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TRABALHO CLÍNICO PSICORPORAL COMO PRODUÇÃO SOCIAL

CONTEMPORÂNEA*

MARCUS VINICIUS DE A. CÂMARA**

“(...) a terapia individual não vale a pena. Não vale a pena. Ah, sim, para fazer
dinheiro e para ajudar aqui e ali vale a pena. Mas do ponto de vista do problema
social, do problema da higiene mental, não vale a pena (...)”.
Wilhelm Reich

RESUMO

Neste artigo, a partir da análise marxista do Trabalho, nos séculos 19 e 20, retomamos a
contribuição de Wilhelm Reich para a compreensão da produção de subjetividade no capitalismo.
A seguir, sob as teses foucaultianas e guattarianas no que concerne à relação do corpo com os
mecanismos de saber/poder nas sociedades contemporâneas, problematizamos a prática clínica
reichiana. Ao final, defendemos que a psicoterapia corporal de grupo é um instrumento potente
de transformação pessoal e social.

Palavras-chave: Trabalho Clínico – Grupos Reichianos – Contemporaneidade

ABSTRACT

In this article, we discuss the Work under the Marxist analysis in the nineteen and twenty
centuries. After that, we retake the Wilhelm Reich’s contribution to the understanding of the
subjectivity production in the capitalism. Following the Foucault and Guattari’s thesis about the
relationship between body and Knowledge/power mechanisms in the contemporary societies, we

*
Esta é uma versão do trabalho apresentado na XXI Jornada Reichiana do Instituto Sedes Sapientiae, São Paulo,
2008.
**
O autor é Analista Reichiano; Doutor em Psicologia (UFRJ); Coordenador do Instituto de Formação e Pesquisa
Wilhelm Reich (IFP-Reich); Professor Titular e Supervisor Clínico (UCL).

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quarrel the reichian clinic practice. Finally, we defend that the group body psychotherapy is a
powerful tool of personal and social transformation.

Keywords: Clinical Work – Reichian Groups – Contemporaneousness

INTRODUÇÃO

Nos dias atuais, ao investigarmos o trabalho de psicoterapia reichiana, não podemos


prescindir de analisar alguns cruzamentos de um amplo mosaico constituído de forças
psicobiológicas, sociais e energéticas. Um deles reporta-se ao fato de que este ato está inserido
em uma complexidade maior, que é o trabalho na era pós-moderna e o outro às suas raízes
incrustadas nos séculos 19 e 20. Iniciaremos esta investigação pelo último.
A seguir explanaremos a contribuição de Reich no que se refere ao fato de este autor não
se prender ao fator econômico (Marx), mas à repressão social e suas repercussões no psicossoma
dos trabalhadores. Entretanto, é Foucault que nos instiga a analisar criticamente a produção
sócio-histórica do trabalho, em suas micro-relações, na contemporaneidade.
Finalmente, seguindo de modo espiralado, retornaremos a Reich e, a partir deste, será
nosso propósito contribuir para uma reflexão sobre os alcances e os possíveis entraves do
trabalho clínico grupal de base reichiana na pós-modernidade.

AS BASES DO TRABALHO CONTEMPORÂNEO

Marx (1980) aponta que, no sistema capitalista, os trabalhadores são separados dos bens
que ajudam a produzir. A classe dominante enriquece em função da mais-valia. Além disso, a
grande burguesia coisifica o trabalhador, destruindo assim o sentido de humanidade.
A reificação do humano também afasta os homens e estes passam a ser vistos como
mercadorias. Força de trabalho passível de compra e venda. Dessa maneira, a burguesia apropria-

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se da atividade do proletariado e este perde sua liberdade. A resultante desse processo é o
egoísmo, o apego à propriedade privada e a desigualdade social.
Sob a perspectiva dialética, Marx assinala a saída para a injustiça sócio-econômica: um
governo socialista de trabalhadores que conduziria a sociedade para o comunismo, no qual não
haveria classes sociais e o produto econômico seria compartilhado por meio da autogestão social.

