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29/04/2018 Apocalypto e o fim da civilização maia | Blog de Cinema

RODRIGO SANTIAGO

Blog de Cinema

BLOCKBUSTERS, HISTÓRICOS, MEL GIBSON

Apocalypto e o fim da civilização maia

In Históricos on 9, junho, 2008 at 16:20


(h p://rodrigosantiago.net/historia/wp-
content/uploads/2008/09/apocalypto.jpg)Mel Gibson mostra novamente como consegue o que quer
em Hollywood. Depois de filmar “A paixão de Cristo” em aramaico, língua praticamente morta, ele
filma “Apocalypto” utilizando o idioma falado pelos povos maias hoje em dia. O contexto histórico,
aparentemente, não é o elemento principal do filme, pois a história principal é mais ou menos
universal, que poderia se passar em qualquer época e em qualquer local, fazendo-se as adaptações
necessárias.

No entanto, a utilização de tal contexto é o que torna o filme interessante, pois ao narrar esta história
universal, narra, também, o final da civilização maia; as guerras frequentes entre tribos e cidades
estado; o desespero dos líderes para colheitas prósperas, através da cena dos sacrifícios seriais e a
pilha de corpos, sugerindo que os sacrifícios eram numerosos; a edificação de mais construções,
utilizando recursos que poderiam ser gastos em algo mais produtivo à civilização. Enfim, narra os
últimos suspiros de uma civilização. A chegada das caravelas ao final do filme apenas conclui este
ciclo, pois, com a conquista espanhola, a civilização maia, que já estava sob domínio asteca no século
XVI, recebe seu ultimato.

A utilização da frase de autoria do historiador Will Durant no início do filme (“Uma grande
civilização não pode ser conquistada por fora, antes de se destruir por dentro”) serve para ilustrar o
parágrafo anterior, de que a civilização maia, antes de ser conquistada pelos espanhóis, já estava em
declínio devido a estes fatores internos. É importante ressaltar que esta civilização entrou em
decadência desde o final do século IX, quando ficou sob influência tolteca, e posteriormente sob
influência asteca.

O filme recebeu críticas por mostrar uma civilização já decadente no Pintura de um sacrificio
século IX ainda “viva” no século XVI. Porém, não foi mero descuido, asteca
mas proposital. Percebo isso na cena do sacrifício, pois, a meu ver, a Pintura de um sacrifício asteca
cena do sacrifício segue à risca as descrições de sacrifício praticada
pelos astecas. E no século XVI, como já visto, a civilização maia
estava sob influência asteca.

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Outra crítica recebida pelo filme foi de mostrar os maias como um povo bárbaro e sanguinolento. A
esta altura a patrulha de plantão esquece de mencionar o início do filme, quando a comunidade vivia
em harmonia consigo e com a natureza; de que o filme segue o ponto de vista de um indivíduo
capturado em uma batalha, logo, as cenas mostradas são relacionadas a isto; e também esquece de
que o filme sugere que o eclipse já era conhecido do alto escalão, que trocava olhares de
complicidade, enquanto a população foi privada desse conhecimento. A civilização maia é conhecida
por ter tido um avançado conhecimento astronômico, mas é lógico que este conhecimento ficava
retido na elite. A crítica, a meu entender, é baseada apenas no fato do diretor ser um conservador
declarado. Caso fosse um filme dirigido por um diretor reconhecidamente progressista, ou, ainda,
por um latino, estas críticas ou não existiriam ou seriam relativizadas. Ou queriam que o filme
mostrasse os maias em traje de gala bebendo o chá das cinco?

É interessante observar como a escolha do idioma nos faz mergulhar muito mais facilmente naquele
mundo, junto com os outros elementos — ambientação, figurino, etc — e, ao mesmo tempo, distancia-
nos historicamente dele, como se tivesse sido filmado na época.

O mais notável Maia Portanto, o que inicialmente parecia ser segundo plano
O mais notável Maia: O grão mestre varonil — o contexto histórico — é trazido para o primeiro
plano, e o conflito do personagem principal fica apenas
como uma desculpa para o diretor poder tratar desde
contexto histórico, mas sob o ponto de vista do personagem. É um bom filme para estudantes de
cinema e crítica entenderem que ao analisar um filme você não pode se ater apenas às técnicas de
cinema, mas precisa se preocupar em ver, além dos subtextos, o contexto em que o filme foi feito.

Historiadores e professor universitários também podem utilizar o filme para, além de fazer uma
discussão sobre as civilizações americanas e a conquista espanhola, discutir como utilizar o cinema na
sala de aula, discutindo os acertos e erros do diretor acerca do contexto histórico.

Os anacronismos presentes no filme talvez sejam mais questões de Antropologia que de História, pois
achei a reconstituição histórica bem verossímil, como as pinturas dos deuses ou as cabeças
empaladas. No caso dos anacronismos, seriam mais questões como o de levar conceitos de
comportamento da sociedade atual para a sociedade da época.

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