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ANÁLISE INSTITUCIONAL DA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO EM MUNDOS PEQUENOS

ESTRATÉGIA E
ORGANIZALÇÕES

24 FACES R. Adm. · Belo Horizonte · v. 7 · n. 1 · p. 25-43 · jan./mar 2008


LUCIANO ROSSONI, M.A. . CLÓVIS L. MACHADO-DA-SILVA, PH. D.

ESTRATÉGIA E ORGANIZAÇÕES

ANÁLISE INSTITUCIONAL DA CONSTRUÇÃO DO


CONHECIMENTO CIENTÍFICO EM MUNDOS PEQUENOS1
INSTITUTIONAL ANALYSIS OF THE CONSTRUCTION OF SCIENTIFIC KNOWLEDGE
IN SMALL WORLDS

Luciano Rossoni

Clóvis L. Machado-da-Silva

RESUMO
O objetivo do presente artigo foi verificar como a estrutura de relacionamento no campo da
pesquisa em organizações e estratégia no Brasil condiciona a construção do conhecimento
científico nesse campo social. Por meio da análise de redes e com o apoio da análise de
conteúdo, foram avaliados 2.332 artigos publicados entre os anos de 1997 e 2005. Com
base na vertente estruturacionista da perspectiva institucional de análise, examinamos a
influência das relações entre autores na persistência e mudança de temáticas no decorrer
do tempo. Verificamos que o campo apresenta uma configuração do tipo mundos peque-
nos (small worlds), o que lhe garante capacidade de persistência institucional em momen-
tos de grande crescimento. Apesar de a rede não ser completamente conectada, observa-
mos alto grau de homogeneidade dentro dos agrupamentos, mesmo em face da ocorrên-
cia de heterogeneidade de temas de pesquisa no campo como um todo. Tal constatação
indica que a imersão em grupos sociais condiciona o que é legitimamente aceito no campo
científico. A configuração estrutural nos moldes de mundos pequenos possibilita que o
campo mantenha significados compartilhados, garantindo durabilidade dinâmica às institui-
ções.

ABSTRACT
The purpose of this article was to verify how the structure of relationships in the field of
research in organizations and strategy in Brazil makes the construction of scientific knowled-
ge in the social field.
Through the analysis of networks and with support from the content analysis, 2332 articles
published between the years 1997 and 2005 were assessed.
Based on the structural element of the institutional perspective of analysis, we examined the
influence of relations between authors in the persistence and the thematic change over the
time.

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We verified that the field shows a configuration from the type Small Worlds, which guaran-
tees persistence of institutional capacity in times of great growth. Although the network is
not completely connected, we observed high degree of homogeneity within the groups
even in the occurrence of heterogeneity of research themes in the field as a whole.
This observation indicates that the immersion into social groups turns out to be legitimately
accepted in the scientific field.
The structural configuration in the form of Small Worlds allows the field to have shared
meanings, ensuring dynamic durability to the institutions.

PALAVRAS-CHAVE
Campo científico. Estratégia em organizações. Estudos organizacionais. Redes sociais. Teo-
ria institucional.

KEYWORDS
Science. Strategy in organizations. Organizational studies. Social networks. Institutional theory.

