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Sumário

Apresentação................................................................................................ 5

Falta de documentação ainda é um problema grave no Brasil......................... 7

Mutirões levam cidadania para as mulheres do campo.................................. 15

Expresso Cidadã amplia documentação para trabalhadoras rurais................. 18

Documentação abre novas perspectivas para mulheres camponesas.............. 21

A satisfação de levar cidadania ao campo..................................................... 24

Demanda por documentação é antiga luta dos movimentos sociais............... 27

Ações educativas promovem autonomia das mulheres do campo.................. 29

Parcerias aumentam eficiência das ações educativas..................................... 31

Expresso Cidadã ampliará concessão de benefícios da Previdência Social...... 33

PNDTR 
Apresentação
O Programa Nacional de Documentação da Trabalhadora Rural (PNDTR), criado
pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) em 2004, completa cinco anos
com resultados expressivos. Neste período, 1,7 mil mutirões de documentação, que
atenderam mais de dois mil municípios de todas as regiões do País, resultaram na
emissão gratuita de um milhão de documentos civis e trabalhistas. Graças ao PNDTR,
cerca de 500 mil mulheres podem exercer seus direitos básicos de cidadania, como abrir
conta bancária, acessar programas de crédito e linhas de financiamento, participar de
programas habitacionais, ter posse da terra e até mesmo votar.

A abrangência desta ação se deve ao compromisso dos órgãos parceiros dos governos
Federal, Estaduais e Municipais e à participação dos movimentos sociais de mulheres. E,
principalmente, das próprias beneficiárias, que superaram barreiras culturais em busca
de sua autonomia econômica e social.

Nestes cinco anos, o PNDTR reforçou a articulação com políticas públicas do Governo
Federal. A ampliação da documentação civil básica para as mulheres do campo foi
integrada a ações como o Programa Nacional da Agricultura Familiar (Pronaf) e o II
Programa Nacional da Reforma Agrária (PNRA).

Como parte do II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres e da agenda social do


Governo Federal, o PNDTR ingressou em uma nova etapa, especialmente através do
Programa Territórios da Cidadania, do Plano de Erradicação do Sub-Registro Civil de
Nascimento e Ampliação da Documentação Civil Básica e do Programa de Organização
Produtiva de Mulheres Rurais.

O PNDTR ganhou qualidade e agilidade. Até o final deste ano, 22 estados serão
atendidos por unidades-móveis, conhecidas como Expresso Cidadã. E outras seis
unidades entrarão em operação em 2010.

Agora, os mutirões também prestam atendimento previdenciário, uma importante


demanda dos movimentos sociais de mulheres do campo desde os anos 90. Esta ação
facilita o acesso das trabalhadoras rurais aos benefícios da Previdência Social, direito
assegurado pela Constituição mas que teve baixa efetivação devido à ausência de
documentação pessoal necessária para obter os benefícios assegurados pelo Sistema
Previdenciário.

O trabalho para fazer valer o Estado de direitos para as que mais necessitam é cotidiano.
Avançamos, mas ainda há muito por fazer para erradicar a ausência da documentação
civil e assegurar às mulheres camponesas condições para exercer a cidadania plena.
Nesta caminhada, é essencial a atuação conjunta do Estado e da sociedade, como
ocorre com o Plano Nacional de Documentação da Mulher Trabalhadora.

Nilcéa Freire
Ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres
Guilherme Cassel
Ministro de Estado do Desenvolvimento Agrário

PNDTR 
Programa Nacional de Documentação da Trabalhadora Rural

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Falta de documentação ainda
é um problema grave no Brasil
Estado brasileiro desconhece número de
homens e mulheres sem documentação civil
A ausência de documentação civil e trabalhista no Nordeste. A maior estimativa de bebês sem
atinge expressiva parcela da população brasileira. certidão de nascimento foi detectada em Roraima:
São homens e mulheres que não existem 43%. No entanto, esses números não dão conta de
oficialmente para o Estado brasileiro. Portanto, uma radiografia do problema da indocumentação
sem possibilidade de usufruir de direitos básicos (falta de documentos) no País.
garantidos pela Constituição Federal como
frequentar a escola, gozar da aposentadoria, ter São poucas as informações sobre a ausência de
acesso aos programas e benefícios sociais, marcar documentação civil e trabalhista no Brasil – só
consultas médicas pelo Sistema Único da Saúde o subregistro de nascimento é contabilizado. O
(SUS). As pessoas sem documentação também País desconhece quantas pessoas não possuem
estão impedidas de abrir conta bancária, de acessar carteira de identidade (RG), Cadastro de Pessoa
programas de crédito e linhas de financiamento, Física (CPF), Carteira de Trabalho e Previdência
de participar de programas habitacionais, de ter Social (CTPS), dentre outros documentos
posse da terra e até mesmo de votar. Essas são essenciais para o exercício dos direitos sociais e
algumas das dificuldades ocasionadas pela falta econômicos.
de documentação civil e trabalhista.
Diversos motivos contribuem para esse quadro:
Um dado que reflete essa realidade é o subregistro dispersão de órgãos emissores e a quantidade de
de nascimento. Em 2007, 12,2% dos bebês não documentos a serem emitidos, desconhecimento
tiveram seu nascimento registrado em cartório, da população de seus direitos civis e trabalhistas,
segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e distância dos centos urbanos onde se concentram
Estatística (IBGE). Os Estados onde há maior os órgãos emissores de documentos, custos de
subregistro de nascimentos estão no Norte e emissão, dentre outros.

PNDTR 
Programa Nacional de Documentação da Trabalhadora Rural

Mulheres do campo são


mais atingidas pela falta
de documentos

Além da distância geográfica dos órgãos


emissores de documentos e dos custos para
obter a documentação, desigualdades sociais
contribuem para a indocumentação das mulheres
trabalhadoras rurais. As mulheres enfrentam
barreiras adicionais, uma vez que o estado civil
condiciona o acesso à documentação, assim
como a chefia familiar por parte dos homens, falta
de reconhecimento social do trabalho feminino
como uma atividade econômica e o patriarcalismo
na legislação que regulamenta a emissão dos
documentos civis.

“As mulheres só podem


registrar os filhos nos
casos em que o pai esteja
ausente ou impedido de
encaminhar o documento”.

A chefia familiar, por exemplo, está presente na


emissão de Certidão de Nascimento. O pai é a
figura responsável pela declaração de nascimento
das crianças. O período para fazer a declaração
pode ser superior a 15 dias nos casos em que o
pai esteja ausente ou impedido de encaminhar o
documento. Somente nesta condição a mãe, ou o
parente mais próximo, poderá solicitar o registro
de nascimento em 45 dias.

