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Citação, na introdução, de Roland Barthes, o grau zero da escritura. (checar esse livro na minha
estante).
Citação pág.12 sobre a leitura da poesia enquanto linguagem na escola. Trata-se de sentir e de
saber como se entra na poesia e por que razão essa espécie de imersão da criança e do
adolescente num banho de linguagem, cuja função não se reduz à comunicação, pode
contribuir para ajudar o psiquismo a equilibrar-se e o imaginário a construir e a estruturar os
seus domínios.
Propõe na primeira fase abordar o mais claramente possível a realidade abrangida pela palavra
e pelo conceito de poesia, mais particularmente no espaço cultural francófono, fazendo
sempre minha esta frase de Paul Valéry: algumas pessoas têm da poesia uma ideia tão vaga
que tomam esse vago pela própria ideia de poesia.
Terceira fase – em vez de soluções ou receitas tenta propor possíveis percursos verificados,
experimentados, aqui e ali, do “jardim infantil à universidade”.
Poesia como sinônimo de sensibilidade – não vai tratar disso. Citação de Bachelard. Adiante vai
voltar à questão.
Toda a intenção é analisar as virtudes, na acepção extrema da palavra , desta leitura criativa
para as crianças e os adolescentes do ano 2000.(p.18)
Todavia, para além destas diferenças de natureza linguística a poesia nas suas origens arcaicas
ou, como diria MicheL Foucault, na sua arqueologia, apresenta características universais nas
quais me parece útil insistir.p.30
A linguagem do corpo
Teremos de insistir novamente, a partir de alguns aspectos da psicologia infantil, naquilo a que
um psicanalista chamava o primeiro assassínio do corpo da criança. Com efeito, a
aprendizagem da fala é muitas vezes a aprendizagem do sistema abstrato da língua, em que a
criança perde a presença do seu corpo na sua língua. Uma das funções da poesia é justamente
devolver-lho.
São esses jogos da voz no corpo e através dele que constituem sempre a essência da poesia.
39
Veremos que é capital fazer com que a criança diga o poema, a cantilena, sem
constrangimento institucional, não para a transformar forçosamente num declamador mas
para que ela se aperceba do sentido da sintaxe e do ritmo do texto poético. 42
Valores sensíveis e valores sensuais
Por mais intensas que sejam as ressonâncias fisiológicas de um poema, elas não são, salvo
raras exceções, exteriorizadas. Na maioria dos casos, o discurso poético longe de favorecer
manifestações exteriorizadas, cumpre um papel de sublimação como dizem os psicanalistas. É
possível definir sumariamente a sublimação como um mecanismo de defesa do Eu, através do
qual a pulsão sexual é desviada para objetivos não sexuais socialmente valorizados.
A poesia interioriza o delírio não apenas para o controlar mas também, de certo modo, para o
juntar, para o concentrar numa linguagem adequada a sua fixação.
A poesia tem origem na sublimação das pulsões mais arcaicas ao nível das palavras e dos sons,
e permite que o homem reconquiste através da linguagem aquilo que perdeu no momento da
sua aquisição. P102.
O termo objeto transitório foi introduzido por Winnicott para designar um objeto material com
um valor electivo para o lactente e a criança de uma tenra idade, nomeadamente no momento
de adormecer(uma ponta da coberta, um guardanapo que eles chucham, um urso de pelúcia,
o polegar, etc.). Segundo o autor, o recurso a este tipo de objeto é um fenômeno normal que
permite à criança efectuar a transição entre a primeira relação oral com a mãe e a relação
objectal. Para Winnicott, por exemplo, as lalações são um fenômeno transitório, ou seja,
qualquer coisa que sou eu, que é minha mãe e que não sou eu!104
Trata-se de fazer com que as crianças desde muito cedo entendam que existem, de facto,
línguas e que a canção de embalar, a canção, a cantilena e o poema existem para manter viva
– para sempre - a primeira língua infantil.111
Para o autor, As dificuldades começam no 3 ciclo do ensino básico. Nesse estágio, a poesia
passa a ser enxergado como um gênero literário entre os demais, passa a compor as matérias
do programa e transformam-se em objeto de exigências escolares. Essa vivência com essa
espécie de historiografia da literatura, incluindo aí a poesia, não será de todo inútil. Para Jean,
no entanto, é desejável desescolarizar a poesia, buscando unir as atividades escolares com
literatura a atividades livres da criação(158).
O livro Na escola poesia, de Georges Jean(1989) declara, ainda na introdução, o
objetivo perseguido na obra:
Para o autor toda a intenção é analisar as virtudes desta leitura criativa para as
crianças e os adolescentes do ano 2000. Essa justificativa parece querer destacar o
caráter atual da obra, publicada em 1966, sob o título La Poésie, e posteriormente
atualizado a partir de novas reflexões que consideram pesquisas no campo da teoria da
poesia, da psicologia genética e da psicanálise infantil.
Tomando como mote a frase de Paul Valèry que afirma que “ Algumas pessoas
têm da poesia uma ideia tão vaga que tomam esse vago pela própria ideia de poesia1”,
Propõe, na primeira fase, abordar a realidade abrangida pela palavra e pelo conceito de
poesia. Na segunda fase, propõe a relação entre criança e adolescente, seu corpo e seu
psiquismo tem com a linguagem poética. Na terceira etapa faz sugestões para o trabalho
com o texto poético, através de atividades experimentadas n os mais diversos níveis
escolares.
No que se refere à relação entre criança e poesia, há uma longa argumentação
procurando demonstrar a estreito vínculo entre a linguagem corporal e a linguagem
poética na criança. A aprendizagem do sistema abstrato da língua marca um momento
de ruptura entre corpo/linguagem. Uma das funções da poesia seria reintegração dessa
unidade:
É como se a voz que perpassa no poema “oral” e o profere
nos remetesse para o nosso corpo de criança, para o
momento em que ainda não nos era necessário, em que o
não sabíamos controlar e organizar a “montagem
fonológica” daquilo que se tornaria, na terminologia de
Saussure, a nossa maneira de “falar a língua
materna”(JEAN, 1989, p.31).
1
Apud JEAN, 1989, p.13
Na fase pré-semiótica da criança, momento da produção das denominadas
lalações, em que se dá uma estreita relação entre produção fônica, mímica e gestual, já
revelaria, para o autor, em idade tenra esse duplo aspecto da linguagem, de utilidade e
de prazer:
Notamos, em primeiro lugar, que a actividade fônica da criança
em idade pré-semiótica(aproximadamente antes do nono mês) é
uma atividade criativa, que pode ser uma atividade de prazer,
distinta da necessidade de comunicar com o meio. É como se,
muito cedo na vida do indivíduo, a linguagem fônica se
revelasse sob o seu duplo aspecto de linguagem útil de
comunicação e de linguagem inútil de criação e prazer.(JEAN,
1989,p.100).