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Escola Superior de Tecnologia e Gestão

Instituto Politécnico da Guarda

PROJETO

CARTOGRAFIA DE RISCO DE INCÊNCIO


FLORESTAL PARA O CONCELHO DA
MURTOSA

DANIELA AMADOR
Relatório para obtenção do grau de Licenciatura
em Engenharia Topográfica

Março/2014
Escola Superior de Tecnologia e Gestão

Instituto Politécnico da Guarda

Cartografia de Risco de Incêndio Florestal para


o Concelho da Murtosa

Daniela Amador

Relatório submetido como requisito parcial para obtenção do grau de


licenciatura em Engenharia Topográfica

Orientador: André Garcia Sá

Março de 2014
“O incêndio ocorre onde a prevenção falha”
Aos meus pais, irmã e namorado pelo apoio constante e incondicional, pelas
palavras moralizadoras e atos incentivadores.
Ficha de Identificação

Aluno: Daniela Sofia Tavares Amador


Nº de Aluno: 1010449
Email: 1sonhadora@gmail.com

Curso: Engenharia Topográfica


Escola: Escola Superior de Tecnologia e Gestão – Instituto Politécnico da Guarda

Local de Projeto: Município da Murtosa


Instituição: Câmara Municipal da Murtosa
Orientador: Eng.º André Garcia Sá – Engenheiro Geógrafo
Supervisor na Entidade: Eng.º Daniel Bastos – Engenheiro Civil

Início do Projeto: Setembro de 2013


Fim do Projeto: Março de 2014

i
Resumo

Os incêndios florestais continuam a representar um problema em Portugal,


contabilizando nos meses mais quentes, várias ocorrências diárias às quais se procura
dar uma resposta eficaz e atempada. Porém, os incêndios não devem ser encarados
todos da mesma forma. Dependendo dos valores presentes e das características do
território, a cartografia de risco pode conduzir a abordagens diferentes.
Posto isto, o principal objectivo deste trabalho foi elaborar uma cartografia de risco
para o concelho da Murtosa, de forma a avaliar a vulnerabilidade face aos incêndios
florestais. Para isto foi utilizado o software ArcGIS 10.1 da ESRI.
As principais conclusões tiradas deste estudo foram que cerca de 17,5% do concelho
detêm um perigo moderado de ocorrência de incêndios florestais e 2,2% um risco muito
elevado. Para isto contribuem os cobertos vegetais ocupados por mato e mata, mais
potenciador de propagação de incêndio uma vez que possuem geralmente elevados
graus de inflamabilidade e combustibilidade.
Palavras-Chave: Incêndio Florestal, Perigosidade, Risco, SIG, Cartografia

Abstract

Forest fires continue to pose a problem in Portugal, accounting in the warmer


months, several occurrences to which firefighters seek to provide an effective and
timely response. However, not all fires need to be addressed equally. Depending on the
values at risk and the characteristics of those territories, risk mapping allows for
different approaches.
Having said that, the main objective of this work was elaborating cartography of
risks for the Murtosa municipality, in order to assess the vulnerability to forest fires. For
this we used the software ArcGIS 10.1 of ESRI.
The main conclusions drawn from this study were that about 17,5% in the
municipality has a moderated danger of occurrence of forest fires and 2,2% a very high
risk. For this contribute the covered vegetables occupied by woods and forest, more fire
propagation enhancer since have generally high degrees of flammability and
combustibility.
Key words: Wildland fire; Hazard; Risk, GIS, Cartography

ii
Agradecimentos

Este trabalho é fruto da colaboração de várias pessoas, sem as quais não teria sido
possível a sua conclusão.

Em primeira análise, dedico-o aos meus Pais, agradecendo todo o apoio, psicológico,
monetário, anímico. A motivação que sempre me transmitiram para ultrapassar cada
etapa dos 3 diferentes anos da licenciatura. Ligado a isso, e não menos importante, a
liberdade dada durante todo este percurso académico, sem nunca me deixarem descurar
os meus objectivos de estudante. A imensa gratidão que sinto para com eles será algo
que nunca perderei.

Em segundo lugar ao Diogo, pois foi a pessoa que mais de perto acompanhou todas
as dificuldades ambíguas a este trabalho, pessoa sem a qual teria certamente desistido à
primeira dificuldade. Obrigada pela paciência e força que sempre me deste, e por
acreditares que eu era capaz!

Em terceiro lugar à minha irmã Diana e ao meu recém-nascido sobrinho, por não os
poder ir ver tão frequentemente quanto queria e eles mereciam, e por mesmo assim não
deixar de me apoiar.

Em quarto lugar, mas não menos importante, ao meu orientador, Professor André
Garcia Sá, pela total disponibilidade, orientação e determinação ao longo de todo o
trabalho.

Ao Senhor Presidente da Camara Municipal da Murtosa, Joaquim Batista, que


amavelmente cedeu o espaço e a informação essencial sem as quais não teria sido
possível iniciar este projecto.

A todos que contribuíram directa ou indirectamente e que aqui não são citados o meu
agradecimento.

iii
Acrónimos

AFN - Autoridade Florestal Nacional


AmRia - Associação de Municípios da Ria
CAOP - Carta Administrativa Oficial de Portugal
CRIF - Cartografia de Risco de Incêndio Florestal
CRISE - Coordenação da Rede de Informação de Situações de Emergência
DGT - Direcção Geral do Território
IGeoE - Instituto Geográfico do Exército
INE - Instituto Nacional de Estatística
IPMA - Instituto Português do Mar e da Atmosfera
GIS - Geographic Information Systems
PDM - Plano Director Municipal
PMDFCI - Plano Municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios
PME - Plano Municipal de Emergência
PNPOT - Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território
POM - Planos de Ordenamento Municipais
SI - Sistemas de Informação
SIG - Sistemas de Informação Geográfica

iv
Índice Geral
Ficha de Identificação ........................................................................................................ i

Resumo ............................................................................................................................. ii

Agradecimentos ............................................................................................................... iii

Acrónimos ....................................................................................................................... iv

Índice Geral ...................................................................................................................... v

Índice de Figuras ............................................................................................................ vii

Índice de Quadros ............................................................................................................ ix

1. Introdução.................................................................................................................. 1

1.1. Ordenamento do Território e Cartografia de Risco ........................................... 1

1.2. Conceitos ........................................................................................................... 2

1.3. Descrição e Contexto ......................................................................................... 6

1.3.1. Sistemas de Informação Geográfica ........................................................... 6

1.3.2. Funcionalidades e Aplicações Genéricas ................................................... 8

1.3.3. Aplicações no sector florestal ................................................................... 11

2. Caracterização da Área de Estudo ........................................................................... 12

2.1. Enquadramento Geográfico e Administrativo ................................................. 12

2.2. Caracterização Sócio-Económica .................................................................... 13

2.3. Caracterização Climática ................................................................................. 16

2.3.1. Temperatura .............................................................................................. 16

2.3.2. Precipitação .............................................................................................. 17

2.3.3. Humidade do Ar ....................................................................................... 18

2.3.4. Vento ........................................................................................................ 18

2.4. Rede Hidrográfica e Pontos de Água ............................................................... 19

2.5. Visibilidade a partir dos postos de vigia ........................................................ 221

3. Metodologia ............................................................................................................ 23

3.1. Dados de base utilizados .................................................................................. 24

v
3.2. Tratamento inicial dos dados ........................................................................... 25

3.3. Método de agregação das variáveis ................................................................. 29

3.4. Caracterização das variáveis em análise .......................................................... 30

3.4.1. Ocupação do solo ..................................................................................... 30

3.4.3. Declives .................................................................................................... 34

3.4.4. Rede viária ................................................................................................ 38

3.4.5. Orientação das vertentes ........................................................................... 40

3.4.6. Densidade demográfica ............................................................................ 45

4. Análise e Discussão dos Resultados........................................................................ 49

5. Conclusões .............................................................................................................. 56

6. Webgrafia ................................................................................................................ 58

vi
Índice de Figuras

Figura 1 - Articulação dos conceitos fundamentais.......................................................... 5