O estado civil das mulheres também determina


a emissão da Carteira de Identidade. A mulher
casada, viúva ou separada judicialmente
deve, obrigatoriamente, apresentar a Certidão

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de Casamento, regra que não se aplica aos
requerentes do sexo masculino. Até meados da
década de 80, o principal documento utilizado
para declaração da identidade era a Certidão de
Casamento.

Para além dos aspectos jurídicos que cercam a


emissão de documentos civis, as relações sociais
atribuem à chefia familiar e o trabalho rural
como função masculina. Um exemplo é a filiação
sindical, reservada aos homens até os anos 80. As
mulheres rurais só tinham acesso à sindicalização
pela carteira do pai, do marido ou do irmão.

A falta de reconhecimento social, bem como de


autorreconhecimento do trabalho das mulheres
do campo, dificulta o registro da profissão. Na
hora de emitir a Carteira de Trabalho e Previdência
Social, muitas mulheres declaram-se como donas
de casa e não como trabalhadoras rurais.

Para superar essas barreiras, o Governo Federal,


desde 2004, implementou, de forma articulada
com a sociedade civil organizada e com os
movimentos de mulheres trabalhadoras do
campo, uma política pública que garante o acesso
das camponesas à documentação, o público mais
atingido pela indocumentação.

A documentação civil e trabalhista é uma condição


para promover a autonomia e a cidadania das
mulheres do campo. A partir da documentação,
as trabalhadoras rurais podem acessar políticas
públicas de reforma agrária, da agricultura familiar
e participar dos programas sociais do Governo
Federal, dentre outros direitos. A cada ano, mais
mulheres conquistam sua autonomia e o direito
de ser chamada de cidadã.

PNDTR 
Programa Nacional de Documentação da Trabalhadora Rural

Cronologia do Registro Civil no Brasil

1874 1888 1997


O Registro Civil no Brasil é O Decreto 9.886, de 7 de março, A Lei Nº 9.534, de 10 de
criado pelo Decreto 5.604, de determina a universalização dezembro, estabelece a
25 de abril, que regulamentou do Registro Civil. Esse decreto gratuidade para o Registro Civil
o registro civil de nascimentos, instituiu a obrigatoriedade de Nascimento. As pessoas
casamentos e óbitos. A partir de do registro de nascimento, de reconhecidamente pobres ficam
1875, algumas cidades (somente casamento e óbito em ofícios isentas do pagamento de taxas
os grandes municípios) do Estado, delegados ao setor pelas demais certidões extraídas
começaram a criar ofícios de privado. O Registro Civil deixa de pelo Cartório de Registro Civil.
registro civil, os chamados ser uma prerrogativa da Igreja
"cartórios de registro civil". Católica.

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Veja quando surgiram e como obter os principais
documentos civis e trabalhistas

Registro Civil de Nascimento e Certidão de Nascimento – O registro


é gratuito e feito no Cartório de Registro Civil da cidade onde a criança nasceu (somente nos primeiros 90 dias),
ou no cartório mais próximo de onde a família mora. A Certidão de Nascimento é o documento que a pessoa
recebe no cartório, de graça, com os dados do Registro Civil. Nos mutirões itinerantes do Programa Nacional de
Documentação da Trabalhadora Rural (PNDTR) também é emitida gratuitamente a Certidão de Nascimento.
Como obter o Registro Civil e a Certidão de Nascimento: Se os pais são casados, é preciso levar a Declaração
de Nascido Vivo (DNV) fornecida pelo hospital onde a criança nasceu e a Certidão de Casamento. Se os pais
não são casados, é preciso levar a DNV e um documento de identidade (Certidão de Nascimento, Carteira
de Identidade, etc). Nesse caso, é necessária a presença do pai e da mãe. Se o pai não puder comparecer, a
mãe só pode fazer o Registro Civil com o nome paterno se tiver uma procuração expressa do pai para este
fim específico. Se a mãe não tiver essa procuração, ela pode fazer o registro em seu nome apenas.
Se a criança não nasceu no hospital e não tem DNV, os pais devem comparecer ao cartório, acompanhados
por duas testemunhas maiores de idade, que confirmem o parto e a gravidez. Se os pais não são registrados,
devem, primeiramente, se registrar para depois registrar o filho. Se os pais são menores de 16 anos, deverão
comparecer ao cartório para fazer o registro acompanhados dos avós da criança, maternos e paternos, ou
de seus representantes legais.
O Registro Civil de adolescente (12 a 18 anos) e de adulto (maior de 18 anos) requer a presença de duas
testemunhas maiores de idade, que declarem conhecer a pessoa e confirmem sua identidade.

Carteira de Identidade – O Registro Geral (RG), mais conhecido como Carteira de


Identidade, foi criado em 1904 no Brasil. Trata-se do principal documento de identificação individual por
meio de fotografia e impressão digital.
Como obter: É necessário ter a Certidão de Nascimento ou a Certidão de Casamento, além de três fotos
de tamanho 3x4. Os órgãos de segurança do Estado, geralmente as Secretarias Estaduais de Segurança
Pública, são responsáveis pela emissão do RG. Cada Estado cobra uma taxa diferente e em muitos casos há
isenção de taxa na primeira via. Nos mutirões itinerantes do PNDTR, o documento é gratuito.

Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) – O CPF, antigo Cartão de Identificação do


Contribuinte (CIC), surgiu em 1970. É o registro do cidadão e da cidadã na Receita Federal brasileira. O
documento não é obrigatório, mas é necessário para a maior parte das operações financeiras (como
abertura de contas em bancos, por exemplo). A apresentação do CPF é obrigatória para participar do
Programa Nacional de Reforma Agrária e acessar programas de crédito rural, como o Pronaf.
Como obter: O CPF pode ser solicitado nas agências do Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Correios.
É preciso ter Certidão de Nascimento ou Carteira de Identidade e Título de Eleitora (pessoas maiores de 18
anos). O PNDTR emite gratuitamente o documento.

