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TÉCNICA DE ALTA
TENSÃO
[Type here]
Preparado por, Eng. Luis Simone
Apresentação
Este manual tem como objectivo servir de referência para a disciplina técnica de alta tensão do
curso de licenciatura em engenharia eléctrica do Instituto Superior Universitário de Tete
Retrata de forma clara e simplificada os tópicos do plano temático, dando todas as condições
para que o aluno entenda e pratique os fundamentos básicos necessários para a análise de
sistemas de ALTA TENSÃO
Todavia, deixa-se claro ao leitor, que não é um trabalho inédito, mas uma colectânea de
assuntos fundamentais que, alguns, foram transcritos da bibliografia citada para não perder a
qualidade e não descaracterizar a escrita do autor e que, outros foram acrescentados e
aperfeiçoados para dar uma melhor apresentação didáctica. A bibliografia citada no final,
oferece condições ao leitor para aprofundar outros assuntos de interesse específico sobre a
matéria.
O Autor
Eng. Luís Simone (Material sujeito a alterações sem aviso prévio) Técnica de Alta Tensão 2
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Índice
Capítulo 1
Aplicação da Alta Tensão
Capítulo 2
Geração de Alta Tensão
Capítulo 3
Medição de Alta Tensão
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Capítulo 4
Campo Eléctrico
Noções Gerais
Lei de Coulomb
Campo Eléctrico
Campo Eléctrico de uma Distribuição Contínua
Linhas de Campo Eléctrico
Lei de Gauss
Fluxo Eléctrico
Aplicações da Lei de Gauss a Isolantes Carregados
Distribuição de Campo Eléctrico e Ruptura de Material Isolante
Campo Eléctrico em Material Isolante Homogéneo
Campos Eléctricos Uniformes
Campos Eléctricos em Eléctrodos Cilíndricos-Coaxiais e Esféricos
Campos Eléctricos em Arranjos Eléctrodos Esfera-Esfera ou Esféra-Plano
Campos Eléctricos em Dois Eléctrodos Cilíndricos Paralelos
Campos Eléctricos em Materiais com Mais de Um Dieléctrico
Capítulo 5
Ruptura em Dieléctricos Gasosos
Introdução
Factor de Dissipação, Factor de Potência e Permissividade Relativa
Ruptura em Dieléctricos Gasosos
Lei Fundamental dos Gases
Processos de Ionização
Primeiro Coeficiente de Ionização de Townsend (Α)
Segundo Coeficiente de Ionização de Townsend (Γ)
Transição Entre as Descargas não Sustentadas ao Rompimento
O Mecanismo de Townsend
Mecanismos de Ignição de Fluxo ou Canal Piloto de Electrões
A Lei de Paschen
Intensidade do Campo Eléctrico de Ruptura (Eb)
Descargas Parciais ou Efeito de Coroa
Descargas com Polaridade Positiva
Descargas com Polaridade Negativa
Gases Isolantes
O Ar Atmosférico
Nitrogénio
O Gás SF6
Capítulo 6
Ruptura em Dieléctricos Sólidos e Líquidos
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Camada de Condensadores
Ruptura em Dieléctricos Líquidos
Capítulo 7
Ensaios não Destrutivos
Capítulo 8
Sobretensões, e Coordenação de Isolamento
Sobretensões
Sobretensões de Manobra
Tensão de Restabelecimemto Resultante da Eliminação de um Curto-Circuito
Tensão Transitória de Restabelecimento de Frequência Dupla
Sobretensões Atmosféricas
Resumo dos Mecanismos de Formação do Arco Eléctrico (Atmosférico)
Disrupção Atmosférica: Raio
Corrente de Descarga
Metodologias e Normas de Coordenação de Isolamento
Conceitos Fundamentais
Norma CEI 60071-1
Procedimento Geral
Determinação da Tensão Suportável de Coordenação de Isolamento – Ucw:
Determinação da tensão suportável requerida – Urw:
Selecção do nível nominal de isolamento:
Norma IEEE (Institute of Electrical and Electronics Engineers) Std 1313
Determinação das Solicitações Dieléctricas do Sistema
Comparação das Sobretensões com a Suportabilidade Dieléctrica
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Capítulo 9
Concepção e Teste de Isoladores Para Uso Exterior
Tipos de Isoladores
Solicitações Mecânicas
Solicitações Eléctricas
Os Isoladores são Produzidos de:
Porcelana Vitrificada
Vidro
Polímeros
Suportabilidade Dieléctrica
Formação de Arcos Em Isoladores Poluídos
Efeitos dos Arcos Sobre os Isoladores
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Corrosão Atmosférica/Galvânica
Corrosão Eléctrica
Avaliação da Formação de Arcos em Ambiente Tropical
Período Húmido
Período Seco
Operação em Ambiente Poluído
Mitigação dos Fenómenos de Poluição
Melhorar a configuração
Limpeza periódica
Aplicação de Gel/Graxa
Aplicação de RTV
Esmalte Resistivo
Bibliografia
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Capítulo 1
Aplicação da Alta Tensão
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O rápido crescimento dos níveis de tensão nos sistemas de transmissão nas últimas décadas é
resultado da crescente demanda por energia eléctrica, aliada ao desenvolvimento de grandes
centrais hídricas em locais muito afastadas dos grandes centros de consumo o que leva a
necessidade de transporte de energia eléctrica por longas distâncias.
No entanto, limitações ambientais sobre a expansão das linhas de transporte de energia
resultaram na necessidade de se utilizarem melhor os sistemas de transmissão existentes
levando ao desenvolvimento de sistemas de transmissão flexíveis em AC, FACTS - Flaxible
AC Transmission Systems, que consistiram no desenvolvimento de dispositivos
semicondutores de potência tais como GTO e IGBT melhorando os sistemas de transferência
de potência numa rede eléctrica.
Todavia, a transmissão de energia eléctrica pelo mundo fora continua a ser feita
maioritariamente através de sistemas de alta tensão alternada (HVAC) e alta tensão contínua
(HVDC) por meio de linhas aéreas, cabos submarinos ou sistemas back-to-back
Os sistemas HVDC permitem a transferência de uma maior densidade de potência, em
comparação com os sistemas de transmissão HVAC, permitem também a mitigação das
barreiras ambientais impostas e, revelando-se mais económicos e úteis na interligação de
sistemas assíncronos.
A figura abaixo fornece uma ilustração gráfica de como os sistemas de transmissão HVDC se
desenvolveram e os respectivos níveis de tensão.
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Sobretensões
Regra geral a tensão do regime normal de funcionamento não constitui perigo para os sistemas
de isolamento dos equipamentos de potência mas sim apenas em circunstâncias especiais, como
por exemplo em condições de poluição, estas tensões podem causar problemas para os sistemas
de isolamento. No entanto, o nível de tensão de funcionamento determina as dimensões do
sistema de isolamento que constitui parte dos equipamentos de geração, transmissão e
distribuição de energia eléctrica. As sobretensões nos sistemas de energia podem ter origem
interna ou externa
Sobretensões de origem externa, provenientes das descargas atmosféricas e que não dependem
do nível de tensão de exploração, entretanto as sobretensões de origem atmosféricas tornam-se
menos severas quanto maior for o nível de tensão de exploração do sistema
Sobretensões de origem interna, provenientes das alterações nas condições de exploração, tais
como manobra de disjuntores, avarias ou variações bruscas de carga ou nas fontes de geradoras.
A magnitude das sobretensões depende do nível de tensão nominal de exploração, do instante
em que ocorre a manobra e a complexidade do sistema. Uma vez que a alteração das condições
do sistema é geralmente associada a operações de comutação, essas sobretensões são
geralmente referidas como sobretensões de comutação.
Na concepção dos sistemas de isolamento têm-se em atenção os seguintes aspectos:
As sobretensões que o sistema de isolamento deve suportar
A capacidade de resposta do isolamento quando submetido a estas sobretensões
O balanço entre as sobretensões eléctricas sobre o isolamento e a capacidade do material
dieléctrico deste sistema de isolamento cai no âmbito da coordenação de isolamento e que
será matéria de análise no capítulo 8.
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Os equipamentos nos sistemas de energia devem suportar não só tensão nominal (Vn), que
corresponde à tensão mais elevada de um determinado sistema, mas também as sobretensões
que surgem durante a exploração do sistema.
Consequentemente, é necessário testar os equipamentos durante a sua fase de desenvolvimento
e antes da colocação do mesmo em serviço. A magnitude e o tipo de tensão de ensaio varia de
acordo com a tensão nominal do aparelho. Os métodos padrão de medição de altas tensões e as
técnicas de aplicação dos respectivos equipamentos quer para tensão alternada, tensão contínua
e tensão de impulso de manobra e atmosférica encontram-se descritas nas normas nacionais e
internacionais, relevantes.
Segundo MORGAN (1988), ensaio em alta tensão é qualquer ensaio no qual o gradiente do
campo eléctrico é suficiente para avaliar as propriedades do sistema de isolamento e a sua
influência no desempenho do equipamento. A partir dessa definição os objectivos dos ensaios
podem ser vistos de forma simplificada como:
Avaliar o sistema de isolamento do equipamento - por exemplo, medição do factor de
perdas dieléctricas;
Avaliar o desempenho da função a que este equipamento se destina – por exemplo, um
transformador de tensão (TT) tem a função de prover a um instrumento (relé, amperímetro,
medidor de energia, entre outros) um sinal de tensão, de amplitude reduzida por um factor
conhecido. Num ensaio deve-se avaliar o erro que existe na relação de transformação do
TT e compará-lo com sua especificação.
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Caso a elevação de potencial no apoio seja de tal forma que provoque a quebra do isolamento
(ver I na figura seguinte), é criado um caminho alternativo para a corrente de descarga (ver II
na figura seguinte). Nesse momento dá-se o contornamento inverso dos isoladores provocando
a circulação da corrente do cabo condutor para o apoio (ver III na figura seguinte), que só se
extingue quando os disjuntores nos extremos na linha se abrem. Normalmente estes incidentes
estão relacionados com as fracas terras dos apoios e a elevada potência da descarga atmosférica
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Capítulo 2
Geração de Alta Tensão
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Conversão AC Para DC
A rectificação de correntes alternadas é o meio mais eficaz de obtenção de correntes DC.
A rectificação monofásica pode ser feita através de simples rectificadores semicondutores,
sempre construídos em Silício, que normalmente não suportam tensões reversas maiores que
2500V, porém, sem apresentar problemas em relação a conexão destes dispositivos em série
até atender a condição desejada
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Durante um período T=1/f uma carga Q é transferida para a carga Rl representada por
Onde I é o valor médio da corrente de carga iL(t) e V(t) a tensão DC que inclui o factor de
ondulação.
Se da equação δV = 0,5(Vmáx - Vmin) introduzirmos o factor de ondulação, teremos que a tensão
V(t) terá a seguinte variação
A carga Q também é fornecida pelo transformador num tempo de condução tc=άT durante cada
ciclo, assim também teremos Q
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Esta relação mostra a interacção entre o factor de ondulação, a corrente de carga, a frequência
e a Capacitância do sistema.
O valor médio da tensão na carga será influenciada por δV mesmo tendo uma fonte constante
AC, V(t), e um rectificador sem perdas
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Duplicador de tensão
Tanto o rectificador de onda completa como o de meia onda produzem a saída uma tensão DC
menor que a máxima tensão AC de entrada (alimentação). Caso seja necessário produzir
tensões mais elevadas recorre-se aos duplicadores de tensão ou associação de rectificadores em
cascata. O diagrama esquemático de duplicadores de tensão é dado nas figuras acima.
No circuito duplicador de tensão mostrado na figura (a), o condensador C1 é carregado através
de rectificador R a uma tensão de polaridade conforme mostrado na figura durante a fase
negativa de meio ciclo
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De acordo com a figura acima percebe-se que a ideia é utilizar Capacitores como dobradores
de tensão a fim de se obter uma tensão de saída DC maior que a amplitude da fonte sinodal de
entrada. O procedimento é o seguinte: se os terminais do circuito estão inicialmente abertos,
no primeiro semi-ciclo positivo C’n carrega a Vmax, e no semi-ciclo seguinte negativo atinge
2Vmax, se, inicialmente o ponto n está aterrado, o capacitor Cn é também carregado com 2Vmax,
no próximo semi-ciclo positivo o ponto n’ atinge novamente Vmax e então o Capacitor C’n-s é
carregado com Vmax e assim sucessivamente até o estágio desejado
As formas de onda podem ser observadas de forma lógica, de acordo com a figura seguinte
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Deve-se observar que os potenciais dos nós à esquerda oscilam de forma senoidal, respondendo
a tensão da fonte de alimentação, os potenciais dos capacitores da direita se mantêm constantes
em relação ao terra, e com magnitude de “2Vmax” cada – observe que somente se soma “2Vmax”
por estágio - com excepção de “C’n” que é submetido a no máximo “Vmax”, os diodos devem
ser projectados para suportar no mínimo “2Vmax” - tensão a qual estão submetidos - e, a tensão
obtida na saída, na condição de idealidade, é “2.n.Vmax”. Quando uma carga é colocada nos
terminais do gerador, no entanto, essa tensão sempre menor que “2nVmax”, pela queda de tensão
causada pela corrente que percorre a carga – “DV0” - e pelo ripple existente – “2.d.V”. Para o
cálculo do ripple, supõe-se que uma quantidade de electrões “q” é transmitida à carga pelos
capacitores, igual a “q = I/f = IT”, assim, o ripple deve ser igual à somatória da energia
transferida por todos os Capacitores a carga, porém, como Capacitores menores seriam
submetidos a tensões muito elevadas se a carga fosse rompida, os Capacitores são projectados
para serem todos iguais. A queda de tensão “DV0” pode ser analisada considerando a queda do
primeiro estágio, “n”. Supondo que os elementos de circuito são idéias, “Cn’ carregará com
“Vmax”, mas devido a descarga desse Capacitor Cn será carregado com
Onde “n.q” é a descarga do capacitor. Da mesma forma, “Cn” carrega “Cn-1”, que está sujeito
ao mesmo efeito de descarregamento. E assim sucessivamente, de forma que, se os Capacitores
tiverem a mesma Capacitância as quedas de tensão através de cada estágio será
aproximadamente sabendo que “q = I/f”, encontramos:
Apesar de os menores Capacitores serem responsáveis por todo o “DV0” como no caso do
ripple, Capacitores no valor de “Cn’” são usados por conveniência, diminuindo “DVn” numa
quantidade de “0.5.nq/c” por estágio resultando finalmente em
De onde para casos onde “n” for maior ou igual a “4”, o termo “n/6” pode ser desprezado.
