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RESUMO – PETIÇÃO INICIAL

ELABORADO POR MARCUS VINICIUS BERNO NUNES DE OLIVEIRA

3. Pedido e causa de pedir:


3.1. Causa de pedir: a causa de pedir é a afirmação dos fatos e dos fundamentos jurídicos que sustentam o
pedido. Com isso, pode-se entender que a causa de pedir deverá ser composta pela exposição do fato jurídico
(razão de fato) e pela afirmação do direito que dele decorre por conta da relação jurídica criada (razão de
direito). Isso é o que chamamos de teoria da substanciação. Em razão da adoção dessa teoria, a causa de
pedir pode ser dividida em causa de pedir próxima e causa de pedir remota. A CPP é a relação jurídica
discutida, e a CPR é o fato jurídico correspondente. Essa divisão é importante porque, em alguns casos,
podemos perceber que o conflito de interesses não se forma em razão do fato jurídico (que pode ser até
incontroverso), mas sim em razão do direito que supostamente dele decorre. Por exemplo, no caso do
mandado de segurança para participação em colação de grau simbólica, o fato jurídico é a negativa do direitor
da instituição, e normalmente sobre isso não há qualquer controvérsia. Normalmente, o próprio diretor já
fornece ao aluno uma declaração negando a sua participação (prova documental). O problema está na
afirmação do direito que decorreria desse fato, pois na visão do aluno há o direito à participação e na visão
do diretor não há (a controvérsia é meramente sobre o direito afirmado – questão de direito, e não de fato).
A causa de pedir tem tem dois efeitos muito importantes para o processo civil: 1) vinculação do juiz à causa
de pedir: o juiz fica vinculado à causa de pedir, ou seja, fica restrito aos fatos e ao direito alegado pelo autor
na petição inicial. Cabe ao juiz analisar, com base na causa de pedir alegada, se o pedido é procedente ou
improcedente. Vale observar que o juiz não está vinculado à hipótese normativa, ou seja, nada impede que o
juiz julgue o pedido com base em outra lei diferente da que o autor apontou na inicial; 2) são os fatos jurídicos
descritos na causa de pedir que serão objeto de prova durante o desenvolvimento do processo (na fase
instrutória ou probatória). Assim, dependendo do que o autor narrar na causa de pedir, serão necessários
certos meios de prova (perícia, testemunha etc.).
Exemplos: 1) imagine que A estava dirigindo o seu veículo e, ao avançar o sinal vermelho, colidiu com o
veículo de B causando-lhe dano material. Nesse caso, o fato jurídico é a conduta irresponsável de A, o
fundamento jurídico é o direito à indenização por responsabilidade civil e o pedido é o valor da indenização;
2) suponha que A fez uma proposta para comprar um computador de B, a qual foi aceita. No dia combinado,
B entregou o computador a A, mas este não efetuou o pagamento do valor. O fato jurídico é o inadimplemento
do contrato. A relação jurídica é o direito de crédito, o direito à prestação. Por fim, o pedido é o valor
correspondente ao crédito.
3.2. Pedido (conceito e requisitos): o pedido é tudo aquilo que o autor almeja obter ao exercer o seu direito
de ação. Uma vez que o direito de ação tem como elementos as partes, a causa de pedir e o pedido, todos esses
elementos devem estar ligados entre si. Logo, o pedido deve ser a consequência ou efeito jurídico da causa de
pedir, ou seja, o deve ser uma decorrência lógica do fato jurídico narrado na causa de pedir. No processo
civil, o pedido é o principal elemento da ação, pois é com base no pedido que o réu vai exercer o seu direito
fundamental de ampla defesa, e também será com base no pedido que o juiz vai proferir o seu julgamento.
Julgar o mérito da demanda é o mesmo que julgar procedente ou improcedente o pedido, levando em conta
os fatos jurídicos narrados na causa de pedir. Não só o juiz deverá julgar o pedido, como deverá julgar
somente aquilo que foi pedido e na quantidade que foi pedido, conforme reza o princípio da
congruência/correlação entre o pedido e a senteça (art. 141 1 e 492 2 do CPC). Todo pedido deduzido em
juízo traz em si duas partes, que chamamos de pedido imediato e pedido mediato. O pedido imediato se refere
ao tipo de tutela jurisdicional almejada pelo autor, ou seja, é a especificação de que tipo de solução o autor
deseja para o conflito levado ao judiciário (pedido de condenação, pedido de declaração, pedido de
constituição/modificação/extinção e mandamental 3). O pedido de condenação é aquele no qual o autor
requer ao juiz que reconheça a existência e a extensão do direito alegado, e imponha ao réu o cumprimento