PNDTR 11
Programa Nacional de Documentação da Trabalhadora Rural

Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) – Instituída pelo


Decreto Nº 21.175, de 21 de março de 1932, e regulamentada pelo Decreto Nº 22.035, de 29 de outubro de
1932, a Carteira de Trabalho e Previdência Social tornou-se documento obrigatório para toda pessoa que
venha a prestar algum tipo de serviço, seja na indústria, no comércio, na agricultura, na pecuária ou mesmo
de natureza doméstica. O documento garante o acesso a alguns dos principais direitos trabalhistas, como
seguro-desemprego, benefícios previdenciários e Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

Como obter: É necessário Certidão de Nascimento ou Carteira de Identidade e apresentar duas fotos de
tamanho 3x4. A CTPS é emitida gratuitamente nas superintendências Regionais do Trabalho, nas agências
de Atendimento ao Trabalhador e nos municípios que possuem convênio com o Ministério do Trabalho e
Emprego. O PNDTR também fornece o documento.

Cadastro no INSS (Previdência Social) – O Instituto Nacional de Seguro Social


(INSS), criado em 1990, é responsável pela proteção social da trabalhadora no Brasil. É preciso estar
cadastrada no INSS para ter direito à aposentadoria, dentre outros benefícios da Previdência Social. As
mulheres trabalhadoras rurais também participam da Previdência como seguradas especiais. Ou seja,
trabalhadoras que produzem em regime de economia familiar, sem utilização de mão de obra assalariada.
Também são considerados segurados especiais a pescadora artesanal, as mulheres indígenas que
exercem atividade rural e os familiares que participam da produção (regime de economia familiar). As
seguradas especiais têm direito ao auxílio-doença, aposentadoria por invalidez, aposentadoria por idade,
aposentadoria por tempo de contribuição, salário-maternidade, pensão por morte e auxílio-reclusão.

Como se cadastrar: É necessário ter Carteira de Identidade ou Certidão de Nascimento ou de


Casamento ou CPF. Os postos do INSS são responsáveis pelo cadastro. O PNDTR também faz o registro no INSS.

Carteira de Pescadora (RGP) – O Registro Geral da Pesca (RGP), conhecido como


Carteira de Pescador ou Pescadora, foi instituído pelo Decreto-Lei Nº 221, de 28 de fevereiro de 1967, para
regulamentar a atividade pesqueira. O documento é essencial para que as mulheres que vivem da pesca
tenham direito ao auxílio-desemprego durante o defeso (período em que a pesca é proibida). Também é
essencial para comprovar a atividade pesqueira para fins de aposentadoria.
Em 29 de junho de 2009 foi sancionada a nova Lei da Pesca – N° 11.959, que dispõe sobre a Política Nacional
de Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura e da Pesca e regula as atividades pesqueiras, revogando o
decreto de 1967. A nova lei passa a considerar pescadoras e aquicultoras como produtoras rurais com direito
a créditos rurais (como o Pronaf ), com acesso a recursos mais baratos para financiar a produção. Também
reconhece como trabalhadoras da pesca as mulheres que desempenham atividades complementares à
pesca artesanal. Por exemplo, uma mulher que conserta redes de pesca passa a ter os mesmos direitos das
pescadoras.

Como obter: Para obter o registro de pescadora é necessário Certidão de Nascimento ou Carteira de
Identidade, CPF e cadastro no INSS (dispensado quando se tratar do primeiro registro junto ao Ministério
da Pesca e Aquicultura, órgão responsável pela emissão do documento). O PNDTR fornece a Carteira de
Pescadora.

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PNDTR 13
Programa Nacional de Documentação da Trabalhadora Rural

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Mutirões levam cidadania
para as mulheres do campo
Programa de documentação já beneficiou mais de
445 mil mulheres com a emissão de um milhão de
documentos
Promover a cidadania e autonomia das mulheres da necessidade de possuir a documentação,
do campo. Esses são os principais objetivos muitas vezes não têm condição financeira de arcar
do Programa Nacional de Documentação da com os custos necessários como taxas, fotografias
Trabalhadora Rural (PNDTR), que realiza mutirões e deslocamento.
itinerantes por todo o Brasil para fornecer,
gratuitamente, documentação civil e trabalhista Para superar essas dificuldades, todos os serviços
para as mulheres trabalhadoras da agricultura são gratuitos e realizados diretamente nas
familiar, assentadas da reforma agrária, áreas rurais. Para isso, o PNDTR envolve diversos
acampadas, ribeirinhas, extrativistas, indígenas, órgãos do governo federal e entidades parcerias
quilombolas entre outras. da sociedade civil. Por meio de um trabalho
conjunto com a Caixa Econômica Federal,
Criado em 2004 pelo governo federal, sob a Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Receita
coordenação do Ministério do Desenvolvimento Federal, Ministério da Justiça (MJ), Secretaria de
Agrário (MDA) e do Instituto Nacional de Políticas para as Mulheres (SPM), que coordena
Colonização e Reforma Agrária (Incra), o o II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres,
programa já beneficiou mais de 445 mil mulheres dentre outros parceiros, os mutirões emitem,
com a emissão de pouco mais de um milhão de principalmente, Certidão de Nascimento, Carteira
documentos (1,008 milhão) em 2004 municípios de Identidade (RG), Cadastro de Pessoa Física
brasileiros. São mulheres que vivem distantes dos (CPF), Carteira de Trabalho e Previdência Social
grandes centros, com dificuldade de acesso aos (CTPS), além da Carteira de Pescadora. Nos
cartórios e órgãos emissores de documentos e, em mutirões também é possível se cadastrar no
grande parte dos casos, sem ter conhecimento de Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e obter
seus direitos civis e trabalhistas. E, mesmo sabendo atendimento previdenciário.

