Professional Documents
Culture Documents
Brasília-DF.
Elaboração
Produção
Apresentação.................................................................................................................................. 4
Introdução.................................................................................................................................... 7
Unidade I
HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DA AGROECOLOGIA............................................................................ 11
Capítulo 1
Panorama histórico........................................................................................................... 11
Capítulo 2
Surgimento.......................................................................................................................... 14
Capítulo 3
A consolidação como um sistema................................................................................. 18
Unidade II
O sistema agroecológico atual................................................................................................... 25
Capítulo 1
Agroecologia na atualidade........................................................................................... 25
Capítulo 2
O sistema de produção agropecuária ecológica no Brasil...................................... 27
Capítulo 3
Conformidade e certificação......................................................................................... 37
Unidade III
Os ramos da Agroecologia......................................................................................................... 58
Capítulo 1
Ramo agronômico............................................................................................................ 58
Capítulo 2
Ramo ambiental................................................................................................................... 62
Capítulo 3
Ramo socioeconômico................................................................................................... 66
Capítulo 4
Ramos político e legal...................................................................................................... 69
Unidade IV
O futuro da Agroecologia........................................................................................................... 74
Capítulo 1
Perspectivas dos ramos da agroecologia.................................................................... 74
Capítulo 2
Estudo de caso em comercialização de produtos agroecológicos...................... 83
Referências................................................................................................................................... 97
Caro aluno
Conselho Editorial
5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Atenção
6
Saiba mais
Sintetizando
7
Introdução
A Agroecologia estuda uma variedade de agroecossistemas, e o campo desta ciência
não está associado com qualquer método particular da agricultura, seja orgânico,
convencional, intensiva ou extensiva. Além disso, não é definida por certas práticas de
gestão, tais como o uso de inimigos naturais no lugar de inseticidas, ou policultura no
lugar de monocultura.
Objetivos
»» Apresentar uma abordagem organizada sistematicamente da
Agroecologia para facilitar a compreensão dos diversos dispositivos que
integram a ecologia interna dos agroecossistemas, seus componentes
sociais e culturais, incluindo nutrição e soberania alimentar, colheita
genótipo-a-ambiente interações incluindo os de variedades de culturas
transgênicas, e os (serviços ecossistêmicos) positivos e negativos
(degradação dos ecossistemas) efeitos dos agroecossistemas no
ambiente maior, especialmente climáticas.
9
»» Apresentar um panorama histórico do surgimento e da evolução da
Agroecologia.
10
HISTÓRIA E
DESENVOLVIMENTO DA Unidade I
AGROECOLOGIA
Capítulo 1
Panorama histórico
Gráfico 1. Crescimento populacional desde o ano 1 d.C. e perspectivas até o ano 2095.
10,00
8,00
Bilhões de pessoas
6,00
4,00
2,00
0,00
1
1000
1500
1600
1700
1750
1800
1850
1900
1950
1955
1960
1965
1970
1975
1980
1985
1990
1995
2000
2005
2010
2015
2020
2025
2030
2035
2040
2045
2050
2055
2060
2065
2070
2075
2080
2085
2090
2095
2100
Ano
11
UNIDADE I │ HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DA AGROECOLOGIA
Muitos fatores podem ser apontados como incidentes na explosão demográfica mundial
registrada nos últimos 200 anos. As famílias abandonaram o campo e a própria
produção de alimentos e passaram a comprar aquilo que precisavam para suas refeições
nos centros urbanos. Outro fator é a melhoria da qualidade de vida aliada aos avanços
da medicina.
Como consequência viu-se uma demanda também crescente por alimentos vendidos
nas cidades recém-industrializadas. A produção de alimentos e bebidas deixou o caráter
artesanal e de pequena produção para ser industrializada e produzida em grande escala
com a especialização do seu comércio, panificadoras, açougues, restaurantes etc.
Este modelo industrial de trabalho assalariado foi consolidado após a abolição dos
regimes de escravidão até então praticados. As fábricas, o comércio e próprio governo
necessitavam cada vez mais de mão de obra.
12
HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DA AGROECOLOGIA │ UNIDADE I
Já no início do século XX (1900 -...) podia-se comprar não apenas aqueles produtos
típicos de propriedades rurais (carne, temperos, trigo, leite, verduras e frutas) como
também produtos industrializados (pães, biscoitos, salsichas, iogurtes, doces). A
indústria alimentícia produzia novos alimentos e novas formas de consumi-los. As
roupas eram confeccionadas de forma padronizada e estavam disponíveis para venda
nas grandes ruas de comércio, pois as famílias de migrantes não plantavam mais o
algodão e nem usavam o tear para as peças individuais.
Este modelo de desenvolvimento deu sinais de saturação pouco antes dos anos 1950
e após a II Guerra Mundial (1939-1945) deu-se início à novas formas de produção,
comércio e alimentação.
No campo, a Revolução Verde cumpria seu papel de produzir mais alimentos para
mais pessoas, mas cobrava seu preço: os primeiros sinais de poluição, intoxicação e
desequilíbrio ambiental foram aparecendo.
13
Capítulo 2
Surgimento
A palavra Agroecologia foi utilizada pela primeira vez em 1928, em estudo de descrição
das características de variedades de milho pelo agrônomo russo Basil Bensin (WEZEL
et al., 2009).
Ele usou esse termo para indicar a aplicação da ecologia à agricultura. No mesmo período,
outros autores publicaram documentos ou livros que tratavam com os fundamentos da
Agroecologia, mas sem mencionar a palavra.
Entre os anos 1930 e 1960, diferentes outros trabalhos foram publicados e a expressão
Agroecologia foi explicitamente utilizada. A partir da década de 1970, também como uma
resposta à Revolução Verde e à consequente intensificação e especialização da agricultura,
houve um crescente interesse pela ecologia aplicada à agricultura. Foi neste período que
brotou o conceito de agroecossistemas, como ecossistemas aplicáveis e consolidados.
A partir dos anos 1980, Altieri (1989), e mais tarde Gliessman (1997), começaram a
definir Agroecologia com uma abordagem para proteger os recursos naturais e para
projetar e gerenciar de forma sustentável, os agroecossistemas. Gradualmente a
Agroecologia começou a contribuir para o conceito da sustentabilidade aplicada à
agricultura. Neste período, o tema biodiversidade surgiu juntamente com publicações
relacionadas.
14
HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DA AGROECOLOGIA │ UNIDADE I
15
UNIDADE I │ HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DA AGROECOLOGIA
16
HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DA AGROECOLOGIA │ UNIDADE I
A Agroecologia é uma ciência emergente, orientada por uma nova base epistemológica
e metodológica de práticas agrícolas. É um campo de conhecimento transdisciplinar
que recebe influência do Direito, das ciências agrárias, sociais e ambientais (Ecologia).
E como ciência interdisciplinar é regida por princípios comuns a outras áreas.
A agricultura sustentável, sob o ponto de vista agroecológico, é aquela que tendo como
base uma compreensão holística dos agroecossistemas, seja capaz de atender, de
maneira integrada, aos seguintes critérios:
17
Capítulo 3
A consolidação como um sistema
Nesse sentido, o local é o espaço socialmente construído, com base territorial definida
(segundo critérios geoeconômicos, geopolíticos e geoambientais) para a criação e
formação de identidades territoriais.
19
UNIDADE I │ HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DA AGROECOLOGIA
É possível perceber uma linha com ações na qual se deve percorrer para se obter o
sucesso na implantação ou transição para um sistema. A figura a seguir apresenta esta
linha desenvolvimento.
20
HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DA AGROECOLOGIA │ UNIDADE I
No início do século XXI, os princípios da agricultura orgânica foram discutidos por dois
anos e revistos pela Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgânica
(IFOAM), sendo aprovados em Assembleia Geral em 2005. O documento foi traduzido
e está disponível no site oficial da IFOAM em 12 idiomas, mas não em português.