MUITO ALÉM DO ASPECTO ECONÔMICO NO TRABALHO

Reich (1976a) marxista, em uma primeira fase de sua vida, acrescenta que além da
ideologia e do poder da burguesia a reprimirem o proletariado, a inibição da sexualidade seria o
outro artifício utilizado pela classe dominante para manter os trabalhadores subjugados.
Para o autor (REICH, 1988), as repercussões da repressão sexual atingem não só a
curiosidade sexual, mas intelectual e, também, produzem uma humanidade rígida e com medo da
liberdade. Os homens, ao desistirem de lutar por vidas mais plenas, paralisam-se e sucumbem ao
autoritarismo.
É com um pequeno trabalho teórico que Reich (1976b), antecipando-se aos seus pares de
então, e ladeando-se a autores pós-críticos e das denominadas Filosofias da Diferença, coloca em
xeque o capitalismo. Para ele, podemos alcançar as grandes temáticas do sistema sócio-político
por meio de discussões das pequenas questões cotidianas. O autor propõe interrogar as mazelas
do dia-a-dia como uma forma potente de se chegar às grandes transformações sociais. Nada mais
semelhante à análise micro-política ensejada por Guattari (1987), cerca de 60 anos mais tarde do
escrito de Reich.
Este (REICH, 2001) confronta o sistema social e seus constituintes, como autoritarismo,
que se imiscuem no cotidiano, por meio de dois parâmetros: auto-regulação individual e
autogestão social, que corresponderiam, respectivamente, à capacidade dos trabalhadores
alcançarem uma maior autonomia pessoal e grupal, conformando a Democracia do Trabalho.
Entretanto, indo além do aspecto econômico em Marx, as análises micro-políticas de Reich
abrem campo para autores que aprofundam a investigação sobre mecanismos sutis da teia social,
entre eles Michel Foucault.

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FILIGRANAS DA REDE SOCIAL

De acordo com Foucault (1990), não só a produção econômica ou a repressão social


produzem um certo corpo, mas também e, fundamentalmente, os mecanismos de saber/poder. Ele
(FOUCAULT, 1996) sugere esquadrinhar o corpo, porque nele são expressas as diferenças
sociais, nele são articulados o saber e o poder, nele podem ser reveladas verdades.
Em Foucault (1990), o capitalismo não só reprime o corpo, como na tese reichiana, mas
produz uma multiplicidade de sexualidades. Se por um lado, o trabalho no capitalismo marca a
subserviência e a docilidade nos corpos, por outro, cria múltiplos possíveis, lá onde há corpos
servis também há intensificação dos prazeres e desejos a escaparem por linhas de fuga, lá onde o
capitalismo tenta territorializar, o corpo rebelado desterritorializa.
Ao nos fundamentar em Foucault (1994) podemos observar que Reich (CÂMARA, 1997)
recupera a importância do olhar sobre o corpo na clínica reichiana, agora não mais orgânico, mas
organísmico (unidade psique/soma). Reich segue, então, não os parâmetros da medicina clássica,
mas os da medicina moderna (anátomo-clínica), embora Reich desta se diferencie na medida em
que sua abordagem não é mecanicista (base da medicina moderna). Este autor traz ao primeiro
plano o corpo tangível colocando-o ao lado do corpo simbólico. Contudo, não se deixa levar pelo
mecanicismo e o compreende de maneira funcional, ou seja, o corpo como um todo em
funcionamento e permanente movimento.
Se Reich é crítico e moderno, portanto um produto datado, como caminha a clínica
reichiana na Era Pós-Moderna? Podemos formular esta e outras indagações, como as que se
seguem: além do consultório privado, onde mais esta abordagem clínica é realizada? Quais são as
relações entre o capitalismo pós-moderno e a formação de possíveis grupos terapêuticos
reichianos? O aspecto sócio-político pode ser destituído do clínico? A perspectiva clínica
reichiana pode ser um efetivo instrumento de trabalho clínico-social no campo da saúde pública?

