor of the Week Archive, junho Prices Weak”, em Worldwatch Institute, Vital
de 2000, Lemelson-MIT Program, em Signs 2001 (Nova York: W.W. Norton &
web.mit.edu/invent/iow/Gillette.html. Company, 2001), p. 122; Michael Renner, The
2. Eric A. Taub, “DVD’s Meant for Buying Anatomy of Resource Wars, Worldwatch Paper
162 (Washington, DC: Worldwatch Institute,
but Not for Keeping”, New York Times, 21/7/03.
outubro de 2002).
3. Edward Rothstein, “A World of Buy, Buy,
8. Robert Brenner, “The Economics of
Buy, from A to Z”, New York Times, 19/07/03.
Global Turbulence: A Special Report on the
4. Citação de Leblow, de Vance Packard, World Economy, 1950-1998”, New Left Review,
The Waste Makers (Nova York: David Mckay, no 229 (1998), pp. 258-61; superávit comercial
1960). China-EUA, de Joseph Kahn, “China Seen
Ready to Conciliate U.S. on Trade and Jobs”,
5. Alan Durning, em How Much Is New York Times, 2/09/03; competição salarial
Enough? (Nova York: W.W. Norton & China-México, de Juan Forero, “As China
Company, 1992), argumentou que sob uma Gallops, Mexico Sees Factory Jobs Slip
perspectiva de impacto no consumo e na Away”, New York Times, 3/09/03.
ecologia, a humanidade está dividida em três
classes amplas de consumo: consumidores, 9. Organização para Cooperação e
classe média e os pobres. Embora o número Desenvolvimento Econômico (OCDE),
específico de pessoas nessas categorias, e Towards Sustainable Consumption: An
os limiares da categoria, estejam Economic Conceptual Framework
constantemente instáveis, a distinção (Paris: Environment Directorate, junho de
2002),p. 41.
continua sendo útil para fins conceituais.

260
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 5

10. Tabela 5-1 adaptada de Norman Myers Deutsches Institut fur Wirtschaftsforschung
e Jennifer Kent, Perverse Subsidies. How Tax (DIW), “Wirkungen der Okologischen
Dollars Can Undercut the Environment and Steuerreform in Deutschland”, DIW-
the Economy (Washington, DC: Island Press, Wochenbericht, nº 14/2001.
2001), pp. 187-88.
15. Esforços de harmonização européia, de
11. Herman E. Daly, “Five Policy Green Budget Germany, Green Budget News
Recommendations for a Sustainable – European Newsletter on Environmental
Economy”, em Juliet B. Schor e Betsy Taylor, Fiscal Reform, 2-4/2-3, em www.eco-tax.info/
eds., Sustainable Planet: Solutions for the 2newsmit/newseng/ GBN2.html, e da Agência
21st Century (Boston: Beacon Press, 2002); Ambiental da Europa (Bruxelas),
OCDE, Policies to Promote Sustainable Environmental Fiscal Reform Campaign
Consumption: An Overview (Paris: Newsletter, abril – setembro de 2003.
Environment Directorate, julho de 2002), p.
17; Lorenz Jarass, “More Jobs, Less Tax 16. Disposições alemãs, de Stefan Bach e
Evasion, Better Environment– Towards a Michael Kohlhaas, “Nur zaghafter Einstieg in
Rational European Tax Policy”, Contribuição die okologische Steuerreform”, DIW-
à Audiência no Parlamento Europeu, Wochenbericht, no 36/1999; Reinhard Loske e
Bruxelas, 17/10/96. Kristin Heyne, “Okologische Steuerreform:
Die Stufen 2-5”, press release (Berlim:
12. OCDE, op. cit., nota 9, p. 17; tendências German Green Party parliamentary group,
da recenta fiscal e Tabela 5-2 de Ulf Johansson 29/06/99; Umwelt-und Prognose-Institute,
e Claudius Schmidt-Faber, “Environment Taxes “Stellungnahme des UPI-Instituts vom 23.
in the European Union 1980-2001”, Eurostat Januar, incl. Nachtrage vom 8.2. und 25.2.99”,
Statistics in Focus, 9/2003, pp. 1, 3, 6. at www.upi-institut.de/ oes199.htm; aumento
13. OCDE, Making Work Pay: Taxation, para 60% de Michael Kohlhaas, Energy
Benefits, Employment and Unemployment, Taxation and Competitiveness – Special
The OECD Jobs Strategy Series (Paris: 1997); Provisions for Business in Germany’s
idem, “Environmentally Related Taxes Environmental Tax Reform, DIW Discussion
Database”, em www.oecd.org/ document/29/ Papers, no 349 (Berlim: DIW, maio de 2003);
0,2340,en_2649_37465_1894685_1_1_1_1_1,00.html, alerta recente de “Trittin Droht Industrie mit
visitado em 29/08/03; Johansson e Schmidt- Hoherer Okosteuer”, Der Spiegel, 13/08/03.
Faber, op. cit., nota 12, pp. 3.4.
17. BUND, “Eckpunkte zur Weiterentwicklung
14. Emissões de dióxido de carbono der okologischen Steuerreform”, em
evitadas em 2002 e empregos obtidos, de www.ocko-steuer. de/downloads/bund-
Umweltbundesamt (Agência Ambiental da oekosteuer.eckpunkte. pdf, 12/05/03; Reinhard
Alemanha), “Hohere Mineralolsteuer Entlastet Loske e Frank Steffe, “Okonomische Anreize
die Umwelt und den Arbeitsmarkt”, press in der Umweltpolitik”, Blatter fur Deutsche
release (Berlin: 3 January 2002); crescimento und International Politik, no 9 (2001), pp.
da receita de BUND, “Wie Hoch Sind die 1082-83; Umwelt-und Prognose-Institut,
Okosteuern?” em www.oeko-steuer.de/ “Kampagne der CDU/CSU gegen die
pages/fakt_ oekosteuer.phtml, visitado em 3/ Okosteuer”, atualizado em 23/02/03, em
08/03; projeção do emprego até 2010 de www.upi-institut.de/cdu-kamp.htm.

261
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 5

18. Lisa Mastny, Purchasing Power- 25. Paul Hawken, Amory Lovins e L. Hunter
Harnessing Institutional Procurement for Lovins, Natural Capitalism (Boston: Little,
People and the Planet, Worldwatch Paper 166 Brown and Company, 1999); Ernst von
(Washington, DC: Worldwatch Institute, julho Weizsacker, Amory B. Lovins e L. Hunter
de 2003); Anne Berlin Blackman, Jack Luskin, e Lovins, Factor Four: Doubling Wealth,
Robert Guillemin, Programs for Promoting Halving Resource Use (Londres: Earthscan,
Sustainable Consumption in the United States 1997); Gardner e Sampat, op. cit., nota 6, p. 26.
(Lowell, MA: Toxics Use Reduction Institute,
26. Moll, Bringezu e Schutz, op. cit., nota
University of Massachusetts, dezembro de 1999).
23, pp. 9, 30, 53; Matthews et al., op. cit., nota
19. Michael Scholand, “Appliance 23, p. XI.
Efficiency Takes Off”, em Worldwatch
27. Christer Sanne, “Willing Consumers –
Institute, Vital Signs 2002 (Nova York: W.W.
of Locked in? Policies for a Sustainable
Norton & Company, 2002), p. 132.
Consumption”, Ecological Economics, nº 42
20. Ibid. (2002), p. 275; Schor, op. cit., nota 6; Gardner e
21. Lisa Mastny, “Ecolabeling Gains Sampat, op. cit., nota 6; eficiência de
Grounds, “in Worldwatch Institute, op. cit., combustível automotivo e tendências de
nota 19, p. 124; Anjo Azul, de “25 Jahre Blauer motorização, de Michael Renner, “Vehicle
Engel: Von Hohenflugen und Turbulenzen”, Production Declines Slightly”, in Worldwatch
Umweltbundesamt (Agência Ambiental da Institute, op. cit., nota 10, pp. 74-75, e de
Alemanha), 2/04/03, em www.umweltdaten.de/ Michael Renner, “Vehicle Production Inches
uba-info-presse/hintergrund/blauer-engel- Up”, em Worldwatch Institute, Vital Signs
historie.pdf, e de www.blauer-engel.de. 2003 (Nova York: W.W. Norton & Company,
2003), pp. 56-57; uso de materiais, de Ward’s
22. Mastny, op. cit., nota 21, pp. 124-25; Communications, Ward’s Motor Vehicle Facts
OCDE, op. cit., nota 9, pp. 31-32. & Figures 2002 (Southfield, MI: 2002).
23. Stephan Moll, Stefan Bringezu e Helmut 28. Blackman, Luskin e Guillemin, op. cit.,
Schutz, Resource Use in European Countries nota 18; Clean Production Action, em
(Copenhague: Centro Tópico Europeu sobre www.cleanproduction.org.
Fluxos de Resíduos e Materiais, em
colaboração com a Diretoria do Meio Ambiente 29. Marquita Hill, Thomas Saviello e Stephen
da União Européia, março de 2003), p. 36; Emily Groves, “The Greening of a Pulp and Paper
Matthews et al., Weight of Nations: Material Mill: International Paper’s Androscoggin Mill,
Outflows from Industrial Economies Jay, Maine”, Journal of Industrial Ecology, vol.
(Washington, DC: World Resources Institute, 6, no 1 (2002), pp. 107-20.
2000), pp. 84-85, 112-13. 30. William McDonough e Michael Braungart,
24. Moll, Brinzegu e Schutz, op. cit., nota “The Extravagant Gesture: Nature, Design, and
23; Peter Bartelmus, “Dematerialization and the Transformation of Human Industry”, em
Capital Maintenance: Two Sides of the Schor and Taylor, op. cit., nota 11, pp. 16-18; Hill,
Sustainability Coin”, Ecological Economics, Saviello, and Groves, op. cit., nota 29. Quadro 5-
no, 46 (2003), p. 74; Figura 5-1 de Matthews et 1 de trabalhos realizados por McDonough
al., op. cit., nota 23, pp. 84-85, 112-13. Braungart Design Chemistry e de William

262
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 5

McDonough e Michael Braungart,Cradle to the Move Around the World”, Eco-Cycle:


Cradle:Remaking the Way We Make Things Boulder Country’s Recycling Professionals, em
(Nova York: North Point Press, 2002). w w w. e c o c y c l e . o r g / Z e r o Wa s t e /
ZeroWasteonTheMove.cfm, visitado em 28/
31. John Ehrenfeld e Marian Chertow,
“Industrial Symbiosis: The Legacy of 09/03; Michele Raymond, Extended Producer
Kalundborg”, em Robert Ayres e Leslie Ayres, Responsibility Laws: A Global Policy
eds., Handbook of Industrial Ecology Analysis (College Park, MD: Raymond
(Cheltenham, U. K.: Edward Elgar, 2002). Communications, Inc., sem data); Raymond
Communications, Inc., “Recycling & Solid
32. Ibid.; John Ehrenfeld, diretor emérito, Waste in Latin America: Trends and Policies”,
MIT Technology, Business, and Environment em www.raymond.com/promo_Raymond-
Program, e-mail ao autor, 3/09/03; Fiji de library/lacsum.html, visitado em 09/09/03;
Gardner e Sampat, op. cit., nota 6, pp. 37-38. Total Environment Center (Sydney, Australia),
33. Clean Production Action, “What Are the “Toxic Product Fact Sheet”, 2/07/03, em
Key Elements of an Extended Producer www.tec.nccnsw.org.au/member/tec/projects/
Responsibility Plan? em www.cleanproduction. Waste/tpf.html; Beverley Thorpe e Iza
org, visitado em 11/09/03. Kruszewska, “Strategies to Promote Clean
Production-Extended Producer Responsibility”,
34. Blackman, Luskin e Guillemin, op. cit.
janeiro de 1999, atualizado em 2/04/03, em
nota 18; Pat Franklin, Extended Producer
www.grrn.org/resources/BevEPR.html;
Responsibility: A Primer (Arlington, VA:
Agência de Proteção Ambiental dos Estados
Container Recycling Institute, novembro de
1997). Unidos, “Product Stewardship”, em
www.epa.gov/epaoswer/non-hw/ reduce/epr/
35. BASF e Rohner de McDonough e products/index.html, visitado em 09/09/03;
Braungart, op. cit., nota 30, pp. 19-20. Mitsutune Yamaguchi, “Extended Producer
36. Alemanha, de “Extended Producer Responsibility in Japan”, ECP Newsletter,
Responsibility”, Environmental Manager, fevereiro de 2002, em www.jemai.or.jp/english/
August 1998; “Extended Product eecp/ecp_ no19/19a.pdf.
Responsibility: Designing for the Future”, 37. “Extended Product Responsibility:
Business for Social Responsibility Education Designing for the Future”, op. cit., nota 36;
Fund, janeiro de 2000, em www.where-its- Eric Lombardi, “Take It Back!” Eco-Cycle:
at.com/epr.html. Tabela 5-3 dos seguintes: Boulder County’s Recycling Professionals, em
“Extended Product Responsibility: w w w. e c o c y c l e . o r g / Z e r o Wa s t e /
Designing for the Future,” op. cit., esta
TakeIBack,cfm, visitado em 28/08/03.
nota; Carola Hanisch, “Is Extended
Producer Responsibility Effective?” 38. INFORM, Inc., The WeeE and RoHS
Environmental Science and Technology, Directives Highlights and Analysis (Nova York:
abril de 2000, pp. 170A-75A; “Extended julho de 2003), e idem, European Union (EU)
Producer Responsibility”, op. cit., esta nota; Electrical and Electronic Products Directives
Clean Production Action, “Extended Producer (Nova York: julho de 2003); Michele Raymond,
Responsibility”, em www.cleanproduction. “U.S. Feels the Effects of European Recycling
org/epr/EPR.htm; Sam Cole, “Zero Waste on Debate”, Waste Age, 1o/03/01; Hanisch, op. cit.,