1 Art. 141. O juiz decidirá o mérito nos limites propostos pelas partes, sendo-lhe vedado conhecer de questões não suscitadas a
cujo respeito a lei exige iniciativa da parte.
2 Art. 492. É vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem como condenar a parte em quantidade superior
ou em objeto diverso do que lhe foi demandado.
3 No procedimento comum (objeto da disciplina de Direito Processual Civil II) só há esses quatro tipos de tutela. As ações
executivas lato sensu são submetidas aos procedimentos especiais, como por exemplo, ações possessórias, consignação em
pagamento, despejo etc. (THEODORO JR., 2015, p. 726).
de uma obrigação decorrente desse direito (exemplo: indenização por dano moral). O pedido declaratório é
aquele que requer do juiz apenas a afirmação da existência de uma relação (como é o caso do simples
reconhecimento de paternidade). Já o pedido constitutivo/modificativo/extintivo é aquele no qual o autor
requer ao juiz a criação, modificação ou extinção de uma relação jurídica, sem que haja nenhuma obrigação a
ser imposta ao réu (exemplos: divórcio, que apenas extingue a relação de matrimônio), Por fim, o pedido
mandamental é aquele que requer a imposição ao réu de uma obrigação de fazer ou de não fazer (exemplo:
mandado de segurança para participação em colação de grau simbólica). O pedido mediato é o bem ou
interesse ou utilidade que se busca alcançar, é o resultado prático que o autor quer alcançar com o exercício
do direito de ação. Por exemplo, no caso da venda de um computador, o pedido mediato é o valor
correspondente ao negócio, e o pedido imediato é a condenação do réu ao pagamento da dívida. O pedido seja
julgado pelo juiz, é necessário que ele atenda a dois requisitos: certeza e determinação.
✓ a) certeza (art. 322 4): significa que o pedido tem que ser expresso, tem que constar expressamente na
petição inicial. Não se admite no Brasil o pedido implícito, pois isso dificultaria o exercício do direito de
defesa do réu, e também impossibilitaria a limitação do julgamento pelo juiz (fere o princípio da
congruência/correlação). Entretanto, excepcionalmente, o CPC admite o pedido implícito em relação
aos juros legais, à correção monetária, ao pedido de condenação em verbas de sucumbência, e em relação
a parcelas ainda não vencidas de obrigação sucessiva, mas que venham a vencer durante o trâmite do
processo (art. 322, §1º, e 323 5). Da obrigatoriedade da certeza do pedido decorre a regra da interpretação
restritiva do pedido, a não se que haja dúvida, quando o CPC autoriza o juiz a observar o conjunto da
postulação (os fatos jurídicos e a relação jurídica narrados na causa de pedir) para interpretar o pedido
(art. 322, §2º). A falta de pedido expresso pode acarretar um vício chamado de inépcia da petição inicial
(art. 330, §1º, I 6), que leva ao seu indeferimento pelo juiz (art. 330, I).
✓ b) determinação (art. 324 7): é o pedido liquído, ou seja, é aquele que diz “o que” quer e “quanto” quer.
Em regra, não se admite o pedido indeterminado pelo mesmo fundamento da exigência de certeza, que é
a possibilidade de defesa do réu e a congruência da sentença. Contudo, o CPC abre duas exceções à regra
da determinação do pedido, que são o pedido genérico e o pedido alternativo. O pedido genérico é aquele
em que a quantidade é indefinida, e pode ser admitido apenas nos seguintes casos: 1) ações universais,
em que o bem devido representa uma universalidade (rebanho, biblioteca, herança, massa falida etc); 2)
ações indenizatórias, quando não for possível determinar a extensão do prejuízo (ex.: acidente que
ocasiona a internação da vítima, ou pedido de lucros cessantes pela perda de rendimento de veículo inativo
em razão de acidente), hipótese em que a quantificação do dano será apurada após o julgamento, numa
fase chamada liquidação de sentença; 3) quando o valor do pedido depender de ato a ser praticado pelo
réu (ex.: ação de prestação de contas; pedido de cobrança de diferença de correção monetária sobre o saldo
de conta corrente ou poupança (os chamados “expurgos”), que depende dos extratos das contas a serem
fornecidos pelo banco réu). Obs.: o STJ admite uma quarta hipótese, que é no caso de pedido de
indenização por danos morais, embora a doutrina costuma defender que nesse caso o pedido também
deverá ser determinado, cabendo ao autor arbitrar o valor do dano e responder por eventual sucumbência
em razão do excesso. Já o pedido alternativo é aquele em que a qualidade do bem é indeterminada,
embora seja determinado o seu valor/extensão. O pedido alternativo é admitido no caso em que a própria
obrigação material pode ser cumprida por mais de uma forma pelo devedor (art. 325 8). Um exemplo
comum ocorre nos contratos empresariais, por exemplo no “trespasse” (venda do estabelecimento
comercial), no qual é comum o vendedor se comprometer a não estabelecer concorrência com o
comprador ou, se o fizer, pagar um preço a título de compensação. Nesse caso, eventual descumprimento
do contrato pode gerar um pedido alternativo (pagar o preço ou não fazer concorrência). Outro exemplo