O documento enfatiza que os princípios são as raízes pelas quais a agricultura orgânica
deve crescer e se desenvolver.
Saúde
O papel da agricultura orgânica deve ser o de sustentar e aumentar a saúde do solo,
das plantas, dos animais, do homem e do planeta, seja por meio do manejo do solo,
do processamento dos alimentos, da distribuição ou do consumo. Entende-se que
somente em solo saudável é possível produzir alimentos que vão sustentar animais e
pessoas de forma saudável, influenciando a saúde das comunidades que, por sua vez,
não pode ser separada da saúde do ecossistema no qual se inserem. Assim, quaisquer
substâncias, sejam adubos químicos, agrotóxicos, drogas veterinárias e aditivos para o
processamento dos alimentos, que possam, de alguma forma, ter efeito adverso à saúde
das pessoas, dos animais, das plantas ou do ecossistema devem ser evitadas.
Ecologia
O balanço ecológico deve ser obtido por meio do desenho de sistemas de produção e do
manejo da diversidade genética, tanto das plantas cultivadas como da cobertura vegetal
em geral. Todos que participam da produção orgânica, como produtores, processadores,
21
UNIDADE I │ HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DA AGROECOLOGIA
Equidade
A agricultura orgânica deve basear-se em relações que garantam oportunidade de vida para
todos e assegurem equidade em relação ao bem comum. A equidade é caracterizada pela
igualdade, respeito, justiça e gestão responsável do mundo compartilhado, tanto entre os
seres humanos como nas relações com os outros seres vivos. Assim, todos os envolvidos
com a agricultura orgânica, sejam produtores, trabalhadores rurais, processadores,
distribuidores, comerciantes e consumidores, devem conduzir as relações humanas sociais
de modo a assegurar qualidade de vida e justiça a todos os envolvidos. A agricultura
orgânica deve ter como objetivo produzir alimentos de qualidade em quantidade suficiente
para contribuir para a redução da pobreza e para fortalecer a segurança alimentar.
Esse princípio enfatiza que se deve proporcionar aos animais de criação condições de
vida que estejam de acordo com a sua característica, seu comportamento natural e
bem-estar. Além disso, os recursos naturais e ambientais devem ser usados na produção
orgânica de forma ecologicamente sustentável e socialmente justa, devendo manter-se
como legado para as gerações futuras. A equidade requer que os sistemas de produção,
distribuição e mercado sejam justos e levem em conta os verdadeiros custos ambientais
e sociais da produção.
Precaução
22
HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DA AGROECOLOGIA │ UNIDADE I
qualidades que guardam forte apelo junto aos consumidores dos produtos orgânicos
e “verdes”.
Destacar essas e outras qualidades não implica negligenciar o que a ciência ensina a
respeito da saúde, do ambiente ou sobre os riscos de segurança alimentar. Implica apenas
reconhecer que as normas, mesmo as reguladoras na área da saúde e da segurança,
têm dimensões normativas que não podem ser decididas somente em bases científicas.
Procedimentos justos para integrar a ciência às normas culturais e morais devem ser
adotados. Cientistas e negociadores (comerciantes e políticos) têm demonstrado, até
agora, insensibilidade para a natureza problemática da tomada de decisões de regulação
em qualquer uma das últimas dimensões citadas. Harmonizar normas internacionais
implica negociar culturas e visões de mundo no seu senso mais fundamental.
Os sistemas agroalimentares
Uma das definições mais completas da Agroecologia hoje é a “ecologia dos sistemas
agroalimentares”. Ele tem o objetivo explícito de transformar sistemas alimentares
para a sustentabilidade, de tal modo que exista um equilíbrio entre solidez ecológica,
econômica viabilidade e da justiça social. No entanto, para alcançar esta transformação,
a mudança é necessária em todas as partes do sistema de alimentação, ou seja, nas
cadeias produtivas, a partir da semente até a mesa dos consumidores. O envolvimento
deve ser por quem produz, quem distribui e quem consome; todos devem ser conectados
em um movimento social que homenageia a profunda relação entre o meio ambiente, os
alimentos e as pessoas. Nossa realidade globalizada atual oferece com muita facilidade,
o sistema de alimentos industrializados não fornece evidências convincentes de que é
sustentável em qualquer um dos três aspectos da sustentabilidade (econômica, social
ou ambiental).
A profunda compreensão do que vem a ser uma visão holística e ecológica dos sistemas
agroalimentares pode desencadear a mudança necessária para restaurar a sustentabilidade
nos sistemas alimentares nas diversas regiões produtoras.
23
UNIDADE I │ HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DA AGROECOLOGIA
Apesar da continuação de uma forte pressão para concentrar-se nos retornos econômicos,
muitos agricultores estão dispostos a optar por fazer a transição para práticas que
preservem os recursos naturais e têm o potencial de contribuir para a sustentabilidade
a longo prazo para a agricultura. Estes produtores rurais estão usando princípios
agroecológicos para fortalecer o conhecimento local, a experiência e as redes na
agricultura que se acumularam ao longo dos séculos. Todos estes tipos de esforços
representam a “transição” ou “transformação” da agricultura em sentido amplo.
A transição para uma gestão baseada na ecologia está fundamentada nos princípios
da Agroecologia. Estes princípios podem entrar em jogo inicialmente no processo real
de mudar a forma como o alimento é cultivado. Agricultores que se dedicam ao processo de
transição sabem, através da intuição, experiência e conhecimento, o que é insustentável
e o que é, no mínimo, mais sustentável.
24
O sistema Unidade II
agroecológico atual
Capítulo 1
Agroecologia na atualidade
Há aqueles que defendem a Agroecologia, não como uma disciplina, e sim sob um
enfoque transdisciplinar, considerando a atividade agrária desde uma perspectiva
ecológica com teoria e metodologia que utiliza várias disciplinas científicas, construindo
uma vinculação essencial existente entre o solo, a planta, o animal e o ser humano.
No mundo
A institucionalização da agricultura orgânica no mundo teve início em 1972, com a
criação da Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgânica (IFOAM)
e a publicação de suas primeiras normas em 1978. As normas privativas da IFOAM
serviram de referência para a comercialização dos produtos orgânicos no mundo até
a década de 1990 e para o estabelecimento de outras normas locais e regulamentos
técnicos em diferentes países.
A França foi o primeiro país a regulamentar, ainda nos anos 1980. No início da década
de 1990, foram criados os regulamentos técnicos para a produção orgânica de origem
vegetal da Comunidade Econômica Europeia, à época o maior mercado de orgânicos.
25
UNIDADE II │ O sistema agroecológico atual
5 O Codex Alimentarius é uma coletânea de padrões reconhecidos internacionalmente, códigos de conduta, orientações e outras
recomendações relativas a alimentos, produção de alimentos e segurança alimentar. Disponível em: <http://www.fao.org/fao-
who-codexalimentarius/en/>.
6 A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, sigla do inglês Food and Agriculture Organization)
é uma organização das Nações Unidas cujo objetivo é aumentar a capacidade da comunidade internacional para de forma eficaz
e coordenada, promover o suporte adequado e sustentável para a segurança alimentar e nutrição global. Sítio: <http://www.
fao.org/brasil/pt/>.
7 A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) foi estabelecida em 1964, em Genebra, Suíça,
atendendo às reclamações dos países subdesenvolvidos, que entendiam que as negociações realizadas não abordavam os
produtos por eles exportados, os produtos primários. Sítio: <http://unctad.org/en/Pages/Home.aspx>.
26
Capítulo 2
O sistema de produção agropecuária
ecológica no Brasil
O Planapo (BRASIL, 2016) busca integrar suas ações com o Plano Nacional de
Segurança Alimentar e Nutricional, o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres e o
Plano Nacional de Direitos Humanos, assim como o Código Florestal, o Plano de Ação
Nacional de Combate à Desertificação e o Plano Nacional sobre Mudança do Clima, a
partir de processo de convivência, mitigação e adaptação, diminuindo a vulnerabilidade
dos agricultores que se encontram em situação de fragilidade econômica e social
no campo.