263
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 5

nota 36. A diretiva cobre grandes e pequenos 45. Xerox Corporation, Environment,
eletrodomésticos, equipamentos de informação Health, and Safety Progress Report 2002
e comunicações (como computadores e (Webster, NY: 2002), p. 12; Nortel de Blackman,
periféricos, celulares), itens de consumo (como Luskin, and Guillemin, op. cit., nota 18.
televisores, rádios, estéreos) iluminação,
46. Tonelagem, giro anual e Tabela 5-4 de
ferramentas elétricas e eletrônicas,
Bureau of International Recycling, “About
equipamentos de esporte e lazer, aparelhos
Recycling”, em www.bir.org/ aboutrecycling/
médicos, instrumentos de monitoração e
index.asp, visitado em 7/08/03.
máquinas automáticas de serviços.
47. Estatísticas globais e dos Estados
39. INFORM, Inc., EU Electrical and
Unidos, de Remanufacturing, “Frequently
Electronic Products Directives, op. cit, nota
Asked Questions”, em www.remanufacturing.
38; idem, The WEEE and RoHS Directives,
op. cit., nota 38; Silicon Valley Toxics and org/frfaqust.htm, visitado em 28/10/99; Walter
Clean Computer Campaign, “European Laws Stahel, From Manufacturing Industry to
on Electronic Waste and Toxics Enacted”, Service Economy, from Selling Products to
press release (San Jose, CA: 19/02/03). Selling the Performance of Products,
Executive Summary (Genebra: Product-Life
40. INFORM, Inc., The WEEE and RoHS Institute, abril de 2000).
Directives, op. cit., nota 38; Lombardi, op. cit.,
nota 37; IBM de “Extended Product 48. Xerox, op. cit., nota 45, pp. 12, 14;
Responsibility: Designing for the Future,” op. Blackman, Luskin e Guillemin, op. cit., nota
cit., nota 36. 18; Clean Production Action, “Companies
Who Have Financially Benefited from EPR
41. Hanisch, op. cit., nota 36; interesse Programs”, em www.cleanproduction.org/epr/
estadual e municipal e iniciativa de baterias, ExistingPrograms.htm, visitado em 11/09/03.
de “Extended Producer Responsibility,” op.
cit., nota 36. 49. Hawken, Lovins e Lovins, op. cit., nota
25; Allen L. White, Mark Stoughton e Linda
42. Pressão em fabricantes de computa- Feng, Servicizing: The Quiet Transition to
dores, de Clean Production Action, op. cit., Extended Product Responsibility, relatório
nota 33. elaborado para a Agência Ambiental dos
43. “Extended Product Responsibility,” op. Estados Unidos, Departamento de Resíduos
cit., nota 36; Bette K. Fishbein, “Carpet Take- Sólidos (Boston: Tellus Institute, maio de 1999).
Back: EPR American Style”, Environmental
50. Arrendamento da Xerox, de Clean
Quality Management, outono de 2000, pp. 25-
Production Action, op. cit., nota 48; outros
36; Kodak de Cole, op. cit., nota 36; Nike de
exemplos, de Hawken, Lovins e Lovins, op.
“Extended Product Responsibility”, op. cit.,
cit., nota 25.
nota 36.
51. Hawken, Lovins e Lovins, op. cit.,
44. Hanisch, op. cit., nota 36; dificuldades
nota 25.
alemãs, de Michael Kroger, “Die
Selbstuberlistung des Jurgen Trittin”, Spiegel 52. Ibid.; Amory B. Lovins, L. Hunter
Online, 1 o /10/03, em www.spiegel.de/ Lovins, and Paul Hawken, “A Road Map for
wirtschaft/0,1518,26 7986,00.html. Natural Capitalism”, Harvard Business

264
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 5

Review, maio/junho de 1999, Caspar Federal Reserve Board, “Consumer Credit


Henderson, “Carpeting Takes on a ‘Green’ Historical Data”, em www.federalreserve.gov/
Pattern”, Financial Times, 8/02/00; Laurent releases/g19/hist/cc_hist_sa.txt, visitado em
Belsic, “Seeing Green from Being Green”, 17/09/03; dívidas de cartões de crédito do
Christian Science Monitor, 7/02/00; consumo Departamento de Comércio dos Estados
reduzido, de Interface, “Global Metrics”, em Unidos, Statistical Abstract of the United
www.interfacesustainability.com/metrics_ States 2002 (Washington, DC: 2002), e de
mn.htm, visitado em 05/09/03. Robert D. Manning, “Perpetual Debt,
Predatory Plastic”, Southern Exposure,
53. Hawken, Lovins e Lovins, op. cit.,
summer 2003, p. 51; R.U. tendência, do
nota 25.
Departamento de Estatísticas Anuais,
54. Rogelio Olivia e James Quinn, Annual Abstract of Statistics, Table 22-16:
“Interface’s Evergreen Services Agreement,” Consumer Credit, em www.statistics. gov.uk/
Harvard Business School, Case Study N9-603- STAT B A S E / E x p o d a t a / S p r e a d s h e e t s /
112 (Cambridge, MA: 12/02/03); Fishbein, op. D4925.xls; Alemanha, de Gundi Knies and C.
cit., nota 43, pp. 25-36; cancelamento do Katharina SpieB, “Fast ein Viertel der
arrendamento Sempreverde, de Ehrenfeld, op. Privathaushalte in Deutchland mit
cit., nota 32. Konsumentenkreditverpflichtungen”, DIW-
Wochenbericht, no. 17/2003; Holanda, de
55. Herman E. Daly, Steady-State
Noam Neusner, “Credit Addiction Goes
Economics (São Francisco: W.H. Freeman and
Global”, U.S. News and World Report, 25/03/
Co., 1977), p. 20.
02, pp. 35-36.
56. Gary Gardner, “Why Share?” World
60. Joshua Kurlantzick, “Charging Ahead”,
Watch, julho/agosto de 1999, pp. 10-20.
Washington Monthly, maio de 2003, pp. 27-29;
57. A expressão “infra-estrutura de taxas de cartões de crédito na Coréia do Sul, de
consumo” é da OCDE, op. cit., nota 9, p. 30. Neusner, op. cit., nota 59, pp. 35-36.Gilbert Le
Gras, “Canada Earmarks C$1 Billion in Climate
58. Sanne, op. cit., nota 27, pp. 275, 279; Change Funds”, Reuters, 13/08/03.
tendência de dívida familiar na OCDE, de
OCDE, op. cit., nota 9, p. 14; tendência da taxa 61. Gilbert Le Gras, “Canada Earmarks C$1
de poupança, do Banco Mundial, World Billion in Climate Change Funds”, Reuters, 13/
Development Indicators 2002 (Washington, 08/03.
DC: 2002); dados da Alemanha, de Roman 62. “Feebate”, Energy Dictionary, em
Pletter, “Dank Bankberater in die www.energyvortex.com/energydictionary/
Schuldenfalle,” Spiegel Online, 25/08/03, em feebate.html, visitado em 16/09/03;
w w w. s p i e g e l . d e / w i r t s c h a f t / “’Feebates’-Price Instrument Promoting
0,1518,262857,00.html. Efficiency”, European Partners for the
59. Crescimento do endividamento do Environment, em www.epe.be/workbooks/
consumo nos EUA, de “Flying on One sourcebook/2.11.html, visitado em 16/09/03.
Engine”, A Survey of the World Economy, 63. Tendência da produtividade nos
The Economist, 20/09/03, p. 4; crédito ao Estados Unidos, medindo os setores
consumidor total em aberto e Figura 5-2, de manufatureiros e de serviços, de Eric Rauch,

265
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 5

“Productivity and the Workweek”, 71. William Greider, “Deflation: It Threatens


Massachusetts Institute of Technology, em the U.S. – and the World”, The Nation –30/
www.swiss.ai.mit.edu/~rauch/mise/worktime/, 06/03, p. 12; indústria automotiva, de
visitado em 09/08/03; Schor, op. cit., nota 6. PricewaterhouseCoopers, “Light Vehicle
Assembly by Region, Country, Category”,
64. Sanne, op. cit., nota 27, p. 285.
2001 Q4 Vehicle Outlook Reports, em
65. Figura 5-3 de Anders Hayden, www.autofacts.com, visitado em 16/12/01;
“International Work-Time Trends: The duplicação esperada da capacidade de
Emerging Gap in Hours”, Just Labour, produção da China, de Keith Bradsher, “A
(Canada), primavera de 2003, p. 24; Schor, op. Heated Chinese Economy Piles up Debt”, New
cit., nota 6. York Times, 4/09/03.
66. Sanne, op. cit., nota 27, p. 280; Juliet 72. Crescimento da demanda doméstica dos
B. Schor, “Sustainable Consumption and Estados Unidos, de “Flying on One Engine”,
Worktime Reduction”, apresentado à op. cit., nota 59, p. 3; Global Policy Forum,
Universidade de Liz por ocasião da Palestra “Balance on US Cirrent Account 1960-2002”,
Anual Kurt W. Rothschild, 7/11/02; Tabela em www.global policy.org/socecon/crisis/
5-5 baseada em Hayden, op. cit., nota 65, 2003/curracctable.htm, visitado em 23/05/03;
pp. 27-28. Larry Elliot, “American Deficit Dependency:
67. Preferências européias, de Hayden, op. Kill or Cure, the Fallout’s Global”, The
cit., nota 65, p. 25; pesquisas nos Estados Independent, 20/07/03; EPI e Roach de Joshua
Unidos e redução de jornada, de Schor, op. Kurlantzick, “Charging Ahead”, Washington
cit., nota 6, e de Juliet B. Schor, The Overspent Monthly, maio de 2003, p. 31. Quadro 5-2 dos
American (Nova York: Harper Perennial, 1998). seguintes: para uma análise mais detalhada
sobre vestuário, vide Juliet Schor, “Cleaning
68. Tendências dos salários nos Estados the Closet: Toward a New Ethic of Fashion”,
Unidos, de Economic Policy Institute, “Growth em Schor e Taylor, op. cit., nota 10; participação
of Average Hourly Wages, Benefits, and das confecções nas despesas, de Stanley
Compensation, 1948-2000 (2001 Dollars)”, em Lebergott, Pursuing Happiness (Princeton,
w w w. e p i n e t . o r g / d a t a z o n e / 0 2 / n i p a _ NJ: Princenton University Press, 1993). P. 91,
comp_2._2.pdf, e de idem, “Wages for all com a parcela de 2001, de Consumer
Workers by Wage Percentile, 1973-2001. Expenditure Survey, Bureau of Labor
Dollars)”, em www.epinet.org/datazone/02/ Statistics, em www.bls.gov/cex/2001/share/
deciles_2_6r.pdf. age.pdf; para a parcela menor da receita para
69. Salários ficando para trás do a mão-de-obra, vide Nick Robins e Liz
crescimento da produtividade, de Brenner, op. Humphrey, Sustaining the Rag Trade: A
cit., nota 8, p. 235; necessidade de aumentos Review of the Social and Environmental
salariais, de Schor, op. cit., nota 6, e de Kenneth Trends in the Un Clothing Retail Sector and
Lux, “The Failure of the Profit Motive”, the Implications for Developing Country
Ecological Economics, no. 44 (2003), p. 7. Producers (Londres: International Institute for
Environment and Development, 2000), p. 19;
70. Lux, op. cit., nota 68; Sanne, op. cit., nota mais informações sobre a exploração, vide
27, p. 282; Schor, op. cit., nota 67, pp. 169-71. Ellen Rosen, Making Sweatshops: The

266
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 5 E TELEFONES CELULARES