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CORPO, GRUPOS E COMUNIDADES

Se a clínica é colocada em questão, de qual corpo ela trata? O corpo aqui é compreendido
como uma totalidade biopsíquica cortada por forças sociais e energéticas. O corpo é produto e
produtor de uma sociedade de classes sociais, com um determinado modo de organização sócio-
política e atravessado por mecanismos de saber/poder.
Neste sentido, o corpo é, ao mesmo tempo, objetivo e subjetivo. Deve ser compreendido
como uma materialidade vinculada à produção social e, se assim o é, no processo terapêutico
psicorporal contemporâneo, o aumento da consciência biopsíquica corresponde à tomada de
consciência social.
De que forma isto ocorre? Ao trabalharmos o corpo em uma abordagem psicorporal,
tornam-se claros os rituais encouraçadores na construção dos corpos. Deste modo, a psicoterapia
corporal pode desvelar a produção em série, massificada e robotizada dos sujeitos. Poderíamos
indagar: se este trabalho fosse grupal em que se diferenciaria do trabalho individual?
Os grupos produzem e reproduzem o socius. O grupo é um espaço privilegiado para a
conscientização do sentido de humanidade e dos diversos modos de relações sociais que lhes são
intrínsecos. Partimos do pressuposto que reflexões e afetos, ao circularem no grupo, propiciam
maior conscientização da unidade corpomente e das forças histórico-políticas ali instauradas,
abrindo possibilidades para a invenção de novas ações modificadoras das realidades pessoal e
social.
Os grupos reichianos podem englobar outras ferramentas advindas de teorias como a
psicanálise, as psicoterapias neo e pós-reichianas, o movimento institucionalista e a psicologia
social comunitária. Acreditamos que o trabalho terapêutico deva estar aliado à reflexão de
aspectos sócio-políticos que, por sua vez, também conformam todo e qualquer encontro social,
seja ele terapêutico ou não. Desta maneira, não há como separar as áreas clínica e social, ou seja,
toda atuação clínica é, necessariamente, social.
A reflexão crítica, conjugada a transformações sociais, é desejada, principalmente, em
comunidades e sociedades marcadamente injustas. Os psicoterapeutas corporais devem, com seu
trabalho, contribuir para a melhora da saúde pública, pois, ainda hoje, há um fosso entre o

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enorme contingente de trabalhadores na área da saúde dispostos a trabalhar – incluídos aí os
psicoterapeutas reichianos – e a deficiente assistência à boa parcela da população.
Na continuidade de nosso enfoque, seria função do analista reichiano colaborar na
instrumentalização dos grupos para que os mesmos possam refletir sobre a serialização dos
modos de existir dos indivíduos e grupos, eliciando, assim, possibilidades maiores de mudanças
pessoais e coletivas. O caminho a ser favorecido vai dos grupos submetidos a grupos operadores
de transformações, ou seja, grupos mais independentes e autônomos.
A conquista do status de grupo-dispositivo – este de acordo com Guattari (1987) é o novo,
a diferença, o grupo que produz modificações – requer a discriminação da imagem ideal da
imagem real do grupo, tornando conscientes os conteúdos inconscientes, por meio do incremento
da consciência de si, da consciência social e do aumento do processo de autonomização, seja a
auto-regulação pessoal, seja a autogestão social. Contamos que, desse modo, os grupos-
dispositivo articulem-se a outros, produzindo transformações sociais cada vez mais amplas.

RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA

Este é um relato resumido de um dos produtos da pesquisa “O Grupo como Dispositivo


Comunitário: uma pesquisa participante em um conjunto residencial popular na cidade do Rio de
Janeiro”, promovida pelo Centro Universitário Celso Lisboa, entre os anos de 2001 e 2003. A
pesquisa em questão já foi reportada em um trabalho anterior de modo muito amplo (CÂMARA,
2007). Para o atual artigo faremos um recorte, especificamente, no que concerne a um dos
trabalhos desenvolvidos em grupo.
A comunidade popular por nós escolhida denomina-se Conjunto Residencial Cruzada São
Sebastião, localizada no Jardim de Alah, entre os bairros de Ipanema e Leblon, na cidade do Rio
de Janeiro, mais conhecida como Cruzada. A Equipe de Pesquisa1 convocou a comunidade
(Associação de Moradores, Igreja Católica, Missão Evangélica, Direção da Escola Municipal
Santos Anjos e representantes independentes da comunidade) para trabalhar conjuntamente. Estes
encontros foram denominados “Rodas de Conversa”. A partir das Rodas de Conversa e

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Claudia Camargo, Marcos Antônio Nascimento, Fernando Pais, Thays Santos, Ana Cristina Portelo, Sandra Barros,
Sueli Ferreira, Adriana Santarém, Ana Beatriz Aguiar, Anne Heloíse Almeida, Cristiane Silva, Diva Portella,
Fernanda Leitão, Luciana Oliveira, Magda Oliveira, Márcia Rúbia Araújo, Maria Delfina Prudente, Maria Jacqueline
Falcão, Melissa Carvalho, Tânia Melo, Valdelice Ribeiro e Valéria Moreno.