Figura 2 - Integração dos Sistemas de Informação Geográfica ........................................ 6
Figura 3 - Modelo de Dados SIG ..................................................................................... 7
Figura 4 - Bases de dados geográficos: Vectorial e Raster .............................................. 8
Figura 5 - Dados do Tipo Raster e Vectorial .................................................................... 9
Figura 6 - Visualização de dados .................................................................................... 10
Figura 7 - Output de dados ............................................................................................. 10
Figura 8 - Localização Geográfica do Concelho da Murtosa ......................................... 12
Figura 9 - Dados Censos (1930 – 2011) ......................................................................... 13
Figura 10 - População Residente por freguesia e por género ......................................... 15
Figura 11 - Média da Temperatura do ar (Fonte: IPMA) ............................................... 17
Figura 12 - Quantidade de Precipitação Total (Fonte: IPMA) ....................................... 17
Figura 13 - Rede Hidrográfica do Concelho da Murtosa ............................................... 20
Figura 14 - Bacia de Visibilidade do Posto de Vigia de Albergaria-a-Velha................. 22
Figura 15 - Operação Merge das Linhas de Água .......................................................... 26
Figura 16 - Operação de Transformação do sistema de coordenadas iniciais ................ 26
Figura 17 - Operação ERASE ........................................................................................ 27
Figura 18 - Operação Join .............................................................................................. 28
Figura 19 - Organização dos dados no ArcCatalog ........................................................ 28
Figura 20 - Método de agregação de critério, Weighted Sum ........................................ 29
Figura 21 - Distribuição da ocupação do solo ................................................................ 30
Figura 22 - Reclassificação das espécies segundo o valor de perigosidade ................... 31
Figura 23 - Carta de ocupação do solo no concelho da Murtosa segundo a Classe de
Susceptibilidade .............................................................................................................. 32
Figura 24 - Criação da TIN............................................................................................. 34
Figura 25- Processo de criação da carta de declives do concelho da Murtosa ............... 35
Figura 26 - Resultado da criação do Slope ..................................................................... 36
Figura 27 - Mapa final dos declives reclassificados por nível de perigosidade ............. 37
Figura 28 - Ferramenta Euclidean Distance ................................................................... 39
Figura 29 - Distancia (em m) à rede viária ..................................................................... 39
Figura 30 - Mapa de Orientação das Vertentes .............................................................. 41

vii
Figura 31 - Orientação das Vertentes para o concelho da Murtosa ................................ 42
Figura 32 - Mapa final de Orientação das Vertentes (Reclassificado) ........................... 44
Figura 33 - Cálculo da densidade populacional por subsecção ...................................... 45
Figura 34 - Conversão da Feature Class “Densidade” para Raster ................................ 46
Figura 35 - Reclassificação dos valores da População ................................................... 47
Figura 36 - Densidade Populacional para a freguesia da Murtosa ................................. 47
Figura 37 - Carta de Risco de Incêndio Florestal do Concelho da Murtosa ................... 49
Figura 38 - Comando Con .............................................................................................. 50
Figura 39- Comando "Find Route" ............................................................................... 551
Figura 40 - Visibilidade dos possíveis postos de vigia ................................................... 53
Figura 41 - Distancia às zonas de perigo ........................................................................ 54

viii
Índice de Quadros

Quadro 1 - Conceitos Fundamentais ................................................................................ 2


Quadro 2 - Tabela População empregada por sector de Actividade............................... 14
Quadro 3 - Humidade relativa do ar no concelho de Aveiro (Fonte: Wikipédia) .......... 18
Quadro 4 - Médias mensais da frequência e velocidade do vento no concelho da
Murtosa (1954-1980) ...................................................................................................... 19
Quadro 5 - Critérios e respectivos pesos na atribuição do risco de incêndio florestal final
........................................................................................................................................ 24
Quadro 6 - Classes de susceptibilidade por ocupação do solo ....................................... 33
Quadro 7 - Reclassificação de Declives (em graus) ....................................................... 36
Quadro 8 - Reclassificação dos valores referentes á exposição das vertentes................ 42

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1. Introdução

Os incêndios florestais são o principal agente de perturbação do equilíbrio no mundo


rural, sendo o agente mais importante da alteração do uso do solo em Portugal. Esta
problemática tem vindo a assumir uma importância crescente, sobretudo devido aos
impactos negativos sobre os recursos naturais, nomeadamente nas áreas protegidas do
nosso país.
O facto de este problema constituir actualmente uma das grandes preocupações por
parte das entidades responsáveis pela gestão da floresta nacional e também devido à
projecção do problema transmitida pela divulgação dos grandes incêndios através dos
órgãos de comunicação social, tem colocado esta questão nos pontos altos da agenda
política nacional.
Em Portugal continental os prejuízos elevados resultantes da destruição de edificado
e de vastas áreas de povoamentos florestais dos quais as populações retiram
rendimentos, justifica a necessidade de se avaliar a perigosidade de incêndio florestal.
A cartografia de risco de incêndio florestal constitui uma ferramenta de apoio à
prevenção do risco de incêndio, permitindo identificar as áreas mais susceptíveis ao
fenómeno e as áreas com maior potencial de perda.
O objectivo geral deste projecto é então elaborar um sistema de informação
geográfica com recurso ao software ArcGIS 10.1 que permita, de forma simplificada ao
comum utilizador, avaliar o risco de incêndio no Concelho da Murtosa.
Propõe-se assim, apresentar um trabalho de investigação onde se elaborou a
Cartografia de Risco de Incêndio no Concelho da Murtosa, baseada nas especificações
existentes sobre o tema.

1.1. Ordenamento do Território e Cartografia de Risco

A política de ordenamento do território tem por objectivo a ponderação e


harmonização dos distintos interesses que se manifestam no território e a organização
espacial das actividades humanas, numa óptica de compatibilização de interesses e de
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protecção e valorização sustentável dos recursos territoriais a médio e longo prazo. Esta
assenta num sistema de gestão territorial organizado em três âmbitos coordenados
(nacional, regional, municipal) e concretiza-se através de um conjunto bem determinado
de instrumentos de gestão territorial.
Na cúpula do sistema de gestão territorial encontra-se o Programa Nacional da
Política de Ordenamento do Território (PNPOT). Este faz um diagnóstico sobre a
organização, tendências e desempenho do território terminando com uma síntese,
centrada na identificação de vinte e quatro grandes problemas que Portugal enfrenta no
domínio do ordenamento do território agrupando-os em seis domínios. No domínio dos
recursos naturais e gestão de riscos, são identificados alguns problemas entre os quais a
insuficiente consideração dos perigos nas acções de ocupação e transformação do
território, com particular ênfase para os sismos, os incêndios florestais, as cheias e
inundações e a erosão das zonas costeiras.
A consideração do sistema de prevenção de riscos como um dos quatro vectores do
modelo territorial constitui uma opção com importante significado. Com efeito, pode
identificar-se um conjunto abrangente de perigos: actividade sísmica, movimentos de
massa, erosão do litoral e instabilidade das arribas, cheias e inundações, incêndios
florestais, secas e desertificação, contaminação de massas de água, contaminação e
erosão de solos, derrames acidentais no mar, ruptura de barragens e perigos associados a
diversas infra-estruturas e acidentes industriais graves.

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1.2. Conceitos

Os conceitos associados aos diversos conteúdos dos processos de análise e avaliação


de riscos têm sido objecto de estudo e discussão científica um pouco por todo o mundo.
Alguns dos termos por vezes utilizados diferem em perspectivas de tradução, nem
sempre fáceis de interpretar.
Nesse sentido, foi feita uma recolha de informação com o intuito de simplificar
metodologias e de uniformizar os conceitos associados aos riscos naturais, constituindo
um quadro de referência capaz de promover o entendimento comum nesta área.
Foi analisado um vasto conjunto de documentos utilizados em países parceiros e
organizações internacionais, bem como bibliografia representativa no desenvolvimento
de projectos de análise de risco. Desse cruzamento de informação resultou a selecção de
um conjunto coerente de conceitos.

Conceito Definição Observações


Perigo Processo (ou acção) natural, O conceito aplica-se à totalidade dos
tecnológico ou misto susceptível de processos e acções naturais,
produzir perdas e danos tecnológicos e mistos
identificados.

Severidade Capacidade do processo ou acção O conceito reporta, exclusivamente,


para danos em função da sua a grandeza física do processo ou
magnitude, intensidade, grau, acção e não as suas consequências
velocidade ou outro parâmetro que (estas dependem também da
melhor expresse o seu potencial exposição).
destruidor.

Susceptibilidade Incidência espacial do perigo. Representável cartograficamente


Representa a propensão para uma através de mapas de zonamento,
área ser afectada por um sobretudo nos casos dos processos
determinado perigo, em tempo naturais e mistos identificados.
indeterminado, sendo avaliada
através dos factores de
predisposição para a ocorrência dos
processos ou acções, não
contemplando o seu período de
retorno ou a probabilidade de
ocorrência.

