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Linguística Formal e Textual

Aula 1
Percorrendo os caminhos da
Linguística: o Formalismo
Objetivos

Situar a Linguística enquanto ciência;


Apresentar e discutir os conceitos teóricos referentes à
Linguística Formal;
Explorar as especificidades da Linguística Formal a partir
dos estudos de seus principais precursores.
O que é Linguística?

Linguística é a área de estudo científico da


Linguagem. É considerado linguista o cientista que se
dedica aos estudos a respeito da língua, fala e linguagem. A
pesquisa linguística é feita por filósofos e cientistas da
linguagem que se preocupam em investigar quais são os
desdobramentos e nuances envolvidos na linguagem
humana.”
Linguística
Substantivo feminino
Rubrica: linguística.
ciência que tem por objeto: (1) a linguagem humana em
seus aspectos fonético, morfológico, sintático, semântico,
social e psicológico; (2) as línguas consideradas como
estrutura; (3) origem, desenvolvimento e evolução das
línguas; (4) as divisões das línguas em grupos, por tipo de
estrutura ou em famílias, segundo critérios tipológicos
ou genéticos (HOUAISS, 2009)
Linguística

Ciência descritiva analítica e não prescritiva.


O linguista examina e analisa as línguas sem
preconceitos sociais, culturais, normalmente ligados
a uma visão leiga.
Constituição da Linguística como Ciência

Sucessão de fatos e acontecimentos: históricos e


dialéticos.
As tendências de um grupo em um determinado
período podem sofrer mudanças impulsionadas
pelo contexto histórico-social, mas também pelas
ideias que nascem no decorrer dos anos e que,
quase sempre, questionam a
teoria vigente.
Dialética

Contraposição, pelos linguistas, dos modelos


vigentes com as novas ideias que estão sendo
postuladas. Nesse processo de tese e antítese,
formula a síntese, ou seja, uma nova teoria.
A linguística: Evolução

Estruturalismo Formalismo

Sociolinguística Funcionalismo

Linguística
Textual
A Linguística Formal

(...) refere-se ao estudo da forma linguística. Nesse


sentido, a língua é vista como um sistema autônomo e
seus estudos focalizarão, especialmente, a fonética,
fonologia, morfologia e sintaxe; isto é, priorizam-se as
características internas da língua, seus constituintes e as
relações entre eles. Portanto, a língua é observada nas
relações entre suas partes e princípios que orientem sua
organização, gerando explicações que
partem da própria estrutura.”
CORTEZ (2011)
A Linguística Formal
1a fase- Descritivismo – Bloomfield.
2a fase – Gerativismo - Chomsky

(Disponível em: https://bit.ly/2FV585X. Acesso em: 29 jan. 2019.)


Descritivismo
Leonard Bloomfield, linguista norte americano, marcou
a linguística estrutural em seu país por
aproximadamente 30 anos após a publicação da revista
Language, na qual desenvolveu suas teorias sobre a
linguagem.
Baseado no modelo behaviorista de descrição dos fatos
da linguagem, ficou conhecido por sua percepção
materialista, mecanicista e comportamentalista dos
fatos da linguagem;
Skinner – Condicionamento operante

stimulus response reinforcement


Skinner – Condicionamento operante

(Disponível em: http://cafe-com-ciencia.blogspot.com.br/2012/02/o-


condicionamento-operante-definicao-e.html . Acesso em: 27 jul 2017.)
Qual a relação entre estudos
linguísticos e ensino de língua
portuguesa?
Descritivismo
Interpreta a linguagem humana como um fenômeno
externo ao indivíduo, um sistema de hábitos gerado
como resposta a estímulos e fixados pela repetição, ou
seja, em outras palavras, um condicionamento social,
uma resposta que o organismo produz mediante os
estímulos que recebe da interação social.
Descritivismo
Cada criança que nasce num grupo adquire hábitos de fala e de
resposta nos primeiros anos de vida. [...] Sob estimulação variada, a
criança repete sons vocais. [...] Alguém, por exemplo, a mãe, produz, na
presença da criança, um som que se assemelha a uma das sílabas de seu
balbucio. Por exemplo, ela diz doll (boneca). Quando esses sons chegam
aos ouvidos da criança, seu hábito entra em jogo e ela produz a sílaba
de balbucio mais próxima, da. Dizemos que nesse momento a criança
começa a imitar. [...] A visão e o manuseio da boneca e a audição e a
produção da palavra doll (isto é da) ocorrem repetidas vezes em
conjunto, até que a criança forma um hábito.
[...] Ela tem agora o uso de uma palavra.
(BLOOMFIELD, 1933:29-30, apud
MARTELOTTA, 2017:128)
Reação pela linguagem