INTRODUÇÃO gressos acadêmicos nacionais no campo de co-


nhecimento em referência no período compreen-
Relações sociais têm papel fundamental na
dido entre 1997 e 2005.
construção de significados. Essa constatação leva
muitos institucionalistas a considerarem os siste- A perspectiva longitudinal de análise adotada
mas relacionais como condutores das instituições possibilitou verificar a dinâmica das redes de rela-
(SCOTT, 2001). Na perspectiva da sociologia do cionamentos com o desenvolvimento do campo
conhecimento, Leydesdorff (2007) realça a im- da pesquisa em organizações e estratégia no País.
portância de se entenderem as relações entre Por sua vez, a abordagem estruturacionista da te-
pesquisadores para se compreender a cognosciti- oria institucional foi utilizada para compreender a
vidade dos autores de textos científicos. Assim, capacidade de agência dos autores e o seu exer-
relações entre autores e padrões estruturados de cício em relação recorrente com a estrutura de
cognição constituem fenômenos interligados (MA- relações dos sistemas sociais. Os indicadores le-
CHADO-DA-SILVA; ROSSONI, 2007). vantados para orientar o estudo decorreram do
Nessa linha de raciocínio, ganha relevância o pressuposto de que há ligação entre a microdinâ-
pressuposto de que as relações entre autores cor- mica do comportamento em nível local dos auto-
relaciona-se com a produção do conhecimento res com as propriedades globais da rede.
científico em um campo de conhecimento. Com Conforme afirmam Machado-da-Silva, Guari-
base nesse pressuposto, o objetivo do presente do Filho e Rossoni (2006), o campo científico é
artigo consistiu em verificar de que maneira a es- um sistema social que apresenta “relações repro-
trutura de relacionamento do campo da pesquisa duzidas entre atores ou coletividades, organizadas
em organizações e estratégia no Brasil condiciona como praticas sociais regulares” (GIDDENS, 1989,
a construção do conhecimento nesse campo ci- p. 20). Como tal, possibilita que seu componente
entífico. Para tanto, analisamos o conteúdo dos estrutural seja analisado como uma ampla rede
artigos publicados em periódicos e anais de con- social (MOODY, 2004; POWELL et al., 2005; WAG-

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NER; LEYDESDORFF, 2005; WHITE et al., 2004). de colaboração entre pesquisadores (LI-CHUN et
Assim, procuramos no conteúdo dos artigos pro- al., 2006; LIU et al., 2005; MOODY, 2004; NEW-
duzidos trilhas das formas de conduta dos auto- MAN, 2001, 2004; ROSSONI; HOCAYEN-DA-SIL-
res e seu enquadramento em grupos por meio da VA, 2008; WAGNER e LEYDESDORFF, 2005), do
avaliação das suas relações com outros autores. campo das artes (WATTS; STROGATZ, 1998; UZZI;
Mesmo sendo o conteúdo dos artigos algo já ob- SPIRO, 2005) e de campos organizacionais (LA-
jetivado, eles fornecem elementos importantes do ZZARINI, 2007; POWELL et al., 2005; WHITE et al.
que é entendido como ciência pelos autores. Eles 2004).
ainda permitem compreender como os autores O pressuposto fundamental do fenômeno de
fazem ciência, ou seja, como a praticam. É nesse mundos pequenos (small worlds) é que os atores
sentido que é possível verificar a correlação entre presentes numa grande rede podem se conectar
estrutura de relações e produção científica, visan- a partir de um pequeno número de intermediári-
do compreender as instituições sociais que confe- os, tipicamente seis (NEWMAN, 2004). Watts e
rem identidade ao campo da pesquisa em organi- Strogatz (1998) afirmam que um fenômeno small
zações e estratégia. world ocorre quando atores em uma rede espar-
Na seqüência desta breve introdução, o artigo sa estão altamente agrupados, mas, ao mesmo
está organizado em quatro partes. Logo a seguir, tempo, estão conectados a atores fora de seus
apresentamos o quadro de referência conceitual grupos por meio de um pequeno número de in-
que orienta o estudo. Na terceira parte, tratamos termediários. Diferentemente de redes aleatórias,
dos procedimentos metodológicos que sustentam em vez de a distância entre os nós aumentar cada
a parte empírica do trabalho. Em seguida, apre- vez mais com o crescimento da rede, estes apre-
sentamos e analisamos os dados obtidos. Por fim, sentam pouca variância na distância média (WAT-
considerações finais são feitas na parte de conclu- TS; STROGATZ, 1998; WATTS, 1999a, 1999b).
sões do estudo e decorrem do desdobramento Por exemplo, em várias áreas do conhecimento, o
das interpretações à luz do quadro de referência campo científico apresenta um coeficiente de agru-
conceitual utilizado. pamento alto, mas a distância média entre os pes-
quisadores é pequena (MOODY, 2004; NEWMAN,
QUADRO TEÓRICO DE REFERÊNCIA 2001, 2004; WAGNER; LEYDESDORFF, 2005) o
que se leva a entender que tais campos operam
Nos últimos anos, cresceu o interesse em se como mundos pequenos.
analisar redes sociais de maior porte, assim como
A dinâmica de small worlds permite que ato-
de avaliar a dinâmica de relacionamento entre ato-
res isolados atuem reproduzindo as propriedades
res sociais em uma escala de tempo mais ampla
estruturais presentes nas relações sociais, contra-
(WATTS, 1999a). Para tanto, uma abordagem fle-
dizendo a intuição de que atores podem romper
xível de análise estrutural de redes de grande por- abruptamente com a estrutura social. Nesses ter-
te vem sendo formulada: a análise de small worl- mos, elementos estruturais suportam a persistên-
ds (WATTS; STROGATZ, 1998; WATTS, 1999a, cia de estruturas institucionais mais amplas em
1999b). Essa abordagem vem sendo utilizada em nível local (GIDDENS, 1989). Tal fato é fundamen-
diversos campos como física, química, e neurolo- tal para entender a relação entre os níveis micro e
gia (WATTS; STROGATZ, 1998). No campo das macro, pois possibilita compreender como a es-
ciências sociais, a abordagem vem sendo usada trutura de relacionamento local influencia a cons-
para compreender a formação de redes de pro- trução de estruturas globais, que também afetam
prietários (KOGUT; WALKER, 2001), da dinâmica a elaboração de estruturas locais, em uma relação