Globalization of the U. S. Apparel Industry Telefones Celulares


(Berkeley: University of California Press, 2002);
cálculo de Bangladesh como o quarto maior 1. International Telecommunication
país exportador de confecções, por Juliet Union (ITU), World Telecommunication
Schor, com base em www.otexa.ita.doc.gov/ Development Report (Genebra: 2002), p. 13;
msr/ atl.html; salários e condições de trabalho idem, “Cellular Subscribers”, 24/04/03, na
em fábricas de Bangladesh, de National Labor Home Page da Free Statistics, em www.itu.int/
Committee, Ending the Race to the Bottom, ITU-D/ict/statistics, visitada em 23/06/03.
Report on Bangladesh (Nova York: 2001), p. 2. “The Fight for Digital Dominance”, The
iii; dados sobre salários pagos na China e Economist, 23 de novembro de 2002; ITU,
trabalho infantil, de National Labor Committee World Telecommunication Development
Report, Made in China: Behind the Label Report, op. cit., nota 1, p. 10; Michael
(Nova York: 1998); para um exemplo atual da Bociurkiw, “Revolution by Phone: Text
retirada da Disney após os trabalhadores Messaging Thrives in the Philippines”,
terem feito exigências modestas, vide Forbes, 10/09/01; Nick Wachira, “Wireless in
www.nlcnet.org; preços de confecções Kenya Takes a Village”, Wired News, 2/01/03;
durante a última década de dados detalhados ITU, “Cellular Subscribers”, op. cit., nota 1.
do Consumer Price Index, disponível em
3. Organização Mundial de Saúde,
www.bls.gov; taxa de aumento nas compras
Electromagnetic Fields and Public Health:
de roupas, do U.S. Census Bureau, Current Mobile Telephones and Their Base Stations”,
Industry Reports 1997, Summary fact sheet (Genebra: junho de 2000); George
(Washington, DC); 48 novos artigos por ano Carlo e Martin Schram, Cell Phones:
baseados em idem, Current Industry Reports, Invisible Hazards in the Wireless Age (Nova
Apparel, 2001, Tabelas 1 e 5; doações, de York: Carroll and Graf Publishers, 2001), pp.
Christina Bergali, Media Relations 250-55; Independent Expert Group on Mobile
Department, Goodwill International, discussão Phones, Mobile Phones and Health (Oxon,
com Juliet Schor, fevereiro de 2002; brinquedos R.U.: National Radiological Protection Board,
da China e salários e condições de trabalho 2000); Gautam Malkani, “Mobile Phone
em suas fábricas de brinquedo, do National Safety Probed by 15 Studies”, Financial
Labor Committee, Toys of Mistery (Nova York: Times, 26/01/02.
2002), com 60% e 69 brinquedos sendo
4. Bette K. Fishbein, Waste in the Wireless
cálculos de Schor; outros dados de preço são
World: The Challenge of Cell Phones (Nova
calculados do Consumer Price Index, em
York: INFORM, 2002), pp. 15-17; Charles W.
www.bls.gov; Banco Mundial e Fundo
Schmidt, “E-Junk Explosion”, Environmental
Monetário Internacional, de Joseph E. Stiglitz, Health Perspectives, abril de 2002; tamanho
Globalization and Its Discontents (Nova York: do mercado, da ITU, “Cellular Subscribers”,
W.W. Norton & Company, 2002). op. cit., nota 1; outros números, de Fishbein,
73. Mudança repentina versus gradativa, de op. cit., esta nota, p. l.
Schor, op. cit, nota 67, pp. 169-71. 5. Vide, por exemplo, Collective Good
74. Hawken, Lovins e Lovins, op. , nota 25, International, em www.collectivegood. com, e
p. 10. Wireless Foundation’s Call to program, em

267
Estado do Mundo 2004
NOTAS, TELEFONES CELULARES E CAPÍTULO 6

www.wirelessfoundation. org, visitado em 19/ Silicon Valley Toxics Coalition, em


09/03; ReCellular, em www.recellular.net, www.svtc.org, visitado em 20/09/03.
visitado em 19/09/03.
12. Fishbein, op. cit., nota 6; Timo
6. Bette Fishbein, INFORM, Nova York, Poropoudas, “Mobile Giants Sign Up in
discussão com a autora, 15/10/03. Recycling Initiative”, em Mobile
7. Fishbein, op. cit., nota 4, pp. 58-59; Ken CommerceNet, 14/12/02, em www.
Belson, “Mining Cellphones, Japan Finds El mobile.commerce.net, visitado em 15/10003;
Dorado”, New York Times, 28/02/02. Jim Puckett e Ted Smith, eds., Exporting Harm:
The High-Tech Trashing of Asia (Seattle, WA,
8. Fishbein, op. cit., nota 4, pp. 57-58; Blue e San Jose, CA: Basel Action Network e
Angel, em www.blauer-engel.de/englisch/ Silicom Valley Toxics Coalition, com Toxics
navigation/body_blauer_enged.htm, visitado Link India, Greenpeace China e SCOPE,
em 6/08/03. fevereiro de 2002).
9. “European Electroscrap Laws Enter into
Force, “Environmental News Service, 17/02/ Capítulo 6. Comprando para as
03; R.U. Environment Agency, “NetRegs: Pessoas e o Planeta
Waste Electrical and Electronic Equipment
(WEEE) Directive”, em environment-
1. Connecticut Energy Co-op,
agency.gov.uk, visitado em 20/09/03; Comissão
“Connecticut College is Ist College to Buy
Européia, “Commission Tackles Growing
Green Power from the Co-op”, press release
Problem of Electrical and Electronic Waste”,
(Hartford, CT: 11/05/01); Connecticut College,
press release (Bruxelas: 13/06/00); R.U.
“Connecticut College Sets National ‘Green
Environment Agency, “NetRegs: The
Energy’ Record; Purchases Wind Energy
Restriction of Hazardous Substances in
Certificates for 22 Percent of Electricity Use”,
Electronical and Electronic Equipment (RoHS)
press release (New Londres, CT: 27 /01/03).
Directive”, em environment-agency.gov.uk,
visitado em 20/09/03; Jeff Chappell, “Recycling 2. Faz-se, às vezes, distinção entre compras
Europa”, Electronic News, 18/03/02, pp. 1-2. (de produtos e materiais para uso operacional)
e aquisições (peças e materiais como insumos
10. Nokia, “Environmental Report of Nokia
para produtos manufaturados). Neste
Corporation 2002”, em www.nokia.com,
capítulo, entretanto, os termos são utilizados
visitado em 23/09/03.
de forma intercambiável. Michael Scholand,
11. Ted Smith e Chad Raphael, “High Tech “Compact Fluorescents Set Record”, em
Goes Green”, YES! A Journal of Positive Worldwatch Institute, Vital Signs 2002 (Nova
Futures, spring 2003, pp. 28-30; Alice P. York: W.W. Norton & Company, 2002), pp. 46-
Jacobson, “Deleting E-Waste”, Waste Age, 1 47; Janet Sawin, “Traçando um Novo Futuro
June 2003, p. 6; Lynn Schenkman, “Nova York Energético”, em Worldwatch Institute, Estado
Law Will Require Cell Phone Dealers to do Mundo 2003 (Salvador: UMA Editora,
Recycle Their Products”, Waste Age, 9/07/03, 2003), pp. 97-124; Minou Yussefi e Helga, eds.,
Beverly Burmeier, “Happy Endings for Cast- The World of Organic Agriculture 2002 –
OFF PCs, Christian Science Monitor, 21/04/ Statistics and Future Prospects (Yholey-
03, p. 20; listagem de iniciativas estaduais, de Theley, Germany: International Federation of

268
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 6

Organic Agriculture Movements, 2003), p. 24; Considerations Into Public Procurement


U.S. Department of Energy, Office of (Bruxelas: 4/07/01), p. 5; estimativa de 18%
Transportation Technologies, “Hybrid baseia-se num PIB continental combinado de
Electric Vehicles in the United States”, Fact of US$ 11,7 trilhões, conf. Chantal Line Carpentier,
the Week #230, 19/08/02, em www.ott.doe.gov/ Comissão Norte-Americana para Cooperação
facts/archives/fotw 230.shtml. Ambiental, apresentação na Conferência
Americana de compras Verdes, Filadélfia, PA,
3. As estimativas são conservadoras,
conf. Natural Marketing, “Understanding the 22-24/04/02; governo dos Estados Unidos, de
LOHAS Market Report: LOHAS Market Size”, Scot Case, diretor de Estratégias de Aquisições,
em www.naturalbusiness.com/ market.html, Center for a New American Dream, e-mail à
visitado em 12/12/02; dados do produto autora, 11/04/03.
interno bruto (PIB), de David Malin Roodman, 8. K. Green, B. Morton e S. New,
“Economic Growth Falters,” in Worldwatch Consumption, Environment, and the Social
Institute, Vital Signs 2002, op. cit., nota 2, Sciences,citado em Adam C. Faruk et al.,
pp. 58-59. “Analyzing, Mapping, and Managing
4. Christoph Erdmenger at al., The World Environmental Impacts Along Supply
Buys Green (Freiburg, Germany: International Chains”, Journal of Industrial Ecology,
Council for Local Environmental Initiatives primavera de 2001, p. 15.
(ICLEI), 2001), p. 13; Dunquerque from ICLEI, 9. Cifra de US$ 250 bilhões inclui o
Green Purchasing Good Practice Guide montante gasto em livros e artigos escolares.
(Freiburg, Germany: 2000), p. 21; Gerard Kevin Lyons, Rutgers University (instrutor),
Gleason, diretor associado, Conservatree, São “Driving Sustainable Markets ‘Teach-In’”,
Francisco, discussão com Clayton Adams, curso on-line patrocinado pela National
Worldwatch Institute, 7/04/03. Wildlife Federation’s Campus Ecology
5. Sawin, op. cit., nota 2. Program e a National Association of
Educational Buyers, 2002; 3% do
6. Alan Durning, How Much Is Enough? Departamento de Comércio dos Estados
(Nova York: W.W. Norton & Company, 1992). Unidos, Bureau of Economic Analysis,
7. Até três quartos destes gastos destinam- “Current Dollar and ‘Real’ Dollar Gross
se a compras de bens de consumo e serviços, Domestic Product”, em www.bea.doc. gov/
enquanto o restante destina-se a bens de capital bea/dn/gdolev.xls, visitado em 7/05/03; 18
e investimentos. Figura 6-1 baseada em preços economias, do Banco Mundial, World
de 1991 e paridades de poder aquisitivo, da Development Indicators 2001 (Washington,
Organização para Cooperação e Desenvol- DC: 11/04/01); Gary Gardner, Invoking the
vimento Econômico (OCDE), Greener Public Spirit: Religion and Spirituality in the Quest
Purchasing: Issues e Practical Solutions (Paris: for a Sustainable World, Worldwatch Paper
2000), p. 36; Commission of the European 104 (Washington, DC: Worldwatch Institute,
Communities, Commission Interpretative dezembro de 2002); Serviços Interagências de
Communication on the Community Law Aquisições das Nações Unidas (IAPSO),
Applicable to Public Procurement and the Annual Statistical Report 2000 (Nova York:
Possibilities for Integrating Environmental julho de 2001).

269
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 6

10. Case, op. cit., nota 7. 15. Tabela 6-1 dos seguintes: Bank of
America, Environmental Commitment 2001
11. Em algumas compras, concorrências
Activity Highlights, em www. bankfamerica.
públicas não são possíveis porque há apenas
com/environment/index.cfmvisitado em 29/04/
um fornecedor tecnicamente qualificado para
03; Boeing, “EPA Names Boeing Partner of The
o serviço, como no caso de muitos contratos
Year”, press release (St. Louis, MO: 14/04/99);
aeroespaciais e de defesa. Quadro 6-1 dos
16.000 residências, de “Sustainability and Green
seguintes: Kevin Lyons, Buying for the
procurement”, Pollution Prevention Northwest,
Future: Contract Management and the
Pacific Northwest Pollution Prevention
Environmental Challenge (Londres: Pluto
Resource Center, fall 1999, em www.pprc.org/
Oress, 2000); Agência de Proteção Ambiental
pprc/pubs/newslets/news1199.html; Canon,
dos Estados Unidos (EPA), The City of Santa
Canon Environmental Report 2002, em
Monica’s Environmental Purchasing: A Case
www.canon.com/ environment/eco2002e/
Study (Washington, DC: março de 1998), p. 7;
p22.html, visitado em 8/04/03; Federal Express,
White House Task Force on Recycling,
“FedEx and the Environment”, em www.fedex.
Greening the Government: A Report to the
com/us/about/news/ontherecord/
President on Federal Leadership and
environment.html, visitado em 29/04/03;
Progress (Washington, DC: 22/04/00), p. 25;
Hewlett-Packard, “Supply Chain Social
Suíça, da OCDE, op. cit., nota 7, p. 67; Anne-
and Environmental Responsibility”, em
Francoise Gailly, “Green Procurement and the
www.hp.com/hpinfo/globalcitizenship/
Belgian Presidency”, Ecoprocura (ICLEI),
environment/supplychain/index.html, visitado
setembro de 2001, p. 9.
em 29/04/03; IKEA International A/S, IKEA:
12. TerraChoice Environmental Services, Environmental and Social Issues 2001 (Delft,
Inc., Products and Services: The Climate Netherlands: novembro de 2001), p. 13; John
Change Connection (Ottawa: março de 2002); Zurcher, IKEA U.S., discussão com Clayton
U.S. Office of the Federal Environmental Adams, Worldwatch Institute, 8/04/03;
Executive, “Web Based Paper Calculator”, em McDonald’s de EPA, Private Sector:
www.ofee.gob/recycled/calculat.htm; How Companies Are Incorporating
Environmental Defense, “Catalog Companies Environmentally Preferable Purchasing
Are Selling Nature Short This Holiday (Washington, DC: junho de 1999 (pp. 20-22 e
Season”, press release (Nova York: 13 de de “McDonald’s Approves Earthshell
novembro de 2002). Container for Big Mac”, Environment News
Service, 2/04/01; William Hall, “Migros
13. Janitorial Products Pollution Prevention
Commits to Buying Green Palm Oil”, Financial
Project, “What Injuries Happen to Your
Times, 24/01/2002; Riu Hotels from International
Janitors?” em www.westp2net.org/ Janitorial/
Hotels Environment Initiative, “Case Studies”,
jp4.htm, visitado em 20/02/03.
em www.ihei.org/HOTELIER/hotelier. nsf/
14. Lâmpadas fluorescentes compactas, de content/clb2.html, visitado em 9/5/03;
TerraChoice Environmental Service, Inc., op. Staples, Inc., “How Staples Recycles”, em
cit., nota 12, p. 20; limpadores, de Alicia Culver www.staples.com/products/centers/recycle/
et al., Cleaning for Health: Products and hsr.asp, visitado em 16/04/03; Staples, Inc.,
Practices for a Safer Indoor Environment “Staples Environmental Paper Procurement
(Nova York: INFORM, Inc., 2002). Policy” (Framingham, MA: November 2002);