S–r–s–R
(S) corresponde a um estímulo externo que leva alguém
a produzir uma resposta verbal (r), seguida por um
estímulo linguístico (s) por parte do ouvinte,
desencadeando uma resposta externa (R).
S e R são, portanto, eventos práticos pertencentes ao
mundo extralinguístico.
Descritivismo

Não caberia à linguística, mas à filosofia, por exemplo,


estudar a significação, por isso o mais importante em
Bloomfield é sua descrição formalista dos elementos
gramaticais.
Descritivismo
Análise das orações em constituintes imediatos.

Forma mínima: entendida por Bloomfield como


unidade estrutural básica do discurso, chamada por ele
de morfema. Os morfemas são formas mínimas
consideradas livres e opõem-se às formas presas,
normalmente afixos ou desinências, que não têm
sentido por si só.
Descritivismo

Embora não tenha levado em conta os significado,


considerado por ele muito abstrato, Bloomfield
contribuiu para os estudos no campo do significante
dentro da morfologia, com a noção de forma mínima,
da fonética, com o depreendimento dos fonemas, e da
sintaxe, ao criar o modelo de análise componencial
para as frases, análise essa morfossintática.
Gerativismo
Linguística Gerativa – gerativismo – gramática
gerativa - corrente de estudos da ciência da
linguagem que teve início nos Estados Unidos, no
final da década de 1950, a partir dos trabalhos do
linguista Noam Chomsky, professor do MIT –
Massachussets Institute of Technology, quando, em
1957, publica o livro Estruturas sintáticas.
Gerativismo
Procura elaborar um modelo teórico formal,
inspirado na matemática, capaz de descrever e
explicar abstratamente o que é e como funciona a
linguagem humana.
Formulada como uma espécie de resposta e rejeição
ao modelo behaviorista de descrição dos fatos da
linguagem.
Chomsky apresentou uma radical e impiedosa crítica
à visão comportamentalista da
linguagem sustentada pelos
behavioristas.
Gerativismo

Ex. O animal quando


treinado para
determinados
comportamentos.
Podemos treinar um cão
(Disponível em: https://bit.ly/2TqK9v5. Acesso em: 01 fev. 2019) para latir todas as vezes
que ouve a campainha.
Gerativismo

Para Chomsky, o indivíduo humano sempre age


criativamente no uso da linguagem: criação de
frases novas, jamais ditas antes.
Hoje, um dia lindo e esplendoroso, há muitos alunos do
curso de Letras empenhados em assistir à aula da
professora Juliana.

Criatividade : aspecto caracterizador


do comportamento linguístico humano
Gerativismo

Faculdade da Linguagem: a capacidade humana de


falar e entender uma língua, deve ser
compreendida como o resultado de um dispositivo
inato, uma capacidade genética e, portanto, interna
ao organismo humano.
Gerativismo
Chomsky chegou a afirmar que a criatividade é o
principal aspecto caracterizador do comportamento
linguístico humano, aquilo que mais
fundamentalmente distingue a linguagem humana
dos sistemas de comunicação animal.
Com suas ideias, Chomsky revitalizou a concepção
racionalista dos estudos da linguagem, em oposição
franca e direta à concepção empiricista de Skinner,
Bloomfield e demais estruturalistas
norte-americanos e europeus.
Vídeo

