You are on page 1of 50

PLANO ENERGÉTICO RENOVÁVEL

CABO VERDE

Estudo do recurso solar


Copyright © 2011, Gesto Energia S.A.
Av. Cáceres Monteiro nº 10, 1º Sul

1495-131 Algés
CV.2011.E.004.1
Portugal
O presente documento foi elaborado pela GESTO ENERGIA S.A. (Gesto), empresa do grupo Martifer especialista em
consultoria energética e estudos de avaliação de Potencial de energias renováveis, para a Direcção Geral de Energia de
Cabo Verde.

A publicação, reprodução ou distribuição (total ou parcial) da informação contida neste documento carece de prévia
autorização, por escrito, da Gesto.

O conteúdo publicado neste documento baseia-se na avaliação de um conjunto de informações e dados recolhidos e
analisados até à data. Com a recolha de novos dados, a Gesto reserva-se o direito de ajustar ou alterar a respectiva
análise. Acresce que este documento contém informação recolhida através de diversas fontes, devidamente
identificadas, que deverá ser interpretada no contexto das mesmas, não podendo ser imputada qualquer
responsabilidade à Gesto pelo conteúdo dessa informação.

A Gesto não poderá ser responsabilizada pela utilização, por parte da Direcção Geral de Energia de Cabo Verde ou por
terceiros, da informação contida neste documento.

(Miguel Barreto)
LISTA DE ABREVIATURAS
ºC – graus Celsius

a.C. - antes de Cristo

CSP - Concentrated Solar Power

ESRA - European Solar Radiation Atlas

EU – União Europeia

h - hora

IEA – International Energy Agency

JRC – Joint Research Center

KG - Índice de céu limpo

kW - kilowatt

m - metro
2
m - metro quadrado

MW - Megawatt

NASA – National Aeronautics and Space Administration

NE - Nordeste

PV - Fotovoltaico

PVGIS - Photovoltaic Geographical Information System

S - Sul

SSE - Surface Meteorology and Solar Energy

SODA - Solar Radiation Data

TL - Linke Turbidy

ZDER – Zona de Desenvolvimento de Energias Renováveis

W - Watt
EQUIPA DE PROJECTO
O presente documento foi elaborado sob a coordenação de Joana Santos com o apoio da seguinte equipa:

Equipa Gesto:

Carlos Gueifão (Eng. Electrotécnico) Nuno Nóbrega (Eng. Ambiente)

Carlos Martins (Eng. Civil) Pedro Fernandes (Eng. Electrotécnico)

Frederico Barreira (Eng. Mecânico) Ricardo Caranova (Geólogo)

Gonçalo Cúmano (Eng. Mecânico) Rafael Silva (Geólogo)

Joana Santos (Eng.ª Civil) Rita Serra (Jurista)

João Sousa (Eng. Electrotécnico) Sara Guedes (Eng.ª Ambiente)

Jorge André (Eng. Civil) Sónia André (Eng.ª Civil)

Miguel Barreto (Gestor)

Equipa Direcção Geral de Energia:

Alberto Mendes (Eng. Industrial)

Edmilson Pinto (Financeiro)


ÍNDICES

ÍNDICE GLOBAL DO PLANO

PLANO ENERGÉTICO RENOVÁVEL DE CABO VERDE

ESTUDO DA EVOLUÇÃO DA PROCURA

PLANO DE INVESTIMENTOS

ESTUDO DO RECURSO EÓLICO

ESTUDO DO RECURSO SOLAR

ESTUDO DO RECURSO GEOTÉRMICO

ESTUDO DO RECURSO HÍDRICO

ESTUDO DO RECURSO MARÍTIMO

ESTUDO DE VIABILIDADE TÉCNICO-ECONÓMICA, FINANCEIRA E AMBIENTAL -


CENTRAIS DE BOMBAGEM PURA

ESTUDO DE VIABILIDADE TÉCNICO-ECONÓMICA, FINANCEIRA E AMBIENTAL -


CENTRAL GEOTÉRMICA NA ILHA DO FOGO

Estudo do Recurso Solar i


ÍNDICE DE TEXTO
1 Introdução.............................................................................................................................................................. 1
1.1 Enquadramento ............................................................................................................................................................ 1
1.2 Objectivos ..................................................................................................................................................................... 1
1.3 Príncipios físicos ............................................................................................................................................................ 1
1.4 Tecnologias de conversão da energia solar .................................................................................................................. 3
1.4.1 Considerações prévias .............................................................................................................................................. 3
1.4.2 Conversão fotovoltaica ............................................................................................................................................. 3
1.4.3 Térmica de baixa temperatura ................................................................................................................................. 7
1.4.4 Térmica de alta temperatura (CSP – concentrated solar power) ............................................................................. 8
2 Metodologias e pressupostos .................................................................................................................................. 9
2.1 Atlas do recurso solar ................................................................................................................................................... 9
2.1.1 Modelo Solar Analyst ............................................................................................................................................... 9
2.1.2 Configuração numérica .......................................................................................................................................... 10
2.1.3 Classificação da acumulação da nebulosidade ....................................................................................................... 13
2.2 Avaliação do potencial solar e fotovoltaico ................................................................................................................ 14
2.2.1 Potencial solar em clear sky e real sky ................................................................................................................... 14
2.2.2 Potencial fotovoltaico............................................................................................................................................. 14
2.2.3 Configuração numérica .......................................................................................................................................... 15
3 Análise e discussão de Resultados ......................................................................................................................... 21
3.1 Mapeamento do recurso solar ................................................................................................................................... 21
3.1.1 Considerações prévias ............................................................................................................................................ 21
3.1.2 Radiação global....................................................................................................................................................... 21
3.1.3 Radiação directa ..................................................................................................................................................... 23
3.1.4 Número de horas de radiação directa .................................................................................................................... 25
3.1.5 Radiação difusa....................................................................................................................................................... 27
3.2 Mapeamento das zonas de nebulosidade .................................................................................................................. 29
3.3 Potencial solar e potencial fotovoltaico ..................................................................................................................... 30
3.4 Potencial solar no futuro ............................................................................................................................................ 33
4 Conclusões ........................................................................................................................................................... 35
Bibliografia ................................................................................................................................................................... 37

ii Plano Energético Renovável de Cabo Verde


ÍNDICES

LISTA DE ANEXOS
ANEXO A – DADOS DE SATÉLITE DA NASA SSE

ANEXO B – TURBIDEZ ATMOSFÉRICA

ANEXO C – ÍNDICE DE CÉU LIMPO

ANEXO D – ATLAS DO RECURSO SOLAR (MAPAS DE DETALHE)

ANEXO E – POTENCIAL DO RECURSO SOLAR

ANEXO F – POTENCIAL FOTOVOLTAICO

ANEXO G – SIMULAÇÕES PVSYST

ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1.1 – Parcelas da radiação global: radiação directa, difusa e reflectida .............................................................................. 2
Figura 1.2 – Mapeamento global da radiação solar numa grelha de 1º ........................................................................................ 2
Figura 1.3 - Edmond Becquerel ...................................................................................................................................................... 3
Figura 1.4 – Evolução histórica das células mais eficientes (Kurtz, 2009). ..................................................................................... 5
Figura 1.5 – Exemplo sistema fotovoltaico de estrutura fixa. ........................................................................................................ 5
Figura 1.6 – Exemplo sistema fotovoltaico com seguidores .......................................................................................................... 6
Figura 1.7 - Esquema de funcionamento do sistema solar térmico de termossifão. (Fonte: Martifer Solar). ............................... 7
Figura 1.8 – Exemplo de sistema solar de termossifão. Instalação Martifer. ................................................................................ 7
Figura 1.9 - Esquema de funcionamento do sistema solar térmico de circulação forçada (Fonte: Martifer Solar). ...................... 7
Figura 1.10 – Exemplo de sistema solar de circulação forçada. (Fonte: Martifer Solar). ............................................................... 7
Figura 1.11 – Exemplo das tipologias de colectores. a) Cilíndro parabólicos b) Disco c) Torre ..................................................... 8
Figura 2.1 – Exemplo de fotografia hemisférica (Fu & Rich, 1999) ................................................................................................ 9
Figura 2.2 – Identificação das direcções de sombra e sobreposição (a) ao sunmap (b) e skymap (c) ........................................ 10
Figura 2.3 - Delimitação da simulação. ........................................................................................................................................ 11
Figura 2.4- Malha de dados de satélite disponível para calibrar a transmissibilidade e a proporção difusa ............................... 12
Figura 2.7 – Fluxograma de implementação Solar Analyst para Cabo Verde. ............................................................................. 13
Figura 2.8 – Modelo de cálculo do potencial solar (EU/JRC/Institute for Energy/PVGIS©, 2008) ............................................... 15
Figura 2.9 – Localização das estações de medição de radiação. .................................................................................................. 17
Figura 2.10 – Gráfico mensal do índice de céu limpo (radiação global em plano horizontal). .................................................... 18
Figura 2.11 – Gráfico mensal do índice de céu limpo para a radiação directa. ............................................................................ 18
Figura 2.12 – Gráfico mensal do índice de céu limpo para a radiação difusa .............................................................................. 18
Figura 3.1 – Radiação global nas ilhas em estudo. ....................................................................................................................... 21
Figura 3.2 – Gráficos circulares representativos da área por ilha (%) em função da radiação global anual. ............................... 22
Figura 3.3 – Intervalo de variação da radiação global. ................................................................................................................. 22
Figura 3.4 – Radiação directa nas ilhas em estudo. ..................................................................................................................... 23

Estudo do Recurso Solar iii


Figura 3.5 – Gráficos circulares representativos da área por ilha (%) em função da radiação directa. ....................................... 24
Figura 3.6 – Intervalo de variação da radiação directa. ............................................................................................................... 24
Figura 3.7 – Número de horas de radiação directa nas ilhas em estudo. .................................................................................... 25
Figura 3.8 – Gráficos circulares representativos da área por ilha (%) em função do número de horas de radiação
directa. ......................................................................................................................................................................................... 26
Figura 3.9 – Intervalo de variação do número de horas de insolação. ........................................................................................ 26
Figura 3.10 – Radiação difusa nas ilhas em estudo. ..................................................................................................................... 27
Figura 3.11 – Gráficos circulares representativos da área por ilha (%) em função da radiação difusa. ....................................... 28
Figura 3.12 – Intervalo de variação da radiação difusa. ............................................................................................................... 28
Figura 3.13 – Zonas de nebulosidade. .......................................................................................................................................... 29
2
Figura 3.14 – Radiação anual incidente em planos de 15ºS (kWh/m /ano) ................................................................................ 31
Figura 3.15 – Produção específica (kWh/kWp/ano)..................................................................................................................... 32
Figura 3.16 – Mapeamento das inclinações do terreno de acordo com as classes de adequação às tecnologias
emergentes. ................................................................................................................................................................................. 33

ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 1.1 - Capacidade instalada de solar fotovoltaico por sector a nível mundial (IEA, 2010). ................................................ 6
Quadro 2.1 – Delimitação da simulação e número de pontos de cálculo. ................................................................................... 10
Quadro 2.2 – Restantes parâmetros do modelo. ......................................................................................................................... 12
Quadro 2.3 – Pontos de cálculo de potencial solar e fotovoltaico. .............................................................................................. 15
Quadro 2.4 – Turbidez atmosférica normalizada nos pontos de cálculo. .................................................................................... 16
Quadro 2.5 – Pontos de medição da radiação solar. ................................................................................................................... 17
Quadro 2.6 – Temperatura média mensal. .................................................................................................................................. 19
Quadro 3.1 - Ponto de orvalho para as diferentes ilhas do arquipélago de Cabo Verde ............................................................. 29
2 2
Quadro 3.2 – Radiação global em plano horizontal mensal (kWh/m /mês) e anual (kWh/m /ano) ........................................... 30
2 2
Quadro 3.3 – Radiação global em plano inclinado (15ºS) mensal (kWh/m /mês) e anual (kWh/m /ano).................................. 31

iv Plano Energético Renovável de Cabo Verde


INTRODUÇÃO

1 INTRODUÇÃO
1.1 ENQUADRAMENTO
O presente documento foi elaborado no âmbito do Plano Energético Renovável de Cabo Verde, desenvolvido pela GESTO
ENERGIA S.A. para a Direcção Geral de Energia de Cabo Verde, entre Janeiro de 2010 e Janeiro de 2011, dele fazendo parte
integrante, e corresponde ao Estudo do Recurso Solar para as ilhas do arquipélago de Cabo Verde.