4 Art. 322. O pedido deve ser certo. § 1o Compreendem-se no principal os juros legais, a correção monetária e as verbas de
sucumbência, inclusive os honorários advocatícios. § 2o A interpretação do pedido considerará o conjunto da postulação e observará
o princípio da boa-fé.
5 Art. 323. Na ação que tiver por objeto cumprimento de obrigação em prestações sucessivas, essas serão consideradas incluídas
no pedido, independentemente de declaração expressa do autor, e serão incluídas na condenação, enquanto durar a obrigação, se o
devedor, no curso do processo, deixar de pagá-las ou de consigná-las.
6 Art. 330. (...) § 1o Considera-se inepta a petição inicial quando: I - lhe faltar pedido ou causa de pedir (...).
7 Art. 324. O pedido deve ser determinado. § 1o É lícito, porém, formular pedido genérico: I - nas ações universais, se o autor não
puder individuar os bens demandados; II - quando não for possível determinar, desde logo, as consequências do ato ou do fato; III
- quando a determinação do objeto ou do valor da condenação depender de ato que deva ser praticado pelo réu.
8 Art. 325. O pedido será alternativo quando, pela natureza da obrigação, o devedor puder cumprir a prestação de mais de um
modo.
são as obrigações ambientais, em que o devedor pode reparar o dano ambiental por meio do plantio de
árvore ou alugando uma reserva de outro produtor. A indeterminação do pedido fora das hipóteses
autorizadas pelo CPC também acarreta a inépcia da petição inicial (art. 330, §1º, II 9).
Obs.: Fredie Didier Jr. entende que o pedido deve atender a mais dois requisitos: clareza e coerência. O
primeiro seria a clareza na redação, na concatenação das ideias, e o segundo seria a compatibilidade do pedido
com a causa de pedir. Assim, não seria coerente o pedido em que o autor narra uma violação moral (dano
moral) e pede a condenação em alimentos, por exemplo. A meu ver, esses requisitos não são requisitos
propriamente do pedido, mas sim de toda a petição inicial, que deve ser clara e coerente em todas as suas
partes (inclusive – e não só – no pedido), sob pena de indeferimento por inépcia (art. 330, §1º, III 10).
3.3. Cumulação de pedidos: a cumulação de pedidos nada mais é a dedução de duas ou mais pretensões na
mesma ação. Em outras palavras, na cumulação de pedidos o autor exerce o seu direito de ação uma vez, mas
traz para o juiz duas ou mais demandas. A cumulação de pedidos pode ser de dois tipos: cumulação própria e
cumulação imprópria. A cumulação própria é aquela em que o autor faz dois ou mais pedidos, com o objetivo
de que todos eles sejam julgados procedentes (art. 327 11). Por exemplo, no caso de um acidente, posso pedir
indenização por dano material e por dano moral. A cumulação própria se subdivide em cumulação própria
simples e cumulação própria sucessiva. No primeiro caso, os dois ou mais pedidos cumulados são
independentes entre si, de modo que a procedência/improcedência de um não interfere no julgamento do