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de constante dualidade. As redes locais são for- configuração global da estrutura de relacionamento
madas por pesquisadores que estabelecem vín- (nível macro) também afete a dinâmica local de
culos diretos para desenvolver atividades de pes- relacionamento (nível micro). Nesses termos, acre-
quisa. Sua composição está mais relacionada à dita-se que a idéia de small worlds (WATTS; STRO-
coesão social (MOODY; WHITE, 2003) entre um GATZ, 1998; WATTS, 1999a, 1999b) integre a
dado número de atores, na qual se espera que visão de coesão com a visão de buracos estrutu-
mecanismos de homofilia (DE NOOY, MRVAR; rais e laços fracos (KOGUT; WALKER, 2001; UZZI
BATAGELJ, 2005) e de reciprocidade (WASSER- e SPIRO, 2005).
MAN; FAUST, 1994) influenciem na criação de Diante da relação entre estrutura local de rela-
elementos gerativos de padrões institucionaliza- cionamento e a estrutura global, espera-se que o
dos de ação. Eles podem ser coercitivos, normati- campo de produção científica seja um sistema
vos, cultural-cognitivos, ou até mesmo emotivos auto-organizado (WAGNER; LEYDESDORFF,
(COLEMAN, 1990; SCOTT, 2001). Na rede local, 2005), no qual os mecanismos de afiliação entre
o termo-chave é coesão social, na qual autores pesquisadores em nível micro repercutem na es-
imersos trocam idéias, recursos e informações fa- truturação da rede global (nível macro). Entretan-
cilmente (UZZI; SPIRO, 2005), possibilitando a cri- to, não se afirma que a capacidade de agência
ação de capital social (COLEMAN, 1990). dos pesquisadores seja eqüitativa, pois a agência
Entender a dinâmica local entre pesquisado- no campo científico é estratificada, na qual pou-
res possibilita verificar como eles constroem em cos autores representam a maior parte da produ-
nível micro o conhecimento científico. No entan- ção (ROSSONI; GUARIDO-FILHO; MACHADO-DA-
to, a idéia de coesão não é suficiente para com- SILVA, 2008). Também não se aceita a posição
preender os mecanismos de geração do conheci- de que o campo científico reflete uma estrutura
mento por parte dos pesquisadores, pois em am- de classes sociais como exposto em Bourdieu
bientes de alta densidade de relacionamentos, seu (2004), pois o campo científico não é projeto de
conteúdo torna-se cada vez mais redundante (KO- poucos agentes, mas de todo o corpo científico
GUT; WALKER, 2001). Nesses termos, outros (WAGNER; LEYDESDORFF, 2005).
mecanismos operam na geração do conhecimen- A partir do apontamento de que mecanismos
to como, por exemplo, os buracos estruturais relacionados à estrutura de relacionamento inter-
(BURT, 1992) e os laços fracos (GRANOVETTER, firam no processo de institucionalização das ações,
1973). Por esse prisma, relacionamentos estabe- acredita-se que a produção científica tenha uma
lecidos fora do círculo coeso possibilitam acesso a relação dual com a configuração reticular do cam-
outras fontes de recursos e informação, o que pode po. Como afirma Giddens (1989), as proprieda-
levar à criação de novas formas de conhecimento. des estruturais dos sistemas sociais (aqui visto
Conforme afirma Kuhn (1978), a coesão en- como campo científico) tanto constrangem como
tre cientistas pode levá-los a ver novos paradig- habilitam as ações dos agentes: habilitam quando
mas como inconsistentes, especialmente quando servem de suporte para a realização da ação, e
eles já possuem uma velha tradição em pesquisa, constrangem quando as propriedades são
sendo necessário que busquem interações com (re)produzidas a partir da prática (MACHADO-DA-
outros pesquisadores fora do grupo. Além de con- SILVA; FONSECA; CRUBELLATE, 2005; MACHA-
figurações entre laços fortes e coesos (COLEMAN, DO-DA-SILVA, GUARIDO FILHO; ROSSONI, 2006).
1990) e laços fracos e buracos estruturais (BURT, Por conseguinte, à luz das afirmações de Kuhn
1992; GRANOVETTER, 1973), que permeiam a (1978) e de Popper (1972, 1989) de que o
análise de redes em nível local, acredita-se que a conhecimento científico é construído socialmen-