De acordo com o mapeamento global da radiação (Meteonorm, 2008), Cabo Verde apresenta um recurso solar abundante,
pelo que a identificação de projectos desta natureza para integração no Plano Energético Renovável é imperativa. Contudo, a
escala do referido estudo é insuficiente para a inventariação do recurso e incompatível com a identificação e avaliação de
projectos, o que conduz à necessidade da modelação do recurso solar com maior definição, o que se propôs executar neste
estudo.

1.2 OBJECTIVOS
O estudo tem como principal objectivo a determinação do potencial da energia solar nas ilhas, permitindo a integração de
projectos desta natureza nos cenários propostos no âmbito do Plano Energético Renovável de Cabo Verde. Para o efeito
propôs-se a elaboração de um mapeamento do recurso com base na cartografia da Direcção Geral do Ordenamento do
Território à escala 1:10 000 e em dados de satélite que permitam parametrizar o modelo no que respeite a questões
atmosféricas.

Subsequentemente, elaborou-se um zonamento de nebulosidade, com base na morfologia do terreno e no princípio do


ponto de condensação. Esta classificação visa suprimir a ausência de dados distribuídos que possibilitem uma melhor
definição dos parâmetros atmosféricos, ou seja, face à ausência de dados de base que permitam uma melhor parametrização
dos modelos, reconhece-se que os erros, nos resultados obtidos, possam conduzir à identificação de zonas com o potencial
sobrestimado por efeitos de nebulosidade.

O mapeamento do recurso solar e a classificação da acumulação de nebulosidade constituem o estudo recurso solar,
presente no ATLAS E PROJECTOS DE ENERGIAS RENOVÁVEIS, parte integrante do Plano Energético Renovável de Cabo Verde.
Com base nestes elementos, procedeu-se à identificação de zonas com elevado potencial, tendo igualmente em
consideração as condicionantes territoriais existentes, sejam a nível da rede eléctrica, dos acessos, sejam relativas ao declive
do terreno para a implementação de projectos fotovoltaicos, ou às condicionantes ambientais e de ordenamento do
território.

Após a identificação das zonas de elevado potencial fotovoltaico, propôs-se uma melhor avaliação do recurso, através da
optimização da orientação dos painéis e da aplicação de uma modelação com maior detalhe no que respeita a parâmetros
atmosféricos. É a partir desta modelação que se propõe avaliar o potencial fotovoltaico das zonas de elevado potencial.

1.3 PRÍNCIPIOS FÍSICOS


Energia solar é a designação dada a qualquer tipo de captação de energia luminosa de origem solar com posterior
transformação em energia eléctrica, mecânica ou térmica.

A radiação solar e a luminosidade são essenciais à vida na Terra, afectando os processos climáticos que determinam o
ambiente natural. A compreensão e estudo climatológico da radiação é recente, em 1960 existiam apenas três estações

Estudo do Recurso Solar 1


meteorológicas no Noroeste Europeu com um período de registos superior a 25 anos. Os estudos iniciais foram levados a
cabo por Angstrom como resposta à questão da relação entre radiação e duração do dia (Muneer, Gueymard, & Kambedizis,
2004).

No seu movimento de translação, a Terra recebe aproximadamente 1.368 W/m² (valor da Constante Solar) de energia,
2 2
registando um valor máximo de 1.410 W/m no periélio e um valor mínimo de 1320 W/m no afélio, fruto da excentricidade
da órbita terrestre, sendo esta medição feita numa superfície perpendicular à irradiação Solar.

De toda a radiação solar que chega às camadas superiores da atmosfera, apenas uma pequena fracção atinge a superfície
terrestre, devido à reflexão e absorção dos raios solares pela atmosfera. A fracção que atinge o solo é constituída por uma
componente directa e por uma componente difusa. Existe ainda uma terceira componente – a reflectida – que resulta da
reflexão da irradiação nas superfícies. Apresenta-se um esquema das três componentes da radiação na Figura 1.1 e na Figura
1.2 o mapeamento mundial da radiação global.

Figura 1.1 – Parcelas da radiação global: Figura 1.2 – Mapeamento global da radiação solar numa grelha de 1º
radiação directa, difusa e reflectida (Meteonorm, 2008)
(ESRI, 2007).

Pode observar-se Figura 1.2, a variação da irradiação/radiação a uma escala global em função da geometria da Terra e
movimento relativo ao Sol, que resulta em gradientes latitudinais. Contudo, à escala do presente estudo, a variação regional
e local encontra-se maioritariamente associada à morfologia do terreno, ou seja, variações de elevação, declive, exposição e
sombreamento, aspecto essencial e subjacente aos dois modelos propostos neste estudo.

Já no ano 3 a.C., os Gregos e Romanos aproveitavam a energia solar para acender tochas para actos religiosos através da
incidência dos raios solares em espelhos. Em 1839, um cientista francês, Edmond Becquerel, Figura 1.3, pai do prémio Nobel
da Física Henri Becquerel, descobriu o efeito fotovoltaico durante a experimentação de uma célula electrolítica, constituída
por dois eléctrodos metálicos colocados numa solução electrocondutora, ao verificar que a produção de electricidade
aumenta quando o dispositivo se encontra exposto à luz.

Neste âmbito, múltiplas investigações conduzidas e significativos progressos foram registados, permitindo que
presentemente esta fonte de energia limpa apresente uma elevada fiabilidade na geração de energia, quer térmica quer
eléctrica, e sobretudo seja aplicável em vários sectores (por exemplo, edifícios e transportes).

2 Plano Energético Renovável de Cabo Verde


INTRODUÇÃO

Figura 1.3 - Edmond Becquerel


(Smithsonian Institution Libraries)

1.4 TECNOLOGIAS DE CONVERSÃO DA ENERGIA SOLAR

1.4.1 CONSIDERAÇÕES PRÉVIAS

Apesar do recente interesse pelo estudo do recurso solar, o potencial do recurso é reconhecido. Em 1972 a National Science
Foundation assume “Solar Energy is an essentially inexhaustible source potentially capable of meeting a significant portion of
1
the nation’s future energy needs with a minimum adverse environmental consequences” . Contudo, para que ganhe uma
ainda maior aplicação mundial, o desenvolvimento tecnológico tem de continuar a superar as actuais respostas aos
problemas técnicos e económicos (Goswami & Kreider, 2000).

Actualmente, podem ser considerados os seguintes tipos de conversão: conversão fotovoltaica, conversão térmica (de baixa
e alta temperatura), conversão biológica, transferência de energia para potencial eólico e energia dos oceanos. Serão
abordados os dois primeiros tipos de conversão. Relativamente aos restantes, tratam-se de fenómenos naturais que não
consistem no aproveitamento directo do recurso solar para produção de energia eléctrica, constituindo algumas uma fonte
de energia renovável per se, como é o caso da energia eólica e da energia das ondas.

1.4.2 CONVERSÃO FOTOVOLTAICA

A aplicação do princípio da conversão fotovoltaica através das células solares, descoberto por Becquerel, foi desenvolvida no
âmbito das tecnologias aeroespaciais.

A energia fotovoltaica pode ser produzida com base em diferentes tipos de células, com grandes variações de eficiência e
custos. As células fotovoltaicas convertem em energia eléctrica a energia proveniente da radiação solar. A célula fotovoltaica
é constituída por dois materiais semicondutores com diferentes polaridades, instalados de forma a criar uma diferença de
potencial. A fronteira entre os dois condutores é designada por junção p-n. Quando um electrão na junção p-n é atingido
pela radiação solar é polarizado, movendo-se para um nível de energia mais elevado. A diferença de potencial conduz este
electrão livre na direcção do semicondutor de carga positiva, criando assim uma corrente eléctrica.

1
A energia solar é um recurso na sua essência inesgotável, potencialmente capaz de satisfazer uma parte significativa do futuro consumo energético da
nação (N.T. Estados Unidos da América) com o mínimo de consequências ambientais adversas.

Estudo do Recurso Solar 3


Em termos de tecnologia podemos considerar dois grupos básicos: células discretas e película fina integrada, cujos
componentes se descrevem sumariamente:

a) Silício monocristalino: fatias de blocos monocristais de silício crescente. Actualmente as células chegam a ter uma
espessura de 2.000 microns.
b) Silício policristalino: O processo de produção mais comum é o de fundição de lingotes. As células de silício
policristalino são mais económicas relativamente às de silício monocristalino, porque o seu custo de produção é
inferior (necessitam de menos energia) e porque o seu processo de preparação é menos rigoroso (cristais mais
imperfeitos).
c) Malha dendrítica: Uma pequena faixa de 5 cm de largura é extraída do banho de silício durante o método da rede
dendrítica.
d) Gálio Arsénio (GaAs): Material semicondutor de que são feitas as células de alta eficiência, usado especialmente em
tecnologia espacial, onde se inserem as células multijunção.
e) Tecnologia de película fina integrada: O silício amorfo, o Diselenieto de Cobre e Índio (CISe), e o Telurieto de Cádmio
(CdTe), são utilizados como materiais semicondutores e, devido à sua elevada absorção luminosa, uma camada com
uma espessura menor que 0,001 mm é teoricamente suficiente para converter a luz solar.

Os painéis actualmente mais comercializados são compostos por conjuntos de células de silício monocristalino ou
policristalino, ligadas em paralelo ou em série, e com rendimentos que variam entre os 10 e 13%. A potência destes depende
essencialmente da área de exposição e do número de células instaladas em cada painel.

A energia solar de conversão fotovoltaica conheceu nos recentes anos melhorias contínuas na eficiência de conversão. A
eficiência continuará a ser um desafio para o futuro, desafio que se antevê ganho quer pela implementação de novos tipos
de células, quer de novas disposições construtivas, que vão de encontro à concentração solar fotovoltaica, quer à
possibilidade de produção de energia em superfícies existentes, como um telhado ou uma fachada, através das películas
finas. Apresenta-se na Figura 1.4 a evolução tecnológica neste sector. Como paradigma de desenvolvimento nesta área
referem-se os CPV, fotovoltaico concentrado, tratando-se do mesmo princípio físico, mas utilizando materiais que promovem
melhores eficiências a partir da radiação directa.

O azimute e a altitude solar variam ao longo do dia e do ano e, consequentemente, o ângulo de incidência da radiação solar
não é constante. Dada a influência do ângulo de incidência da radiação solar no aproveitamento da sua energia, torna-se
essencial o estudo da radiação ao longo do ano de forma a optimizar a instalação, procurando a posição que conduza à
maximização da produção expectável. Neste sentido, a instalação dos sistemas fotovoltaicos pode ter estrutura fixa ou
estrutura com seguidores, que beneficiam a incidência da radiação nos painéis, optando-se entre as duas soluções, em
consideração de critérios económicos e operacionais. Apresentam-se na Figura 1.5 e na Figura 1.6 exemplos de sistemas
fotovoltaicos de estrutura fixa e com seguidores, respectivamente.

