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White Paper nº1 | maio 2015

Micro e Minigeração no Brasil:


Viabilidade Econômica e Entraves
do Setor
Bruno M. R. de Freitas e Lavinia Hollanda
Micro e Minigeração no Brasil:
Viabilidade Econômica e Entraves do Setor
A geração distribuída (GD) é um dos pela geração distribuída. Segundo
temas mais discutidos no âmbito do Pepermans et al. (2005), foram cinco os
planejamento energético no mundo e é principais fatores que contribuíram para
apontada como o futuro da produção de essa evolução: (i) o desenvolvimento de
energia elétrica. Em países de mercados tecnologias de geração elétrica em escala
mais maduros, a geração distribuída é reduzida, (ii) restrições na construção de
tida como alternativa à expansão de novas linhas de transmissão, (iii) aumento
parques centralizados e de grande porte, na demanda por uma eletricidade mais
os quais apresentam grandes impactos confiável, (iv) liberalização do mercado
socioambientais. de energia e (v) preocupações com as
mudanças climáticas.
Inicialmente, o abastecimento de
energia elétrica era feito em corrente Mas, qual seria a definição de geração
contínua e em pequena escala, próximo distribuída? Não há uma definição
ao centro de consumo. Com o passar convergente. A política energética de
dos anos, com o advento da corrente cada país aborda - e incentiva - este tipo
alternada, viabilizou-se a transmissão de de geração de maneira diversa. Em uma
eletricidade por grandes distâncias. A definição mais geral, a geração distribuída
dimensão dos projetos em eletricidade pode ser entendida como sistemas de
aumentou, resultando em ganhos de potência de capacidade reduzida e que
escala e redução dos custos marginais1. ficam alocadas próximas ao centro de
Foram construídos sistemas elétricos consumo, sem a necessidade de extensas
massivos, interconectados - como o caso redes para sua transmissão2. Em alguns
brasileiro - consistindo em imensas redes países é considerado, ainda, o tipo de
de transmissão e distribuição e em plantas tecnologia de conversão e a utilização
de geração centralizadas e gigantescas. da fonte, se intermitente, de combustível
A segurança no abastecimento era fóssil, ou renovável. Entretanto, a definição
alcançada com a otimização da operação de qual seria a potência instalada para
desses grandes sistemas, contornando as que algum empreendimento de geração
restrições operativas. seja considerado distribuído é função,
principalmente, da política energética
Na última década, inovações tecnológicas, aplicada.
mudanças econômicas, e também uma
regulação ambiental mais restritiva Há diversas opções tecnológicas para a
resultaram em uma renovação do interesse exploração da geração distribuída. Dentre

1. Pepermans et al., 2005. 2. Pepermans et al., 2005.

2
essas, uma das que mais vêm se destacando para que a micro e minigeração possa ser
é o aproveitamento energético através de uma alternativa viável aos que desejam
sistemas fotovoltaicos, principalmente produzir sua própria energia.
pela facilidade na instalação e pela
simplicidade de operação e manutenção3.
A evolução desta fonte tem sido bastante 1. Incentivos à Geração
impulsionada pela constante redução
de preços dos módulos fotovoltaicos no
Distribuída em Mercados
mercado internacional, principal insumo Internacionais
para tais sistemas. No entanto, ainda
carecem de incentivos para a sua adoção Segundo a International Energy Agency
em maior escala. (IEA)4, existem diversas opções de políticas
de incentivo à geração distribuída a serem
Esse trabalho apresenta uma breve consideradas. Políticas de incentivo
avaliação da geração distribuída no Brasil, ligadas à tarifa, como a Feed-in-Tariff (FiT),
representada pela mini e microgeração, comuns em países europeus e asiáticos, e o
após a homologação, pela Agência Net Energy Metering (NEM), nos EUA, têm
Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), da sido as mais utilizadas, frequentemente
Resolução Normativa 482/2012. O foco combinadas com incentivos fiscais. Em
do trabalho será em projetos de mini e alguns locais, como a Índia, utiliza-se
microgeração distribuída voltados para ainda Certificado de Energias Renováveis
o consumidor final – portanto, a análise (Renewables Energy Certificates – REC).
não contempla projetos de maior porte,
que participam dos leilões de energia do As FiT são tarifas estabelecidas em
mercado regulado. A seção 1 traz uma contratos de longo prazo, maiores que 15
visão de como o tema é abordado em anos, para a geração por fonte renovável
outros países, apresentando suas políticas de energia em uma propriedade,
de incentivo. A seção 2 aborda o atual independentemente de sua utilização – se
arcabouço regulatório no Brasil, com foco para autoconsumo ou para exportação. O
na resolução citada acima, enquanto a valor da tarifa (em unidades monetárias
energia fotovoltaica é descrita na seção por kWh) é estabelecido com base no
3. A seção 4 traz um exemplo de cálculo custo de geração, a depender da fonte,
de viabilidade de Sistemas Fotovoltaicos do tipo de instalação etc. O incentivo à
Conectados à Rede (SFvCR), levando em produção de energia vem do fato de que
consideração parâmetros econômicos o valor pago pela energia exportada para
e a atual regulação. A seção 5 discute rede é maior que o da energia comprada
os principais obstáculos para a sua da distribuidora. Esse mecanismo vai
implementação em maior escala no sendo reduzido ao longo do tempo, para
Brasil, apontando possíveis caminhos incentivar a redução do custo de geração.
que poderiam aumentar os incentivos Quando bem administradas, podem

