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Elementos de Máquinas

Fadiga

Prof. Osvaldo Abadia de Carvalho Filho


FADIGA
 A fadiga é uma redução gradual da capacidade de carga do componente, pela
ruptura lenta do material, consequência do avanço quase infinitesimal das fissuras
que se formam no seu interior.

 Este crescimento ocorre para cada flutuação do estado de tensões.

 As cargas variáveis, sejam cíclicas ou não, fazem com que, ao menos em


alguns pontos, tenhamos deformações plásticas também variáveis com o tempo.

 Estas deformações levam o material a uma deterioração progressiva, dando


origem à trinca, a qual cresce até atingir um tamanho crítico, suficiente para a
ruptura final, em geral brusca, apresentando características macroscópicas de
uma fratura frágil.

A grande maioria das estruturas de engenharia está sujeita a cargas que são de
um modo geral variáveis no tempo, embora muitas vezes sejamos levados a crer
que o carregamento seja estático, em uma primeira observação.
Carregamento Cíclico – Cargas
Variáveis
 Cargas variáveis: Qualquer solicitação que se
repete num intervalo de tempo qualquer.
 Tem-se 2 casos:
Cargas alternadas
Cargas pulsantes
Cargas Variáveis
Carregamento Cíclico – Cargas
Variáveis
 Tensão média:
 max   min
m 
2
 Tensão variável:
 max   min
v 
2
 Ou ainda:
 max   m   v  min   m   v
Carregamento Cíclico - Fadiga
 Os componentes mecânicos estão submetidos a
esforços que variam com o tempo.
 Estes esforços podem provocar a falha através
da fadiga no material.
 A falha por fadiga consiste na nucleação e
posterior propagação de trincas.
 Geralmente esta falha ocorre com tensões
atuantes inferiores ao limite de resistência ao
escoamento do material.
Carregamento Cíclico - Fadiga
 Mecanismo de falhas por fadiga:
 As trincas de fadiga iniciam na grande maioria dos casos na
superfície do componente.
 Estas trincas podem ser nucleadas durante o serviço ou
podem estar presentes no material usado na fabricação.
 As trincas iniciam em imperfeições ou descontinuidades do
material, ou seja, em locais onde haja concentrações de
tensões.
 Existem três estágios básicos:
Nucleação
Propagação estável da trinca
Fratura brusca devido à propagação instável da trinca.
Carregamento Cíclico - Fadiga
 Seção transversal de uma peça com evolução da
fratura por fadiga
Carregamento Cíclico - Fadiga
 Existem basicamente três metodologias distintas
para o dimensionamento à fadiga de um
componente:
Fadiga controlada por tensão (ou fadiga de alto
ciclo)
Fadiga controlada por deformação (ou fadiga de
baixo ciclo)
Mecânica de fratura aplicada à fadiga.
Fadiga controlada por tensão
 Baseia-se nas curvas S-N (ou curvas de Wöhler) do
componente.
 Esta metodologia é bastante adequada quando as
seguintes condições são verificadas:
 A tensão atuante é inferior ao limite de resistência de
escoamento do material, ou seja, σEXT < σ0,2.
 A vida prevista é longa. Em geral N>103 ciclos;
 A amplitude dos Esforços é previsível;
Exemplos: Eixos, engrenagens, molas;
 A vida necessária ao componente deve ser calculada ou
avaliada.
Fadiga controlada por tensão
 Exemplo: Determinação da vida de um virabrequim de automóvel:
 Vida esperada do carro ≈ 150.000 km;
 Raio do Pneu ≈ 290 mm;
 Comprimento =π.580= 1822,12mm = 1822X10-6 km;
 1 Rotação pneu 1822X10-6 km
 n Rotações pneu 1 km
 n = 549 rpm/km.
 Para N=150.000 km n= 549x150.000 = 8,2x107 Rotações
 Relação típica: nENT/nSAIDA=3x1
 nVIRABREQUIM = 2,5x108 Rotações