PNDTR 15
Programa Nacional de Documentação da Trabalhadora Rural

Além de fornecer documentação civil e trabalhista, destaca Assunção Aguiar, técnica do Instituto de
o PNDTR desenvolve ações educativas voltadas Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado
às mulheres trabalhadoras rurais. O objetivo do Piauí (Emater-PI), que trabalhou no mutirão
é informar e sensibilizar para a importância no povoado de São Vitor, no município de São
da documentação, além de orientar, difundir Raimundo Nonato, no semiárido piauiense.
e capacitar o acesso das mulheres, a partir da
documentação, a políticas públicas, especialmente Os mutirões do PNDTR fazem parte de um
àquelas destinadas às trabalhadoras rurais como conjunto de ações do governo federal com foco
o Pronaf Mulher, assistência técnica, acesso nos 120 municípios dos Territórios da Cidadania.
à terra, apoio à organização produtiva e ao A maior parte da demanda está concentrada nas
desenvolvimento territorial com igualdade de
regiões Norte e Nordeste. Até julho de 2009, do
gênero.
total de atendimentos realizados, o Programa
de documentação beneficiou 390 municípios da
De posse dos documentos, as mulheres passam região Norte e 928 do Nordeste. A região Sudeste
a ser reconhecidas como cidadãs brasileiras é a terceira mais atendida, com 274 municípios
e podem participar do Programa de Reforma
beneficiados. Embora direcionado às mulheres
Agrária e dos programas da agricultura familiar,
trabalhadoras rurais, qualquer pessoa pode
como o Programa Nacional de Fortalecimento
requerer documentos e participar das atividades
da Agricultura Familiar (Pronaf), e dos programas
educativas nos mutirões.
sociais do Governo Federal e dos benefícios da
previdência social, como aposentadoria e salário-
maternidade, dentre outros direitos. Ao completar cinco anos de existência, o PNDTR
contabiliza desafios, avanços, conquistas e,
principalmente, a satisfação de contribuir para a
Grito de liberdade melhoria da qualidade de vida de mulheres antes à
margem da sociedade. Viabilizar a documentação
“O mutirão é um momento único, uma porta civil da mulher do campo proporciona que ela se
que se abre. As mulheres estão dando um torne de fato uma cidadã e busque seus direitos. É
grito de liberdade a partir da documentação”, um novo cenário que se constrói no Brasil.

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Gestão: participação e controle social

O Programa Nacional de Documentação da Tra-


balhadora Rural (PNDTR) é coordenado pelo Mi-
nistério do Desenvolvimento Agrário, por meio da
Assessoria Especial de Gênero, Raça e Etnia (Ae-
gre), e pelo Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (Incra), por intermédio da Direto-
ria de Projetos de Desenvolvimento em Assenta-
mentos. O PNDTR atua em parceria com diversos
órgãos do Governo Federal. Também integram o
Programa, mediante os comitês gestores nacional
e estaduais, entidades dos movimentos sociais de
mulheres rurais, além de representantes de ór-
gãos governamentais estaduais e municipais.

“São vários órgãos governamentais, entidades ci-


vis e movimentos sociais atuando conjuntamente
para promover a cidadania das mulheres traba-
lhadoras rurais. Os comitês contribuem decisiva-
mente para o planejamento das ações do progra-
ma, além de oferecer transparência e possibilitar
a participação e o controle social da sociedade,
especialmente das mulheres do campo”, explica a
coordenadora da Aegre/MDA, Andrea Butto.

movimentos sociais parceiros DO PNDTR:


Secretaria Nacional das Mulheres Trabalhadoras
Parceiros governamentais do PNDTR: Rurais da Confederação Nacional dos Trabalhado-
Ministério do Desenvolvimento Social e Comba- res na Agricultura (Contag), Secretaria da Mulher
te à Fome (MDS), Ministério da Justiça (MJ), Mi- Extrativista (CNS), Movimento Interestadual das
nistério do Trabalho e Emprego (MTE), Ministério Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), Movimen-
da Pesca e Aquicultura (MPA), Secretaria Especial to das Mulheres Camponesas (MMC), Movimento
de Políticas para as Mulheres (SPM), Secretaria das Mulheres Trabalhadoras Rurais do Nordeste
Especial de Direitos Humanos (SEDH), Secretaria (MMTR-NE), Federação dos Trabalhadores na Agri-
Especial de Políticas de Promoção da Igualdade cultura Familiar (Fetraf), Setor de Gênero do Movi-
Racial (Seppir), Instituto Nacional do Seguro So- mento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST),
cial (INSS), Secretarias de Segurança Pública dos Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Co-
governos estaduais, Receita Federal, Caixa Eco- ordenação Nacional de Articulação das Comuni-
nômica Federal, Banco do Nordeste dades Negras Rurais Quilombolas (Conaq).

PNDTR 17
Programa Nacional de Documentação da Trabalhadora Rural

Expresso Cidadã amplia


documentação das mulheres
do campo
22 ônibus serão entregues até o final do ano, com
investimento de R$ 11,2 milhões
A ampliação da oferta dos serviços e do atendimen- Cada unidade, pintada na cor lilás em homenagem
to são preocupações constantes do MDA e do Incra à luta das mulheres por autonomia e direitos iguais,
para que o Programa Nacional de Documentação possui balcões de atendimento e equipamentos
da Trabalhadora Rural (PNDTR) beneficie cada vez que possibilitam o trabalho de todos os parceiros
mais mulheres. Até o fim do ano, o Programa terá na emissão de documentos como computadores
22 unidades-móveis para reforçar os mutirões de conectados à internet via satélite, impressoras, má-
documentação, com investimento superior a R$ quinas de fotografia, scanner e plastificadora de
11,2 milhões. Trata-se do Expresso Cidadã, ônibus documentos. Também são equipados com micro-
adaptado para a emissão on-line de documentos fone, projetor e televisão. Estes equipamentos per-
civis e trabalhistas, como Certidão de Nascimento, mitem a realização de atividades educativas, como
Carteira de Identidade, CPF, Carteira de Trabalho e palestras e oficinas de capacitação para acessar os
Previdência Social, Registro de Pescadora e cadas- programas de reforma agrária e agricultura fami-
tro no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), liar, dentre outros temas de interesse das trabalha-
além de atendimentos previdenciários. doras rurais.

