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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS 1

António Filipe Garcez José

Quantos são ? !!!


Quantos são ? !!!!

DIREITO PENAL I

Universidade Autónoma de Lisboa


Ano lectivo 2005/2006

Aulas teóricas: …....................................Dr. Fernando Silva


Aulas práticas:………………........................Dra. Sónia Reis

Bibliografia : Manual de Direito Penal – Doutor Figueiredo Dias

Apontamentos e resumos do curso, não isentos de eventuais erros ("errare


humanum est") "destilados" por António Filipe Garcez José, aluno n° 20021078,

Direito Penal
O complexo de normas jurídicas que, em cada momento histórico,
enuncia de uma forma geral e abstracta, os factos ou condutas
humanas susceptíveis de pôr em causa os valores ou interesses
jurídicos tidos por essenciais numa dada comunidade, e
estabelece as sanções que lhe correspondem.

Ou seja ...

O ramo do Direito Público que define as infracções criminais e fixa


as respectivas penas e medidas de segurança.

Ou se quiserem ...

O conjunto de normas jurídicas que ligam a certos comportamentos


(crimes) certas consequências (penas e medidas de segurança)

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António Filipe Garcez José

Função do Direito Penal


Visa a tutela subsidiária de bens jurídicos fundamentais,
assentando na ideia de direito de “última ratio”.

Bem jurídico
Expressa um valor ou um interesse da pessoa ou da comunidade
indispensável à vida da sociedade.

Direito Penal

 O Direito Penal estabelece de uma forma geral e abstracta


quais os factos que devem ser considerados como crimes e quais
as respectivas sanções.

 O Direito Penal obedece a princípios de Necessidade,


Proporcionalidade e Adequação, os quais são os princípios
orientadores que devem presidir à determinação da pena aplicável
à violação de um bem jurídico fundamental (art. 18° CRP, art. 40°
CP)

 O Direito Penal assenta no “ius puniendi” que é exclusivo do


Estado.

 O Direito Penal é uma forma de controlo social, que não só


visa reagir a uma agressão contra a Ordem Pública como visa
prevenir essa agressão.

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António Filipe Garcez José

Finalidade das penas

Penas
Sanções características e exclusivas do Direito Penal que
obedecem ao P° da Tipicidade, pois só existem as penas
plasmadas no Código Penal (art. 41°e ss.).

 A finalidade a prosseguir com as penas e medidas de


segurança é a protecção dos bens jurídicos fundamentais e a
reintegração do agente na sociedade (art. 40°)

Artigo 40º

Finalidades das penas e das medidas de segurança

1 - A aplicação de penas e de medidas de segurança visa a


protecção de bens jurídicos e a reintegração do agente na
sociedade.

2 - Em caso algum a pena pode ultrapassar a medida da culpa.

3 - A medida de segurança só pode ser aplicada se for


proporcionada à gravidade do facto e à perigosidade do agente.

 A execução da pena de prisão, servindo a defesa da


sociedade e prevenção da prática de crimes, deve orientar-se no
sentido da reintegração social do recluso (art. 43°)

 A pena de prisão deve ser reservada para situações de maior


gravidade, designadamente a criminalidade violenta e ou
organizada, bem como a inclinação acentuada para a prática de
crimes revelada por certos agentes.

 A pena tem de ter como suporte axiológiconormativo uma


culpa concreta.

 “Nulla poena sine culpa”

 A culpa salvaguarda a dignidade humana do agente, não


sendo o fundamento último da pena

 A culpa como limite inultrapassável da pena.

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 A culpa define em concreto o limite máximo da pena por


maiores que sejam as exigências de prevenção que se façam sentir.

 O princípio da culpa implica que medidas de segurança


privativa da liberdade só existirão para os inimputáveis.

Direito Penal
Conjunto de normas jurídicas que ligam a certos comportamentos
(crimes) certas consequências (penas e medidas de segurança)

O direito Penal no seu âmbito integra 3 domínios :

Direito penal substantivo (ou material, consta no CP)


Direito penal processual (ou adjectivo, no CPP)
D° Penal Direito penal executivo (as regras que determinam a
execução da pena)

No âmbito da nossa cadeira só nos ocuparemos do DP substantivo

O Direito Penal substantivo, (normas do CP )

visa a ...

 definição dos pressupostos do crime e das suas concretas


formas de aparecimento.

 determinação dos efeitos jurídicos (penas e medidas de segurança)


que estão ligados à verificação de tais pressupostos.

 determinação das formas de conexão entre aqueles


pressupostos e as respectivas consequências jurídicas.