27
UNIDADE II │ O sistema agroecológico atual
28
O sistema agroecológico atual │ UNIDADE II
A Agroecologia como um todo, e neste caso na política pública brasileira deve ser encarada
enquanto ciência, de maneira que ela se posicione em condições de contribuir para
a melhoria da qualidade de vida das pessoas e para a transformação da agricultura
brasileira. Assim, pode-se estabelecer medidas para o seu fortalecimento:
29
UNIDADE II │ O sistema agroecológico atual
Produção
Estimativas da área total com produção orgânica no Brasil variam de acordo com a
fonte consultada. Segundo dados da FiBL (Instituto Suíço de Pesquisa em Agricultura
Orgânica) e da IFOAM, publicados em 2015, a área cultivada e as áreas de pastagem
no Brasil totalizavam cerca de 887.637 hectares em 2013. Estima-se a área certificada,
ou sob alguma forma de controle da conformidade com o manejo orgânico, em cerca
de 6,6 milhões de hectares, incluindo as áreas de extrativismo sustentável na região
amazônica. As áreas de agroextrativismo estão concentradas na região Norte e as de
pecuária na região Centro-Oeste.
As áreas com produção orgânica certificada eram ocupadas por: cereais (1,295 milhão
de hectares); pastagens e produção de proteína (1,166 milhão de hectares); culturas
permanentes - oliveiras, frutas e nozes (0,555 milhão de hectares); óleo vegetal (0,97
milhão de hectares); uvas (0,95 milhão de hectares); legumes e verduras (0,92 milhão
de hectares).
Em 2006, o Brasil tinha cerca de 19 mil unidades controladas, que afirmavam seguir
as práticas da agricultura orgânica, envolvendo pequenas e grandes unidades de
produção e processamento. Dos projetos controlados, 70 a 80% eram conduzidos
por agricultores familiares e/ou trabalhadores rurais, tanto para atender ao mercado
interno quanto o de exportação. Os projetos conduzidos por agricultores familiares
forneciam castanha (de caju e da Amazônia), frutas, legumes e verduras, café, cacau,
mel, óleos essenciais (cosméticos) e algodão colorido, entre outros produtos, para os
mercados interno e de exportação.
30
O sistema agroecológico atual │ UNIDADE II
certificadoras que trabalham no Brasil (IBD, ECOCERT Brasil, IMO Brasil e BCS),
todas acreditadas no mercado internacional. O resultado mostrou que existiam
932.120 hectares de produção orgânica certificada e 6.182.180 hectares de produção
orgânica que inclui a base extrativista. Juntando-se as duas informações, o Brasil
poderia ser considerado o segundo país do mundo em área de agricultura orgânica
controlada. Os produtos de base extrativista no Brasil estão sendo estimulados por
meio das cadeias de produtos da sociobiodiversidade, uma iniciativa coordenada
pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e com apoio da Companhia Nacional de
Abastecimento (CONAB) no estabelecimento dos preços mínimos.
Mercado
Há expectativas de que esse mercado cresça 20% ao ano, atingindo US$ 60 bilhões em
2010 e US$ 100 bilhões em 2012. Os maiores mercados para os produtos orgânicos
continuam sendo a União Europeia, os Estados Unidos e o Japão. Os produtos orgânicos
comercializados incluem frutas e legumes frescos, nozes e frutas secas, especiarias, ervas,
vegetais processados, cacau, óleos vegetais, doces, alimentos processados e bebidas
de frutas. Itens não alimentares incluem algodão, óleos essenciais para cosméticos e
flores de corte.
A demanda por esses produtos na Suécia, Dinamarca e Holanda é relevante. Quanto aos
canais de comercialização usados, encontram-se produtos orgânicos em lojas de
conveniência e supermercados específicos, mas também nas grandes redes de varejo.
No Reino Unido, ainda é grande a importação de produtos.
Nos mercados internos dos países de baixa renda, são comercializados os excedentes da
produção para exportação, muitas vezes como produtos convencionais, mas também
frutas, legumes e verduras in natura, produtos de origem animal (leite de vaca e de
cabra, carne de frango e ovos) produzidos nos arredores das grandes cidades e produtos
processados em escala muito pequena. As principais oportunidades brasileiras de
exportação são as frutas tropicais e os legumes e verduras na entressafra dos mercados
importadores, além do algodão colorido naturalmente. Os óleos essenciais e outros
31
UNIDADE II │ O sistema agroecológico atual
32
O sistema agroecológico atual │ UNIDADE II
Existem parcerias entre a empresa Friboi (maior produtora mundial de carnes bovinas,
com matriz no Brasil) e a WWF (ONG internacional) para estímulo ao desenvolvimento
da produção de carne bovina em sistemas de produção orgânicos.
33
UNIDADE II │ O sistema agroecológico atual
Essa rede conta também com a participação de acadêmicos ligados às ciências naturais
e sociais, ligados ao tema da Agroecologia e às relações campo-cidade/rural-urbano.
Outra modalidade de venda direta usada pelos produtores são as cestas em domicílio.
Em 2007, observava-se a tendência de as distribuidoras de produtos orgânicos, com
sede no estado do Rio de Janeiro, estarem diminuindo a oferta aos supermercados e
passando a fornecer ou aumentando o fornecimento das cestas em domicílio.
34
O sistema agroecológico atual │ UNIDADE II
Apesar de a região Sudeste ter a segunda maior participação no PAA no período 2003-
2007, no Estado do Rio de Janeiro, somente três contratos foram firmados em 2007
com a CONAB/SUREG-RJ para fornecimento ao PAA em 2008. Na esfera municipal,
o PAA é operado diretamente pelas prefeituras, em parceria com o MDS. A prefeitura
de Nova Iguaçu-RJ, por vontade política, adquiriu produtos orgânicos para a merenda
escolar da associação de agricultores familiares que produzem hortaliças orgânicas em
faixas de dutos da Petrobras e contam com apoio técnico do Instituto Terra e recursos
daquela empresa petrolífera.
35
UNIDADE II │ O sistema agroecológico atual
Resumidamente, o tipo de canal a ser utilizado pelos produtores dependerá do seu nível
de organização e de relacionamento com o ambiente externo, da existência de grupos
organizados, dos tipos de produtos existentes e das épocas do ano, de acordo com as
exigências de cada canal de comercialização ou de consumidores organizados, além dos
recursos financeiros disponíveis.
36
Capítulo 3
Conformidade e certificação
Para a produção de alimentos por meio da Agroecologia é preciso seguir algumas etapas
uniformizadas que irão conferir um atestado de qualidade ao produto, a certificação
pelo processo de conformidade.
Segundo Gliessman (2014) são estabelecidos 5 níveis de transição por pequenos passos
em direção ao objetivo final da sustentabilidade. Os três primeiros níveis de conversão
para um sustentável têm foco no sistema alimentar na escala da fazenda. Dois níveis
adicionais ultrapassam a escala fazenda. Os três primeiros níveis nos ajudam a descrever
os passos que os agricultores realmente tomam na passagem de agroecossistemas
industriais ou convencionais, e todos os cinco níveis em conjunto servem como um mapa
delineando um processo de mudança evolutiva para todo o sistema alimentar global.
Nível 1
Aumentar a eficiência das práticas industriais/convencionais, a fim de reduzir o uso
e consumo de insumos caros, escassos ou prejudiciais para o ambiente. O objetivo
dessa abordagem é a utilização de insumos de forma mais eficiente, para que menos
insumos sejam necessários e ainda uma gradual redução de impactos negativos.
