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Eicon tea res eee aya GOW Mauer ele [Ger ay Meee) ec nee ree as oe eee eos eee eter Ce ee ee ee Ree ee ee erence lugar pvilegiado para a tees © circulagao de seberesciscipinares a ee ee Ce eer oe ee ee en i Crete aCe eee Pe ee ee ee ie Roa tr ete ey gee i Eee en ee ee ey ee eee ree eet rte re are Eee AUTORES Z ‘Michel Agier “Maufizio Gribaudi _ Lufs Vicente Baptista Yes Lequin “Rita CAvila Cachado . Joao Pedro Silva Nunes _ Graca Indias Cordeiro Joan J. Pajadas. ‘Susana Duro. Tim Sieber mn ina Frederic Vidal ea Hentease 308 (Rm i A Rua espaco, tempo, sociabi iron ees ic) eae Grecian INTRODUCAQ, Graga fndias Cordeiro Bédétie Vidal Falar da rua 6 felar do cidade. Analisar a rua comé lugar estralégico para cobservagioda vida citadina e urbana, no que esta tem de mais peculiare original, 0 tema central deste livro. A ius 6 entondida como um recorte empisico que ‘pernite encontrar uma multiplicidade de pontos de vista e de objectos, um ‘ecotte etaogrifico posstvel para a exploracfo e o conhecimento da vide urbana ‘contempordnea a partir de baixo @de dentro. A proposta 6 relativamentesimplos ¢ exploritérie: procurar diferentes éngulos de aproximagio a esta reslidade ‘complex, reunindo um conjunto de casos proveniente®¥e campos disciplinares ‘préximos mascom tomas de anslise econtexios geogréficaso temporaisdistintos. Porque os cbjectos ndo sto neutres nem existem no vazio, mas sio construidos - o interior de teadigées clontficas préprias, fol também o alher subjectivo do ‘nvestigador formado numa determinada disciplina—a Antropologia, a Histéria, ‘mas também a Sociologia © « Arquitectura ~ que quisemos convocar para @ discussio, Contudo, o objective do presente livre néo 6 pensar novas formas de inter- isciplinariedade. O éncontro entre diferentes autores nfo se fez tanto em toro ‘de cbjoctos relativamente préximos mas, sebretudo, emtomo de questionamentos ‘emanetres comuns de observat: de petto,em situagao, procurando nao reduzir atificialmentea complexidade das formes sociais anelisadas, cofa wma particular atengio as mudangas histéricas, Neste sentido, « ua surge como lugar privilo- lado para uma troca ¢ circulagto de saberes disciplinares. Tomar @ ras como problema a identficar e nfo como unidade definida a priori 6, pts, ¢ ponto de pastida desta obra, Asrealidades concrotas que sio trabalhadas n0s capftulos qua se seguem - 03 ‘espagos, as situagbes, 0s actores, os processos ~ abrem novas perspectivas para o.debate em tomo de un tépico tio falodo mas, paradoxalmente, tfo pouco oinhecido. ‘Treta-se de fevelar o sentido que a interatego urbane quotidiana adquire para cada citading, nos lugares que habita e percorre, nos pepéis-que desempene, nas reprosentacées que febrica. Ea mua &escala de'quem a vive o {que nos interessa descobtir,discutis e problematizar - a rua como lugar onde se fabricam inerecgSes, onde so produz-sociedade, ara que tanlas vee? se © Grae fad Condo oP Vide {nventa para além do enquadramento urbanistico quea envolve e que assim nos surproende, A cidade tom sido olhada como um stinboto, “primeira forma material da odernidade”afirma Michel Agior que, no primeiro capftulo, analiza o.caso dos campos de refugiados. precisameate a relagéo entre esta maleralidade urbana ~ 8 cidade historia ~ eg produgio de espagos de vida urbana que interessa ‘roblematizar nestes espacos liminares, precétios ou vezios que permitem dis- cautir a géneso da vida urbana, tanto na sua mi mas TAS 0 al. factor minimo de urbaidado est, sto implan- ‘ages Telativaitigate-bermanentes © densas de individuos heterogénecs. Eo tempo é crucial na dindmica destes espagos:2o nivel da sua organizagio, da sua apzopriagdo simbélica, das sociabilidades que se vio desenvolvendo, das formas de expressdo siinbélica, até das formas omergentes de acco politica, "0 campo 6 um espaco em si que criaa sua propria dinéraica” Analisar os qua- dios de identificagao lécal que nascem em situagées de extrema precariedade, nto nutros