3. IPEA, 2013. 4. IEA, 2014.

3
resultar em estímulo ao desenvolvimento que determinada energia foi gerada
da microgeração distribuída, promovendo através de uma fonte renovável. Os
um ressarcimento adequado aos RECs são mensurados em megawatt-
investidores, como ocorre na Alemanha. hora, medidos no ponto de geração
da energia. Os compradores podem
Já o NEM, aplicado em alguns estados selecionar os certificados de acordo
dos EUA e na Austrália, promove um tipo com a fonte energética e com o local
de incentivo diferente. Nessa modalidade da geração renovável. O mercado para
de política, proprietários ou usuários de esses certificados foi criado a partir de
sistemas fotovoltaicos recebem créditos requerimentos da legislação de alguns
(em kWh) pela energia excedente injetada estados de que parte da eletricidade
na rede local, que podem ser descontados de empresas de energia fosse suprida
de sua conta de energia em outras por fontes renováveis (compliance
ocasiões, quando a unidade geradora markets). Adicionalmente, alguns clientes
não produzir energia suficiente para o corporativos ou residenciais podem
autoconsumo. Assim, ocorre um balanço voluntariamente aderir ao mercado de
energético entre o consumo e a geração, RECs. No Brasil, algumas entidades5
e uma redução da dependência da energia lançaram iniciativas nesse sentido, que
proveniente da rede local. É importante garantem que o local certificado consome
salientar que, em políticas como esta, não uma quantidade mínima de energia
há comercialização de energia, havendo proveniente de fontes renováveis. Porém,
somente uma contabilização do saldo de por ora, não há um mercado instaurado
energia que foi injetado e que poderá ser de comercialização deste tipo de
descontado do consumo posteriormente. certificação.
Com isso, os projetos de sistema de
geração distribuída, neste tipo de arranjo, O Gráfico 1 apresenta a evolução da
são, em geral, limitados ao consumo capacidade instalada de energia solar
daquela unidade consumidora, para que fotovoltaica nos diferentes países, bem
não haja sobreprodução de energia - o como o crescimento da capacidade total
que significaria um investimento sem o a cada ano, desde 2003. O mercado
devido retorno. No Brasil, foi adotado este alemão é o que apresenta a maior
tipo de política, o que será mais detalhado participação na curva, porém os países
mais a frente. europeus apresentaram redução na taxa
de crescimento a partir do ano de 2012.
Outra possibilidade é a certificação Já a China apresenta uma inclinação da
pela utilização de energias renováveis, reta de crescimento significativa e vem
aplicada também em alguns estados dos cada vez mais ganhando seu espaço na
EUA. Os RECs são títulos negociáveis participação no mercado fotovoltaico.
que representam a certificação de

5. O instituto IDEAL (Instituto para o Desenvolvimento de Energias Alternativas na América Latina), por exemplo, lançou o
Selo Solar, que garante que o agente certificado consome um nível mínimo de energia solar.

4
Gráfico 1: Crescimento global acumulado da capacidade em sistemas fotovoltaicos6

Fonte: (IEA, 2014)

O que há de comum nos países busca da segurança energética e com


que apresentam maior participação as metas de redução de emissões de
e crescimento da inserção da gases de efeito estufa, diversos países
microgeração solar fotovoltaica é a têm direcionado seus incentivos para a
adoção de políticas de incentivo por diversificação de sua matriz energética,
parte do governo. Em um mercado com a inserção de novos tipos de
incipiente, em um primeiro momento, tecnologias. A geração distribuída vem
os incentivos governamentais atuam ampliando sua participação graças a
na inserção e desenvolvimento, com o políticas de diversificação energética e
objetivo do alcance da competitividade aos incentivos governamentais para a
após um determinado período. Com a sua promoção.

6. © OECD/IEA 2014 Technology Roadmap Solar Photovoltaic Energy, IEA Publishing.


Licence: [https://www.iea.org/t&c/termsandconditions/#d.en.26167]

5
2. Sistema de muitos casos, inviabilizava os projetos.
Esse sistema de estocagem serviria
Compensação de Energia como um backup quando o sistema não
Elétrica - Resolução estivesse gerando energia. Atualmente,
Normativa 482/2012 com a REN 482, este backup seria a própria
rede de distribuição, pois, quando não
A Resolução Normativa 482, que trata houver oferta de energia a partir do micro
da regulação da micro e mini geração ou minigerador, a rede de distribuição
distribuída, foi homologada pela Agência abastece a unidade de consumo. Além
Nacional de Energia Elétrica-ANEEL disso, se houver a sobreprodução em
em 17 de abril de 20127. A REN 482 teve dado momento, o excedente será injetado
como objetivo viabilizar o mercado da na rede e poderá ser compensado no
geração distribuída para determinadas futuro, tornando o projeto mais viável
fontes e certa capacidade8, fazendo com economicamente. De certo modo, a rede
que fosse aberto um novo mercado de de distribuição desempenha o papel de
geração de energia elétrica no Brasil. um sistema de estocagem.
Foram estabelecidas diversas definições,
entre elas o Sistema de Compensação de A resolução define ainda que todas as
Energia Elétrica, ou Net Energy Metering concessionárias de distribuição de energia
(NEM). Com o Sistema de Compensação elétrica devem adequar-se e preparar
de Energia Elétrica é possível injetar normas técnicas definindo padrões físicos
o excedente de energia na rede de para o acesso da micro e minigeração
distribuição, e este será abatido da conta quando requisitado por seus clientes.
de luz ao final do mês. Se o proprietário Como limite, a REN 482 estabelece que
ainda tiver um saldo positivo após o máximo de potência que o interessado
esse abatimento, ele terá até 36 meses pode instalar na unidade consumidora
para utilizá-lo. Caso esse saldo não seja é a carga, ou demanda contratada, da
utilizado nesse prazo, ele será reduzido a própria unidade, dependendo do tipo de
zero. consumidor. Tal decisão foi tomada para
que a unidade consumidora/geradora não
Anteriormente à REN 482, qualquer gere mais energia que ela própria pode
interessado em instalar um sistema de consumir.
geração em sua residência ou local de
trabalho para abastecer o total do seu De um modo geral, pode-se dizer que
autoconsumo, e que dependesse de uma a REN 482 abriu uma oportunidade
fonte de energia intermitente, como solar inédita ao consumidor de energia elétrica
ou eólica, teria que dispor de um sistema brasileiro, que passou a poder gerar sua
de estocagem de energia9 - o que, em própria energia. No entanto, ainda é

7. Posteriormente, a REN 482 foi retificada pela Resolução Normativa 517, em 11 de dezembro do mesmo ano. 8. A REN 482
definiu como micro e a minigeração distribuída os sistemas de geração de eletricidade com capacidade de até 100 kW e
entre 100 kW e 1 MW, respectivamente, a partir das fontes solar, eólica, hidráulica, biomassa e cogeração qualificada. 9. Um
banco de baterias, por exemplo.