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Perigosidade Probabilidade de ocorrência de um Representável cartograficamente
ou Probabilidade processo ou acção (natural, através de mapas de zonamento,
do Perigo tecnológico ou misto) com nos casos dos processos naturais e
potencial destruidor (ou para mistos identificados. A
provocar danos) com uma probabilidade de ocorrência é
determinada severidade, numa dada quantificada e sustentada
área e num dado período de tempo. cientificamente.
Exposição População, propriedades, Expressão cartográfica com
Elementos Expostos estruturas, infra-estruturas, representação pontual, linear e
Elementos em Risco actividades económicas, etc., zonal.
expostos (potencialmente
afectáveis) a um processo perigoso
natural, tecnológico ou misto, num
determinado território.
Elementos expostos, estratégicos, Conjunto de elementos expostos de Expressão cartográfica com
vitais e/ou sensíveis importância vital e estratégica, representação pontual, linear e
fundamentais para a resposta à zonal.
emergência (rede hospitalar e de
saúde, rede escolar, quartéis de
bombeiros e instalações de outros
agentes de protecção civil e
autoridades civis e militares) e de
suporte básico às populações
(origens e redes principais de
abastecimento de água, rede
eléctrica, centrais e retransmissores
de telecomunicações).
Vulnerabilidade Grau de perda de um elemento ou Reporta-se aos elementos expostos.
conjunto de elementos expostos, Pressupõe a definição de funções
em resultado da ocorrência de um ou matrizes de vulnerabilidade
processo (ou acção) natural, reportadas ao leque de severidades
tecnológico ou misto de de cada perigo considerado.
determinada severidade. Expressa
numa escala de 0 (sem perda) a 1
(perda total).
Valor dos Elementos Expostos Valor monetário (também pode ser Reporta-se aos elementos expostos.
estratégico) de um elemento ou
conjunto de elementos em risco que
deverá corresponder ao custo de
mercado da respectiva recuperação,
tendo em conta o tipo de
construção ou outros factores que
possam influenciar esse custo.
Deve incluir a estimativa das
perdas económicas directas e
indirectas por cessação ou

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interrupção de funcionalidade,
actividade ou laboração.

Consequência ou Dano Prejuízo ou perda expectável num Reporta-se aos elementos expostos.
elemento ou conjunto de elementos
Potencial
expostos, em resultado do impacto
de um processo (ou acção) perigoso
natural, tecnológico ou misto, de
determinada severidade (C =
V*VE).

Risco Probabilidade de ocorrência de um Produto da perigosidade pela


processo (ou acção) perigoso e consequência.
respectiva estimativa das suas
consequências sobre pessoas, bens
ou ambiente, expressas em danos
corporais e/ou prejuízos materiais e
funcionais, directos ou indirectos.
(R = P*C).
Quadro 1 - Conceitos Fundamentais
(Fonte – Guia metodológico para a produção de cartografia municipal de risco e para a criação de sistemas de
informação geográfica (SIG) de base municipal)

Definidos estes conceitos importa perceber de que forma eles se articulam no


esquema Conceptual.
A figura 1 mostra como se relacionam os conceitos fundamentais em todo o processo
de avaliação de riscos, salientando os seguintes três principais conceitos:
• Susceptibilidade;
• Elementos expostos;
• Localização do risco.
Estes conceitos são imprescindíveis para a produção de cartografia municipal de
risco, constituindo informação indispensável para a revisão dos Planos Directores
Municipais (PDM) e dos Planos Municipais de Emergência (PME).
A avaliação da susceptibilidade consiste na identificação e classificação das áreas
com propensão para serem afectadas por um determinado perigo, (no caso do presente
trabalho, o perigo da ocorrência de incêndio florestal) em tempo indeterminado e é
efectuada de forma qualitativa através dos factores de predisposição para a ocorrência
desse perigo.

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Figura 1 - Articulação dos conceitos fundamentais


(Fonte – Guia metodológico para a produção de cartografia municipal de risco e para a criação de sistemas de
informação geográfica (SIG) de base municipal)

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1.3. Descrição e Contexto

1.3.1. Sistemas de Informação Geográfica

De modo geral, não existe uma definição geral para o conceito de Sistema de
informação Geográfica, SIG. As definições são condicionadas pelo ambiente em que
surgem e pela realidade dos problemas que ajudam a resolver.
Consoante o contexto de utilização, segundo Aronoff (1989) , um SIG pode ser
entendido como o “Conjunto de procedimentos, manual ou automatizado, utilizados no
sentido do armazenamento, e manipulação de informação georreferenciada.”. Já no
que toca à função do problema a resolver, segundo Cowen (1988) podem ser
compreendidos como um “Sistema de apoio à decisão envolvendo integração de
informação georreferenciada num ambiente de resolução de problemas.”.
De uma forma mais abrangente podemos dizer que os Sistema de Informação
Geográfica integram hardware, software, dados e capital humano. A grande diferença e
vantagem dos SIG face aos tradicionais Sistemas de Informação (SI) reside na
componente geográfica. Com os SIG é possível ver, compreender, inquirir, interpretar e
visualizar dados de muitas formas, revelando relações, padrões e tendências espaciais,
consubstanciadas em mapas, globos, relatórios ou gráficos.

Figura 2 - Integração dos Sistemas de Informação Geográfica


(Fonte: Curso de introdução à Georreferenciação de CH&C)

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Na implementação (integração geográfica de informação) do modelo de dados SIG,


os dados são organizados por layers, coverages ou temas, onde cada tema representa
entidades semelhantes. Os layers são interligados utilizando localizações explícitas à
superfície da terra, assim, a localização geográfica é o principal elemento organizativo.

Figura 3 - Modelo de Dados SIG


(Fonte: Aula SIG I da ESTGA, 2008)

Em bases de dados geográficas, existem três grandes grupos de modelos de dados:


 O modelo de dados Raster (também denominado grid) que divide o espaço
“arbitrariamente”, por exemplo, numa rede regular, e associa atributos aos elementos
individuais da partição; assim, este modelo codifica as relações espaciais de forma
implícita;
 O modelo de dados Vectorial (baseado em objectos) que identifica atributos e
define a sua localização, portanto, codifica as relações espaciais explicitamente;
 O modelo de dados Relacional onde os dados são organizados na forma de uma
tabela, onde as linhas correspondem aos geo-objetos e as colunas correspondem aos
atributos.

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Figura 4 - Bases de dados geográficos: Vectorial e Raster


(Fonte: Curso á introdução de Georreferenciação de CH&C)

O formato matricial é gravado sob a forma duma sequência de números que


representam um conjunto de linhas e de colunas, como o próprio nome indica. Os
números gravados no ficheiro traduzem o objecto em estudo. É do produto linha por
coluna que surge a designação de pixel e que representa a menor unidade pictórica
registada.
O formato vectorial é gravado sob a forma de conjuntos ordenados de valores. Cada
um destes conjuntos é constituído pela posição geográfica do ponto a que se refere.

1.3.2. Funcionalidades e Aplicações Genéricas

Um SIG deve permitir que se realizem com eficiência as operações elementares de


adição, remoção e actualização dos dados, bem como operações do tipo selecção sobre
os valores dos vários atributos. O processo de visualizar, processar ou analisar
informação espacial requer que sejam seleccionados dados existentes num SIG.
Estabelecendo um paralelo com o que é usual fazer nos Sistemas de Informação
convencionais, poder-se-ia dizer que num SIG também se realizam queries. Mas,
contrariamente ao que sucede nos outros SI, a maior parte destas incorporam

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explicitamente relações espaciais para descrever restrições sobre os objectos espaciais


que se pretendem tratar. Assim, nos SIG estas operações constituem características
especiais. Acresce ainda que existem outras operações que se consideram também
elementares, não o sendo em outros sistemas que também têm vindo a ser utilizados no
suporte de informação geográfica.
As funcionalidades dos SIG agrupam-se em 6 grupos principais:
 Captura de dados: através de GPS; dados digitais; estações totais; mapas em
papel; coordenadas;
 Armazenamento: dados do tipo Vectorial (linhas, pontos, polígonos); dados do
tipo Raster (pixéis);

Figura 5 - Dados do Tipo Raster e Vectorial


(Fonte: Maguire e Dangermond (1991)

 Inquirição: identificar elementos específicos; identificar elementos com base em


condições; atributos; relações espaciais;
 Análise: proximidade; sobreposição;
 Visualização;
 Estruturação/Restruturação dos dados;

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Figura 6 - Visualização de dados


(Fonte: Instituto Superior Técnico)

 Output;

Figura 7 - Output de dados


(Fonte: Instituto Superior Técnico)

Como aplicações, os SIG são empregues em quase tudo o que nos toca o dia-a-dia
desde qualidade do ar, hidrologia, geologia, transportes, construção, topografia e
cadastro, entre muitos outros.