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Em 2010, o PNDTR contará com 30 unidades-
móveis, sendo dois barcos adaptados para levar
Arco Verde Terra Legal
documentos às comunidades ribeirinhas e de
O Expresso Cidadã também integra as ações do
difícil acesso nos estados do Amazonas e Pará. Mutirão Arco Verde Terra Legal, lançado pelo Go-
As unidades terrestres (ônibus e microônibus) verno Federal em junho de 2009, em Alta Floresta
começaram a ser testadas em 2007, em uma ação (MT), município do Território da Cidadania Portal
conjunta com os governos do Pará e Piauí. da Amazônia. O Mutirão, coordenado pela Casa
Civil e pelos ministérios do Desenvolvimento
A primeira unidade foi lançada em abril de Agrário (MDA) e do Meio Ambiente (MMA), com-
2008, no Pará. A cidade escolhida para a estreia bina acesso a direitos e cidadania com ações de
do Expresso Cidadã foi Marabá, município do regularização fundiária e combate à grilagem de
Território da Cidadania Sudeste Paraense. Em terras nos 43 municípios onde são registrados os
outubro, o Piauí aderiu ao projeto. Um microônibus maiores índices de desmatamento da Floresta
foi adaptado para atender as mulheres do Estado. Amazônia. Estes municípios estão localizados no
O assentamento Recanto Santo Antônio, próximo Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondô-
de Teresina, foi o local escolhido para o início das nia e Roraima.
atividades da unidade-móvel.
Uma destas iniciativas do Mutirão é o cadastro
de posseiras (os) que ocupam áreas não destina-
No semiárido piauiense, a trabalhadora rural Maria
das da União e desejam obter titulação da terra.
do Socorro Silva, moradora do povoado São Vítor, Esta ação é desenvolvida por meio do Terra Legal
em São Raimundo Nonato, município do Território Amazônia. Coordenado pelo Ministério do De-
da Cidadania Serra da Capivara, foi beneficiada senvolvimento Agrário (MDA) e desenvolvido em
pelo Expresso Cidadã. “Foi bom demais, porque parceria com estados e municípios, o Programa
antigamente para tirar documento tinha que ir regulariza posses rurais de até 15 módulos fiscais
até São Raimundo. Passava dia enfrentando fila e nos nove estados da Amazônia Legal.
às vezes nem dava tempo de fazer o documento,
porque é muita gente. Vindo nas localidades, é No cadastramento do Terra Legal são exigidos do-
muito mais fácil. Agora estou independente.” cumento de identificação com foto e CPF (pessoal
e do cônjuge) .
A inovação representa modernidade, agilidade e
redução de custos. Além de transportar as equipes,
reduzindo gastos com transporte e facilitando
o deslocamento, os servidores e servidoras
que atuam nos mutirões não necessitam mais
se preocupar com local para atendimento e
equipamentos para trabalhar. A economia de
tempo permite ampliar o número de documentos
emitidos e de mulheres beneficiadas, melhorando
a eficiência dos mutirões.

Além das unidades do Pará e Piauí, 13 estados


já receberam os ônibus do Expresso Cidadã:
Pará/Marabá (segunda unidade), Tocantins, Acre,
Rondônia, Ceará, Bahia, Maranhão, Pernambuco,
Paraíba, Rio Grande do Norte, Mato Grosso,
Minas Gerais e Roraima. Até o fim de 2009, serão
entregues as unidades do Amapá, Sergipe, Goiás,
Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo,
Espírito Santo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

PNDTR 19
Programa Nacional de Documentação da Trabalhadora Rural

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Documentação abre novas
perspectivas para as mulheres
do campo

“Eu tenho orgulho de ser uma índia brasileira que É o caso da piauiense Vanícia Pereira, 20 anos, tra-
pode mostrar seus documentos. Eu consegui con- balhadora rural no povoado Olho D’água, situado
cluir a escola e pretendo fazer faculdade de agro- pouco mais de dois quilômetros de Dirceu Arcover-
nomia”, afirma Raiana Peixoto, 18 anos, estudante de, município do Território da Cidadania Serra da Ca-
e trabalhadora rural que mora no povoado Vila São pivara, no Piauí. “Em todo lugar e para tudo se pede
Francisco, em Bonfim, município do Território da Ci- nossa documentação completa. Só com documen-
dadania Raposa Terra do Sol e São Marcos, em Ro- tos é que a gente tem acesso a outros direitos.”
raima.
Vanícia foi beneficiada pelo Programa Nacional de
O orgulho de Raiana de ser cidadã brasileira, de co- Documentação da Trabalhadora Rural (PNDTR) e
nhecer seus direitos e de buscar sua autonomia é recebeu, no mesmo dia, a Carteira de Identidade.
compartilhado por milhares de mulheres de todo “Para tirar o RG, eu teria que gastar quase R$ 30,00
o País que foram beneficiadas pelos mutirões de com foto e passagem de ônibus para o município de
documentação. Mulheres que, ao obter seus do- São Raimundo Nonato (a mais de 40 quilômetros de
cumentos pessoais, passaram efetivamente a fazer casa). Com o mutirão, recebi o documento em pouco
parte do rol de cidadãs brasileiras e sentem-se valo- tempo e sem pagar nada. Esse programa é bom de-
rizadas e capazes de mudar o rumo de suas vidas. mais”, comemora.

PNDTR 21
Programa Nacional de Documentação da Trabalhadora Rural

Futuro melhor
A trabalhadora rural Luzimara Silva, 42 anos, mo-
radora da comunidade quilombola Pitombeira,
localizada em Vázea, município do Território da
Cidadania Médio Sertão, na Paraíba, planta milho,
hortaliças, feijão, batata, entre outros alimentos
para a subsistência da família e da comunidade. A
agricultora foi beneficiada pelo mutirão, obteve a
Carteira de Identidade e se inscreveu na Previdên-
cia Social. “A realização do mutirão foi uma grande
oportunidade para nós que vivemos no quilombo.
Um dia muito bonito e importante, porque nós
precisamos nos organizar para ter uma vida melhor
no futuro. Por isso eu me inscrevi na previdência,
para ter direito a me aposentar e ter uma vida mais
tranquila e segura”. Para Luzimara, o programa de
documentação precisa crescer e atender mais mu-
lheres.

As irmãs Sidnéia, 16 anos, e Claudinéia Morais Rie-


del, 17 anos, moram com o avô no assentamento
Boa Sorte, no município de Itaquiraí, no Territó-
rio da Cidadania Cone Sul, no Mato Grosso do
Su, aproveitaram o mutirão e tiraram Carteira de
Identidade, CPF e Carteira de Trabalho. Além disso,
assistiram às palestras para se informar sobre pla-
nejamento familiar e violência doméstica. “O Pro-
grama ajudou não apenas nós duas, mas todas as
pessoas do assentamento”, diz Sidnéia.

Acesso a direitos
O PNDTR possibilitou a pescadora Maria de Nazaré
Paixão Matos, 52 anos, de Esperantina, município
do Território da Cidadania Bico do Papagaio, no To-
cantins, fazer o Registro de Pescadora e regularizar
sua atividade profissional. Hoje, Maria de Nazaré
tem direito ao auxílio-desemprego no período do
defeso, quando é proibido pescar. Ela recebe um
salário mínimo por quatro meses. “É uma ajuda
muito importante para nós, porque não podemos
ter renda com a pesca no defeso”, explica.

Maria de Nazaré e outras mulheres que vivem da


pesca no município integram a Colônia de Pesca-

22 www.mda.gov.br
dores e Pescadoras de Esperantina. Branquinha,
traíra, piranha e bodó estão entre os principais pes-
cados da região.