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obedecendo a demanda da comunidade foram constituídos dois grupos terapêuticos: Grupo de
Senhoras e Grupo de Adolescentes. O primeiro coordenado por Marcus Vinicius Câmara e
Claudia Camargo e o segundo por Marcos Antônio Nascimento. No presente artigo nos
restringiremos à síntese do trabalho com o Grupo de Senhoras.
O trabalho com o Grupo de Senhoras (estas mulheres tinham, à época, entre 54 e 80 anos)
ocorreu em três fases ao longo de dois anos. Passaram por este grupo cerca de 18 mulheres, sendo
que 12 delas tornaram-se, pela assiduidade e envolvimento, sua base. Os Encontros eram
semanais, com cerca de 3 horas de duração cada um. Todo o processo terapêutico foi dividido em
3 fases. Na primeira e na segunda etapas o trabalho verbal era articulado às técnicas psicorporais
(respiração, movimentos expressivos e manejo das tensões corporais). Já na terceira etapa, a
técnica utilizada foi a de oficina, na qual foi confeccionada, artesanalmente, uma colcha de
retalhos.
Na primeira fase, o grupo não era propriamente um grupo, era mais uma junção de
pessoas. O foco da intervenção estava centrado nas participantes do grupo. Em um primeiro
momento desta fase, ouvíamos suas demandas individuais, queixas, carências, lutas, histórias.
Então, aos poucos, fomos introduzindo as técnicas psicorporais, que respeitavam o trabalho na
ordem segmentária, isto é, dos segmentos superiores para os segmentos inferiores dos corpos das
participantes do grupo.
As intervenções psicorporais desocultavam o que as couraças escondiam: rituais
encouraçadores impostos pelas famílias, escola, relações sociais em geral. Observávamos corpos
rígidos, marcados pela infância pobre, repleta de trabalho e carente de brincadeiras. Contudo, a
terapia também produzia consciência da unidade biopsíquica em cada membro, fazia a energia
vital circular e, com isto, as participantes conectavam a sua própria força. Com o decorrer do
trabalho terapêutico, as integrantes tornaram-se mais alegres, mais flexíveis, mais potentes.
Categorizamos esta fase como uma psicoterapia corporal no grupo, ou seja, é como se fosse uma
psicoterapia corporal individual, só que realizada em grupo.
Na segunda fase, dos temas que, naquele momento, surgiam no grupo, somente um era
escolhido em cada Encontro (a temática que mais alinhavava o grupo) e, a partir daí, este tema
era “convertido” em trabalho corporal e seu conteúdo afetivo era elaborado verbalmente. Assim,
caracterizava-se o trabalho terapêutico com o emergente do grupo. Naquele momento, o “nós” do

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grupo passou a prevalecer sobre o “eu”. O grupo expressava-se cada vez mais, ganhando coesão e
o sentido de grupo, finalmente, ganhou contorno.
O grupo também era espaço de diversão, de integração, de alívio de tensões do dia a dia.
Ampliaram-se os sentidos de aconchego e pertencimento. O grupo já não solicitava tanto
respostas para suas angústias. O próprio grupo buscava soluções para seus problemas. A função
dos coordenadores do grupo era a de favorecer a construção permanente do espaço de pensar,
sentir e agir do grupo como uma unidade e instrumentar novos modos de existência, despregados
da produção engessada de subjetividades. Categorizamos a segunda fase como psicoterapia
corporal de grupo.
Na terceira fase, a técnica de Oficina possibilitou ao grupo sua solidificação. O grupo
escolheu como forma de desenvolver um projeto comum: a confecção de uma colcha de retalhos.
Estes eram trazidos das casas de cada membro do grupo e, enquanto costuravam a colcha, as
participantes sentiam-se orgulhosas de pertenceram ao grupo. Por conta própria, passaram a
contatar representantes dos governos municipal e estadual para que pudessem melhorar a infra-
estrutura da Cruzada e também profissionais como acupunturista, médico, psicólogo, arte-
terapeuta, que, com seus ofícios, traziam benefícios para o grupo e para a população, em geral, da
Cruzada. O grupo evoluiu da dependência à autonomia. As integrantes do grupo não nos
solicitavam mais a dar conta dos anseios grupais, elas, apenas, faziam acontecer, encaminhavam
as questões de modo ao próprio grupo alcançar as soluções.
A colcha de retalhos é vida, que é construída em retalhos, vidas costuradas. Mosaico de
partes que se unem na diferença e, ao mesmo tempo, vai construindo um sentido grupal, que, por
sua vez, está sempre em transformação. Diversidade na unidade e unidade na diversidade.
Respeito à Diferença. A cisão entre coordenadores e integrantes do grupo se dissolveu nesta
última fase. Éramos todos participantes do grupo e, por isto, a compreendemos como
psicoterapia corporal em grupo.
Ao final do processo terapêutico, pode-se constatar que as integrantes reinventavam-se
com vestimentas, jeitos e gestos femininos, no âmbito pessoal. A consciência crítica-política do
grupo foi ampliada. Alguns membros do grupo passaram a freqüentar novos espaços, que
traçavam o destino da Cruzada, como, o Conselho de Síndicos, a Igreja Católica, a Missão
Evangélica. De maneira semelhante, passaram a conhecer e aprofundar o contato com outros
moradores da comunidade. Apesar dos alcances desta terapêutica grupal, um de seus limites foi o