6
preciso a definição mais clara de alguns revisitados durante a Audiência Pública,
pontos. Recentemente10, a ANEEL decidiu e espera-se que algumas novas medidas
abrir Audiência Pública (AP 26/2015) sejam incluídas para tratar dessas
para colher contribuições dos agentes questões.
para o aprimoramento da REN 482.
Entre os principais pontos geralmente
questionados pelos agentes, destaca- 3. O Caso da Energia
se o repasse da energia proveniente de
GD à tarifa das distribuidoras limitado
Fotovoltaica - A
ao Valor de Referência (VR) e a Tecnologia Existente
vinculação da GD à área de concessão
da distribuidora – o que limita o recurso Os Sistemas Fotovoltaicos Conectados
à área de concessão da distribuidora. à Rede - SFvCRs no mercado brasileiro
Outro ponto importante para os agentes, têm uma configuração padrão: os painéis
principalmente de distribuição, refere- fotovoltaicos, um inversor de frequência
se ao desequilíbrio tarifário, decorrente e um medidor bidirecional. Os painéis
do uso da infraestrutura da rede como fotovoltaicos são compostos por módulos
backup. Esses e outros pontos devem ser que, por sua vez, são compostos por

Figura 1: Desenho esquemático de um SFvCR

Fonte: (SOLARIZE, 2014)

10. Em reunião no dia 5 de maio de 2015, a Diretoria da Aneel aprovou audiência pública (AP 26/2015) para discutir
propostas de revisão da RN 482/2012, com período de envio de contribuições de 7/5/15 a 22/6/15.

7
células fotovoltaicas, sendo estas as sua fabricação, que podem ser dividas
unidades básicas do gerador fotovoltaico, em cristalinas (feitas a partir do Silício
capazes de converter a luz solar em Monocristalino e do Silício Multi ou
eletricidade. O inversor de frequência é o Policristalino), e não cristalinas (a partir
equipamento responsável por converter do Silício Amorfo). Cada uma apresenta
o sinal gerado em corrente contínua características físicas e processo de
pelo painel em corrente alternada, para fabricação diferentes, que terão impacto
que seja injetada a energia na rede de na eficiência e, consequentemente, no seu
distribuição ou para o fornecimento de custo. As células monocristalinas têm um
energia elétrica na unidade consumidora. processo de fabricação mais complexo
Já o medidor bidirecional atua medindo e dispendioso, mas apresentam maior
o fluxo de entrada e saída de energia da eficiência entres as tecnologias comerciais
unidade residencial. A Figura 1 apresenta e, por isso, são mais caras. No entanto,
um desenho esquemático de um SFvCR. por oferecem o melhor custo-benefício
geral, as células policristalinas são as
Há no mercado atual diversos materiais mais difundidas no mercado global. Já o
para a fabricação das células fotovoltaicas Silício Amorfo, este apresenta custo de
que realizam a conversão da energia produção bem mais reduzido em relação
radiante em eletricidade. As células mais às outras tecnologias mencionadas, sendo
comuns no mercado global são as que essa sua principal vantagem. Os três tipos
utilizam o silício como material para podem ser verificados na Tabela 1:

Tabela 1: Tipos de módulos fotovoltaicos de Silício

Monocristalino 14-20%

Poli ou Multicristalino 11-19%

Amorfo 6-9%

Fonte: Elaboração própria

O mercado brasileiro ainda é incipiente e a que poderá aumentar. O Brasil apresenta


produção de equipamentos fotovoltaicos tecnologia para fabricação de quase
no Brasil ainda é muito baixa e não seria todos os materiais necessários para a
suficiente para abastecer uma demanda montagem dos módulos - à exceção das

8
células fotovoltaicas, componente que que se quer responder aqui é: o que deve
apresenta o maior valor agregado e peça fazer um consumidor residencial que
principal do conjunto. Ainda assim, o que tenha interesse em instalar um SFvCR
há hoje em território nacional é apenas a em sua residência? Além da instalação
montagem de módulos. em si (e do seu custo financeiro), há uma
etapa preliminar, de projeto, que deve ser
A maior reserva mundial de quartzo de contratada pelo investidor interessado em
silício - matéria-prima para fabricação das instalar um SFvCR. Esta etapa é realizada
células fotovoltaicas – está em território por engenheiros e técnicos especializados,
brasileiro. Atualmente, o silício produzido e representa um custo adicional para
no Brasil é exportado para outros países o investidor. Traremos também um
(como China e Alemanha, por exemplo), exemplo de cálculo de viabilidade técnica
que fabricam essas células e as exportam e econômica de um projeto em uma
de volta para o Brasil (e outros países) residência.
para a montagem dos módulos. Em 2014,
o Banco Nacional de Desenvolvimento De modo geral, as principais etapas para o
Econômico e Social (BNDES) lançou uma dimensionamento de um SFvCR11 são:
política de conteúdo local que consiste
em uma linha de crédito para a compra de
equipamentos fotovoltaicos da indústria
Definição da localização e configuração
//
nacional, voltada para os projetos de
do sistema;
plantas fotovoltaicas de grande porte
participantes dos leilões de energia. Caso
//O levantamento adequado do recurso
seja bem sucedida e o mercado nacional
solar disponível no local da aplicação;
se desenvolva, pode resultar na redução
de custo dos equipamentos, beneficiando
//Levantamento adequado de perfil de
também projetos de menor porte.
carga e consumo elétrico;

//Dimensionamento do gerador
4. A Viabilidade da fotovoltaico;
Micro e Minigeração
Dimensionamento do inversor.
no Brasil para //

Sistemas Fotovoltaicos
Conectados à Rede O ponto de partida é a definição do local
onde será instalado o SFvCR. Através dessa
Nesta seção, detalharemos o processo de definição, é possível observar algumas
planejamento e instalação de um SFvCR das variáveis de configuração do sistema,
sob a ótica de um consumidor. A pergunta bem como o acoplamento arquitetônico