Esta abordagem tem sido a principal ênfase de algumas pesquisas da agricultura
convencional, por meio do qual foram desenvolvidas inúmeras tecnologias e práticas
agrícolas. Exemplos incluem o espaçamento ideal das culturas e densidade, melhores
máquinas, monitoramento de pragas para melhorar a aplicação de pesticidas, melhor
gestão do tempo das operações e agricultura de precisão para a dosagem correta de
fertilizante e baixo consumo de água na irrigação. Embora esses esforços busquem
reduzir os impactos negativos da agricultura convencional, eles não ajudam a quebrar
a dependência de insumos externos.
Nível 2
Substituição de insumos industriais e práticas convencionais, substituindo-os por
práticas alternativas. O objetivo neste nível de transição é substituir produtos e práticas
de uso intensivo de recursos degradantes por aqueles que são mais ambientalmente
benignos. Exemplos de práticas alternativas incluem o uso de plantas de cobertura
fixadoras de nitrogênio e rotações para substituir fertilizantes nitrogenados sintéticos,
37
UNIDADE II │ O sistema agroecológico atual
Nível 3
Redesenhar o agroecossistema para que ele funcione com base em um novo conjunto
de processos ecológicos. Neste nível, mudanças fundamentais na concepção geral do
sistema buscam eliminar as causas de muitos dos problemas que ainda existem nos
níveis um e dois. Assim, em vez de encontrar formas mais sólidas de resolução de
problemas, os problemas são impedidos em primeiro lugar. Estudos de reconversão
de todo o sistema permitem uma compreensão dos fatores limitantes de rendimento
no contexto da estrutura e função agroecossistema. Um exemplo é a diversificação da
estrutura das explorações agrícolas e de gestão por meio do uso de rotações, cultivos
múltiplos e sistemas agroflorestais.
Nível 4
Reestabelecer uma ligação direta entre aqueles que cultivam os alimentos e quem
o consome. A transição ocorre dentro de um contexto cultural e econômico, e nesse
contexto, deve apoiar a mudança para práticas mais sustentáveis de ambos. Em nível
local, isso significa que os consumidores valorizam produtos cultivados localmente e
usam seu dinheiro de forma mais racional. Este apoio se transforma em uma espécie
de “cidadania alimentar” e torna-se uma força para a mudança do sistema alimentar.
Quanto mais essa transformação ocorre em comunidades ao redor do mundo, mais
perto caminhamos para a construção da nova cultura e economia da sustentabilidade
que é o pré-requisito para atingir o nível cinco.
Nível 5
Sobre os fundamentos criados na escala da fazenda sustentável em agroecossistemas
de nível três e as relações alimentares sustentáveis de nível quatro. Busca-se construir
um novo sistema global de alimentos, com base na equidade, participação e justiça, que
não só é sustentável, mas também ajuda a restaurar e proteger os sistemas de suporte
de vida da Terra. Ao contrário de níveis de um a quatro, o nível cinco implica mudar
o escopo global que atinge tão profundamente a natureza da civilização humana que
transcende o conceito de “transição”. No entanto, o caminho para o nível cinco passa
necessariamente pela escala da fazenda.
38
O sistema agroecológico atual │ UNIDADE II
Seguidos os níveis acima, o produtor pode procurar uma forma de certificação da sua
produção. Após o nível de implantação da agricultura orgânica, o produtor que não se
encaixar na modalidade de venda direta por agricultores familiares com certificação
facultativa e quiser fazer uso no Brasil da denominação produto orgânico ou outro
similar, terá de estar cadastrado no Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade
Orgânica (SISORG).
Em julho de 2004, foi editada a Portaria no 158, do MAPA, que trata da Comissão
Nacional para a Produção Orgânica (CPOrg-RJ) e das Comissões da Produção Orgânica
nas Unidades da Federação (CPOrg -UF), criadas com a função de executar o programa
Pró-Orgânico.
Em março de 2004, foi criada a Câmara Setorial de Agricultura Orgânica (CSAO) como
órgão consultivo de apoio às políticas públicas do MAPA. É composta por membros do
governo e da sociedade civil. Foi na CSAO que aconteceram as discussões, elaboração,
aprovação e regulamentação da Lei no 10.831. Os textos do Decreto e das Instruções
Normativas foram construídos, durante os anos de 2004, 2005 e 2006, por técnicos de
diferentes ministérios em parceria com diversos segmentos da sociedade civil ligados à
agricultura orgânica, sob a coordenação do MAPA.
Após a tramitação pela Casa Civil e demais ministérios envolvidos (MAPA, MDA,
MMA, MS e MDIC), e após a aprovação das alterações pela CSAO, em agosto de 2007,
39
UNIDADE II │ O sistema agroecológico atual
40
O sistema agroecológico atual │ UNIDADE II
o produto, ou seja, o consumidor final. Se, por exemplo, o agricultor familiar vende
laranjas em uma feira para uma pessoa física que vai se alimentar daquele produto,
trata-se de venda direta porque quem comprou o produto vai consumi-lo. Se o agricultor
familiar vende laranjas para o governo, que doará o produto a hospitais e creches ou
vai utilizá-lo na merenda escolar, sem vendê-lo, essa modalidade também pode ser
classificada como venda direta. Também se considera venda direta se grupos possuem
pontos coletivos de comercialização para o consumidor final.
Dessa forma, a venda direta pode ser feita pelo próprio agricultor familiar, por familiar ou
por membro da estrutura organizacional (preposto) em que está inserido, pois a garantia
perante o consumidor continuará sendo o controle social. A garantia da conformidade
perante os regulamentos técnicos da agricultura orgânica se dá pela atuação do agricultor
familiar frente aos consumidores, não sendo necessária uma terceira parte para garantir
a qualidade orgânica, como ocorre, por exemplo, na certificação.
41
UNIDADE II │ O sistema agroecológico atual
42
O sistema agroecológico atual │ UNIDADE II
Certificadoras
A IFOAM criou uma acreditadora orgânica (IOAS) específica do setor que controla a
aplicação do seu Programa de Garantia, no qual está o Programa de Acreditação das
Certificadoras. A IOAS é acreditada pela ISO para usar a norma ISO65.
Dos organismos de certificação que trabalham para a agricultura orgânica, cerca de 1/3
é acreditado pela norma ISO65. Em 2003, havia 364 certificadoras listadas pela IFOAM.
Em 2004, eram 385 e, em 2005, 419 organizações. Em 2006, porém, a lista baixou
para 395 certificadoras, o que pode ser explicado pelas mudanças na regulamentação
de alguns países como o Japão e pelas exigências de registro em outros países, além das
fusões de pequenas certificadoras.
43
UNIDADE II │ O sistema agroecológico atual
O OPAC que se interessar em ser credenciado pelo MAPA, para que os produtores
e outros atores vinculados ao SPG possam comercializar os produtos como orgânicos
controlados e usarem o selo do SISORG, deverá entregar a solicitação de credenciamento
ao SEPDAG/SAF da unidade da federação em que estiver situada a sua sede, acompanhada
dos seguintes documentos: listas das unidades de produção, CNPJ, atos constitutivos
do OPAC (estatutos, regimentos internos e contrato social) e manual de procedimentos
do OPAC. O credenciamento do OPAC é precedido por auditoria da COAGRE/MAPA.
Após ouvir as CPOrgs-UF, a COAGRE emitirá a Declaração de Credenciamento do OAC
e a autorização para usar o selo do SISORG (arts. 10, 11 § 1o e 12). Como não há norma
internacional de referência para o monitoramento de um SPG, o MAPA está elaborando
um manual. O prazo para a adequação do OPAC aos regulamentos estabelecidos, ou seja,
para o credenciamento dos OPACs que já atuam na rede de produção orgânica.
44
O sistema agroecológico atual │ UNIDADE II
Certificação
Quando a cadeia de produção se torna mais complexa e o consumidor fica mais distante
do produtor, ou quando não existe nenhuma forma de controle social, há necessidade
de confirmação feita por uma terceira parte – a certificadora (organismo de avaliação
da conformidade). Normalmente, quando se fala em certificação, entende-se que os
procedimentos são feitos por uma certificadora, baseada em sistema independente de
verificação e confirmação da conformidade.