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Como nenhum dos enrolamentos secundários de alta tensão tem o potencial referenciado á
terra, é necessário que se estabeleça um isolamento da tensão DC dentro de cada transformador
(T1, T2, etc.). Cada enrolamento de alta tensão alimenta dois rectificadores de meia onda.
Embora existam limitações quanto ao número de estágios e como os transformadores dos níveis
inferiores tem de fornecer energia para os transformadores dos níveis superiores, este tipo de
sistema, fornece uma fonte de geração de tensões de ensaios DC económica apresentado
factores de ondulação com valores moderados.
Para tensões de teste inferiores a 300kV, um único transformador é suficiente para este
propósito. Entretanto para tensões superiores a 300kV este modelo mostra-se inadequado pois
apresenta custos elevados de instalação e de isolamento. A solução passa por ligar vários
transformadores idênticos em série ou em cascata
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O enrolamento primário é regra geral de baixa tensão (1kV) com possibilidade de ser
subdividido em dois ou mais posteriormente ligados em série ou em paralelo de forma a
melhorar a regulação do sistema. O núcleo e um dos enrolamentos do transformador são
aterrados
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Circuitos Ressonantes
Estes circuitos surgiram para colmatar o efeito negativo da ressonância susceptível de
aparecer nos circuitos de teste. Se considerarmos um circuito de teste a um estágio e com um
capacitor como objecto de teste, o respectivo circuito equivalente será:
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Admitindo que poderá ocorrer uma ressonância no circuito de tal modo que
, L 1 L 2 1 / C . Nestas condições a corrente no objecto de teste será elevada e somente
limitada pela resistência do circuito. A magnitude da tensão no objecto de teste será dada por
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Outro critério para a selecção da indutância nominal Ln é com base na corrente nominal I = In
que sobreaquece a bobine ou satura o núcleo do transformador. Uma vez que as perdas óhmicas
são pequenas tal que R << ωLn estas poderão ser desprezadas assim a corrente In será resultado
da queda de tensão na indutância Ln que será aproximadamente o valor nominal Vn, ou do facto
de que em todos os ciclos a energia magnética armazenada na indutância ser igual a energia
eléctrica na Capacitância de teste Ct assim
Para situações em que Ct ≤ Cn, a indutância Ln poderá ser submetida à tensão máxima do
sistema Vn, a relação das correntes será
Para situações em que Ct > Cn, o circuito merecerá alguma atenção na sua aplicação, onde se
a tensão V = Vn deverá se reduzida de tal forma que a corrente permaneça no seu valor
nominal In. Sendo a corrente I proporcional a tensão de teste vem que
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Antes de se proceder a análise faz-se referência ao parâmetro mais significativo no que respeita
a geração de alta tensão de impulso, ou seja, a energia máxima armazenada na Capacitância
C1. Dado que o capacitor C1 é maior que C2 este determina de certa forma o custo do gerador.
Para o circuito da figura acima (a) a tensão no objecto de teste será dada por
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Onde
Onde
Para o circuito da figura (b) teremos, a partir da equação geral V(s) com as seguintes constantes
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Ou
Fica evidente a possibilidade de geração de ambos tipos de alta tensão de impulso com base
nestes circuitos. Todavia pode-se assumir que estes circuitos são similares, podendo diferir no
rendimento, ou seja
Onde Vp valor de pico da tensão de saída, como indicado na figura acima. O mesmo pode ser
calculado começando por definir o tempo máximo para que V(t) atinja o seu valor de pico tmáx
a partir de dV(t)/dt=0. V0 tensão na fonte.
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Para ambos circuitos as diferenças dos respectivos rendimentos provem do valor de k=R1C2
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Note que em todas as equações está presente a constante de tempo 1/α1 e 1/α2, dependem da
forma de onda. Para determinadas formas de onda é válida a tabela
Devido a dificuldades construtivas os circuitos são simplificados de tal forma que têm-se em
consideração uma combinação de uma indutância total com as Capacitâncias C1-C2 (figura
abaixo) ignorando a posição da resistência de cauda, pois esta tem pouca influência. Assim
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Onde
Circuitos em Cascata
A obtenção de alta tensão de impulso com recurso a um único estágio mostra-se
economicamente inviável, daí o recurso aos circuitos multiestágios sugeridos por MARX que
consiste num arranjo de condensadores em paralelo submetidos a uma carga através de
resistências óhmicas e posteriormente descarregados em série através de fendas de
centelhamento
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Capítulo 3
Medição de Altas Tensões
A medição de altas tensões alternadas, contínuas e de impulso, envolve problemas ou aspectos
não usuais na indústria eléctrica, que vão crescendo à medida que o nível de tensão aumenta.
A escolha do método para medição de altas tensões dependerá de entre outros aspectos do nível
de tensão, das condições construtivas, do meio envolvente, do valor a medir (valor de pico,
valor médio, valor médio quadrático), etc.
Eléctrodos Esféricos
Dois metais esféricos adjacentes de igual diâmetro cuja separação é limitada formam fendas de
centelhamento para medir altas tensões DC ou AC. O processo baseia-se na teoria de ruptura
de gases dieléctricos (a abordar no capítulo 5)
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Onde
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Eléctrodos em Haste
De um modo geral investigações concluiram que a tensão desruptiva pode ser obtida pela
equação
Voltímetros Electrostáticos
A lei de Coulomb define o campo eléctrico como um campo de forças e como campos eléctricos
são produzidos por tensões então a medição destas tensões pode ser relacionada a medição das
respectivas forças. Assim teremos
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Medição de alta tensão DC e AC por meio de um amperímetro em série com uma resistência,
R1, R2 divisores de tensão
Voltímetros Geradores
Consiste de um eléctrodo de alta tensão que excita um campo electrostático num meio isolante
(gás). Um conjunto de eléctrodos aterrados A, G e M estão dispostos de modo que as linhas de
campo que neles terminam transportem cargas cuja densidade dependem do gradiente do
campo eléctrico (E). Para efeitos de medição é de interesse a densidade de carga em (A) sendo
os outros eléctrodos usados para efeitos de regulação.
De tal forma que; σ(a) = εE(a)
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Condutor cilíndrico
Após a carga do capacitor Cs1 este transfere a sua carga para um segundo capacitor Cs2. Sendo
Cs2≥Cs1 a tensão de saída Vm torna-se relativamente baixa de tal forma que um voltímetro
normal possa ser aplicado para a sua medição
Capítulo 4
Campo Eléctrico
Como consequência da grande demanda em energia eléctrica, o recurso a sistemas de alta
tensão para o transporte e distribuição da mesma tornou-se inevitável, todavia os altos custos
envolvidos levaram os fabricantes de equipamentos eléctricos a pesquisarem produtos
económicos e tecnicamente viáveis.
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Estas pesquisas só se tornaram possíveis com um vasto domínio das propriedades dos materiais
isolantes, da geração de campos eléctricos e do comportamento dos mesmos quando sujeitos a
campos electrostáticos. Este capítulo dedica-se a análise do comportamento de campos
eléctricos como pré-requisito para perceber o comportamento dos materiais isolantes.
Noções Gerais
Lei de Coulomb
A lei de Coulomb foi uma lei estabelecida com base nos seguintes dados experimentais:
A força eléctrica entre duas cargas tem a direcção da linha que as une,
É inversamente proporcional ao quadrado da distância entre elas,
É proporcional ao produto das cargas,
É atractiva quando as cargas têm sinais contrários e repulsivos, quando têm sinais iguais.
Campo Eléctrico
O campo eléctrico é definido pela razão entre a força eléctrica que actua sobre uma carga de
prova positiva colocada num determinado ponto do espaço e o valor dessa carga.
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Como exemplo ilustrativo, pode considerar-se o campo eléctrico criado por uma barra
carregada:
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Lei de Gauss
A lei de Gauss é uma forma alternativa de calcular o campo eléctrico criado por uma
distribuição de cargas
Fluxo Eléctrico
O fluxo eléctrico numa determinada superfície é definido como o nº de linhas de campo que a
atravessam. Então, o fluxo eléctrico através de uma superfície fechada vai ser proporcional à
carga no seu interior e não irá depender da forma dessa superfície.
Comece-se por calcular o fluxo eléctrico numa situação simples – considere-se um campo
eléctrico uniforme E, e uma superfície A que lhe é perpendicular. O fluxo vem dado por
No caso mais geral em que o campo eléctrico varia em redor da superfície tem-se:
A Lei de Gauss fornece uma relação entre o fluxo calculado através de uma superfície fechada
e a carga existente no seu interior.
O cálculo do fluxo através de uma esfera que envolve uma carga Q positiva vem dado por:
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Na verdade, mesmo que a superfície considerada não seja esférica, o fluxo será igual, uma vez
que é proporcional ao número de linhas de campo.
Quanto ao fluxo de um campo criado por cargas no exterior da superfície considerada,
facilmente se verifica que é nulo.
Combinando os dois resultados e admitindo, uma vez mais, a sobreposição dos campos:
“O fluxo através de qualquer superfície fechada é igual à carga no seu interior dividida pela
Constante ε”
Nos problemas em que a Lei de Gauss é utilizada, deve ter-se em atenção o seguinte:
A superfície considerada não tem, necessariamente, realidade física.
Esta é uma abordagem muito útil para casos em que seja evidente um elevado nível de
simetria.
A escolha da superfície é crucial.
Calcule-se o campo criado por um fio infinito com densidade de carga linear, λ, constante:
Calcule-se o campo criado por um plano infinito com densidade de carga superficial, s,
constante:
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Se a ruptura do dieléctrico é causada apenas por (Emáx) então a tensão será dada por:
Esta equação ilustra o conceito de factor de eficiência da intensidade do campo eléctrico. Dado
que 1 ≥ η ≥ 0 para qualquer distribuição da intensidade de campo eléctrico, fica evidente que
para campos não uniformes a tensão de ruptura será inferior.
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Estudos mostraram que para duas placas paralelas infinitas dispostas ao longo do plano W as
respectivas linhas de campo estarão distribuídas ao longo do plano Z de tal forma que
Ou
Onde
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EW = U/(υ2-υ1) ou EW = U/(ν2-υ1)
Ez = |Ez|.Ew [kV/cm]
Cilindro coaxial
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Esfera coaxial
Como a intensidade de campo eléctrico é máxima para x=r1 e x=R1 respectivamente para o
cilindro e esfera teremos
Para um arranjo laboratorial como mostra a figura abaixo onde tem-se um cilindro com
terminação esférica teremos a relação (na prática temos como exemplo um bushing e sua
terminação)
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Na figura acima duas esferas de diâmetros iguais (2R) separadas por uma distância (b) são
submetidas a uma diferença de potencial (+V) e (–V) respectivamente, de forma que a
distribuição da intensidade do campo eléctrico será simétrica relativamente a um plano
imaginário (P) colocado entre os dois eléctrodos e com uma diferença de potencial igual a (0V).
Do arranjo acima onde para uma carga Q0 aplicada ao centro das esferas
Sendo
Sendo
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Dada a figura
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Onde (A) é uma constante dada pelas condições de fronteira e (S) a distância entre os
condutores.
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A distribuição do campo entre dois condutores pode ser vista relacionando E(y) e a intensidade
máxima do campo eléctrico para Y=0
Sendo que o valor mínimo da intensidade do campo eléctrico é alcançado no ponto Y=S/2 a
relação Emin/Emáx será
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Na figura abaixo os vectores de deslocamento D1 e D2 são iguais e sabendo que D=εE a relação
das intensidades dos campos eléctricos será
Dado que a intensidade do campo eléctrico permanece uniforme nas duas camadas, a tensão V
ou diferença de potencial entre as duas placas será dada por
Para E1
Para E2
Para um cabo coaxial ou um capacitor coaxial com vários materiais dieléctricos impregnados
como ilustra a figura abaixo
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Ainda para o cabo coaxial acima, a capacitância da camada X (desprezando o efeito de bordo)
será
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2
=
ln(( + 1)/ )
Na distribuição da tensão total pelas Capacitâncias singulares temos de considerar que cada
capacitância tem a mesma carga Q
= . = .
