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VITÓRIA.
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
UNIÃO DA VITÓRIA
2007
FACULDADE ESTADUAL DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DE UNIÃO DA
VITÓRIA.
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
UNIÃO DA VITÓRIA
2007
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1. A EDUCAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO APÓS 1930.
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O primeiro grupo era constituído por militares superiores, plantadores de café
descontentes com a política econômica vigente e parte da elite política da oposição
que visava à conquista do poder.
No segundo grupo, estavam os revolucionários, que comandaram ou tiveram
participação mais efetiva no movimento. Este, por sua vez, se subdividiu em duas
correntes: uma mais moderada, preocupada com mudanças de caráter
constitucional, e outra mais radical liderada pela ala jovem das forças armadas, os
“tenentes”, que lutavam pela “regeneração nacional” e pela modernização mais
ampla e profunda. Os “tenentes” queriam um governo centralizado e nacionalista.
Quando se instalou o novo governo, a princípio provisoriamente, sob a presidência
de Getúlio Vargas, a coalização começou a desmoronar com a radicalização das
posições em torno da volta à normalidade constitucional.
Nos primeiros anos a divergência de interesses entre tenentistas e
constitucionalistas marcou o período. Os primeiros, desejando que Vargas
continuasse no poder, até que mudanças mais radicais fossem efetuadas, e os
outros, conservadores e moderados, reivindicavam uma constituição.
A Revolução Constitucionalista de São Paulo, em 1932 foi basicamente pró-
constituição, mas revelava também uma oposição à tendência centralizadora do
governo. As forças ligadas a este movimento eram também as dos interesses
latifundiários e ao liberalismo econômico que, apoiaram o movimento de 1930 mais
por oposição ao governo vigente na época que por ideologia. Os tenentistas
conseguiram impor-se durante os primeiros anos, e a Revolução Constitucionalista
foi um movimento malogrado. Em 1934, o governo promulgou uma constituição na
qual foi negligenciado o interesse dos paulistas, e em 1937 foi dado o golpe de
estado contra as radicalizações de esquerda e de direita, e também nos interesses
latifundiários. O golpe que teve simpatia da burguesia e apoio das Forças Armadas
determinou o caminho histórico do Brasil, com a perseguição – sob tutela autoritária
do novo regime – de objetivos como o bem-estar social e nacionalismo econômico.
O governo Vargas criou uma legislação trabalhista e previdenciária, e
oficializou os novos partidos políticos, conferindo-lhe um populismo que elegeu seu
sucessor (Dutra) e ainda o faria retornar mais adiante ao Governo pelo voto do povo.
Este mandato último com a bandeira da nacionalidade do petróleo que mobilizou a
população como um todo, mas que por outro lado exerceu pressões de oposição
que o levaram ao suicídio.
O sentimento populista teve continuidade no Governo Kubitschek com a
ideologia de desenvolvimento.
Segundo Octavio Ianni, foi depois da Primeira Guerra Mundial que os setores
médios e proletários urbanos e rurais começaram a contar como categoria política,
numa luta por uma participação cada vez maior da população no cenário de debates
e decisões políticas e econômicas.
Os golpes, revoluções e movimentos do período são manifestações das
relações, tensões e conflitos que novos setores brasileiros estabelecem com a
sociedade tradicional e com as nações poderosas que o Brasil está em intercâmbio,
marcando o ingresso do país na era da civilização urbano-industrial.
Para Celso Furtado, o processo de desenvolvimento autônomo é aquele em
que o progresso tecnológico gera a acumulação de capital, que por sua vez, implica
em modificações estruturais decorrentes da alteração no perfil da demanda.
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Já no processo de desenvolvimento das economias dependentes são as
modificações na composição da demanda que geram a acumulação de capital
capaz, por sua vez, de gerar a modernização tecnológica. E vai ser este o modelo
imperante no período.
Enquanto perdurou a economia exportadora agrícola, com base em fatores
arcaicos de produção, a escola não foi chamada a exercer papel importante na
formação de quadros e qualificação de recursos humanos. Até então a
modernização econômica implicava na intensificação da importação tecnológica e a
escola desempenhava o papel de treinar e qualificar mão de obra, ficando em
segundo plano, a função mais importante que é a de formar pesquisadores e
desenvolver a pesquisa.
As elites, cujos padrões estavam mais próximos dos de consumo das elites
de países industrializados, definiram o grau de modernização econômica ao nível
desses padrões e não a um nível compatível com as possibilidades da sociedade
brasileira.
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De 1920 a 1970, a expansão do ensino conseguiu atingir boa parte da
população que vinha sendo marginalizada pelo sistema, indicando um crescimento
da demanda social por educação.