11. CEPEL, 2014.

9
dos equipamentos à estrutura da comercialização do excedente, os sistemas
construção. Como exemplo, a inclinação devem ser dimensionados para que não
dos módulos fotovoltaicos em relação aos haja sobreprodução da energia necessária
raios solares é uma importante questão, para abastecer a unidade consumidora,
e uma aproximação do ponto ótimo de salvo no caso da utilização do crédito em
inclinação do módulo é a latitude do local outra unidade consumidora que esteja em
de instalação. Deve-se observar também nome do mesmo proprietário da unidade
possíveis influências de sombreamento geradora/consumidora. Mesmo assim, o
ou de superfícies reflexivas próximas, que limite da potência do sistema, segundo
podem comprometer no rendimento do a REN 517, se dá pela carga instalada da
SFvCR. unidade consumidora onde será instalado
o SFvCR.
Uma das variáveis mais importantes
para que haja a viabilidade técnico- A partir da definição do consumo daquela
econômica de SFvCR é a irradiação solar unidade - ou seja, do limite de potência
local. A irradiação solar é a quantidade do sistema a ser instalado - escolhe-se a
de energia radiante emitida pela radiação tecnologia que será utilizada. Para isso,
solar em um determinado espaço de considera-se as peculiaridades de cada
tempo e em uma área (medida em Wh/ tecnologia disponível, como a eficiência de
m2). Esta será diferente para cada par conversão da energia luminosa em elétrica
latitude e longitude do globo terrestre, e é da célula, e também as características do
influenciada pelo clima e aspectos físicos local e do consumo, levantadas nas etapas
da área analisada. A irradiação que incide anteriores. Cada tecnologia é indicada
em uma superfície horizontal é constituída para utilização em determinada situação.
de uma componente direta - que não Por exemplo, em altas temperaturas, as
sofre influência da massa ótica e incide na células fotovoltaicas apresentam perda
forma de feixes de raios solares paralelos de potência, mas essa taxa é diferente
- e uma componente difusa - resultante da para cada tecnologia. Assim, em uma
interação da radiação solar com gases e região onde há temperaturas muito altas,
partículas existentes na atmosfera. A soma tecnologias a filme fino (como silício
dessas duas componentes é denominada amorfo) apresentam um melhor resultado
de irradiação solar global. por ter uma taxa de perda menor que
as de silício cristalino. Todavia, esta é
Como o ciclo solar apresenta tempo de uma escolha de engenharia de projeto,
duração anual, os projetos de SFvCR, onde devem ser avaliados os possíveis
geralmente, são dimensionados para tradeoffs de custo e desempenho para
a média anual do consumo de energia cada situação.
elétrica (para o caso de se abater o total
do consumo da unidade consumidora, Após a escolha da tecnologia, a potência
como é o caso do modelo adotado no do módulo a ser utilizado será o próximo
Brasil). Além disso, para o caso da mini passo. A logística de instalação e
e microgeração, como não é permitida a montagem do sistema deve ser levada

10
em consideração, pois, quanto maior a finaliza-se o projeto e inicia-se a etapa
potência do módulo, maior a sua área. Em de implantação do SFvCR. No anexo I,
função da potência escolhida, define-se trazemos um exemplo de projeto para
o número total de módulos necessários, o dimensionamento de um SFvCR. Na
a área total, e, por fim, a potência Tabela 2 é possível verificar os dados
nominal total do SFvCR. A capacidade de entrada do projeto e os parâmetros
do inversor será estabelecida após o resultantes dos cálculos do exemplo
dimensionamento da potência total detalhado no Anexo I.
do sistema. Cumpridas essas etapas,

Tabela 2: Dados de entrada e saída do cálculo do projeto do SFvCR

Características do Projeto Variável Valor Unidade

Entrada

Consumo Médio Mensal Cm 500 kWh/mês


Consumo Médio Anual Ca 6.000 kWh/ano
Potência do Módulo Potmod 245 Wp
Irradiação Solar no Plano Inclinado IPI 1.559 kWh/m2.ano
Eficiência do Módulo mod 14,80%
Taxa de Desempenho Global PRSFvCR 80,00%
Área do Módulo Smod 1,6 m2

Saída

Potência Global do SFvCR PotSFvCR 5 kWp


Potência Nominal do Inversor PotNIca 5 kW
Número de Módulo Nmod 20 Qte
Área Total do SFvCR SSFvCR 32,50 m2

Fonte: Elaboração própria

Após a etapa de projeto, passa-se à equipamentos fotovoltaicos no Brasil. A


instalação do SFvCR. Foi feita a seguir uma variação de preços ainda é bem alta, devido
estimativa dos custos de instalação de um à incipiência do mercado fotovoltaico no
projeto técnico como o detalhado no Anexo Brasil. Os valores do watt-pico12 para cada
I. As estimativas de custos foram adquiridas equipamento, bem como o investimento
com base em pesquisa bibliográfica e inicial calculado, é explicitado pela Tabela
acesso ao sítio de alguns revendedores de 3:

12. Segundo CEPEL (2014), watt-pico (Wp) é uma unidade de potência de saída de uma célula, módulo ou gerador
fotovoltaico, considerando as condições padrão de teste.

11
Tabela 3: Custos do SFvCR

Equipamento Valor Unidade


Módulo R$4,00 R$/Wp
Inversor R$1,40 R$/Wp
Sistema de Montagem e Instalação R$1,84 R$/Wp
Serviços de Engenharia 10,00% %/Total
Investimento Total R$39.635,71
Investimento Específico R$7.964,00 R$/kWp

Fonte: Elaboração própria

A partir das estimativas de custos da de Liquidação e de Custódia), obtida do


Tabela 3, analisou-se o Valor Presente relatório Focus do dia 23 de janeiro de
Líquido (VPL) e a Taxa Interna de Retorno 201513. Com a utilização da Selic como
(TIR) do projeto. As fórmulas de cada sendo a TMA do projeto, admite-se que não
indicador foram adaptadas para o projeto há risco adicional relativo ao projeto - uma
analisado e podem ser acompanhadas no hipótese simplificadora, mas satisfatória
Anexo II do trabalho. para os fins do exemplo pretendido. Para
o reajuste tarifário anual, foi adotada a
Para a avaliação da viabilidade econômica expectativa de inflação do mercado atual,
foram feitas algumas premissas. A tarifa também extraída do mesmo relatório
de energia elétrica utilizada foi a da Focus, refletindo a expectativa de reajuste
distribuidora Light (janeiro/2015), já no prazo de garantia dos módulos
incluídos os impostos. A Taxa Mínima fotovoltaicos do projeto, que é de 25
de Atratividade -TMA utilizada foi anos. O resultado da análise da viabilidade
escolhida como sendo a expectativa do econômica, para as premissas adotadas,
mercado para a SELIC (Sistema Especial está mostrado na Tabela 4:

Tabela 4: Premissas e Resultados Econômicos

Variáveis Valor Unidade

Tarifa de Energia com Impostos


(ICMS+PIS/COFINS) 0,58144 R$/kWh
Taxa Mínima de Atratividade 12,50%
Reajuste Tarifário Anual 6,99%
VPL VPL
TIR 16,10%
Payback Simples 8 anos
Payback Descontado 16 anos

Fonte: Elaboração própria

13. (Banco Central do Brasil, 2015)

12
Nas condições colocadas – ou seja, perante outras opções. No caso brasileiro,
considerando que o consumidor adotará os incentivos ao desenvolvimento desse
como taxa mínima de atratividade para mercado, e mesmo as regras para o seu
esse projeto o valor da Selic - , a TIR do funcionamento, ainda não estão definidas
projeto seria de aproximadamente 16%, de maneira satisfatória. Para o consumidor
um valor quase quatro pontos percentuais interessado em investir na microgeração
acima da TMA usada. No entanto, vale fotovoltaica, o alcance da paridade
ressaltar que o resultado é apenas um tarifária entre a tarifa paga pela energia
exercício, válido dentro das premissas injetada na rede e a tarifa cobrada pela
colocadas, e que outros fatores de consumidora, por exemplo, é um ponto
incerteza não foram inclusos no modelo e de muita relevância. Além desse, outras
podem impactar fortemente a viabilidade questões de ordem regulatória e tributária
econômica da micro e minigeração. podem representar entraves para o
mercado brasileiro, e serão discutidos a
seguir.
5. As Incertezas da micro
e minigeração no Brasil A tributação

Para um mercado de geração de energia Na redação da REN 517 é encontrada


incipiente, como é o caso da mini e a seguinte definição do Sistema de
microgeração fotovoltaica, de modo Compensação de Energia Elétrica (grifo
geral é necessário que haja incentivos nosso):
para que esta alternativa seja competitiva

“... sistema de compensação de energia elétrica: sistema no qual a energia ativa


injetada por unidade consumidora com microgeração distribuída ou minigeração
distribuída é cedida, por meio de empréstimo gratuito, à distribuidora local e
posteriormente compensada com o consumo de energia elétrica ativa dessa
mesma unidade consumidora ou de outra unidade consumidora de mesma
titularidade da unidade consumidora onde os créditos foram gerados(...) ”

É claro na passagem anterior que a REN Nacional de Política Fazendária, através


517 define que o excedente de energia do CONFAZ 6, instituiu que a tributação
não pode ser comercializado, sendo do ICMS (Imposto sobre Circulação
cedido como empréstimo gratuito à de Mercadorias e Serviços) deveria
distribuidora local. No entanto, o Conselho acontecer no consumo bruto da energia,

13
e não somente no consumo líquido da resultaria em uma conta de 150 kWh x
energia retirada da rede de distribuição. 0,53 R$/kWh = R$ 79,50, uma diferença
Como resultado, o consumidor/investidor de 38%. O cálculo anterior foi somente
recolhe o ICMS sobre o seu consumo para exemplificar o modelo atual de
bruto, sem considerar a energia injetada cálculo, e não considera outros tipos de
na rede. tributos existentes nas tarifas de energia
elétrica.
Para exemplificar esse ponto, suponha
que um consumidor possui um gerador Tal metodologia de cálculo afeta
fotovoltaico instalado em sua residência. sobremaneira aqueles que têm o
Seu consumo mensal foi de 350 kWh, consumo fora do horário de insolação. A
com uma tarifa local de R$ 0,38/kWh, tributação do consumo bruto de energia
ainda sem a incidência de impostos. Em só acontece se houver, de fato, utilização
um determinado mês, a unidade gerou (injeção e retirada) de energia da rede.
200 kWh. Com uma alíquota de 29% de Se o consumo ocorrer dentro do horário
ICMS, o valor da energia somente com de insolação, a energia será consumida
este tributo passaria para R$ 0,53/kWh. no instante que é gerada pelo SFvCR, e
Por causa da atual decisão do CONFAZ não será injetada na rede de distribuição,
6, a conta da unidade consumidora seria não sendo contabilizada pelo medidor
a seguinte: 350 kWh x 0,53 R$/kWh = R$ bidirecional. Em outras palavras, se o
185,50. Desse valor, seria subtraído o valor perfil de consumo de energia de uma
líquido referente à energia gerada pela unidade for idêntico ao perfil de geração
unidade: 200 kWh x 0,38 R$/kWh = R$ de energia de determinado sistema, a
76,00, resultando em uma conta final de cobrança do imposto sobre o consumo
R$ 109,50 a ser paga para a distribuidora bruto não onera o consumidor/investidor.
naquele mês. No entanto, quanto mais houver consumo
fora da curva de geração de um sistema
Houve muitos questionamentos sobre fotovoltaico, maior será o impacto
esta metodologia de cálculo, pois a negativo na viabilidade econômica de
geração é “paga” pelo preço da energia um SFvCR, visto que grande parte da
sem tributação, ao passo que o preço da energia será injetada na rede que será
energia consumida da rede apresenta o compensada e retirada posteriormente,
acréscimo do imposto. Alguns agentes sendo essa energia tributada pelo ICMS.
argumentam que a compensação da
energia deve ser a mesma, tanto na Recentemente, o Convênio Confaz
geração como no consumo. Assim, 16/2015, de 22 de abril de 2015, autorizou
muitos agentes do setor se perguntam o os Estados de Goiás, Pernambuco e São
porquê de não se fazer o cálculo a partir Paulo a concederem isenção do ICMS
do volume líquido de energia consumido. incidente sobre a energia elétrica fornecida
Ou seja: (350 – 200) kWh = 150 kWh/mês pela distribuidora à unidade consumidora
e, a partir desse volume líquido, realizar através de micro e minigeração distribuída.
a cobrança em cima deste valor, o que A medida foi considerada importante, pois