 A vida necessária ao virabrequim será de aproximadamente


250 milhões de ciclos. Isto significa vida infinita.
Curva S-N

 Esta curva relaciona a tensão alternada aplicada


com a vida do componente em números de
ciclos.
Limite de resistência à fadiga
 Limite de resistência à fadiga do material para
vida infinita:
aços e ferro fundidos: Ponto do gráfico
correspondente a formação do cotovelo (106 a 107
ciclos).
Alumínio e suas ligas: Valor de tensão alternada
correspondente à vida de 108 ciclos
Curva S-N

 A curva S-N pode ser modelada pela equação:

r (MPa) 400 700 1000 1400


f 0.93 0.86 0.82 0.77

 A resistência à fadiga torcional (SfS) será aproximadamente


58% do valor da resistência à fadiga à flexão (Sf), ou seja,
SfS = 0,577Sf.
Influência da Tensão média na Resistência à
Fadiga
 Tensões médias positivas (de tração) diminuem a
resistência à fadiga.
 Tensões médias de compressão tendem a
aumentar a resistência à fadiga.
Existem vários modelos que determinam a
influência da tensão média. Os mais usados são:
Limite de resistência à fadiga
 Diagrama de vida constante
Limite de resistência à fadiga
 Exemplo: Um aço tem:
Limite de resistência à fadiga Se=400 MPa,
Limite de resistência à tração = 1200 MPa.
Qual o maior valor da tensão alternada que ele
suportaria, para ter a mesma vida e com FS=1, se
estivesse atuando a tensão σm= 80 MPa?

σa ≤ 133,33 MPa


Limite de resistência à fadiga
 Limite de Resistência à Fadiga Teórico (S’e)
O limite de resistência à fadiga teórico (S’e) pode
ser aproximado através dos seguintes valores:
AÇOS:
S’e ≈ 0,5σR ⇒ σR < 1400 Mpa
S’e ≈ 700 MPa ⇒ σR ≥ 1400 Mpa
FERRO FUNDIDO:
S’e ≈ 0,4σR ⇒ σR < 400 Mpa
S’e ≈ 160 MPa ⇒ σR ≥ 400 Mpa
Limite de resistência à fadiga
 O limite de resistência à fadiga teórico (S’e) deve
ser corrigido por diversos fatores de correção,
obtendo-se o limite de resistência à fadiga (Se).
Limite de resistência à fadiga
 1) Fator de carregamento (CL)
Flexão alternada e Torção CL = 1,0
Forças Axiais CL= 0,7
 2) Fator de Tamanho (CG)
d ≤ 8 mm CG = 1,0
8 ≤ d ≤ 250 mm CG = 1,189.(d-0,097)
d > 250 mm CG = 0,6
 (d) em milímetros (mm).
Seções distintas da circular: Calcular o diâmetro
equivalente - dequiv
A95 é tabelado para diversas seções.
Para a seção retangular de lado b e altura h tem-se:

A95 = 0,005 x b x h
Limite de resistência à fadiga
 3) Fator de Acabamento Superficial (CS)
Determinado pelo processo de fabricação
Limite de resistência à fadiga
 4) Fator de Correção da Temperatura (CT)
CT = 1,0 Para T ≤ 450 0C
CT = 1 – 0,0058(T-450) Para 450 ≤ T ≤ 550 0C

 5) Fator de Correção da Confiabilidade (CR)


Efeito de Entalhes

 O fator de sensibilidade ao entalhe, q, para tração, flexão


e torção é obtido em função da tensão limite de
resistência R ou da dureza HB e do raio no fundo do
entalhe.
Efeito de Entalhes

- Fator de
sensibilidade
ao entalhe
Efeito de Entalhes
Tensões multiaxiais
 Calcular as tensões equivalentes alternadas
(σeqa) e médias (σeqm) através da equação de von
Mises:
Tensões multiaxiais
HISTÓRICO DE FRATURAS
CATASTRÓFICAS
 1876 Ashtabula, Michigan: Ponte de ferro-fundido
de 23 m de altura que desaba quando da
passagem de um trem com 159 pessoas a bordo.
92 mortos (48 irreconhecíveis). Ruptura por
fadiga e falha de projeto.

