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Eduardo Nespoli
Universidade Federal de São Carlos
Idiofones: são os instrumentos musicais em que o som é produzido pela vibração de corpos
sólidos, isto é, que não necessitam ser submetidos a uma tensão. Fazem parte desta categoria
instrumentos como o triângulo, o prato, o agogô, ou qualquer outro tipo de objeto cujo som é
produzido a partir da vibração do próprio corpo.
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Introdução ao estudo dos instrumentos musicais: aspectos teóricos e classificação
Autor: Eduardo Nespoli
Membranofones: são instrumentos que para produzir som utilizam uma membrana (pele)
tensionada. Fazem parte deste grupo o tamborim, o tímpano, o surdo e a caixa clara. Os
membranofones são em sua maioria tambores.
Cordofones: são instrumentos que produzem som a partir da vibração de uma corda
tensionada fixada ao seu corpo. Podemos encontrar neste grupo o violão, o contrabaixo, o violino, a
harpa.
Aerofones: são os instrumentos musicais em que o som é produzido pelo ar. Em sua maioria,
os aerofone produzem som pela passagem do ar em um tubo, mas existem ainda aerofones cujos
sons são produzidos pela passagem do ar em lâminas que vibram. Exemplos deste tipo de
instrumento são as flautas, os oboés, o trompete; mas também o orgão de tubos, os instrumentos de
lâminas como os acordeão e gaita.
Estas quatro categorias recebem subdivisões, de acordo com aspectos específicos. Vejamos a
seguir algumas possibilidades de classificação.
Idiofones
Existem diversos tipos de idiofones que podem ser agrupados de acordo com o modo de
produção do som.
Os idiofones percussivos são aqueles em que se obtém o som a partir do choque com o corpo
vibrante, o que pode ser realizado com uma baqueta, com os dedos, ou mesmo com as mãos. É o
caso dos xilofones, vibrafones, sinos, agogôs, pratos e diversos outros instrumentos.
Os idiofones de agitar são aqueles que devem ser movimentados para produzirem sons, como
é o caso dos chocalhos.
Os idiofones beliscados produzem som a partir da vibração de uma ou mais lâminas. É o caso
de alguns instrumentos africanos como o mbira e a kalimba.
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Introdução ao estudo dos instrumentos musicais: aspectos teóricos e classificação
Autor: Eduardo Nespoli
Membranofones
O tambor é um membranofone comum em várias partes do mundo. Caracteriza-se por ter uma
estrutura vazada chamada de casco, ao qual se fixa em suas aberturas 1 ou 2 membranas. Estas
membranas fixadas nas bocas do casco, são percutidas com baquetas ou mãos para se obter o som.
Os materiais mais utilizados para se construir o casco do tambor são madeira, metal, cerâmica
e bambu. Atualmente, materiais alternativos, como latas, recipientes diversos e tubos de PVC
podem ser utilizados como cascos na confecção de tambores. Evidentemente, cada material possui
uma resolução sonora diferente. O casco geralmente possui a forma cilíndrica, mas encontramos
também tambores em formato de cone e semiesfera.
Como membrana ou pele, o material mais usado é o couro animal. No entanto, também são
usados materiais sintéticos. A tensão pode ser obtida de diversas maneiras. Um dos modos de
tensionar a membrana é esticar a pele por meio de cordas que atravessam furos feitos em sua borda.
Atualmente, é muito comum encontrarmos tambores cuja forma de tensionamento da membrana é
realizada por meio de aros de metal que são puxados por parafusos presos a uma base de metal
fixada na lateral do casco. Neste caso, o aro circula a borda da pele, e serve como componente
estrutural que proporciona uma tensão mais uniforme.
Alguns tambores possuem fios de tripa ou metal esticados na membrana inferior. Deste modo,
conseguem um som diferenciado e com um zumbido proporcionado pelo atrito dos fios na pele.
Este aparato de fios é denominado comumente de "esteira", e é encontrado na caixa-clara.