“Nell”
Inatismo
O papel do gerativismo no seio da linguística é
constituir um modelo teórico capaz de descrever e
explicar a natureza e o funcionamento dessa faculdade,
o que significa procurar compreender um dos aspectos
mais importantes da mente humana.
Com o gerativismo, as línguas deixam de ser
interpretadas como um comportamento socialmente
condicionado e passam a ser analisadas como uma
faculdade mental natural.
A morada da linguagem passa a
ser a mente humana.
De que forma as fases da linguística
formal (Chomsky versus Bloomfield)
influenciaram, e influenciam, o
ensino-aprendizagem da língua
portuguesa no Brasil?
O modelo teórico gerativista

O modelo teórico gerativista visa:


definir e descrever com exatidão o conceito de
faculdade da linguagem, bem como seu
funcionamento.
explicar como é possível essa faculdade da linguagem
ser geneticamente determinada se as línguas do
mundo parecem muito diferentes entre si.
Modelo teórico gerativista: faculdade da
linguagem
Para comprovar a hipótese da faculdade da linguagem, os
linguistas da corrente gerativista vêm elaborando
teorias que procuram explicar o funcionamento da
linguagem na mente das pessoas. Para tal, ao observar
os fatos naturais, um gerativista faz perguntas como:
O que há em comum entre todas as línguas humanas e
de que maneira elas diferem entre si?
Modelo teórico gerativista: faculdade da
linguagem
Em que consiste o conhecimento que um indivíduo
possui quando é capaz de falar e compreender uma
língua?
Como o indivíduo adquire esse conhecimento?
De que maneira esse conhecimento é posto em uso
pelo indivíduo?
Quais são as sustentações físicas presentes no
cérebro/mente que esse conhecimento recebe?
Modelo teórico gerativista: metodologia

Análise da linguagem humana de forma matemática e


abstrata (formal): a maneira pela qual tais perguntas
vêm sendo respondidas constitui o modelo teórico do
gerativismo.
Características do modelo chomskyano de
aquisição da linguagem humana
GRAMÁTICA TRANSFORMACIONAL :
Visa descrever como os constituintes das sentenças
eram formados e como tais constituintes
transformavam-se em outros por meio da aplicação de
regras.
A sintaxe é para Chomsky o centro da análise da língua;
O objetivo de Chomsky: elaborar um modelo capaz de
explicitar todas as frases gramaticais
de uma língua, no plano de sua
estrutura sintática.
Características do modelo chomskyano de aquisição
da linguagem humana

GRAMÁTICA TRANSFORMACIONAL :
Para Chomsky, a construção das frases se dá como uma
gramática de estados finitos, a qual ele explica por
meio da comparação com uma máquina que parte de
um estado inicial para chegar a um estado final, tendo
como resultado a produção de uma frase.

O estudante leu o livro.


Características do modelo chomskyano de
aquisição da linguagem humana
As infinitas sentenças de uma língua eram formadas a
partir da aplicação de um finito sistema de regras (a
gramática) que transformava uma estrutura em outra
(sentença ativa em sentença passiva, declarativa em
interrogativa, afirmativa em negativa, etc) – e é
precisamente esse sistema de regras que, então, se
assumia como o conhecimento linguístico existente na
mente do falante de uma língua, o qual deveria ser
descrito e explicado pelo linguista
gerativista.
Características do modelo chomskyano de
aquisição da linguagem humana

Disponível em:
https://alexandrehefren.wordpress.com/2010/03/14/determinismo-e-
gramatica-sintagmatica-gs-parte-1/ . Acesso em: 28 jul 2017.)
Características do modelo chomskyano de aquisição
da linguagem humana

Disponível em:
https://alexandrehefren.wordpress.com/2010/03/14/determinismo-e-
gramatica-sintagmatica-gs-parte-1/ . Acesso em: 28 jul 2017.)
Características do modelo chomskyano de aquisição
da linguagem humana

REGRAS DE
TRANSFORMAÇÃO • O livro foi lido
• O estudante
leu o livro. • 1.Seleção do verbo “ser”+ por o (pelo)
particípio; 2.movimento
do objeto para a posição estudante.
de sujeito; 3.manifestação
do agente como sintagma
preposicionado .
ESTRUTURA ESTRUTURA
PROFUNDA SUPERFICIAL
Por que o gerativismo pode ser
considerado um modelo de
análise linguística radicalmente
oposto ao modelo
estruturalista/behaviorista?
COMPETÊNCIA LINGUÍSTICA vs. COMPORTAMENTO LINGUÍSTICO
(PERFORMANCE)