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te, pressupomos, no presente estudo, que a con- Dessa forma, mesmo avaliando as relações
figuração das relações no campo interfira na cons- entre os autores como algo já objetivado por meio
trução do conhecimento científico. Espera-se que das relações de cooperação na produção de arti-
as preferências sobre temas, arcabouços teóricos, gos científicos, elas possibilitam a reconstrução de
epistemologias e metodologias apresentados nos parâmetros de ação, que permitem, juntamente
artigos sejam guiados pela construção de relacio- com a avaliação do conteúdo de tais relações,
namentos no decorrer do tempo, o que possibili- entender como os agentes reproduzem as práti-
tará entender as implicações institucionais de tais cas de pesquisa no decorrer do tempo. Para isso,
relações. Além de entender as configurações dos algumas distinções devem ser feitas. A primeira é
relativa ao que se entende aqui como estrutura
relacionamentos entre os autores, busca-se com-
social. Por coerência ao arcabouço utilizado no
preender como ela se desenvolveu no decorrer
presente estudo, vislumbra-se a estrutura social
do tempo, pressupondo que dois elementos (es-
como virtual, existente somente como traços de
trutura de relacionamento e produção científica)
memória (GIDDENS, 1989). Já por estrutura de
influenciam a construção de padrões de relações
relações entende-se o conjunto de relações dire-
longitudinalmente. Sob a perspectiva de que os
tas e indiretas desenvolvidas em um momento
relacionamentos são dinâmicos, procuramos com-
espaciotemporalmente delimitado, as quais fazem
preendê-los a partir da reconstrução histórica, na parte do sistema social, aqui visto como campo
qual a simultaneidade e recursividade entre os de pesquisa. Essas relações possibilitam a repro-
elementos estão presentes no campo científico dução das estruturas sociais, conformando e ha-
(MACHADO-DA-SILVA; FONSECA; CRUBELLATE, bilitando as ações dos agentes. Sendo assim, cir-
2005; MACHADO-DA-SILVA, GUARIDO FILHO; cunscrevendo os autores no campo de pesquisa
ROSSONI, 2006). de organizações e estratégia por meio de suas
Machado-da-Silva, Fonseca e Crubellate relações, espera-se entender posteriormente como
(2005) propuseram a avaliação das redes de re- tais relações estão relacionadas com a produção
lações numa perspectiva longitudinal para com- científica.
preender os elementos institucionais. Em face de
tal desafio, as idéias apresentadas por Giddens PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
(1989) na teoria da estruturação propiciaram o O presente estudo é predominantemente de
desenvolvimento do arcabouço teórico que rom- natureza descritiva, utilizando o método misto de
pe a dicotomia entre agência e estrutura. A pri- pesquisa. Do ponto de vista quantitativo, utilizou-
meira dessas idéias consistiu na possibilidade de se, especificamente, a estratégia da análise de re-
ver as redes de relações entre os autores como des. A análise de conteúdo foi utilizada preponde-
constituídas pelas ações dos sujeitos (GIDDENS, rantemente com propósitos qualitativos. O deli-
1978). Dessa forma, as relações sociais não são neamento da pesquisa é do tipo pesquisa docu-
vistas como apenas dadas, mas fruto da produ- mental e a perspectiva temporal de análise é a
ção e da reprodução dos sistemas sociais por par- longitudinal, ensejando a análise da dinâmica de
te de agentes capacitados no campo. As relações relacionamento entre os autores. Tal delineamento
como parte dos sistemas sociais são primordiais permitiu, assim, verificar tanto a influência dos re-
para a compreensão das ordens institucionais e lacionamentos anteriores na estrutura de relacio-
dos limites da cognoscitividade humana (GID- namento atual da rede de pesquisadores como
DENS, 1989). as tendências de relacionamento no decorrer do

