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experimental em português do
Inventário de Ansiedade
Traço-Estado (IDATE)·,
de Spie1berger
ANGELA M. B. BIAGGIO **
LUIZ NATALfcIO ***
CHARLES D. SPIELBERGER ****
1. Introdução
Arq. bras. Psic. apl., Rio de Janeiro, 29 (3): 3144, jul./set. 1977
o traço de ansiedade (A-traço) refere-se a diferenças individuais relativa-
mente estáveis em propensão à ansiedade, isto é, a diferença na tendência de
reagir a situações percebidas como ameaçadoras com elevações de intensidade
no estado de ansiedade. Como um conceito psicológico, traço de ansiedade tem
as características de uma classe de construtos que Atkinson (1) chama "moti-
vos" e a que Campbell (2) se refere como "disposições comportamentais adqui-
ridas". Motivos são definidos por Atkinson como disposições que permanecem
latentes até que uma situação as ative. Disposições comportamentais adquiridas,
de acordo com Campbell, envolvem resíduos de experiências passadas, que pre-
dispõem um indivíduo tanto a ver o mundo de determinada forma quanto a
manifestar reações objetivas e realísticas.
Em geral, seria de se esperar que aqueles que têm alto A-traço demonstra-
riam elevações de A-estado mais freqüentemente do que os indivíduos de baixo
A-traço porque eles tendem a reagir a uma larga faixa de situações como perigo-
sas ou ameaçadoras. Pessoas de alto A-traço também são mais propensas a res-
ponder com aumentos de intensidade do A-estado em situações que envolvem
relações interpessoais que apresentam alguma ameaça à auto-estima. Achou-se,
por exemplo, que circunstâncias em que se experimenta fracasso ou em que a
suficiencia pessoal é avaliada (ex. fazer um teste de inteligência) são particular-
mente ameaçadoras para pessoas com alto traço de ansiedade (8, 10 e 13). Mas,
se pessoas que diferem em A-traço mostrarão ou não diferenças correspondentes
em A-estado, depende do grau em que a situação específica é percebida por um
indivíduo em particular como perigosa ou ameaçadora, e isso é grandemente in-
fluenciado por experiências passadas do indivíduo.
Os conceitos de traço e estado de ansiedade que guiaram a construção do
IDATE são discutidos em grande detalhe por Spielberger (9). As condições que
parecem provocar níveis mais altos de A-estado em pessoas que diferem em
A-traço são discutidas por Spielberger, Lushene e McAdoo (12).
2. Descrição
Inventário de Ansiedade 33
logos e psiquiatras brasileiros e portugueses, junto com a forma original em
inglês do IDATE. Estes juízes foram selecionados na base de preeminência pro-
fissional. Seis deles responderam ao pedido de que avaliassem a adequação da
tradução. Todos eram altamente proficientes na língua inglesa, além de se desta-
carem pela competência profissional.
Dentre os 20 itens de A-estado e 20 de A-traço, 19 foram avaliados êomo
bons pelos seis juízes, e 32 foram avaliados como bons ou satisfatónos. Os oito
itens avaliados como insatisfatórios, por pelo menos dois juízes, foram reescri-
tos em consulta com três juízes brasileiros, altamente proficientes Da língua inglesa.
Para quatro destes itens controvertidos, provenientes da escala A-estado (itens 6,
10, 14 e 15), foi necessário desenvolverem-se traduções alternativas, e três tradu-
ções desse tipo foram desenvolvidas para o item 15 da escala A-traço. Os três itens
controvertidos restantes foram 'mantidos como na tradução original, já que os
juízes conseguiram concordar q~nto a melliores traduções alternativas.
Assim, a forma preliminar da escala A-estado consiste de 24 itens, e a
forma preliminar de A-traço consiste de 22.
Esta forma preliminar do IDATE em português foi aplicada então a três
amostras de sujeitos bilingües português-inglês, que fizeram o teste duas vezes,
uma em inglês e outra em português. Em cada amostra, a metade dos sujeitos
fez a forma em inglês primeiro, e a outra metade dos sujeitos fez a forma em
português primeiro, a fim de contrabalançar efeitos de ordem de apresentação.
O uso de sujeitos bilingües permite a verificação da equivalência das for-
mas em inglês e em português do teste. A lógica desta técnica é que, se as
formas forem equivalentes, sujeitos bilingües deverâo obter aproximadamente os
mesmos escores fazendo o teste em português ou em inglês, e as correlações
entre os escores obtidos nas duas formas deverão ser altas.
As amostras bilingües foram constituídas da seguinte maneira: a amostra
n. O I constituiu-se de quatro sujeitos de sexo masculino de um grupo de conver-
sação no Instituto Cultural Brasileiro Norte-Americano de Porto Alegre, RS; a
amostra n. O 2 consistiu de um sujeito do sexo masculino e 22 sujeitos de sexo
feminino matriculados no último semestre do curso de tradutor e intérprete do
Departamento de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul, em Porto Alegre; e a amostra n. o 3 consistiu de 34 estudantes avançados
..