14
abriu espaço para a efetiva correção da o banco oferece para a compra de
distorção gerada pela cobrança de ICMS materiais de construção. Segundo a nota
pelo consumo bruto, conforme explicado. técnica a EPE15, o consumidor pessoa
Espera-se a adesão de outros estados14 física tem a possibilidade de adquirir os
ao convênio. equipamentos de microgeração e quitar o
financiamento em até 240 meses, a uma
Adicionalmente, alguns agentes taxa de juros mensal que varia de 1,4% +
argumentam que a questão tributária da TR a 2,33% + TR. Essa taxa é atrativa e
micro e minigeração distribuída vai além fica em um patamar próximo às taxas de
do ICMS, pois há impostos federais que financiamento de veículos, por exemplo.
oneram o investidor e afetam o retorno Os impactos dessa política ainda não
do projeto. Nesse sentido, discute-se a podem ser completamente mensurados,
possibilidade de haver como contrapartida já que esta foi implementada há pouco
do governo federal a desoneração do PIS tempo. Adicionalmente, o cenário de
e da Cofins, que são tributos federais. crédito e juros mudou sensivelmente no
país nos últimos meses, o que pode afetar
Financiamento a efetividade dessa política. No entanto,
tal medida sinaliza um primeiro passo
na direção da ampliação do acesso ao
Ainda que o custo da tecnologia venha
financiamento do investidor pessoa física
caindo ao longo do tempo, a instalação de
interessado em instalar um SFvCR.
um SFvCR ainda requer um desembolso
significativo de recursos – no exemplo
construído, esse valor ficou em torno
Complexidade na análise de
de R$ 40 mil. A disponibilização de viabilidade econômica
uma linha de financiamento de sistemas
fotovoltaicos através de taxas de juros A análise de viabilidade técnico-
atrativas poderia fazer com que o econômica de SFvCRs para o caso
mercado se desenvolvesse de maneira brasileiro é bastante complexa. São
mais acelerada. De fato, o investimento inúmeros fatores que entram na
inicial para a micro e minigeração é contabilização, o que pode ser visto
bem alto e a disponibilização de crédito como algo que repele o interesse no
direcionado para pessoa física poderia investimento em energia fotovoltaica
fazer com que houvesse uma maior para a microgeração. Pessoas físicas, as
interesse e capacidade de investimento quais são o foco do presente trabalho,
para esse tipo de investidor. podem se sentir desestimuladas devido
às complexidades e incertezas que o
No segundo semestre de 2014 a Caixa setor apresenta atualmente.
Econômica Federal incluiu equipamentos
de microgeração como itens financiáveis A viabilidade econômica é função, além
no ConstruCard, o financiamento que da irradiação solar local, da tarifa de

14. O Estado de Minas Gerais já oferecia essa isenção desde 2012. 15. (EPE, 2014)

15
energia de cada distribuidora. Além disso, e tarifas das distribuidoras representa,
os impostos incidentes sobre a tarifa de possivelmente, o principal obstáculo
energia variam com a região e a faixa de à sua adoção em larga escala. O atual
consumo, e o custo de disponibilidade modelo regulatório e de negócios do
também é diferenciado de acordo com a setor elétrico privilegia ganhos de escala
fase da instalação da unidade geradora/ e não oferece incentivos às distribuidoras
consumidora. Além disso, a viabilidade para promover a ampliação desse tipo de
econômica também varia para diferentes geração. Com o aumento do consumo na
classes de consumidores. O presente área de concessão, as distribuidoras de
trabalho é focado nos consumidores tipo energia aumentam a receita obtida da
B, de baixa tensão – para outras classes quantidade de energia que passa em sua
de consumidores, as premissas e cálculos rede de distribuição e diluem seus custos
seriam diferentes. fixos da rede. Se houver uma diminuição
dessa carga devido ao incremento de
O perfil de consumo de cada unidade SFvCRs, as distribuidoras terão uma
também irá influenciar, significativamente, redução das receitas, e os consumidores
na viabilidade econômica de um projeto. remanescentes acabarão arcando com
Se um consumidor tiver um maior todo o custo de uso da rede – levando a
consumo durante o período de insolação, um potencial desequilíbrio tarifário.
isso aumentará a sua independência da
rede e o impacto da tributação, descrita Além disso, com a injeção da energia a
anteriormente, influenciará menos no partir de microgeradores distribuídos,
retorno do projeto. Todavia, sendo o tem-se o aumento da complexidade
consumo fora do horário solar, como no da rede de distribuição em relação à
caso do consumo noturno, que representa qualidade de fornecimento. Com isso,
o perfil de consumo de muitas residências, aumenta-se, também, o custo operacional
o impacto negativo no retorno do projeto para manter os parâmetros físicos da
é maior. Como no Brasil os medidores de rede de distribuição em equilíbrio para
energia, majoritariamente, não permitem que o acesso seja estabelecido com
avaliar qual é o perfil de carga das sucesso. Na REN 482 não há nenhuma
unidades ao longo do dia, é incerto o passagem que proteja as distribuidoras de
retorno exato que determinado projeto possíveis impactos da inserção da micro e
pode oferecer ao investidor. minigeração no Brasil. Espera-se que esse
ponto seja discutido quando da discussão
sobre os possíveis aprimoramentos da
O impacto no mercado
REN 482.
das concessionárias de
distribuição Finalmente, mesmo em regiões onde há
alto índice de perdas não técnicas, onde
Finalmente, o potencial impacto da a micro e minigeração poderia ser útil
ampliação da penetração da micro e na redução de tais perdas, o incentivo à
minigeração distribuída no fluxo de caixa adoção de SFvCRs é limitado. Geralmente,

