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Citando Raven et al. (2001) (*): “Quando você para e examina uma flor, um arbusto ou
uma árvore, você pode perguntar-se: ‘Qual é o nome daquela planta?’ Tal questão – surgindo de
uma simples curiosidade para classificar organismos do mundo ao nosso redor – tem intrigado
gente desde Aristóteles e sem dúvida desde épocas anteriores... O processo aparentemente trivial
de dar nome a um organismo é, de fato, parte de um sistema altamente organizado para o
estabelecimento de relacionamentos genéticos e identificação de tendências evolutivas.
Uma vez que as pessoas comumente dão nome às plantas e outros organismos na língua
de seu país, haverá quase tantos nomes para o mesmo organismo quanto o número de línguas
existentes. Para os botânicos e outros, essa pluralidade de nomes representa uma barreira
significativa para o compartilhamento de informações. Portanto, além dos ‘nomes comuns’, que
variam de país para país (diria até mesmo de um determinada região), cada organismo também
tem um ‘nome científico’ – um nome latino com duas palavras que o identifica precisamente em
qualquer lugar do mundo.
O nome científico não apenas fornece uma ‘carteira de identidade’ universal para um
organismo, mas também fornece pistas acerca das relações de um organismo com outro”.
___________________________
(*)
Raven, P. H.; Ray, F. E. e Eichhorn, S. E. 2001. Biologia Vegetal (6ª ed.). Ed. Guanabara Koogan S.A., RJ. p. 253.
CONCEITOS
A Sistemática é a ciência dedicada a inventariar e estudar a biodiversidade dos organismos
e compreender as suas relações filogenéticas. Compreende, portanto, a descoberta, descrição e
interpretação da diversidade biológica bem como a síntese da informação sobre a diversidade
(Silva, 2000). De acordo com o paleobiólogo Simpson “Sistemática é o estudo científico dos tipos
e diversidade dos organismos e de qualquer e todas as relações entre eles”.
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Para outros, a Sistemática é a descoberta de todos os ramos da árvore evolutiva, a
documentação de todas as mudanças ocorridas ao longo da evolução desses ramos e a descrição
de todas as espécies. A identificação, a descrição, a nomenclatura e a classificação de todas as
plantas, constituem a ciência conhecida como Botânica Sistemática, Sistemática, Taxonomia
Vegetal ou simplesmente Taxonomia.
Segundo Jones Jr. (1987), “a Botânica Sistemática é um amplo campo que concerne o
estudo da diversidade das plantas, sua identificação, nomenclatura, classificação e evolução.
Entretanto deve assinalar-se que alguns autores estabelecem uma diferença entre Sistemática e
Taxonomia, dando à primeira um definição geral como mencionada, restringindo à taxonomia ao
estudo da classificação”
A classificação é o ordenamento das plantas em grupos que têm características em
comum. Tais grupos se organizam posteriormente em um sistema. Assim, por exemplo, as spp. de
angiospermas similares são colocadas em um gênero; os gêneros se agrupam em famílias, as
famílias com traços comuns se organizam em ordens e assim sucessivamente.
A identificação ou determinação é o reconhecimento de certos caracteres da flor, do
fruto, da folha etc. e aplicação do nome de uma planta que possui esses caracteres particulares. O
reconhecimento se apresenta quando o espécime em questão é similar a uma planta previamente
conhecida.
Marzocca (1985) simplifica assim: “a Botânica Sistemática é a ciência da classificação e
denominação dos vegetais. Ou seja, estabelece e ordena os grupos de plantas parentadas entre si,
possuidoras de características comuns e fornece a tais grupos os nomes que permitem
identificá-los. Inclui a Taxonomia, que estabelece a classificação com base nas relações
filogenéticas das plantas e a Nomenclatura, que atribui a cada planta um nome.”
Barroso (1978) define Sistemática Vegetal como a “parte da botânica que tem por
finalidade agrupar as plantas dentro de um sistema, levando em consideração suas características
morfológicas internas e externas, suas relações genéticas e suas afinidades... A Sistemática
compreende a identificação, a nomenclatura e a classificação:
- A identificação é a determinação de um taxon, como idêntico ou semelhante a outro já
conhecido. Pode ser feita com o auxílio de literatura ou pela comparação com outro de
identidade conhecida;
- A nomenclatura está relacionada com o emprego correto dos nomes das plantas e
compreende um conjunto de princípios, regras e recomendações aprovadas em
congressos internacionais de Botânica e publicados num texto oficial;
- A classificação é a ordenação das plantas de maneira hierárquica, ou seja, em um
taxon; cada espécie é classificada como membro de um gênero, cada gênero pertence a
uma família, e assim sucessivamente.
Um taxon (taxa em plural) é um termo conveniente e útil que se aplica a qualquer grupo
taxonômico de qualquer nível (Ex.: espécie, gênero ou família).
A nomenclatura é o aspecto da taxonomia que se encarrega da aplicação ordenada de
nomes aos taxa de acordo com o Código Internacional de Nomenclatura Botânica (CINM). O
Código contêm regras para selecionar o nome correto ou para formular um nome novo.
IMPORTÂNCIA
Um sistema de classificação é necessário porque permite a identificação das plantas e a
comunicação científica com outros especialistas da botânica ou de outras área afins.
Também, a Sistemática – mais objetivamente a classificação sistemática - compreende
tanto um acúmulo de informações como um sistema de recuperação, sem os quais a comunicação
científica seria impossível.