Aerofones
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Introdução ao estudo dos instrumentos musicais: aspectos teóricos e classificação
Autor: Eduardo Nespoli
Em relação ao tubo, podemos destacar algumas relações importantes. O diâmetro e o
comprimento, por exemplo, influenciam na quantidade e na qualidade dos harmônicos que são
possíveis de serem obtidos. Um tubo largo coopera para produzir harmônicos mais graves, enquanto
que um tubo mais estreito ajuda na produção de harmônicos agudos. Nos instrumentos que possuem
tubo uma das formas de se alterar as frequências é modificando o comprimento do tubo através da
abertura e fechamento de orifícios localizados ao longo do tubo. Na flauta, por exemplo, quando os
orifícios encontram-se todos fechados, o som é o mais grave que se pode obter. Porém, quando
algum dos orifícios é descoberto o tamanho total do tubo é diminuído, o que resulta em notas mais
agudas. Outro modo de alteração das frequências é através do pistão, que na realidade é uma
espécie de chave que permite a passagem do ar por diferentes caminhos, proporcionando o aumento
e a diminuição do comprimento total do tubo. O pistão é um êmbolo cilíndrico que quando
pressionado intercepta o tubo principal, permitindo ou não a passagem de ar pelo tubo adicional,
fazendo variar a frequência. Há também os instrumentos de vara deslizante, como o trombone, cujo
princípio se faz pela presença de dois tubos que trabalham em conjunto, um deslizando dentro do
outro, variando deste modo o comprimento total.
A embocadura é o termo que designa a parte do instrumento ao qual se aplica o sopro. Mas o
termo embocadura também pode se referir à posição da boca, isto é, ao posicionamento e controle
que a boca do instrumentista exerce para obter a sonoridade desejada. Os harmônicos resultantes de
um tubo podem ser alterados a partir da embocadura.
Aerofones de aresta: a embocadura, neste caso, é uma aresta para a qual se direciona um jato
de ar. Podem ser de dois tipos: as de embocadura simples, as quais a lâmina de ar é moldada pelos
lábios do executante (flauta pan, flauta transversal); e as de embocadura de apito ou bisel, em que o
ar é direcionado para uma aresta talhada na parede do tubo através de um canal (flauta doce).
Aerofones de palheta: O jato de ar faz vibrar uma ou duas palhetas. As palhetas podem ser "de
batente" ou livres. As palhetas de batente podem ser simples ou duplas. As palhetas simples vibram
contra uma armação. São exemplos de instrumentos de palheta simples o saxofone e o clarinete. As
palhetas duplas são formadas por um par de palhetas que vibram uma contra a outra, fechando e
abrindo a fenda que existe entre elas, já que estão conectada uma à outra por uma base. Exemplos
de instrumentos com palhetas duplas são o oboé, o fagote, corne inglês.
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Introdução ao estudo dos instrumentos musicais: aspectos teóricos e classificação
Autor: Eduardo Nespoli
Existem ainda instrumentos que funcionam com palhetas livres, pois estas oscilam sem
obstáculo para um lado e para o outro. Exemplos de instrumentos que possuem palhetas livres são a
gaita e o acordeão.
Além dos tipos de aerofones citados acima, existem casos especiais como o órgão, que possui,
além dos tubos, um ou dois teclados que acionam um sistema mecânico para a execução das notas.
O órgão possui tubos que produzem o som a partir de arestas e tubos que produzem som a partir de
palhetas.
Ainda poderemos encontrar alguns objetos em que o som é acionado pelo movimento de um
corpo sólido no ar. É o caso do rombo, que é um aerofone formado por uma peça de madeira
achatada e presa a uma corda, que quando é girada no ar gera um ruído sonoro.
A voz humana também pode ser considerada um aerofone. Neste caso, trata-se de um sistema
de emissão de som extremamente complexo, e que faz parte do próprio corpo. Neste sentido, pode-
se considerar a voz e o corpo como os primeiros instrumentos musicais utilizados pelos seres
humanos para fazer música, além de se comunicar, o que nos assinala a relação intrínseca entre
comunicação, linguagem e música. É possível que, na origem do desenvolvimento da linguagem
oral, não houvesse tanta separação entre a emissão de sons, a comunicação e o fazer musical.
Madeiras e metais
Existe ainda outra divisão para os aerofones que geralmente é aplicada aos instrumentos da
orquestra, e que se baseia na qualidade do timbre dos instrumentos. Neste contexto, os instrumentos
de sopro são geralmente divididos em dois grupos: madeiras e metais.
Antigamente esta divisão ocorria em concordância com o tipo de material pelo qual era
construído o instrumento. Porém, alguns instrumentos confeccionados antigamente em madeira
passaram a ser confeccionados em metal. Mesmo assim, esta divisão ainda é comumente aceita,
com base na ideia de que alguns instrumentos feitos de metal possuem sonoridade mais aveludada e
próxima da sonoridade das madeiras, como é o caso da flauta e do saxofone.
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Introdução ao estudo dos instrumentos musicais: aspectos teóricos e classificação
Autor: Eduardo Nespoli
Atualmente, o grupo das madeiras é formado por instrumentos de aresta (flauta), de palheta
simples (clarinete) ou de palheta dupla (oboé). Os instrumentos que compõem o naipe dos metais
(trombone, trompete, trompa, etc.) possuem som mais estridente em relação às madeiras.
Cordofones
Os cordofones sofrem uma subdivisão de acordo com a forma de excitação da corda. Assim,
os cordofones podem ser divididos em: cordofones friccionados, cordofones dedilhados e
cordofones de tecla.
Cordofones friccionados: são aqueles em que se utiliza um arco de fricção para produzir o
som. Como exemplos, podemos citar o violino e o violoncelo.
Cordofones dedilhados: são aqueles em que o instrumentista utiliza os dedos ou uma paleta
para produzir o som. Como exemplo, podemos citar o violão, a guitarra elétrica e a harpa.
Os cordofones possuem geralmente uma caixa de ressonância através da qual o som das
cordas é amplificado e irradiado no espaço. As caixas de ressonância devem ser compatíveis às
dimensões das cordas. Para destacar os harmônicos graves é necessária uma caixa de ressonância
grande; enquanto que para realçar os harmônicos médios e agudos, caixas de ressonâncias menores
podem funcionar muito bem.
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Introdução ao estudo dos instrumentos musicais: aspectos teóricos e classificação
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Geralmente, as cordas encontram-se fixadas em uma das pontas ao corpo do instrumento,
enquanto que na extremidade oposta utiliza-se algum recurso que funciona como uma roldana a
partir da qual se enrola e estica a corda. Quanto mais esticada estiver a corda mais agudo será o som
produzido; e ao contrário, quanto menos esticada a corda, o som se torna mais grave. A espessura da
corda também influencia na geração do som, sendo que cordas mais finas geram harmônicos mais
agudos e cordas mais espessas geram harmônicos mais graves.
Para obter maior precisão em relação à geração de frequências podemos destacar dois tipos de
sistema de tensão das cordas: as cravelhas e as tarraxas. As cravelhas é uma peça cilíndrica que
permite que as cordas sejam enroladas e retidas perpendicularmente. A tarraxa caracteriza-se pela
presença de um sistema composto por um cilindro (onde a corda é enrolada) e uma roldana que
altera a posição do giro em relação ao ponto de apoio dos dedos.
Liras: nos cordofones tipo lira as cordas encontram-se esticadas da caixa de ressonância até
uma armação que se encontra no mesmo plano.
Harpas: nas harpas as cordas são tencionadas formando um plano perpendicular ou quase
perpendicular em relação à caixa de ressonância.
Braços: em alguns cordofones as cordas são esticadas sobre um braço. Neste caso, as cordas
encontram-se fixadas no corpo e atravessam sobre a caixa de ressonância do instrumento, indo em
direção às tarraxas ou cravelhas que se encontram ao final do braço. É o caso do violão, do
contrabaixo, do violino, do alaúde, do cavaquinho e de muitos outros instrumentos. A característica
principal deste tipo de instrumento é possibilitar que o instrumentista altere as notas ao pressionar
as cordas sobre o braço.
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Introdução ao estudo dos instrumentos musicais: aspectos teóricos e classificação
Autor: Eduardo Nespoli
Parte 2: Os instrumentos musicais eletrônicos
Instrumentos eletromecânicos
Nos sistemas eletrônicos analógicos, os sinais de ondas são análogos ao formato acústico. Isto
quer dizer que as ondas geradas em um sintetizador eletrônico analógico podem ser irradiadas por
meio de autofalantes diretamente, sem a necessidade de haver conversão digital-analógica.