=
1
Cx.
Ck
=
rx + 1 ln[(rk + 1) /rk]
εx/ln [ rx ]. εk
Capítulo 5
Ruptura Em Dieléctricos
Introdução
Dieléctrico: É o meio no qual é possível produzir e manter um campo eléctrico com pequeno
ou nenhum fornecimento de energia de fontes externas. A energia requerida para produzir o
campo eléctrico pode ser recuperada, no total ou em parte, quando o campo eléctrico é
removido.
Capacitor: É um dispositivo constituído por dois condutores, cada um tendo uma determinada
superfície exposta ao outro, separados por um meio isolante. Uma diferença de potencial entre
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Dieléctrico imperfeito: É aquele no qual uma parte da energia requerida para estabelecer um
campo eléctrico no dieléctrico não retorna ao sistema eléctrico quando o campo é removido. A
energia é dissipada no dieléctrico, em forma de calor.
Absorção dieléctrica: É o fenómeno que ocorre em dieléctricos imperfeitos pelo qual cargas
positivas e negativas são separadas e acumuladas em certas regiões dentro do volume do
dieléctrico. Este fenómeno se manifesta, por si próprio, como uma corrente que decresce
gradualmente com o tempo, após a aplicação de uma corrente contínua e constante.
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mesma tensão aplicada V, o que acontece então com a capacitância? Alguma polarização pode
ocorrer no material permitindo um adicional de cargas armazenadas no mesmo. A variação na
capacitância C é o reflexo directo da constante dieléctrica do material.
Onde Q é a carga armazenada (em Coulomb) e V é a tensão através dos condutores (ou placas).
Assim com o material dieléctrico uma carga maior Q, é acumulada entre as placas, neste caso
εd é a permissividade do meio dieléctrico e será maior em magnitude que ε0. A relação entre as
Capacitâncias do sistema com o vácuo e com o dieléctrico será
Na presença de um campo eléctrico alternado surge uma corrente capacitiva e uma corrente
resistiva desfasadas a 90º, uma em relação a outra. A soma vectorial destas duas correntes
representa a corrente total do sistema e o ângulo entre o vector da corrente capacitiva e a
resultante é definido como o ângulo de perdas. Sendo a relação entre a parte imaginária e a
parte real da permissividade considerada de tangente de δ (tgδ = ε´´/ ε´), definido como factor
de dissipação e representa a perda dieléctrica no meio isolante. O factor de potência será obtido
pela determinação do seno do ângulo de perdas (sen δ)
O factor de perda dieléctrica prende-se com a incapacidade das moléculas do material isolante
de se reorientar quando sujeitos a um campo eléctrico alternado. Esta capacidade é dependente
da temperatura, do tamanho das moléculas envolvidas, da respectiva polaridade e da frequência
do campo eléctrico.
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tg δ = εr´´(ω)/ εr´(ω)
Na equação abaixo;
χ’(ω) = εr(ω) – 1
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Se a pressão for constante então os volumes (V) e (V0) estarão relacionadas as respectivas
temperaturas absolutas em KELVIN (T) e (T0) pela lei de GAY-LUSSAC
De acordo com a equação (V/V0) a constante C na equação (pV) estará relacionada a uma
temperatura T0 para um dado volume V0
A razão C0/T0 é denominada constante universal dos gases e é designada de R, assim a equação
(acima) ficará
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Esta equação descreve o estado de um gás ideal, assumido que R é uma constante e
independente do tipo de gás. A equação acima pode ser escrita em termos da densidade de gás
(N), num volume (V) contendo (N1) moléculas. Fazendo N1=NA onde
NA=6,02x1023 moléculas/mole (número de AVOGADRO), então teremos
Se dois gases com volumes iniciais (V1) e (V2) são misturados á mesma temperatura e pressão,
então o novo volume será dado por V=V1+V2 ou no geral
Ou
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Para o cubo acima de lado (ℓ) o número de colisões por segundo e por molécula será dada por
(Ux/2ℓ), assim
Δm/sec/molecule=2mUx2/ℓ
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W=1/2mU2, F=4W/ℓ
Para N1 partículas a energia resultante de diferentes velocidades (u) será a energia média do
sistema de tal forma que
Sabendo-se que a força (F) resultará numa pressão (P) e tendo em consideração a área total do
cubo (A=6l2)
Comparando as equações (5.12 e 5.1) nota-se que as mesmas são idênticas para temperatura
constante e de (5.8) vem
Processos de Ionização
Durante colisões inelásticas uma grande fracção de energia cinética é transformada em energia
potencial, causando, por exemplo, a ionização das respectivas moléculas. A ionização por
colisão de electrões em campos eléctricos de maior intensidade representa o maior e o mais
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importante processo que conduz à ruptura dos gases dieléctricos. A eficácia do processo de
ionização por colisão de electrões depende da quantidade de energia que um electrão pode
adquirir ao longo do caminho médio livre que este percorre na direcção das linhas do campo.
Se λ é o valor médio do caminho médio livre que este percorre na direcção das linhas do campo
de intensidade (E) então a energia ganha ao longo deste percurso será ΔW = eEλ. Para que
ocorra a ionização durante a colisão a energia ΔW deverá ser no mínimo igual a energia de
ionização da molécula (eVi)
dn = αndx
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Onde (n0) é o número inicial de electrões gerados no cátodo. Se (I0) for a corrente inicial do
cátodo então teremos
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TOWNSEND para explicar esta linearidade do gráfico considerou que um segundo mecanismo
de ionização estaria a afectar o comportamento da corrente ou seja, primeiro estaria a ocorrer
a libertação de electrões por colisão de iões positivos e posteriormente a libertação de electrões
a partir do cátodo por bombardeamento de iões positivos.
Se considerar-se (n – quantidade de electrões que alcançam o ânodo por segundo), (n0 –
quantidade de electrões emitidos pelo cátodo), (n+ – quantidade electrões emitidos pelo cátodo
por bombardeamento de iões), (γ – quantidade de electrões emitidos pelo cátodo por iões
incidentes), então;
Eliminando n+
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Onde (β) representa a quantidade de pares de iões produzidos por um ião positivo ao percorrer
(1 centímetro, na direcção das linhas do campo eléctrico), (α, d, I e I0, primeiro coeficiente de
TOWNSEND, distância entre os eléctrodos, corrente instantânea de ionização e corrente inicial
de ionização, respectivamente).
O Mecanismo de Townsend
Á medida que a tensão aplicada entre dois eléctrodos aumenta, a respectiva corrente no ânodo
crescerá de acordo com a equação
Até que num determinado ponto ocorra uma transição repentina da corrente de ionização para
uma descarga auto-sustentável, ponto no qual a corrente (I) torna-se indeterminada e o
denominador torna-se igual a zero, isto é;
Quando esta igualdade se verifica, a quantidade de pares de iões produzidos no intervalo (d)
pela passagem de uma avalanche de electrões é suficientemente enorme de modo que os iões
resultantes, por bombardeamento do cátodo, criem condições para que se liberte um electrão
secundário capaz de causar a repetição do processo de avalancha. Assim a descarga torna-se
autosustentada e pode prosseguir na ausência da corrente inicial de ionização (I0), de tal forma
que a igualdade acima citada pode ser considerada de ponto de ignição do processo de
avalanche.
Para a condição
Significa que a ionização produzida por sucessivos processos de avalanche é cumulativa e que
os processos de rompimento são mais acelerados.
Para a condição
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Significa que a corrente (I) não é autosustentada, ou seja, na ausência da fonte primária da
corrente inicial de ionização (I0) esta cessa de fluir.
Onde (Er) é a intensidade de campo eléctrico da avalanche de electrões (no interior dos
eléctrodos), (E) é a intensidade de campo eléctrico externo aplicado ao sistema figura abaixo
A resultante da intensidade do campo eléctrico na frente da avalanche será obtida por (E + Er)
ao passo que na região de iões positivos a resultante será (E – Er).
Assume-se que é condição para que ocorra a transição da avalanche para o mecanismo de
ignição do fluxo de electrões que as intensidades de campo eléctrico tenham valores
aproximados (E≈Er), assim a equação acima (αxc) torna-se;
O valor mínimo de ruptura pelo mecanismo de ignição de fluxo de electrões é obtido assumindo
que a transição de avalanche para ignição do fluxo de electrões ocorre logo que a avalanche
tiver completado o percurso (d), assim a equação terá a seguinte forma;
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Por conseguinte a ruptura pelo mecanismo de ignição do fluxo de electrões ocorre apenas
quando o percurso crítico é maior ou igual a (d), (Xc ≥ d). Da condição, Xc = d, obtêm-se o
menor valor de (α) que desencadeia o mecanismo de ignição do fluxo de electrões
A Lei de Paschen
A dedução de uma equação analítica para o cálculo da tensão de ruptura para campos uniformes
em função da distância entre os eléctrodos e a pressão pode ser obtida, expressando o
coeficiente de ionização como função da intensidade do campo eléctrico e da pressão do gás,
ou seja;
Obtêm-se
Ou
5.23
Ou
Donde depreende-se que a tensão de ruptura para um campo uniforme é unicamente função do
produto da pressão pela distância de separação dos eléctrodos. As equações acima representam
a Lei de Paschen. A relação entre a tensão de ruptura (Vb) e o produto (pd) está representada
na figura abaixo
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Das relações (α(med)/p) e (α(med)d) e sabendo que (V=Ed) resulta no gráfico abaixo
Na figura acima (Vb/pd) não existe intersecção entre a curva (1) e a recta 4 significando que
para valores baixos de tensão não ocorre a ruptura no dieléctrico
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Da qual depreende-se que para uma pressão constante (p) a intensidade de ruptura (Eb) decresce
de forma uniforme com a distância (d). E que a intensidade de campo (Eb) para uma distância
(d) constante cresce com a pressão (p).
Relação entre o coeficiente de ionização (α) e a intensidade de campo eléctrico de ruptura para
diferentes valores de (pd)
Relação entre a intensidade de campo de ruptura (Eb) e o produto entre a pressão e a distância
entre os eléctrodos (pd).
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O aspecto visual das descargas por efeito de coroa é distinto em função da polaridade da tensão
aplicada. Na polaridade positiva aparece na forma de uma bainha branco-azulada ao longo de
toda superfície do condutor. Na polaridade negativa aparece na forma de manchas
avermelhadas e brilhantes distribuídas ao longo do condutor, que aumentam com a corrente.
À medida que a tensão cresce o canal de ignição de fluxo de electrões também cresce quer no
número de ramificações como no seu cumprimento figura (b) e (c). Entretanto a respectiva
velocidade decrescerá á medida que for penetrando regiões de baixo valor de intensidade do
campo eléctrico.
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A figura acima mostra a velocidade do fluxo de ignição de electrões para diferentes níveis de
tensão
A figura acima representa os vários modos de descarga á medida que a distância entre os
eléctrodos aumenta.
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A figura abaixo mostra a tensão de início de descarga de corona como função da distância de
separação dos eléctrodos, para um caso particular de um eléctrodo de ponta de 0,75mm de raio.
A curva inferior mostra a tensão de início de descarga com pouca influência da distância entre
os eléctrodos. Eventualmente para níveis de tensão mais altos descargas constantes e com
brilho poderão ser observadas, mas a zona de transição de pulsos de Trichel para descargas
com brilho não está claramente definida, caracterizando-se apenas como uma vasta região de
transição.
Para níveis de tensão ainda maior as descargas com características brilhantes persistirão até
que a ruptura ocorra. Refira-se que a ruptura do dieléctrico sob polaridade negativa ocorre para
níveis de tensão mais elevados quando comparado com dieléctricos submetidos a tensões de
polaridade positiva, excepto para regiões com baixos níveis de pressão, portanto quando o
dieléctrico é submetido a uma tensão alternada a ruptura dieléctrica para campos não uniformes
ocorre invariavelmente no meio ciclo positivo da onda de tensão.
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Gases Isolantes
O Ar Atmosférico
As características isolantes do ar atmosférico variam com a humidade relativa. Quando seco
suas, propriedades se aproximam muito com as do vácuo. Nas proximidades de um condutor
sujeito a uma diferença de potencial o ar se ioniza, resultando em gás condutor. Se a renovação
do ar não se efectuar ou se a diferença de potencial crescer, rapidamente o poder dieléctrico do
ar poderá ser rompido, causando assim uma perfuração do isolamento. É o ar o isolante natural,
entre os condutores de uma linha aérea, fora dos apoios.
Nitrogénio
É um gás de elevada estabilidade química, bom poder dieléctrico. É utilizado para manter a
pressão interna dos tanques de transformadores, reactores e outros equipamentos, acima da
pressão atmosférica e dessa forma evitar a penetração de humidade. Dada sua elevada
estabilidade química é pouco reagente, não afectando, pois, os demais meios isolantes.
O Gás SF6
Sintetizado pela primeira vez no ano de 1900, em Paris, teve suas pesquisas para aplicação
industrial iniciadas em 1937. Em 1939, o uso em cabos e capacitores foi patenteado. Pesquisas
para sua utilização como meio interruptor são de 1950 e equipamentos blindados e isolados à
SF6 surgiram a partir de 1970. O SF6 gás é um dos gases de maior densidade (6,16 kg/m³),
quase 5 vezes maior que a do ar. É um gás incolor, inodoro, não tóxico, quimicamente inerte e
estável e não inflamável.