Por princípio, a certificadora não pode prestar assistência técnica. Tanto produtos como
processos e serviços podem ser certificados e cada tipo de certificação deve desenvolver
seus próprios procedimentos de verificação, bem como as punições resultantes da não
observância aos padrões estabelecidos. A certificação na agricultura orgânica pode ser
individual ou em grupo de pequenos produtores.
45
UNIDADE II │ O sistema agroecológico atual
46
O sistema agroecológico atual │ UNIDADE II
Uma única certificação é feita para toda a produção individual, assim como para o
processamento e atividades de distribuição registradas dentro do grupo. Operadores
individuais dentro do grupo podem não usar a certificação independentemente, sendo
negociado entre as partes. Os membros dos grupos operam as unidades de produção
sob exigências contratuais e de filiação que especificam o compromisso de cumprir as
normas da agricultura orgânica aplicáveis, permitir a inspeção etc.
O SIC, operado por organismo central ou organismo externo contratado pelo organismo
central do grupo, da associação ou da cooperativa, normalmente mantém os arquivos
de todos os membros do grupo e inspeciona cada membro ao menos uma vez ao ano.
Por meio dos mecanismos do SIC, o grupo decide sobre o atendimento às normas
aplicáveis por parte dos membros. As não conformidades são resolvidas de acordo
com um conjunto de procedimentos, sanções, medidas para apelação e reclamações
estabelecidas pelos grupos.
47
UNIDADE II │ O sistema agroecológico atual
O SIC deverá ser realizado uma vez por ano, documentado em todas as unidades
produtoras, sendo apresentada à certificadora a lista das unidades com problemas.
A amostragem a ser inspecionada pela certificadora é obtida por meio do cálculo da
raiz quadrada de n, sendo n o número de unidades a serem certificadas. Por exemplo:
se a cooperativa tem 144 membros, serão inspecionadas anualmente 12 unidades de
produção. Por meio da avaliação dos riscos do SIC do grupo, as unidades inspecionadas
serão aquelas em que há maior risco de fraude no SIC. Ao final de três anos, todas as
unidades devem ter sido visitadas.
Do mais simples nível, que é essencial, até o mais complexo, com a participação de
outros atores, além dos membros da associação de produtores, consumidores e técnicos
de ONGs que trabalham com produção orgânica e organização de grupos, todos são
desejáveis, sendo estimulados sempre que a realidade permitir.
48
O sistema agroecológico atual │ UNIDADE II
Os membros são pessoas físicas e/ou jurídicas que fazem parte de um grupo, classificados
em duas categorias: produtores e colaboradores. Os produtores (fornecedores) são
produtores primários, processadores, distribuidores, comerciantes, transportadores,
armazenadores e extrativistas sustentáveis orgânicos. Os colaboradores são consumidores
e suas organizações, técnicos, organizações públicas ou privadas, ONGs, organizações de
representação de classe e demais atores.
49
UNIDADE II │ O sistema agroecológico atual
De acordo com o art. 70, § 2o, o estatuto deve conter critérios para composição ou
escolha dos membros da comissão de avaliação e do conselho de recursos, requisitos
mínimos de participação, direitos e deveres dos membros, periodicidade de reuniões e
assembleias, sanções administrativas, composição mínima do SPG, exigências mínimas
de funcionamento e quórum mínimo para deliberação nas reuniões e assembleias.
Rotulagem e identificação
Na proposta brasileira, só poderá ser rotulado o produto orgânico, não sendo permitida
a denominação produto em transição, nem será possível colocar as outras denominações
(biodinâmico, por exemplo) em letras maiores que as da palavra “orgânico”.
50
O sistema agroecológico atual │ UNIDADE II
A informação da qualidade orgânica pode se dar por meio da rotulagem dos produtos,
da Declaração de Transação Comercial, por material de publicidade e propaganda e por
dizeres expostos nos locais de comercialização.
Além das outras exigências sobre rotulagem contidas nas legislações específicas para
os diferentes produtos, a rotulagem dos produtos orgânicos deverá conter, no mínimo:
De acordo com o art. 115 da Instrução Normativa no 19, aos produtos orgânicos
processados que contenham ingredientes, incluindo aditivos, que não sejam de origem
certificada orgânica, aplicam-se as seguintes regras:
Em seu parágrafo único, o artigo observa que “água e sal adicionados não serão incluídos
no cálculo do percentual de ingredientes orgânicos”.
A marca nacional será agregada ao rótulo e deverá seguir as normas vigentes para
rotulagem do produto ao final do processo.
52
O sistema agroecológico atual │ UNIDADE II
qualquer indicação que possa induzir ao erro ou equívoco quanto à origem, natureza
e qualidade orgânica do produto, ou atribuir características ou qualidades que
não possua.
53
UNIDADE II │ O sistema agroecológico atual
Grande parte dos estudos sobre a agricultura orgânica certificada enfatiza os seus
benefícios econômicos, sociais e ambientais e as oportunidades que traz para os países de
baixa renda. Entretanto, deve-se considerar a agricultura orgânica certificada de forma
mais realista, pois:
54
O sistema agroecológico atual │ UNIDADE II
A tendência de aceitação dos SPG nas regulamentações nacionais dos países da América
Latina e Caribe é uma realidade. As oportunidades para o estabelecimento de acordos
de equivalência e de reconhecimento mútuo que favoreçam a harmonização das normas
dos produtos orgânicos é estratégia buscada pelos movimentos e deve ser buscada pelas
autoridades competentes, com a liderança do Brasil.
55
UNIDADE II │ O sistema agroecológico atual
Deve ficar claro que os SPG surgem naturalmente, como necessidade de um grupo
organizado comercializar seus produtos de forma organizada e identificada com uma
qualidade específica. Existe muito trabalho dos produtores para terem participação
ativa na construção e manutenção do sistema de garantia das qualidades.
56
O sistema agroecológico atual │ UNIDADE II
57
Os ramos da Unidade III
Agroecologia
Capítulo 1
Ramo agronômico
59
UNIDADE III │ Os ramos da Agroecologia
Os consumidores têm buscado cada vez mais informações sobre os produtos para se
decidir na hora da compra. Isso também ocorre com os alimentos. A procura pela
qualidade, a rejeição por agrotóxicos têm sido elementos que mudam a relação dos
consumidores com os alimentos. Isso demanda produtos mais saudáveis, cujo processo
produtivo respeita o meio ambiente de maneira integral. Essa realidade conduz a
produção de alimentos agroecológicos e orgânicos nas unidades rurais familiares, onde
a qualidade do produto é considerada fator básico e, por isso, recebe toda a atenção de
quem produz e de quem orienta: os extensionistas rurais.
60
Os ramos da Agroecologia │ UNIDADE III
O projeto é o estudo técnico, elaborado pelo extensionista ou técnico que faz a orientação
à unidade familiar de produção, em que consta o orçamento de aplicação dos recursos,
as receitas previstas, as medidas eventualmente necessárias para a adequação da
unidade familiar às exigências de defesa do meio ambiente, a duração da orientação
técnica e as épocas mais adequadas à sua prestação.
61
Capítulo 2
Ramo ambiental
Outro aspecto que o enfoque ambiental da Agroecologia possui é o baixo impacto sobre a
biodiversidade. Sistemas de agricultura orgânica em geral abrigam uma biodiversidade
de flora e fauna maior do que os sistemas convencionais. Em muitas áreas que já
passaram pela transição para a produção orgânica apresentam recuperação de espécies
nativas, melhoria da qualidade da água, mananciais e até aumento da biodiversidade
anteriormente degradada.