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Introdução ao estudo dos instrumentos musicais: aspectos teóricos e classificação
Autor: Eduardo Nespoli
Instrumentos eletrônicos digitais
Num instrumento digital, o sinal analógico é convertido em sinal digital e vice-versa, por
meio de microprocessador (DSP – Digital Signal Processor). Os sistemas digitais trabalham com
amostras de sinais, que podem variar de acordo com a resolução do sistema. Usualmente se trabalha
com 44.100 valores de amplitude por segundo para se representar as variações de pressão, sendo
que alguns sistemas atuais permitem uma taxa de amostragem ainda maior. Em outras palavras, os
sistemas digitais convertem os sinais analógicos em quantidades de amostras numéricas por
intervalo de tempo, sendo que a quantidade de amostras por segundo é o que determina o nível de
resolução do som. Na maioria das vezes, entretanto, um sistema digital possui também componentes
analógicos combinados.
Os instrumentos musicais digitais podem ter um software rodando em uma máquina como um
computador, um tablet ou um smartphone. Para se comunicarem com o software, os dispositivos de
controle musical utilizam protocolos de comunicação, que são linguagens de computação que
enviam e recebem informações, geralmente relacionadas a parâmetros sonoros de diversos tipos. A
interface de controle pode variar, podendo ser um mouse, um teclado musical ou mesmo um sensor
que captura informações do corpo ou do meio.
Síntese e amostragem
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Autor: Eduardo Nespoli
Processamento
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Parte 3: Outros modos de escutar
Os primeiros instrumentos eletrônicos surgiram na virada do século XIX para o século XX,
com destaque para o Telharmonium, criado por Thaddeus Cahill em 1897 e o Teremim, criado por
Lev Sergeyevich Termen, por volta do ano de 1920. Um pouco antes da invenção do Teremim, em
1913, o italiano Luigi Russolo havia lançado seu manifesto "A arte dos ruídos", cujo propósito foi
questionar e propor a expansão do sistema de 12 notas para um sistema musical mais amplo, em que
a vasta gama de sons pudesse ser utilizada em obras musicais. Russolo, influenciado pela mudança
na paisagem sonora das grandes cidades, agora ocupadas por máquinas e fábricas de diversos tipos,
é o primeiro teórico do século XX a questionar os limites da escuta musical por notas e revelar o
ruído como material composicional. Sua proposta foi concretizada por meio da criação de diversos
instrumentos musicais "fazedores de ruídos", os intonarumori, os quais Russolo utilizou largamente
em sua obra musical.
A primeira metade do século XX é marcada por diversas obras que inauguraram o uso de sons
eletrônicos complexos. Neste período, não havia ainda a fita magnética disponível em um sistema
portátil, e muitos compositores utilizaram tocadores de disco para gerar sonoridades a partir de sons
gravados, além de instrumentos eletrônicos que proporcionaram a síntese de sons totalmente
diferentes daqueles gerados nos instrumentos mecânicos-acústicos. A possibilidade de execução de
sons em baixa e alta rotação, em fragmentos e loops, logo chamou a atenção sobre as novas
possibilidades de geração de sonoridades, evidenciando que a música passava por uma grande
transformação, tanto devido à possibilidade de fixação e reprodução dos sons, como pela
possibilidade de manipulação destes sons em composições.
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No entanto, é no final dos anos 40 que a redução dos equipamentos de fita magnética irá
possibilitar uma expansão do uso de amostras sonoras em composições musicais. Nos anos 50, uma
segunda onda de transformações atinge a música, e as discussões evidenciam cada vez mais a
necessidade de construção de novas teorias musicais. Nos anos 60 e 70, instrumentos eletrônicos,
fitas magnéticas e instrumentos acústicos passam a ser reunidos em obras híbridas, evidenciando a
possibilidade de fusão de tecnologias e sonoridades. É também nos anos 60 que os primeiros
recursos computacionais são utilizados em obras musicais.
A partir dos anos 80 e 90, observa-se o aumento do uso de computadores como instrumento
de geração e manipulação de áudio. Com a popularização e incremento da capacidade e velocidade
de realização de cálculos, os microcomputadores tornaram-se a partir do século XXI, instrumento
imprescindível no trabalho musical.