4 Plano Energético Renovável de Cabo Verde


INTRODUÇÃO

Figura 1.4 – Evolução histórica das células mais eficientes (Kurtz, 2009).

Figura 1.5 – Exemplo sistema fotovoltaico de estrutura fixa.


Central solar fotovoltaica Peñas de San Pedro, Espanha (1,4 MW). Projecto e obra: Martifer Solar

Estudo do Recurso Solar 5


Figura 1.6 – Exemplo sistema fotovoltaico com seguidores
Central solar fotovoltaica de Vinaceite, Espanha (8,8 MW). Projecto e obra: Martifer Solar

Os sistemas fotovoltaicos podem ser divididos em sistemas autónomos ou sistemas ligados à rede eléctrica. Nos sistemas
autónomos, ou isolados, a produção e o consumo não têm interligação com outros sistemas, ainda que possam ser
constituídos por mais do que uma fonte de energia e mais do que um consumidor. A produção e distribuição eléctrica em
pequenas comunidades rurais isoladas são um exemplo de um sistema autónomo. Para assegurar um funcionamento sem
falhas de sistemas autónomos conceptualmente renováveis é comum existirem meios complementares de produção
(sistemas híbridos), baseados em geradores a diesel, ou baterias (sistema autónomo 100% renovável). No caso dos sistemas
com ligação à rede, a rede pública de distribuição de electricidade permite transferir o excesso ou defeito de produção para
outros pontos da rede onde possa ser feito o balanço.

Com o aumento da procura de energia a nível mundial, o recurso a tecnologias de aproveitamento solar, nomeadamente
solar fotovoltaico, deverá manter uma tendência de crescimento. No Quadro 1.1 apresentam-se os valores da capacidade
instalada actualmente e as previsões de crescimento até 2050.

Quadro 1.1 - Capacidade instalada de solar fotovoltaico por sector a nível mundial (IEA, 2010).

Capacidade instalada por sector [GW] 2010 2020 2030 2040 2050
Microprodução residencial 17 118 447 957 1.280
Microprodução comercial 3 22 99 243 404
Produtores de energia eléctrica 5 49 223 551 908
Sistemas autónomos 2 21 103 267 463
Total 27 210 872 2.019 3.155

6 Plano Energético Renovável de Cabo Verde


INTRODUÇÃO

1.4.3 TÉRMICA DE BAIXA TEMPERATURA

A conversão térmica é um esquema tecnológico que se baseia num princípio simples. Na colocação de uma superfície escura
debaixo de radiação solar, a mesma absorve a energia solar e aquece. As instalações de energia solar térmica de baixas
temperaturas captam a radiação solar através de colectores, transformando-a em calor, transmitindo-o à água que é
utilizada em habitações, seja para águas quentes sanitárias, para aquecimento de piscinas ou para sistemas de climatização.

Os sistemas solares térmicos podem distinguir-se por dois tipos de tecnologias: os sistemas de termossifão e os sistemas de
circulação forçada.

O sistema de termossifão é uma solução económica de fácil instalação, pois todos os seus componentes (colectores e
acumulador) se encontram instalados na cobertura do edifício, ligando-se directamente ao sistema de distribuição de água. O
seu funcionamento baseia-se no princípio de circulação natural por gravidade. Apresenta-se na Figura 1.7 um esquema de
funcionamento de um sistema solar térmico de termossifão e na Figura 1.8 o exemplo de uma instalação.

O sistema de circulação forçada permite a instalação do acumulador em qualquer local do edifício, minimizando as perdas de
calor durante a noite e reduzindo o impacto visual, uma vez que na cobertura ficam apenas instalados os colectores. Esta
solução requer uma bomba circuladora e um controlador. Na Figura 1.9 e na Figura 1.11(Figura 1.10 – Não aparece na lista
de figuras/cross references) representa-se o esquema de funcionamento do sistema de circulação forçada e o exemplo de
uma instalação deste tipo, respectivamente

Figura 1.7 - Esquema de funcionamento do sistema solar térmico de termossifão. Figura 1.8 – Exemplo de sistema solar de
(Fonte: Martifer Solar). termossifão. Instalação Martifer.

Figura 1.9 - Esquema de funcionamento do sistema solar térmico de circulação Figura 1.10 – Exemplo de sistema solar de
forçada (Fonte: Martifer Solar). circulação forçada. (Fonte: Martifer Solar).

Estudo do Recurso Solar 7


1.4.4 TÉRMICA DE ALTA TEMPERATURA (CSP – CONCENTRATED SOLAR POWER)

O princípio de funcionamento desta tecnologia baseia-se no aquecimento de um fluído a partir da concentração da radiação
através de colectores. Esta tecnologia surgiu na década de 80, tendo renascido recentemente.

Actualmente existem três geometrias de colectores, que se apresentam na Figura 1.11 para a obtenção de energia solar
térmica de alta temperatura: colectores cilindro-parabólicos, colectores tipo torre e colectores disco.

Os espelhos cilindro-parabólicos acompanham o movimento do sol de forma permanente, o que possibilita o máximo
aproveitamento do seu potencial calorífico. Pelo foco da parabólica, ponto onde fica concentrada a radiação pelo sistema de
espelhos, passa um sistema de tubagens onde se aquece o fluído, normalmente um óleo térmico, até temperaturas próximas
dos 400º C. Este fluído aquece por simpatia um circuito secundário de água, transformando-a em vapor, que acciona a
turbina acoplada ao gerador eléctrico.

c) Torre, projectos PS10 e PS20, Sevilha (Abengoa)


a) Cilíndro - parabólicos, projecto Nevada Solar One (Acciona)

b) Disco (National Renewable Energy Laboratory, 2008)


c) Torre, projectos PS10 e PS20, Sevilha (Abengoa)

Figura 1.11 – Exemplo das tipologias de colectores. a) Cilíndro parabólicos b) Disco c) Torre

8 Plano Energético Renovável de Cabo Verde


METODOLOGIAS E PRESSUPOSTOS

2 METODOLOGIAS E PRESSUPOSTOS
2.1 ATLAS DO RECURSO SOLAR

2.1.1 MODELO SOLAR ANALYST

No que concerne a metodologia, optou-se pela aplicação de um modelo de simulação da radiação e insolação fortemente
baseado na morfologia do terreno e exposição solar, de forma a compensar os poucos dados de base disponíveis, ou seja,
adoptando uma simplificação dos fenómenos atmosféricos por parâmetros com pouca variabilidade espacial.

O modelo aplicado, o modelo Solar Analyst, é amplamente aplicável neste domínio, também com aplicações a escala urbana
ou local, em virtude de aceitar geometrias bastante detalhadas.

O modelo Solar Analyst produz uma vista hemisférica da superfície para o céu, reproduzindo uma fotografia hemisférica, que
se exemplifica na Figura 2.1, para cada localização do modelo digital do terreno, calculando o sunmap, associado à radiação
directa, e skymap, associado à radiação difusa.

Figura 2.1 – Exemplo de fotografia hemisférica (Fu & Rich, 1999)

A quantidade de radiação solar directa proveniente de cada direcção do céu é representada pela criação de um sunmap de
projecção hemisférica. O sunmap especifica a rotação e a posição aparente do sol na sua variação temporal, traduzindo-se
por sectores no céu definidos pela posição do sol em intervalos. A posição do sol (zénite e azimute) é calculada com base na
latitude, dia do ano e hora do dia através de fórmulas astronómicas. Contrariamente à insolação directa, proveniente dos
sentidos da direcção do sol, a radiação difusa é proveniente de qualquer direcção do céu. Os skymaps são elaborados a partir
de uma discretização do céu em sectores definidos pelo zénite e azimute. Na Figura 2.2 apresentam-se exemplos dos mapas
solar e do céu, bem como sobreposição com as direcções de sombra.

A integração temporal dos resultados destes mapas permite calcular para uma localização, com base em variável de
transmissibilidade e proporção difusa, a radiação e a insolação referentes aos parâmetros introduzidos no modelo.

Estudo do Recurso Solar 9


(a) (b) (c)

Figura 2.2 – Identificação das direcções de sombra e sobreposição (a) ao sunmap (b) e skymap (c)
(Fu & Rich, 1999).

2.1.2 CONFIGURAÇÃO NUMÉRICA

2.1.2.1 MALHA DE CÁLCULO

Para o mapeamento da irradiação e insolação foi considerado o modelo digital do terreno, com uma malha de 20 m x 20 m,
em coordenadas cartográficas do sistema Cabo Verde National Grid, construído a partir da altimetria da Direcção Geral do
Ordenamento do Território. Apresenta-se no Quadro 2.1 a delimitação da simulação pelas suas coordenadas, bem como o
número de pontos de cálculo de cada área. Adicionalmente, apresenta-se a delimitação da simulação na Figura 2.3.

Quadro 2.1 – Delimitação da simulação e número de pontos de cálculo.

Coordenadas canto inferior Coordenadas canto superior Pontos de


Ilha
esquerdo direito cálculo
Santiago ( 165120, 243000 ) ( 5380, 93980 ) 3894 x 4430
São Vicente e Santo Antão ( -3300, 90000 ) ( 213120, 300620 ) 4665 x 4375
Sal ( 248800, 301860 ) ( 192020, 261840 ) 2653 x 3491
Fogo ( 87400, 151660 ) ( -4420, 62060 ) 3213 x 3324
São Nicolau ( 95960, 180760 ) ( 180000, 242420 ) 4240 x 3121
Boavista ( 252220, 324420 ) ( 123760, 192820 ) 3610 x 3453
Maio ( 186680, 279620 ) ( 29380, 93860 ) 4647 x 3224
Brava ( 60960, 132840 ) ( -5020, 45440 ) 3594 x 2523

Note-se que a extensão da simulação para a ilha de São Vicente e Santo Antão foi realizada conjuntamente, pelo efeito de
sombra que a ilha de Santo Antão exerce sobre São Vicente. Pelo mesmo motivo, a ilha do Maio foi simulada com Santiago,
ainda que o inverso não fosse executado dado o menor relevo da ilha do Maio. Também a ilha da Brava foi simulada
tomando em consideração o eventual ensombramento provocado pela ilha do Fogo.

10 Plano Energético Renovável de Cabo Verde


METODOLOGIAS E PRESSUPOSTOS

Contudo, os valores de transmissibilidade e proporção difusa em ambas as ilhas foi diferenciado, ou seja, foram realizadas
simulações independentes para São Vicente e Santo Antão, ainda que espacialmente fossem tomados todos os pontos em
cada uma delas.
25° W 24° W 23° W 22° W 21° W

17° N
17° N

16° N
16° N

Legenda
Delimitação das simulações

Ilhas

15° N
15° N

0 40 80 160
km

25° W 24° W 23° W 22° W 21° W

Figura 2.3 - Delimitação da simulação.

2.1.2.2 PARAMETRIZAÇÃO

A transmissibilidade e a proporção difusa são as únicas variáveis atmosféricas do modelo. Para aferir os seus valores foram
tomados em consideração a malha de dados de satélite disponível, que se apresenta na Figura 2.4. Na mesma figura
apresenta-se a sobreposição das áreas de cada uma das ilhas, consideradas para ponderação dos dados, e a área
remanescente de simulação, não considerada em termos de ponderação de inputs.

Os valores da malha retratam as médias dos valores em 1º x 1º, pelo que não foi realizada nenhuma interpolação, mas
considerada a média ponderada pelas áreas para cada uma das ilhas. Apresentam-se, no Anexo A, os valores de
transmissibilidade ( ), radiação difusa em plano horizontal ( h ), radiação global em plano horizontal ( h ), e o cálculo da
proporção difusa.