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1.3.3. Aplicações no sector florestal

Os Sistemas de Informação Geográfica podem ter vários níveis de utilização, sendo


aplicados a diversos níveis de problemas. Segundo Crain e MacDonald (1984), o
desenvolvimento das aplicações SIG pode ser representado em três fases de evolução:
 1ª Fase: Aplicações de inventário – Consiste na junção e organização dos dados,
de forma a poderem ser utilizados em futuras consultas ou noutro tipo de aplicações;
 2ª Fase: Aplicações de análise – Este tipo de aplicações requerem um maior
cruzamento de informações e exige o uso de métodos estatísticos e análise espacial;
 3ª Fase: Aplicações de gestão – Representa o aproveitamento das maiores
potencialidades dos SIG. Esta forma de utilização possibilita um forte apoio à decisão e
à resolução de problemas.
Tal como acontece em diversos sectores, no florestal são possíveis aplicações dos
SIG a todos os níveis. Foi principalmente a partir dos anos 90 que os SIG têm vindo a
ter um número cada vez maior de utilizações dentro das actividades florestais nacionais.
Dentro das possíveis aplicações, destaca-se a utilização dos SIG nos trabalhos de
prevenção a incêndios florestais. Recorrendo às condições climáticas, nas características
do terreno e do coberto vegetal, é possível a criação de cartas de risco de incêndio.

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2. Caracterização da Área de Estudo


2.1. Enquadramento Geográfico e Administrativo

Situado na Costa Atlântica da Região Centro de Portugal, integrado no Distrito de


Aveiro e na Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro, o Município da Murtosa
é constituído por 4 Freguesias – Bunheiro, com 24 km²; Monte, com 2 km²; Murtosa,
com 15km² e Torreira com 31km² – que se estendem por uma área de cerca de 73 Km².

Figura 8 - Localização Geográfica do Concelho da Murtosa


(Fontes: Websites da Wikipédia e Câmara Municipal da Murtosa, respectivamente)

O município é dividido em dois pelo braço norte da ria de Aveiro. O território


principal, onde se localiza a vila, é limitado a nordeste pelo município de Estarreja e a
sul liga-se aos municípios de Albergaria-a-Velha e Aveiro através da ria de Aveiro, que
também o rodeia a ocidente. O território secundário é limitado a norte, por terra, pelo
município de Ovar e a sul pelo de Aveiro, e tem litoral na ria de Aveiro a leste e

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no oceano Atlântico a oeste.


De acordo com os Censos 2011 a população actual é de 10585 indivíduos, tendo a
Murtosa sido o Concelho que mais cresceu no Distrito de Aveiro, em comparação com
os resultados de 2001.

Figura 9 - Dados Censos (1930 – 2011)


(Fonte: Wikipédia)

Em pleno coração da Ria de Aveiro, junto ao Mar, o Território Murtoseiro é dotado


de um património natural único, de elevada beleza paisagística e de grande riqueza
ambiental. A morfologia plana convida o visitante a longos e tranquilos passeios, a pé
ou de bicicleta, à descoberta da fauna e da flora, pelas margens ribeirinhas ou pelo meio
dos campos férteis.
O ponto de cota mais elevada situa-se na freguesia da Torreira e tem 22m de altura
em relação ao nível médio das águas do mar.
Dos 2944 pontos de apoio altimétrico, 2663 tem menos de 10 metros de altitude e
destes, 505 menos de 2 metros pelo que se pode concluir que se trata de um concelho
com um relevo pouco acidentado ou mesmo nulo em vários pontos.

2.2. Caracterização Sócio-Económica

Segundo o Recenseamento de 2001, da responsabilidade do Instituto Nacional de


Estatística (INE), a população residente no concelho da Murtosa resumia-se a 9458
Habitantes. Contudo, dados mais recentes (2011), veiculados pela mesma instituição
para esta unidade territorial administrativa, apontam para os 10585 habitantes,
concluindo-se assim, que se verificou um crescimento demográfico de 1127 habitantes
residentes em 10 anos, incremento que corresponde a uma taxa de variação positiva na
ordem dos 11,9%. Neste concelho, a freguesia da Murtosa é a que apresenta mais

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efectivos populacionais residentes com 3699 habitantes, enquanto que a do Monte, com
1459 indivíduos, é a que tem menor número de residentes.
Relativamente a caracterização económica, o sector primário no Concelho, em geral,
emprega apenas 16,22% da população. Na freguesia do Bunheiro, 3.38% da população
trabalha neste sector nomeadamente na agricultura uma vez que, nesta freguesia existe
abundância de campos agrícolas. Já na freguesia da Torreira, cerca de 7,61% da
população está ligada à pesca, exercida na Ria e no Mar. O sector secundário
corresponde às actividades industriais, nomeadamente de transformação. A nível
concelhio este sector emprega mais de 31,43% da população activa residente. Por
freguesia, verifica-se que na Torreira, apenas 6,71% da população trabalha neste sector.
Já a Murtosa (9,83%) logo seguida pelo Bunheiro (9,68%) são as freguesias que mais
indivíduos empregam na indústria factor a que não será alheia a localização da zona
industrial do concelho. Já no que toca ao sector terciário, este é o sector de todos os
serviços, como por exemplo, comércio, bancos, educação ou transportes. O terciário
emprega 52,35% da população, sendo o sector que mais empregadores detêm neste
concelho.

Quadro 2 - Tabela População empregada por sector de Actividade

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Figura 10 - População Residente por freguesia e por género

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2.3. Caracterização Climática

O clima de uma determinada região é fundamentalmente estabelecido de acordo com


a sua localização geográfica. Factores gerais resultantes da circulação atmosférica à
latitude dessa mesma região, que posteriormente são condicionados por factores locais
como a altitude, proximidade ao mar ou a orientação das vertentes, são determinantes
para a definição do seu clima.
O clima do concelho em estudo é classificado como temperado húmido, com
estação seca no Verão pouco quente (Classificação de Köppen - Clima Csb: Clima
Mesotérmico Temperado Húmido; s - Estação seca no verão; b – Verão pouco quente,
mas extenso). No que diz respeito à temperatura, a média anual ronda os 14ºC enquanto
a amplitude térmica anual média fica-se pelos 10ºC.
O Concelho da Murtosa é uma zona com nevoeiros característicos da região
oceânica (em média com 53 dias no ano – frequência de 14,5%) devidos a massas de ar
continental quente que se deslocam sobre o mar. É um fenómeno estival, sensível
sobretudo de madrugada.
Os dados climáticos não entraram no modelo uma vez que a Murtosa se trata de um
município que, pelas suas características orográficas, não apresenta grandes contrastes
do ponto de vista climático e, no seu interior e nas imediações, não tem uma rede de
postos meteorológicos capaz de permitir cartografar esses contrastes.

2.3.1. Temperatura

Relativamente aos dados meteorológicos, e dada a escassez de informação relativa


ao município, observa-se a Figura 11 retirada do website do Instituto Português do Mar
e da Atmosfera (IPMA), na qual podem ser verificados que os valores médios da
temperatura do ar em Aveiro entre os anos de 1971 e 2000 compreenderam valores
entre os 10 e os 17ºC. Foi escolhido este concelho vizinho ao do estudo uma vez que é o
que apresenta sensivelmente as mesmas características topográficas e costeiras que o
concelho da Murtosa.

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Figura 11 - Média da Temperatura do ar (Fonte: IPMA)

2.3.2. Precipitação

As condições de precipitação neste concelho são de modo a torná-lo relativamente


húmido, à imagem do que acontece, em geral, com o noroeste continental português do
qual faz parte. Quanto à sua distribuição mensal, é nítida a feição mediterrânea do
clima, pela diferença entre os valores registados de Inverno e os de Verão, em média de
140mm e 30mm, respectivamente. Os valores médios anuais estão bem acima da média
do país. Relativamente ao número de dias de precipitação, nada pode ser dito uma vez
que não existem dados para efectuar tal análise.