270
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 6

Staples, Inc., “Staples Joins Green Power the Council on Improving the Environmental
Market Development Group”, press release Performance of Government” (Paris: 1996);
(Framingham, MA: 13/03/03); Starbucks, ICLEI, “Lyon Declaration: Enhancing the
“Coffee, Tea, & Paper Sourcing”, em Framework, Enforcing the Action for Greening
www.starbucks.com/ aboutus/sourcing.asp, Government Operations”, texto adotado na
visitado em 29/04/03; Toyota, “Procurement/ Conferência EcoProcura de Lyon, França, 17-
Production/Logistics”, em www.toyota. co.jp/ 18/10/2000; Nações Unidas, Report of the
Irweb/corp_info/eco/pro.htmm, visitado em 14/ World Summit on Sustainable Development
04/03. Stephan Schmidheiny com o Business (Nova York: 2002), p. 21; OCDE, op. cit., nota
Council for Sustainable Development, 7, pp. 19 e 20.
Changing Course (Cambridge, MA: The MIT
21. Tabela 6-2 dos seguintes: OCDE, op. cit.,
Press, 1992), pp. 9-10; L’Oreal from Amanda
nota 7, pp. 50-60; ICLEI, op. cit., nota 4;
Griscom, “In Good Company”, Grist Magazine,
Erdmenger et al., op. cit., nota 4; Christoph
31/07/02; Anheuser-Busch e IBM de EPA, op.
Erdmenger, “Sustainable Purchasing – A
cit., esta nota, p. 22.
Concept Emerging from the Local Level”,
16. Craig R. Carter e Marianne M. International Aid & Trade Review,
Jennings, Purchasing’s Contribution to the Conference & Exhibition 2002 Special Edition,
Socially Responsible Management of the 19-20/06/02, pp. 124-25; Diretoria Comercial da
Supply Chain (Tempe, AZ: CAPS Research, OCDE, Trade Issues in the Greening of Public
2000), p. 11. Purchasing (Paris: 16/03/99), pp. 4-5, 28;
Canadá de Natural Resources Canada,
17. Steven A. Melnyk et al., ISO 14000:
Government of Canada Action Plan 2000 on
Assessing Its Impact on Corporate
Climate Change, em www.climate
Effectiveness and Effectiveness and Efficiency
change.gc.ca/english/whats_new_pdf/
(Tempe, AZ: CAPS Research, 1999), p. 20; Heidi
gofcdaplan_eng2.pdf, e do Departamento da
McCloskey,Nike Apparel, discussão com Brian
Justiça, Alternative Fuels Act 1995, em
Halweil, Worldwatch Institute, 18/02/03; 3% de
laws.justice.gc.ca/en/A-10.7/text.html;
Nike, Inc., “Team Players”, em www.nike. com/
Alemanha, de www.beschaffung-info.de;
nikebiz/nikebiz. visitado em 28/02/03.
Center for a New American Dream,
18. Nike, Inc., op. cit., nota 17; Recycled “Environmental Purchasing Factoids”, em
Paper Coalition, “About Us”, em w w w. n e w d r e a m . o r g / p r o c u r e /
www.papercoalition.org/aboutus.html, factoids.htmlvisitado em 03/03/03; Hiroyuki
visitado em 11/03/03. Sato, Green Purchasing in Japan: Progress,
19. Jeffrey Hollender, “Changing the Nature Current Status, and Future Prospects
of Commerce”, em Juliet B. Schor e Betsy (Tóquio: Green Purchasing Network, 2003);
Taylor, eds. Sustainable Planet: Solutions for Scot Case, “Moving Beyond ‘Buy Recycled,’”
the Twenty-first Century (Boston: Beacon ECOS, primavera de 2001, p. 1; U.S. General
Press, 2002), p. 76. Accounting Office (GAO), Federal
Procurement: Better Guidance and
20. Vide, por exemplo, Nações Unidas, Monitoring Needed to Assess Purchases of
Agenda 21 (Nova York: abril de 1993), p. 33; Environmentally Friendly Products
Conselho da OCDEl, “Recommendation of (Washington, DC: junho de 2001), p. 4;

271
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 6

Christoph Erdmenger, diretor do Programa 25. ICLEI de Erdmenger et al., op. cit., nota
Europeu de Ecoaquisições e Economia 4, p. 13; Força-Tarefa da Casa Branca para
Ecoeficiente, ICLEI, “Overview and Recent Reciclagem, op. cit., nota 11, p. 25; Jim
Developments of Sustainable Procurement”, Motavalli e Josh Harkinson, “Buying Green”,
apresentação na Conferência de Ajuda e E Magazine, setembro/outubro 2002, p. 29.
Comércio Internacional sobre Comércio e
26. O desafio, entretanto, é assegurar que
Desenvolvimento: Capacitação de Mercados os consumidores ativem as características
Sustentáveis, Nova York, 19-20/06/02. poupadoras de energia logo que adquiram este
22. Erdmenger, “Overview and Recent equipamento. Luke Brander e Xander
Developments of Sustainable Procurement”, Olsthoorn, Three Scenarios for Green Public
op. cit., nota 21; “The Hannover Call of Procurement (Amsterdam: Vrije Universiteit
European Municipal Leaders at the Turn of Institute for Environmental Studies, dezembro
the 21 st Century”, em www.iclei.org/ de 2002), p. 16; mais de 1 milhão, de Erdmenger
ecoprocura/info/Hann_ call.pdf, visitado em et al., op. cit., nota 4, p. 59; 7% de Scot Case,
24/03/04; Bente Moller Jensen e Anders diretor de Estratégias de Aquisições, Center
Schmidt, Green Purchasing Status Report: for a News American Dream, Takoma Park,
Municipality of Kolding (Freiburg, Alemanha: MD, discussão com a autora, 2/12/02; William
ICLEI, fevereiro de 2002). J. Clinton, Executive Order 12845: Requiring
Agencies to Purchase Energy Efficient
23. Dean Kubani, City of Santa Monica, CA, Computer Equipment (Washington, DC: 21/
discussão com Clayton Adams, Worldwatch 04/93); Maria Vargas, Climate Protection
Institute, 11/04/03; Mike Liles, Minnesota Partnerships Division, EPA, discussão com
Office of Environmental Assistance, e-mail a Clayton Adams, Worldwatch Institute, 25/
Clayton Adams, Worldwatch Institute, 9/04/03; 04/03; Japão, de Erdmenger et al., op.cit.,
EPA, State and Local Government Pioneers nota 4 p. 47.
(Washington, DC: novembro de 2000).
27. Incentivos para veículos, vide Clean
24. Taiwan, de Public Construction Cities International Program, em www.ccities.
Commission Executive Yuan, “Article 96”, doe.gov; “Los Angeles Cathedral to Use Solar
Government Procurement Law, em Power”, Reuters, 19/08/02.
w w w. p c c . g o v. t w / c 2 / c 2 b / c 2 b _ 3 /
2_b_3_10.htm, visitado em 9/05/03; Programa 28. Comissão Européia, “Directive 2000/
das Nações Unidas para o Meio Ambiente 53/EC of the European Parliament and of the
(PNUMA) e Consumers International, Council of 18 September 2000 on End-of-Life
Tr a c k i n g P ro g re s s I m p l e m e n t i n g Vehicles”, Official Journal of the European
Sustainable Consumption Policies (Nairobi: Communities, 21/10/00; Chrysler Group, “The
maio de 2002), p. 26, 54-55; UNEP, “DRAFT Chrysler Group Demonstrates Its ‘CARE’ for
Mapping of Major Procurement Initiatives the Environment by Turning Garbage Into
Worldwide”, documento elaborado para Car Parts”, press release (Auburn Hills, MI:
Grupo Interagência sobre Aquisições 20/03/02).
Sustentáveis (Paris: 2003); Tailândia, de 29. Dados dos Estados Unidos baseados
Burton Hamner, Hamner and Associates LLC, em pesquisa de 2.267 domicílios em
e-mail para o autor, 3/02/03. novembro de 2001, conf. LOHAS Consumer

272
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 6

Research, “Nearly One-Third of Americans Aquisições Verdes, Filadélfia, PA, 22-24/04/


Identified as Values-Based, Highly-Principled 02; crítica, de Rainforest Action Network,
Consumers, New Research Shows”, press “Rainforest Action Network Statement on
release (Broomfield, CO: 19/06/02); Deborah Home Depot’s Wood Purchasing Policy”,
Doane, Taking Flight: The Rapid Growth of press release (São Francisco: 2/01/03);
Ethical Consumerism, relatório para o Co- aumentos de preços, de June Preston, “Home
operate Bank (Londres: New Economics Depot Says It Aims to Save Ancient Forests”,
Foundation, outubro de 2001), p. 2. Doane Environmental News Network, 30/08/99.
ressalta que uma compra ética é definida
33. Alliance for Environmental Innovation,
como uma decisão pessoal de compra,
em www.environmentaldefense.org/ alliance,
alinhada com direitos humanos, bem-estar
visitado em 12/05/03; Fundo Mundial para a
animal ou o meio ambiente, e que dá aos
consumidores uma escolha entre um produto Natureza, “WWF Climate Change Programme:
e uma alternativa ética. Business Partners”, em www.panda.org/
about_wwf/what_we_ do/climate_change/
30. Vide Robin Broad, ed., Global what_we_do/business_industry/
Backlash: Citizen Initiatives for a Just climate_savers.cfm, visitado em 7/03/03;
World Economy (Lanham, MD: Rowman & World Resources Institute, Green Power
Littlefield, 2002); EPA, op. cit., nota 15, p. 7; Market Development Group, em www.
Environies International Ltd., The thegreenpowergroup.org.
Millennium Poll on Corporate Social
Responsibility: Executive Briefing (Toronto, 34. Julia Schreiner Alves, Companhia
ON, Canadá: setembro de 1999). Estadual de Saneamento Básico e Tecnologia,
São Paulo, Brasil, e-mail à autora, 7/04/03.
31. ICLEI, op. cit., nota 4, pp. 23-24.
35. N a t i o n a l P o l l u t i o n P r e v e n t i o n
32. Quadro 6-2 dos seguintes: Home Depot, Roundtable, Environmentally Preferable
“The Journey to Sustainable Forestry”, Purchasing Discussion Group,
informations sheet (Atlanta, GA: January “Environmentally Preferable Purchasing,”
2003); números de vendas, lojas, produtos e apresentação em PowerPoint, em www.
certificações, de Dan Morse, “Home Depot Is
newdrean.org/procure/resources.html#ppt.
Expected to Deliver Report on Timber”, Wall
Street Journal, 2/01/03; 20%, de “Home Depot 36. Problemas do mundo em desen-
Decision Cheered”, Environmental News volvimento, de Asian Development Bank,
Network, 30/08/99; concorrentes, de Jim To Serve and To Preserve: Improving
Carlton, “Against the Grain: How Home Depot Public Administration in a Competitive
and Activists Joined to Cut Logging Abuse”, World ((Manila: 2000), p. 334; Erdmenger,
Wall Street Journal, 26/09/00; Jim Carlton, “Sustainable Purchasing”, op. cit., nota
“Home Builders Centex and Kaufman Agree 21, p. 124.
Not to Buy Endangered Wood”, Wall Street
Journal,31/03/00; corrida à certificação, de 37. Comissão das Comunidades Européias,
Barrie McKenna, “U.S. Home Builders To Ban op. cit., nota 7.
Old-Growth Wood”, Globe and Mail, 31/03/ 38. Em abril de 2003, algum progresso havia
00; Michael Marx, ForestEthics, apresentação sido conquistado nos esforços de inclur
na Conferência Norte-Americana de especificações para fertilizantes “bio-