Estudo do Recurso Solar 11


Figura 2.4- Malha de dados de satélite disponível para calibrar a transmissibilidade e a proporção difusa
(National Aeronautics and Space Administration).

A partir dos valores da malha de cálculo, foram ponderados os valores de transmissibilidade e proporção difusa, em cada
uma das ilhas, para a parametrização do modelo de radiação difusa, apresenta-se a sua representação no Anexo A.

Os restantes parâmetros do modelo encontram-se no Quadro 2.2, procurando uma optimização face às boas práticas (Fu &
Rich, 1999), gerindo o tempo computacional para o efeito.

Quadro 2.2 – Restantes parâmetros do modelo.

Parâmetros Solar Analyst


Resolução da vista hemisférica (células da grelha) 1.000 x 1.000
Intervalo de dias 7
Intervalo de tempo (horas) 0,5
Direcções de cálculo 32
Divisões zénite 18
Divisões azimute 8
Modelo de radiação difusa Céu uniforme

12 Plano Energético Renovável de Cabo Verde


METODOLOGIAS E PRESSUPOSTOS

2.1.2.3 PLANO DE SIMULAÇÃO

O fluxograma de simulação pode ser descrito de acordo com a Figura 2.5. Foram executadas no âmbito do presente estudo
108 simulações (12 meses x 9 ilhas). Os resultados da simulação são a radiação global, directa, difusa e número de horas de
radiação para a malha de cálculo, de acordo com a morfologia do terreno, ou seja, para a inclinação natural do terreno.

Malha de
cálculo

Ilha Transmissividade

Radiação
Simulação
Mensal

Proporção
Mês difusa

Restante
parametrização

Figura 2.5 – Fluxograma de implementação Solar Analyst para Cabo Verde.

2.1.3 CLASSIFICAÇÃO DA ACUMULAÇÃO DA NEBULOSIDADE

A formação de nebulosidade está dependente da existência de humidade e temperatura suficientes para alcançar o ponto de
orvalho, ou seja, a temperatura a partir da qual o vapor de água contido no ar sofre condensação. A partir do ponto de
orvalho a condensação vai aumentando e forma-se nebulosidade. Em ilhas atlânticas, especialmente em Cabo Verde, onde o
clima é quente e seco, a formação de nebulosidade apenas acontece nos pontos mais elevados das ilhas, onde a temperatura
atinge valores inferiores ao ponto de condensação. A formação de nebulosidade é mais significativa nas vertentes voltadas
aos ventos dominantes, onde existe maior humidade e onde as temperaturas de ponto de orvalho são inferiores. No
arquipélago de Cabo Verde, onde o clima é caracterizado, na maioria do ano, por ventos alísios de NE, a nebulosidade é
maior nestas vertentes, em especial nas zonas mais montanhosas das ilhas. O valor do ponto de orvalho (equação 1) pode
ser calculado através da humidade relativa e da temperatura (Wanielista, Kersten, & Eaglin, 1997):

o - (1)

Onde

To – Ponto de Orvalho (ºC)

U – Humidade Relativa

T – Temperatura

Estudo do Recurso Solar 13


2.2 AVALIAÇÃO DO POTENCIAL SOLAR E FOTOVOLTAICO

2.2.1 POTENCIAL SOLAR EM CLEAR SKY E REAL SKY

No que concerne à avaliação do potencial solar e fotovoltaico, a partir das zonas de elevado potencial identificadas,
preconiza-se a implementação da Gesto a partir dos modelos SODA, ESRA e PVGIS. Os três modelos referidos têm uma
metodologia semelhante, com algumas nuances relativas ao cálculo da posição do sol, no tratamento das componentes
difusa e reflectida da radiação e na aplicação dos dados de transformação do potencial em clear sky (condições de céu limpo)
para real sky (condições de céu real).

O modelo adoptado trata-se de um algoritmo de cálculo que avalia as três componentes da radiação, em condições de céu
limpo, através da análise da geometria da Terra, da atenuação atmosférica e da morfologia do terreno.

A geometria da Terra é traduzida pela declinação, latitude e ângulo solar horário. A partir destas variáveis estima-se a
radiação extraterrestre, de acordo com fórmulas astronómicas.

A atenuação atmosférica é um aspecto essencial deste modelo e traduz o efeito da passagem da radiação pela atmosfera, em
resultado da existência de partículas. A atenuação atmosférica devido à existência de gases é modelada pela massa óptica de
ar e pela espessura óptica de Rayleigh, cujos valores são modelados empiricamente a partir de formulações com variável
associada à elevação do terreno. A atenuação atmosférica associada às partículas sólidas encontra-se relacionada com a
2
turbidez atmosférica , tratando-se de uma boa aproximação para modelar a absorção e dispersão atmosférica da radiação
solar em céu limpo. A turbidez atmosférica (TL) descreve a espessura óptica da atmosfera, resultado da absorção pelo vapor
de água e absorção e dispersão pelos aerossóis relativamente a uma atmosfera limpa e seca. Quanto maior o valor de TL,
maior a atenuação da radiação numa atmosfera em céu limpo (sem nuvens), ou seja, o céu azul corresponde a um TL mais
baixo, o aumento do vapor de água provoca um céu menos azul (mais próximo de branco, ainda que sem nuvens).

A morfologia do terreno é integrada na modelação, tratando-se da interacção entre a disponibilidade das três parcelas de
radiação e a sua própria reflexão, sendo o albedo um aspecto essencial nas superfícies reflectantes (por exemplo, a neve).

Após a avaliação das condições de céu limpo, avalia-se o efeito da nebulosidade e aplica-se um factor de correcção, o índice
3
de céu limpo , para a obtenção dos mapas de céu real a partir dos mapas de céu limpo. A boa estimativa deste parâmetro
está dependente da disponibilidade de medições de radiação, bem como da estimativa da proporção difusa da radiação.

Apresenta-se na Figura 2.6 um esquema da metodologia do PVGIS, em termos conceptuais semelhante à adoptada.

2.2.2 POTENCIAL FOTOVOLTAICO

O potencial fotovoltaico é determinado a partir da radiação incidente na superfície com orientação e inclinação óptimas,
contabilizando todas as perdas do sistema. Para o efeito, considera-se para cada localização um parque padrão de 1 MW.

As perdas de conversão estão associadas não só à eficiência de conversão das células fotovoltaicas, mas também devidas à
temperatura, radiância e perdas eléctricas. A estimativa do potencial fotovoltaico é realizada com recurso ao software de
modelação PVSyst, integrando o potencial solar avaliado anteriormente. Os dados de temperatura, requeridos pelo sistema
serão adoptados do SODA, com normalização para a altimetria do ponto.

2
Ou Linke Turbidity (TL).
3
Ou Clear Sky Index (KG)

14 Plano Energético Renovável de Cabo Verde


METODOLOGIAS E PRESSUPOSTOS

Figura 2.6 – Modelo de cálculo do potencial solar (EU/JRC/Institute for Energy/PVGIS©, 2008)

2.2.3 CONFIGURAÇÃO NUMÉRICA

2.2.3.1 PONTOS DE CÁLCULO

Para o mapeamento da irradiação e insolação foi considerado o modelo digital do terreno, com uma malha de 20 m x 20 m,
em coordenadas cartográficas do sistema Cabo Verde National Grid, construído a partir da altimetria da Direcção Geral do
Ordenamento do Território. A simulação foi realizada pontualmente, no centróide de cada Zona de Desenvolvimento de
Energias Renováveis (ZDER) para o plano horizontal e para a orientação e inclinação óptimas, determinadas iterativamente
pelo modelo. Apresenta-se no Quadro 2.3 as coordenadas dos pontos simulados e os parâmetros utilizados no modelo.

Quadro 2.3 – Pontos de cálculo de potencial solar e fotovoltaico.

Identificação da Coordenadas M Coordenadas P Latitude Longitude Altitude


ZDER (m) (m) (º) (º) (m)
ZDER.ST.8 222.099 37.751 15,012 -23,437 6,21
ZDER.ST.9 218.087 30.434 14,946 -23,475 65,19
ZDER.ST.10 218.672 32.207 14,962 -23,469 83,18
ZDER.ST.11 220.197 34.937 14,987 -23,455 64,53
ZDER.ST.12 222.325 35.069 14,988 -23,435 16,37
ZDER.ST.13 205.905 26.749 14,913 -23,588 98,25
ZDER.ST.14 203.817 28.242 14,927 -23,607 147,39
ZDER.ST.15 200.100 28.665 14,931 -23,642 50,66
ZDER.ST.16 220.407 39.282 15,026 -23,453 45,00
ZDER.SV.6 62.590 246.927 16,901 -24,929 17,89
ZDER.SL.2 277.733 216.854 16,629 -22,911 4,52
ZDER.SA.4 42.109 257.163 16,993 -25,122 55,97
ZDER.FG.3 119.971 18.241 14,836 -24,387 315,07
ZDER.SN.4 131665 211451 16.583 -24.280 179.48
ZDER.SN.4 123730 208310 16.554 -24.355 17.89
ZDER.BV.2 279115 169722 16.203 -22.901 51.20
ZDER.BV.3 288477 152903 16.051 -22.814 45.80
ZDER.MA.2 247809 52610 15.146 -23.198 53.82
ZDER.MA.3 251302 51152 15.133 -23.165 32.53
ZDER.MA.4 257543 60098 15.213 -23.107 30.01
ZDER.BR.2 87374 24132 14.889 -24.690 218.79

Estudo do Recurso Solar 15


2.2.3.2 PARAMETRIZAÇÃO

2.2.3.2.1 Turbidez atmosférica

A turbidez atmosférica encontra-se mapeada mundialmente numa malha geográfica de 5’ x 5’ (Remund, Albuisson, Lefèvre,
& Wald, 2002). Para a simulação de cada ponto, dada a variabilidade da altimetria das ilhas, realizou-se uma interpolação dos
valores da turbidez atmosférica para a malha altimétrica de 20 m x 20 m. Apresenta-se a interpolação da turbidez
atmosférica, normalizada para uma altitude igual a zero, em todo o arquipélago de Cabo Verde no Anexo B. No Quadro 2.4
encontram-se os valores de para cada um dos pontos de cálculo.

Quadro 2.4 – Turbidez atmosférica normalizada nos pontos de cálculo.