Um ponto marcante de toda esta discussão é o fato de a música contemporânea ter aberto os
ouvidos para os sons em geral, rompendo, deste modo, com a hierarquia dos componentes musicais,
antes mais focados no sistema de notas temperadas e escalas, assim como na organização
matematicamente simétrica dos componentes rítmicos. Para a escuta contemporânea, todo e
qualquer som pode ser utilizado musicalmente, mas para isto, deve passar por algum tipo de método
de organização.
Esta diferença se faz pela premissa de que os instrumentos eletrônicos não possuem
permanência instrumental, ou seja, os sons gerados em um instrumento eletrônico não possuem
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características intrínsecas como o som gerado nos instrumentos acústicos. Isto porque nos
instrumentos musicais acústicos, o timbre resulta diretamente de sua conformação física,
diretamente relacionada à sua estrutura. Já nos instrumentos eletrônicos, os parâmetros sonoros
podem ser alterados e modificados, sendo esta sua principal característica. Um instrumento
eletrônico pode simular ou sintetizar sons, de modo que não há como manter uma identificação
precisa de sua sonoridade. Um teclado eletrônico poderá executar diversos tipos de sons, inclusive a
partir de amostras gravadas de instrumentos acústicos. Esta variabilidade dos sistemas eletrônicos
faz com que o instrumento eletrônico se comporte como um sistema expansível.
O que está por detrás deste procedimento é revelar a ideia de que objetos em nova função
podem ser incorporados à prática musical a partir da ideia de que todos os sons podem ser utilizados
dentro de uma unidade musical. A expansão do campo de escuta musical, proporcionada
inicialmente sob forte influencia dos recursos eletrônicos, aparece neste tipo de procedimento ainda
mais ampliada. O gesto sonoro aparece aqui como pivô na geração de sons, já que ruídos e texturas
de todos os tipos podem ser gerados por meio da realização de gestos específicos nos objetos
cotidianos. O que Cage demonstra é que a expansão do campo de escuta não está necessariamente
atrelada aos equipamentos eletrônicos e à manipulação eletrônica do áudio, mas à percepção e ao
gesto sonoro colocando, deste modo, o corpo no centro de produção. Por meio do uso de objetos
diversos e gestos sonoros específicos, é possível gerar sonoridades muito semelhantes às geradas
em equipamentos eletrônicos.
1A performance pode ser assistida em: https://www.youtube.com/watch?v=SSulycqZH-U .
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Introdução ao estudo dos instrumentos musicais: aspectos teóricos e classificação
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Entretanto, estes procedimentos podem ser fundidos. O compositor americano David Tudor,
por exemplo, utilizou em sua obra Rainforest diversos objetos, cujas vibrações e ressonâncias foram
captadas por microfones de contato, e posteriormente processadas por dispositivos de som, gerando
assim timbres bem diferentes daqueles produzidos pelos instrumentos tradicionais. A ressonância
destes objetos somente pode ser escutada a partir do uso de recursos eletrônicos, revelando assim
qualidades sonoras antes não perceptíveis pelos "ouvidos nus".
Luteria experimental
O desdobramento lógico destes processos é a ideia de que podemos reunir materiais e objetos
cotidianos diversos, incrementando por meio de combinações, as possibilidades de geração de
sonoridades. Este processo artesanal de construção de recursos produtores de som se tornou cada
vez mais presentes na prática musical, e a exploração, adaptação e organização de materiais em
nova função, aliada à compreensão de fundamentos acústicos essenciais, podem ser de grande
utilidade na criação de instrumentos musicais não convencionais que, no entanto, podem gerar
sonoridades interessantes.
A luteria experimental é o campo por onde estas ideias se desdobram. Sendo a matéria prima
da música o som, o processo composicional se inicia na criação dos recursos sonoros, e muitas
vezes, inclui a percepção de que a música trava um diálogo contínuo com outras áreas de
conhecimento, como a acústica e a eletrônica. Esta reunião de áreas de conhecimento proporciona
uma visão mais ampla das noções de instrumento musical, som e música.
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Autor: Eduardo Nespoli
Atuando por meio desta metodologia, o estudante de música pode exercitar o aprendizado no
interior de uma prática coletiva e criativa voltada diretamente para a escuta dos sons que nos
rodeiam, assim como que para os sons que podem ser gerados criativamente a partir da reunião de
conhecimentos sobre o tema. O meio se torna recurso e o sujeito pode se colocar como agente de
produção e transformação do próprio ambiente que habita.
Bibliografia
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