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Código Penal

O Código Penal compõe-se de ...

Parte geral

Nesta parte definem-se ...

 Os pressupostos de aplicação da lei penal.

 Os elementos constitutivos do conceito de crime.

 As consequências que derivam da realização de um crime (penas


e medidas de segurança)

Parte especial

Nesta parte estabelecem-se ...

 os crimes singulares e ...

 as consequências jurídicas que à prática de cada um deles


concretamente se ligam.

Crime

5 pressupostos :

1 – Acção (tem de existir um comportamento)


2 – Típica (o comportamento tem de estar previsto na lei)
3 – Ilícita (acção que contraria o disposto na Lei)
4 – Culposa (a acção tem de ser imputável ao agente)
5 – Punível ( comportamento apto a que seja aplicável uma pena)

Penas

 Caracter pessoal e intransmissível - As penas só se


aplicam à pessoa que cometeu o crime.

 Caracter axiológico - Só as condutas que sejam


axiológicamente relevantes, ou seja, que constituam violações
graves de valores fundamentais da vida do Estado, devem ser
criminalizadas.

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A FUNÇÃO DO DIREITO PENAL

Função do Direito Penal


A função do Direito Penal apreende-se através da natureza do seu
objecto, o facto ou comportamento criminoso, e da especificidade
das consequências jurídicas que àquele se ligam, as penas e as
medidas de segurança.

Finalidades e legitimação da pena

 Toda a pena serve finalidades de prevenção, geral e especial

 A aplicação de penas visa a protecção de bens jurídicos


fundamentais (art. 18°/2 CRP) e a reintegração do agente na
sociedade (art. 40°/1 ).

 A culpa não é fundamento da pena, mas constitui o seu


pressuposto necessário e o seu limite inultrapassável

 As penas têm a culpa por pressuposto e por limite

TEORIA DOS FINS DAS PENAS


TEORIAS ABSOLUTAS (a pena como instrumento de retribuição)

Para estas teorias ...

 A essência da pena criminal reside na retribuição, expiação,


reparação ou compensação do mal do crime.

 A essência da pena criminal é ...

- função exclusiva do facto que se cometeu


- a justa paga do mal que com o crime se realizou
- o justo equivalente do dano do facto
- o justo equivalente da culpa do agente

 Pune-se porque se pecou; “punitur quia peccatum est ” (já lá


dizia o velho Platão)

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António Filipe Garcez José
 A pena é vista como um castigo e uma expiação do mal do
crime.
Qual o mérito das doutrinas absolutas ?

- O mérito irrecusável de terem erigido o princípio da culpa em


princípio absoluto de toda a aplicação da pena.

Princípio da culpa
Princípio segundo o qual não pode haver pena sem culpa e a
medida da pena nunca pode ultrapassar a medida da culpa.

A teoria da retribuição deve ser repudiada !!


porque é Inimiga de qualquer ...

- tentativa de socialização do delinquente

- tentativa de restauração da paz jurídica da


comunidade afectada pelo crime.

- actuação preventiva
- pretensão de controle e domínio do fenómeno da
criminalidade.

TEORIAS RELATIVAS (a pena como instrumento de prevenção)

 São, com plena propriedade, teorias de “fins”

 A pena traduz-se num mal para quem a sofre, ... mas...

 Mas, a pena tem de usar desse mal para alcançar a finalidade


essencial (precípua) de toda a política criminal, a prevenção

A pena como instrumento de prevenção

 Nas teorias preventivas, há que distinguir entre as doutrinas


de...

- prevenção geral

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António Filipe Garcez José
e as de ...

- prevenção especial.
Doutrinas de prevenção geral

 O ponto de partida das doutrinas de prevenção geral, liga-se


directa e imediatamente à função de tutela subsidiária de bens
jurídicos do Direito Penal

 Baseiam-se na concepção da pena como instrumento


destinado a actuar psiquicamente sobre a generalidade dos
membros da comunidade, afastando-os da prática de crimes ...
através da...