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Capítulo 6
Ruptura em Dieléctricos Sólidos e Líquidos
O rompimento dos dieléctricos é uma grande preocupação no caso de equipamentos de alta
tensão. Eles são responsáveis pelo desgaste dos sistemas de isolamento, e indicadores de
possíveis defeitos futuros, não deixando de se levar em conta um defeito mais grave.
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As descargas por avalanche seguem um processo similar às descargas por avalanche nos gases,
isto é, um electrão ou ião livre ganha energia através da acção do campo eléctrico e perde
energia na colisão com electrões dos demais átomos, se a energia absorvida for maior que a
perdida nas colisões, e a energia das colisões for suficiente para retirar electrões das bandas
adjacentes de seus átomos, este processo pode desencadear uma avalanche. O rompimento
mecânico é característico daqueles sólidos que podem se deformar significantemente, de forma
a alterar a sua configuração mecânica, sem que haja uma fractura. Isso acontece devido a que
a pressão mecânica exercida sobre o isolante pode ser muito alta, devido a atracção dos
eléctrodos.
Segundo “Stark e Garton”, a espessura inicial, chamada módulo de Young “Y”, decresce para
um valor igual a “d” [m] quando uma tensão de módulo igual a “V” é aplicada de acordo com
a equação;
Quando um dieléctrico sólido tem uma falha, como, por exemplo, uma bolha de ar na sua
construção, há uma tendência de que sobre essa bolha a intensidade de campo seja ainda maior
que no dieléctrico em si, sendo uma fonte bastante grande de descargas, conhecidas por
descargas por erosão.
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A tensão no dieléctrico que envolve a cavidade e que iniciará a ruptura na cavidade será dada
por;
Na prática assume-se que a cavidade tem uma forma esférica, cuja intensidade dos campo
eléctrico será, para εr >> εrc;
Camada de Condensadores
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X
U C1
A distribuição não linear da tensão tem origem nas Capacitâncias parasitas entre a linha e a
terra
Capacitâncias de terra C1E e de linha C2L do isolador numa linha de alta tensão
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Com as abreviações
E o princípio de solução
Teremos
Dois ramos de teorias diferentes, no entanto, podem ser citados: um explica a ruptura dos
dieléctricos líquidos como uma extensão da teoria dos gases, baseado na avalanche de electrões
ocasionada através da ionização dos átomos causada pela colisão de electrões com muita
energia nestes.
Esta teoria se mostra razoável para líquidos de extrema pureza, onde a polarização electrónica
e iónica. Quando há, no entanto, uma quantidade muito grande de impurezas, o líquido tende a
ter uma corrente crescente com o campo, que depois é estabilizada, e por final, quando o campo
aplicado é muito elevado, tende a uma instabilidade, ocorrendo daí a “avalanche”.
O outro ramo de pensamento tenta explicar fisicamente o comportamento dos líquidos, partindo
daí para a explicação das razões e das características da condução nos líquidos. Muitos
cientistas da actualidade têm publicado vários trabalhos a respeito, mas essa teoria ainda se
apresenta bastante incerta. Sabe-se, entretanto, que nos líquidos, existe a ruptura electrónica, e
que é preferencial a ruptura térmica. Ela depende, do campo eléctrico aplicado “E”, do
“caminho livre” do electrão “λ”, e do quanta de energia “hν” perdido na ionização da molécula
eEλ=chν
Impurezas sólidas, suspensas nos líquidos também causam rupturas dieléctricas. Isso porque
estas podem ter cargas líquidas, e originar avalanches. Uma explicação plausível e aceite, é a
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de que essa partícula carregada é levada ao lugar onde o campo eléctrico é maior e “grad E”
igual a zero. Outras partículas sólidas carregadas são levadas a essa região, que por possuir o
campo mais elevado, têm um campo praticamente uniforme. Nesse campo, as partículas vão se
alinhando, formando certas “pontes” no dieléctrico, podendo seguir daí a ruptura do dieléctrico.
Um outro tipo de ruptura conhecido como ruptura de cavidade é causado por inclusões de gases
dentro dos dieléctricos líquidos, na forma de bolhas. Essas bolhas causam mudanças na
temperatura e na pressão do dieléctrico, dissociação de líquidos em sólidos devido à colisão
dos electrões e vaporização do líquido devido as descargas do tipo coroa, nos pontos de
irregularidade dos eléctrodos. A equação abaixo representa como esse processo se torna uma
descarga
Capítulo 7
Ensaios Não Destrutivos
Muitos testes, são actualmente utilizados pelas empresas detentoras de sistemas de geração,
transporte e distribuição de energia eléctrica para a determinação das condições dos sistemas
de isolamento dos respectivos equipamentos. Maioritariamente estes testes são em off-line, isto
é; com os equipamentos fora de serviço.
Refira-se que a resistência de isolamento é uma função do tipo dos materiais empregues, bem
como da técnica de aplicação dos mesmos. Em geral, a resistência de isolamento é directamente
proporcional a espessura do material isolante e inversamente proporcional a área da superfície
do condutor.
Segundo Rocha e Ayupe (2010), o isolamento eléctrico pode ser modelado como um circuito
com quatro ramos paralelos, por onde podem circular quatro correntes diferentes quando uma
tensão é aplicada, conforme figura abaixo. Estas correntes são as correntes de fuga pela
superfície (leakage – IL), de capacitância geométrica (Ic), de condutância (Ig) e de absorção ou
polarização (Ia). Estas correntes somadas representam a corrente total que atravessa o
isolamento (It), conforme gráfico abaixo. A relação entre a tensão aplicada e a corrente total
medida fornece a resistência do isolamento.
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Para efectuar a medição recorre-se ao uso de um Megger, aplicando-se uma tensão contínua de
2,5kV ou de acordo com a capacidade do aparelho e após 1 minuto R1 anota-se o valor da
resistência. Repete-se a medição e anota-se o valor da resistência após 10 minutos R10.
IP = R10/R1
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Transformadores de Potência
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A resistência de isolamento é variável no tempo. Num processo de medição ela estabiliza antes
dos 10 minutos em sistemas mais comuns, como papel e óleo.
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Exemplo para δ = 10º → φ = 90-10 = 80º (tang10º = 0,1763, cos80º = 0,1763) para ângulos
pequenos entre Ic e I, o factor de potência é aproximadamente igual ao factor de dissipação.
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Para garantir a qualidade do óleo isolante, é comum a adição de inibidores que retardam a
velocidade do processo de oxidação, além da realização de tratamentos periódicos
Furfural (2FAL)
O 2Fal é o mais representativo de uma família de furfuraldeídos que resultam especificamente
da degradação do papel. Representa o comportamento global, a partir da amostra de uma
pequena quantidade de óleo do transformador. Há estudos que correlacionam o GP com o 2Fal.
A análise inicialmente era feita em função da sua concentração no óleo, com a relação
miligramas de (2Fal) / litros de óleo [ppm]. Mais recentemente, a relação considerada mais
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1. Aplicação de uma tensão de carga (U0) sobre a amostra durante um determinado período
(tc - tempo de carga).
2. Curto-circuito da amostra durante um determinado período (td tempo de descarga).
3. Medição da tensão de retorno.
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As informações directamente obtidas de uma curva de tensão de retorno são: o valor máximo
da tensão de retorno (Um) e o tempo para se atingir este máximo (tm). Os valores destes
parâmetros possuem uma dependência directa com as características do material analisado,
bem como dos valores adoptados para a tensão de carga, tempo de carga e tempo de descarga.
A primeira aplicação de medidas de tensão de retorno, RVM “Return Voltage Measurement”,
como método de diagnóstico foi na avaliação da presença de humidade no isolamento de papel
impregnado com óleo utilizado nos transformadores. Na década de 90 esta técnica começou a
ser utilizada como método de diagnóstico preditivo para avaliar a presença de arborescências
em água no interior do isolamento de cabos de potência extrudados
O isolamento de cabos com arborescências em água apresenta uma resposta dieléctrica não
linear, explicada pelas seguintes teorias:
As arborescências são formadas por micro-lacunas, contendo água, interligadas por canais
delgados de natureza isolante. Quando sob o efeito de campos eléctricos intensos, os
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diâmetros destes canais são alargados devido à presença de água e tornam-se condutores,
resultando em maiores perdas.
Tem sido explicado, também, que a tensão de retorno nos cabos isolados em polietileno
com arborescência é influenciada pelo aumento da injecção de cargas devido à presença de
humidade ou pelo número de transportadores iónicos pré-existentes e deslocamento de
carga espacial.
O método de medida de tensão de retorno distingue-se dos outros métodos de diagnóstico que
são focados no fenómeno de descargas parciais e na existência de arborescências eléctricas.
Como qualquer método novo a medida de tensão de retorno tem evoluído muito em termos de
conhecimento e experiência. Comparada com outras técnicas de diagnóstico no domínio do
tempo como, por exemplo, medidas de corrente de relaxação, a medida de tensão de retorno
apresenta a vantagem de ser menos sensível a ruídos, o que é um importante factor para
medidas em campo
Exemplo
Para se comprovar a eficiência do processo, foi utilizado um transformador de 345kV,
133MVA de fabrico IEBB, com valores de humidade de papel inicialmente de 2,09%, medidos
através do RVM. A intenção era efectuar um processo de secagem suficientemente lento de
forma a permitir que a humidade contida no isolamento sólido fosse transferida para o óleo
isolante, auxiliada pela temperatura de operação do transformador, que permaneceria em
operação. A entrada de óleo para o sistema de filtragem foi feita a partir da válvula inferior e o
retorno pela válvula superior. O vácuo foi aplicado em todo o sistema (filtros, mangueiras e
bomba de óleo).
.
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O resultado final de RVM mostra que o valor de humidade da parte activa decresceu de 2,09
para 1,6% e apresenta-se uniformemente distribuído pelo isolamento, comprovando a
eficiência do processo de secagem
Repetindo este procedimento para vários tempos de carga e mantendo-se uma relação tc/td=2,
obtêm-se uma família de curvas de tensão de retorno. A envoltória dos picos é chamada de
espectro de polarização. O pico desta envoltória representa uma resposta global dominante para
o isolamento e também um determinado teor de humidade.
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Gerador
Degradação Térmica
A degradação térmica no sistema de isolamento de um gerador ocorre regra geral devido a
Perda da rigidez mecânica por aquecimento prolongado
Afrouxamento do isolamento entre camadas, vibração de condutores, falhas por descargas
parciais que conduzem facilmente a defeitos á massa do isolamento
Sobreaquecimento de devido a sobrecarga, falha na refrigeração, correntes de inrush,
desbalanceamento de tensões.
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Cálculos:
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Ensaios em Capacitores
C = (I.106) / (E.ω)
Onde:
C = Capacitância [µF]
I = Corrente [A]
ω = Frequência, 2πf
E = Tensão aplicada [V]
Potência reactiva, Q
Q = V2.ω.C.10-3
Onde:
Q = Potência reactiva [kVar]
V = Tensão nominal do capacitor [kV]
C = Capacitância [µF]
Critérios:
A diferença entre as capacitâncias de duas unidades de mesma especificação pode ser até 15 %
A potência obtida através da capacitância medida não deve diferir da potência nominal em:
B) Isolamento
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Na figura é ilustrado o circuito simplificado de um TC, onde i1/n é a corrente secundária total
(corrente primária dividida pela relação de transformação), ie é a corrente de excitação do
núcleo e i2 é a corrente disponível no terminal secundário, que alimenta a carga R. O valor de
i2 é dado pela equação i2 = (i1/n) – ie. Xm, Rm e Zm representam, respectivamente, a indutância,
a resistência e a impedância do ramo de magnetização
A corrente de excitação está sempre presente, porém seu valor é muito pequeno em condições
normais, pois a impedância do ramo de magnetização é grande. Sendo assim, o erro causado
devido à ie é muito pequeno. Contudo, quando ocorre a saturação, o valor de Zm cai
drasticamente, e a maior parte da corrente passa pelo ramo de magnetização, causando
distorção na forma de onda do sinal recebido pela carga do TC.
Durante a saturação do TC, a impedância vista por relés de distância (Z=V/I) pode ser maior
do que o valor esperado, promovendo assim um problema de desbalanceamento neste tipo de
protecção
As principais causas da saturação dos TCs são as componentes unidireccionais das correntes
de curto-circuito, o fluxo magnético remanescente no núcleo e a carga do TC. Além disso, um
TC mal dimensionado pode saturar por não acomodar o fluxo magnético gerado durante
eventos como curto-circuitos. Uma solução para esse caso seria o dimensionamento do TC com
um núcleo maior, entretanto, isso aumentaria o custo do transformador de corrente.