Identificação da Turbidez atmosférica – valores mensais


ZDER Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
ZDER.ST.8 4,60 4,68 5,00 5,10 5,45 3,35 3,68 5,58 5,55 5,24 4,88 4,90
ZDER.ST.9 4,60 4,65 5,00 5,09 5,46 3,36 3,65 5,55 5,55 5,20 4,85 4,90
ZDER.ST.10 4,60 4,66 5,00 5,10 5,45 3,35 3,66 5,56 5,55 5,21 4,86 4,90
ZDER.ST.11 4,60 4,67 5,01 5,10 5,45 3,36 3,67 5,57 5,56 5,22 4,87 4,90
ZDER.ST.12 4,60 4,67 5,00 5,10 5,45 3,36 3,67 5,57 5,55 5,23 4,87 4,90
ZDER.ST.13 4,62 4,67 4,99 5,07 5,47 3,36 3,63 5,57 5,55 5,22 4,87 4,92
ZDER.ST.14 4,64 4,68 5,02 5,08 5,49 3,36 3,64 5,59 5,57 5,23 4,88 4,93
ZDER.ST.15 4,64 4,68 5,02 5,08 5,49 3,35 3,63 5,58 5,56 5,23 4,88 4,93
ZDER.ST.16 4,60 4,69 5,00 5,10 5,45 3,35 3,69 5,59 5,55 5,24 4,89 4,90
ZDER.SV.6 4,65 4,75 5,10 4,85 5,60 3,35 3,26 5,65 5,55 5,25 4,95 5,00
ZDER.SL.2 4,70 4,80 5,10 4,95 5,65 3,50 3,97 5,75 5,65 5,35 4,90 5,00
ZDER.SA.4 4,68 4,76 5,13 4,86 5,58 3,44 3,33 5,68 5,58 5,28 4,98 5,03
ZDER.FG.3 4,72 4,78 5,10 5,13 5,55 3,47 3,57 5,68 5,63 5,30 5,00 5,08
ZDER.SN.3 4.70 4.80 5.15 4.95 5.65 3.43 3.73 5.75 5.65 5.35 4.95 5.05
ZDER.SN.4 4.66 4.76 5.11 4.91 5.61 3.36 3.63 5.71 5.61 5.31 4.91 5.01
ZDER.BV.2 4.70 4.75 5.10 5.01 5.65 3.30 3.92 5.75 5.65 5.35 4.90 5.00
ZDER.MA.2 4.65 4.70 5.01 5.10 5.50 3.39 3.76 5.60 5.60 5.25 4.90 4.90
ZDER.MA.3 4.65 4.70 5.01 5.10 5.50 3.39 3.76 5.60 5.60 5.25 4.90 4.90
ZDER.MA.4 4.65 4.70 5.05 5.10 5.50 3.36 3.80 5.61 5.60 5.26 4.90 4.90
ZDER.BR.2 4.51 4.60 4.91 4.92 5.37 3.35 3.40 5.50 5.45 5.10 4.85 4.90
ZDER.BV.3 4.82 4.88 5.22 5.17 5.72 3.37 3.95 5.87 5.77 5.47 5.02 5.09

2.2.3.2.2 Índice de céu limpo

O índice de céu limpo pode ser estimado a partir de estações de medição de radiação. O arquipélago de Cabo Verde dispõe
de duas razoáveis séries de radiação, que fazem parte do sistema mundial de radiação, relativas aos postos da cidade da
Praia e do Mindelo, cuja localização se encontra definida pelas suas coordenadas geográficas no Quadro 2.5. Adicionalmente,
apresenta-se na Figura 2.7 a localização das estações utilizadas no arquipélago.

No Anexo C encontra-se a aplicação da metodologia de potencial solar para condições de céu limpo nas estações de medição
de radiação. A existência de apenas dois pontos de medição, e dada a distância relativamente próximas entre ilhas, optou-se
por aplicar os Índices de Céu Limpo obtidos a partir dos dados de radiação do Mindelo aos pontos de cálculo localizados na
ilha de São Vicente, Santo Antão São Nicolau, Boavista e Sal, enquanto para as ilhas de Santiago, Fogo, Maio e Brava se
procederá à aplicação dos Índices de Céu Limpo obtidos a partir dos dados de radiação da cidade da Praia. Uma melhor

16 Plano Energético Renovável de Cabo Verde


METODOLOGIAS E PRESSUPOSTOS

distribuição dos pontos de medição permitiria a interpolação dos valores entres as ilhas, aplicando-se Índices de Céu Limpo
com valores diferentes para cada uma das ilhas.

Apresenta-se nos gráficos da Figura 2.8 à Figura 2.10 a variação mensal dos índices de céu limpo.

Quadro 2.5 – Pontos de medição da radiação solar.

Latitude Longitude Altimetria


Local
(º) (º) (m)
Praia 14,90 -23,52 6,46
Mindelo 16,88 -25,00 0,00

25° W 24° W 23° W 22° W 21° W

17° N
17° N

Mindelo
!
#

!
!
!

16° N
!
16° N

Legenda
# Postos de medição de radiação solar

! Pontos de cálculo ZDERs Solares


!
!!
15° N
15° N

!!
!!
!
Praia
!
! !!
! #
!
0 15 30 60
! km

25° W 24° W 23° W 22° W 21° W

Figura 2.7 – Localização das estações de medição de radiação.

Estudo do Recurso Solar 17


1.20
Índice de céu limpo - KG
1.00

0.80

0.60

0.40

0.20

0.00
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Praia Mindelo

Figura 2.8 – Gráfico mensal do índice de céu limpo (radiação global em plano horizontal).

1.20
Índice de céu limpo - KB

1.00

0.80

0.60

0.40

0.20

0.00
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Praia Mindelo

Figura 2.9 – Gráfico mensal do índice de céu limpo para a radiação directa.

1.80
1.60
Índice de céu limpo - KD

1.40
1.20
1.00
0.80
0.60
0.40
0.20
0.00
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Praia Mindelo

Figura 2.10 – Gráfico mensal do índice de céu limpo para a radiação difusa

18 Plano Energético Renovável de Cabo Verde


METODOLOGIAS E PRESSUPOSTOS

2.2.3.2.3 Temperatura

Os dados de base de temperatura foram obtidos a partir de interpolações de dados climatológicos disponibilizadas pela SoDa
(Remund & Kunz, 1999).

Apresenta-se na Quadro 2.6 os valores considerados para cada uma das zonas de simulação.

Quadro 2.6 – Temperatura média mensal.

Identificação da Temperatura (ºC) – valores mensais


ZDER Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
ZDER.ST.8 21,7 21,4 21,9 22,2 22,8 23,7 24,9 26,3 26,9 26,4 24,8 23,8
ZDER.ST.9 21,3 21,0 21,5 21,8 22,4 23,4 24,6 25,9 26,5 26,0 24,4 23,5
ZDER.ST.10 21,3 21,0 21,5 21,8 22,4 23,4 24,6 25,9 26,5 26,0 24,4 23,5
ZDER.ST.11 21,4 21,1 21,6 21,9 22,5 23,4 24,6 26,0 26,5 26,1 24,5 23,5
ZDER.ST.12 21,6 21,4 21,9 22,1 22,7 23,7 24,9 26,2 26,8 26,3 24,8 23,8
ZDER.ST.13 21,2 21,0 21,5 21,7 22,3 23,3 24,5 25,8 26,4 25,9 24,4 23,4
ZDER.ST.14 21,0 20,7 21,2 21,5 22,1 23,1 24,2 25,6 26,1 25,7 24,1 23,1
ZDER.ST.15 21,5 21,2 21,7 22,0 22,6 23,5 24,7 26,1 26,6 26,2 24,6 23,6
ZDER.ST.16 21,5 21,2 21,7 22,0 22,6 23,5 24,7 26,1 26,6 26,2 24,6 23,6
ZDER.SV.6 21,6 21,3 21,8 22,1 22,7 23,6 24,8 26,2 26,8 26,3 24,7 23,7
ZDER.SL.2 21,7 21,4 21,9 22,2 22,8 23,7 24,9 26,3 26,9 26,4 24,8 23,8
ZDER.SA.4 21,4 21,1 21,6 21,9 22,5 23,4 24,6 26,0 26,6 26,1 24,5 23,5
ZDER.FG.3 20,1 19,8 20,3 20,6 21,2 22,2 23,4 24,8 25,3 24,9 23,3 22,3
ZDER.SN.3 20.8 20.5 21.0 21.3 21.9 22.8 24.0 25.4 26.0 25.5 23.9 22.1
ZDER.SN.4 21.6 21.3 21.8 22.1 22.7 23.6 24.8 26.2 26.8 26.3 24.7 22.9
ZDER.BV.2 21.4 21.1 21.6 21.9 22.5 23.4 24.6 26 26.6 26.1 24.5 22.7
ZDER.BV.3 21.4 21.2 21.7 21.9 22.5 23.5 24.7 26.1 26.7 26.2 24.5 22.7
ZDER.MA.2 21.4 21.1 21.6 21.9 22.5 23.5 24.7 26 26.6 26.1 24.5 22.7
ZDER.MA.3 21.5 21.3 21.8 22 22.6 23.6 24.8 26.1 26.7 26.2 24.7 22.8
ZDER.MA.4 21.5 21.3 21.8 22 22.7 23.6 24.8 26.1 26.7 26.2 24.7 22.8
ZDER.BR.2 20.6 20.3 20.8 21.1 21.7 22.7 23.9 25.2 25.8 25.3 23.7 21.9

Estudo do Recurso Solar 19


ANÁLISE DE RESULTADOS

3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS


3.1 MAPEAMENTO DO RECURSO SOLAR

3.1.1 CONSIDERAÇÕES PRÉVIAS

Relativamente ao mapeamento do recurso solar, por ser demasiado extenso, é apresentado no Anexo D, encontrando-se
resumido nos subcapítulos 3.1.2 a 3.1.5.

3.1.2 RADIAÇÃO GLOBAL

Apresenta-se na Figura 3.1, o mapeamento da radiação global no arquipélago de Cabo Verde, obtido pelas metodologias e
configurações conforme descrito no subcapítulo 2.1.

Santo Antão

Sal

São Nicolau
São Vicente

Boavista Radiação Global


(kWh/m2)
> 2 400
2 200 – 2 400
2 000 – 2 200
1 800 – 2 000
1 600 – 1 800
1 400 – 1 600
1 200 – 1 400
Santiago Maio 1 000 – 1 200
800 – 1 000
< 800
Fogo
Brava

Copyright © 2010, Gesto Energia S.A.

17

Figura 3.1 – Radiação global nas ilhas em estudo.

A análise dos gráficos que se apresentam na Figura 3.2 permite concluir que, à excepção da ilha do Fogo, em que o registo
2
mais frequente se encontra no intervalo 2.000-2.200 kWh/m /ano, a parte mais significativa das ilhas regista grande parte
2
dos valores de radiação entre os 1.800 e os 2.000 kWh/m /ano. De facto, mais de metade do território analisado (66%) tem
radiações anuais nesta ordem de grandeza. Apresenta-se na Figura 3.3 os valores médios, mínimos e máximos da radiação
para cada uma das ilhas, bem como a representação do intervalo de variação da radiação global. A radiação máxima das ilhas
em estudo verifica-se na ilha do Fogo e a mínima na ilha de São Nicolau. A ilha com a radiação média mais elevada é
igualmente a ilha do Fogo, em muito relacionada com a sua altitude e encostas com exposição solar favorável.

Estudo do Recurso Solar 21


7% 0%
1%
29%

42%
22%
12% 11% 99%
Santo Antão 17%

Sal
60% 3%

São Nicolau

7%
97%
16%
São Vicente 6% 8% Boavista
76% 21%

65%
7% 2%
Santiago
18% 15%
33%
57%
26%
98%
41%
Maio
Fogo
Brava

Chart
Radiação
Radiação Title
Global
Global em kWh/ano
(kWh/ano)
<1600 1600 - 1800 1800 - 2000 >2000

Figura 3.2 – Gráficos circulares representativos da área por ilha (%) em função da radiação global anual.

Máximo Mínimo Média

3000

2500
kWh/m2/ano

2000

1500

1000

500

Figura 3.3 – Intervalo de variação da radiação global.

22 Plano Energético Renovável de Cabo Verde


ANÁLISE DE RESULTADOS

3.1.3 RADIAÇÃO DIRECTA

Apresenta-se na Figura 3.4, o mapeamento da radiação directa nas ilhas englobadas no âmbito deste estudo. Pode observar-
se a influência da orientação das encostas na quantidade de radiação directa.

A Figura 3.5 retrata a distribuição percentual da radiação directa nas diversas ilhas. O facto da ilha do Sal ser
2
predominantemente plana provoca a concentração de valores no intervalo de 1.500 a 1.600 kWh/m /ano. Praticamente
2
metade do território analisado apresenta valores de radiação directa superiores a 1.500 kWh/m /ano, o equivalente a 4,1
2
kWh/m /dia.