Organização
Maria da Penha Zambon, liderança de Barra de São
Francisco, município do Território da Cidadania
Norte, no Espírito Santo, comemora o mutirão reali-
zado em sua região. “Foi um trabalho muito bonito,
muito importante para nós.” Maria da Penha conti-
nua orientando as mulheres da região a buscar sua
documentação e informações sobre seus direitos.
“Muitas pessoas não entendiam como fazer e nem
sabia o porquê da necessidade de ter os documen-
tos pessoais”, ressalta.

O fato de obter o documento sem nenhum custo,


inclusive com a fotografia 3x4 é um grande dife-
rencial do Programa. “Não ter que pagar ajudou
bastante”, explica Maria da Penha. Ela lembra que,
após o mutirão, as mulheres de sua região muda-
ram de atitude. “Agora elas estão procurando co-
nhecer seus direitos. Estão se organizando para ter
acesso aos benefícios”, explica.

O mutirão foi realizado em Barra do São Francisco


no segundo semestre de 2008, mas Maria da Penha
continua atuando junto às trabalhadoras. “Visito as
comunidades para levar novas informações e noto
que as mulheres estão bem mais felizes e também
mais qualificadas para o trabalho. O mutirão trouxe
uma mudança muito grande na comunidade. Foi
um grande incentivo para as trabalhadoras.”

Maria da Penha observa que, após a realização de


mutirões, a procura pelos sindicatos de trabalha-
dores rurais aumentou, o que indica um maior in-
teresse na organização e articulação das mulheres.
“Todos os municípios brasileiros deveriam fazer
mutirões da documentação. Eles ajudam muito na
organização das trabalhadoras rurais.”

PNDTR 23
Programa Nacional de Documentação da Trabalhadora Rural

A satisfação de levar
cidadania
Histórias vivenciadas emocionam homens
e mulheres que atuam nos mutirões
O Programa Nacional de Documentação da emocionantes e muito diversas do que estão
Trabalhadora Rural (PNDTR) não traz benefícios acostumados a vivenciar.
apenas para as mulheres atendidas. Os servidores
e servidoras dos diversos órgãos parceiros que O número de mulheres atendidas por dia
trabalham nos mutirões também se sentem normalmente é grande e o trabalho, cansativo.
realizados por proporcionar um direito tão Mas ver homens e mulheres de diferentes idades
importante e essencial para o exercício da e experiências de vida comemorando o fato de
cidadania: a documentação civil e trabalhista obter sua documentação, situação considerada
comum nas cidades, é muito gratificante.
das mulheres rurais.
Isso faz com que o trabalho proporcione um
grande aprendizado. As equipes se revezam a
Nos mutirões, os funcionários e funcionárias têm cada mutirão. Dessa forma, mais servidores e
a oportunidade de ir a campo e a cada viagem servidoras têm a oportunidade de viver essa
se deparam com uma realidade diferente, com rica experiência e também de repassar seus
novos desafios e, principalmente, com histórias conhecimentos à população.

24 www.mda.gov.br
José Maria destaca a receptividade por onde pas-
sam os mutirões. “Aonde chegamos somos rece-
bidos com alegria. A comunidade toda demons-
tra muita satisfação.” Sentimento que motiva as
equipes a desenvolver um trabalho cada vez mais
eficiente. “Às vezes fazemos até 400 carteiras de
Identidade por dia. E temos que ter muito cui-
dado no trato, na forma de falar, porque lidamos
com pessoas de muita sensibilidade. Mas os fun-
cionários e funcionárias que participam gostam
mesmo do trabalho.”

“Algumas mulheres têm as mãos tão calejadas pelo


trabalho pesado que é complicado fazer a leitura da digital.
Chegam cansadas, queimadas do sol. Quando entregamos
a Carteira de Identidade é uma alegria.”

Chuva no sertão
“É uma chuva no sertão!” Assim o agente de po-
lícia José Maria da Silva descreve o mutirão de
documentação. Ele, que é um dos coordenado-
res do trabalho pelo Instituto de Identificação da
Polícia Civil de Minas Gerais, faz essa afirmação
baseando-se nas histórias que vivenciou em cer-
ca de quatro anos participando dos mutirões. “É
uma conquista muito grande para essas mulhe-
res”, ressalta.

José Maria coleciona histórias emocionantes. E


afirma que por mais que tenha se acostumado em
ver locais de extrema precariedade e pobreza, ain-
da se comove e sente imensa satisfação em ajudar
as pessoas. “Algumas mulheres têm as mãos tão
calejadas pelo trabalho pesado que é complicado
fazer a leitura da digital. Chegam cansadas, quei-
madas do sol. Quando entregamos a Carteira de
Identidade é uma alegria. Elas se tornam cidadãs
de verdade”, salienta.

Ele tem certeza de que, se não fosse o mutirão, a


maioria das mulheres atendidas nunca teria aces-
so à documentação. “Elas não teriam como pagar
pelos documentos, já que o gasto não é apenas
com as taxas referentes a eles. Tem que tirar a foto
3x4 e também se deslocar para alguma cidade
próxima. É muito complicado.”

PNDTR 25
Programa Nacional de Documentação da Trabalhadora Rural

26 www.mda.gov.br
Demanda por documentação
é antiga luta dos movimentos
sociais
Tema ganhou repercussão nacional
com campanha em 1997