273
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 6

baseados” no projeto de lei agrícola do 45. “Executive Order 13101 – Greening the
Departamento de Agricultura dos Estados Government Through Waste Prevention,
Unidos. Tom Ferguson, Perdue AgriRecycle, Recycling, and Federal Acquisition”, Federal
LLC, discussão com a autora, 22/04/02, e Register, 16/09/98; EPA Quantitative
discussão com Clayton Adams, Worldwatch Measurement of Environmentally Preferable
Institute, 2/04/03. Purchasing (EPP) Among Federal
39. Luz Aída Martínez Meléndez, Programa Employees in 2000 (Washington, DC:
de Administracion Sustenable, Ministério do fevereiro de 2001); GAO, op. cit., nota 21.
Meio Ambiente e Recursos Naturais, México, 46. Julian Keniry, diretor do Programa de
e-mail a Clayton Adams, Worldwatch Ecologia no Campus, National Wildlife
Institute, 7/04/03. Federation, Washington, DC, discussão com
40. Gabinete do Prefeito, “City Selects a autora, 28/03/02.
ComEd to Provide Clean Power, Leads Nation 47. EPA, op. cit., nota 45; Voralburg de
in Building ‘Green Electricity Market”, press ICLEI, op. cit., nota 4, p. 39; Marcia Deegler,
release (Chicago, IL: 6/07/01); Missouri de Operational Services Division, Commonwealth
EPA, op. cit., nota 23, p. 13; custo de of Massachusetts, e-mail a Clayton Adams,
propriedade, de Case, op. cit., nota 26. Worldwatch Institute, 10/04/03.
41. Brander e Olsthoorn, op. cit., nota 26, 48. GAO, op. cit., nota 21; problemas
pp. 11-12; Peter Buhle et al., Stuttgart Green d e descentralização, de Tapio Pento,
Purchasing Status Report (Freiburg, Germany: “Implementation of Public Green Procurement
ICLEI, janeiro de 2002), pp. 45-46. Programmes”, in Trevor Russel. Ed., Greener
42. Desde então Santa Monica conseguiu Purchasing Opportunities and Innovations
substituição em todas as 27 categorias, conf. (Sheffield: Greenleaf Publishing, 1998), pp. 23-
Kubani, op. cit., nota 23; EPA, op. cit., nota 30 e de OCDE, op. cit., nota 7, pp. 46, 82; Berny
11, pp. 1, 8; l,5 toneladas de EPA, op. cit., nota Letreille, Environment Canada, discussão com
23, p. 24; Hiroyuki Sato, Green Purchasing Clayton Adams, Worldwatch Institute, 14/04/
Network, Tokyo, e-mail a Clayton Adams, 03; Tom Snyder, Arfonne National Laboratory,
Worldwatch Institute, 21/04/03. U.S. Department of Energy, discussão com
Clayton Adams, Worldwatch Institute, 9/04/03.
43. ICLEI, op. cit., nota 4, p. 42.
49. Moller Jensen e Schmidt, op. cit., nota
44. R.U. Department of the Environment, 22, p. 12; Holly Elwood, EPP Program, EPA,
Transport and the Regions, “Action To Halt Washington, DC, discussão com Clayton
Illegal Timber Imports – Meacher”, press Adams, Worldwatch Institute, 9/04/03;
release (Londres: 28/07/00); Greenpeace R.U., Matthew DeLuca, Green Mountain Energy
“Green-peace Catches Blair Trashing Ancient Company, Burlington, VT, discussão com
Forests to Furnish the Cabinet Office”, press Clayton Adams, Worldwatch Institute, 4/04/03.
release (Londres: 10/04/02); Comitê de
Auditoria Ambiental da Câmara dos Comuns, 50. Paul Brown, Steven Morris e John
“Buying Time for Forests: Timber Trade and Aglionby, “Rainforests Hit By Paper Trail to
Public Procurement”, Sixth Report of Session R.U”. (Londres) Guardian, 26/06/01; EPA, op.
2001-02 (Londres: 24/07/02), p. 4. cit., nota 45, p. 8.

274
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 6

51. Jacqueline Ottman, Green Marketing: html/5-3-3.html, visitado em 06/01/03, e Green-


Opportunity for Innovation (Nova York: NTC- e, em www.green-e.org.
McGraw-Hill, 1998); Recycled Paper Coalition,
55. Michele Ferrari, “Ferrara, on Its Way
“RPC Listening Study on Environmental
Toward Green Procurement”, Eco-Procura
Printing and Office Papers”, em www.
(ICLEI), setembro 2001, p. 19; Pensilvânia, de
papercoalition.org/ survey.html, visitado em
EPA, op. cit., nota 23, p. 17, e de Arthur
11/03/03; falta de normas, da Diretoria Comercial
Weissman, Green Seal, Washington, DC,
da OCDE, op. cit., nota 21, p. 18; produtos
discussão com Clayton Adams, Worldwatch
inovadores, de Environment Canada, Towards Institute, 1o/04/03; questões comerciais, da
Greener Government Procurement (Hull, QC, Organização Mundial do Comércio,
Canada: atualizado em maio de 2000). “Government Procurement: The Plurilateral
52. Rita Schenck, “Life Cycle Assessment: Agreement”, em www.wto.org/english/
the Environmental Performance Yardstick”, tratop_e/gproc_e/gp_gpa_e.htm, visitado em
Yardstick”, trabalho elaborado para Earthwise 22/04/03, e da Diretoria Comercial da OCDE,
Design, Conferência de Avaliação de op. cit., nota 21.
Realidades e Soluções de Ciclo de Vida para 56. Montavalli e Harkinson, op. cit., nota
Prédios Sustentáveis, Antioch University, 25, p. 29; Arthur Weissman, Green Seal,
Seattle, WA, 19/01/02; Quadro 6-3 de Guido Washington, DC, discussão com a autora,
Sonnemann, Divisão de Tecnologia, Indústria 08/04/03.
e Economia, PNUMA, e-mail para a autora,
29/07/03; Volvo de EPA, op. cit., nota 15, p. 9; 57. Case, op. cit., nota 7.
U.S. Department of Commerce, National 58. Foram propostos 11 produtos adicionais
Institute of Standards and Technology, Office para recomendação da EPA em 2001, mas ainda
of Applied Economics, “BEES 3.0”, em não foram aprovados, inclusive produtos de
www.bfrl.nist.gov/oae/software/bees.html. cimento e concreto, tapetes de nylon e forros
53. Center for a New American Dream et al., de carpetes, materiais de cobertura, móveis de
“A Common Vision for Transforming the Paper escritório, pneus e cavaletes de bicicleta; EPA,
Industry: Striving for Environmental and Comprehensive Procurement Guidelines, em
Social Sustainability”, ratified at the www.epa.gov/cpg;ICLEI, op. cit., nota 4, p. 36.
Environmental Paper Summit, Sonoma 59. ICLEI, “BIG-Net: Buy-It-Green
C o u n t r y, C A , 2 0 / 11 / 0 2 , e m w w w. Network”, em www.iclei.org/europe/
conservatree.com/paper/choose/ ecoprocura/network/index.htm, visitado em 4/
commonvision.shtml, visitado em 11/03/03; 04/03; ICLEI, “RELIEF-European Research
Office of the Federal Environmental Executive, Project on Green Purchasing”, em www.
“Governments Agree on National Criteria for iclei.org/europe/ecoprocura/ relief/index.htm,
‘Green’ Cleaning Products”, press release, em visitado em 4/04/03; ICLEI, “Eco-Procurement:
www.ofee.gov/gp/greencleancriteria.htm, The Path to a Greener Marketplace” (Freiburg,
visitado em 04/03/03. Alemanha: 2002).
54. Vide, por exemplo, Forest Stewardship 60. EPA, Environmentally Preferable
Council, “Forests Certified by FSC-Accredited Purchasing (EPP), em www.epa.gov/oppitintr/
Certification Bodies”, em www.fscoax.org/ epp/index.htm; White House, “Executive

275
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 6 E PAPEL

Order #12873: Federal Acquisition, Recycling Responsibility Is Key to Sustainable


and Waste Prevention”, press release Development – and Good Business”, press
(Washington, DC: 20/10/93); EPA, EPP release (Washington, DC: 21/06/01);
Database, em www.epa.gov/oppt/epp/ Dominique Brief, Environmentally and
database.htm, visitado em 19/02/03. Socially Responsible Procurement Initiative,
Banco Mundial, discussão com Clayton
61. Center for a New American Dream, em
Adams, Worldwatch Institute, 8/04/03;
www.newdream.org; EPA, “Conference Helps
Bernard Ross, “World Bank Structural
Further Green Purchasing”, EPP Update,
Adjustment and Investment Loans:
agosto de 2002, pp. 2.3.
Approaches to Environmental Conditionality
62. Sato, op. cit., nota 21. in Procurement” (Washington, DC: maio de
63. University Leaders for a Sustainable 2000); PNUMA, “Environmentally & Socially
Future, “ Programs (Talloires Declaration)”, Responsible Procurement”, em www.
em www.ulsf.org/ programs_talloires.html, sustainable procurement.net, visitado em 17/
visitado em 4/03/03; International Hotels 03/03.ICLEI, op. cit., nota 4, p. 31; SWAP
Environment Initiative, em www.ihei. (Surplus With a Purpose), em www.
o r g ; B e n c h m a r k H o t e l , e m w w w. bussvc.wisc.edu/swap.
benchmarkhotel.com.
Papel
64. Erdmenger et al., op. cit., nota 4, p. 33;
Green Purchasing Network, em eco.goo.ne.jp/ 1. Sêxtuplo e 40%, de Janet N. Abramovitz
gpn/index.html, visitado em 9/04/03; King e Ashley T. Mattoon, Paper Cuts: Recovering
Country Environmental Purchasing, em the Paper Landscape, Worldwatch Paper 149
www.metrokc.gov/ procure/green/index.htm. (Washington, DC: Worldwatch Institute,
65. Erdmenger, “Sustainable Purchasing”, dezembro de 1999), pp, 33, 7; Japão, da
op. cit., nota 21, pp. 122-24. Organização das Nações Unidas pra Alimento
e Agricultura (FAO), FAOSTAT Statistical
66. Robert Goodland, Ecolabeling: Database, em apps.fao.org; cerca da metade,
Opportunities for Progress Toward do International Institute for Environment and
Sustainability (Washington, DC: Consumer’s Development, Towards a Sustainable Paper
Choice Council, abril de 2002), pp. 7-8; Miriam Cycle (Londres: 1996), p. 20.
Jordan, “From the Amazon to Your Armrest”,
Wall Street Journal, 1º de maio de 2001; 2. Paper Trading International, Inc., “The
DaimlerChrysler, Environmental Report 2001 History of Paper”, em www.papertrading. com/
(Auburn Hills, MI: 30/07/01). prod01.htm, impressão em cânhamo, de
R e T h i n k P a p e r, “ H e m p ” , e m w w w.
67. IAPSO, op. cit., nota 9, p. 5; UNICEF, rethinkpaper.org/content/hemp/cfm.
Supply Division Annual Report 2001 (Nova
York: 2002), p. 5; Goodland, op. cit., nota 66, 3. Abramovitz e Mattoon, op. cit, nota 1,
pp. 9-10. p. 21.
68. Banco Mundial, “Putting Social and 4. Estimativa de 30% da FAO, op. cit., nota
‘Green’ Responsibility on the Corporate 1; países em desenvolvimento, 54%, 30% e
Agenda World Bank Chief Says Corporate 16%, de Abramovitz e Mattoon, op. cit., nota

276
Estado do Mundo 2004
NOTAS, PAPEL E CAPÍTULO 7

1, pp. 21-22; um quarto, de ForestEthics, “Nov. Through 2003 (Washington, DC: setembro
12, 2002 – Office Supply Superstore Staples de 2001), p. 32.
Inc. Agrees to Historic Endangered Forest and
4. Benjamin R. Barber, JIHAD vs. McWorld:
Recycling Policy”, press release (São
How Globalism and Tribalism are Reshaping
Francisco: 12/11/02).
the World (New York: Times Books, 1995), p. 4.
5. Consumo de energia, de Abramovitz e
5. Propaganda de tabaco e áclool e
Mattoon, op. cit., nota 1, pp. 26-27.
quiosques de Coca-Cola no mundo em
6. California Integrated Waste desenvolvimento, de observações da autora.
Management Board, “Why Use Recycled Tabela 7-1 dos seguintes: Hennes & Mauritz
Materials?” em www.ciwmb.ca.gov/RMDZ/ de “The World of H&M” e “Short Facts”, em
WhyUse. htm. www.hm.com, visitado em 23/09/03, com
faturamento convertido em dólares da coroa
7. Recycled Paper Coalition, “About Us”,
em www.papercoalition.org/aboutus.html. sueca em 23/09/03; Levi Strauss de “About
LS&Co./Worldwide” e “2002 Annual Report/
8. Alemanha, de World Resources Financial Highlights” em www. levistrauss.com,
Institute et al., 1998-99 World Resources p. 19, visitado em 04/09/03; Tata Group, de
(Nova York: Oxford University Press, 1998), “Business Sectors” and “International
p. 164; “EU Parliament Passes Tough New Connections”, em www.tata.com, visitado em
Recycling Law”, Recycling Today, 2/07/03. 23/09/03, com faturamento convertido em
dólares de rúpias em 23/09/03; Altria Group de
Capítulo 7. Articulando “Fact Book,” em www.altria.com/investors, e
Globalização, Consumo e de “Our Companies’ Global Presence,” em
Governança www.altria.com/about_altria/, visitado em 23/
09/03; Siemens de “At a Glance”, em
1. Visita de líderes indígenas ao w4.siemens.de/annualreport_2002/, e de
Worldwatch Institute; Kevin Koening, “About Us,” em www.siemens.com, visitado
Amazon Watch, discusssão com Zoe Chafe, em 24/09/03, com vendas líquidas convertidas
Worldwatch Institute, 17/07/03; hectares, de em dólares de euros em 24/09/03; Yum! Brands
Earthrights International, “Burlington: What de “Yum! Brands Annual Report 2002,” ek
Part of NO Don’t You Understand?” press www.yum.com, e de “Business Performance”,
release (Washington, DC: 14/05/03). em www.yrigfp.com, visitado em 27/08/03;
McDonald’s de “May 2003 Investor Fact
2. Amazon Watch, “Indigenous Leaders Sheet”, em www.mcdonalds.com/ corporate/
from Ecuador and Peru Present ‘Eviction investor/, e de “The McDonald’s History”, em
Notice’ to Burlington Resources of www.mcdonalds.com/ corporate/info/history,
Houston, Call on Oil Company to Leave visitado em 24/09/03; Domino’s de “Pizza
Amazonian Territories”, press release Particulars”, em www.dominos.com, visitado
(Houston, TX: 14/05/03). em 27/08/03; Coca-Cola, de “Coca-Cola Annual
3. Agência de Proteção Ambiental dos Report 2002”, em www2.coca-cola.com/
Estados Unidos, Light Duty Automotive ourcompany, e de “Coca-Cola Africa”, em
Technology and Fuel Economy Trends: 1975 africa.coca-cola.com, visitado em 1o/09/03.