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tempo (MOODY, 2004; POWELL et al., 2005; artigos apresentam até 6 autores, o que, por si só,
WASSERMAN; FAUST, 1994; WHITE et al., 2004). formaria cliques de até 6 componentes em um
Amostragem, coleta e tabulação dos dados. único artigo. Como o objetivo da análise de coe-
Como o interesse foi entender a dinâmica de re- são de grupos no presente estudo é verificar pelo
lacionamento entre pesquisadores, foi escolhida menos algum grau de persistência de colabora-
como unidade amostral cada artigo publicado nas ção entre os autores, escolhemos avaliar os gru-
áreas de organizações e estratégia em anais de pos com 7 ou mais autores, pois, dessa forma,
eventos (EnANPAD, EnEO e 3Es) e periódicos diminui-se o efeito de artigos com grande núme-
(RAC, RAE, RAE-Eletrônica, RAUSP, O&S, RAP e ro de co-autoria.
REAd) classificados como ‘A Nacional’ pelo Siste- Depois, foram identificados os artigos produ-
ma Qualis da Capes, no período compreendido zidos pelos autores de cada grupo no período,
entre 1997 e 2005. Na unidade amostral, foram identificando as áreas, eixos temáticos e temas
extraídas as unidades de análise, ou seja, cada principais de cada grupo. O critério de categoriza-
autor que, sozinho ou em conjunto com outros ção utilizado foi o semântico (categorias temáti-
autores, publicou algum artigo científico. Essa aná- cas), em que os temas com mesmo significado
lise basicamente consistiu em identificar todas as ficam agrupados na mesma categoria. Depois do
relações de co-autoria que um autor manteve no inventário, foi adotado o procedimento de cate-
período estudado. gorização por milha, no qual a categorização é fei-
Procedimentos de análise dos dados. A aná- ta a posteriori, ou seja, é resultante da análise do
lise dos dados foi quantitativa, relacional, categóri- conteúdo científico dos artigos (BARDIN, 1977).
ca e qualitativa. As atividades de identificar a es- Todo o processo de análise foi desenvolvido pre-
trutura de relacionamento da rede, analisar a coe- dominantemente de forma qualitativa sob o inter-
são e avaliar se a rede de relações apresentou médio do software Microsoft Excel®, pois verifica-
uma dinâmica de small worlds foram realizadas mos somente a presença e a ausência de temáti-
por meio dos softwares UCINET 6.0 (BORGATTI; cas a partir dos títulos, resumos e conteúdo dos
EVERETT; FREEMAN, 2002) e PAJEK 1.10 (BATA- artigos publicados, mesmo sendo a freqüência
GELJ; MRVAR, 2005). A comparação dos indica- levada em conta. Com os grupos identificados e
dores reais da rede com os padrões estabelecidos seu conteúdo categorizado, foi possível identificar
de Small Worlds por Watts e Strogatz (1998) foi o grau de homogeneidade e de heterogeneidade
desenvolvida com o uso do software Microsoft da produção, comparando com a formação estru-
Excel®. tural dos grupos. Depois, buscamos verificar o
Para avaliar a construção social do conheci- desenvolvimento dos agrupamentos entre os pe-
mento científico, procuramos relacionar a estrutu- ríodos para avaliar o grau de persistência das es-
ra da rede com o conteúdo construído pelos au- truturas agrupadas em que foi construída uma rede
tores nas áreas. Para tanto, foram selecionados os de relações por meio do software PAJEK 1.10 (BA-
grupos por meio da medida n-clan, pois a imer- TAGELJ; MRVAR, 2005).
são dos autores em grupos coesos torna plausível As análises foram desenvolvidas por períodos
a avaliação das relações como fator que confor- de três anos: o primeiro compreendeu os anos de
ma a produção do conhecimento. Com os grupos 1997, 1998 e 1999. Já no segundo estavam en-
identificados, foi desenvolvido um método de agru- quadrados os anos de 2000, 2001 e 2002. Por
pamento de acordo com as similaridades dos gru- fim, os anos de 2003, 2004 e 2005 foram dis-
pos para evitar redundância nas análises. Muitos postos como o terceiro e último período. Esco-