16
essas áreas estão localizadas em locais No Brasil não é diferente. Nossa matriz
onde a segurança é limitada. Com isso, elétrica é majoritariamente hidrelétrica,
poderiam ocorrer fraudes nas instalações com uma participação crescente de
dos SFvCRs e, como não há segurança geração térmica. A fonte eólica vem se
garantida, as distribuidoras não teriam destacando e tem uma participação na
como realizar a fiscalização e cobrança geração cada vez maior. De fato, em
de maneira adequada. Nesse complexo função da grande participação da geração
contexto, entende-se que é fundamental hidrelétrica, a matriz elétrica brasileira
que haja no arcabouço regulatório é ainda bastante renovável. Porém, o
incentivos para que as distribuidoras futuro não aponta nessa direção. Com as
busquem promover a maior inserção da pressões ambientais, a tendência é que
micro e minigeração distribuída entre as novas usinas hidrelétricas que serão
os seus consumidores, em particular no construídas sejam a fio d’água - ou seja,
caso dos residenciais. sem reservatório de regularização. Com
isso, haverá uma maior dependência de
outras fontes de energia para o suprimento
da carga. Para que o Brasil continue com
uma parcela significativa renovável, novas
6. Conclusões e fontes precisam ser desenvolvidas.
Apontamentos de
Trajetórias Futuras A geração na ponta, principalmente,
a geração fotovoltaica, devido ao
Os países que possuem maior penetração potencial solar no Brasil, pode ser uma
da geração distribuída passaram, de modo opção viável para complementar a
geral, por um período em que houve – matriz, e ainda potencialmente reduzir
e ainda há, em alguns casos - incentivo investimentos de expansão de malhas de
governamental para que o mercado transmissão e distribuição. Entretanto,
pudesse ser desenvolvido. Ao longo do apesar do Sistema de Compensação
tempo, os custos nivelados de geração de de Energia, instaurado pela REN 482,
energia vêm gradativamente baixando e, a entrada desse tipo de geração ainda
assim, os incentivos vêm sendo reduzidos depende da competitividade da mesma.
conforme necessário. Diversos desses Tramitam projetos de lei no Senado para
países tiveram como ponto de partida o incentivo ao setor: o PLS 317/2013, que
a busca por fontes alternativas às que isenta do Imposto sobre a Importação os
eram, no momento, mais utilizadas, muitas equipamentos e componentes de geração
vezes baseadas em combustíveis fósseis. elétrica de fonte solar, e o PLS 167/2013,
A diversificação da matriz, como forma que reduz alíquotas de tributos incidentes
de alcançar maior segurança energética em painéis fotovoltaicos e similares.
e reduzir emissões é um ponto crucial,
que vem sendo amplamente discutido no No entanto, o papel das distribuidoras
âmbito do planejamento energético de na ampliação da penetração da micro e
diversos países. minigeração distribuída de modo geral

17
é fundamental. Enquanto não houver com os stakeholders – nesse sentido,
adequação do arcabouço regulatório, a abertura de Audiência Pública para
de modo a contemplar os potenciais aprimorar a 482 vem em boa hora.
impactos e riscos para as distribuidoras,
dificilmente haverá interesse desses Da mesma forma, a política e as diretrizes
agentes em estimular a GD entre sua para a GD devem ser claramente
base de consumidores. Principalmente, sinalizadas no planejamento energético. É
é preciso adequar o modelo de negócios importante que haja uma política e ações
e as tarifas reguladas para remunerar integradas entre os órgãos reguladores e
a disponibilização da infraestrutura da de planejamento, e também entre os entes
distribuidora. Somente a sinalização federativos, para trazer uma visão mais
econômica correta pode prover os completa e unificada sobre o futuro da GD
incentivos necessários para a ampliação no Brasil. Apenas através dessa articulação
da micro e minigeração distribuída no a inserção da micro e minigeração poderá
Brasil. Em outras palavras, eventuais acontecer de forma eficaz, e a GD poderá
medidas devem ser tomadas observando- se tornar uma alternativa viável para a
se seus efeitos nos agentes envolvidos. É geração de energia elétrica no Brasil.
necessário discutir propostas e sugestões

18
Referências Bibliográficas International Energy Agency (IEA).
Technology Roadmap: Solar Photovoltaic
Agência Nacional de Energia Elétrica Energy. 2014
(ANEEL). Resolução Normativa 482. 17 de
abril de 2012. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA). Energia Fotovoltaica Ligada à
Agência Nacional de Energia Elétrica Rede de Distribuição: Atratividade para o
(ANEEL). Resolução Normativa 517. 11 de Consumidor Final e Possíveis Impactos no
dezembro de 2012. Sistema Elétrico. Brasília, fevereiro de 2013.

Associação Brasileira da Indústria Elétrica Pepermans, G. et al., 2005. Distributed


e Eletrônica (ABINEE), 2012. Proposta para generation: definition, benefits and issues.
Inserção da Energia Solar Fotovoltaica na Energy Policy. pag. 787-798.
Matriz Elétrica Brasileira. Grupo Setorial de
Sistemas Fotovoltaicos. junho de 2012. SOLARIZE, 2014. Primeiro sistema de
energia solar é conectado à rede no Rio de
Banco Central do Brasil. Focus - Relatório de Janeiro. Disponível em: http://solarize.com.
Mercado. 23 de janeiro de 2015. Disponível br/
em: http://www.bcb.gov.br/?RED2- [Acesso em 26 Novembro 2014].
FOCUSRELMERC.

Centro de Pesquisas de Energia Elétrica


(CEPEL), 2014. Manual de Engenharia para
Sistemas Fotovoltaicos. Grupo de Trabalho
de Energia Solar. Rio de Janeiro. março de
2014.

Centro de Referência para Energia Solar e


Eólica Sérgio Brito (CRESESB). Potencial
Energético Solar - SunData. Disponível em:
http://www.cresesb.cepel.br/sundata/
index.php
[Acesso em 14 de novembro 2014].

Environmental Protetion Agency (EPA).


Renewable Energy Certificates. Julho 2008.

Empresa de Pesquisa Energética (EPE).


Nota Técnica DEA 19/14 Inserção da
Geração Fotovoltaica Distribuída no Brasil -
Condicionantes e Impactos. Rio de Janeiro,
outubro de 2014.