- ameaça da pena,
- da sua aplicação
- e da efectividade da sua execução

A prevenção geral pode ser negativa ou positiva

Prevenção geral negativa (ou de intimidação)


Quando a pena é concebida como intimidação das outras
pessoas através do sofrimento que com ela se inflige ao
delinquente e cujo receio as conduzirá a não cometer factos
puníveis.

Prevenção geral positiva (ou de integração)


Quando a pena é concebida como a forma de que o Estado se
serve para manter e reforçar a confiança da comunidade no
ordenamento jurídico-penal.

Quais os efeitos da prevenção geral positiva ?

- Efeito de confiança
confiança na validade e na força de vigência das suas
normas de tutela de bens jurídicos fundamentais.

- Efeito de aprendizagem
Resultante da demonstração dos custos do facto punível

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António Filipe Garcez José
- Efeito de Integração
Resolução do conflito social suscitado pelo crime

Críticas às doutrinas de prevenção geral

Dizem os adeptos das teorias absolutas (kant e Hegel), que ...

aplicando--se as penas a seres humanos em nome de fins


utilitários, elas transformariam a pessoa humana em objecto e
dela se serviriam para a realização de finalidades heterónomas,
violando assim a eminente dignidade da pessoa humana.

Hegel sustenta que...

“Uma pena finalista é como um pau com que se bate um cão e


não como um mal com que se castiga o mal feito por
um homem livre.”

Resposta a esta crítica

 A verdade é que para o funcionamento da sociedade cada


pessoa tem de prescindir de direitos que lhe assistem e lhe são
conferidos em nome da sua eminente dignidade.

 A preservação da dignidade humana é estranha à questão


das finalidades das penas, relacionando-se, isso sim, com a sua
aplicação, que deve fazer-se em termos que respeitem a intocável
dignidade da pessoa humana.

Doutrinas de prevenção especial

 As penas têm uma finalidade de prevenção da reincidência

 A pena é um instrumento de actuação preventiva sobre a


pessoa do delinquente, com o fim de evitar que, no futuro, ele
cometa novos crimes.

A prevenção especial pode ser negativa ou positiva

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Como pode a pena cumprir a finalidade de


prevenção especial ?
Prevenção especial negativa (de neutralização)

Para uns...

 A prevenção especial dirigir-se-ia à intimidação individual


dos delinquentes, isto é, visaria atemorizar o delinquente até um
ponto em que ele não repetiria no futuro a prática de crimes.

Para outros ...

 A prevenção especial lograria alcançar um efeito de pura


defesa social através da separação do delinquente, procurando
atingir-se a neutralização da sua perigosidade social.

Prevenção especial positiva (de socialização)

 A prevenção deve criar as condições necessárias para que o


delinquente possa, no futuro, continuar a viver a sua vida sem
cometer crimes.

 A finalidade preventivo-especial da pena traduz-se só na


prevenção da reincidência

 A prevenção especial positiva visa a reinserção social e a


ressocialização do delinquente.

Só a prevenção da reincidência é admissível num


Direito Penal próprio do Estado de Direito
(preservação da eminente dignidade pessoal, arts. 1°, 13°/1 e 21° CRP) !

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“ Concertação agente-vítima “ (Claus Roxin)

 Trata-se de uma nova e autónoma finalidade da pena.

 Tem o propósito de com a pena se operar a possível


concertação entre o agente e a vítima através da reparação dos
danos causados pelo crime.

 A concertação agente-vítima só pode ter o sentido de valioso


contributo para o restabelecimento da confiança e da paz jurídicas
abaladas pelo crime.

 A concertação agente-vítima conforma uma vertente decisiva


para uma correcta avaliação das exigências de prevenção especial
positiva.

A concertação “ agente-vítima” no Direito Penal português :

- art. 51°/1 (reparação do dano como condição de


legitimidade da aplicação de certas “penas de
substituição).

- art. 74°/1/b) (reparação do dano como condição da


dispensa de pena)

- arts. 71° e ss. e 82°-A CPP (admissão do pedido de


reparação dos danos civis pelo lesado no próprio
processo civil)

Teorias mistas ou unificadoras

Teorias retributivas / preventivas

 Estas doutrinas visam combinar a tese fundamental da


retribuição com as do pensamento preventivo, geral e especial.

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 Aqui, temos uma pena retributiva no seio da qual se procura
dar realização a pontos de vista de prevenção, geral e especial ...
ou diferentementte mas exprimindo a mesma ideia, como a pena
preventiva através de justa retribuição
TEORIA DIACRÓNICA DOS FINS DA PENA

1° momento - a ameaça abstracta da pena seria um instrumento


de prevenção geral

2° momento - no momento da sua aplicação, a pena


corresponderia à teoria de retribuição

3° momento – na sua execução efectiva a pena visaria


predominantemente fins de prevenção especial

! ! ! Estas teorias são inaceitáveis, pois a retribuição da culpa


não é nem pode constituir uma finalidade da pena ! ! !

Teorias da prevenção integral

 O ponto de partida destas teorias, é o de que a combinação


das finalidades da pena só pode ocorrer a nível da prevenção,
geral e especial, com exclusão de qualquer ressonância retributiva,
expiatória ou compensatória.

A teoria da prevenção integral deve ser globalmente recusada

... e
porquê ?

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António Filipe Garcez José
 Porque ao negar legitimidade à concepção retributiva, a teoria
da prevenção integral conclui pela recusa do pensamento da
culpa e do seu princípio como pressuposto da pena

FINALIDADES E LIMITE DAS PENAS

 As penas têm finalidades exclusivamente preventivas.

 A finalidade primária da pena consiste nas ...

exigências de prevenção geral positiva ou de integração,

ou seja ...

- a tutela necessária dos bens jurídico-penais no caso


concreto.

- O restabelecimento da paz comunitária abalada pelo


crime

- Estabilização contrafáctica das expectativas


comunitárias na validade da norma violada (Gunther
Jakobs)

!!! É a prevenção geral positiva que fornece uma


moldura de prevenção dentro de cujos limites devem
actuar considerações de prevenção especial !!!

Exigências de prevenção especial positiva ou de socialização

 Dentro da moldura de prevenção geral positiva ou de


integração, devem actuar pontos de vista de prevenção especial,
nomeadamente prevenção especial positiva, que irão determinar,
em última estância a medida da pena.
.
 A medida da necessidade de socialização do agente é o
vector mais importante das exigências de prevenção especial.

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A culpa como pressuposto e limite da pena

 “Nulla poena sine culpa” - Não há pena sem culpa e a


medida da pena não pode em caso algum ultrapassar a medida da
culpa.
 A função da culpa é uma incondicional proibição de excesso.
 A culpa não é fundamento da pena.
 A culpa constitui o pressuposto necessário da pena
 A culpa constitui o limite inultrapassável da pena.

Qual a função da culpa ?


- É a de estabelecer o máximo de pena ainda compatível com
as exigências de preservação da dignidade da pessoa e de
garantia do livre desenvolvimento da sua personalidade, nos
quadros próprios de um Estado de Direito democrático.

O que é uma pena justa ?

- Toda a pena que responda adequadamente às exigências


preventivas e não exceda a medida da culpa.

RESUMINDO :

1. – Toda a pena serve finalidades exclusivas de prevenção,


geral e especial.

2. A pena concreta é limitada, no seu máximo inultrapassável,


pela medida da culpa

3. respeitando o limite máximo inultrapassável, imposto pela


medida da culpa, a pena é determinada no interior de uma moldura
de prevenção geral positiva ou de integração, cujo limite superior é
oferecido pelo ponto óptimo de tutela dos bens jurídicos e cujo limite
inferior é constituído pelas exigências mínimas de defesa do
ordenamento jurídico.

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António Filipe Garcez José

4. Dentro desta moldura de prevenção geral positiva ou de


integração, a medida da pena é encontrada em função de
exigências de prevenção especial, em regra positiva ou de
socialização, excepcionalmente negativa, de intimidação ou de
segurança.
Este programa político-criminal decorre do art. 18°/2 da CRP :

Artigo 18.º da CRP

Força jurídica

2. A lei só pode restringir os direitos, liberdades e garantias nos


casos expressamente previstos na Constituição, devendo as
restrições limitar-se ao necessário para salvaguardar outros direitos
ou interesses constitucionalmente protegidos.

E está plasmado no art. 40°/1/2 do CP

Artigo 40º CP

Finalidades das penas e das medidas de segurança

1 - A aplicação de penas e de medidas de segurança visa a


protecção de bens jurídicos e a reintegração do agente na
sociedade.

2 - Em caso algum a pena pode ultrapassar a medida da culpa.

PRINCÍPIOS INFORMADORES DA LEI PENAL

Princípio da Legalidade (art. 29°/1 CRP, art. 1° CP)


Traduzido nas expressões latinas “nullum crimen sine lege” e
“nulla poena sine lege”, tem uma função garantística pois visa a
tutela e a protecção dos direitos fundamentais do cidadão face à
tendência expansiva do poder público de punir.

 Só à lei compete fixar os limites que destacam a actividade


delituosa da actividade legítima. Dele decorre que para a conduta

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António Filipe Garcez José
humana assumir a dignidade de um crime é indispensável que
coincida formalmente com a descrição feita em norma
incriminadora.

Este princípio esta consagrado no art. 29°/1 da C.R.P.

Artigo 29.º CRP

Aplicação da lei criminal

1. Ninguém pode ser sentenciado criminalmente senão em virtude


de lei anterior que declare punível a acção ou a omissão, nem
sofrer medida de segurança cujos pressupostos não estejam
fixados em lei anterior.

 Significa, para além da necessidade de lei escrita, para que


um facto seja considerado crime e possa ser aplicada uma pena ou
medida de segurança ao agente, a lei há-de ser anterior à prática
do facto.

 Os órgão públicos relacionados com o poder de punir estão


subordinados à lei.

 É o princípio fundamentador do processo penal. As normas


penais pautam-se pelo Princípio da Legalidade e da Tipicidade (art.
29°/1 CRP)

 O Direito Penal português é, em resultado da consagração


do princípio da legalidade, um sistema fechado , no sentido de que
nem o arbítrio judicial, nem a analogia, nem os princípios gerais de
direito, nem a moral, nem o costume, poderão em quaisquer
circunstâncias suprir lacunas que o sistema apresente, cabendo à
lei e só à lei a responsabilidade de o fazer.

O princípio da legalidade significa que só a lei é competente para


definir crimes e estabelecer os pressupostos das medidas de
segurança, assim como enunciar as respectivas sanções.

Como corolário do P° da Legalidade temos o P° da Tipicidade

o princípio da tipicidade

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António Filipe Garcez José
Cabe à lei e só a ela especificar quais os factos ou condutas que
constituem crime e quais os pressupostos que justificam a aplicação
de uma medida de segurança, ...

optando o legislador por o fazer através de...

modelos ou tipos que têm como função aferir se determinados


comportamentos humanos se amoldam ao desenho arquitectado
pelo legislador.

 Antes de ser punível e imputável a título de culpa, deve a


acção tida como censurável ser típica, isto é, corresponder a um
dos “delitos-tipo” objectivamente descritos na lei penal.

Tipo
É a descrição do facto criminoso feita pela lei.

- O tipo é um esquema, ou uma fórmula, que serve de modelo


para avaliar se determinada conduta está incriminada ou não.
- O que não se ajusta ao tipo não é crime .
- O tipo tem uma função de garantia, impedindo que seja
considerado crime o que não estiver descrito na lei.

Na arquitectura do tipo podemos encontrar três espécies de...

elementos essenciais do tipo

- Elementos objectivos (ou descritivos)


Os elementos que se referem à materialidade do facto (ex:
matar, subtrair, violar)

- Elementos subjectivos
Os que se referem a certas particularidades psíquicas da
acção (situando-se para além do dolo e podendo referir-se, por exemplo, a
uma tendência, um motivo, ou dado intelectual ou psíquico do agente).

- Elementos normativos
São expressões utilizadas pela lei, com significado jurídico ou
social ( ex: os conceitos de documento, cheque, justa causa, autorização,
etc.)

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS 18
António Filipe Garcez José

Normas incriminadoras
São aquelas que enunciam os elementos essenciais dos crimes;

estas normas compreendem, na sua estrutura, ...

dois preceitos:

- preceito primário
O preceito que define o crime

- preceito secundário
O preceito que comina a pena mas,...

Nem sempre a norma incriminadora se apresenta com esta


perfeição, sucedendo por vezes que a norma só dispõe de preceito
secundário (a sanção) , enquanto que o preceito primário apenas
parcialmente contém os elementos constitutivos da infracção.

Quando isto acontece estamos perante ...

Leis penais em branco


São aquelas que remetem para uma fonte normativa de valor
hierárquico inferior a definição dos seus próprios pressupostos de
aplicação.

Estas normas só valem quando...

Os elementos faltosos tiverem sido preenchidos, o que se faz


ulteriormente através de outras normas, devidamente publicadas.

Exemplo:
Não infringe o princípio da tipicidade a lei penal que ao punir o bígamo remete para a
lei civil a definição de casamento.

Princípio da igualdade

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS 19
António Filipe Garcez José
 Tratar o que é igual de igual forma e o que é diferente de
diferente forma, atendendo-se à gravidade objectiva do crime e à
culpabilidade do delinquente.

 Significa também que as leis penais hão-de revestir carácter


geral e abstracto, que, perante a lei, todos são tratados por igual
(art. 13° CRP)
Princípio da intervenção mínima ou da subsidiariedade do D. Penal
(art.18° /2 CRP)

 Tem que haver necessidade da aplicação da pena e tem que


haver proporcionalidade entre a pena aplicada e a conduta.

 Significa que os comportamentos humanos só devem ser


criminalizados, quando a criminalização seja eficaz e necessária.

 .Só deve ser aplicada uma pena quando a aplicação de uma


medida de outra natureza seria inadequada e insuficiente.

 A natureza subsidiária do Direito Penal, significa que este


só deve intervir quando as medidas aplicáveis por outros ramos do
Direito sejam insuficientes

Princípio da culpabilidade (nulla poena sine culpa)

Segundo o qual toda a pena tem como suporte axiológico-normativo


uma culpa concreta (art. 13° e 40°)

Artigo 13º

Dolo e negligência

Só é punível o facto praticado com dolo ou, nos casos


especialmente previstos na lei, com negligência.

Princípio da jurisdição (nulla poena sine judicio)

Este princípio confere aos tribunais através dos juízes, e em


exclusivo, a competência para a administração da justiça

Princípio de não retroactividade da lei penal (art. 2°/1)

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS 20
António Filipe Garcez José
 A previsão legal da lei penal apenas está dirigida para
situações futuras
.
 A punição de determinado facto tem como pressuposto a
anterioridade da sua incriminação e correspondente cominação
penal em texto de lei escrito e devidamente publicado.
 não pode ser aplicada pena mais grave do que a prevista no
momento da conduta ou dos respectivos pressupostos, mas a lei
penal deve ser aplicada retroactivamente em benefício do
arguido.

APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO TEMPO

Sucessão de leis no tempo

Quando se sucedem leis no tempo há que saber qual delas deve


ser aplicada ao caso concreto

 Aplica-se o regime que concretamente se mostrar mais


favorável ao agente.

Isto significa que ...

 se torna necessário fazer separadamente os dois cômputos


penais (face a todas as leis que se sucederam no tempo) escolhendo-se e
determinando a medida da pena a aplicar “in concreto” com cada
uma das leis em presença, atendendo-se não só à pena mas
também ao regime aplicável.

O princípio da não retroactividade da lei penal significa que ...

 uma acção que era impune no momento em que foi praticada


não pode ser considerada posteriormente punível.

e também que ....

 É igualmente proibida uma agravação da pena vigente à data


da prática do facto.

 Está aqui em causa a ideia de garantia da


segurança jurídica a que se associa a razão penal de que não
podem promulgar-se leis ad hoc

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS 21
António Filipe Garcez José

 A irretroactividade da lei penal é também uma norma que visa


a protecção do agente, pois se no momento do julgamento do
facto vigora uma lei mais favorável do que a que regia no momento
da sua comissão é essa que deve ser aplicada.

 Se a lei nova elimina o facto do número das infracções,


esse facto deixa de ser punível mesmo se já houver condenação
e se esta tiver transitado em julgado.

Diferentemente é ...

 o que sucede com a lei que, embora de conteúdo mais


favorável, não descriminaliza aquela conduta, onde se estabelece
como limite o trânsito em julgado da decisão condenatória (art. 2°/2)
.

Assim ...

 para que funcione o n°2 do artigo 2° é necessário que o facto


seja eliminado do número das infracções.

A regra do art.2°/2 também funciona quando a alteração resulta


da modificação de normas de outros ramos de Direito

 Quando a lei penal se refere a outras normas, estas fazem


parte daquela, pois são elementos normartivos da descrição dos
seus conceitos.

Se ...

 Da revogação destas normas resulta uma restrição do âmbito


do direito penal, isso importa uma atenuação da sua eficácia, que
deve aproveitar ao delinquente.

Mas...

Se a lei nova não altera o âmbito do direito (ex: liberalizando uma o


preço de uma certa mercadoria, anteriormente com preço fixado) isso não
pode aproveitar ao agente (que vendeu aquela mercadoria por preço
superior ao legal)

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS 22
António Filipe Garcez José

Artigo 2º

Aplicação no tempo

1 - As penas e as medidas de segurança são determinadas pela


lei vigente no momento da prática do facto ou do preenchimento
dos pressupostos de que dependem.

2 - O facto punível segundo a lei vigente no momento da sua


prática deixa de o ser se uma lei nova o eliminar do número das
infracções; neste caso, e se ...

tiver havido condenação, ainda que transitada em julgado, cessam


a execução e os seus efeitos penais.

3 - Quando a lei valer para um determinado período de tempo,


continua a ser punível o facto praticado durante esse período.

4 - Quando as disposições penais vigentes no momento da prática


do facto punível forem diferentes das estabelecidas em leis
posteriores, é sempre aplicado o regime que concretamente se
mostrar mais favorável ao agente, salvo se este já tiver sido
condenado por sentença transitada em julgado.

Lei temporária
A que é destinada desde o início da sua vigência a vigorar durante
um certo período de tempo ou enquanto persiste um certo
condicionalismo.

A lei temporária será a mesma aplicável aos factos puníveis


cometidos durante a sua vigência, ainda que ela tenha deixado de
estar em vigor. Mesmo depois de decorrido o período fixado para
ela, continuam a ser censuráveis os factos que anteriormente a
violaram.

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António Filipe Garcez José

Quando é que se pode dizer que a lei nova é mais


favorável que a lei anterior ?

Quando nomeadamente ...

- A pena cominada actualmente ao crime é, quanto à sua


natureza, mais branda.

- A pena actual, embora da mesma natureza , é menos


rigorosa quanto ao modo de execução.

- O “quantum” da pena “in abstracto” é reduzido ou, mantido


esse “quantum”, o critério da sua medida in concreto” é menos
rígido que o da lei anterior.

- Há circunstâncias, alheias à lei anterior que influem


favoravelmente na graduação ou medida da pena (atenuantes,
causas de especial diminuição da pena ou condições de menor punibilidade) ou que
suprimem agravantes (qualificativas, causas de especial aumento da pena ou
de maior punibilidade)

- Se instituem benefícios (no sentido da eliminação, suspensão “ab initio”


ou interrupção da execução da pena)

- São criadas causas extintivas de punibilidade ou tornado mais


fácil o seu advento

- São estabelecidas condições de procedibilidade que a lei


anterior não exigia

- São criadas novas causas de inimputabilidade, de isenção da


pena, de exclusão da ilicitude ou da culpa.

- São excluídas ou atenuadas penas acessórias, mantendo-se


as principais.

- É suprimida a concessão de extradição.

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António Filipe Garcez José
Resumindo ...

 Se entre a lei vigente à data da prática da infracção e aquela


que vigora à data do julgamento esteve em vigor uma outra lei de
conteúdo concretamente mais favorável ao delinquente, é essa que
se deve aplicar.

 Nos termos do art. 2°/2 cessa a execução da condenação,


mesmo com desrespeito pelo caso julgado, se o facto deixou de ser
punível por força de lei posterior.

 Nos termos do art. 2°/4 se a lei posterior se limita a


estabelecer um regime mais favorável, este só será aplicado se
ainda não tiver transitado em julgado a sentença condenatória.

Se não for possível determinar o regime mais favorável deve


aplicar-se a lei vigente à data da prática dos factos (art. 2°/1)

Casos particulares de sucessão de leis no tempo

Medidas de segurança (arts. 91° e 97°)


 A sucessão no tempo de leis cominativas de medidas de
segurança é regulada pelos mesmos princípios aplicáveis no
tocante à não retroactividade da lei penal, mas vistos à luz da
consideração de que essas reacções radicam na perigosidade do
agente e não na prática do facto.

Prazos de prescrição
 Devem aplicar-se os mesmos princípios que às penas são
aplicáveis, no tocante à não retroactividade da lei penal.

 A lei nova não deve afectar uma prescrição já adquirida no


domínio da lei anterior.

 Se os prazos são encurtados, então aplica-se o disposto no


art. 297°/1 do Código Civil.

Reincidência e pena relativamente indeterminada (76°, 83° e 84)°

 Devem ser levadas em conta as condenações proferidas no


domínio da lei anterior, não sendo necessário que todas as
condenações tenham sido proferidas no domínio da nova lei, mas

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tão só que a lei que possibilita a declaração do estado de
reincidência ou a aplicação da pena relativamente indeterminada
seja anterior ao facto.

 Para a aplicação da prorrogação da pena não é necessário


que todas as condenações anteriores se tenham verificado na
vigência da lei nova, que criou a referida pena, bastando a prática
do facto em causa no domínio da lei nova, relevando as
condenações anteriores.

Inimputabilidade

 É de aplicar retroactivamente a nova lei que passa a exigir


certos requisitos para a inimputabilidade, pois que da aplicação da
nova lei resulta uma situação menos gravosa, mas já é de excluir tal
aplicação a um facto praticado anteriormente, se a lei nova deixa de
exigir certos requisitos, pois que isso constituiria uma incriminação
“ex novo”.

Crimes continuados, permanentes e habituais

 Aplica-se sempre a lei nova, ainda que mais severa, desde


que a execução ou o último acto tenham cessado no domínio da
mesma lei.

 Se, porém, a incriminação foi estabelecida pela lei nova, o


agente só responderá pelos factos posteriores à sua entrada em
vigor, não tendo relevância, para o efeito, os actos praticados no
domínio da lei antiga.

Concurso de infracções (art. 77°)

 Quando há crimes praticados no domínio da lei anterior e


crimes praticados no domínio da lei nova, se o regime mais
favorável for o da nova lei é esta que se aplica; se o regime mais
favorável for o da lei antiga, aplica-se a nova lei às penas
parcelares correspondentes aos crimes praticados após a entrada
em vigor desta lei.

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António Filipe Garcez José

Momento da prática do facto

Para resolver os problemas de aplicação da lei no tempo, é


necessário conhecer com precisão a data em que uma infracção se
considera cometida.

 O art. 3° veio definir o momento da prática do facto e


esclarece que é irrelevante o momento da produção do resultado
típico, adoptando a teoria da acção

Artigo 3º

Momento da prática do facto

O facto considera-se praticado no momento em que o agente


actuou ou, no caso de omissão, deveria ter actuado,
independentemente do momento em que o resultado típico se tenha
produzido.

 De notar que o art. 7°, ao dispor sobre o lugar da prática do


facto, manda atender à produção do resultado como elemento
relevante na determinação desse lugar.

Artigo 7º

Lugar da prática do facto

1 - O facto considera-se praticado tanto no lugar em que, total ou


parcialmente, e sob qualquer forma de comparticipação, o agente
actuou, ou, ... no caso de omissão, devia ter actuado, como
naquele em que o resultado típico ou o resultado não
compreendido no tipo de crime se tiver produzido.

2 - No caso de tentativa, o facto considera-se igualmente praticado


no lugar em que, de acordo com a representação do agente, o
resultado se deveria ter produzido.

 Diferentemente do estabelecido no art. 3°, o art.119°/4, dispõe


que quando a produção de certo resultado relevante não faz parte

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do tipo de crime, o prazo de prescrição só corre a partir do dia em
que o resultado se verificar.

FORMAS DO CRIME

- actos preparatórios
Quanto às suas -tentativa
fases
- crime consumado

Quanto aos modos - Autoria simples


Formas
ou
do crime graus de - Comparticipação
(s. amplo) participação
- cumplicidade
-

- concurso aparente
- crime unitário (ou legal)
Quanto ao n° de
Crimes cometidos - concurso de crimes
Real
- concurso
ideal
- crime continuado efectivo
(ou verdadeiro)

ideal real

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CLASSIFICAÇÃO DOS TIPOS DE CRIME

Quanto ao Por acção


tipo de
conduta
Por omissão

Crimes gerais ou comuns


Quanto ao
agente
Próprios ou puros

Crimes específicos Impróprios ou impuros

De mão própria

Praecter intencional
Quanto à
Crimes materiais ou de resultado De resultado cortado ou parcial
relação Agravado pelo resultado
entre a
conduta e o
resultado
Crimes formais ou de mera actividade

Quanto à
Lesão efectiva ou dano
intensidade
de lesão do
bem jurídico Abstracto

Perigo Abstracto/concreto

concreto

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