O gráfico da Figura 3.6 representa os intervalos de variação da radiação directa, bem como os valores médios, mínimos e
máximos para cada uma das ilhas. Pode verificar-se que o intervalo de valores cada uma das ilhas encontra-se correlacionado
com a sua morfologia: as ilhas do Sal, Boavista e Maio apresentam o menor intervalo de variação, enquanto as ilhas com
mais relevo apresentam intervalos de variação mais amplos.

Santo Antão

Sal

São Nicolau
São Vicente

Boavista

Radiação Directa
(kWh/m2)
> 1 600
1 500 – 1 600
1 400 – 1 500
1 300 – 1 400
1 200 – 1 300
Santiago Maio 1 100 – 1 200
1 000 – 1 100
< 1 000
Fogo
Brava

Copyright © 2010, Gesto Energia S.A.

Figura 3.4 – Radiação directa nas ilhas em estudo.

Estudo do Recurso Solar 23


23% 1%
33%
15%

31% 13%
14%
9% 83%
Santo Antão
15%
62% Sal

2%
São Nicolau
16%

10%
9% 81%

16%
São Vicente
13% Boavista
65%
48% 13%

26%

6%
6% Santiago
1%
14%
22% 14%
41%
74%
15%

Maio 84%
22% Fogo
Brava

Radiação Chart
DirectaTitle
em kWh/ano
Radiação Directa (kWh/ano)
<1300 1300 - 1400 1400 - 1500 >1500

Figura 3.5 – Gráficos circulares representativos da área por ilha (%) em função da radiação directa.

Máximo Mínimo Média

2500

2000
kWh/m2/ano

1500

1000

500

Figura 3.6 – Intervalo de variação da radiação directa.

24 Plano Energético Renovável de Cabo Verde


ANÁLISE DE RESULTADOS

3.1.4 NÚMERO DE HORAS DE RADIAÇÃO DIRECTA

Na Figura 3.7 apresenta-se o mapeamento do número de horas de sol no território de Cabo Verde. Este valor encontra-se
correlacionado com os efeitos de sombreamento do terreno.

Nos gráficos da Figura 3.8 pode verificar-se a dispersão de valores nos casos de Santo Antão e São Nicolau e a concentração
de valores no caso da ilha do Sal, Boavista e Maio. Mais de metade do território analisado recebe mais de 3.750 horas de sol
por ano (aproximadamente 62% do território).

Da Figura 3.9 pode observar-se os valores médios, mínimos e máximos do número de horas de sol nas diversas ilhas em
estudo. Note-se que o valor máximo é aproximadamente igual em todas as ilhas, o que reflecte a existência de locais com
pouco ensombramento. As ilhas que registam o menor número de horas de sol, Santiago e Santo Antão, são as ilhas com as
linhas de água mais pronunciadas, locais propícios a ensombramento.

Santo Antão

Sal

São Nicolau
São Vicente

Boavista

Número de horas de
Radiação Directa (h)
> 4 000
3 750 – 4 000
3 500 – 3 750
3 250 – 3 500
3 000 – 3 250
Santiago Maio 2 750 – 3 000
2 500 – 2 750
< 2 500
Fogo
Brava

Copyright © 2010, Gesto Energia S.A.

Figura 3.7 – Número de horas de radiação directa nas ilhas em estudo.

Estudo do Recurso Solar 25


14%

44%
6%
24%

18%
14%
29%
Santo Antão
92%
33%
24%
4% Sal
São Nicolau
15%

22% 20%
80%
São Vicente
24%
34%
Boavista
24% 25%

26% 25%

5% 13%
21% 3%
Santiago
25% 13%
25% 38%
41%

32% Maio 84%


Fogo
Brava

Chart
horas
Número de horas dede
Title Directa (horas)
sol/ano
Radiação
<3500 3500 - 3750 3750 - 4000 >4000

Figura 3.8 – Gráficos circulares representativos da área por ilha (%) em função do número de horas de radiação directa.

Máximo Mínimo Média

4500
4000
3500
3000
horas/ano

2500
2000
1500
1000
500
0

Figura 3.9 – Intervalo de variação do número de horas de insolação.

26 Plano Energético Renovável de Cabo Verde


ANÁLISE DE RESULTADOS

3.1.5 RADIAÇÃO DIFUSA

A Figura 3.10 representa o mapeamento da radiação difusa nas ilhas em estudo.

Santo Antão

Sal

São Nicolau
São Vicente

Boavista

Radiação Difusa
(kWh/m2)
> 500
450 – 500
400 – 450
350 – 400
Santiago Maio 300 – 350
250 – 300
< 250
Fogo
Brava

Copyright © 2010, Gesto Energia S.A.

Figura 3.10 – Radiação difusa nas ilhas em estudo.

Pode observar-se nos gráficos da Figura 3.11 que grande parte do arquipélago tem níveis de radiação difusa entre os 350 e os
2
450 kWh/m /ano. A ilha com níveis mais elevados de radiação difusa é a ilha do Fogo. Note-se que os níveis de radiação
difusa podem ser um indicador de maior nebulosidade, na medida em que com a nebulosidade os níveis de radiação difusa
podem ser superiores aos níveis de radiação difusa em céu limpo.

Na Figura 3.12 encontram-se os valores médios, mínimos e máximos de radiação difusa obtidos para cada uma das ilhas.
Pode observar-se a menor dispersão dos valores da radiação difusa no caso da ilha do Sal, onde a diferença entre os valores
máximos e mínimos é mais reduzida, ou seja, apresenta uma menor variação.

Estudo do Recurso Solar 27


16% 13%
2%
22%

49% 4%

18%
Santo Antão 98%

77% Sal
4%
São Nicolau

1%
9%
96%
5%
São Vicente
Boavista
89%

40%
54%

2%
Santiago
10% 2%
14%
39%

88%
46%
Maio 98%
Fogo
Brava

Radiação Chart
DirectaTitle
em kWh/ano
2
Radiação Difusa (kWh/m /ano)
<300 300 - 350 350 - 400 >400

Figura 3.11 – Gráficos circulares representativos da área por ilha (%) em função da radiação difusa.

Máximo Mínimo Média

600

500
kWh/m2/ano

400

300

200

100

Figura 3.12 – Intervalo de variação da radiação difusa.

28 Plano Energético Renovável de Cabo Verde


ANÁLISE DE RESULTADOS

3.2 MAPEAMENTO DAS ZONAS DE NEBULOSIDADE


O cálculo de nebulosidade foi efectuado calculando o ponto de orvalho para as diferentes ilhas do arquipélago, baseado nas
informações de estações meteorológicas existentes, conforme se apresenta no Quadro 3.1

Quadro 3.1 - Ponto de orvalho para as diferentes ilhas do arquipélago de Cabo Verde

Ilha Verão – Outono (ºC) Inverno – Primavera (ºC)


Santo Antão 18,28 17,28
S. Vicente 17,80 16,86
Santiago 16,38 16,64
Fogo 18,10 17,07
Sal 18,05 16,64
Boavista 19,27 16,65
São Nicolau 19,06 15,67
Maio 19,07 16,17
Brava 17,78 14,2

Tomando por base a temperatura média das ilhas, e considerando uma diminuição da temperatura de 1 ºC/100m, foram
calculadas as altitudes de formação de nebulosidade para as duas épocas do ano. As áreas obtidas foram prioritizadas pela
altitude, direcção da vertente, e por outras variáveis climatológicas.Na Figura 3.13 apresenta-se o mapeamento das zonas de
nebulosidade potencial (classificação de menor para maior potencial de nebulosidade), obtido de acordo com a metodologia
descrita no subcapítulo 2.1.3.

Santo Antão

Sal

São Nicolau
São Vicente

Boavista

Maior nebulosidade

Santiago Maio

Menor nebulosidade
Fogo
Brava

Copyright © 2010, Gesto Energia S.A.

21

Figura 3.13 – Zonas de nebulosidade.

Estudo do Recurso Solar 29


3.3 POTENCIAL SOLAR E POTENCIAL FOTOVOLTAICO
O potencial de radiação solar foi aferido pela metodologia descrita no subcapítulo 2.2.

Para cada localização, calcularam-se as radiações globais em plano horizontal e em plano inclinado, para diversas inclinações,
de forma a optimizar a incidência de radiação nos colectores. A optimização da inclinação e exposição dos painéis encontra-
se no Anexo E, bem como gráficos da radiação mensal incidente nos painéis.

No Quadro 3.2 e no Quadro 3.3 encontram-se os valores de radiação global em plano horizontal e em plano com inclinação
15ºS, respectivamente.

Apresenta-se no gráfico da Figura 3.14 o potencial de radiação anual, em planos com inclinação optimizada para a radiação
incidente, em cada uma das Zonas de Desenvolvimento de Energias Renováveis, que foram desenvolvidas de acordo com a
metodologia descrita em Plano Energético Renovável de Cabo Verde – Relatório Final.

2 2
Quadro 3.2 – Radiação global em plano horizontal mensal (kWh/m /mês) e anual (kWh/m /ano)

ZDER Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Anual
ZDER.ST.8 138,1 147,0 195,0 201,3 219,3 215,6 195,1 180,0 161,5 156,1 134,8 127,5 2.071
ZDER.ST.9 138,7 147,8 195,7 202,0 219,9 215,9 195,5 180,7 162,1 157,0 135,6 128,1 2.079
ZDER.ST.10 138,8 147,9 195,8 202,2 220,2 216,1 195,6 180,8 162,2 157,1 135,7 128,2 2.081
ZDER.ST.11 138,6 147,6 195,6 201,9 220,0 216,0 195,5 180,6 162,0 156,8 135,4 128,0 2.078
ZDER.ST.12 138,2 147,3 195,1 201,4 219,4 215,6 195,2 180,2 161,6 156,3 135,1 127,6 2.073
ZDER.ST.13 138,9 148,1 196,2 202,6 220,1 216,1 195,6 180,9 162,4 157,2 135,9 128,3 2.082
ZDER.ST.14 139,1 148,3 196,5 203,0 220,6 216,5 196,0 181,3 162,7 157,5 136,1 128,5 2.086
ZDER.ST.15 138,3 147,5 195,4 202,0 219,4 215,8 195,3 180,4 161,9 156,7 135,4 127,8 2.076
ZDER.ST.16 138,3 147,2 195,3 201,7 219,8 215,9 195,4 180,3 161,9 156,4 135,0 127,7 2.075
ZDER.SV.6 139,0 155,8 199,8 221,9 219,5 216,8 207,8 188,7 180,8 168,1 143,5 131,8 2.173
ZDER.SL.2 139,2 155,8 200,1 220,8 218,5 216,2 209,4 187,8 180,1 167,7 144,5 132,6 2.173
ZDER.SA.4 138,7 155,7 199,8 222,2 220,2 217,1 208,3 188,9 180,8 168,0 143,3 131,6 2.175
ZDER.FG.3 140,0 149,2 197,5 204,5 221,9 217,5 197,0 182,4 163,9 158,7 136,8 129,0 2.099
ZDER.SN.3 140,8 157,5 201,6 222,8 220,7 217,5 209,9 189,6 181,9 169,5 145,7 133,7 2.191
ZDER.SN.4 139,9 156,5 200,3 221,4 219,1 216,3 208,4 188,2 180,6 168,3 144,8 132,8 2.177
ZDER.BV.2 140,8 157,6 201,3 220,8 218,7 216,2 209,1 188,2 180,9 169,0 146,1 134,3 2.183
ZDER.BV.3 140,2 156,7 200,0 219,1 217,8 215,8 209,0 187,4 180,1 168,2 145,5 133,9 2.174
ZDER.MA.2 137,7 147,0 195,2 201,8 219,5 216,1 195,7 180,4 161,6 156,2 134,8 127,4 2.073
ZDER.MA.3 137,5 145,1 186,3 188,1 198,7 191,2 169,0 157,8 145,7 147,4 133,2 128,5 1.928
ZDER.MA.4 137,3 146,7 194,4 201,6 219,3 216,0 195,6 180,1 161,3 155,8 134,4 127,0 2.070
ZDER.BR.2 140,8 149,6 198,5 205,5 222,7 217,0 196,4 182,4 164,0 159,2 137,0 129,4 2.102