62
Os ramos da Agroecologia │ UNIDADE III
produção. Essa visão nos remete à necessidade de se entender a dinâmica do conjunto dos
recursos naturais, não só da unidade de produção, mas também no contexto do território
onde está inserida.
Até cerca de quatro décadas atrás, o rendimento das culturas em sistemas agrícolas
dependia de recursos internos, reciclagem de matéria orgânica, construído em
mecanismos de controle biológico e os padrões de chuva. Os rendimentos agrícolas
eram modestos, mas estáveis. A produção foi salvaguardada por eventos aleatórios de
condições meteorológicas severas e controle pragas e doenças. A nutrição das plantas
era obtida pela rotação das principais culturas com leguminosas. Por sua vez as rotações
suprimiam insetos, ervas daninhas e doenças, quebrando eficazmente os ciclos de vida
dessas pragas. A maioria do trabalho era feito pela família com a ajuda de funcionários
eventuais e nenhum equipamento ou serviço especializados. Neste tipo de sistema
agrícola, a ligação entre agricultura e ecologia era bastante forte e sinais de degradação
ambiental raramente eram evidentes.
Também está provado que a própria natureza da estrutura agrícola e as políticas vigentes
conduziram a esta crise ambiental, favorecendo a utilização de grandes fazendas, a
produção especializada, monoculturas agrícolas e mecanização. Hoje, como cada vez
mais agricultores estão integrados à economia internacional, a biodiversidade fica
comprometida e as monoculturas são recompensadas pelas economias de escala.
63
UNIDADE III │ Os ramos da Agroecologia
d. Como culturas específicas são expandidas para além das suas faixas de
vegetação nativa ou regiões favoráveis ao elevado potencial de pragas
ou com água limitada, ou solos de baixa fertilidade, intensificou-se os
controles químicos para superar tais fatores limitantes. O pressuposto
é que a intervenção humana e o nível de insumos que permitem essas
expansões podem ser insustentáveis no futuro.
65
Capítulo 3
Ramo socioeconômico
O conceito de Agroecologia está sendo mobilizado cada vez mais na sociedade, nas
universidades e nas áreas de produção agrícola e pecuária. No entanto, suas dimensões
socioeconômicas recebem pouca atenção de pesquisadores.
O que sabemos sobre a relação entre a Agroecologia e seus efeitos sobre os aspectos
socioeconômicos da subsistência dos agricultores? Não temos provas de que a
Agroecologia leva a impactos positivos como a criação de empregos e aumento da renda
e do bem-estar social?
Com uma evidência relativamente forte, o tema patrimônio ambiental é visto como
decorrente de princípios agroecológicos bem definidos, assim como o pouco uso de
insumos químicos em qualquer fazenda agroecológica. Além disso, de acordo com os
movimentos sociais, o ser humano é considerado como parte da natureza e do cosmos.
66
Os ramos da Agroecologia │ UNIDADE III
Na verdade, a educação ambiental, que tem sido chamado de “linha verde”, trouxe o
debate da natureza à sociedade. Este ponto de vista da natureza tem sido associado a
uma política de gestão de áreas naturais e rurais protegidas com foco na sua capacidade
de gerar atividade econômica e turística como uma forma de manter a população rural
evitar o êxodo rural.
67
UNIDADE III │ Os ramos da Agroecologia
As pesquisas têm mostrado que a Agroecologia é flexível e dinâmica o suficiente para ser
adaptada a diversas condições socioeconômicas e ambientais; e é fácil para as pessoas
integrarem-se ao sistema e adotá-lo de forma eficaz.
68
Capítulo 4
Ramos político e legal
As normas e práticas em uso pela Agroecologia estão hoje em dia, cobertos por pesquisas
científicas de rigor na investigação agrícola dos resultados alcançados. Ao aumentar a
transparência da investigação científica, a diversidade metodológica encoraja o trabalho
transdisciplinar e fomenta a ciência baseada na investigação com financiamento público
relacionado com princípios agroecológicos, desta forma podemos facilitar o caminho
para a Agroecologia para ser considerada cientificamente legítima. No brilhante trabalho
de Wezel et al. (2009) percebe-se como as dimensões da ciência, prática e movimento
social criam espaços para a construção da legitimidade dentro e fora da Agroecologia.
O ciclo de produção da Agroecologia centra suas ações em princípios éticos dos sistemas
alimentares, com respeito e atenção em todas as fases da cadeia produtiva. Esta pode
ser uma das razões de sua melhor aceitação nos últimos anos, o caminho alternativo que
traz inúmeros benefícios e de forma transparente, sem produtos químicos escondidos
nos alimentos e com preservação de recursos naturais.
Muitos agroecologistas fazem parte dos movimentos sociais, embora eles podem ou não
ser os cientistas. Por exemplo, a Via Campesina e o Movimento dos Trabalhadores Sem
Terra (MST) no Brasil aceitaram a agroecologia como uma filosofia fundamental em
seu trabalho de organização, na sequência, debates internos perenes, e ainda em aberto
ONGs, grupos comunitários e públicos divergem em suas opiniões sobre a legitimidade
da ciência ao abordar a Agroecologia. Alguns acreditam que a ciência pode fornecer
valiosos aliados e provas em apoio às agriculturas alternativas. Mas alguns grupos de
agricultores e movimentos camponeses podem rejeitar a ciência como subjugação,
com base na história da ciência, por exemplo da Revolução Verde e sobre a política
contemporânea de culturas e animais geneticamente modificados. A seus olhos, a ciência
tem o hábito de desvalorizar o patrimônio cultural e o conhecimento experimental dos
povos locais ou indígenas.
70
Os ramos da Agroecologia │ UNIDADE III
Uma lógica subjacente que contribui para a força da agricultura industrial é o dogma
que os seres humanos devem exercer controle sobre a natureza. Houve muito trabalho
acadêmico em antropologia, etnobiologia e geografia humana, entre outras disciplinas
que investigam como as sociedades se relacionam com seus ambientes. O sucesso da
moderna agroindústria tem sido persuadir esse costume industrial mundial em prática
produtivista. Seja na forma de sprays de pesticidas, paisagens desflorestadas para cultivo,
ou tecnologias de reprodução animal, as pessoas entendem-se fundamentalmente
distintas da natureza, com a responsabilidade de trazê-la sob controle.
71
UNIDADE III │ Os ramos da Agroecologia
Os órgãos governamentais têm tornado cada vez mais evidente a forma como a ciência
tem permeado a organização e a prática destes órgãos. Departamentos burocráticos
formam seus repertórios administrativos em torno do conhecimento e de instrumentos
técnicos, muitas vezes em aliança com cientistas e engenheiros envolvidos com meios
industriais de produção. Usando os princípios de gestão científica, os governos se
esforçam para maximizar a extração eficiente de florestas, água e recursos terrestres
para o bem-estar público. Neste caso, vê-se um direcionamento para o uso mais racional
e de preservação dos recursos naturais. A interação dos diversos grupos de interesse e
as evidências sobre o meio ambiente e a sociedade, trouxeram o uso de ferramentas
quantitativas, como análise de custo-benefício e avaliações de risco, para padronizar e
justificar as decisões políticas por razões objetivas.
72
Os ramos da Agroecologia │ UNIDADE III
Nas duas últimas décadas viu-se no Brasil a intensificação das atividades políticas e
legislativas em torno da regulamentação das atividades agroecológicas. As práticas
ficaram mais evidentes, os consumidores mais conscientes e isso refletiu nas esferas
governamentais.
73
O futuro da Unidade IV
Agroecologia
Capítulo 1
Perspectivas dos ramos da agroecologia
Apesar dos evidentes problemas causados pela agricultura tradicional, esta ainda é
dominante, devido a sua facilidade e respostas imediatas, além do intenso bombardeio
ideológico que sofrem os agricultores por parte dos agentes de mercado, que lucram
com esse modelo de agricultura.
