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1.

"O Brasil investe pouco em educação"

“Se um médico prescreve um remédio para uma doença e ele não surte efeito, a primeira opção é aumentar a
dosagem. Se o problema persistir, provavelmente o médico tentará outro medicamento. Quando o assunto é
educação, a lógica segue o caminho oposto: a solução para todos os problemas é sempre aumentar a
dosagem do que se considera o único remédio, ou seja, o dinheiro. Os defensores desse tratamento
desconsideram o fato de que repasses de verba cada vez maiores já foram anunciados por programas como
Fundef e Fundeb sem melhorar a qualidade da educação. Apesar disso, o Plano Nacional de Educação,
recém-sancionado pela presidente Dilma Rousseff, prevê que, até 2024, 10% do PIB brasileiro deve ir para o
setor. Segundo a Unesco, países como Finlândia, China, Irlanda e Coreia do Sul, que apresentam os
melhores índices educacionais do mundo, gastam até 5,7% do PIB com educação. Em contraponto, nações
como Quênia, Namíbia, Armênia e Mongólia despendem entre 7% e 12,9% do PIB no setor: mesmo assim,
não conseguiram solucionar o problema da baixa qualidade do ensino.”

2. "Os professores são mal remunerados"

“No Brasil, o salário da maioria dos profissionais, como médicos, engenheiros, artistas e professores, é em
média 3,5 vezes inferior ao pago a profissionais das mesmas categorias nos Estados Unidos. A diferença
salarial é explicada pelo PIB per capita de cada país. O professor ganha pouco por ser brasileiro, não por ser
professor. O argumento comum, porém, é de que se o Brasil quiser atingir o patamar educacional de países
desenvolvidos, como os próprios Estados Unidos, deve pagar o mesmo a seus docentes. Isso desconsidera o
fato de que quase 80% do gasto com educação aqui são destinados a pagar salários de professores e
funcionários. Se pagarmos aos docentes brasileiros, em termos nominais, o mesmo que os americanos
recebem, eles seriam a única categoria a atingir esse patamar salarial no Brasil. Os demais profissionais,
contudo, continuariam a ganhar 3,5 vezes menos.”

3. "Ganhando mais, os professores vão ensinar mais"

"Não há, na literatura empírica nacional e internacional, provas de que salários mais altos influenciam a
melhora na qualidade do ensino. Uma simples constatação disso é que os sucessivos aumentos no piso
salarial dos docentes brasileiros até hoje não tiveram reflexos nos índices educacionais e também não
solucionaram os problemas das greves, que continuam a acontecer todos os anos. O sistema educacional é
perverso: se o professor faz mal o seu trabalho e ainda assim ganha mais, por que lutar para fazer um
trabalho melhor que não trará mais ganhos?”

4. "As salas de aula têm alunos demais"

“Este é um dos mitos comumente relacionados à baixa qualidade do ensino e à necessidade de aumento
salarial dos docentes. A relação, porém, não resiste à apuração de pesquisas empíricas. Elas mostram que,
em salas com menos de 20 alunos, a turma aprende o mesmo que em uma sala mais cheia. O único fator que
faz diferença real é o professor e sua capacidade de gerir uma sala de aula e transmitir conhecimentos para
um grupo.”
5. "Escola em tempo integral vai melhorar os índices educacionais"

"Há evidências de que mais horas-aula melhoram o desempenho acadêmico. O problema é que a carga
horária brasileira, que já não é alta, raramente é cumprida, e a maioria dos programas de ensino integral
praticados no Brasil oferecem atividades não-acadêmicas, como música e esporte, no contraturno. Nesse
modelo, o ensino em tempo integral é um desperdício. A primeira prioridade deveria ser usar o tempo de
aula de modo eficiente, pois o Brasil é um dos países que mais desperdiça tempo com atrasos de professores
e alunos, anúncios, chamada etc. Quando essa carga horária estiver bem ocupada, e quando os programas no
contraturno forem de português, matemática e outras disciplinas, o desempenho dos alunos vai melhorar.
Nesse caso, eu seria totalmente favorável à iniciativa."

6. "A escola tem que formar cidadãos críticos e conscientes"

“Esse argumento reflete a ideologização do ensino, presente em todas as escolas brasileiras. Pesquisas do
Inep (órgão ligado ao MEC responsável por pesquisas educacionais) com professores mostram que nove em
cada dez docentes concordam com a afirmação de que ‘o professor deve desenvolver a consciência social e
política das novas gerações’. Menos da metade, no entanto, acredita que ‘o professor deve evitar toda forma
de militância e compromisso ideológico em sala de aula’. Essa percepção, além de alterar o conteúdo a ser
ensinado, afeta a forma como ele chega aos alunos: por isso, trabalhos em grupo passaram a se sobrepor a
exercícios individuais, notas e provas passaram a ser vistas com maus olhos e recompensar o mérito
acadêmico é equivalente a premiar uma competitividade nefasta. É impossível, porém, medir se essa
filosofia está efetivamente criando cidadãos críticos e conscientes ou apenas se sobrepondo ao ensino dos
conteúdos.”

7. "Rankings educacionais não levam em consideração a realidade das escolas"

"É verdade que os rankings educacionais não consideram fatores socioecômicos. O que se esconde por trás
desse mito, contudo, é a ideia de que por causa disso eles não podem ser considerados bons termômetros
para a educação, como apontam os críticos das avaliações externas nacionais e internacionais. Os rankings
estão certos em não considerar esses fatores, porque eles devem medir o conteúdo que está sendo ensinado
em uma determinada etapa de ensino, independente da localidade da escola. Se eles considerassem o fator
social, esse serviria apenas de muleta para justificar o fato de que em regiões mais pobres os alunos
aprendem menos e não há nada a ser feito. Com os rankings isentos dessas peculiaridades, é possível saber
onde está o problema e minimizar fatores externos ao ensino dos conteúdos com uma política educacional
específica. Onde há déficit econômico, é preciso haver superávit educacional."

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