Por esses motivos, vêm sendo estudados métodos que visem detectar os intervalos de saturação
dos TCs, para então providenciar a correcção dos sinais de corrente distorcidos em virtude
desse fenómeno. Assim, garante-se o funcionamento adequado dos esquemas de protecção
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Onde:
Vs = Tensão de saturação (Ver tabela de cargas nominais)
F = Factor de sobrecorrente (ASA, ANSI, NBR 6856 = 20 IN)
IN = Corrente secundária nominal (5A, com raras excepções)
RI = Resistência do enrolamento secundário a 75°C
RC = Resistência da carga nominal
XI = Reactância do enrolamento secundário
XC = Reactância da carga nominal
Capítulo 8
Sobretensões, e Coordenação de Isolamento
Sobretensões
Um dos factores preponderantes que condiciona o funcionamento de todos os equipamentos e
sistemas eléctricos é o isolamento das suas partes condutoras com o meio exterior. Para além
dos riscos que as falhas de isolamento podem constituir para a integridade física de pessoas e
animais, o isolamento de um equipamento eléctrico é fundamental para o seu correcto
funcionamento. Este é feito através de materiais isolantes ou dieléctricos, cuja baixa
condutividade permite conter a corrente eléctrica dos meios exteriores.
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alterações quando sujeitos a campos eléctricos extremos, ou tensões elevadas derivado da sua
geometria.
Sobretensões de Manobra
Quando ocorre uma manobra numa rede os seus componentes ficam sujeitos a tensões e
correntes com uma grande amplitude de frequências, podendo variar entre 5 kHz e mais de 100
kHz. Ao longo de uma tão grande gama de frequências os componentes da rede não têm
características constantes, o que obriga a sua modelização em função da frequência. Por outro
lado, os modelos utilizados deverão ser capazes de representar tanto componentes de
características concentradas (geradores, transformadores) como de características distribuídas
(cabos, linhas aéreas). Igualmente deverão ser capazes de modelizar as não linearidades
resultantes dos pára-raios, saturação dos circuitos magnéticos, arcos eléctricos, etc. Os
componentes não são de fácil modelização pelo que há sempre necessidade de recorrer a formas
aproximadas de representação. Terá assim sempre que haver um compromisso entre a precisão
do método, a velocidade de cálculo e os meios disponíveis.
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Como há duas incógnitas, I e Vc, necessitamos de duas equações. A segunda equação será
então
Uma vez que, depois de a corrente ter sido eliminada através do disjuntor, o único circuito
possível para a corrente é através do condensador
A tensão de restabelecimento nos contactos do disjuntor depois de a corrente ter sido eliminada
será
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da linha respectivamente L2 e C2, para que se estabeleça um circuito ressonante. Por outro lado,
a montante do disjuntor, isto é, do lado da fonte de tensão, também haverá normalmente auto-
indução e capacidade, L1 e C1, que darão origem a um novo sistema oscilante de frequência
própria
Sobretensões Atmosféricas
Resumindo a teoria mais aceite, tem-se que o processo é composto de duas partes: primeiro a
electrificação das partículas e em seguida a separação espacial destas. A geração de iões baseia-
se nos movimentos cíclicos ascendentes e descendentes que ocorrem dentro das nuvens, os
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Com os contínuos processos de ascensão dentro da nuvem, as gotas ascendentes entregam iões
negativos à base da nuvem e sobem com carga eléctrica positiva. Como os iões negativos
possuem menor energia cinética que os iões positivos, estes acabam descendo e acumulando-
se na parte inferior da nuvem, o que faz com que os iões positivos se acumulem na parte
superior.
Aproximadamente 95% das nuvens ficam carregadas como descreve o processo acima. Porém,
os mecanismos de electrificação das nuvens são mais complexos que este simples resumo,
envolvendo vários fenómenos não descritos aqui.
O processo da descarga ao solo começa com a elevação do campo eléctrico acima do valor de
rigidez da atmosfera presente, quando então ocorre o surgimento e expansão de caminhos
ionizados de pontos da nuvem. Estes líderes descendentes caminham em passos de
aproximadamente 10 metros em poucos micro segundos (µs), carregando o canal com cargas
negativas retiradas da nuvem, quando estes começam a se aproximar do solo provocam o
aparecimento de caminhos ionizados que partem deste carregando um canal com carga
eléctrica positiva. Quando estes dois líderes encontram-se ocorre a primeira descarga
atmosférica, denominada descarga de retorno, como pode ser visto no diagrama
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Uma descarga atmosférica pode terminar após a descarga de retorno, a qual descarrega o canal
e a nuvem. Porém pode ser sucedida por outras descargas subsequentes, de uma até mais de 15
descargas, dependendo da quantidade de cargas de que a nuvem ainda dispõe, com intervalos
de poucos ms entre cada uma. O processo da descarga subsequente é muito similar ao da
primeira descarga, porém inicia-se com o chamado “dart leader”, o qual tem a mesma função
da descarga líder, contudo não caminha em passos, sendo um processo contínuo. Esta
aproveita-se do canal quente e ionizado formado pela primeira descarga para descarregar
eventuais cargas que venham a se deslocar na nuvem, após a nova junção dos líderes ocorre
novamente uma descarga de retorno.
No processo de ionização a descarga líder caminha em passos com velocidade de 2.105 m/s,
de 100 a 1000 Amperes (A) e carga negativa de 10 Coulomb (C) ou mais. A descarga de retorno
é um dos mais importantes componentes da descarga atmosférica, pois possui alta energia e
tempo de trânsito baixo. Possui tempo de frente de poucos µs e tempo até meio valor de pico
(cauda) em torno de 50µs. A descarga líder subsequente, “dart leader”, possui velocidade
média de 3.106 m/s, 1 C de carga e aproximadamente 1 kA de corrente.
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O primeiro tipo responde por 90% das descargas ao solo, o tipo 2 responde por quase 10%, e
os tipos 3 e 4 são específicos de descargas que somente ocorrem com a presença de estruturas
elevadas aterradas, acima de 100 m, ou de objectos localizados no alto de montanhas.
Corrente de Descarga
Normalmente, uma descarga atmosférica é modelizada por uma fonte de corrente com forma
de onda, polaridade e amplitude adequadas considerando, eventualmente, a colocação de uma
resistência de algumas centenas de Ohms em paralelo com a fonte de corrente para simular a
influência da impedância do canal de descarga. De entre inúmeras expressões matemáticas
representando funções com características de concavidade adequadas, a CIGRE propõe que a
corrente de descarga seja obtida pela adição de duas funções: uma relacionada com a frente da
onda, atingindo o máximo gradiente para 90% da amplitude, e outra relativa à cauda da onda,
com gradiente máximo no início, permitindo uma transição estável de uma curva para a outra
e uma representação correcta da cauda da onda. Na frente de onda a curva é descrita pela função
I(t), sendo as constantes A e B calculadas a partir da amplitude da corrente (IP), do tempo
equivalente de frente (Tf) e do gradiente máximo da onda (Gm), recorrendo à sequência de
cálculo apresentada nas expressões:
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Onde I1 e I2
Conceitos Fundamentais
São vários os factores que contribuem para o dimensionamento do isolamento de um sistema
eléctrico. Como ponto de partida, é necessário conhecer as solicitações dieléctricas do sistema,
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Desta forma, a tensão de disrupção de um intervalo não pode ser fornecida sem o conhecimento
da probabilidade de disrupção que o caracteriza, sendo que a forma mais comum de o
caracterizar é através da tensão que quando aplicada ao dieléctrico, apresenta uma
probabilidade de 50% de o disromper, denominando-se U50. Porém, para efeitos de
coordenação de isolamento, é comum utilizar-se a tensão U10, correspondente à tensão para a
qual existe uma probabilidade de 10% de ocorrer disrupção do intervalo, associando-se à
designação de tensão suportável. É ainda utilizada a tensão U0 para definir o nível de tensão
para o qual deixa de existir disrupção do intervalo, sendo este valor convencionado em relação
à tensão U50 devido à maior facilidade de cálculo deste valor.
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corresponde a uma falha de isolamento devido a uma sobretensão de manobra, por cada 1000
sobretensões de manobra.
Procedimento Geral
O procedimento para coordenação de isolamento consiste na determinação da tensão máxima
do equipamento (Um), bem como um conjunto de valores normalizados de tensão suportável
nominal (Uw), que caracterizam o isolamento necessário para uma aplicação.
Um conjunto de valores normalizados de tensão suportável nominal (Uw) constitui um nível
nominal de isolamento. Se um nível nominal de isolamento estiver associado a uma tensão
máxima de equipamento (Um), este conjunto constitui um nível de isolamento padrão.
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- Precisão da análise;
- Outros factores desconhecidos
Classe II:
- Alta e muito alta: Vm > 242 kV
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denominada de sobretensões de frente muito rápida, que gerou uma reorganização das
designações aceites pela CEI.
Regime Permanente
Solicitação que constitui o limite mínimo a garantir durante toda a vida útil do equipamento,
quando sujeito à tensão nominal do sistema. Apresenta análises idênticas nos dois documentos.
Sobretensões Temporárias
Para esta classe de sobretensões, ambos os documentos salientam a dificuldade existente na
limitação de sobretensões e consequente protecção do sistema. A utilização de descarregadores
de sobretensões é limitada a casos especiais (apenas efeitos ressonantes, após estudo térmico
prévio) e a prevenção destas é feita unicamente através de critérios de planeamento e
exploração da rede.
Ambos destacam as seguintes fontes de sobretensões temporárias:
- Defeito à terra;
- Rejeição de carga;
- Ferro-ressonância
Contudo, as ligações e religações de linhas são as fontes desta classe de sobretensões com
maior expressão na operação de uma rede de muito alta tensão, sendo desta forma as que
apresentam a análise mais detalhada nos dois guias. Desta forma, ambas apresentam intervalos
de valores das sobretensões de 2% (valor da tensão de determinada classe de sobretensões cuja
probabilidade de ser excedido é de 2%) para as sobretensões de manobra desta fonte. Estes
intervalos são dados para várias configurações de rede, para ligações e religações de linhas,
sem utilização de descarregadores de sobretensões a limitar as amplitudes das sobretensões.
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Para sobretensões de frente rápida, são definidas e analisadas conjuntamente as seguintes fontes
desta classe:
- Contornamento directo – devido a uma descarga incidente num dos condutores de fase;
- Contornamento inverso – devido a uma descarga incidente na torre ou nos cabos de guarda;
Ambos os guias referem a reduzida expressão das sobretensões induzidas para as tensões
normalmente utilizadas na transmissão, já que estas provocam sobretensões cuja amplitude não
ultrapassa os 400kV, sendo os seus efeitos desprezados para linhas com tensão de
funcionamento superior a 72,5kV.
Na limitação destas sobretensões, ambos referenciam cabos de guarda para descargas directas,
aumento de isolamento ou redução da impedância dos eléctrodos de terra para contornamento
inverso, e descarregadores como medida de protecção dos equipamentos do sistema. Na Tabela
2, apresentam-se as várias características dos descarregadores que são tidas como base para o
seu dimensionamento, segundo cada documento.
Suportabilidade Dieléctrica do Ar
A suportabilidade dieléctrica refere-se à capacidade que um determinado meio dieléctrico
apresenta para resistir à disrupção do mesmo. Sendo este capítulo dedicado à coordenação de
isolamento de linhas aéreas, esta alínea irá centrar-se no dieléctrico que maior expressão tem
neste meio, o ar.
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Onde x = (U-U50)/Z
Por outro lado, o guia de coordenação de isolamento propõe a utilização de uma distribuição
Gaussiana
Onde x = (U-U50)/Z
Onde
σ Representa o desvio padrão (percentagem);
δ Representa a densidade relativa do ar;
h Representa a humidade absoluta (g/m3).
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Para o cálculo das distâncias no ar refere-se que todas as expressões empíricas se baseiam na
configuração ponta positiva - plano como referência, sendo as conversões para outras
configurações feitas através de um factor de intervalo. Por outro lado, é importante salientar
que as equações abaixo se referem ao conceito de tensão crítica.
Onde K+ representa o factor de intervalo. Para efeitos de comparação, todos os intervalos serão
considerados com configuração ponta positiva - plano, a que corresponde um facto de intervalo
unitário. A CEI apresenta uma única expressão para uma maior gama de valores:
Método Determinístico
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Onde a “tensão suportável convencional” corresponde à tensão para o qual o intervalo tem uma
probabilidade de disrupção convencionada de 0% (U0 ≈ U50 (1-2,5σ) e a “sobretensão máxima
convencional” corresponde à tensão de corte superior da função de densidade de probabilidade
das sobretensões (Uet). No guia da REN, Kcd é ainda referido como γc.
Método Probabilístico
O método probabilístico é definido de forma idêntica para os dois casos, variando apenas a
função de distribuição acumulada das sobretensões utilizada
Onde
R é o risco de falha de isolamento;
f0 é a função de densidade de probabilidade das sobretensões;
P(U) é a probabilidade acumulada de disrupção do intervalo de ar.
Como foi já referido anteriormente, a CEI utiliza uma função de Weibull modificada, enquanto
a REN apresenta uma distribuição Gaussiana.
Porém, o método mais aplicado actualmente é uma variação deste método, denominada Método
Probabilístico Simplificado. Para ambos os guias, este método é definido da seguinte forma:
Sobretensão estatística, correspondente a 2% de probabilidade de ser excedida (Ue2 ou Us);
Sobretensão suportável estatística, correspondente a 10% de probabilidade de existir
disrupção do dieléctrico (U10 (CEI) ou Uw (REN)).
O risco de falha de isolamento pode ser correlacionado com um factor estatístico de
coordenação de isolamento
Onde
Kcs corresponde ao factor estatístico de coordenação de isolamento;
U10 corresponde à tensão que tem 10% de probabilidade de disromper o intervalo de ar (Uw no
guia da REN);
Ue2 corresponde à tensão que tem uma probabilidade de 2% de ser excedida numa sobretensão
(Us no guia da REN).
