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TRISTÃO DE ATHAYDE

Atualidade de Mach ado de Assis iÊspècial par» o "Diário d*


Notícias” )

A REVOLUÇÃO
. - . .,
PSICOLÓGICA í í ij
11

Q U E L A indiferença de M a c h ã o d « A «8 í8 pelo O que caracteriza a novidade d essa nova paicó- de a lg u h » dêsse* tipicos representantes d as le tr a »
A tropicalism o *u pelo r»acionaltsmo, nâo terá.
■ido um doa m otivo* de desapreço que pt>r
togia é, préciaamente, «stud&r o homem ein p ro­
fundidade, 6* estados pré^consctentes ou su b ­
m a l* m odernas,
p sicologia ^m
revelariam ,
p ro fn n d ldad e e em
certam ente, n essa’
re lativ idad e
« u a o b ra l e m p r » m anifeatou 611vlo Romero? Ao conscientes, assim còmo es fenôm enos de disso­ flu íd a, a antecipação gen ial de M achad o de A »aia .
longo de tu a portentosa obra de 1fu ndador ri» ciação da personalidade, E ainda o resultado a que o levou essa peàí-juí-
nossa história;. lite rária listem âtica, «uSteíitou O ra, um dos fènômenoa m aí» tipicos d a arte s a espeleológica nas , gru ta s isubterrânea» da alm a
aem pre Silvio Rom ero a Unha . oa.clona.Uata com o contempórâi\ea é, precisam ente, o de m o stra r oa hu m ana. .
critério de valor. N â o podia, por, eonéeguint», «u bterrân eo * da personaJidade hujnana. A o homem •Q» tipo* hüm anos de M ach ad o de A ssis, d apoi»
a p rec iar um autor para quem lase critério aáo «Ímpias, da ,um bloco, visto de fô ra p ara dentro, dos ensaios im perfeitos de «la iô G a r c ia » e an té »
tinha a m ínim a im portância. Com « a o ravala * tomo o homem do n aturalism o ou mèsmo, de den­ d a aerchlclade platônica do G ónselheiro A ires, vâo
nosso m aior «scritó r nâo *ó a «u a própria m atu­ tro para fôra, C0m 0 . o hbmem rom ântico, — veio todos tor á lnquietaoão, á an g ú stia, á deaorbi-
ridade intelectual, m u ainda um «etâgto feem «u fted er. na lite ra tu ra , m oderna (nisso p ro fu n da- ta çâò e , a essas fr o n teira* trág ic a s entre a, s a n i­
m ais org4.nioo de a o ««a eu ltu ra *rn >geral. D *rs- cnente in flu en ciad a pela m oderna .psicologia e nela, dade m ental e a loucura, que fo ra m em aua
tério tiaéi**.*.li*ta pode prevalecer um (a s e * mi- or «u a vez, Influind o) o hóm em -rnúltiplo, o pró pria exiBtêncla pessoal, o d ram a constante de
ciaia de um a literatura. 6e a lingu agem 4* &on-
« a lv « a Oiaa n&o fôsse «nat* brasileira, «.peaar <fe
f o m em -pluraliata, o hom em -foixe, o homem a três
•u quatro dimensões. B f b m h * ponto que o nosso
autor. Se a loucura, como o sonho, representam
aituaçôes .que »e repetem co n sta n tem e n te-em a u »
«eu caaticlam o rom ântico, A lm eid* M aéhade 4*' Assis • « antecipa a um Proust, a obra, A que êle meamo, o aútor, realizou ê * * »
Garret, nâo teria «ido o 4pico • parad oxo, «em elh an te ao d »
dos «T im b ira a » o verdadetro P r o u a t : estar sem pre presen­
a b rid or daa portaa de noaaa te, no centro de sua obra,
lite ratu ra Já verdad eiram en te
nacional. M aa quandóJ veio
M achad o de Asais, que aliáa,
LETRAS E PROBLEMAS UNIVERSAIS
' r .
sem que isso entretanto p r»»
Judicasse em nada a âu to ho -
m ia deasa obra, em fa c e do
tanto a d m ira v a o poeta d ó « ‘ pró prio autor> E ’ um d o»
«olhos verdes», su a própria m aturação gén iál «q u i- om Piran delló, a um F ern an d o í*e»soa. Seria um m ultOf p a rad o x o * dêsée hoítiem gen ialm ente p a ­
ve.leu a um aban dono progressivo de tôda * q u al­ estudo curioso a fazer, o de u m a análise m icropsl- r a d o x a l. E s ta r aerrtpre presenLe, sem n u n ca p re­
q u er preocupação nacionalizante. N u n c a a teve, cológiea entre os processo* m athadeanoa, prous- ju d ic a r a ,independêncla d o* p ersonagens, em fa c *
aliás, em sentido autentico* como a teve por «xem - tlanos, prirandeliano* e ,,»tá m e*m ò dêsae hermético dp au tor, é realm ente como dizein os franceses,
'pio, M agalhS.es ao escrever a «C on fed eração rios F ern an d o Pessoa, cujo heteronom ism o nào «e a p ro ­ «u n e g ag eu z e». que êle venceu galh arda m en te .
T am oios*. M achad o de Asaia .Já vinha do Pèrça xim a ap en a* sup erficialm ente d a v elh a preocu pa­ Outro te m a do, nosso tempo é, «em dúvid a, •
p a ra u m a lite ratu ra Independente e nâo precisou ção de M achad o d » A *s is em s u a m ocidade, de tem a religioso. P r ó ou contra, o século X X 4