Figura 12 - Quantidade de Precipitação Total (Fonte: IPMA)

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2.3.3. Humidade do Ar

No concelho de Aveiro os valores médios anuais de humidade relativa variam entre


os 82 e os 86%. Esta humidade corresponde grosso modo a existência de uma maior
evaporação e condensação proporcionada pela existência do elemento água, presente
não só pela Ria de Aveiro como também pelo Oceano Atlântico que banha a zona
costeira. Estes dados significam que as condições para a proliferação de incêndios,
quanto à humidade relativa do ar, não são muito favoráveis neste concelho.

Quadro 3 - Humidade relativa do ar no concelho de Aveiro (Fonte: Wikipédia)

2.3.4. Vento

Relativamente à tabela cedida amavelmente pelo Engenheiro Daniel Bastos,


correspondente aos anos entre 1954 e 1980, verifica-se que a distribuição dos ventos no
concelho da Murtosa caracterizava-se pela sua predominância dos rumos Norte e
Noroeste, com particular incidência nos meses de Verão. Nesta estação do ano, as
velocidades maiores também se registaram destes quadrantes, apesar de as maiores
velocidades serem sentidas em especial no Inverno, mas dos rumos Sul, Sudoeste e
Oeste. Os ventos do quadrante Este, os mais influentes sobre os incêndios, eram pouco
frequentes e com velocidades médias baixas, em particular nos meses mais quentes.
Significa isto que, e atendendo a que estes dados se mantenham semelhantes
actualmente, quanto ao vento, o concelho da Murtosa não corre risco importante, a não
ser de eventuais ventos de Norte se forem relativamente secos.

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Quadro 4 - Médias mensais da frequência e velocidade do vento no concelho da Murtosa (1954-1980)

2.4. Rede Hidrográfica e Pontos de Água

O concelho da Murtosa é dividido em dois pela ria de Aveiro e delimitado a oeste


pelo Oceano Atlântico. Todos os restantes canais e ribeiras do concelho são Tributários
da Ria de Aveiro.
A existência de pontos de água com boas condições de acesso aéreo e/ou terrestre é
um factor essencial no combate aos incêndios florestais. O acesso à água, quer por parte
das corporações de bombeiros, quer por parte das próprias populações é determinante na
eficácia das acções de combate aos incêndios florestais. Neste contexto, deveria ser
realizado um levantamento da localização dos pontos de água no concelho da Murtosa a
fim de facilitar a localização dos mesmos em caso de emergência.

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Figura 13 - Rede Hidrográfica do Concelho da Murtosa

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2.5. Visibilidade a partir dos postos de vigia

A detecção e localização de um foco de incêndio na sua fase inicial são importantes


factores para o sucesso do combate e controlo da propagação dos incêndios florestais.
Assim, a avaliação das áreas que são visíveis dos postos de vigia, bem como as que se
encontram encobertas e fora do alcance visual (Almeida et al. 1995; Catry 2001) é um
factor que contribui para o potencial risco de incêndio de uma determinada região.
Encontra-se disponível uma cartografia das visibilidades dos postos de vigia para o
território nacional, disponível no site do grupo CRISE. O mapa foi elaborado a partir da
base topográfica do Instituto Geográfico do Exército (MDT) e do ficheiro vectorial da
localização da rede nacional de postos de vigia da ex-Direcção Geral das Florestas,
actual Direcção Geral de Recursos Florestais, à escala 1:25.000.
Após análise verificou-se que não existe qualquer posto de vigia associado ao
concelho, no entanto foi tido como referencia o posto mais próximo, situado no
concelho vizinho de Albergaria-a-Velha.
Fazendo a análise da figura 14, pode-se concluir que a bacia de visibilidade
apresentada, correspondente ao posto de vigia situado no monte da Srª do Socorro,
cobre na totalidade a área circunscrita ao concelho da Murtosa.
Este critério não terá qualquer tipo de peso na produção desta cartografia de risco
uma vez que não é tido como um factor de influência na ocorrência de um eventual
incêndio florestal mas sim, como um método importantíssimo de combate. Fica apenas
registada esta observação.

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Figura 14 - Bacia de Visibilidade do Posto de Vigia de Albergaria-a-Velha

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3. Metodologia

A produção da cartografia de risco de incêndio, tal como referido anteriormente,


baseou-se na utilização de uma metodologia de análise multicritério sugerida por
Almeida et al., embora com algumas alterações consideradas pertinentes ao caso em
estudo. A opção pela utilização de uma metodologia semelhante deveu-se ao facto de se
tratar de uma metodologia intuitiva e completa, adaptada às características do problema
que reconhece as suas várias faces.
A utilização de metodologias de análise multicritério no desenvolvimento de
cartografia de risco de incêndio florestal não é original, tendo sido sugerida por vários
autores. Os critérios deverão ser representativos das várias variantes que poderão
contribuir para o aumento do risco de incêndio, devendo ser independentes entre si de
modo a reduzir a discrepância dos resultados devido às correspondências entre as
variáveis.
Após a escolha dos critérios representativos dos vários aspectos do problema, estes
deverão ser quantificados e qualificados de acordo com os seus atributos. Assim, cada
atributo deve quantificar o desempenho de determinado critério face ao objectivo, que
neste caso é a determinação do potencial risco de incêndio florestal no concelho da
Murtosa. Os critérios de decisão poderão ser benéficos, ou seja, incrementar o potencial
risco de incêndio global. De modo inverso, os critérios poderão ter o efeito de “atrito”,
assumindo propriedades que não potenciam o risco de incêndio global, ou apresentando
um carácter de charneira ou limite, em que são especificados quer valores-limite,
máximos ou mínimos.
Por ordem decrescente de importância face ao potencial risco de incêndio florestal
final, os critérios seleccionados são: ocupação do solo, declives, rede viária, exposições
e densidade demográfica (Quadro 5).
A escolha destes critérios baseou-se então nos trabalhos realizados por Almeida et al.
(1995), tendo-se optado por excluir o critério de hidrografia devido à sua fraca
representatividade face ao risco total e como referido, o critério das visibilidades a partir
dos postos de vigia.

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Quadro 5 - Critérios e respectivos pesos na atribuição do risco de incêndio florestal final


(Fonte: Instituto Geográfico Português)

3.1. Dados de base utilizados

Para dar seguimento ao trabalho, foram utilizados os seguintes, dados em formato


shapefile:
 Carta Administrativa Oficial de Portugal (CAOP) do IGP, versão de 2013 da
qual foi extraído o Concelho da Murtosa e os concelhos envolventes;
 Dados populacionais extraídos dos Censos 2011, do site do INE;
 Cartografia Base de 2009 da AmRia, existente na Instituição Pública onde
foi realizado o estágio;
 Rede Viária e Hidrográfica do Concelho da Murtosa, extraídas igualmente da
Cartografia da AmRia;
 Posto de vigia do concelho de Albergaria-a-Velha e respectiva bacia de
visibilidade, origem: Coordenação da Rede de Informação de Situações de
Emergência;
 Shapefile com os pontos cotados do concelho, igualmente cedida pela
instituição;
 Carta de Uso e Ocupação do Solo de Portugal Continental para 2007 do
IGeoE.
Apesar do Sistema de Referencia Datum 73 ser considerado obsoleto pelo IGP, foi
este o utilizado uma vez que ainda é o Sistema de Referencia usado pela instituição.

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3.2. Tratamento inicial dos dados

Foram realizadas várias operações antes de se poder iniciar o trabalho.


Primeiramente foi necessário organizar a informação dispersa dentro de um mesmo
tema, como o caso da rede viária e hidrográfica que se encontravam subdivididos por
várias shapefiles. O procedimento adoptado foi o da união da informação numa única
shapefiles através da operação MERGE (Data Management Tools -> General -> Merge)
(Figura 15).
Também foi necessário efectuar o tratamento dos dados relativos aos dados
importados de sites nacionais como o dos Censos 2011 uma vez que não se
encontravam no sistema de coordenadas escolhido para o trabalho. Foi então usada a
operação PROJECT (Data Management Tools –> Projections and Transformations ->
Feature -> Project). (Figura 16)
Ainda relativamente aos dados importados do site do INE, foi necessário efectuar
uma alteração na tabela relativa aos dados dos Censos, uma vez que o campo que seria
usado para fazer a relação entre esta tabela de atributos e a tabela relativa á shapefile em
formato vectorial se encontrava com um caracter inválido à união, que teve que ser
substituído pelo que tornaria válida a união das tabelas. Este processo foi efectuado
directamente na tabela de Excel, através de uma substituição no campo GEO_COD do
símbolo “ ‘ “ pela letra “A”. Após a importação da tabela já modificada para o ArcGIS,
foi feita a alteração do nome desta para “Densidade” e da shapefile relativa para
“Densidade_Pop”. Foi então feito um Join entre a Shapefile e a tabela: botão direito do
rato sobre a shapefile “Densidade_Pop” -> Joins and Relates -> Join, e foi então feita a
operação como exemplificado na figura 18.