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A comparação das diferenças suscitadas pelos casos referidos anteriormente será estudada
através de três diferentes gráficos. O primeiro representará a relação existente entre o risco de
falha de isolamento e o valor médio (U50) da função de probabilidade acumulada da tensão de
disrupção do intervalo. O segundo representará a relação entre o factor estatístico de
coordenação de isolamento, novamente com o U50. O terceiro resultará da fusão dos dois
primeiros gráficos, obtendo a relação entre o risco e o factor estatístico.
Nas figuras abaixo apresenta-se uma representação gráfica do cálculo do primeiro gráfico, onde
os pontos assinalados equivalem à tensão correspondente. Recorda-se que γ corresponde ao
factor estatístico de coordenação de isolamento, Uw e Us correspondem a U10 e Ue2
respectivamente, sendo o valor médio e o desvio padrão da função de densidade de
probabilidade das sobretensões dada por mu e σu, e o valor médio e o desvio da função de
probabilidade acumulada que caracteriza a disrupção do intervalo é dada por U50 e σ
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Através da figura (risco de falha de isolamento em função da tensão U50) podemos verificar
que os valores do risco são idênticos para valores reduzidos de U50. Porém, para valores cada
vez maiores de U50, começa a verificar-se uma diferença significativa entre os valores do risco
utilizando a distribuição Gaussiana e os que utilizam a distribuição de Weibull ou a Gaussiana
truncada. Daqui se conclui que a truncagem de valores efectuada nestes dois últimos casos é
responsável por esta diferença, sendo apenas expressiva para valores elevados de U50, nos quais a
área retirada pela truncagem é mais significativa.
Para a gama de valores mais elevados de U50 pode ainda verificar-se uma diferença entre a
Weibull e a Gaussiana com truncagem. Dado que a truncagem destas duas é feita de forma
análoga, esta diferença entre valores espelha a diferença que existe entre as duas distribuições
de probabilidade, devido ao facto da distribuição de Weibull modificada ter valor nulo no seu
valor de corte, contrariamente à Gaussiana.
Dado que a distribuição de probabilidade das sobretensões e o desvio da distribuição de
probabilidade acumulada da tensão de disrupção é mantido constante, o valor do factor
estatístico é idêntico para os três casos, como se pode ver na Figura (relação entre o factor
estatístico e o valor U50).
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Após observação das figuras acima, verificamos que embora os valores do risco e do factor
estatístico variem em função dos valores médios das sobretensões, estes desvios não se
traduzem na relação final entre risco e factor estatístico
Este facto é explicado através da própria definição do método probabilístico simplificado, cuja
expressão se representa de seguida
Como podemos retirar da acima, para um valor constante do factor estatístico, a relação entre
U50 e mu é constante. Como consequência, para um dado factor estatístico temos imposta a
posição relativa entre as duas distribuições, bem como o respectivo valor do risco. Desta forma,
a uma variação de mu vai corresponder uma variação solidária das duas distribuições, mantendo
sempre constante o valor do risco correspondente ao factor estatístico considerado.
Na figura abaixo é apresentado um exemplo gráfico desta situação, para três valores distintos
de mu (mu =1, 2, 3) e mantendo o factor estatístico constante (γ=0,8).
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De forma similar aos casos anteriores, a figura mostra novamente a relação entre o factor
estatístico e a tensão U50, para os três conjuntos de valores médios e desvios considerados.
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Verifica-se também que quanto menor for o par (mu;σu), o decrescimento do valor do risco com
a tensão U50 é maior, devido à menor esparsidade da distribuição das sobretensões. Da mesma
forma, quanto menor este par, maiores serão os valores do factor estatístico e maior será a sua
inclinação e gama de valores, para os mesmos valores de U50. Conjugando estes dois factores,
quanto menor for o conjunto (mu;σu), mais decrescente será a curva correspondente ao risco de
falha de isolamento
Distâncias no Ar Normalizadas
Neste capítulo serão analisadas as distâncias no ar propostas pelas duas normas como forma de
isolamento dos condutores de linhas aéreas.
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Procedimento Geral
Como foi visto anteriormente, o procedimento geral de coordenação de isolamento sugerido
pelos dois documentos é similar. Ambos sugerem como ponto de partida as sobretensões
representativas de um sistema, que após a aplicação de vários factores, referentes aos métodos
de coordenação de isolamento e a diferentes condições de teste, resultam em valores de tensões
suportáveis do isolamento. Porém, destes valores até à obtenção das distâncias no ar, os dois
guias seguem metodologias divergentes.
No guia da CEI, após a obtenção das tensões suportáveis do isolamento, estas são normalizadas
juntamente com a tensão máxima do sistema. Através destes valores de isolamento
normalizados, são obtidos directamente todos os tipos de distâncias no ar (a partir das tabelas
pertencentes ao Anexo A do documento CEI 60071-2).
No guia da REN, cada tipologia de distâncias no ar tem uma metodologia de cálculo específica
que será pormenorizada nos capítulos seguintes, na comparação dos vários tipos de distâncias.
Hastes de Descarga
Nesta alínea, pretende-se analisar a distância no ar que é efectivamente dimensionada através
das sobretensões originárias no sistema, ou seja, distâncias entre hastes de descarga ou
protecção. Esta distância não é equivalente ao comprimento das cadeias de isoladores, já que
estas são dimensionadas a partir da linha de fuga de cada isolador e da poluição a que a linha
está sujeita, sendo estas distâncias superiores às das hastes de descarga.
No guia da REN, na altura da sua execução, não tinham ainda sido publicados valores
normalizados de tensões para linhas aéreas, por parte de CEI. Desta forma, o guia da REN
utiliza os valores de tensão suportável normalizados pela CEI para o choque atmosférico do
painel de linha, respeitantes a toda a aparelhagem de corte e manobra das subestações,
transformadores de medição, travessias, distâncias no ar, colunas de isoladores, etc. Da gama
de valores normalizados, a REN utiliza valores fixos definidos pela EdF para os 72,5kV e
170kV. Para os 245kV, utiliza um valor menor que os 1050kV utilizados da EdF, e para os
420kV utiliza os valores mínimos recomendados pela CEGB17 e os valores máximos sugeridos
também pela EdF.
Através destes valores, utilizando as expressões que relacionam a tensão U50 com a distância
de disrupção (Equação 11 e 12), bem como os valores da Tabela 6 que apresentam os valores
de tensão correspondentes a 0,6% e 99,6% de probabilidade de disrupção de um intervalo de
ar (valores de 0% e 100% normalizados), é apresentado na tabela
Distâncias de contornamento
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Como se pode verificar, este quadro apresenta, para cada nível de tensão e tipo de cadeia de
isoladores, uma gama de distâncias entre dispositivos de guarda em que os extremos
correspondem a um contornamento com 99,6% de probabilidade de ocorrência e a outro com
0,6%. Destes dois extremos, consoante o desempenho necessário para a linha, é escolhido
assim o valor ou gama de valores aceitável para a distância mínima entre peças em tensão e
apoios, ou dispositivos de guarda, apresentados na tabela.
Na figura abaixo são comparadas as distâncias mínimas entre peças em tensão e apoios (hastes
de descarga), tendo sido os valores da CEI retirados das tabelas do Anexo A, e as distâncias da
REN retiradas do anexo IV, dos valores efectivamente utilizados nas hastes de protecção das
cadeias para cada nível de tensão.
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Como se pode verificar, os valores máximos das distâncias sugeridas são semelhantes para os
dois guias. Porém, para os valores mínimos, verifica-se que a partir dos 170kV, a CEI sugere
distâncias consideravelmente mais reduzidas para os valores mínimos
No guia da CEI é referido que as distâncias sugeridas nesse guia dizem respeito unicamente à
coordenação de isolamento, não incluindo qualquer especificação relativa a segurança. Porém,
tendo em conta alterações de geometria devido ao vento e esforços electrodinâmicos, no quadro
19 do guia da REN são especificadas as distâncias mínimas de segurança entre condutor e
apoio, sugeridas pelo projecto de revisão do Regulamento de Segurança de Linhas Eléctricas
de Alta Tensão. Embora estas distâncias sejam menores que as apresentadas na tabela (Gama
de distâncias entre hastes de descarga), este facto pode explicar a diferença existente nas
distâncias mínimas apresentadas. Verifica-se também que os valores normalizados do painel
de linha correspondem aos valores mais elevados das tensões normalizadas utilizadas pela CEI,
o que resulta num sobredimensionamento destas distâncias ao não considerar valores de
tensões suportáveis mais reduzidas.
Cadeias de Isoladores
Tanto na REN como na CEI, o comprimento da cadeia de isoladores é definido através da
capacidade de isolamento em condições nominais de funcionamento. Nestas condições, a
poluição a que as cadeias estão sujeitas é preponderante para a definição da cadeia, definindo
assim a linha de fuga específica, cujos valores são apresentados na tabela abaixo, sendo
definidos de igual forma nos dois guias.
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Definindo a linha de fuga total associada a cada nível de tensão e poluição, e a linha de fuga
de cada isolador, dividindo a linha de fuga total por esta última obtém-se o número de
isoladores constituintes da cadeia, e com esta o comprimento da cadeia de isoladores. Existe
porém o caso especial das cadeias com menos de 10 elementos, em que tem de se garantir
que a perda de um elemento não afecta o funcionamento total da cadeia.
Porém, como se pode ver através do anexo IV presente no guia da REN, apenas são utilizados
pela REN os valores de poluição média, forte e muito forte, não existindo cadeias
implementadas com níveis de poluição ligeira. Salienta-se ainda que os valores de linha de fuga
específica para as cadeias de 400 kV são menores do que os 3,1 cm/kV normalizados
Onde
K=0,6;
f - representa a flecha média (m);
l - representa o comprimento da cadeia (m);
U - a tensão nominal (kV).
Da tabela a seguir verificamos que para qualquer tipo de cadeia, a probabilidade de disrupção
do intervalo quando aplicada a sua tensão suportável ao choque atmosférico do painel de linha
são praticamente constantes para os níveis de tensão entre 420kV e 245kV. Por conseguinte,
verifica-se que estes dois níveis de tensão são projectados para ter o mesmo nível de
desempenho. O mesmo já não acontece nos restantes níveis de tensão, onde se verifica uma
subida acentuada destas probabilidades com a diminuição do nível de tensão, sinal que a partir
dos 245kV se reduz a exigência relativa ao desempenho.
Em relação às cadeias laterais, verifica-se que as duas distâncias geram uma probabilidade de
disrupção abaixo dos 10% entre os 420kV e 245kV, mas que esta gama de probabilidades
aumenta consideravelmente (8% a 87%, nos 170kV) para os níveis de tensão mais baixos. Esta
característica, também presente nas cadeias centrais, permite utilizar a distâncias entre hastes
de descarga como equipamento de protecção a instalar na vizinhança de subestações. Conclui-
se ainda que a sensibilidade da probabilidade de disrupção dos dois tipos de hastes de descarga
em relação à gama de distâncias não é constante. Para os dois valores mais elevados de tensão,
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Nos casos em que se verifica que as hastes de descarga das cadeias centrais estão mais
fragilizadas do que as cadeias laterais, é necessário projectar as cadeias centrais com uma
distância entre hastes superior à relativa às cadeias laterais de forma a manter constante o
desempenho da linha.
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Como se pode verificar, existem factores topológicos que condicionam estas amplitudes.
Genericamente, podemos concluir que a religação de linhas, numa rede com carácter indutivo
e com reduzida compensação paralela, vai gerar sobretensões representativas com amplitudes
superiores, gerando consequentemente valores superiores de tensões suportáveis necessárias.
Em relação às sobretensões devidas a defeitos e eliminação de defeitos, a sua amplitude é
determinada pelo factor de defeito à terra. Se este for superior a 1,5, as sobretensões devido ao
início do defeito serão superiores às devidas à sua eliminação (estas últimas fixas e iguais a 2
pu).
Já nas sobretensões de frente rápida, a sua amplitude depende das características da linha.
Quanto maior for a impedância de onda da linha e a resistência do eléctrodo de terra, maior
será a amplitude das sobretensões. Por outro lado dependerá também da corrente injectada pela
descarga atmosférica, cujo valor dependerá da quantidade de cabos de guarda instalados.
Após as sobretensões estarem caracterizadas, são aplicados três factores até serem obtidas as
tensões suportáveis necessárias: o factor de coordenação de isolamento, o factor de altitude e
o factor de segurança.
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Onde H é a altura acima do nível do mar (m); m uma constante que varia consoante a classe de
sobretensões.
Considerando sobretensões atmosféricas e um valor de m = 1, obtemos o gráfico abaixo.
Verifica-se que quanto maior for a altitude a que a linha for instalada, maior será o factor a
aplicar, e maior será a tensão suportável necessária a aplicar
Variação do factor m
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a) Isolamento fase-terra
b) Isolamento longitudinal
c) Isolamento fase-fase
d) Isolamento haste-plano
Como se pode verificar pela figura acima, tal como no caso anterior o factor de correcção de
altitude aumenta com o aumento da altitude. Porém, como se pode ver na figura este aumento
é tanto maior quanto maior for o factor m, e consequentemente quanto menor for a tensão
suportável de coordenação de isolamento obtida com Kc.