(13 de sexo masculino e 21 de sexo feminino), do Instituto Brasil-Estados Uni-
dos, no Rio de Janeiro. As amostras n.os 1 e 3 fizeram as formas em português
e em ingles, com um intervalo de uma semana. A amostra n. O 2 fez as duas
formas no mesmo dia, uma logo depois da outra.
Correlações item-restante foram calculadas separadamente para cada amos-
tra. Estas correlações forneceram uma medida da consistência interna de um
teste, revelando o grau em que escores em cada item correlacionam-se com o
escore total no teste, excetuando-se aquele item examinado. O método item-res-
tante constitui refinamento da técnica mais comumente usada para análise de
itens, que consiste em obter-se correlações entre escores no item e escore total,
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como medida de consistência interna. As correlações item-escore total superes-
timam um pouco a. correlação, pois incluem o escore no item examinado como
contribuinte para o escore total.
Correlações entre escore em cada item em inglês e os itens corresponden-
tes na forma em português também foram calculados.
A escolha dos itens para os quais foi testada mais de uma tradução na
forma preliminar foi feita na base dos valores das correlações item-restante.
Quando estes tinham aproximadamente o mesmo valor, a escolha foi feita na
base das correlações entre escores no item em inglês e seu correspondente em
português. As correlações entre item em inglês e item em português variaram de
0,06 a 0,58, com uma média 0,34 para A-estado, e de 0,24 a 0,92, com uma
média 0,51 para A-traço. Estas correlações representam um teste bastante rígido
e s6 foram usadas no caso de se decidir entre duas traduções alternativas de
• itens controvertidos, cujos valores de item-restante eram próximos um do outro.
As correlações item-restante para itens de A-estado variaram de 0,26 a
0,92, com exceção dos itens 4 e 6, para os quais correlações mais baixas foram
obtidas na amostra n. o 1. Felizmente, o item 6 estava entre os controvertidos,
para os quais traduções alternativas haviam sido testadas, e as correlações para a
~unda tradução do item 6 variaram nas diversas amostras entre 0,42 a 0,58,
de forma que a segunda tradução foi escolhida para a forma final. Embora o
item 4 tivesse um valor baixo na amostra n. o 1, seu valor item-restante nas ou-
tras amostras foi aceitável (0,26 e 0,33). Este item foi retido porque os especia-
listas bilingües não, chegaram a uma tradução melhor.
• Para a esclllát de A-traço, todos os valores item-restante foram aceitáveis
(acima de 0,24), c~m exceção do item 11. Uma tradução alternativa deste item
foi adicionada à forma preliminar e os 24 itens de A-estado e 23 de A-traço foram
aplicados a uma quarta amostra de sujeitos bilingües, consistindo de 15 estudantes
universitários do curso de tradutor e intérprete da Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro. A nova tradução do item 11 teve um valor item-restante de
0,83 e foi retido para a forma final. O item 15, para o qual três traduções
alternativas tinham sido testadas, foi escolhido na base dos valores item-restante .
•
4. Propriedades psicométricas da forma experimental do IDATE
Inventdrio de Ansiedade 35
Tabela I
Médias e desvios-padrão de escores em A-estado e
A-traço, para a amostra bilingüe brasileira
A-estado A-traço
Masc.
(N = 18)
I Fem.
(N = 66)
Masc.
(N = 18)
I
Fem.
(N = 66)
.
Média 34,28 38,98 38,78 40,58
Desvio-padrão 10,95 10,00 14,61 13,27
...
o fato de os escores de A-estado terem menor variabilidade e serem tam-
bém mais baixos do que os de A-estado, tanto para homens como para mulhe-
res, sugere que os sujeitos estavam bastante calmos no momento em que fize-
ram o teste. Com a forma em inglês, tem sido constantemente observado que os
escores de A-estado e A-traço são aproximadamente os mesmos quando o teste
é feito sob condições neutras (sem tensão).
Estes resultados sugerem que se façam pesquisas posteriores de natureza
intercultural, formulando-se a hipótese de que sujeitos brasileiros têm menor
ansiedade em relação a fazer testes (test anxiety) do que os americanos.
As médias e desvios-padrão das várias amostras normativas estão na tabela 2. •
,
36 A.B.P.A. 3/77
• .. • .. • ..