30 Plano Energético Renovável de Cabo Verde


ANÁLISE DE RESULTADOS

2 2
Quadro 3.3 – Radiação global em plano inclinado (15ºS) mensal (kWh/m /mês) e anual (kWh/m /ano)

ZDER Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Anual
ZDER.ST.8 161,4 163,6 203,7 197,3 204,8 194,5 178,8 173,4 164,4 169,2 154,9 150,9 2.117
ZDER.ST.9 162,1 164,5 204,4 198,0 205,2 194,7 179,0 173,9 164,9 170,2 155,9 151,6 2.124
ZDER.ST.10 162,2 164,6 204,6 198,1 205,5 194,9 179,1 174,1 165,1 170,3 156,0 151,7 2.126
ZDER.ST.11 162,0 164,3 204,3 197,9 205,3 194,8 179,1 173,9 164,9 170,0 155,6 151,5 2.124
ZDER.ST.12 161,6 163,8 203,8 197,4 204,8 194,5 178,8 173,5 164,5 169,4 155,2 151,1 2.119
ZDER.ST.13 162,3 164,7 204,9 198,5 205,4 194,9 179,1 174,1 165,3 170,4 156,1 151,8 2.127
ZDER.ST.14 162,6 165,0 205,2 198,9 205,9 195,2 179,4 174,5 165,6 170,8 156,4 152,1 2.132
ZDER.ST.15 161,7 164,1 204,0 197,9 204,8 194,6 178,8 173,7 164,8 169,8 155,5 151,2 2.121
ZDER.ST.16 161,8 163,8 204,1 197,8 205,2 194,8 179,1 173,7 164,7 169,5 155,1 151,2 2.121
ZDER.SV.6 164,3 175,1 210,4 219,1 206,6 197,1 191,3 183,0 185,4 183,9 166,6 157,9 2.241
ZDER.SA.4 164,1 175,1 210,4 219,5 207,4 197,6 191,9 183,2 185,5 183,9 166,4 157,7 2.243
ZDER.SL.2 164,3 174,8 210,4 217,7 205,6 196,6 193,9 182,0 184,5 183,1 167,7 158,6 2.239
ZDER.FG.3 163,6 165,9 206,2 200,3 207,0 196,2 180,0 175,5 166,8 172,0 157,1 152,5 2.143
ZDER.SN.3 166,2 176,7 212,0 219,7 207,5 197,6 193,7 183,7 186,4 185,1 169,1 160,0 2.258
ZDER.SN.4 165,2 175,6 210,6 218,3 206,0 196,4 192,2 182,3 185,0 183,8 167,9 158,9 2.242
ZDER.BV.2 165,9 176,6 211,3 217,4 205,4 195,9 193,1 182,1 185,0 184,2 169,2 160,3 2.246
ZDER.BV.3 164,7 175,4 209,8 215,7 204,5 195,6 193,0 181,3 184,0 183,1 168,1 159,6 2.235
ZDER.MA.2 161,0 163,6 204,0 198,0 205,1 195,1 179,4 173,8 164,6 169,4 154,9 151,0 2.120
ZDER.MA.3 160,8 163,5 203,8 197,7 204,8 194,9 179,3 173,6 164,4 169,2 154,7 150,9 2.118
ZDER.MA.4 160,6 163,3 203,3 197,8 204,9 195,1 179,5 173,6 164,3 169,0 154,6 150,6 2.116
ZDER.BR.2 164,8 166,5 207,4 201,2 207,7 195,5 179,2 175,5 166,9 172,7 157,5 153,3 2.148

2300

2250

2200
Radiação Incidente
(kWh/m2/ano)

2150

2100
ZDER.ST.14

ZDER.ST.13

ZDER.ST.10

ZDER.ST.11

ZDER.ST.15

ZDER.ST.16

ZDER.ST.12
ZDER.MA.2

ZDER.MA.3

ZDER.MA.4
ZDER.BV.2

ZDER.BV.3
ZDER.SN.4

ZDER.FG.3
ZDER.BR.2
ZDER.SA.4

ZDER.SV.6
ZDER.SN.3

ZDER.ST.9

ZDER.ST.8
ZDER.SL.2

2050

2000

2
Figura 3.14 – Radiação anual incidente em planos de 15ºS (kWh/m /ano)

Estudo do Recurso Solar 31


Da análise do gráfico podemos verificar duas tendências de valores:

 a mais elevada relacionada com os Índices de Céu Limpo aferidos a partir das medições de São Vicente
 a menos elevada, associada à aplicação do Índice de Céu Limpo, aferido a partir das medições de radiação da cidade
da Praia.

A realização de medições locais permitiria uma interpolação do índice de céu limpo a partir dos quais seria possível obter
uma melhor afinação dos resultados.

A radiação máxima entre as ZDERs estudadas é a da ZDER.SN.3, em São Nicolau, aspecto que não é esperado de forma
empírica, mas que conjuga um local a uma cota superior, na comparação com os restantes locais. Com efeito, esta ZDER
encontra-se calibrada pelo posto de medição de radiação do Mindelo, o que pode sobrestimar a radiação nesta ilha.
2
Ainda assim, a variação de valores não é excessivamente acentuada, registando-se o valor máximo de 2.258 kWh/m /ano e o
2
valor mínimo de 2.117 kWh/m /ano, uma diferença inferior a 7% entre o valor máximo e o valor mínimo, para a radiação
incidente em plano optimizado.

A partir dos valores de radiação obtidos para plano horizontal, bem como das temperaturas médias mensais, anteriormente
apresentados no Quadro 2.6., com recurso ao software PVSyst, determinaram-se os valores de produção fotovoltaica por
MW, através da simulação de um parque solar padrão de 1 MW.

No Anexo F resumem-se os parâmetros fundamentais do potencial fotovoltaico, decorrente das simulações, para as quais se
apresenta o ficheiro de resultados no Anexo G.

No gráfico da Figura 3.15 representa-se produção anual para cada ZDER de projectos de energia solar fotovoltaica.

1840

1820

1800

1780
Produção Específica
(kWh/kWp/ano)

1760

1740

1720

1700
ZDER.ST.14

ZDER.ST.13

ZDER.ST.10

ZDER.ST.11

ZDER.ST.15

ZDER.ST.16

ZDER.ST.12

ZDER.MA.3
ZDER.MA2

ZDER.MA4
ZDER.SN.3

ZDER.SN.4

ZDER.FG.3
ZDER.SA.4

ZDER.SV.6

1680
ZDER.ST.9

ZDER.ST.8
ZDER.SL.2

ZDER.BV2

ZDER.BV3

ZDER.BR2

1660

1640

Figura 3.15 – Produção específica (kWh/kWp/ano).

Expectavelmente, a ordenação das ZDER em ordem à produção, respeita a da radiação anual incidente, reflectindo também
as diferenças decorrentes do posto utilizado na calibração. A média das produções específicas obtida a partir das ZDERs
calibradas com o posto de medição da cidade da Praia é de 1.725 kWh/kWp/ano, enquanto as ZDERs calibradas com o posto

32 Plano Energético Renovável de Cabo Verde


ANÁLISE DE RESULTADOS

do Mindelo apresentam uma média de 1.818 kWh/kWp/ano. Numa abordagem simplista, pode afirmar-se que para Cabo
Verde, nas zonas de melhor exposição, não sujeitas a sombreamento, a produção específica é de 1.770 kWh/kWp/ano.

3.4 POTENCIAL SOLAR NO FUTURO


O estudo apresentado foi direccionado para a tecnologia mais testada no que concerne a produção de energia eléctrica: o
solar fotovoltaico. Não obstante, o direccionamento do estudo foi realizado com a consciência de soluções emergentes e
tecnologias existentes ao nível das tecnologias de solar concentrado, as denominadas CPV (fotovoltaico concentrado) e o CSP
(concentrated solar power).

Ao contrário do potencial solar fotovoltaico, que converte a radiação global com baixos rendimentos, as tecnologias de solar
concentrado convertem apenas a radiação directa, mas com rendimentos mais elevados. Desta forma, o potencial
fotovoltaico aferido não pode ser relacionado com o potencial em tecnologias de solar concentrado, seja CPV ou CSP, quer
pela radiação aproveitável ser diferente, quer pelas condições de instalação também serem distintas.

A radiação directa encontra-se apenas disponível nos dias de sol, dependendo a energia fortemente do ângulo de incidência.
Desta forma, os sistemas de CSP e CPV são montados em regime de tracking, em algumas situações bastante complexos, de
modo a concentrar a máxima radiação directa possível.

Este tipo de montagem, bem como a especificidade do ângulo necessário a cada instante, conduz à necessidade de terrenos
planos, para facilidade de execução do projecto, preconizando-se inclinações do terreno inferiores a 1% no caso dos
colectores cilíndrico-parabólico e no caso da torre, enquanto no caso do CPV e do colector em disco são aconselháveis
inclinações inferiores a 3% (Stoddard, Abiecunas, & O'Connell, 2006). Apresenta-se na Figura 3.16 um mapeamento das
inclinações de todo o Arquipélago.

Figura 3.16 – Mapeamento das inclinações do terreno de acordo com as classes de adequação às tecnologias emergentes.

Estudo do Recurso Solar 33


Da Figura 3.16 pode concluir-se que as ilhas que mostram locais com inclinações mais adequadas ao desenvolvimento deste
tipo de projecto encontram-se nas ilhas de Santiago, São Vicente e, principalente,nas ilhas do Sal, Boavista e Maio

Contudo, relativamente à tecnologia CSP, uma vez que a energia é produzida a partir de geradores turbinas, são sistemas
mais adequados a centrais de 50 MW ou ou mais , considerando-se protótipos os desenvolvimentos de 10 MW (Stoddard,
Abiecunas, & O'Connell, 2006). Esta tecnologia, por ser baseada em ciclos termodinâmicos apresenta um potencial de
integração com outras tecnologias, como o RSU, bem como a possibilidade de armazenamento de recurso, através da
manutenção da temperatura do fluído de aquecimento.

Por outro lado, no que respeita a tecnologia de CSP através de disco parabólicos e a tecnologia de CPV, a sua natureza
modular, com potências dos 10 kW aos 35 kW por unidade, que permite configurações diversas, e consequentemente pode
ser utilizada em geração distribuída ou remota, no entanto, o CPV apresenta um estado de maturidade inferior e tanto o CSP
de disco como o CPV apresentam as mesmas limitações do solar fotovoltaico, relativamente à intermitência do recurso, pelo
que não aportam benefício ao sistema eléctrico.

O desenvolvimento de centrais de concentração solar em Cabo Verde deve reflectir ainda outras preocupações, que não a
dimensão de consumo energético, para a integração da tecnologia ou existência de terrenos com inclinações apropriadas ao
seu desenvolvimento A principal preocupação prende-se com a confirmação, através de medições, da espessura óptica de
aerossóis (Stoffel, et al., 2010).