O factor de segurança é fixo para isolamentos externos e igual a Ks = 1,05.
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Caracterização de Intervalos de Ar
Como ponto de partida para a definição de um isolamento constituído por um intervalo de ar,
é necessário definir as solicitações que limitam a sua função. Sendo a disrupção de um intervalo
de ar um processo que apenas pode ser descrito de forma probabilística, estas limitações são
definidas a partir da tensão que aplicada aos extremos do intervalo, provoca a disrupção deste
com uma probabilidade de 50% - U50.
Esta tensão depende tanto das características do intervalo (forma dos eléctrodos e distâncias
entre eléctrodos) como das características da tensão (forma, tempos característicos e
polaridade). Dado que as características do intervalo são o principal elemento a dimensionar,
esta análise terá de ser feita para cada classe de sobretensões emergente no sistema.
Tendo já definido os tempos característicos como sendo o tempo crítico para cada intervalo,
resta-nos definir a polaridade e a configuração dos eléctrodos para definir completamente a
tensão e o intervalo, fazendo variar apenas o comprimento deste. Verifica-se que definindo a
tensão de disrupção de um intervalo para a configuração ponta-plano, as tensões para as
restantes configurações podem ser dadas através de um factor de intervalo k, quantificado
empiricamente. Verifica-se também através destes trabalhos, que na maioria dos casos os
impulsos de polaridade positiva são os que resultam em menores tensões de disrupção, sendo
por isso a polaridade escolhida para realizar o dimensionamento destes intervalos.
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No artigo publicado por V. S. Syssoev em 2003, encontra-se uma lista muito completa da
evolução das expressões que relacionam a tensão de disrupção crítica com a distância entre
eléctrodos. Essas expressões foram acrescentadas à lista apresentada de seguida, organizada
por ordem cronológica.
Uma das primeiras expressões conhecidas a relacionar a tensão de disrupção crítica com a
distância entre eléctrodos foi proposta por G. N. Alexsandrov em 1969.
Sendo hf o valor médio do comprimento do traçador na zona de salto final. Uma das primeiras
e mais relevantes expressões conhecidas a relacionar a tensão de disrupção crítica com a
distância entre eléctrodos foi proposta por G. Gallet, G. Leroy, R. Lacey e I. Kromer em 1975.
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Com σ igual ao desvio padrão das sobretensões de frente lenta (autor admite 5%).
Publicado também em, por I. Kishizima, K. Matsumoto e Y. Watanabe em 1984 foi a Equação
9 (já aqui apresentada), cuja dispersão resultou na inclusão na norma CEI 60071-2.
Presente também no guia da REN está a equação, publicada em 1985 por R. Cortina, E.
Garbagnati, A. Pigini, G. Sartorio e L. Thione.
Por último, apresenta-se a equação baseada no modelo de progressão do traçador e nos valores
experimentais da Equação 9. Foi publicada em 2003 no artigo já atrás mencionado de V. S.
Syssoev.
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Sendo σ o desvio padrão admitido para sobretensões de frente lenta, e b(d) a equação (sendo e
a base do logaritmo natural).
Porém, dado que muitas destas expressões foram estabelecidas através de dados experimentais,
cada uma delas tem uma gama de valores de comprimento do intervalo para o qual tem
validade.
A primeira expressão foi desenvolvida por Paris e Cortina e é traduzida pela equação
Também referido estão os trabalhos realizados pela CIGRÉ, nomeadamente as duas expressões
oferecidas pelo CIGRE Technical Bulletin.
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Dado que todas estas expressões foram determinadas de forma empírica, cada uma delas é
válida para uma determinada gama de valores.
Distâncias Fase-Terra
As distâncias nos apoios são caracterizadas pelas distâncias entre hastes de descarga e pelas
distâncias entre peças em tensão e apoio. As distâncias entre hastes de descarga são definidas
através de métodos de coordenação de isolamento face a sobretensões fase-terra e baseiam-se
nas distâncias mínimas dadas pelas normas da CEI. Por sua vez, as distâncias entre peças em
tensão e apoio são distâncias de segurança cujo cálculo não está directamente relacionado com
as sobretensões fase-terra originárias no sistema, mas com a possibilidade de falha de
isolamento à frequência nominal devido à movimentação dos condutores por acção térmica e
de forças mecânicas.
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ao nível de tensão, conjugadas com riscos de falha de isolamento reduzidos, altitudes elevadas
e factores de intervalo reduzidos, resultam em tensões suportáveis que geram distâncias
próximas dos maiores valores da gama. Em contrapartida, sobretensões de valores
normalizados baixos juntamente com riscos de falha de isolamento menos conservadores,
altitudes baixas e factores de intervalo maiores, geram tensões suportáveis que correspondem
aos menores valores de distâncias mínimas
Distâncias Fase-Fase
Ao longo do vão, é necessário garantir que não existem falhas de isolamento entre fases. Para
tal, dois tipos de distâncias têm de ser garantidos para assegurar o normal funcionamento da
linha. O primeiro refere-se à coordenação de isolamento fase-fase e visa garantir que
sobretensões de frente rápida e lenta não causem disrupções dieléctricas entre duas fases.
Porém, como foi já anteriormente enunciado, esta distância é calculada com os condutores
estáticos, sem consideração de vento ou alterações na geometria, seja dos próprios cabos, ou
das estruturas envolventes como por exemplo cabos de guarda. Adicionalmente, é necessário
garantir uma distância suficiente entre fases que permita que as oscilações dos condutores
devido ao vento não causem disrupções à frequência nominal.
Aplicando métodos de coordenação de isolamento à distância entre condutores, chegamos aos
resultados propostos pela CEI para distâncias mínimas fase-fase, para cada nível de tensão.
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Estas diferenças devem-se a duas razões fundamentais. A primeira explica a discrepância entre
os vários níveis de tensão, que se deve ao método de cálculo diferenciado utilizado pela CEI.
Para sistemas com tensões iguais ou inferiores a 245kV, as distâncias fase-terra não são
diferenciadas das fase-fase, razão pela qual aparentam estar subdimensionadas. A segunda diz
respeito à discrepância nos valores máximos para os 420kV e deve-se à diferente definição de
factores de intervalo. Tanto a CENELEC como a CIGRÉ sugerem a utilização de factores de
intervalo do tipo condutor-condutor-paralelo, correspondente a aproximadamente k=1,6. A
CEI, devido à sua herança de dimensionamento de subestações, propõe também distâncias
calculadas através de um factor de intervalo de k=1,15, correspondente a configurações do tipo
ponta-condutor de onde resultam distâncias finais substancialmente maiores.
Porém, como foi anteriormente dito, estas distâncias apenas são válidas para condutores
estáticos, sem vento e em regime transitório consequente de sobretensões. Em regime
permanente (à frequência nominal), para considerar as movimentações dos condutores e outros
factores externos, o guia de coordenação de isolamento da REN definiu as distâncias de
segurança, mais uma vez baseadas no Regulamento de Segurança de Linhas Eléctricas de Alta
Tensão.
Para a distância entre condutores, o guia da REN utiliza a expressão dada pelo Relatório de
Segurança de Linhas Eléctricas de Alta Tensão, que relaciona a flecha da catenária descrita por
um condutor num vão, o comprimento da cadeia de isoladores e a tensão nominal para obter a
distância entre condutores
Começando pelos comprimentos das cadeias, verifica-se através do anexo IV do guia da REN,
que os valores utilizados são manifestamente superiores aos valores máximos previstos para as
cadeias de isoladores com o maior nível de poluição, para cada nível de tensão.
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Condutor -
mísula/mastro
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Trabalhos em Tensão
Como consequência da continuidade de serviço necessária e esperada para uma linha com este
nível de tensão e capacidade de transporte, pode ser necessário efectuar trabalhos de
manutenção com a linha em funcionamento. Esta prática, denominada de “trabalhos em
tensão”, implica geralmente a deslocação de pessoas e ferramentas para a proximidade dos
condutores, sendo imperativo criar distâncias de segurança que comportem a existência de todo
este género de irregularidades sem comprometer a segurança dos serviços de manutenção.
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Onde
U50 é a tensão que tem 50% de probabilidade de romper o intervalo de ar (kV);
Cd é o factor que compensa a existência de elementos isoladores danificados nas cadeias;
Cw é o factor que compensa o enfraquecimento da suportabilidade dieléctrica do ar quando
inseridas ferramentas ou outros objectos metálicos flutuantes no intervalo de ar;
Ca é o factor que compensa as variações atmosféricas, especialmente da altitude;
U50rp representa a tensão que tem 50% de probabilidade de disrupção, com uma configuração
de eléctrodos do tipo ponta positiva – plano.
Desta forma, a tensão U50 que caracteriza o intervalo será escolhida através da maior tensão
normalizada (Uw) presente na tabela 3 da norma 60071-1 da CEI, para sobretensões de frente
lenta e para este nível de tensão, ao invés de aplicar o algoritmo de coordenação de isolamento
para a calcular. Esta tensão, correspondente a U10= 1050kV, pode ser facilmente traduzida para
a tensão U50 através da equação.
Onde
σ é o desvio padrão da distribuição acumulada de disrupção do intervalo, considerada neste
artigo como 5%.
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Onde
B Corresponde ao material constituinte do isolador do tipo “cap&pin”, sendo B=0,75 para
isoladores de porcelana e B=1 para isoladores de vidro temperado. Sendo o pior caso, foram
considerados sempre isoladores de vidro temperado;
nb é o número de isoladores danificados, tendo sido considerado para os cálculos o valor de
10% do total dos isoladores;
n0 é o número total de isoladores da cadeia danificada.
O factor Cw é retirado do pior caso, correspondendo a 0,875 para configurações Condutor –
Janela (k=1,2) e a 0,77 para configurações Condutor – Apoio (k=1,45).
O factor de altitude é calculado através da relação que a densidade do ar tem com esta
Onde
A representa a altitude em m;
t a temperatura em ºC;
t0 = 20 ºC;
α=121x10-6.
Onde
Porém, dado que não faz sentido dimensionar uma linha para o pior caso em termos de altitude,
serão propostas duas configurações, válidas para gamas de altitude diferentes. Uma válida para
instalações até 400m, e outra válida até 1500m.
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Tendo estes valores em conta, para uma linha instalada numa altitude até 400 m, a distância
mínima de aproximação dos condutores numa configuração Condutor – Apoio será de 3,83 m,
sendo que na configuração Condutor – Janela será de 4,2 m.
Desta forma, a estrutura proposta para isoladores normais e em ambientes poluídos, a instalar
até 400m de altitude apresentam-se nas figuras abaixo.
Configuração proposta para 400kV, com cadeia de isoladores normais e trabalhos em tensão
até 400 metros
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Configuração proposta para 400kV, com cadeia de isoladores normais e trabalhos em tensão
até 1500 metros
Configuração proposta para 400kV, com cadeia de isoladores de poluição e trabalhos em tensão
até 1500 metros
Mesmo utilizando uma estrutura válida para altitudes extremas, é possível sugerir uma
configuração mais compacta que as actuais e que cumpra todos os requisitos de segurança.
Desta forma, é possível reduzir a largura de 24m para 19,52m, constituindo uma redução de
18,6% na largura da torre. A distância entre condutores é também reduzida de 12,3m para
9,79m, resultando numa redução de 20,4%.
Selecção de Pára-Raios
Os pára-raios constituem equipamentos indispensáveis nos estudos de coordenação de
isolamento, conforme pode ser visto na figura abaixo. O eixo das abcissas mostra a
classificação da sobretensão em função do seu tempo de duração, enquanto o eixo das
ordenadas identifica o nível de tensão associado. Assim, para sobretensões de manobra ou
atmosféricas, a actuação dos pára-raios limita a tensão sobre o equipamento, de forma que não
haja danos no mesmo.
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A maioria dos varistores instalados actualmente é de Óxido de Zinco, os quais vêm substituindo
os antigos de Carboneto de Silício. Possuem uma relação altamente não-linear entre a corrente
e a tensão, que possibilita não serem desconectados da linha através de gaps. Consistem de
90% de Óxido de Zinco e 10% de outros aditivos diferentes na forma de óxidos (Bi, Sb, Co,
Mn). Os componentes são transformados em pó e misturados. O pó é, posteriormente, prensado
na forma de cilindros e levado a uma temperatura de 1.200ºC
A característica tensão-corrente nos varistores é tal que, para regime normal, a corrente que o
atravessa é de amplitude tão pequena, que quase pode ser considerado um isolante. Durante
sobretensões elevadas, onde correntes da ordem de kA são injectadas, a tensão resultante sobre
o equipamento protegido ficará em níveis aceitáveis.
A figura acima mostra o comportamento de um varistor ligado entre a fase e a terra num sistema
de 420kV. A análise da figura anterior mostra que, para a tensão contínua de operação, uma
corrente residual circula através do varistor. Esta deve-se a uma grande componente capacitiva
e pequena componente resistiva para a terra. Para a relação tensão-corrente somente a parte
resistiva é de importância. Neste caso em particular, a corrente residual é de 100 µA.