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HISTÓRICO DE FRATURAS
CATASTRÓFICAS

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HISTÓRICO DE FRATURAS
CATASTRÓFICAS
 1919 Boston: Tanque de ferro-fundido de uma
destilaria de álcool com 9000000 lts de melaço se
rompe. Uma onda de 5 metros de altura de
melaço se forma, viajando a uma velocidade de
35 Km/h por aproximadamente duas quadras.
150 pessoas feridas e 21 mortas. As causas da
ruptura teriam sido sobrecarga e problemas
construtivos do tanque. Foi um dos primeiros
casos na história em que a companhia
responsável teve que pagar indenizações pelas
mortes e danos. 30
HISTÓRICO DE FRATURAS
CATASTRÓFICAS

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HISTÓRICO DE FRATURAS
CATASTRÓFICAS
 1944 Cleveland: Ruptura de um tanque de gás
natural liquefeito. Com a ruptura, houve a
vaporização do gás que se incendiou, causando
uma gigantesca bola de fogo. Uma milha
quadrada foi completamente destruída, deixando
79 casas, 2 fábricas, 217 carros destruídos. 131
pessoas mortas, 300 feridas

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CATASTRÓFICAS

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HISTÓRICO DE FRATURAS
CATASTRÓFICAS
 1942-52: Ruptura dos navios Liberty-ships. Os Liberty ships
eram navios de carga, usados na II guerra mundial.
 Tornaram-se lendários por terem sido projetados para
fabricação em série, de modo a agilizar o tempo construtivo
(2700 foram construídos, sendo que no final da guerra o
tempo médio de construção era 5 dias) e também por terem
sido pioneiros no uso da solda substituindo rebites.
 No início 30% deles afundaram com ruptura catastrófica (no
final da guerra a taxa caiu para 5%). As causas das rupturas
foram a inexistência de barreiras a propagação das trincas,
como o fim das chapas, existentes no caso de cascos
rebitados; falta de experiência dos soldadares (não havia
tempo hábil para treiná-los em função da guerra) e uso de 34
metais de baixa tenacidade.
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CATASTRÓFICAS

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HISTÓRICO DE FRATURAS
CATASTRÓFICAS

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HISTÓRICO DE FRATURAS
CATASTRÓFICAS
 Tem-se início então as primeiras investigações
sistemáticas patrocinadas pela American Bureau
of Shipping, onde conclui-se que a fratura
catastrófica era relacionada a 3 fatores: má
qualidade do aço, concentradores de tensão e
soldas defeituosas.
 Surge, em 1947, primeira norma restritiva quanto
a composição química dos aços empregados na
construção naval .

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HISTÓRICO DE FRATURAS
CATASTRÓFICAS
 1953-54: Queda de 3 aviões Comets (de Havilland 106
Comet). Ele foi o primeiro avião a jato comercial,
introduzido em 1949 e colocado em operação em 1952 .
Posteriormente descobriu-se que as quedas ocorreram
por propagação de trincas que se originaram nas
proximidades dos cantos das janelas – quadradas – do
avião (na verdade no furo de um rebite), e que se
propagavam por fadiga causada pela
pressurização/despressurização da cabine. Após a
descoberta, nenhum avião pressurizado usaria janelas
sem cantos arredondados.

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HISTÓRICO DE FRATURAS
CATASTRÓFICAS

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CATASTRÓFICAS

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HISTÓRICO DE FRATURAS
CATASTRÓFICAS

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HISTÓRICO DE FRATURAS
CATASTRÓFICAS
 1962 Melbourne: Ponte King bridge rompe sem carga.
Causa da ruptura: metal de baixa qualidade, falha de
projeto.
 1967 Point Pleasant, W. Virginia: Ponte Silver Bridge
ligando o estado W. Virginia a Ohio. Vão central tinha
mais de 130 metros. Em lugar de cabos, a ponte era
suspensa por correntes ligadas por pinos. Um dos elos de
corrente se rompeu por clivagem devido ao clima frio e
sobrecarga, causando a ruptura dútil de um dos pinos.
Com a ruptura de uma das correntes, toda a estrutura
colapsou, causando a morte de 46 pessoas. A ruptura foi
causada por microtrincas que cresceram por fadiga e
corrosão combinados. 42
HISTÓRICO DE FRATURAS
CATASTRÓFICAS