Nas décadas de 40 e 50, havia disparidades regionais, tendo a região Centro-
Sul como a mais densamente povoada e é nessa que primeiro se instalou mais se
desenvolveu o complexo industrial brasileiro. Tanto a população quanto à freqüência
escolar cresceram em números absolutos em todas as regiões. O crescimento
demográfico e a expansão escolar demonstram que as classes populares já se
haviam empenhado pela expansão da escola elementar. Pode-se, então, concluir
que quando crescem os indicadores demográficos e econômicos, crescem também
os índices de escolaridade.
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As pressões oriundas da demanda tiveram de ser satisfeitas e o foram mas
de forma precária.
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freqüentam escolas deve corresponder mais à escolaridade de nível médio e
superior.
O sistema escolar apresentava deficiências estruturais que impossibilitavam
maior absorção de demanda potencial de educação retendo a população escolar por
mais tempo na escola.
Das crianças que não freqüentavam a escola, 80% eram da zona rural,
crescendo o continente dos marginalizados pelo sistema. Isso se devia à falta de
motivação, à estrutura do sistema econômico agrícola, que não exigia um mínimo de
qualificação para o trabalho, dadas as formas tradicionais de produção.
Mais da metade da demanda potencial de educação não conseguia ser
atendida pela oferta de vagas. A estrutura do sistema educacional não conseguiu
abranger a demanda potencial.
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A precariedade dos recursos humanos e materiais, do Estado, responde pela
precariedade do sistema educacional. Em estados mais ricos as instituições eram
mais produtivas, com sistema escolar em melhores condições de atuar na realidade.
As diferenças econômicas regionais fizeram que o sistema educacional se
transformasse num instrumento de perpetuação dessas desigualdades.
O sistema educacional também ajuda a perpetuar as diferenças entre as
zonas rurais e urbanas. Na zona rural não existiam escolas de nível acima do
primário.
Uma das falhas da expansão do ensino foi acelerar o processo de
seletividade que era mais forte na passagem do ensino primário para o ensino
médio. Este fato representa a rejeição prática de um direito assegurado, a falência
do sistema educacional. Economicamente, cria-se um contingente que vende sua
força de trabalho de baixa produtividade. Socialmente, perpetuam-se as
desigualdades. Culturalmente, mantêm-se os atrasos de populações inteiras
impossibilitando o acesso de bens culturais. A seletividade cria um baixo rendimento
do sistema.
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agricultura para a indústria, do campo para a cidade. A educação escolar até o final
do império não era social, era apenas símbolo de classes.
As mudanças ocorridas com a revolução burguesa foram inconsistentes, pois
visaram à expansão das oportunidades de educação para as camadas privilegiadas.
Entre 1940 e 1970 houve transferência de mão de obra dos outros setores
para o setor industrial, nestas transferência houve uma maior necessidade de
escolarização para preparar os trabalhadores para as novas atividades em
expansão. Porém observou-se um maior crescimento nas matrículas do ensino
secundário que no ensino profissional. Porém isto é encarado de certa forma, como
normal, pois é evidente que as escolas não podem treinar somente com o fim do
trabalho industrial. A própria industria deve terminar o ensino iniciado na escola com
treinamentos específicos para o ramo de trabalho executado.
Com este treinamento especifico sendo ou não dado pela industria, de
qualquer maneira é o governo que arca com o custo maior da educação
profissionalizante, visto que as empresas não se interessam ou não tem condições
para tal.
A necessidade do ensino profissionalizante é evidenciada na população da
classe média e baixa desde a adolescência, pois tendem a procurar esta educação
especifica para poder trabalhar.
Uma das maiores contradições educacionais se mostra no setor agrícola, pois
há uma maior procura pelo ensino secundário que pelo primário.
Em outra análise, vê-se que o ensino superior, por sua vez, era procurado
somente para a formação nos cursos mais prestigiados, Direito ou cursos
preparatórios para o magistério, que eram as faculdades de Filosofia, ambos
essencialmente acadêmicos.
Houve também inconsistências no ensino superior, tendo a dupla finalidade
de formar para carreiras ligadas a pesquisa e aos “altos estudos desinteressados”
não deram condições para realizar bem nenhum dos dois objetivos.
Sem conseguir atingir o primeiro objetivo os cursos da área de Filosofia logo
se tornaram meros arremedos de cursos acadêmicos. O segundo, por sua vez,
também não foi atingido devido aos baixos salários oferecidos ao magistério.
Assim ocorreu a expansão do ensino, mas esta não foi adequadamente
elaborada para acompanhar as necessidades criadas pelo desenvolvimento, o que
acabou por acentuar ainda mais a defasagem existente entre educação e
desenvolvimento. Em conseqüência o ensino acabou por criar um papel conservador
e alienante na ordem social e econômica, que é totalmente heterogênea, brasileira.
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