eps liminars port roposra loalinde oo propriofado O mote esté dado: espaco, tempo e soctebilidade sfo apenas tr8s topicos que ‘os ajudam a ler, do um modo coerente, as contribuigées da presente colecténea. ‘Se olharmos um pouco para o contexto histérico¢ cientifico da reflexdo sobrea ‘rua podomes ver que a sua sbordagom tem osciledo entre, por um lado, um ‘excesso de visibilidade, no sontido em que a cidade tem sido, multas vezes, ida «a parti do ponto de vista da rua ~ de uma certa ria; de uma certa imagem de rua ~ confundindo-s¢; até, com ela, e, por outro lado, um limitad{ssimo conhe- cimento empirico destes espagos coperetos, com uma consequent lacuna na sua teotizagio, Esto aparonte paradoxo, entre a forva de wina ceria “idela derua” ea poticanitider'na percepgo das rtitiplas, diversas e multas vezes contras- tantes"“oxperidncias de rus" taduz uma real dificuldade na apreenséo destes espacosde vida urbana, lugares crucials na vide das nossas eidades. ‘Enquanto imagem e stmbolo de um “modo de vida utbano", lugar onde se -acredita ocorrerom as formas da interacgéo social “mais ipioas da cidade", arua ___eondana ¢ vabiliza todo um imaginftio composto por bipolarizagbes clasii- cal6ties (casa/rua; piblicolprivedo; urbanoftradicional), discurs0s, imagens, emérias ¢ emogSes que atravessam, claboram e estruturam simbolicamente a ‘idade maquilo que ela tem de mais originelmonto urbano. Desde a identificagio ‘do par praxtinidade geogréficaldstancia soctal pela chamada Bscola de Chicago ‘que nfo tém conta as variagdes mais ou menos sofisticedas desta relagfo cons- titative da-vida citadina em qualquer latitude-Nesta busca da expecificidade de ~ vida social uzbana, a rua surge. inequivocamente, como o elemento central an nivel da prética social edo imagingrio, - ‘Nam priméiro momento de reflndio sobre a u*banidade eo facto urban om + si, reportande-nos a emerg2ncia das primeiras cidades industrials, a rua singe = _-com um valor etafbrico'avidents 6, at6 mais do que isso, parece condenser ¢ Inoue " sintetizar em si mesina aquilo que traduz a moderatdsde que se confunde cam 0 modo de vida urbano: a rua 6 a cidade, éindnimo de espago péblico. Se nos Jembrarmos do alguns autores clissicos que basearam a sua percepcao da cidade parti do espago pitlico onde se inclui a“rua", vemos como a ientificagio do ‘um novo tipo de relacionamento social, baseado no contrato 6 no anonimato, se cconfunde com o espace pablico e genha uma grande rlevancia. Comose, nestes primeiros tempos de definigéo de conceitos © de matrizes de interpretagio da realidade, a rua fosoe um objocto com demasiada vistbilidade, capex de suscitar ‘um imeaso interessetraduzido numa multipicidade de alhares, quese cinama- togrifices, como o fléneur de Baudelaire que tanto inspirou os primérdios da refledio urbana, Fodemos considert-lo um olhar de ore, en passant, dobabitante privilegiado da cidade que nfo vive na rua nema vive, antes a cruza mum atitude omintiog, de fascinio sompze renovado, perante a descoberta de uma cidade outra,exétioa, inesperada nas figuras e nos comportamentos ~ cidade misteriosa essa que se dé conhecer, antes do mals, nesse espaco socialmente misturado que 6arus. 'A formagdo desta “alteidado interna ao ospago social que desfigura e toma ‘strangeira’ una parteda populacao activa éapresentada por Maurizio Griban, neste livro, na digressio historica que fez pela cidade de Paris no século xix. ‘Analisa.o contrast entre oesplendor da imagem de uma cidade moderna nascida fem torno dos novos bairos ¢ boulevards ¢# invisibilidade do lado mats popular dessa mesme cidade, cua modernidade nao fot lida como tal, nem pelos sous contemporineas nem pelos que se seguiram. Maurizio Gribaudi resgata a im- portincia da complexa organizagio social ¢ econéinica dos velhos bairros do Paris, centrados em tomo do universo da rua edo prio, com lagos de vizinbanga ‘cockos o fortes que testemunham a grande proximidado funcional entre a resi-

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