O nome correto de uma planta é a chave que abre a porta à totalidade da sua biologia, já
que os ecólogos, bioquímicos, horticultores e outros, devem ter um sistema de referência para as
plantas que utilizam no seu trabalho e na sua investigação.
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A Sistemática é essencial para a nossa compreensão sobre o mundo natural. As atividades
básicas da classificação sistemática —classificação e nomeação — são métodos humanos antigos
de lidar com a informação sobre o mundo natural e cedo a humanidade conduziu a classificação
notavelmente sofisticada de organismos importantes, a exemplo das muitas espécies selecionadas
para a alimentação, abrigo, fibra para roupa e papel, medicina, ferramenta, tintura e outros usos.
Usamos estas espécies, em parte pelo fato do nosso entendimento sistemático do biota.
Apenas para ilustrar: nos anos 60, o botânico Hugh Iltis realizou uma excursão para
estudar as plantas dos Andes peruano e coletou uma sp. de tomate (Solanum). Sabendo que os
parentes silvestres do tomate cultivado teriam importância, para a melhorar a colheitas, mediante
trabalhos de melhoramento genético, Iltis enviou algumas sementes para o geneticista Charles
Rick, na Califórnia. Surpreendentemente, foi identificada como uma sp. nov. e nomeou-a como
Solanum chmielewslkii, em homenagem ao polonês Tadeusz Chmielewski, geneticista em tomate.
Rick cruzou este parente silvestre com um tomate cultivado e assim introduziu genes que
notadamente melhoraram o paladar do tomates.
Centenas de avanços semelhantes, melhoraram o rendimento, a resistência às doença e
outras características desejáveis em plantas cultivadas, espécies de madeira comerciais e
variedades hortícolas.
A Sistemática contribui com o nosso conhecimento de evolução, porque estabelece um
contexto histórico para entender uma grande variedade de fenômenos biológicos, como adaptação,
especiação, taxas de evolução, diversificação ecológica e especialização, relações da co-evolução
de anfitriões e parasitas, além da biogeografia.
Como parte de suas funções, os taxonomistas trabalham para gerar um serviço de
informação que é essencial para todo aquele que trata com os organismos. Poderíamos chamar de
“Serviço de Informação Taxonômica” e funciona assim:
CONTRIBUIÇÕES
Floras
Revisões
Monografias e Teses
Guias de Campo
Educação Ambiental
Informação
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USUÁRIOS DA INFORMAÇÃO
Biólogos
Ecólogos
Agricultores
Público em Geral
OBJETIVOS
A Sistemática Vegetal tem cinco objetivos:
1. Fazer um inventário da flora mundial – embora o inventário da flora esteja praticamente
completo na zona temperada do Hemisfério Norte, o índice de coletas ainda é baixíssimo
nos trópicos;
2. Proporcionar métodos mais ágeis para a identificação e a comunicação;
3. Produzir um sistema de classificação coerente e universal;
4. demonstrar as implicações evolutivas da diversidade vegetal – desde Darwin que os
biólogos têm demonstrado a existência de linhas evolutivas entre os taxa. O
desenvolvimento evolutivo - ou linhagem de um taxa – é designado por filogenia. As
relações filogenéticas mostram que diferentes espécies, e as linhagens que representam,
não surgiram espontaneamente mas que podem ter tido origem numa forma ancestral
comum
5. Proporcionar um só nome científico, em latim, para cada grupo de plantas do mundo – este
objetivo é a chave que abre a porta a toda a biologia dos organismos. Ecólogos,
bioquímicos, fisiologistas etc., necessitam de um sistema de referência para as plantas que
utilizam nas suas investigações. No entanto, este sistema pode e deve ser utilizado também
pelo público em geral.
A Sistemática na Prática
A classificação vegetal, além de armazenar informação sobre os organismos, pode ser útil
como em muitas áreas. Por exemplo, a descoberta de precursores bioquímicos da droga
“cortisona” em certas espécies de inhames (Dioscorea. familia Dioscoreaceae) incitou uma
procura para a descoberta concentrações mais altas da droga em outras espécies de Dioscorea. O
fato é que estas espécies parentes do inhame também compartilharam características
geneticamente controladas, como muitos componentes químicos, em maior ou menor escala.
Leitura complementar:
O Estado da Bahia possui uma área de 567.295,3 km², representando cerca de 6,6 % do
território brasileiro e aproximadamente 36,3% da Região Nordeste. A Bahia possui uma boa
representatividade de quase todos os ecossistemas brasileiros. Na porção mais ao Leste, encontra-
se a Mata Atlântica com os seus remanescentes, a exemplo dos Mangues, Restingas, Matas
Higrófilas, Mesófilas e Matas Ciliares. Para o Oeste, o Semi-árido ocupa mais de 50% do Estado,
incluindo caatingas, lagoas temporárias nas partes mais baixas, cerrados e os campos rupestres.
Apesar da diversidade de ecossistemas e uma flora exuberante, a Bahia tem apenas 6,68%
da área do Estado conservada com proteção total. A estrutura de conservação do Estado é formada
principalmente por 39 Áreas de Proteção Ambiental (APA), 24 Parques (nacionais, estaduais e
municipais), duas Reservas Biológicas, oito Reservas Ecológicas, 29 Reservas Particulares do
Patrimônio Natural (RPPN) e sete áreas em categorias diversas. Embora exista um grande número
de áreas de proteção, grande parte delas está criada apenas em decretos, faltando regularização da
situação fundiária, plano de manejo, pessoal especializado e fiscalização adequada.
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA