Professional Documents
Culture Documents
Introdução
essência das coisas), isto é, procura-se negar tudo que não tenha
uma existência material comprovada. Portanto, entes como o éter e o
flogístico não são aceitos como parte de teorias científicas. Mesmo o
átomo, que já explicava diversos fenômenos nas primeiras décadas
do século XIX, é visto com desconfiança e é rejeitado pelos mais
radicais. Nesse processo de negação completa da metafísica, que foi
radicalizado por aqueles que elaboraram os primeiros currículos
científicos, rejeitou-se também o caráter filosófico da Física. Nenhum
manual moderno, herdeiro daqueles do início do século XIX,
apresenta divergências filosóficas consideráveis. Embora elas sejam
intrínsecas à construção do conhecimento científico, nos currículos
não há qualquer menção a esses debates. Sabe-se que conceitos
como o de FORÇA CENTRAIS e de CAMPO partiram de concepções de
natureza completamente divergentes. Entretanto, convivem lado a
lado nos manuais didáticos como se fossem partes de
desenvolvimentos lineares. Que visão de ciência tal ajuste pode
produzir nos alunos?
Ao ser aplicada a um ensino técnico (École Polytechnique), a
formação científica adquiriu um caráter extremamente pragmático,
visando aplicações técnica na engenharia. Daí só importava a
aplicação, o produto do conhecimento científico que desse suporte a
essas aplicações. Esse tipo de concepção atravessou os anos e ainda
se encontra presente hoje no ensino das ciências, mesmo aquele
existente nos níveis fundamental e médio da formação. Quando um
professor moderno resolve problemas de forças em blocos, ele está
trabalhando esse caráter “aplicativo” de uma teoria que é muito mais
ampla do que aquilo e que envolve discussões filosóficas bem mais
fundamentais para a real compreensão da Física. Não se está aqui
negando a importância do caráter aplicativo, mas sua supremacia em
relação a um caráter filosófico retrata uma concepção própria de uma
física tecnicista desenvolvida ao longo do século XIX.