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fato de que seus membros não agiam em conjunto em suas ações na Cruzada. Estas eram sempre
individuais ou em subgrupos de três ou quatro membros.
Com esta intervenção clínico-social esperamos ter contribuído para o conhecimento do
trabalho psicorporal com grupos em comunidades, visando à melhoria da saúde coletiva.
Destacamos, então, a frase emblemática de uma das integrantes do grupo: “Se todos os bairros
tivessem reuniões como essas, as pessoas estariam melhores”, ao que todo o grupo concordou.
Aqui fica claro a sua consciência e a do grupo com relação à importância, ainda que com
limitações, de ações como esta para a Saúde Pública.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma psicoterapia corporal em grupo, articulada aos saberes teóricos aqui propostos, pode:
marcar a importância das técnicas não-verbais para desocultar conteúdos do inconsciente social;
reafirmar a pesquisa da repressão social no corpo; questionar aspectos sócio-políticos que o
atravessam e perceber a potência energética nas relações pessoais e grupais.
Tanto melhor se esta intervenção puder ser realizada nas comunidades e partidos políticos
populares, nos sindicatos e nos locais de trabalho, lá onde os trabalhadores produzem e são
alienados de si, do objeto que produzem e da espécie humana. É, sobretudo, nas organizações
sociais que podemos fazer vir à tona conflitos psicossociais implícitos e a geração de impotência
imanentes ao capitalismo.
Com esta intervenção clínico/social pretendemos promover a reflexão crítica, a tomada de
consciência e a ação coletiva transformadora da realidade social, já que a terapêutica individual
tem pouca abrangência. Estes coletivos devem ser, necessariamente, transgressores dos processos
de massificação de modos de sentir, pensar e agir na vida. Enfim, devem contribuir para a
produção de novos modos de expressão e invenção do mundo.

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REFERÊNCIAS

CÂMARA, Marcus Vinicius de A. Contribuições para a atualização da noção de corpo na teoria


de Wilhelm Reich, pela óptica foucaultiana. Arquivos Brasileiros de Psicologia. Rio de Janeiro:
UFRJ/Imago, vol.49, nº2, pp.84-96, 1997.

___________________________. Psicoterapia grupal de base reichiana e redes sociais: relato de


uma experiência de intervenção grupal em uma comunidade popular. Revista Presença. Rio de
janeiro: UCL, n°4, pp.06-19, 2007.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Graal, 1990.

_________________ . O Nascimento da Clínica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1994.

GUATTARI, Félix. Revolução Molecular: pulsações políticas do desejo. São Paulo: Brasiliense,
1987.

MARX, Karl. O Capital. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980.

REICH, Wilhelm. Análise do Caráter. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

______________. A Revolução Sexual. Rio de Janeiro: Zahar, 1976a.

______________. O que é Consciência de Classe? Porto: H.A. Carneiro, 1976b.

______________. Psicologia de Massas do Fascismo. São Paulo: Martins Fontes, 1988.

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