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Figura 15 - Operação Merge das Linhas de Água

Figura 16 - Operação de Transformação do sistema de coordenadas iniciais

No que diz respeito à Shapefile da Vegetação, foi feita a operação ERASE por modo
a remover as zonas em comum entre esta e a das Superfícies Aquáticas. (Figura 17)
Posto isto, foi criada uma pasta que pudesse conter os dados da forma mais
organizada possível. Criou-se então no ArcCatalog duas File Geodatabases: uma com o
nome CRIF e outra com o nome CRIF Rasters. Na primeira foram criadas 5 feature
datasets para que cada uma destas pudesse ser organizada por temas: Dados_Gerais,
Hidrografia, Limites_Administrativos, Ocupação_Uso_Solo e Classes_Risco. Dentro de
cada feature dataset foi feita a importação das feature classes relativas ao tema. Dentro

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desta File Geodatabase também foi feita a importação da tabela “Densidade”, ficando de
fora das datasets uma vez que só podem ser importadas para dentro destas feature
classes. A segunda File Geodatabase foi criada precisamente pela impossibilidade de
colocar tudo o que não seja Feature Class dentro de Feature Datasets. De forma a poder
agrupar todos os Rasters, foi então criada a File Geodatabase “CRIF Rasters”. A Tin
inicial que iria ser criada posteriormente também ficaria
isolada, mas esta por sua vez dentro da pasta “ArcGIS” onde estão contidas as File
Geodatabases pois esta para poder ser importada para uma Geodatabase teria que sofrer
uma conversão para Grid e ai já seria tratada como um Raster normal. O .mxd final
também ficou dentro desta pasta ArcGIS. O modelo estrutural final criado pode ser
observado na figura 19.

Figura 17 - Operação ERASE

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Figura 18 - Operação Join

Figura 19 - Organização dos dados no ArcCatalog

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3.3. Método de agregação das variáveis

A técnica utilizada para a agregação dos critérios designa-se por soma ponderada
(Weighted Sum), sendo considerada uma das técnicas mais disseminadas (Brookes,
1997; Massam, 1999; Malczewski, 1999; Malczewski, 2000; Nardini, 1998). O referido
método pode ser encontrado no ArcToolbox Spatial Analyst Tools -> Overlay ->
Weighted Sum.
Esta técnica baseia-se no pressuposto de que a soma das ponderações dos critérios
deverá ser igual ao valor máximo (1). Seguidamente procede-se ao produto entre o peso
e o respectivo critério. Por fim, efectua-se o somatório dos critérios. A grelha contendo
valores entre 1,71 e 121,26 foi reclassificada em 5 classes de risco: Baixo, Baixo-
Moderado, Moderado, Elevado e Muito Elevado.

Figura 20 - Método de agregação de critério, Weighted Sum

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3.4. Caracterização das variáveis em análise

3.4.1. Ocupação do solo

Relativamente ao solo, fazendo a análise do gráfico da figura 21, este é usado


maioritariamente para fins agrícolas dada a intensa actividade no sector.
Existem duas áreas distintas, particularmente sensíveis à possibilidade de ocorrência
de incêndios florestais com alguma dimensão: ao longo do litoral (freguesia da
Torreira), as matas encontram-se infestadas de acácias, tornando-as compactas e de
transposição difícil; os acessos são em areia, o que dificulta a progressão das viaturas
até atingirem o local da ocorrência; a zona é habitualmente varrida por ventos
marítimos, responsáveis pela rápida progressão dos incêndios; a nascente da ria
particularmente na freguesia do Bunheiro, as matas são menos densas, mais limpas e de
melhores acessos, apresentando alguma descontinuidade entre manchas florestais, pelo
que o risco de incêndio é menor.

Figura 21 - Distribuição da ocupação do solo

3.4.2. Quantificação do risco de incêndio associado ao tipo de ocupação do solo

A atribuição da classificação do risco de incêndio foi feita tendo em conta por um


lado os diferentes graus de inflamabilidade e combustibilidade de cada espécie e, por
outro, através da avaliação do índice de risco em termos estatísticos.

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Inicialmente foram criados na tabela da feature class “Vegetação” mais dois campos:
Nivel_Per (Nível de Perigosidade) e Classe_Sus (Classe de Susceptibilidade). Os
elementos da tabela foram assim agrupados tendo em conta o quadro 6: Nível de
perigosidade 2 (Baixa): áreas agrícolas em geral, pomar, regadio/horta; Nível de
perigosidade 3 (Média): sequeiro; Nível de perigosidade 4 (Alta): eucaliptos, mata,
mato e pinheiros.
De seguida foi necessário criar um Raster da informação em formato vectorial
presente na feature Class “Vegetação” para que mais tarde pudesse ser feita a sua
reclassificação.
Destas operações resultou a carta de uso do solo da Figura 23.

Figura 22 - Reclassificação das espécies segundo o valor de perigosidade

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Figura 23 - Carta de ocupação do solo no concelho da Murtosa segundo a Classe de Susceptibilidade

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Quadro 6 - Classes de susceptibilidade por ocupação do solo


(Fonte: PMDFCI da Camara Municipal de Montemor-o-Novo)

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3.4.3. Declives

Neste estudo recorreu-se a um modelo digital de terreno (TIN- Triangulated Irregular


Network) elaborado com recurso a feature class dos pontos cotados do concelho e da
moldura do concelho onde é possível após analise verificar que o concelho é
caracterizado por um terreno praticamente plano.

Figura 24 - Criação da TIN

Após a criação da TIN, foi feita a transformação desta para formato Raster (3D
Analyst Tools -> Conversion -> From TIN -> Tin to Raster) uma vez que o resultado
final da soma dos critérios teria que conter toda a informação em formato Raster, e que
a criação da carta de declives implica a TIN como input. A resolução destes Rasters
gerados foi de aproximadamente 50m. Posto isto, foi iniciado o processo de
determinação dos declives (Slope), em graus, para a região em estudo. Neste sentido foi
utilizado o ArcToolbox onde foram efectuados os procedimentos da figura 25.

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Figura 25- Processo de criação da carta de declives do concelho da Murtosa

Os resultados apresentados variam entre os 0 e os 8,47 graus, justificados pela fraca


irregularidade do terreno, sendo este, tal como referido anteriormente, praticamente
plano.
Como a propagação do fogo mantém uma relação com o declive de modo não linear,
estabeleceram-se ponderações que pretendem representar o aumento do risco de
incêndio com o aumento do declive. O declive influencia a velocidade e a direcção dos
ventos, assim como a velocidade e a propagação do fogo. Um declive acentuado tem
tendência a favorecer a propagação do fogo pela aproximação dos combustíveis às
chamas, uma vez que determina a dessecação desses mesmos combustíveis em
continuidade vertical, os quais entram em contacto com o ar quente das chamas
subjacentes. Isto acontece também devido à possibilidade da presença de ventos
ascendentes, originados por depressões com grandes declives intensos, que
proporcionam o rápido desenvolvimento de uma corrente de convecção (Botelho 1992).
Concomitantemente, o acentuar do declive condiciona o ataque ao incêndio, limitando a
acessibilidade dos meios à frente do mesmo.

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3.4.3.1. Quantificação do risco de incêndio associado ao declive

No que diz respeito à carta de declives, gerada a partir da altimetria, verifica-se que o
território ocupado pelo concelho da Murtosa é na sua grande maioria composto por uma
ampla planície com declives inferiores a 0,1 graus.
Recorrendo a tabela auxiliar (Quadro 7) para a reclassificação dos declives, foi feita
a reclassificação dos valores resultantes. No entanto, e dado que o valor máximo de
declive se fica pelos 8,47 graus, apenas resultaram dois níveis de perigosidade para o
concelho: o nível 2 que engloba a grande maioria dos pixéis caracterizadores do declive
e o nível 3 situado na zona dunar, junto a costa, na freguesia da Torreira.
O resultado final para a reclassificação dos declives para o concelho da Murtosa
encontra-se na figura 27.