A demanda por acesso à documentação civil é uma Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
antiga luta dos movimentos sociais, especialmente Terra (MST), a Federação dos Trabalhadores na
das mulheres do campo, uma vez que várias Agricultura Familiar (Fetraf) e o Movimento dos
conquistas sociais e trabalhistas obtidas com a Pequenos Agricultores (MPA), demandaram a
Constituição Federal de 1988 não se efetivaram universalização do acesso à documentação civil e
para significativa parcela da população brasileira trabalhista para as mulheres rurais.
em decorrência da falta de documentos. Ou seja,
homens e mulheres que não existem oficialmente Parceria com os
e, portanto, não têm acesso a direitos garantidos movimentos sociais
pelo Estado brasileiro.
Desde 2004, o Governo Federal desenvolve
O tema da falta de documentação das mulheres o Programa Nacional de Documentação da
trabalhadoras rurais ganhou repercussão no Trabalhadora Rural (PNDTR) em parceria dos
País em 1997, quando a Articulação Nacional de movimentos sociais, especialmente de mulheres
Trabalhadoras Rurais (ANMTR) lançou a Campanha do campo. Além de parceiros do Programa,
Nacional de Documentação da Trabalhadora os movimentos sociais contribuem com sua
Rural com o lema “Nenhuma Trabalhadora Rural experiência no planejamento, avaliação,
sem Documento”. As trabalhadoras do campo fiscalização e monitoramento do Programa.
passaram a sensibilizar o movimento sindical rural,
ONGs, igrejas e os governos Federal, estaduais e Pela primeira vez na história do Brasil, governos e
municipais em torno da campanha. sociedade trabalham em conjunto para promover
a cidadania das mulheres trabalhadoras rurais.
Na primeira edição da Marcha das Margaridas Além de participar dos mutirões, os movimentos
(principal manifestação das trabalhadoras rurais), sociais atuam na mobilização das trabalhadoras
realizada em 2000, a demanda por documentação rurais e nas ações educativas do Programa. Além
foi o primeiro item da pauta de reivindicações. do acesso à documentação civil e trabalhista, o
PNDTR tem por objetivo promover a autonomia
Mais recentemente, os movimentos sociais, das mulheres, oferecendo capacitação para que
particularmente durante a Marcha das possam acessar os programas de reforma agrária,
Margaridas de 2007, e demais jornadas de assistência técnica, crédito rural, abrir conta
lutas de movimentos sociais mistos, como o bancária, dentre outras ações emancipatórias.

PNDTR 27
Programa Nacional de Documentação da Trabalhadora Rural

Pronaf Mulher nica e comercialização. As mulheres não depen-


dem mais de ninguém”, afirma Lisete, ao celebrar
Rosalina da Silva, integrante da coordenação da as conquistas das trabalhadoras rurais.
Federação dos Trabalhadores na Agricultura do
Piauí (Fetag/PI), afirma que o Programa criado Mobilização Social
pelo Governo Federal é de grande importância
para as mulheres do campo tornarem-se cidadãs Crhystiane Souza Moreira, coordenadora estadual
e sentirem-se donas de suas vidas. “Acompanha- do Movimento de Mulheres Camponesas do Pará
mos os mutirões para possibilitar a documen- (MMC), que integra a Via Campesina, ressalta a
tação dessas mulheres. Assim, elas têm acesso a importância de o Governo Federal executar, em
outros benefícios ao serem reconhecidas como parceria com os movimentos sociais, políticas
cidadãs, como o Pronaf Mulher, que é um crédito públicas de documentação, crédito, assistência
técnica, acesso à terra, dentre outras ações
específico para as mulheres trabalhadoras rurais.”
voltadas às mulheres do campo. “Essa é uma
luta de muitos anos das mulheres e que precisa
Política Pública continuar. A documentação é a porta de entrada
das mulheres para a cidadania.”
Lisete Maria da Silva, diretora do Movimento da
Mulher Trabalhadora Rural Nordeste (MMTR-NE), A coordenadora do MCC ressalta a mobilização
lembra que o Governo Federal fortaleceu as ações social que acorre em torno do PNDTR.
de documentação dos movimentos sociais ao im- “Mobilizamos sindicatos rurais, movimentos
plementar esta política pública voltada às mulhe- sociais, prefeituras, lideranças locais, rádios
res do campo. “Antes, as mulheres dependiam do e jornais durante os mutirões. Há toda uma
marido até na documentação, pois não tinham articulação e sensibilização da sociedade para
consciência da importância dos documentos. garantir a dignidade e autonomia das mulheres
Não podiam se aposentar, acessar o Pronaf e ou- do campo. Essa articulação é importante para
tras políticas. Hoje, as trabalhadoras do campo fortalecer a luta das mulheres camponesas.”
têm a sua cidadania garantida e autonomia eco-
nômica.” Os movimentos sociais, sindicatos rurais,
federações de agricultores e agricultoras
A partir dos mutirões de documentação, o MMTR- contribuem para que o trabalho realizado durante
NE incentiva a organização produtiva das traba- os mutirões tenha continuidade. O repasse
lhadoras rurais. “Temos vários núcleos de produ- constante de informações e o apoio para que as
ção de mulheres em agroecologia e artesanato mulheres se organizem são essenciais para que os
com acesso a políticas de crédito, assistência téc- objetivos do PNDTR sejam alcançados.

28 www.mda.gov.br
Ações educativas
promovem autonomia
das mulheres do campo
Encontros mobilizam mulheres a se organizar
e lutar por seus direitos
O acesso à documentação civil e trabalhista é o Para atingir estes objetivos, o PNDTR promove,
primeiro passo do Programa Nacional de Docu- juntamente com os mutirões de documentação,
mentação da Trabalhadora Rural (PNDTR) para ações educativas para a conscientização das mu-
promover a cidadania e a autonomia das mulhe- lheres. Esse trabalho vem sendo aperfeiçoado ao
res do campo. Mas a cidadania plena não é con- longo dos anos, de forma a ser cada vez mais efi-
quistada somente com a documentação. É preciso ciente na promoção da cidadania das mulheres do
campo. O objetivo é informar e sensibilizar sobre
que as trabalhadoras rurais saibam da importân-
a importância da documentação, além de orien-
cia dos documentos e, a partir da documentação,
tar, difundir e capacitar as trabalhadoras rurais a
busquem seus direitos sociais e econômicos como
acessar o Programa Nacional de Reforma Agrária e
aposentadoria, conta bancária, políticas de crédito políticas públicas da agricultura familiar. As ações
rural, posse da terra, assistência técnica, organiza- educativas também orientam as trabalhadoras a
ção produtiva, comercialização da produção, den- produzir e gerar renda para conquistar sua auto-
tre outras políticas públicas. nomia, a acessar benefícios da Previdência Social