m o stra r que nâo era m ais um «colon ial». D ai a se «aconder a t rá s de m últiplos pseudônimos, c:ada totalmente, d iverso do século . X I X , tom ado em
« u a u n iv ersa lidad e n atu ral • su a consonância eom dia m ai* aum entados pelas p esquisas de G alan te bloco, em fa c e dõ p roblem a religioso. A g e r a ç â »
um dos tra<jos tipicos dos nossos tempos, a um d a Sou sa e de M a g a lh ã e s Júnior. E n tre Fern an d o de M ach ad o de A ssis com portou-se, do ponto de
século, de distân cia d e «u a estréia em 1855. Jr*essoa e M achad o de A ssis há o fenôm ehb Comum v is ta religioso, como tipicam ente do seu tem po:
Temos/ mais, porém. Be #le colocou o H omem d a d issociação d a persónâlidade, o constante d iâ - . fo i in diferente. Conalderou a re lig iã o com o um
no Centro de eua o bra, tam bém deslocou, no pró­ logo, nò próprio autor, «n t re o. eu • o outro, o fenôm pno p uram ente anacrônico. U ltrap assado . Un»
prio homem, a an álise psicológica d a direção hor»- poetá p ortu guês que p ergu n ta : «S a b ea quem sou? ateiam*» m ilitante, como temos visto no aéculo X X »
aontal, digam os assim , p ara a direção vertical. E u nâo *ei»» • o braaileiro . que escreve o «circu lo • .serip. dificil no aéculo paaaado. A ge ra ç ã o de M a ­
Foi a sua segu n da revolução silenciosa. Ou m esm o vicioso», am bos *e vendo em tudo e tudo vendo na chado foi a de R en an, de T ain e. de Com te. E n »
a terceira, se tom arm os o deslocam ento do sentido eterna m utação d a » coisas. Com o Piran delló, com entanto hó»ive sem pre em M ach ad o u m a v e rd a ­
nacionalista p a ra o un lversalista, como a segu n da « a eu relativiam o absoluto, como P ro u s t com o d eira obceeaçfto religiosa. Sevi relativiam o, p od e-a»
revolução coperniciana de « u a o b ra literária. «eu ©nlriemo. H á. em tôda o b ra de M ach ad o dè dizer, é m eno* bebido em H erá c lito », p ò rtá n t»
A psicologia dos ro m ân tic o» tinha aido tôda A »»t s o pressentim ento d e tudo laso que em F ran ca, nftúito m en o » nos filó so fps m odernos que h-iapc»'da».
ela sup erficial e m esm o sim plória. Só mesmo com n a Itália, em P o rtu g al, um pouco por tôda parte, m em b rar a psicologia m oderna, dò que no E c lè -
o seu rom an ce póstum o é q u e José de A le n c a r no» os prosadores e poatas póa-bargson lan oa' oU póa- aiairte. U m * . f r e i .r a ; norte-a m erican a, lev ad a p of
d eixou a im pressão de q u e ia Iniciar um novo óa- freudianos, a té o » m oderno* »u p ra -re a lls ta » ou um a1 Observação d e B a rr e to Filho, no aeu a d m ir á ­
pitülo em « u a e x t rao rd in ária carre ira intelectual. • x i»te n e !a li»t a » Iriam - píroeurar, n a dissecçâp da vel estudo aôbre M aph ado de A seis, foi pesquiâar,
E ’ m ister, aliâs, ace n tu ar q u e se M achado de «m o sca a a u l» ou n a d esesperad a ten tativa de tocar á am ericana; a p b ja t lv id a d » d essa in flu ên cia d a »
A s s i« tem falecido com a id ad e de José de A le n c a r a m isteriosa corrente vital p rofun da, dos que d ei­ E s c ritu ra s e .. especialm en te de certo»,^ liv ro » , do
(48 anos), nâo no* te ria deixado senã,o um a têrça. xa ra m d * o lh ar p ara © «é u platônico ou : p ara o Vel>ipi TeBitàmento. , E encontrou u m » ' v erjjad èira
p arte d e su a o b ra im ortal, que começa com B r a * céu e ris tio , p a ra buscarem o firm am en to n a * fu n ­ ijnina de influê»>oiaa, bebidaa certam ente d a im -
C u b as, escrito já depois dos *0 ano*. Só entâo 4 d a * c a v e rn a* d a nos*a alma. ou na ceg a proj.eçâ» pregn açáo do relativism o biblico, tâo diferente de
que se re v ela o gran d e eapcleólogp da* alm as, pe­ do *er hum ano n a Indistinção do «hu m anitism o ». relativiam o ka n tian o ou c o m tia n o .. A in d a neese
netrando as cave rn as do nosso mundo interior Pe rso n agen s e aituaçôe* do* rom an ce* e contoa ponto, M ach ad o é m a i» u m homem dó nosso tempo,
n u m a im pressionante aníecipacâo do que iriam ser d * M ach ad o de A * * l « qt>« um critico a n a lista a p ro ­ para a q u al a religião é assunto aérlo, de sim eu
oa cam inhos d a psicologia m oderna depois de F reu d . x im a o bjetivam ente, de aituaçõea e personagens (Conclui na 4* página).