Quadro 7 - Reclassificação de Declives (em graus)


(Fonte: DGRF, 2007)

Figura 26 - Resultado da criação do Slope

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Figura 27 - Mapa final dos declives reclassificados por nível de perigosidade

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3.4.4. Rede viária

A proximidade à rede viária é um factor de origem humana com influência na


perigosidade de incêndio para as áreas florestais adjacentes. Os incêndios florestais que
têm origem humana, seja por negligência e/ou acidente, ou por ignição criminosa,
iniciam-se frequentemente perto da rede viária, pelo que a proximidade a uma estrada
ou caminho pode aumentar o perigo de ignição.
Grande parte do combate aos incêndios é realizada por viaturas-cisterna, sendo que a
distância útil de combate é em grande medida determinada pela existência de uma rede
viária. Esta apresenta-se como um dos elementos a considerar na problemática da
prevenção e do combate a incêndios florestais pelas três principais funções que
desempenha a este nível: primeiro porque permite a visibilidade para quem circule nas
vias, segundo porque permite o acesso das viaturas de combate a incêndios e por último
porque pode também funcionar como corta fogos.
À imagem do que tem acontecido em todo o país, no concelho da Murtosa a
densidade de vias nas áreas florestais, contrariamente a rede viária, não tem vindo a ser
melhorada.
O critério da rede viária foi criado a partir da cartografia da AmRia de onde numa
fase inicial foram extraídos os dados correspondentes a rede viária disponíveis.

3.4.4.1. Quantificação do risco de incêndio associado à rede viária

Para efectuar a análise relativa ao critério Rede Viária, inicialmente foi necessário
proceder á conversão da shapefile em formato vectorial “Rede_Viária” para Raster:
Conversion Tools -> To Raster -> Polyline to Raster. De seguida efectuou-se a operação
“Euclidean Distance” de modo a obter as distâncias euclidianas à rede viária. Para a
análise da distância à rede viária foram apenas consideradas as estradas, não sendo
assim abrangidos os caminhos agrícolas e florestais.

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Figura 28 - Ferramenta Euclidean Distance

Figura 29 - Distancia (em m) à rede viária

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Uma análise à figura 29 permite verificar que o concelho da Murtosa apenas


apresenta áreas com uma distância à rede viária superior a 500 metros na zona
correspondente ao eixo da ria de Aveiro e às zonas inundadas correspondentes aos
juncais.

3.4.5. Orientação das vertentes

A exposição do relevo aos raios solares é um factor que influencia a dinâmica do


fogo e a vulnerabilidade da vegetação aos incêndios. Pode-se afirmar que quanto maior
é a exposição solar, mais elevada será a temperatura e menor a humidade numa dada
área.
Segundo Botelho (1992), as encostas ensolaradas são mais secas e contêm menos
vegetação combustível que as de sombra. Às latitudes de Portugal, regra geral, as
encostas com estas características correspondem às vertentes Sul e Sudoeste que
apresentam condições climáticas e um mosaico de vegetação tipificado pela abundância
de espécies esclerófitas favoráveis à rápida inflamação e propagação do fogo,
contrariamente às vertentes Norte e Nordeste que, detendo maiores teores em humidade,
ardem mais lentamente e atingem temperaturas inferiores (Almeida et al. 1995).
O critério das exposições, directamente correlacionado com a orientação das
vertentes foi elaborado, tendo como base a TIN recorrendo à utilização do comando
aspect: 3D Analyst Tools -> Raster Surface -> Aspect. Como resultado foi gerado o
layout da figura 30.

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Figura 30 - Mapa de Orientação das Vertentes

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3.4.5.1. Quantificação do risco de incêndio associado à orientação das


vertentes

Após calculados os dados sobre a orientação das vertentes, através do comando


Aspect, foi efectuada a reclassificação do Raster resultante, Aspect_Exposições. Esta
reclassificação foi efectuada tendo em conta o quadro 8, onde a cada intervalo foi feita a
correspondência a um dado quadrante.

Quadro 8 - Reclassificação dos valores referentes á exposição das vertentes


(Fonte: IGP)

No que se refere às exposições aos raios solares (Figura 31) verifica-se que a
orientação das vertentes é predominantemente partilhada entre as direcções Sul e Oeste,
no entanto as vertentes Norte e Este apresentam também um valor bastante próximo aos
últimos.

Figura 31 - Orientação das Vertentes para o concelho da Murtosa

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A relação entre a orientação das vertentes e os declives adquire uma importância


maior do que a análise das variáveis isoladamente, uma vez que, associados às
condições climáticas, influenciam positiva ou negativamente os processos vitais da
vegetação e aumentam ou não o risco de incêndio.
A esta relação dá-se o nome de insolação e, como já referido anteriormente, as
vertentes expostas a Sul (no Hemisfério Norte), são as que recebem maior quantidade de
radiação solar ao longo do ano, contrariamente às vertentes expostas a Norte. As
vertentes expostas a Oeste possuem valores de temperaturas do ar superiores às expostas
a Este, pois, no primeiro tipo de vertentes verifica-se uma acumulação de radiação ao
longo do dia, logo, ao aquecimento de massas, enquanto a nascente, a radiação das
primeiras horas é gasta na evaporação do orvalho. O resultado final encontra-se na
Figura 32.

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Figura 32 - Mapa final de Orientação das Vertentes (Reclassificado)

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3.4.6. Densidade demográfica

O critério utilizado para elaborar a densidade demográfica teve como base os dados
recolhidos por subsecção estatística referentes ao XV Recenseamento Geral da
População (Censos 2011), disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estatística. Para
elaboração do critério procedeu-se em primeiro lugar ao cálculo das densidades
demográficas por subsecção estatística através do comando “Field Calculator” (Figura
33). Para isso foram usados os valores correspondentes à população residente divididos
pela área da subsecção. Para o estudo em causa este foi considerado o grupo mais
relevante uma vez que nele são contabilizadas todas as pessoas residentes num
alojamento, incluindo crianças, mesmo que se encontrem temporariamente ausentes ou
que não residam nesse alojamento a maior parte do ano, como por exemplo, familiares
deslocados por motivos de trabalho, estudo, etc. Neste grupo também são contabilizadas
as pessoas que por infelicidade se encontravam internadas á data da realização dos
Censos.

Figura 33 - Cálculo da densidade populacional por subsecção

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Após o cálculo da densidade, foi feita a conversão para Raster do ficheiro vectorial
de densidades, onde o campo usado para esta conversão foi o calculado anteriormente
(Figura 34).

Figura 34 - Conversão da Feature Class “Densidade” para Raster

3.4.6.1. Quantificação do risco de incêndio associado à densidade


demográfica

Por senso comum, podemos basear-nos no pressuposto de que uma elevada


densidade populacional irá promover o aumento do risco de incêndio florestal devido à
maior probabilidade de negligência e/ou acidente ou mesmo de ignição intencional
criminosa. No entanto, considerou-se, também, que a ausência de população poderá ser,
simultaneamente, um factor que potencia o risco de incêndio, visto poder estar
associado ao abandono da propriedade.
Após isto foi feita uma reclassificação da simbologia onde foi feita a divisão em 10
classes como mostra a figura 35.

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Figura 35 - Reclassificação dos valores da População

Figura 36 - Densidade Populacional para a freguesia da Murtosa

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Após análise da figura 36, podemos concluir que a densidade populacional nos
intervalos entre os 200 e os 400 Hab/Km² corresponde às áreas que cobrem mais
território no Concelho. As áreas a cor mais clara, com menos população, são as que se
encontram cobertas pela ria de Aveiro e zonas dunares situadas mais a norte do
concelho.

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4. Análise e Discussão dos Resultados

A carta de risco de incêndio florestal do concelho da Murtosa que pode ser


observada na figura 37 resultou da aplicação da metodologia anteriormente referida
(Weighted Sum).