277
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 7

6. Figura 7-1 de David Malin Roodman, eletrônico, de Basel Action Network and Silicon
“Trade Slows,” in Worldwatch Institute, Vital Valley Toxics Coalition, Exporting Harm: The
Signs 2002 (Nova York: W.W. Norton & High Tech Trashing of Asia (Seattle, WA, e
Company, 2002), p. 61, atualizado com dados do San Jose, CA: 2002), p. 15. Quadro 7-1 dos
Fundo Monetário Internacional, World seguintes: Wendell Berry, “Back to the Land,”
Economic Outlook (Washington, DC: 2003); Amicus Journal, inverno de 1999, p. 37; Basel
desdobramento setorial do Banco Mundial, Action Network e Silicon Valley Toxics
World Development Indicators 2003 Coalition, op. cit. esta nota; Banana
(Washington, DC: 2003), deflacionado para Production, um filme de Scott Braman, Katie
dólares de 2002, através do deflator implícito de Milligan, e Center for a New American Dream,
preços do PIB do Departamento de Comércio 2002, disponível em www.newdream.org/
dos Estados Unidos; investimentos externos consumer/ bananas.html; exemplos de café e
diretos de UNCTAD, Foreign Direct Investment, dados de Oxfam International, Mugged:
banco de dados eletrônico, em stats.unctad.org/ poverty in Your Coffee Cup (Oxford: 2002).
fdi, visitado em 30/09/03; tendências de fusões
10. Classe de consumidores globais, de
corporativas, de idem, World Investment Report
Matthew Bentley, Sustainable Consumption:
1998: Trends and Determinants (Nova York:
Ethics, National Indices and International
Nações Unidas, 1998), pp. xviii-xix, “Freer Trade
Relations (dissertação de doutorado,
Cuts the Cost of Living,” em www.wto.org.
American Graduate School of International
7. Figura 7-2 da Organização das Nações Relations and Diplomacy, Paris, 2003).
Unidas para Alimento e Agricultura (FAO), 11. China, incluindo declaração do
FAOSTAT Statistical Database, em Conselho de Cooperação Internacional para
apps.fao.org; dados de exportação de o Meio Ambiente e Desenvolvimento, de
produtos florestais, de ibid., deflacionados Matthew Bentley, “Forging New Paths to
para dólares de 2002 através do deflator Sustainable Development”, Background
implícito de preços do PIB do Departamento Paper, Asia Pacific Expert Meeting on
de Comércio dos Estados Unidos, extensão Promoting Sustainable Consumption and
florestal de idem, State of the World’s Forests Production Patterns, Yogyakarta, Indonesia,
2003 (Roma: 2003), p. 1; dados de exportação 21-23/05/03, p. 4; salto, do Programa das
de peixes de idem, Fisheries Commodities Nações Unidas para o Meio Ambiente
Production and Trade 1976-2000, banco de (PNUMA), “Nações Unidas Environment
dados eletrônico, em www.fao. rg/fi/statist/ Programme Opens China Office,” press release
fisoft/FISHPLUS.asp; dados de pesqueiros (Nairobi: 19/09/03).
sustentáveis, de idem, World Agriculture:
Towards 2015/2030 (Rome: 2003), p. 197. 12. Jeffrey Barber, Production,
Consumption and the World Summit for
8. Mathis Wackernagel et al., Ecological Sustainable Development (Rockville, MD:
Footprint of Nations: November 2002 Integrative Strategies Forum, 2003), pp. 2-4.
Update (Oakland, CA: Redefining Progress,
2002), p. 6; Figura 7-3 de ibid., pp. 9-11. 13. “Chapter 4: Changing Consumption
Patterns,” em Nações Unidas, Agenda 21,
9. Kenny Bruno, “Philly Waste Go Home”, disponível em www.un.org/esa/sustdev/
Multinational Monitor, fevereiro de 1998; lixo documents/agenda21; estilo de vida

278
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 7

americano, de Mark Valentine, “Twelve Days 21/08/02); resultados da pesquisa, de PNUMA,


of UNCED”, Relatório de Acompanhamento Is the Future Yours? (Paris: 2001), pp.8, 10-11,
da Cúpula da Terra, U.S. Citizens Network 44-47; exemplos de ativismo juvenil, de
sobre a Conferência das Nações Unidas sobre discussões de Isabella Marras com jovens,
o Meio Ambiente e Desenvolvimento, 2/07/ com exemplos dos Estados Unidos de www.
92, p. 5, e de Philip Shabecoff, A New Name sustainus.org/ giftguide.pdf. Para mais
for Peace (Hanover, NH: University Press of informações sobre o Projeto do PNUMA, vide
New England, 1996), p. 153. w w w. u n e p t i e . o rg / p c / s u s t a i n / y o u t h /
youthxchange.htm.
14. Barber, op. cit., nota 12.
18. Nações Unidas, Agreement for the
15. Diretrizes da ONU sobre Proteção ao
Implementation of the Provisions of the
Consumidor, disponível em www.uneptie. org/
Nações Unidas Convention of the Law of the
pc/sustain/guidelines/htm; Consumers
Sea of 10 December 1982 Relating to the
International e PNUMA, Tracking Progress:
Conservation and Management of
Implementing Sustainable Consumption
Straddling Fish Stocks and Highly Migratory
Policies (Nairobi e Londres: maio de 2002),
Fish Stocks (Nova York: 1995), pp. 5-7;
pp. 11, 19-20,
Secretariat of the Convention on Biological
16. Organização para Cooperação e Diversity, Cartagena Protocol on Biosafety
Desenvolvimento Econômico, Grupo de to the Convention on Biological diversity:
Trabalho sobre Políticas Ambientais Text and Annexes (Montreal: 2000), pp. 6-17;
Nacionais, Policies to Promote Sustainable Nações Unidas, Stockholm Convention on
Consumption: An Overview, Policy Case Persistant Organic Pollutants (Stockholm:
Studies Series (Paris: julho de 2002). 2001), pp. 3-8; Stockholm Convention
o n P e r s i s t a n t O r g a n i c P o l l u t a n t s,
17. PNUMA, “Promoting Sustainable
“Implementation”, em www.pops.int/
Consumption and Production Patterns,”
documents/implementation; Nações Unidas,
trabalho apresentado pelo diretor executivo,
Kyoto Protocol to the United Nations
XXII sessão do Conselho Diretor/Fórum
Framework Convention on Climate Change
Ministerial Global do Meio Ambiente, Nairobi,
(Kyoto, Japão: 1997), pp. 3-6, 19; Convenção-
5-7/02/03, p. 4; idem, “New ‘Life-Cycle
Quadro das Nações Unidas sobre Mudança
Initiative’ Launched to Help Combat Climática, Caring for Climate (Bonn,
Environmental Impact of Rising Consumption Alemanha, 2003), p. 25.
Patterns,” press release (Nairobi: 29/04/02);
idem, “UNEP-DTIE and Sustainable 19. Convenção das Nações Unidas sobre
Procurement,” em www.uneptie.org/pc/ Direito do Mar, “Status of the United Nations
sustain/procurement/green-proc.htm;idem, Convention on the Law of the Sea, of the
“Shopping for a Better World”, press release Agreement Relating to the Implementation of
(Nairobi: 2/06/03). Quadro 7-2 dos seguintes: Part XI of the Convention and of the
população jovem, de Nações Unidas, World Agreement for the implementation of the
Population Prospects: The 2002 Revision provisions of the Convention Relating to the
(Nova York: 2002); força de trabalho, de Conservation and Management of Straddling
International Labour Organization, “Facts on Fish Stocks and Highly Migratory Fish
Youth Employment”, fact sheet (Genebra: Stocks”, em www.un.org/Depts/los/

279
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 7

reference_files/status2003.pdf, modificado em 23. Quadro 7-3 e outras informações, de


19/08/03; PNUMA/Convenção sobre Nações Unidas, Plan of Implementation of
Diversidade Biológica, “Cartagena Protocol the World Summit on Sustainable
on Biosafety Takes Effect”, press release Development (Nova York: 2003), pp. 7-14.
(Nairobi: 9/09/03); Convenção de Estocolmo
sobre Poluentes Orgânicos Persistentes, “List 24. Ibid., pp. 18-19; U.N. Commission on
of Signatories and Parties to the Stockholm Sustainable Development, “Marrakech
Convention”, em www.pops.int/documents/ Meeting Takes Forward Johannesburg
signature/signstatus.htm, visitado em 14/10/ Summit Commitments to Sustainable
03; Convenção-Quadro das Nações Unidas Production and Consumption”, press release
sobre Mudança Climática, “Status of (Nova York: 12/06/03).
Ratification”, em unfccc.int/resource/ conv/ 25. Divisão das Nações Unidas para
ratlist.pdf, modificado em 17/02/03. Desenvolvimento Sustentável, “Consolidated
20. Rory Van Loo, “Coming to the Grocery List of Partnerships for Sustainable
Shelf: Fair-trade Food,” Christian Science Development as of 3 June 2003”, em
Monitor, 29/09/03; Forest Stewardship www.un.org/esa/sustdev/ partnerships/
Council (FSC), “Forests Certified by FSC partnerships.htm, visitado em 14/10/03;
Accredited Certification Bodies”, atualizado “Bicycle Refurbishing Initiative”, de
em 6/10/03; dados históricos de World www.velomondial.net e de Pascal J. W. van den
Resources Institute, Earthtrends, database, Noort, Velo Mondial, e-mails a Zoe Chafe,
compilação de dados do Forest Stewardship Worldwatch Institute, 5/09 e 6/10/03; Rotulagem
Council, 1998-2002; parcela de florestas Colaborativa e Programa de Normas para
certificadas, baseada em FSC, op. cit., esta Eletrodomésticos, de www.clasponline. org.
nota, e em FAO, Global Forest Resources Tabela 7-2 dos seguintes, com todos os e-mails
Assessment 2000: Mai Report, Forestry Paper para Zoe Chafe, Worldwatch Institute, nas datas
nº 140 (Roma: 2001), p. 390. mencionadas: Divisão das Nações Unidas para
o Desenvolvimento Sustentável, op. cit., esta
21. Caroline Woffenden, Marine nota; Arab Civil Union for Waste Management
Stewardship Council (MSC), e-mail a Zoe em www.keps74.com (texto em árabe);
Chafe, 10/10/03; Fish 4 Thought (MSC Awareness Raising and Training on Sustainable
newsletter), Abril 2003; produtos certificados, Consumption and Production atualização de
de MSC, “Sustainable Seafood at Anuga Bas de Leeuw, PNUMA, e-mail 2/09/03;
Exhibition”, press release (Londres: 9/10/03). Iniciativa de Sustentabilidade do Cimento em
22. U.N. Global Compact de “The Nine www.holcim.com e em www. wbcsdcement.org;
Principles”, em www.unglobalcompact.org, Introdução a Normas Sociais na Produção, em
and from “Global Compact Participants by www.bmz.de/en; Venda de Produtos
Country”, em www.unglobalcompact.org/ Responsáveis, atualização de Vincent
content/Companies/list_pc_040903.pdf, Commenne, Reseau de Consommateurs
atualizado em 02/09/03; “Standard Chartered Responsables Asbl, e-mails de 14/08/03 e
Adopts the Equator Principles”, press release 6/10/03; Diálogo com Jovens sobre Consumo,
(Londres: 8/10/03); número de países, de Lynn de www.yomag.net e www.youthxchange.net
Swarz, Equator Principles Secretariat, e-mail a e de Elke Salzmann, Federação das Orga-
Zoe Chafe, 14/10/03. nizações de Consumidores da Alemanha, e-mail