19
anexo I – Exemplo de Projeto A partir desses parâmetros, pode-se
estimar a potência total do SFvCR, através
para o dimensionamento de da equação abaixo:
um SFvCR
1
Na prática, para projetar um SFvCR, o
passo inicial é medir ou obter os valores
dos parâmetros usados no cálculo:

Posteriormente, o número de módulos


//Potência global do Sistema (Nmod) e a área do SFvCR (SSFvCR) é
Fotovoltaico Conectado à Rede de dimensionada de acordo com as equações
Distribuição (PotSFvCR , em kWp); 2 e 3:

//Consumo médio anual (Ca , em kWh/


2
ano);

//Potência do módulo fotovoltaico


(Potmod , em Wp); 3

//Irradiação Global Solar no Plano


Inclinado (IPI , em kWh/m2.ano); Em seguida, o dimensionamento do
inversor se dá através de um coeficiente
//Eficiência dos módulos relativos à denominado Fator de Dimensionamento
tecnologia utilizada (ηmod, em %); de Inversores (FDI), que é uma relação
entre a potência nominal em corrente
//Taxa de Desempenho Global alternada do inversor (PotNIca ) e a
(Performance Ratio) do Sistema potência global do SFvCR, como na
Fotovoltaico Conectado à Rede de equação 4:
Distribuição (PRSFvCR16 , em %);

// Área do módulo (Smod-, em m2). 4

16. Cabe ressaltar que a Taxa de Desempenho Global (PRSFvCR) retrata as perdas globais de um SFvCR. Segundo a
(ABINEE, 2012), esta variável deve retratar: perdas nos inversores de energia de CC para CA; eventuais sombreamentos
na instalação; eventual acúmulo de poeira ou sujeira nos módulos, reduzindo a capacidade de absorção da irradiação;
perdas (ôhmicas) nos cabos, tanto no lado CC como CA da instalação; redução de eficiência dos módulos fotovoltaicos
decorrente de temperaturas mais elevadas que as utilizadas no ensaio e informadas pelo fabricante (células a 25 graus);
indisponibilidade do sistema fotovoltaico, seja por paradas forçadas (quebras de componentes) ou desligamentos para
manutenções; diferenças nas curvas características (I x V) dos módulos (dentro de tolerância), o que significa que quando
conectados eletricamente não operarão no mesmo ponto de máxima eficiência.

20
Devido à intermitência da fonte solar, o Janeiro, no bairro do Jardim Botânico,
ideal17 é que o dimensionamento para o tenha um consumo médio mensal de
inversor seja feito com o intuito de que energia elétrica de 500 kWh. O consumo
o equipamento não trabalhe por muito total anual será de 6.000 kWh. De acordo
tempo em potências demasiadamente com dados do programa SunData do
abaixo da nominal e nem seja CEPEL-CRESESB, o valor médio de
sobrecarregado. Assim, a faixa indicada irradiação solar para o plano inclinado
de FDI é entre 0,75 e 1,05. Para efeito é de 1559 kWh/m2.ano para esse local.
de simplificação de cálculo, a potência Supondo um módulo de 245 Wp de
do inversor pode ser considerada igual potência, eficiência de 14,80%, área de 1,6
à potência do SFvCR, que resulta no FDI m2 e taxa de desempenho global de 80%,
sendo igual à unidade. na Tabela 2 é possível verificar os dados
do projeto. Para o cálculo do projeto,
A partir das definições prévias, para foram utilizados valores hipotéticos,
exemplo de cálculo, suponha que em porém realistas, para as características de
uma residência no município do Rio de módulos fotovoltaicos.

Tabela 2: Dados de entrada e saída do cálculo do projeto do SFvCR

Características do Projeto Variável Valor Unidade

Entrada

Consumo Médio Mensal Cm 500 kWh/mês


Consumo Médio Anual Ca 6.000 kWh/ano
Potência do Módulo Potmod 245 Wp
Irradiação Solar no Plano Inclinado IPI 1.559 kWh/m2.ano
Eficiência do Módulo mod 14,80%
Taxa de Desempenho Global PRSFvCR 80,00%
Área do Módulo Smod 1,6 m2

Saída

Potência Global do SFvCR PotSFvCR 5 kWp


Potência Nominal do Inversor PotNIca 5 kW
Número de Módulo Nmod 20 Qte
Área Total do SFvCR SSFvCR 32,50 m2

Fonte: Elaboração própria

17. CEPEL, 2014.

21
anexo II – Fórmulas para Taxa Interna de Retorno
cálculo do Valor Presente
Líquido e Taxa Interna de
Retorno do Projeto
Valor Presente Líquido (VPL)

Onde:

// I0 – Investimento inicial em reais;

//t – Tempo de vida útil do projeto em


anos;

18
// – Percentual de desabono anual de
energia gerada;

//G1 – Geração de energia no primeiro


ano análise em kWh;

//ω – Porcentagem de reajuste tarifário


anual;

T1 – Tarifa no primeiro ano de análise


//

em R$/kWh;

γ – Percentual do investimento
//

destinada a operação e manutenção do


SFvCR;

//i – Taxa de retorno anual do


investimento ou taxa mínima de
atratividade.

18. Anualmente, há uma redução da geração estimada em 0,8%, que é inerente a tecnologias fotovoltaicas.

22
DIRETOR EQUIPE DE PRODUÇÃO
Carlos Otavio de Vasconcellos Quintella Direção
Carlos Otavio de Vasconcellos Quintella
EQUIPE TÉCNICA
Coordenação de Pesquisa Coordenação de Pesquisa
Lavinia Hollanda Lavinia Hollanda
Pesquisadores
Elaboração
Bruno Moreno Rodrigo de Freitas
Camilo Poppe de Figueiredo Muñoz Bruno Moreno Rodrigo de Freitas
Manuella Bessada Lion
Monica Coelho Varejão
Patrícia Vargas S. Corrêa de Oliveira
Rafael da Costa Nogueira
Renata Hamilton Ruiz

Coordenação de Relações
Institucionais
Luiz Roberto Bezerra

Coordenação de Ensino e P&D


Felipe Gonçalves

Coordenação Operacional
Simone C. Lecques de Magalhães

Assistente
Ana Paula Raymundo da Silva
DICOM

fgv.br/energia

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