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HISTÓRICO DE FRATURAS
CATASTRÓFICAS

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HISTÓRICO DE FRATURAS
CATASTRÓFICAS
 O desastre da ponte Silver bridge tornou-se um
marco pois foi a primeira estrutura civil a ter o
colapso investigado com aplicação dos conceitos
modernos da mecânica da fratura.
 Conforme Kanninen e Popelar, o National Bureau
Standars (NBS) estimou que as perdas anuais
diretas e indiretas na economia americana devido
à fratura (em 1982) chegavam a 120 bilhões de
dólares/ano e que em torno de 35 bilhões de
dólares poderiam ser economizados se
conhecimentos de mecânica da fratura fossem 45

aplicados.
Exercícios
 1) Considere uma peça de secção transversal quadrada
de lado = a. Esta peça está submetida às forças axiais
que variam de –2 kN até 12 kN. O material desta peça foi
fabricado com um aço com:
 Limite de escoamento σ0,2 = 600 MPa;
 Limite de resistência à tração σR = 920 MPa;
 Estime o valor da resistência à fadiga desta peça. Explique
o valor de cada fator de correção utilizado para esta
estimativa.
 1.1) Determine o lado (a) desta peça para que ela tenha
vida infinita. Considere fator de segurança S = 1,5.
 1.2) Considere o lado (a) igual a 90% do valor calculado no
item anterior. Determine a vida da peça com este novo lado.
Considere fator de segurança S = 1,5.
Exercícios
 2) Considere o eixo abaixo, o qual está submetido a uma força de 6.800 N.
Este eixo terá uma rotação de 850 rpm.
 Selecione um material para este eixo. Estime o limite de resistência à fadiga
para vida infinita (Se).
 Determine os esforços atuantes. Faça o diagrama de momentos fletores.
 Determine os valores dos momentos atuantes nos pontos: B – C – E;
 Determine as tensões atuantes nestes pontos. Determine o ponto crítico, ou
seja, aquele em que atua o valor máximo da tensão.
 Determine se o eixo terá vida infinita. Justifique! Se não tiver, determine a
vida do eixo.
Exercícios
 3) Considere a viga de seção transversal quadrada ou retangular da
figura abaixo. Sobre a extremidade desta viga atuará uma massa (M).
Esta massa poderá variar ciclicamente entre zero e 100 kg.
 Selecione um material para esta viga.
 Estime o limite de resistência à fadiga para vida infinita (Se).
 Determine as dimensões desta viga para que ela tenha vida
infinita.
 Quais seriam as dimensões, se a vida fosse igual a 4x104 ciclos?
Referências

 NORTON, Robert L. Projeto de máquinas uma


abordagem integrada. 2. Porto Alegre Bookman
2011 ISBN 9788560031313.
 SHIGLEY, J. E., Mischke, C.R. e Budynas, R.G.,
Projeto de Engenharia Mecânica, Bookman, Porto
Alegre, 7a Ed., 2005.
 Notas de Aulas Elementos de Máquinas – Prof.
Alysson Vieira – PUCMinas
 Notas de Aulas Elementos de Máquinas – Prof.
Claysson Vimieiro – PUCMinas
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Próxima Aula: Leituras Sugeridas

 Fadiga
 Referência Bibliográfica:
NORTON, Robert L. Projeto de máquinas uma
abordagem integrada. 2. Porto Alegre Bookman 2011
ISBN 9788560031313.
Shigley, J. E., Mischke, C.R. e Budynas, R.G., Projeto
de Engenharia Mecânica, Bookman, Porto Alegre, 7a
Ed., 2005.

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