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Dossiê Foucault
N. 3 – dezembro 2006/março 2007
Organização: Margareth Rago & Adilton Luís Martins
Resistências
Resistances
Resumo: O trabalho ou a tese que vai ser discutida nesse momento tem como
objetivo analisar apenas uma e provocadora frase, dita pelo filósofo francês e não
menos provocador, Michel Foucault, a frase investigada afirma peremptoriamente o
seguinte: “a resistência é anterior ao poder”. Quão enfática é essa assertiva, o quanto
ela carrega de efeitos e conseqüências para pensarmos a luta contra o poder e a
constituição de novas formas de vida. O trabalho ora apresentado não tem como
finalidade extrair uma teoria sobre a Resistência. Em Foucault, podemos adiantar, essa
teoria inexiste. Porém, a partir de sua analítica, buscamos uma caixa de ferramentas
que nos permitisse olhar diferentemente o conceito de Resistência. O estudo
percorrido, do trabalho de Foucault, revelou-se um ato de garimpagem, ou seja, sem
um único livro que reunisse em si o material necessário para entender essa questão,
procuramos em materiais diversos como seus livros, artigos, além de breves
entrevistas dadas por esse autor, as pistas para traçar o mapa, a cartografia, que nos
permitisse compreender a Resistência, pelas mãos de um autor que nos diz tanto
sobre o poder.
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Simone Sobral Sampaio
Resistências
Abstract: The research or thesis that will be discussed in this moment has as
objective to analyze only one and provoking statement said by the French philosopher
Michel Foucault. The statement researched decisively affirms the following: “resistance
is primary to power”. How emphatic this assertion is, how many it carries of effects
and consequences to the struggle against power and the constitution of new forms of
life. The research presented does not have as objective to take out a theory about
Resistance. In Foucault, we can in advance say, this theory is inexistent. Although,
from his analytical, we look for a box of tools that could allow us to look differently at
the Resistance concept. The research done, in Foucault’s work, revealed itself as a
prospection, that is, without any single book that jointed the necessary material to
understand this view. We searched in many materials such as books, papers, and
besides, short interviews given by him, the clues to trace the map, the cartography,
which could allow us to understand Resistance, by the hands of an author who says so
much about power.
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não há relações de poder sem resistências; que estas são tão mais
reais e eficazes por se formarem lá mesmo onde se exercem as
relações de poder; a resistência ao poder não precisa vir de outro
lugar para ser real, mas ela não está capturada ao poder porque lhe
é compatriota. Ela existe ainda mais por estar onde está o poder; ela
é portanto como ele, múltipla e integrável à estratégias globais.
A luta de classes pode, pois não ser a “ratio do exercício do poder” e
ser no entanto “garantia de inteligibilidade” de certas grandes
estratégias (Dits et écrits,III: 425).
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estratégia. Mas será que é correto afirmar que a resistência não pode
ser compreendida apenas pelo privilégio da matriz da luta de classe,
embora, a resistência possa assumi-la como organizadora de uma
grande estratégia?
O problema da questão da luta de classe como a demarcadora do
grau de intensidade de determinada revolta já trouxe graves prejuízos
para a compreensão das ações de resistência. Tendo o proletariado
como sujeito fundamental da luta contra o capitalismo, qualquer outro
tipo de movimento que agisse ou criticasse o modo como se operam as
relações de dominação, mas que não se assentasse na discussão central
entre capital e trabalho, era tomado como “menor”, com menos ou
nenhuma importância para a mudança social. A acusação mais
freqüente – realizada geralmente por grupos de extrema esquerda a
esses movimentos – é a pecha de reformismo.
Porém, a analítica da luta deveria tomar algumas precauções para a
realização da crítica. Pois “é preciso distinguir a crítica do reformismo
como prática política da crítica de uma prática política pela suspeita que
ela pode dar lugar a uma reforma” (Dits et écrits, III: 426). Foucault
afirma que essa maldição (o reformismo), lançada por grupos de
extrema esquerda – os quais Foucault não explícita – é um “micro-
terrorismo” que reduz a luta.
O autor sinaliza que nesse procedimento ocorre um ataque ao
aspecto local da luta e a atribuição de um super poder ao capital sempre
capaz de reorganizá-la em seu favor, vaticinando sua ruína. Seus
argumentos repousam na crítica à dialética como método de análise e,
principalmente, na categoria da contradição. Para o anátema da
esquerda tradicional, qualquer luta local só teria legitimidade se
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Vamos trabalhar com a tradução que consta da edição brasileira do livro de Dreyfus e Rabinow, Michel
Foucault, uma trajetória filosófica.
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que eles têm de específico (suas formas, meios e objetivos) de modo a construir um saber estratégico. A
teoria como caixa de ferramentas deleuziana, ou como explica Foucault “trata-se de construir não um
sistema, mas um instrumento: uma lógica própria às relações de poder e às lutas que se incitam em torno
delas” (Dits et écrits, III: 427).
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A questão do sujeito é um dos pontos polêmicos da reflexão foucaultiana. Como dizem Dreyfus e Rabinow
tem-se uma estratégia sem estrategista.
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Sobre a mecânica do poder na política cultural diz Jameson “toda política cultural se confronta
necessariamente com uma alternância retórica entre o orgulho desmedido da afirmação da força do grupo
cultural e a diminuição estratégica dessa força, e isso por razões políticas. Pois essa política pode ressaltar o
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heróico, apresentando imagens inspiradoras do heroísmo sulbalterno (...) a fim de encorajar o público alvo;
ou pode insistir na miséria do grupo, na opressão das mulheres ou dos negros ou dos povos colonizados.
Esses retratos do sofrimento podem ser necessários para causar indignação, para tornar a situação dos
oprimidos mais conhecida, e até para converter partes da classe dominante para a causa. Mas o risco é que
quanto mais se insiste na miséria e na impotência, mais essas pessoas aparecem como pobres vítimas
passivas, facilmente domináveis; em imagens que podem ser consideradas ofensivas e até fragilizar ainda
mais os que representam. Mas essas estratégias de representação são necessárias na arte política e não
podem ser conciliadas” (Jameson. A cultura do dinheiro, p.21).
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Afirma Foucault “que você tenha um trabalho, e que o produto do trabalho, do seu trabalho pertença a
outro é um fato. Não é, entretanto, uma contradição nem uma combinação recíproca; é objeto de um
combate, de um enfrentamento. (...). E me parece que a lógica dialética é verdadeiramente muito pobre
(...) para quem deseja formular em termos precisos, as significações, descrições e análises dos processos de
poder” (Dits et écrits, III: 472)
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CAMUS, A. O Homem Revoltado. 1999. Rio de Janeiro, Record.
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Artigo intitulado Inutile de se soulever? (Dits et écrits, III: 790-794).
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poder, por seus mecanismos, é infinito (o que não quer dizer que ele
é todo poderoso, muito pelo contrário). Para limitá-lo, as regras não
são nunca bastante rigorosas; para liberá-lo de todas as ocasiões de
que ele se apodera, nunca os princípios universais são muito
rigorosos. Ao poder é preciso sempre opor as leis intransponíveis e
os direitos sem restrições (Dits et écrits , III: 794).
Bibliografia
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Recebido em dezembro/2006.
Aprovado em fevereiro/2007.
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