" •
Tabela 2
Est. Traço Est. Traço Est. Traço Est. Traço Est. Traço Est. Traço Est. Traço Est. Traço Est. Traço
X 38,99 38,64 41,09 41,67 40,21 38,04 41,25 41,30 42,43 41,48 41,76 40,32 41,29 40,69 43,64 45,34 46,35 46,22
Sd 9,45 9,25 10,81 10,14 9,69 8,99 11,19 10,00 10,97 10,15 11,23 9,53 10,53 10,65 10,02 9,88 11,79 10,87
N 355 355 306 306 333 333 313 313 261 261 276 276 147 147 408 408 280 280
Coeficientes alfa obtidos com a amostra bilingüe brasileira
A-estado A-traço
•
Outro índice de consistência interna obtido foram as correlações item-
restante.
As correlações item-restante medianas foram 0,59 para homens e 0,62
para mulheres e para a amostra total. Excetuando-se o item 4, todas as correla-
ções foram maiores que 0,30 para todos os itens de A-estado, e 0,50 ou mais
para todos os itens, com exceção de três (4, 5 elO).
As correlações item-restante para A-traço foram ainda mais altas que as de
A-estado, tanto na amostra masculina como na feminina.
Com exceção do item 6, na amostra masculina todas as correlações item-
restante da escala de A-traço foram de 0,40 ou mais, e variaram de 0,47 a 0,83
na amostra total.
As correlações item-restante medianas na amostra masculina, feminina e
total foram de 0,75, 0,595 e 0,615, respectivamente_ Para 70% dos itens de
A-traço as correlações item-restante foram de 0,60 ou mais.
Além dos dados acima, obtidos com a amostra bilingüe usada nos estágios
iniciais de desenvolvimento da tradução, foram calculadas correlações item-res-
tante com dados de uma subamostra de 100 sujeitos da amostra normativa de
universitários.
Estes valores de item-restante variaram de 0,25 a 0,70, com mediana de
0,45 para A-estado; de 0,31 a 0,68, com média de 0,43 para A-traço.
Em resumo, os coeficientes alfa para A-estado e A-traço, bem como as
correlações item-restante para cada item, dão forte evidência da consistência •
interna da forma em português do IDATE.
Aliás~ a consistência interna da forma em português é melhor do que as
formas em ingles e em espanhol (12).
6. Validade
Tabela 4
Correlações entre escores no IDADE em português e escores no
IDADE em inglês, para amostras brasileiras bilingües
1 12 0,58 0,92
. 2
3
34
23
0,90
0,50
0,95
0,59
4 15 0,89 0,75
• Tabela 5
Correlações entre A-estado e A-traço para várias amostras
normativas brasileiras
• Rio de Janeiro
Universitários
Rio de Janeiro
Universitários
Rio de Janeiro
Estudantes de
Ciclo básico 2. 0 a 5. 0 ano 2. 0 grau
39
Estes resultados indicam que para as amostras normativas brasileiras estas
correlações são ligeiramente mais altas do que as obtidas com as amostras norte-
americanas.
A validade de construto da forma em português do IDATE está sendo
avaliada em diversas pesquisas em que as escalas de A-estado e A-traço foram·
administradas sob condições de tensão e condições neutras. Em uma investigação
as duas escalas foram administradas a um grupo de 17 estudantes universitários
antes de fazerem um exame de estatística considerado difícil, e durante um perío-
do de aula comum da mesma matéria. As médias e desvios-padrão dos escores de
A-estado e A-traço obtidos nessas duas ocasiões são apresentados na tabela 6.
•
Tabela 6
Escores médios na forma em português de A-estado e A-traço,
sob condições de tensão (exame) e condições neutras, em
amostra brasileira
A-estado A-traço
Tabela 7
Médias e desvios-padrão de escores na forma em português das escalas
de A-estado e A-traço, sob condições de dissonância e neutra
A-estado A-traço
•
Dissonância I Neutra Dissonância I Neutra
Tabela 8
Médias e desvios-padrão de escores na forma em português das escalas
• de A-estado e A-traço, obtidas em pacientes 24 horas antes de
cirurgia e por ocasião da alta
A-estado A-traço
Inventmo da Ansiedade 41
7. Normas para a população brasileira
8. Conclusão
Referências bibliográficas
7. Spence, K. W. A theory of emotionally based drive (D) and its relation to perform-
ance in simple leaming situations. American Psychologist, v. 13, p. 131-41, 1958_
Inventário da Ansiedade 43
9. Spielberger, C. D. ed. Anxiety and behavior. New York, Academic Press, 1966,
p.3-20.
10. Spielberger, C. D. The effects of anxiety on complex learning and academic achieve-
ment. In: Spielberger, C. D. ed. Anxiety and behavior. New York, Academic Press, 1966,
p. 361-98.
11. Spielberger, C. D., Gorsuch, R. L. & Lushene, R. E. Manwzl lor the state-trait
anxiety inventory. Paio Alto, California, Consulting Psychologist Press, 1970.
14. Taruma, H., Fernandez, E. & Paschoal, C. R. STAl scores 01 surgical ptlcients. a •
validation study. Unpublished senior research paper. Rio, Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro, 1975.
..
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