280
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 7

de 26/10/03; Certificação do Turismo “Tuna Dolphin”, em www.wto.org/english/


Sustentável em www.turismo-sostenible.co.cr. tratop_e/envir_e/edis04_e.htm; camarão-
tartaruga, de idem, “India etc Versus U.S.:
26. Fracasso de Cancun, do International
‘Shrimp-Turtle’”, em www,wto.org/ English/
Centre for Trade and Sustainable
tratop_e/envir_e/edis08_e.htm; peixe-espada
Development (ICTSD), “Where There’s No
de Mark Mulligan, “Chile at Loggerheads with
Will, There’s No Way”, Bridges Daily Update,
EU over Swordfishing”, Financial Times, 21/
Fifth World Trade Organization (WTO)
07/00, e de ICTSD, “Dispute Settlement
Ministerial Conference, 15/09/03, e da National Update”, Bridges Weekly Trade News Digest,
Wildlife Federation, “U.S. Administration’s 30/01/01; amianto, de Laurie Kazan-Allen, “A
Weak Showing at WTO Reflects Neglect of Breath of Fresh Air”, Multinational Monitor,
Sustainable Development”, press release setembro de 2000, pp. 17-19, e de OIT,
(Washington, DC: 14/098/03). “European Communities – Measures
27. Para antecedentes do banco de dados, Affecting Asbestos and Asbestos-
vide Duncan Brack, ed., Trade and Containing Products: Report of the Appellate
Environment: Conflict or Compatability? Body”, Genebra, 12/03/01; organismos
(Londres: Earthscan, 1998), pp. 78-79; sobre geneticamente modificados, de ICTSD,
preocupações dos ambientalistas, vide Lori “WTO Committees Scrutinize GMO
Wallach e Michelle Sforza, Whose Trade Regulations and EU Wine Labeling”, Bridges
Organization? (Washington, DC: Public Weekly Trade News Digest, 2/07/02, de “EU
Citizen, 1999). ‘Regrets’ U.S. Action on GM Crops”, BBC
News, 8/08/03, e de ICTSD, “Coalition Seeks
28. Disposições da OIT, de Jeffery S. WTO Dismissal of GMO Dispute”, Bridges
Thomas and Michael A. Meyer, The New Weekly Trade News Digest, 25/09/03.
Rules of Global Trade: A Guide to the World
Trade Organization (Scarborough, ON, 29. Para os antecedentes históricos do caso
Canada: Carswell Thomson Professional do hormônio da carne bovina, vide U.S. Office
Publishing, 1997), pp. 88-91, 185-96, e de of Technology Assessment, Trade and
Wallach e Sforza, op. cit., nota 27, pp. 53-79; Environment: Conflicts and Opportunities
evolução do raciocíno jurídico, de Howard (Washington, DC: U. S. Government Printing
Office, maio de 1992).
Mann e Stephen Porter, The State of Trade
and Environmental Law 2003: Implications 30. Paul Jacobs, “U.S., Europe Lock Horns
for Doha and Beyond (Winnipeg, MN, in Beef Hormone Debate”, Los Angeles Times,
Canadá: International Institute for Sustainable 9/04/99; OIT, “EC Measures Concerning Meat
Development, 2003), pp. v-vi. Tabela 7-3 dos and Meat Products (Hormones)”, Relatório do
seguintes: hormônio da carne bovina, de Órgão de Apelação, Genebra, 16/01/98;
ICTSD, “Dispute Settlement Update”, Bridges princípio da precaução, da Declaração do Rio
Weekly Trade News Digest, 26 February 2002, sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento,
e da Comissão Européia, “EU Complies with disponível em www.un.org/documents/ga/
WTO Ruling on Hormone Beef and Calls on conf151/aconf15126-1annex1.htm; “ U.S.
USA and Canada to Lift Trade Sanctions”, Imposes Sanctions in Beef Fight”, New York
press release (Bruxelas: 15/10/03); atum- Times, 19/07/99; sanções, da Comissão
golfinho, de OIT, “Mexico etc Versus U.S.: Européia, op. cit., nota 28.

281
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 7 E CAMISETAS DE ALGODÃO

31. U. S. Trade Representative (USTR), “U.S. 36. Ibid.; Brian Halweil, “Why No One Wins
and Cooperating Countries File WTO Case in the Global Food Fight”, Washington Post,
Against EU Moratorium on Biotech Foods and 21/09/03; American Lands Alliance et al.,
Crops”, press release (Washington, DC: 14/05/ Collective Comments re: Doha Ministerial
03); Lizette Alvarez, “Europe Acts to Require Declaration (Washington, DC: 25 de outubro
Labeling of Genetically Altered Food”, New de 2002), pp. 4-5, 13.
York Times, 3/07/03.
37. “Cancun Trade Summit to Sideline
32. Perspectiva do Governo dos EUA, de Green Issues”, Environmental News Service,
USTR, op. cit., nota 31; Visões européias e do 5/09/03; Elizabeth Becker, “Poorer Countries
consumidor, de Neil King, Jr., “U.S., EU Battle Pull Out of Talks Over World Trade”, New
Rages Over Modified Crops”, Wall Street York Times, 15/09/03; Oxfam International,
Journal Online, 15/07/03, e de “EU Moves to “Time for the WTO to Get Back on Track”,
Ease Transatlantic Row over Biotech Foods”, press release (Oxford, R.U.: 17/10/03); Walden
Agence France-Presse, 2/07/03, dados de Bello, “There is Life After Cancun”, Bangkok
pesquisa nos EUA, de Gary Langer, “Behind Post, 21/09/03.
the Label: Many Skeptical of Bio-Engineered
Food”, ABC News, 19/06/03:dados europeus, Camisetas de Algodão
de George Gaskell, Nick Allum e Sally Stares,
“Europeans and Biotechnology in 2002: 1. Scott Fresener et al., The T-Shirt Book
Eurobarometer 58.0”, relatório para a Diretoria (Layton, UT; Gibbs Smith Publisher, 1995);
Geral da Comissão Européia para Pesquisa Nancy Clark, “A Brief History of the T-shirt”,
(Londres: Methodology Institute, Londres Wearables Business, 1/05/98.
School of Economics, março de 2003).
2. Fibra campeã de vendas, de Cotton Board,
33. Fred Pearce, “GMO Import Ban Caught “Cotton’s Rise Through the Years”, em
in Crossfire”, New Scientist, 10 September www.cottonboard.org; produção de, Orga-
2003; Lissa Harris, “Better Biosafe than Sorry”,
nização das Nações Unidas para Alimento e
Grist Magazine, 11/09/03; ICTSD, “Coalition
Agricultura (FAO), “Cotton Commodity Notes”,
Seeks WTO Dismissal”, op. cit. nota 28; 181
junho de 2003, em www.fao.org/es/ESC/en/
organizações e 48 países, de www.bite-
20953/22215/index.html, e de idem, FAOSTAT
back.org/index.htm, visitado em 17/10/03.
Statistics Database, em apps.fao.org, atualizado
34. Declaração do Presidente da Mesa- em 10/06/03; pesticidas de Pesticide Action
Redonda de Alto Nível sobre Comércio e Meio Network North America (PANNA), “Problems
Ambiente, Cozumel, México, 9/09/03; with Conventional Cotton Production”, in
preferências por “bens de consumo verdes” Organic Cotton Briefing Kit, 1998, em
de Scott Vaughan, Trade Preferences and www.panna.org/resources/ cotton.html, e de Rob
Environmental Goods, Trade, Equity, and Bryant, Agranova, e-mail a Brian Halweil,
Development Series, Issue no. 5 (Washington, Wordwatch Institute, 17/07/01; Organização
DC: Carnegie Endowment for International Mundial da Saúde, de Pesticide Action Network
Peace, fevereiro de 2003). United Kingdom (PAN-UK), Organic Cotton
35. Doha WTO Ministerial 2001, Ministerial Production in Sub-Saharan Africa; The Need
Declaration, adotada em 14/11/01. for Scaling-Up (Londres: agosto de 2002).

282
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAMISETAS DE ALGODÃO E CAPÍTULO 8

3. Margareth Reeves et al., Fields of 9. Produção e exportações de FAO, “Cotton


Poison 2002: California Farmworkers and Commodity Notes”, op. cit., nota 2, e de idem,
Pesticides (São Francisco: Californians for FAOSTAT Statistics Database, op. cit. nota 2;
Pesticide Reform, 2002), p. 5; Ayanjit Sen, “The Fabric of Lubbock’s Life”, New York
“Pesticide Kills ‘500’ Indian Farmers”, BBC Times, 19/10/03; Amadou Toumani Touré e
News, 31/07/02; pesquisa em Benin citada em Blaise Compaoré, “Your Farm Subsidies Are
PAN-UK, Pesticide Action Network UK Strangling Us”, New York Times, 11/07/03.
Review 2002 (Londres: 2003), p. 12; Debora
10. China de Global Sources.com, “World’s
MacKenzie, “Fresh Evidence on Bhopal
Hub of T-shirt Production”, 29/07/03, em
Disaster,” New Scientist, 7/12/02.
www.globalsources.com/am/article_id/
4. Dano à vida silvestre, de PANNA, op. 9000000043332/page/showarticle?
cit., nota 2; Philipp Thalmann e Valentin Kung, action=GetArticle. Consumidores americanos,
Transgenic Cotton: Are There Benefits for de Robin Merlo, diretor de Marketing e
Conservation? Elaborado para a WWF Comunicações, Cotton Incorporated, e-mail a
International (Gland, Suíça: março de 2000). Brian Halweil, Worldwatch Institute, 16/10/03;
5. Aldicarb de Nancy M. Trautmann et al.”, Ellen Israel Rosen, Making Swetshops: The
Pesticides and Groundwater: A Guide for the Globalization of the U.S. Apparel Industry
Pesticide User”, fact sheet (Ithaca, NY: Cornell (Berkeley: University of California Press, 2002).
Cooperative Extension, 8/05/98); efeitos 11. Divisão das Nações Unidas para o
imunológicos, de PAN-UK, “Aldicarb”, em Desenvolvimento Sustentável, “Application
www.pan.uk.org/ pestnews/actives/ of Biodynamic Methods in the Egyptian
aldicarb.htm; E. Michael Thurman et al., Cotton Sector”, Success Stories – 2000:
“Occurrence of Cotton Pesticides in Surface Integrated Planning and Management of
Water of the Mississippi Embayment”, fact Land Resources, Agriculture, and Forests,
sheet (Reston, VA: U.S. Geological Survey, em www.un.org/esa/sustdev/mgroups/
Maio 1998); Mar de Aral, do Programa das success/SARD-27.htm; Fair Trade
Nações Unidas para o Meio Ambiente, Federation, em www.fairtradefederation.org;
Afaghanistan: Post-Conflict Environmental para uma lista de empresas, vide Web site da
Assessment (Nairobi: 2003), p. 62. International Organic Cotton Directory em
6. Uso de 11 milhões de fardos nos EUA, www.organiccottondirectory.net.
de Cotton Board, “How U.S. Cotton Finds Its
Way into the U.S. Consumer Market”, em Capítulo 8. Repensando a
www.cottonboard.org. Boa Vida
7. Produtos químicos e tinturas, de John C.
1. Escolas, de Woodrow Wilson School of
Ryan e Alan Thein Durning, Stuff: The Secret
Public and International Affairs, “Former Mayor
Lives of Everyday Things (Seattle, WA:
of Bogotá to Speak on Improvement Models
Northwest Environment Watch, 1997), pp. 23-
for Third World Cities”, press release
24, e de Mindy Pennybacker, “The Hidden Life
(Princeton, NJ: 26/11/01), e de Enrique Peñalosa,
of T. Shirts”, Sierra Magazine, janeiro de 1999.
e-mail a Gary Gardner, 8/10/03; parques, de ibid.;
8. Ryan e Durning, op. cit, nota 7, p. 21. assassinatos, de Curtis Runyan, “Bogotá

283
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 8

Designs Transportation for People, Not Cars”, de David G. Myers, hope College, e-mail a Erik
WRI Features (Washington, DC: World Assadourian, 20/10/03.
Resources Institute, fevereiro de 2003).
8. Ronald Inglehart e Hans-Dieter
2. Rodovia, de Susan Ives, “The Politics Klingemann, “Genes, Culture, Democracy, and
of Happiness”, YES! A Journal of Positive Happiness”, in E. Diener and E. M. Suh, eds.,
Futures, verão de 2003, pp. 36-37; passageiros Culture and Subjective Well-Being
e proprietários de carros, de Peñalosa, op. cit., (Cambridge, MA: The MIT Press, 2000), p. 171.
nota 1; metrô de Washington de Washington 9. Michael Bond, “The Pursuit of
Metropolitan Transit Authority, “Metrorail Happiness”, New Scientist, 4/10/03, pp. 40-
Peak Ridership Continues to Grow in March”, 47; Ed Diener, “Frequently Asked Questions”,
press release (Washington, DC: 25/04/02); em www.psych.uiuc.edu/~ ediener/faq.html,
bibliotecas e escolas, de Woodrow Wilson visitado em 23/10/03; Ed Diener, University of
School, op. cit., nota 1. Illinois, discussão com os autores, 8/07/03.
3. Peñalosa citado em Ives, op. cit., nota 2, 10. Caroline E. Mayer, “Trade Group to
p. 37. Abide by No-Calls List”, Washington Post,
4. Merriam Webster’s Collegiate 29/09/03.
Dictionary, Eleventh Edition (Springfield, 11. Mercado orgânico, de “The Global
MA: Merriam-Webster, 2003), p. 1416. Market for Organic Food & Drink”, Organic
Agradecemos a Mark Anielski por ter Monitor, julho de 2002; consumidores de
chamado nossa atenção para esta etimologia. Datamonitor, “Organic, Natural, Ethical, &
5. Organização para Cooperação e Vegetarian Consumers”, report brochure
Desenvolvimento Econômico (OCDE), The Well- (Nova York: fevereiro de 2002).
being of Nations: The Role of Human and Social 12. Natural Marketing Institute, “Nearly
Capital (Paris: 2001); Millennium Ecosystem One-third of Americans Identified as Values-
Assessment, Ecosystems and Human Well- based, Highly Principled Consumers, New
being: A Framework for Assessment Research Shows”, press release (Harleysville,
(Washington, DC: Island Press, 2003); Canadá PA; 14/05/02); Amy Cortese, “They Care
de Mike Nickerson, “Green Party Policy Is About the World (and They Shop, Too)”, New
Passed in the House of Commons”, Vancouver York Times, 20;07/03; parcela de despesas, do
Greens Newswire, em vangreens.bc.ca/ news/ Banco Mundial, World Development
2003/06/79.php, visitado em 20/10/03. Indicators Database, em media.orldbank.org/
6. Definição adaptada de Millennium secure/data/qquery.php, visitado em 10/10/03.
Ecosystem Assessment, op. cit., nota 5, p. 74. 13. Seikatsu Club, “Outline of the Seikatsu
7. David G. Myers e Ed Diener, The Club Consumers’Cooperative Union”, em
Science of Happiness (Bethesda, MD: World www.seikatsuclub.coop/english/top.html,
Future Society, 1997); Figura 8-1 de David G. visitado em 21/10/03; Consumer Coop
Myers, The American Paradox: Spiritual International, “Action Plan 2003-2003”, em
Hunger in an Age of Plenty (New Haven, CT: www.coop.org/eci/activities/action_ plan.htm,
Yale University Press, 2000), com atualizações visitado em 21/10/03.

284
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 8

14. Global Action Plan, em www.global 20. Informação em 07/06/05 em www.07-06-


actionplan.com/index.html, visitado em 21/10/ 05.com/765/381.htm, visitado em 11/10/03.
03; Global Action Plan UK, Annual Report and
21. John de Graaf, Take Back Your Time Day,
Accounts 2001-2001 (Londres: dezembro de
discussão com Erik Assadourian, 24/10/03;
2002); Global Action Plan, “The Sustainable
Take Back Your Time Day, “Take Back Your
L i f e s t y l e C a m p a i g n ” , e m w w w.
Time Day Campaign Launch”, press release
globalactionplan.org/Files/SLC.htm, visitado
(Seattle, WA: 25/03/03).
em 20/10/03; Ministro do Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável, “Week of 22. De Graff, op. cit., nota 21.
Sustainable Consumption”, press release
23. Robert D. Putnam, Bowling Alone: The
(Paris: 25/03/03); la famille durable em
Collapse and Revival of American
www.familledurable.com, visitado em 10/10/03.
Community (Nova York: Simon & Schuster,
15. Center for a New American Dream, “Turn 2000), p. 332.
the Tide: Nine Actions for the Planet”, em
www.newdream.org/TurntheTide/default.asp, 24. Putnam, op. cit., nota 23, pp. 327-28;
visitado em 10/10/03. David G. Myers, “Close Relationships and
Quality of Life”, em D. Kahneman, E. Diener e
16. Cecile Andrews citada em Michael N. Schwarz, eds., Well-Being: The
Maniates, “In search of Consumptive Foundations of Hedonic Psychology (Nova
Resistance”, em Thomas Princen, Michael York: Russell Sage Foundation, 1999), p. 377.
Maniates, e Ken Conca, eds., Confronting
Consumption (Cambridge, MA: The MIT 25. B. Egolf et al., “The Roseto Effect: A
Press, 2002), p. 200. 50-Year Comparison of Mortality Rates”,
American Journal of Public Health, August
17. Datamonitor, “Simplicity”, report 1992, pp. 1.089-92; Putnam, op. cit., nota 23,
brochure (Nova York: maio de 2003). p. 329.
18. Pesquisas, de Michael Maniates, “In 26. Putnam, op. cit., nota 23, p. 327.
Search of Consumptive Resistance”, in
27. Banco Mundial, de Christian Grootaert
Princen, Maniates, and Conca, op. cit., nota
and Thierry van Bastelaer, Understanding and
16, pp. 200-01, de Juliet Schor, The Overspent
Measuring Social Capital: A Synthesis of
American: Why We Want What We Don’t Need
Findings and Recommendations from the
(Nova York: Harper-Perennial, 1998), pp. 113-
Social Capital Initiative, Social Capital
15, e de The Harwood Group, Yearning for
Initiative Working Paper 24 (Washington, DC:
Balance: Views of Americans on
World Bank, abril de 2001), p. iii; benefícios, de
Consumption, Materialism, and the
OCDE, op. cit., nota 5, pp. 52-61; vínculo, de
Environment (Takoma Park, MD: Merck Family
Paul J. Zak e Stephen Knack, “Trust and
Fund, 1995); mídia e Affluenza de Maniates, Growth”, 10/09/98 minuta, em papers.ssrn.com/
op. cit., esta nota, p. 201. sol3/papers.cfm?abstract_id=136961;
19. Michael Maniates, “Individualization: Madagáscar, de Marcel Fafchamps e Bart
Plant a Tree, Buy a Bike, Save the World?” Minten, Social Capital and the Firm:
em Princen Maniates, e Conca, op. cit., nota Evidence from Agricultural Trade, Social
16, p. 45. Capital Initiative Working Paper 17

285
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 8

(Washington, DC: Banco Mundial, setembro cerca de 1998; tempo de cozinhar, de Zev Paiss,
de 1999), p. 23, e de Grootaert e van Bastelaer, discussão com Gary Gardner, março de 1999.
op. cit., esta nota, p. 11.
34. Bacias hidrográficas, de Anirudh Krishna
28. Citação, de Ken Grimes, “To Trust Is e Norman Uphoff, Mapping and Measuring
Human,” New Scientist, 10/05/02, p. 37; Social Capital, Social Capital Initiative Working
confiança e crescimento, de Stephen Knack, Paper no 13 (Washington, DC: Banco Mundial,
Social Capital, Growth and Poverty: A junho de 1999), p. 1; garbage collection from
Survey of Cross-Country Evidence, Social Sheoli Pargal, Mainul Huq, and Daniel Gilligan,
Capital Initiative Working Paper n o 7 Social Capital in Solid Waste Management:
(Washington, DC: Banco Mundial, maio de Evidence from Dhaka, Bangladesh, Social
1999), p. 17. Capital Initiative Working Paper n o 16
(Washington, DC: Banco Mundial, setembro de
29. Thierry van Bastelaer, Does Social
1999), p. 1. Quadro 8-1 dos seguintes:
Capital Facilitate the Poor’s Access to
“Gaviotas”, Social Design Notes, 9/08/03;
Credit? A Review of the Microeconomic
Moinhos de vento, de “Utopia Rises Out of the
Literature, Social Capital Initiative Working
Colombian Plains”, All Things Considered,
Paper no 8 (Washington, DC: World Bank,
National Public Radio, 29/08/94, auto-suficiência,
fevereiro de 2000), pp. 8-15.
de “Gaviotas”, op. cit., esta nota; hospital de
30. “Grameen at a Glance”, em www. “Colombia’s Model City”, In Context, outono
grameen.info.org/bank/GBGlance.html, de 1995; agricultura orgânica e reflorestamento,
visitado em 13/10/03; Cúpula do Microcrédito, de “Gaviotas”, op. cit., esta nota.
de Sam Daley-Harris, “State of the Microcredit
35. OCDE, Towards Sustainable
Summit Campaign Report 2003”, de Mya
Consumption: An Economic Conceptual
Florence, Microcredit Summit Campaign,
Framework (Paris: Environment Directorate,
e-mail a Gary Gardner, 27/10/03.
junho de 2002), p. 29.
31. Novos grupos de interesse nos Estados
36. “Santa Monica Sustainable City Plan”,
Unidos, de Rob Sandelin, “Clearly Something
2003 update (Santa Monica, CA: 11/02/03).
Is Happening Here”, Communities Journal
of Cooperative Living, primavera de 2000. 37. Quadro 8-2 de Robert Prescott-Allen, The
Wellbeing of Nations: A Country-by-Country
32. Nancy Hurrelbrinck, “Energy
Index of Quality of Life and the Environment
Conservation in Cohousing Communities”,
(Washington: Island Press, 2001).
Home Energy, July/August 1997, pp. 37-41;
propriedade privada, de Graham Meltzer, 38. Anders Hayden, “Europe’s Work-Time
“Cohousing and Sustainability: Findings and Alternatives,” in John de Graaf, ed., Take Back
Observations”, em www.bee.qut.edu. Your Time (São Francisco, CA: Berrett Koehler,
au/people/meltzer/articles/ 2003), pp. 202-10.
Cohousing%20Journal/cohojourn.htm 39. Jukka Savolainen et al., “Parenthood
33. Comparecimento médio, de Graham and Psychological Well-being in Finland:
Meltzer, “Cohousing: Verifying the Importance Does Public Policy Make a Difference?”
of Community in the Application of Journal of Comparative Family Studies,
Environmentalism”, trabalho não-publicado, winter 2001, pp. 61-74.

286
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 8

40. Roger Levett et al., A Better Choice of 48. “Smoke Free Movies”, em www.smoke
Choice (Londres: Fabian Society, agosto de freemovies.ecsf.edu/, visitado em 13/10/03;
2003). Adbusters, “Reclaim the TV Airwaves”, em
adbusters.org/campaigns/ mediacarta/
41. Banco Mundial, “Participatory
toolbox/resources/tvjam, visitado em 15/10/
Budgeting in Brazil”, project commissioned
03; Tailândia, do Programa das Nações
by the World Bank Poverty Reduction Group,
em poverty.worldbank.org/files/14657_Partic- Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA),
Budg-Brazil-web.pdf. D i v i s ã o d e Te c n o l o g i a , I n d ú s t r i a
e Economia, Report from UNEP
42. Tempo de ir e vir do trabalho, de Putnam, International Expert Meeting: Advertising
op. cit., nota 23, p. 212-13; Rob Stein, and Sustainable Consumption (Paris:
“Suburbia USA: Fat of the Land? Report Links janeiro de 1999); Quadro 8-3 de Solange
Sprawl, Weight Gain”, Washington Post, 29/ Montillaud-Joyel, PNUMA, Nairobi.
08/03.
49. Austrália e Canadá, de New Jersey
43. John Pucher e Lewis Dijkstra, “Making Media Literacy Project, “Plugging in to
Walking and Cycling Safer: Lessons from Media Education”, Center for Media
Europe”, Transportation Quarterly, summer Studies, em www.mediastudies.rutgers.edu/
2000, pp. 25-50. cmsyme.html, visitado em 21/10/03; Instituto
44. “Walking in the City”, Eco News Akatu, “Akatu Institute for Conscious
Newsletter, outubro de 2002. Consumption”, em www.akatu.net/
english.asp, visitado em 21/10/03.
45. Cidade de Austin, Web site do Matrix
Program, em www.ci.austin.tx.us/ 50. Benjamin Hunnicutt, “When We Had
smartgrowth/ incentives.htm, visitado em 12/ the Time,” in de Graaf, op. cit., nota 38, pp.
10/03; citação de Dauncey, de “Smart 118-21; Jerome Segal, “A Policy Agenda for
Planning, Smart Growth”, Eco News Taking Back”, in de Graaf, op. cit., nota 38,
Newsletter, dezembro de 2000. p. 214.

46. Kate Zernike, “Fight Against Fat Shifts 51. Lao-Tzu, Te Tao Ching (Nova York:
to the Workplace”, New York Times, 12/10/03. Ballantine Books, 1989), p. 85.
47. Suécia, de Ingrid Jacobsson, 52. Gould citado em David Orr, “For the
“Advertising Ban and Children: Children Have Love of Life”, Conservation Biology,
the Right to Safe Zones”, Current Sweden, dezembro de 1992, p. 486.
junho de 2002; Departamento de Agricultura 53. Prescott-Allen, op. cit., nota 37; OECD,
dos Estados Unidos, “Import Restrictions and “DAC Tables from 2000 Development Co-
Requirements”, Tobacco Circular, 1998, em operation Report”, em www1.oecd. org/dac/
www.fas.usda.gov/tobacco/ circular/1998/ images/ODA99per.jpg.
impreqmts/us.pdf, visitado em 23/10/03; “EU
Health Ministers Ban Tobacco Ads”, U.N. Wire, 54. Ruub Lubbers citado em Hayden, op.
dezembro de 2002. cit., nota 38, p. 202.

287
Publicações WWI - Worldwatch Institute no Brasil
UMA - Universidade Livre da Mata Atlântica

Revista World Watch - bimestral


Premiada pela imprensa internacional, é
publicada há 13 anos em vários idiomas,
acompanhando os avanços econômicos,
científicos e tecnológicos e os impactos
sobre os sistemas naturais do planeta.

Sinais Vitais
Analisa o crescimento econômico e seus impactos
sobre os ecossistemas, despertando o leitor com
gráficos e dados sobre as novas tendências
ecológicas globais, que determinam o nosso futuro.

Estado do Mundo
Relatório Anual do Worldwatch, publicado há 20 anos consecutivos, em cerca
de 30 idiomas, com mais de 1 milhão de cópias vendidas. Eleito pela imprensa
internacional como a Bíblia do Desenvolvimento Sustentável.

www.wwiuma.org.br

You might also like