outro. É uma simples soma de pedidos (no exemplo acima, posso ganhar a indenização por dano material mas
não receber a indenização por dano moral). Já na cumulação sucessiva, o primeiro pedido é condição para o
julgamento do outro, de modo que o primeiro vincula o julgamento do segundo (exemplo, cumulação de
pedido de reconhecimento de paternidade com condenação em alimentos; outro exemplo seria a declaração
de inexistência de relação jurídica cumulada com repetição de indébito). A cumulação imprópria é aquela
na qual o autor faz dois ou mais pedidos, mas somente um deles poderá ser julgado procedente. Nesse caso,
não se trata de uma simples soma de pedidos, mas sim numa enumeração de alternativas ao juiz. Um exemplo
é o pedido de aposentadoria por invalidez ou de concessão de auxílio-doença. A cumulação imprópria pode
ser subsidiária, quando o autor estabelece uma ordem de preferência nos pedidos (art. 326 caput 12), ou
simplesmente alternativa, quando o autor deixa para o juiz escolher qual deles deve ser procedente ou não
(art. 326, parágrafo único 13). A diferença nessa caso é que, quando o autor estabelece uma preferência, o juiz
só poderá julgar procedente o segundo pedido se antes analisar o primeiro e julgá-lo improcedente. Para que
o autor possa realizar a cumulação dos pedidos será necessário preencher os seguintes requisitos (art. 327,
§1º 14): a) compatibilidade dos pedidos entre si; b) competência do juiz para julgar todos os pedidos; c)
adequação do procedimento para todos os pedidos (tem pedido que é processado mediante procedimento
especial, e por isso não pode ser cumulado com outro pedido. É o caso do pedido de herança, que tem o
procedimento especial do inventário, que não admite cumulação com reconhecimento de paternidade 15).

9 Art. 330. (...) § 1o Considera-se inepta a petição inicial quando: II - o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais
em que se permite o pedido genérico (...).
10 Art. 330. A petição inicial será indeferida quando: I - for inepta (...). § 1o Considera-se inepta a petição inicial quando: III - da
narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão.
11 Art. 327. É lícita a cumulação, em um único processo, contra o mesmo réu, de vários pedidos, ainda que entre eles não haja
conexão.
12 Art. 326. É lícito formular mais de um pedido em ordem subsidiária, a fim de que o juiz conheça do posterior, quando não
acolher o anterior.
13 Art. 326. (...). Parágrafo único. É lícito formular mais de um pedido, alternativamente, para que o juiz acolha um deles.
14 Art. 327. (...). § 1o São requisitos de admissibilidade da cumulação que: I - os pedidos sejam compatíveis entre si; II - seja
competente para conhecer deles o mesmo juízo; III - seja adequado para todos os pedidos o tipo de procedimento.
15 Art. 612. O juiz decidirá todas as questões de direito desde que os fatos relevantes estejam provados por documento, só
remetendo para as vias ordinárias as questões que dependerem de outras provas.

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