(Cor.ciufefto da i.* págin a) tOs a a ten çã o do autor. O e te r ­ do n a economia, n a política •


aâo, do quç um homem do seu no fem inino está sem p re ali na cultura. E ’ o século em q u »
tempo, para o & Fé era presente a a g a le ria em que se o trabalho fem inino deixou o
a.penas «o perfum e de um vaao ostenta é, sem dúvida, a m ais lar doméstico p a ra in vadir tô-
vazio*. Im portante de nossas letras. d a 8 as fábrica s, m órm ente em
Outro ponto em qu* o criador Ora, um a daa eáracteristícas do virtude d as colossais m obiliza­
das Sofias, daa V irgilias ou daa noseo tempo, ainda vem a ser ções m ascu linas p a ra as g u e r­
C apitús se ap ro xim a ds nós é, aquilo a que Luclen Rom ier ras e revoluções que c a racteri-
precisam ente, nesse capitulo da chamou — «la promotion de earam a prim eira m etade do
psicologia fem inina. A t í êle, la fem m e». Se o século passado nosso aéculo. E ’ o tempo a in d a
essa psicologia era a m ai, su­ foi apelidado de «século da em que o s u frá g io fem inino foi
perficial possível. A s m ulheres criança», tal a preocupação di­ adotado, nâo sem resistência,
rom ânticas eram anjos ou de­ dática que o dominou, em sua eni quase todos os povos da
mônios. P o r vézea anjos • de­ revolução dos métodos ed ucati­ terra e em que as assem bléiaa
mônios, ao m esm o tempo, como vos, que s « prolongaram , aliás, parlam entares, as a d m in istra­
D iva. M aa tudo reduzido ‘ ás por nosso próprio aéculo, — ções p úblicas e a dip lo m acia
auas expressões m ais sim ples, êste último bem poderia ou po­ veriam crescer d esm arca dam e n -
Foi ainda M ach ad o qua abriu, derá vir a ser cham ado de te a p articipação do segundo
nesse terreno, no va a perspecti­ aéculo da mulher, tal o papel aexo. E, finalm ente, nos dom í­
vas. A s m ulheres p assaram a cada vea mais relevante que o nios das letras e das artes,
ocupar, — na vida im a g in a tiv a aexo fem inino tem rep resen ta­ por tôda a parte, inclusive entre
dêsse asceta do lar co njugal, nós, é positivo contraste e n tr»
a som bra da m ais p erfe ita e a qu ase ausência d a m ulher há
a m a d a das com panheiras — um vinte anos atrás, no m ais m o­
pôsto nâo ap enas im portante, derno m ovim ento estético, é o
m as central. E* em tôrno delas, que hoje vemos, nas letras ou
afin al, que giram as v id a » de nas artes.
um Bento, de um R u biáo, de A in d a ai foi M ach ad o d»
um, C ubas, que parecem á pri- A ssis um precursor. D eu áa
m eira v ista concentrar por «1 eua» personagens fe m in in a »
u m a atuação, m ultas vêzes fe ­
rina, sem d úvida, m as tra ta n ­
d o-as de ig u al p ara igual com
os varõe s e não m ais como
c riatu ra s de o utra espécie, tr a ­
tadas com certa condescendên­
cia como *e v ia em «eu s p re-
decessoree.
Já seriam bastantes, creio
eu, êsses pontos capitais, p a ra
afirm a rm o s que longe de con­
firm a r o Julzo p ejorativo de um
gran d e juiz, como foi sem d ú v i­
d a Lim a B arreto , M ach ad o da
A s s is só tem feito créscer com o
tempo. P o u cas vêzes se tem aido
tâo Injusto em um julzo critico,
como êsse com que, em 1919,
Isalaa C am inh a tentava an iq u i­
la r o Conselheiro A ir e s : « M a ­
chado era um homem de sala.
am oroso das coisa* d elicadas,
a em um a gra n d », la r g a » a tiv a
vlsâ o da hum anidade e d a A rte.
Ele g o stav a daa coisas decente»
e bem postas, d a co nversa d a
m enina prendada, d a g a r rid ic »
"* ~ M afu A s».

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