Ivan Domingues .
—OGRAU ZERO
DO
' CONHECIMENTO
10 problema da fundamentacao
das ciéncias humanas
/
COLECAO
Be osorte vars ae1, Para ler @ Fenomenologia do Espirito
Paulo Meneses
2. A vereda trdgica do Grande Sertéo: Veredas
Sénia M. V. Andrade
3, Escritos de Filosofia I
Henrique C. de Lima Vaz Vv
4, Marx e a natureza em O Capital
Rodrigo A. de P. Duarte
5. Marxismo e liberdade
Luiz Bicca
6. Filosofia e violéncia
Marcelo Perine
. Cultura do ‘simulacro
gina B, de
8. Escritos de Filosofia II
Henrique C, de Lima Vaz
9, Filosofia do mundo os
Filippo Selvaggi
10, O Conceito de religido em Hegel
Marcelo F, de Aquino .
11. Filosofia e método no segundo Wittgenstein
Werner Spaniol .
12, Filosofia Polttica
13,€O caminho poético de Parménides »)
14, A filosofia na crise da modernidade
Manfredo A, Oliveira
15. Antropologia filosdfica 1
Henrique C, de Lima Vaz
16. Religido ¢ histéria em Kant
Francisco Javier Herrero
17. Justiga de quem? Qual racionalidade? /
Alasdair Macintyre
18. O grau zero do conhecimento
Ivan Domingues
19. Maquiavel republicano
Newton Bignotto
20. Moral e histéria em John Locke
Edgard J. Jorge Filho
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IVAN DOMINGUES
O grau zero do
conhecimento
O problema da fundamentacao das
ciéncias humanas
Edicées LoyolaQO pe
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Agradecimentos
Gostaria de expressar todo meu reconhecimento a Hennio Morgan
Birchal, pelo paciente trabalho de revisio do verndculo e das citacdes em
grego e em latim. A Francisco Javier Herrero Botin, pela leitura cuidadosa
dos originais. A Hugo Pereira do Amaral e a M. Jacques Garelli, aos quais
devo o estimulo e a iniciativa de publicar o presente trabalho. A Luiz de
Carvalho Bicalho, meu mestre, com quem aprendi 0 exercicio eo gosto da
filosofia.
PREFACIO
A idéia deste livro, em sua origem uma tese de doutorado defendida
junto a Sorbonne, surgiu da leitura de um autor que, como poucos, soube
seduzir os espiritos de uma época: Michel Foucault, e de uma obra que,
como nenhuma outra, soube despertar toda uma geracao de estudantes
de filosofia e de outras tantas disciplinas’das ciéncias humanas: As Pala-
: —
vras ¢ as Coisas,
Por certo, Foucault é mais um desses camaledes filoséficos com que os
franceses de uns tempos para c4 resolveram brindar-nos, justificando a
invectiva de Castoriadis que, referindo-se a Lévi-Strauss, diz que, enquan-
to os xamas matam por fumigacio,’ antropélogos como ele matam por
estruturalizacéo. Algo semelhante se passa com Foucault que, a exemplo
de Baudrillard, mata por dissimulagao (cf. p. ex. A Arqueologia do Saber).
Porém, mais do que uma dissimulagao_estéril, As Palavras e as Coisas,
mesmo onde elas erram e nos confundem, tratam de uma maneira extre-
mamente fértil os temas do homem e despertaram em nés um problema
que nos consumiu dez anos de trabalho: a questéo da fundamentagao das
ciéncias humanas. Foucault, no entanto, tergiversa e dissimula a
epistemologia em arqueologia e a histéria em genealogia. A necessidade
de encontrar um antidoto nos levou a Cassirer e Gusdorf: a Filosofia da
llustrag@o e a Historia das Ciéncias Humanas, A necessidade de encontrar
um remédio contra uma no¢ao de Episteme a um tempo rigida e abstrata
nos levou a trabalhar a axiomética da economia, da lingiiistica, da politica
e da histéria, no periodo que se estende do século XVII ao XIX, da qual
a arqueologia foucauldiana, na pressa de generalizar, passa ao largo.
Assim, o livro que nasceu com Foucault cedo se voltou contra ele.
Com Foucault, trabalhamos o tema da fundamentagio das ciéncias huma-
nas. Contra Foucault, que na sua arqueologia nos fala de uma tnica
Episteme' — a Episteme moderna —, ignorando suas variantes e inflexdes
e pondo lado a lado um Descartes e um Newton, um Espinosa e um Smith
(mathesis universalis), procuramos mostrar: 1) em realidade, a Episteme
moderna nao é uma s6, mas varias; 2) pelo menos trés estratégias
discursivas diferentes em sua motivac3o e em sua indole conformaram as
1. Por Episteme entendemos, com a tradicéo filosdfica que nos vem dos gregos, 0
sistema de conhecimentos racionais fundado no !égos demonstrative, incluindo a ciéncia e a
filosofia, e nao uma sorte de inconsciente do saber ou de a priori histérico, como em Foucault,
o