PNDTR 29
Programa Nacional de Documentação da Trabalhadora Rural

e a combater a violência contra a mulher, dentre e informação bastante direcionado”, explica Edna.
outros temas que dialogam com a realidade da
mulher do campo. A comprovação de exercício da atividade rural
pode ser feita com um dos seguintes documentos:
Para mobilizar um número maior de mulheres, o contrato de arrendamento contemporâneo, par-
Programa realiza reuniões preparatórias na véspe- ceria ou comodato rural; comprovante de cadastro
ra dos mutirões de documentação com lideranças do Instituto Nacional de Colonização e Reforma
locais, movimentos sociais e trabalhadoras rurais. Agrária (Incra); bloco de notas de produtor rural
O objetivo é capacitar mulheres das próprias co- e/ou nota fiscal de venda realizada por produtor
munidades para que atuem na mobilização e or- rural; declaração de sindicatos de trabalhadores
ganização das trabalhadoras rurais de forma con- rurais, de pescadores ou colônia de pescadores
tinuada. devidamente registrada no Instituto Brasileiro de
Meio Ambiente (Ibama), como também declara-
A mobilização apresenta resultados. Após dois ção fornecida pela Fundação Nacional do Índio
anos atuando nos mutirões, Edna Cristina Martins, (Funai), homologada pelo INSS.
gestora da unidade-móvel da Gerência Executi-
va do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) Para 2009, foram definidos temas comuns a serem
em Anápolis (GO), percebe que a demanda pelos tratados em todos os mutirões e temas opcionais,
benefícios oferecidos pelo Governo Federal tem conforme a necessidade das mulheres de cada re-
aumentado. “As trabalhadoras estão percebendo gião. Os temas permanentes abordam a luta das
que têm direitos e se informando de como po- mulheres rurais e as políticas públicas; políticas
dem ter acesso a eles. Um exemplo comum é que públicas para as mulheres rurais de acesso a terra
muitas já têm direito à aposentadoria, mas por e apoio à produção; as desigualdades entre mu-
não ter carteira de trabalho acreditam que não lheres e homens e sua relação a documentação;
podem usufruir do benefício. Depois do mutirão, importância, uso e conservação da documentação
providenciam a documentação necessária para se civil e trabalhista; direitos previdenciários e violên-
aposentar.” cia contra a mulher. Os temas opcionais tratam de
políticas sociais, saúde da mulher, agroecologia,
Essa mudança de comportamento pode ser credita- gênero e raça, gênero e semiárido, organização e
da às ações educativas. “É um trabalho de educação gestão produtiva.

30 www.mda.gov.br
Parcerias aumentam eficiência das ações educativas
Para fortalecer as ações educativas, o PNDTR firmou parceria com a Sempreviva Organização Feminista
(SOF) e com o Centro Feminista 8 de Março (CF8). Segundo Neuza Tito, técnica de formação da SOF,
uma das estratégias da organização será apoiar parcerias que contribuam para aproximar e melhorar o
diálogo entre lideranças das comunidades e as trabalhadoras rurais. “Queremos formar monitoras
locais que atuem não só durante os mutirões, mas que possam dar continuidade tanto na articula-
ção quanto na formação das mulheres. Assim, conseguiremos um interesse contínuo e o maior aces-
so das mulheres do campo às políticas públicas, promovendo a cidadania plena das trabalhadoras
camponesas”, destaca Neuza.

Arte e cidadania
O teatro é a maneira encontrada pelo Centro
Feminista 8 de Março (CF8) para promover a ci-
dadania das mulheres que participam dos mu-
tirões de documentação. A entidade promove
apresentações teatrais somente com mulheres,
explicando de forma lúdica e didática, a impor-
tância dos documentos e como proceder para
acessar políticas públicas voltadas às trabalha-
doras do campo. “Mostramos as mulheres como
protagonistas de suas vidas. Mulheres que pas-
sam a ter direitos e a exercer a cidadania a partir
da documentação”, reforça Conceição Dantas,
coordenadora técnica do CF8.

Conceição destaca o alcance do PNDTR. “O Pro-


grama tem um impacto muito grande na vida
dessas mulheres, que não eram reconhecidas
perante o Estado. Após a documentação, elas
passam a ter conta bancária, crédito no merca-
do e a comercializar sua produção, pois é preciso
CPF para dar recibo”, exemplifica.

A parceria do PNDTR com a SOF e CF8 possibilita-


rá o atendimento de mulheres do campo em 84
Territórios da Cidadania, a maioria no Nordeste.

PNDTR 31
Programa Nacional de Documentação da Trabalhadora Rural

32 www.mda.gov.br
Expresso Cidadã ampliará
concessão de benefícios da
Previdência Social
Parceria com INSS leva serviços e educação
previdenciária para as trabalhadoras rurais
Acordo de cooperação firmado em agosto de 2009
entre o Ministério do Desenvolvimento Agrário
(MDA), o Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (Incra) e o Instituto Nacional
do Seguro Social (INSS) vai ampliar o acesso das
mulheres do campo aos benefícios e serviços
previdenciários, fortalecendo ações de educação
previdenciária no âmbito do Programa Nacional de
Documentação da Trabalhadora Rural (PNDTR).

Servidores e servidoras do Instituto Nacional


do Seguro Social vão orientar as beneficiárias
nos mutirões de documentação sobre questões
relativas à Previdência Social. Durante o
atendimento, serão esclarecidas dúvidas quanto
a aposentadoria, pensão e outros benefícios.

As trabalhadoras do campo também serão


cadastradas na Previdência. Elas se enquadram
como seguradas especiais. Ou seja, que produzem
em regime de economia familiar, sem utilização de
mão-de-obra assalariada. As seguradas especiais
e seus dependentes têm direito a auxílio-doença,
aposentadoria por invalidez, aposentadoria por
idade, salário-maternidade, pensão por morte,
auxílio-reclusão e auxílio-acidente.

O trabalho, fruto do acordo, é executado em


todo o Brasil, especialmente nos municípios
que compõem os Territórios da Cidadania.
Prioritariamente são beneficiadas trabalhadoras
rurais, assentadas da reforma agrária, mulheres
quilombolas, extrativistas, pescadoras artesanais,
mulheres indígenas e ribeirinhas.

PNDTR 33
Programa Nacional de Documentação da Trabalhadora Rural

Ampliação dos atendimentos


As unidades-móveis do PNDTR (Expresso Cida- Para Everaldo Bernardes de Oliveira, chefe da Di-
dã), com o apoio do INSS, possibilitarão ampliar visão de Gerenciamento da Educação Previdenci-
os atendimentos previdenciários para mulheres ária da Coordenação de Educação Previdenciária
do campo. Isto é, além de cadastrar as mulheres do INSS, a parceria é importante para promover
no Regime Geral da Previdência Social, as equi- a cidadania das mulheres do campo, informar e
pes do INSS passarão a receber e a encaminhar conscientizá-las acerca de direitos e deveres. A fi-
a documentação necessária para conceder apo- nalidade é assegurar a proteção social, por meio
sentadoria às trabalhadoras rurais, além de bene- da inclusão e permanência na Previdência Social, e
fícios previdenciários. divulgar os canais de acesso aos serviços do INSS.

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PNDTR 35
Programa Nacional de Documentação da Trabalhadora Rural

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