A localização deste tipo de centrais deve estar afastada de fontes de aerossóis, como as tempestades de poeiras, a poluição
ou incêndios. Cabo Verde é conhecido pelas brumas secas, vindas no Norte de África. Estas brumas secas podem, por um
lado, falsear os resultados anteriormente estimados da radiação directa, por outro colocar problemas de abrasão e desgaste
nos heliostats.

Ainda relativamente aos heliostats (ou painéis no caso do CPV), dada a necessidade da localização junto ao mar para efeitos
de arrefecimento, é de considerar os custos de manutenção do equipamento neste ambiente mais agressivo, bem como a
disponibilidade de água doce para limpeza e manutenção dos heliostats e painéis.

Também nas tecnologias de CPS cilíndrico – parabólico e de torre, é de considerar as necessidades de água para
arrefecimento, e a possibilidade e consequências da utilização de água do mar no equipamento, estimando-se um consumo
3
de 2,8 m /h/MW instalado (Stoddard, Abiecunas, & O'Connell, 2006).

Por fim, para o desenvolvimento deste tipo de projecto é essencial uma caracterização local da radiação, ou seja, todas as
simulações devem ser calibradas e complementadas com dados de medições locais, de forma a permitir uma caracterização
estatística do recurso, como forma de aferição do risco do projecto. O bom recurso solar existente em Cabo Verde, na óptica
do recurso solar de conversão fotovoltaica pode ser promissor no âmbito das novas tecnologias, sendo particularmente
relevante para Cabo Verde acompanhar os desenvolvimentos tecnológicos ao nível dos sistemas de CSP de média dimensão
(10 a 20 MW).

34 Plano Energético Renovável de Cabo Verde


CONCLUSÕES

4 CONCLUSÕES
Do mapeamento do recurso solar pode afirmar-se que Cabo Verde tem um recurso solar abundante. Em termos de média
2
anual, grande parte do território apresenta uma radiação global entre os 1.800 e os 2.000 kWh/m /ano, para a inclinação e
exposição natural do terreno.

Relativamente ao número de horas de sol no território, mais de metade do território simulado apresenta um potencial de
mais de 3.750 horas de sol por ano.

Este forte recurso solar proporcionou a identificação de diversas áreas de elevado potencial, identificadas de acordo com o
método descrito em Zonas de Desenvolvimento de Energias Renováveis, presente em Plano Energético Renovável – Relatório
Final.
2
As melhores áreas das ilhas em estudo apresentam níveis de radiação global em plano horizontal entre 2.070 kWh/m /ano e
2 2
2.190 kWh/m /ano, assumindo-se um valor indicativo para as zonas com potencial do arquipélago de 2.130 kWh/ m /ano.
Refira-se que as máximas radiações globais em plano horizontal na Europa registam valores na ordem dos
2
1.800 kWh/ m /ano, ou seja, Cabo Verde tem um recurso bastante superior ao recurso solar Europeu, local onde o
investimento em tecnologia solar tem vindo a aumentar desde a última década.

Da análise efectuada, para todas as inclinações e exposições solares (simuladas de 5º em 5º), verifica-se a optimização da
incidência de radiação para uma inclinação de 15º e exposição solar para Sul. Para esta configuração resulta uma radiação
2 2
global em plano inclinado entre 2.110 kWh/m /ano e 2.250 kWh/m /ano, generalizando-se para o Arquipélago o valor de
2
2.180 kWh/m /ano.

Da aplicação do PVSyst para a aferição da conversão fotovoltaica para cada um dos locais, em função da radiação global e
difusa em plano horizontal, bem como das temperaturas e da configuração de parque solar adoptada (configuração padrão),
verificam-se produções específicas entre 1.710 kWh/kWp/ano e 1.850 kWh/kWp/ano, ou seja, em termos de referência pode
assumir-se que as zonas de potencial do Arquipélago terão produções específicas da ordem dos 1.770 kWh/kWp/ano.

De acordo com a classificação de nebulosidade, verifica-se que as ilhas de Santo Antão, Fogo e Brava registam os maiores
índices de nebulosidade, enquanto o menor índice de nebulosidade se verifica, de forma mais abrangente, na ilha do Sal,
Boavista e Maio.

Contudo, apesar de serem ilhas com maior nebulosidade, foi aferido para as ZDERs destas ilhas bons níveis de radiação,
quando comparadas com ilhas calibradas pelos mesmos postos. Tal prende-se com dois aspectos:

 ausência de medições de radiação nas ilhas para calibrar o modelo;


 tratam-se das ilhas com mais relevo, verificando-se um aumento da radiação com a altitude, pela diminuição da
espessura da massa de ar (o local simulado para o Fogo tem uma altitude de 315 m e para Santo Antão 56 m).

De facto, não pode ser negligenciada a ausência de melhor dispersão das medições locais, nem as fragilidades dos modelos
de radiação solar.

As radiações solares mapeadas com o modelo Solar Analyst para as ilhas em estudo são fruto de um modelo atmosférico
simples, mas com uma forte componente de análise geométrica, ou seja, as zonas com maior número de horas de radiação
tratam-se de zonas pouco sujeitas a ensombramentos. As radiações que se apresentam para cada uma das ZDERs resultam
de um modelo atmosférico bastante completo, mas com a fragilidade de não fazer a verificação do ensombramento, que se

Estudo do Recurso Solar 35


acredita não ter impacto nas zonas seleccionadas, por se verificarem ser de elevado potencial pelo mapeamento geral das
ilhas em estudo.

Como perspectiva de desenvolvimento futuro, pode concluir-se que o potencial solar do Arquipélago sugere a mesma
manifestação nas tecnologias emergentes de solar concentrado. Contudo, dos dados disponíveis e face à exposição do
Arquipélago às brumas secas do Norte de África, só medições da espessura óptica de aerossóis permitiria validar os valores
de radiação directa obtidos. A reduzida maturidade tecnológica ao nível dos sistemas de CSP de média dimensão (10 a 20
MW), que poderiam ter sentido para aplicação nas maiores ilhas de Cabo Verde, aconselham a um acompanhamento da
evolução desta tecnologia e à realização de estudos complementares da sua adequação às condições particulares de Cabo
Verde.

36 Plano Energético Renovável de Cabo Verde


BIBLIOGRAFIA

BIBLIOGRAFIA
Abengoa. (s.d.). Plataforma Solucar. Obtido em 5 de Novembro de 2010, de
http://www.abengoasolar.com/corp/web/es/nuestros_proyectos/plataforma_solucar/index.html

Acciona. (s.d.). Nevada Solar One. Obtido em 5 de Novembro de 2010, de http://www.acciona-na.com/About-Us/Our-


Projects/U-S-/Nevada-Solar-One.aspx

Arias, J. A., Tovar, J. P., & Vásquez, D. P. (2009). A comparative analysis of DEM-based models to estimate the solar radiation
in mountainous terrain. International Journal of Geographical Information Science , 23 (8), 1049-1076.

ESRI. (2 de Maio de 2007). Calculating Solar Radiation. Obtido em 5 de Novembro de 2010, de


http://webhelp.esri.com/arcgisdesktop/9.2/index.cfm?TopicName=Calculating_solar_radiation

EU/JRC/Institute for Energy/PVGIS©. (2008). Computation scheme of solar radiation database. Obtido em 5 de Novembro de
2010, de http://re.jrc.ec.europa.eu/pvgis/solres/solrespvgis.htm

EU/JRC/Institute for Energy/PVGIS©. (2008). Solar radiation model r.sun and its implementation in GRASS GIS. Obtido em 5
de Novembro de 2010, de PVGIS: http://re.jrc.ec.europa.eu/pvgis/solres/solmod3.htm

Fu, P., & Rich, P. M. (1999). Design and Implementation of the Solar Analyst: an ArcView Extension for Modeling Solar
Radiation at Landscape Scales. Esri International Conference. San Diego.

Goswami, D. Y., & Kreider, J. F. (2000). Principles of solar engineering (2 ed.). Taylor & Francis.

Hofierka, J., & Súri, M. (2002). The solar radiation model for Open source GIS: implementation and applications. Proceedings
of the Open source GIS - GRASS users conference. Trento.

IEA. (2010). Technology roadmap - Solar photovoltaic energy. International Energy Agency, Renewable Energy Division.

Ineichen, P., Guisan, O., & Perez, R. (1990). Ground Reflected Radiation and Albedo. Solar Energy , Vol. 44 (4), 207-214.

Kurtz, S. (2009). Opportunities and Challenges for Development of a Mature Concentrating Photovoltaic Power Industry.
Department of Energy, National Renewable Energy Laboratory, Colorado.

Meteonorm. (Junho de 2008). Yearly sum of global irradiance. Obtido em 12 de Janeiro de 2011, de
http://www.meteonorm.com/media/maps_online/world_global_8100.png

Muneer, T., Gueymard, C., & Kambedizis, H. (2004). Solar Radiation and Daylight Models (2 ed.). Elsevier.

National Aeronautics and Space Administration. (s.d.). Surface Meteorology and Solar Energy. Obtido em 4 de Agosto de
2010, de http://eosweb.larc.nasa.gov/sse/

National Renewable Energy Laboratory. (Setembro de 2008). Solar Energy Technologies Program. Obtido em 5 de Novembro
de 2010, de http://www.nrel.gov/csp/pdfs/43685.pdf

Remund, J., & Kunz, S. (1999). Monthly means of ambient temperature. Obtido em 31 de 12 de 2010, de SoDa:
http://stratus.meteotest.ch/soda_tt/soda_tt.html

Remund, J., & Page, J. (2002). WP 5.2b Chain of Algorithms: short and longwave radiation with associated temperature
prediction resources. Working Project.

Estudo do Recurso Solar 37


Remund, J., Albuisson, M., Lefèvre, M., & Wald, L. (2002). Linke Turbidity Factor - World Maps. Obtido em 2 de Junho de
2010, de SoDa - Solar Radiation Data.

Remund, J., Lefèvre, M., Wald, L., Page, J., & Ranchin, T. (2003). Worldwide Linke Turbidity Information. ISIS Solar World
Congress. Göteborg.

Remund, J., Wald, L., & Page, J. (2003). Chain of Algorithms to Calculate Advanced Radiation Parameters. ISES Solar World
Congress. Göteborg.

Rigollier, C., Angles, J., Ménard, L., Bauer, O., & Wald, L. (1999). A Climatological Database of the Linke Turbidity Factor. ISES
Solar World Congress, (pp. 432-434). Jerusalem.

Smithsonian Institution Libraries. (s.d.). Scientific Identity. Obtido em 5 de Novembro de 201, de Portrais fro mthe Dibner
Library of the History of Science and Techonology: http://www.sil.si.edu/digitalcollections/hst/scientific-
identity/CF/by_name_display_results.cfm?scientist=Becquerel,%20Alexandre%20Edmond

Stoddard, L., Abiecunas, J., & O'Connell, R. (2006). Economic, Energy and Environmental Benefits of Concentrating Solar
Power in California. Subcontract report, National Renewable Energy Laboratory , Golden, Colorado.

Stoffel, T., Renné, D., Myers, D., Wilcox, S., Sengupta, M., George, R., et al. (2010). Concentrating Solar Power - Best Practices
Handbook for the Collection and Use of Solar Resource Data. Technical Report, National Renewable Energy Laboratory,
Golden, Colorado.

Wanielista, M., Kersten, R., & Eaglin, R. (1997). Hidrology - Water Quantity and Quality Control (2ª edição ed.). John Wiley &
Sons.

38 Plano Energético Renovável de Cabo Verde


Av. Cáceres Monteiro, nº 10, 1º Sul
1495-131 Algés, Portugal
T. +351 211 544 640
F. +351 211 544 648

www.gestoenergy.com

You might also like