74
O futuro da Agroecologia │ UNIDADE IV
75
UNIDADE IV │ O futuro da Agroecologia
Milhares de parcerias locais têm evoluído em todo o mundo nas últimas duas
ou três décadas em direção à colaboração, cooperativismo e notadamente para a
economia solidária. Governos e agências internacionais de fomento e pesquisa estão
implementando projetos para ajudar as comunidades rurais a melhorar o bem-estar
econômico, ambiental e social.
7. Será que vai ser possível gerir a biodiversidade do solo como parte de uma
abordagem agroecológica para a manutenção da fertilidade das terras?
76
O futuro da Agroecologia │ UNIDADE IV
Agrobiodiversidade
A produtividade e a resistência em muitos ecossistemas são variavelmente correlacionadas
com a diversidade espacial, temporal e genética. Os benefícios ecológicos oriundos pela
maior diversidade de espécies de culturas, genótipos e habitats na paisagem agrícola
77
UNIDADE IV │ O futuro da Agroecologia
Por meio dos seus efeitos na redução das concentrações de fontes de alimentos e
habitat para pragas e doenças, a diversidade genética proporciona resistência ao
estresse biótico, como patógenos (fungos, vírus e bactérias), plantas invasoras e pragas
(insetos e artrópodes). O próprio agroecossistema busca equilibra-se quando há alguma
sobreposição de domínio biótico.
A agrobiodiversidade tem sido bastante reduzida por práticas de manejo da terra que
incluem a remoção de plantas oportunistas, limpeza da vegetação natural para expandir o
tamanho do campo, terraplanagem, cultivo intensivo, pesticidas, fertilizantes minerais,
propagação clonal, e plantação de monocultura extensiva.
78
O futuro da Agroecologia │ UNIDADE IV
Organismos com uma distribuição geográfica mais ampla e diversidade ecológica são
mais propensos a se estabelecer em um novo ambiente. A eliminação ou redução de
uso de agrotóxicos é propícia para a criação bem-sucedida de inimigos naturais das
espécies de pragas; uma variedade de plantas e organismos proporciona refúgios,
fontes e viveiros de agentes de controle biológico.
As abelhas selvagens, muitas vezes são negativamente afetadas pela perda de habitat
natural e outras práticas associadas à intensificação agrícola, no entanto, populações de
abelhas persistem onde os recursos florais e de nidificação suficientes estão disponíveis.
O desafio é projetar os sistemas para que propiciem a criação funcional dos níveis
tróficos superiores e facilitem a relação de entre os seres que o compõem.
79
UNIDADE IV │ O futuro da Agroecologia
Agroecologia é um termo que tem recebido muita atenção desde que a Organização
para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO) realizou um simpósio
internacional intitulado “Agroecologia para a Segurança Alimentar e Nutricional”.
Este simpósio representou um ponto significativo na história dos movimentos e de
repente a Agroecologia estava sendo apontada como uma solução legítima para o debate
“alimentar o mundo”, uma realidade que contrasta com a agricultura empresarial.
A agroecologia pode ser considerada a antítese da corrente convencional, incorporada
e conduzida em sistemas agrícolas baseados na monocultura.
O maior problema que as correntes de agricultura alternativa enfrentam tem origem nas
principais instituições e pessoas da agricultura convencional que abominam as ideias
conservacionistas por sua própria natureza. O foco central de sistemas agroecológicos
envolve a utilização dos recursos locais para criar sistemas de autossustentáveis.
Isso quer dizer que, em Agroecologia há muito pouco para vender, produz-se boa parte
dos insumos necessários.
80
O futuro da Agroecologia │ UNIDADE IV
É por esta razão que a Agroecologia é, muitas vezes, referida como mais do que uma
filosofia apenas agrária, mas também um movimento político. Em nenhum lugar essa
realidade mais evidente do que no recente Declaração do Fórum Internacional de
Agroecologia, na qual a declaração de abertura lê:
Existem verdades simples que já não podem ser ignoradas. Talvez a mais óbvia delas
é que, como os níveis de dióxido de carbono na atmosfera começam a ameaçar a
existência humana como a conhecemos, os solos oferecem a oportunidade mais óbvia
para sequestrar o carbono. Ainda mais do que isso, os solos são pobres em carbono e
a sua ciclagem natural os tornariam suficientes. O aumento do teor de carbono nos
solos é diretamente correspondente ao aumento da capacidade de retenção de água e
melhoria da fertilidade.
81
UNIDADE IV │ O futuro da Agroecologia
82
Capítulo 2
Estudo de caso em comercialização de
produtos agroecológicos
A história recente da agricultura orgânica controlada no Estado do Rio de Janeiro tem sido
marcada por ciclos de expansão e de retração do número de unidades controladas e da
oferta de produtos orgânicos. As consequências desses ciclos traduzem-se, por exemplo,
no lento crescimento do número de produtores orgânicos certificados/controlados
(neorrurais, agricultores familiares e pequenos produtores) pela ABIO nos últimos 10
anos (1998-2008) e nas estimativas dos volumes de produtos orgânicos produzidos e
comercializados no grande varejo e em outros canais. Apesar das iniciativas públicas e
privadas para estimular a conversão dos sistemas produtivos para a agricultura orgânica
controlada e da diversidade de experiências implantadas nas áreas de produção, há
poucas ações positivas de comercialização desenvolvidas.
83
UNIDADE IV │ O futuro da Agroecologia
A experiência com as feiras orgânicas nos países da América Latina e Caribe servem de
estímulo ao desenvolvimento dos mercados locais, com apoio de ONGs e de Fundos de
Desenvolvimento Internacional. A importância da escolha por feiras específicas e não
pela oferta de produtos orgânicos em feiras convencionais, deve-se a alguns fatores:
84
O futuro da Agroecologia │ UNIDADE IV
Para isso, foram visitadas 10 feiras no estado do Rio de Janeiro, o que corresponde a
53% dessas iniciativas, já que em 2009 foram identificadas 19 feiras que comercializavam
produtos orgânicos (controlados ou não) e/ou produtos da agricultura familiar, “da roça”.
85
UNIDADE IV │ O futuro da Agroecologia
Os feirantes não se veem como concorrentes, mas como parceiros que trocam saberes,
mudas, sementes e insumos. As feiras são ambientes em que há espaço para atividades
de lazer e cultura e onde a relação entre produtores e consumidores é de confiança e de
amizade, além de local para a troca de conhecimentos sobre questões rurais e urbanas.
Os agricultores se sentem mais valorizados à medida que os consumidores criam
vínculos de fidelidade; os consumidores, por sua vez, sentem-se seguros em adquirir
produtos de qualidade, sabendo a origem e que são cultivados por pessoas que têm
preocupações ecológicas e humanitárias. A maioria dos consumidores desconhece a
regulamentação e os princípios da agricultura orgânica, mas afirmam que os orgânicos
são sem agrotóxicos.
87
UNIDADE IV │ O futuro da Agroecologia
88
O futuro da Agroecologia │ UNIDADE IV
89
UNIDADE IV │ O futuro da Agroecologia
»» A percepção, tanto por parte dos responsáveis pelas compras quanto por
parte dos agricultores, da Lei no 8.666 como barreira intransponível e o
temor do “calote” do governo.
90
O futuro da Agroecologia │ UNIDADE IV
91
UNIDADE IV │ O futuro da Agroecologia
»» oferta de orgânicos;
92
O futuro da Agroecologia │ UNIDADE IV
Das 13 distribuidoras pesquisadas, seis (46%) têm menos de cinco anos de atuação e
quatro (31%) têm dez anos ou mais de atuação e experiência no mercado de orgânicos
no estado. Essas distribuidoras com mais tempo no mercado têm como característica
comum o gerenciamento por neorrurais, que possuem outra fonte de renda. Cerca
de 70% das distribuidoras estão localizadas na região Serrana, que possui aptidão e
vocação para a produção de frutas, legumes e verduras, e as demais estão localizadas na
Baixada Fluminense e no município do Rio de Janeiro. Das distribuidoras pesquisadas,
7 possuem certificação de organização sediada no Rio de Janeiro (ABIO), 2 possuem
certificação nacional/internacional (IBD e Ecocert) e 4 não são certificadas. Dentre as
distribuidoras, 77% têm áreas de produção, caracterizando-se como operação vertical
entre a produção e a comercialização. Apenas 33% são especializadas somente na
compra e distribuição de alimentos orgânicos.