Figura 37 - Carta de Risco de Incêndio Florestal do Concelho da Murtosa

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Para efectuar a análise em termos de percentagem de área total para cada risco,
foram necessárias efectuar algumas operações. Inicialmente, e como o Raster final
gerado não se encontrava optimizado para efectuar operações, foi necessário truncar
cada valor das células para números inteiros. Para realizar este procedimento, foi
utilizado o comando INT (Spatial Analyst Tools -> Math -> Int). Após isto, e já com um
Raster trabalhável criado, foram verificados os valores para os quais cada classe de
susceptibilidade se encontrava: Baixo: 1- 9; Baixo – Moderado: 9 – 17; Moderado: 17 –
24: Elevado: 24 – 33; Muito Elevado: 33 – 55. De seguida, foi então usado o comando
CON, onde foi extraído grupo a grupo para que ficassem entidades isoladas, de forma a
facilitar o cálculo das áreas de forma isolada.

Figura 38 - Comando Con

Criadas estas entidades, foram então, uma a uma convertidas para polígonos
(Conversion Tools -> From Raster -> Raster to Polygon). Ao fazer esta conversão, é
automaticamente criado um campo “Shape_Area”, onde ao clicar surge a opção
Statistics que nos dá o somatório, SUM, das áreas totais para cada Feature Class. Assim
sendo, a área correspondente a cada classe de risco foi: Baixo: 5,2 km²; Baixo –
Moderado: 8,7 km²; Moderado: 12,8 km²; Elevado: 6,1 km² e Muito Elevado: 1,6 km².
Uma análise mais pormenorizada revela um predomínio das áreas com risco de
incêndio Moderado, representando estas cerca de 17,5% da área total do concelho. A

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classe de Risco Muito Elevado é a de menor área no terreno e corresponde a


aproximadamente 2,2% do total do Concelho.
De uma forma geral as áreas que apresentam risco de incêndio muito elevado
concentram-se no quadrante Sudoeste e correspondem a parcelas da freguesia do
Torreira, sobrepondo-se às áreas de mato e mata ocupadas por um coberto vegetal mais
potenciador de propagação de incêndio uma vez que estes possuem geralmente elevados
graus de inflamabilidade e combustibilidade.
No que toca ao tempo de deslocação pelos bombeiros, sabe-se que a rápida
intervenção destes é essencial para um eficaz combate aos fogos florestais. Tendo por
base este conhecimento, foi feita então uma análise relativa aos tempos de percurso
entre o quartel de bombeiros e as respectivas manchas florestais do Concelho. Foi criada
então no ArcCatalog uma nova Shapefile do tipo ponto, com o nome “Bombeiros”,
onde foram introduzidas as coordenadas XY relativas ao quartel situado na freguesia da
Murtosa, único no concelho capaz de responder a uma possível ameaça de fogo
florestal. Posto isto foi feita uma análise recorrendo ao comando “Find Route” que nos
dá uma ideia geral relativamente ao tempo de deslocação a um possível foco de
incêndio.

Figura 39- Comando "Find Route"

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Na figura 39, constata-se que o tempo de deslocação máximo numa eventual


chamada a um incêndio florestal na zona de maior risco mais afastada do quartel, e
respeitando as velocidades de circulação máximas para cada tipo de estrada, fica-se
pelos 19 minutos, tempo esse que será muito inferior pois em casos extremos a marcha
de emergência seria activada e a velocidade poderia ser excessiva para o tipo de via.
Sendo assim, e para um patamar de risco estimado em uma resposta no máximo de 15
minutos, pode-se concluir que, a existir uma situação se risco, esta seria prontamente
atendida.
Um outro indicador preocupante, tal como já foi referido anteriormente, é o da não
existência de postos de vigia no Concelho. Seria aconselhável e de extrema importância
que fosse criado pelo menos um ponto de vigia no concelho, a fim de uma mais fácil
detecção de um incêndio na sua fase inicial, preferencialmente na freguesia da Torreira
onde são mais comuns as áreas de risco mais elevado e onde se situam os pontos de
maior altitude.
Para esta análise, inseriram-se dois possíveis postos de vigia, escolhidos na freguesia
da Torreira e com as cotas mais elevadas (22m e 18m). Para proceder ao cálculo das
bacias de visibilidade, foi utilizado o comando Viewshed do Spatial Analyst, e o
resultado encontra-se representado na figura 40.

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Figura 40 - Visibilidade dos possíveis postos de vigia

Devido ao facto de nos últimos anos os fogos florestais terem afectado de forma
dramática não só a floresta, mas também as próprias habitações, considerou-se
conveniente fazer igualmente uma análise das povoações que poderão ser afectadas em
caso de incêndio florestal. Para este efeito foi considerada uma distância mínima de

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50m em torno de cada habitação, como distância determinante para um risco extremo
em caso de incêndio florestal. Foram utilizados para este efeito BUFFERs, comando
que circunscreve um raio de 50m em torno de cada edifício.

Figura 41 - Distancia às zonas de perigo

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Através da análise a figura 41, é possível visualizar que não existem povoações e/ou
casas nas zonas de risco muito elevado, sendo as populações da freguesia da Torreira as
que inferem maior risco em caso de incêndio florestal.
No domínio da prevenção, toma particular pertinência a necessidade de, em tempo
útil, se proceder a planos de evacuação para as populações residentes em todas as
povoações e casas localizadas simultaneamente em áreas de risco de incêndio florestal
elevado e muito elevado, de modo a assegurar a sua rápida implementação nas situações
em que estas estejam na eminencia de ser palco das chamas.

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5. Conclusões

No presente estudo foi possível concretizar com sucesso a avaliação do risco de


incêndio florestal com recurso a variáveis físicas e sociais e à valoração dos elementos.
Da integração das variáveis, através da sua soma ponderada, no modelo de perigosidade
resultou um mapa de risco de incêndio florestal que indica que, na globalidade, os
níveis de perigosidade são moderados. Estes resultados devem-se, essencialmente, à
disponibilidade de material com elevada combustibilidade e por outro lado às condições
climatéricas e de relevo do Município.
É necessário tomar medidas de prevenção eficazes tais como a criação de postos de
vigia, a construção e manutenção de aceiros e a criação de faixas de gestão de
combustíveis com vista à redução de material vegetal e lenhoso de modo a dificultar a
propagação do fogo. Estas medidas, para que surtam efeito, implicam o contributo e
participação de todos.
Relativamente ao risco de incêndio encontrado para o concelho, importa referir que
cerca de 37% da sua superfície total corresponde aos níveis de risco de incêndio baixo a
moderado, o que indicia um reduzido grau de vulnerabilidade a este flagelo em extensas
parcelas do seu território.
No que toca a rede de pontos de água, essencial a uma eficaz resposta a uma eventual
ocorrência, surge a necessidade da criação de uma rede integral e homogénea. É
necessário fazer um levantamento de campo exaustivo dos pontos de água de forma a
criar uma carta com os mesmos georreferenciados.
Deveriam ainda ser estabelecidas brigadas móveis de primeira intervenção
designadamente nas zonas mais desprotegidas e com risco de incêndio mais elevado,
mesmo que na análise do tempo de deslocação da corporação de bombeiros se tenha
compreendido que em caso de incêndio florestal haveria uma rápida intervenção dos
mesmos, no entanto, devido a não existência de postos de vigia interinos ao concelho,
este seria um meio de prevenção importante.
Dever-se-iam ainda de proceder a operações de limpeza de matos e florestas nas
imediações das povoações, uma vez que nos últimos anos os fogos florestais afectaram
não só a floresta, mas também as próprias habitações da população rural.

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Ao longo deste projecto existiram várias limitações, designadamente a ausência de


toponímia exaustiva sobre todo o território concelhio, a de uma cartografia de ocupação
do solo mais actualizada e detalhada e a falta de apoio por parte das entidades a que
foram pedidos dados a fim de efectuar um estudo mais completo, pelo que esta análise
não deve ser encarada como um resultado final, mas apenas um contributo para futuros
trabalhos, que deverão obrigatoriamente incluir um trabalho de campo exaustivo de
modo a validar por um lado estes resultados e por outro incluir outras situações de risco
que não tenham sido aqui detectadas.
A representação cartográfica das zonas de risco de ocorrência de fogos florestais
permite indicar as áreas com maior sensibilidade ao fogo. Como sequência, dá a
conhecer os locais que devem ser alvo de medidas especiais, quer em termos de
prevenção, quer no que respeita ao combate. Deste modo, principalmente durante o
verão, estas áreas deverão ser afectadas de suficientes meios técnicos e humanos, de
modo a efectuar uma prevenção e um combate ainda mais eficazes.

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6. Webgrafia
http://www.cm-
murtosa.pt/Templates/GenericDetails.aspx?id_object=2547&divName=604&id_class=6
04

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http://www.icnf.pt/portal/florestas/dfci/inc/info-geo

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