Outro ponto a ser ressaltado é o valor de pico de tensão de operação contínua, conforme
definido pela IEC 60099-4 e também chamado de máxima tensão de operação contínua
(MCOV, do inglês Maximum Contínuos Operating Voltage) pela norma IEEE Std C62.11-
1999. Esta é a tensão na qual o varistor pode ser operado sem restrições.
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Ainda na figura, o valor de tensão nominal (Ur) não se refere ao valor de que poderia ser
aplicado por um período ilimitado, como definido para o MCOV. Na verdade, ele caracteriza
a capacidade do varistor em lidar com sobretensões temporárias no sistema. Essas podem durar
por um período de aproximadamente 10 s, mas alguns fabricantes permitem que este tempo
chegue a 100 s. A curva característica mostra que, nestas condições, há uma corrente da ordem
de 1 mA. Esta corrente acarreta um aumento significativo da temperatura do varistor, se
exceder o tempo definido pelo fabricante. Uma extensiva exposição do varistor a esta corrente
pode torná-lo incapaz de se resfriar, perante solicitações sucessivas, podendo apresentar
instabilidade térmica. Este facto pode conduzir à sua auto destruição.
a) Ondas trafegantes: as sobretensões sobre os sistemas de potência fluem através das linhas
de transmissão na forma de ondas trafegantes. Nos pontos nos quais a impedância característica
da linha muda, ocorrem os fenómenos de refracção e reflexão. O nível de tensão em cada
instante e ponto da linha depende de diferentes valores instantâneos para cada forma de onda
individual. Variando-se da distância do pára-raios ao varistor, e sua taxa de crescimento da
tensão, a tensão limite do equipamento pode ser excedida. Também se observa que existe uma
zona de protecção do varistor da ordem de metros, onde se define a máxima separação para a
qual os requisitos de coordenação de isolamento são alcançados para um dado nível de
protecção;
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Este valor não necessariamente coincide com o pico de tensão no varistor, mas demonstra a
ordem de magnitude de possíveis quedas de tensão indutivas, que podem sobrepor-se à tensão
residual do pára-raios; e
Absorção de Energia
A energia que é instantaneamente injectada durante uma simples descarga não pode exceder
um valor no qual os pára-raios estariam sujeitos aos esforços termomecânico. Nesse contexto
pode-se falar de dois aspectos. Primeiramente, a capacidade de absorção de energia a um
impulso único. A energia injectada em alguns poucos micro segundos resulta num aumento de
temperatura, associada com esforços de tensão sobre a estrutura cerâmica do material. Isto pode
levar a pequenas fissuras ou quebra do pára-raios. Como não se pode dissipar rapidamente o
calor, através do material que o reveste, um esforço adicional pode ocorrer.
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Outro aspecto é a capacidade de absorção de energia térmica. Esta é definida como o nível
máximo de energia injectada no varistor, durante um pequeno intervalo de tempo, no qual o
varistor é submetido a várias descargas e ainda pode ser resfriado para sua temperatura de
operação normal
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Onde:
Vs - Tensão da descarga piloto em MV para I0 em kA;
Rs - Distância de atracção média em metros para I0 em kA;
I0 - Corrente do raio;
b - Raio da descarga piloto; e
a - Raio da corrente de retorno
Para a maioria das aplicações é inteiramente satisfatória uma relação mais simples dada por
A máxima distância de incidência relativa à máxima corrente que atinge os condutores pode
ser calculada pela seguinte expressão
Onde
Rmax - Máxima distância em metros para I0 em kA;
Imax - Corrente máxima que incide no condutor fase;
h - Altura do cabo pára-raios;
y - Altura do cabo fase; e
θs - Ângulo de protecção.
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Modelo electrogeométrico
As descargas indirectas nos cabos pára-raios ou torres causam um aumento do potencial das
estruturas metálicas. O topo da torre atinge um potencial que depende da sua indutância L e a
resistência de aterramento R ao impulso. A tensão desenvolvida é relacionada por
Critério de Selecção
A selecção dos descarregadores de sobretensões para a protecção de sistemas eléctricos é feita
com base, essencialmente, da tensão eficaz que o dispositivo mencionado consegue suportar
continuamente (MCOV – Maximum Continuos Operation Voltage)
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Capítulo 9
Concepção e Teste de Isoladores Para Uso Exterior
Para o isolamento de linhas de transmissão são necessários dispositivos especialmente
desenhados (isoladores). O isolador deve apresentar, além de apreciáveis características
dieléctricas, óptimas características mecânicas, tendo em vista a natureza severa do trabalho
que irá realizar. O isolador deve suportar altas tensões de compressão, deve ser duro e
apresentar a superfície altamente polida.
O seu desenho deverá ser tal que minimize a acumulação de linhas de fluxo electrostáticas, o
que não permitirá o rompimento de arcos eléctricos na sua superfície. O seu desempenho
electromecânico deve-se manter estável em quaisquer condições de humidade, temperatura,
chuva, neve, poeira, gases, etc.
Tipos de Isoladores
Com relação aos condutores, os isoladores têm a função de
Suspensão
Ancoragem
Separação
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Solicitações Mecânicas
Forças verticais pelo peso dos condutores
Forças horizontais axiais para suspensão
Forças horizontais transversais pela acção dos ventos
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Solicitações Eléctricas
Tensão nominal e sobretensão em frequência industrial
Oscilações de tensão de manobra
Transitórios de origem atmosférica
Os isoladores devem oferecer uma alta resistência para correntes de fuga de superfície e ser
suficientemente espesso para prevenir ruptura sob as condições de tensão que devem suportar.
Para aumentar o caminho de fuga e, portanto a resistência de fuga, os isoladores são construídos
com curvas e saias.
Porcelana Vitrificada
Os materiais cerâmicos caracterizam-se, em geral, pelo baixo preço, por um processo de fabrico
relativamente simples, e por características eléctricas ou dieléctricas, térmicas e mecânicas
vantajosas que podem apresentar quando o processo de fabrico é bem cuidado
Composição da cerâmica
Argila
Quartzo – componente que influi termicamente; quanto maior sua percentagem, maior é a
temperatura suportada pela porcelana.
Feldspato – componente que define o comportamento isolante como rigidez dieléctrica,
factor de perdas, etc.
Vidro
O vidro é basicamente composto de óxido de silício e óxido de boro, nas formas SiO2 e B2O3;
acrescenta-se a esses dois uma grande série de aditivos, tais como os óxidos alcalinos K2O e
Na2O, que influem, sobretudo no valor da temperatura de fusão do material. Os diversos
componentes do vidro variam as características do vidro em função da composição. Também
tratamentos térmicos posteriores (têmpera) influem acentuadamente em particular no que se
refere a suas características mecânicas. A têmpera do vidro adquire importância particular na
área dos isoladores, tipo disco e pedestal, devido à presença de esforços mecânicos acentuados.
Pela têmpera, a camada externa do vidro sofre uma contracção acentuada, o que faz
predominarem na “casca” externa, os esforços de compressão
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Polímeros
Características dos Polímeros:
Excelente hidrofobicidade.
Excelente resistência ao trilhamento eléctrico (tracking).
Excelente desempenho sob poluição – o perfil e a maior distância de escoamento do
isolador permitem reduzir a corrente de fuga e, portanto as perdas de energia Resistente ao
efeito de erosão mesmo quando o isolador estiver submetido a uma forte poluição.
Impenetrabilidade - podem ser lavados sob alta pressão.
Resistência ao envelhecimento devido aos raios ultravioleta, temperatura, poluição, ozono,
com alta durabilidade.
Resistente ao arco eléctrico.
A maleabilidade das aletas de borracha, associada à elevada resistência do núcleo central e
a silhueta delgada garante incomparável desempenho destes isoladores em regiões de
vandalismo.
Instalação rápida, simples e de menor custo.
Pesa até 13 vezes menos que uma cadeia de isoladores convencionais.
Suportabilidade Dieléctrica
A suportabilidade dieléctrica de uma superfície isolante reduz substancialmente quando
submetida a determinadas condições climáticas como chuva ou alta humidade. Tal redução
pode se tornar mais acentuada quando a superfície isolante é exposta a uma “ atmosfera poluída
“. Entende-se como “ atmosfera poluída”, do ponto de vista eléctrico, uma atmosfera que, num
certo período de tempo, propicia a formação, sobre a superfície isolante, de uma camada
constituída por substâncias que dissolvidas em água, produzem soluções condutoras.
Não ocorre variação no comportamento dieléctrico da superfície se a camada se mantém seca,
quando comparada com a superfície limpa. Entretanto, se ocorre um processo de humidificação
que dissolva mas não remova os sais contidos na camada, parcial ou totalmente, ocorre a
formação de arcos sobre a superfície iniciando um processo que poderá culminar com uma
descarga disruptiva. Além disso, os arcos formados geram ozono (agente oxidante) e um dos
responsáveis pela corrosão eléctrica nos isoladores
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Se a resistência da parte seca da camada de poluição for muito baixa, os arcos que ultrapassam
as bandas secas não se extinguem e, pelo contrário, aumentam sua extensão ao longo da
superfície do isolador. Este facto, por sua vez, diminui a resistência eléctrica em série com os
arcos, aumentando a corrente e permitindo aumentar, ainda mais sua extensão até que toda a
superfície do isolador esteja coberta ocasionando, assim, uma descarga disruptiva.
Corrosão Atmosférica/Galvânica
A corrosão atmosférica corresponde a oxidação directa entre o metal e suas vizinhanças, e a
galvânica ocorre quando se coloca dois metais de electronegatividades diferentes em contacto
(por exemplo: Fe + Zn), ocorrendo então a doação de electrões do mais electronegativo para o
menos electronegativo. O ozono oxida o Zn acelerando a corrosão branca, que gradualmente se
desprende da superfície, expondo o ferro. O ozono combina-se com o nitrogénio, formando
dióxido de nitrogénio, que hidratado, produz ácido nítrico. O ácido nítrico ataca o ferro,
gerando hematita e magnetita, ou seja, a corrosão vermelha (ferrugem).
Corrosão Eléctrica
Esse é o principal factor de corrosão que corresponde à corrosão electrolítica devido não só à
corrente de fuga sobre a superfície húmida dos isoladores poluídos, como também à
subsequente actividade eléctrica de arcos (corrosão por arcos) que aparece através da superfície
mais resistiva do isolador poluído e/ou nas interfaces dos materiais componentes do isolador.
Esse tipo de corrosão é o mais severo em áreas poluídas de clima tropical.
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Corrosão electrolítica: quando o isolador está poluído e húmido, uma corrente de fuga aparece
sobre a superfície isolante, entre as partes metálicas de cada isolador. Os efeitos da corrente de
fuga aumentam com o grau de poluição (quantidade de sais), e com a tensão eléctrica aplicada
sobre os isoladores;
Corrosão por arcos: estes arcos e descargas sobre as partes mais resistivas da superfície húmida
aparecem durante a condensação. Os arcos são mais frequentes nas regiões da cadeia de
isoladores onde a densidade de corrente e o campo eléctrico são mais intensos. Desta forma,
muitos arcos têm mais frequentemente suas raízes sobre a campânula e sobre o pino dos
isoladores do lado fase da cadeia. Estes arcos também induzem a formação de ozono, que como
já observado podem acelerar a corrosão. A prática tem mostrado efectivamente a ocorrência de
corrosão precoce em isoladores instalados em sistemas com tensão maior ou igual a 345kV.
Período Húmido
As unidades isolantes da cadeia apresentam o fenómeno de actividade eléctrica de arcos. Este
período corresponde à corrente de fuga mais alta e à mais alta humidade relativa. Os fenómenos
são praticamente definidos pelo depósito de poluentes sobre a superfície do isolador e não pelo
projecto da cadeia de isoladores.
Durante o período húmido, a corrosão electrolítica, devido a passagem permanente de uma
corrente de fuga mais alta, é mais importante e mais uniforme.
Período Seco
Durante o período seco, os arcos e as descargas estão concentrados somente nos isoladores
electricamente mais solicitados e o fenómeno mais importante corresponde à corrosão por
arcos.
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Durante este período, a duração de actividade eléctrica é reduzido quando a cadeia de isolador
é equipada com um anel de protecção. Em comparação, as descargas e arcos continuam
actuando depois de 3 horas sobre cadeias sem anéis de protecção e param depois de 30 minutos
sobre cadeias com anéis de protecção
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Onde Vc em kV, L em mm e σs em µS
Melhorar a Configuração
A distância de fuga de um isolador pode ser ajustada de forma a mitigar os fenómenos
ambientais. Geralmente as configurações são optimizadas aerodinamicamente para facilitar a
auto-limpeza através da acção do vento e da chuva.
Limpeza Periódica
Em muitas instalações são utilizados sistemas de jacto de água a alta pressão para a limpeza da
superfície de isoladores, sendo de longe o mais barato.
Aplicação de Gel/Graxa
O processo de revestimento das superfícies do isolador com gel ou graxas é utilizado em áreas
de contaminação severa. Na maior parte dos casos, a remoção e aplicação da graxa é uma
operação manual. Sendo um processo lento e que requer paralisações de circuito.
Aplicação de RTV
Revestimentos de silicone (RTV) são cada vez mais aplicados com maior frequência em
subestações e cadeias de isoladores. Estudos mostraram que este tipo de revestimento é de
grande eficácia no combate aos fenómenos de poluição.
Esmalte Resistivo
Eng. Luís Simone (Material sujeito a alterações sem aviso prévio) Técnica de Alta Tensão 162
Instituto Superior Politécnico de Songo
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