Quanto aos clientes (a quem vendem), 60% comercializam parte de seus produtos
nos mercados locais e 90% na cidade do Rio de Janeiro. Atualmente, a prioridade das
distribuidoras é a entrega de cestas em domicílio (representando 25% das vendas),
prezando a qualidade do produto e a busca da satisfação dos consumidores e não
mais as grandes redes de supermercados. Na visão das distribuidoras, a venda para
cestas em domicílio é caracterizada como venda direta, evidenciando grande potencial
de crescimento e confirmando a mudança na construção da cadeia dos alimentos
orgânicos no Estado do Rio de Janeiro. Essa mudança representa o estreitamento
das margens entre a produção e o consumo, a exploração dos mercados locais
e regionais.
93
UNIDADE IV │ O futuro da Agroecologia
Do total de pesquisados, 54% usam rótulo com marca própria para a apresentação
no mercado. Vale destacar o aparecimento de marcas orgânicas das grandes redes
varejistas. A informação obtida sobre a alternativa de embalagens biodegradáveis, já
pesquisadas, testadas e aprovadas, é relevante, embora ainda com custos elevados,
principalmente se adquiridas em pequenos volumes.
Somente duas distribuidoras (15%) não possuem produtos com marca própria, vendendo
apenas os produtos de seus fornecedores. Os clientes são cestas em domicílio ou grupos
de consumidores. As demais comercializam produtos próprios e de seus produtores
fornecedores sem contrato. As principais questões levantadas (perfil, características
operacionais, canais de comercialização utilizados, atendimento a normas e legislações,
apresentação do produto no mercado, preços e margens obtidas) confirmam a nova
dinâmica no setor de produção e distribuição de alimentos orgânicos no estado do
94
O futuro da Agroecologia │ UNIDADE IV
95
UNIDADE IV │ O futuro da Agroecologia
Figura 6. Tela do artista pernambucano Lula Cardoso Ayres retratando o trabalho comunitário no campo.
96
Referências
97
Referências
KLAGES, K.H.W. Crop ecology and ecological crop geography in the agronomic
curriculum. Journal of American Society of Agronomy, no 10, pp. 336-353, 1928.
98
Referências
99
Anexo I
As pessoas que atuam diretamente com a assistência técnica junto à produtores devem
possuir habilidades imprescindíveis como:
100
Anexo II
Glossário
A
Adubação: diferença entre a exigência da cultura e a reserva do solo, que é reposta
através dos adubos.
Adubo Verde: planta cultivada ou não com a finalidade primeira de enriquecer o solo
com sua massa vegetal.
Adubação Química: a que é feita com adubos químicos, havendo incorporação de sais
minerais ao solo.
101
anexos
Antibiótico:
B
Biofertilizante: fertilizante orgânico repleto de microrganismos (por isso é considerado
um fertilizante “vivo”) usado no solo ou diretamente sobre a planta. Feito a partir de
matéria orgânica fermentada (estercos, ou partes de plantas), que pode ou não ser
enriquecido com alguns minerais como calcário e cinzas.
Biomassa: qualquer matéria de origem vegetal, utilizada como fonte de energia, para
adubação verde ou para proteger o solo da erosão.
C
Calcário: corretivo frequentemente usado em solos ácidos, sendo constituído de rochas
carbonatadas.
Calda Bordalesa: protetor líquido de plantas, feito à base de sulfato de cobre e água de cal.
Calda Sulfocálcica: protetor líquido de plantas, feito à base de sulfato de cálcio, e água
de cal, contendo também enxofre.
Cobertura Viva: cultura de cobertura do solo que é plantada juntamente com as culturas
principais durante a estação de cultivo.
Cobertura Morta: restos culturais, adubos verdes picados e outros materiais vegetais
secos ou em processo decomposição que são depositados sobre o solo, para fins de
proteção contra erosão e fornecimento de matéria orgânica.
D
Diversidade:
102
anexos
E
Ecossistema: um sistema funcional de relações complementares entre organismos
vivos e seu ambiente, com uma determinada área física.
Efeito Residual: tempo em que um agrotóxico permanece nas plantas, nos alimentos,
no solo, no ar e na água, podendo trazer complicações de ordem toxicológicas.
F
Fosfato: mineral acessório em rochas magmáticas (formadas a partir da lava de vulcões),
metamórficas e sedimentares, cuja função é fornecer quase todo fósforo presente no solo.
H
Hortaliças: refere-se a verduras, legumes e condimentos.
Hormônio:
1. Princípio ativo das glândulas de secreção dos animais, que também pode
ser sintetizado em laboratórios.
103
anexos
I
Índice de produtividade: uma medida da quantidade de biomassa contida no produto
colhido com relação a quantidade total de biomassa viva presente no restante do sistema.
L
Lavoura:
2. Plantação.
Legume: hortaliça cujas partes comestíveis são frutos, sementes ou partes subterrâneas.
M
Macronutrientes: nutrientes que as plantas necessitam em grandes quantidades
(100Kg/hectare/ano), como nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre.
N
Nutrição:
104
anexos
P
Planta Perene: que vive mais de três anos, florescendo ou não todos os anos; o mesmo
que perene.
Planta Semiperene: que vive mais de dois anos e menos de três anos, como a
cana-de-açúcar.
Propriedade Familiar: imóvel rural que, explorado pelo agricultor e sua família,
lhes absorve a maior parte da sua força de trabalho, garantindo-lhes não apenas a
subsistência como a melhoria do poder aquisitivo e da qualidade de vida.
Q
Quebra-ventos: conjunto de árvores plantadas perpendicularmente à direção do vento
predominante com o objetivo de proteger a cultura e o solo da ação dos ventos.
R
Resiliência: capacidade genética dos organismos de resistirem a tensões ou fatores
limitadores do ambiente.
S
Sistema Alimentar: metassistema interligado de agroecossistemas, seus sistemas
econômicos, sociais, culturais e tecnológicos de sustentação, e sistemas de distribuição
e consumo de alimentos.
Sistêmico: que diz respeito a um sistema orgânico; que atinge vários componentes de
um sistema ou estrutura. O mesmo que holismo.
105
anexos
Solubilidade: capacidade que uma substância tem de se dissolver num meio líquido.
T
Tolerância:
Toxicidade Aguda: poder letal de uma substância ou composto químico, seus derivados
ou metabólitos.
Tratos Culturais: operações feitas nas culturas, tais como: adubação, rotação de culturas,
manejo da matéria orgânica, entre outros.
V
Valor Nutritivo: valor de um alimento em função de seus nutrientes digestivos.
Variedade:
Veneno: toda substância tóxica que perturba o ciclo vital do organismo e seu bom estado.
Verdura: hortaliça cujas partes comestíveis são folhas, flores, botões ou hastes.
Visão Holística: modo de tratar uma propriedade agrícola, no qual as partes não podem
ser compreendidas separadamente do todo. E o todo é diferente da simples soma das
partes, pois o que importa é a relação entre as partes.
Vitamina: composto orgânico dos reinos animal e vegetal que atua em pequeníssimas
quantidades sendo essencial para o desenvolvimento do ser vivo.
106
anexos
Classificam-se em:
Fontes: “Dicionário do Agrônomo”, Lúcia Helena S.D.Goulart, Editora Rígel, 1999; Equipe de
conteúdo do Planeta Orgânico <http://planetaorganico.com.br/site/index.php/glossario/>.
107