Competência linguística: Conhecimento linguístico


inconsciente que o falante possui sobre a sua língua e
que lhe permite intuir sobre a mesma. Conhecimento
interno e tácito das regras que governam a formação
das frases da língua.
COMPETÊNCIA LINGUÍSTICA vs. COMPORTAMENTO LINGUÍSTICO
(PERFORMANCE)

O papel da intuição: gramaticalidade vs. agramaticalidade

• Quantos livros você escreveu? (gramatical)


• Que livro você conhece uma pessoa que escreveu?
(agramatical)
• João disse que ele vai se casar.
• Ele disse que João vai se casar.
COMPETÊNCIA LINGUÍSTICA vs. COMPORTAMENTO
LINGUÍSTICO (PERFORMANCE)

Comportamento linguístico (performance): Uso


concreto da língua pelo indivíduo. Envolve habilidades
não linguísticas, como atenção, memória, emoção, nível
de estresse, conhecimento de mundo, etc.

• Vou tentar a sorte.


• Vou tentar a torte.
A GRAMÁTICA UNIVERSAL: PRINCÍPIOS E PARÂMETROS

Deve-se entender por GU o conjunto das propriedades


gramaticais comuns compartilhadas por todas as
línguas naturais, bem como as diferenças entre elas que
são previsíveis segundo o leque de opções disponíveis
na própria GU.
A hipótese da GU representa um refinamento da noção
de faculdade da linguagem sustentada pelo gerativismo
desde seu início:
A GRAMÁTICA UNIVERSAL: PRINCÍPIOS E PARÂMETROS

A faculdade da linguagem é o dispositivo inato,


presente em todos os seres humanos como herança
biológica, que nos fornece um algoritimo, isto é, um
sistema gerativo, um conjunto de instruções passo a
passo – como as inscritas num programa de
computador – o qual nos torna aptos para desenvolver
(ou adquirir) a gramática de uma língua. Esse algoritmo
é a GU
A GRAMÁTICA UNIVERSAL: PRINCÍPIOS E PARÂMETROS

BASE BASE BASE GRAMÁTICA


COGNITIVA BIOLÓGICA INATISTA UNIVERSAL
A GRAMÁTICA UNIVERSAL: PRINCÍPIOS E PARÂMETROS

Teoria de Princípios e Parâmetros possui duas fases:

1. Teoria da regência e da ligação (TRL): 1980


2. Programa minimalista (PM): 1990
A GRAMÁTICA UNIVERSAL: PRINCÍPIOS E PARÂMETROS

As pesquisas da teoria de princípios e parâmetros


foram e são desenvolvidas sobretudo na área da
sintaxe, pois é exatamente nas estruturas sintáticas que
mais evidentemente se percebem as grandes
semelhanças entre todas as línguas do mundo, mesmo
aquelas que não possuem nenhum parentesco, o que
facilita o estudo da GU.
A GRAMÁTICA UNIVERSAL: PRINCÍPIOS E PARÂMETROS

Princípios: São leis válidas para todas as línguas e é


justamente o que compõe a faculdade de linguagem.
Parâmetros: São propriedades que podem estar
presentes em uma língua e não em outra, como, por
exemplo, o caso do uso do sujeito nulo, possível em
português e não em inglês, o que tornaria para essa
língua uma frase agramatical.
Referências
CONEJO, C.R. O estruturalismo e o ensino de línguas.
In: CELLI – COLÓQUIO DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS E
LITERÁRIOS. 3, 2007, Maringá. Anais. Maringá, 2009,
p.1233 – 1244.
CORTEZ, C. M. Formalismo X Funcionalismo:
Abordagens Excludentes? PERcursos Linguísticos:
Vitória (ES). v. 1. n. 1. p. 57-77 . 2011.
HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da Língua
Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.
MARTELOTTA, M. E. (org,). Manual de Linguística. 2.
ed., 5ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2017.

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