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lheu-se a divisão trienal para evitar os efeitos da ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS
sazonalidade dos eventos das áreas e para facili-
A partir dos dados coletados em 2.332 artigos
tar a interpretação dos resultados. Além disso, era
publicados nos eventos e revistas classificados
a única divisão factível para que os períodos ficas-
como Qualis A, no período compreendido entre
sem com o mesmo número de anos, possibilitan-
os anos de 1997 e 2005, identificamos 2.072
do uma comparação real.
autores que compõem o campo da pesquisa em
Com o objetivo de facilitar a análise da produ- Estudos Organizacionais e Estratégia no Brasil. A
ção científica das áreas, elas foram divididas em estrutura de relações do campo está exposta na
subáreas. Para que a classificação não fosse arbi- Rede 1. Os nós correspondem a cada autor que
trária, seguiu-se o padrão estipulado pela ANPAD colaborou em pelo menos um artigo no período
(2006), que foi aplicado pela primeira vez no estudado. Já as linhas referem-se aos relaciona-
EnANPAD 2005, no qual Estratégia em Organiza- mentos entre os autores. Verificam-se cores dife-
ções ganhou o status de Divisão Acadêmica, apre- rentes que preenchem os nós. Essas cores são
sentando três áreas temáticas: Estratégia em Or- relativas aos componentes que fazem parte da
ganizações (ESO), Gestão Internacional (GIN) e estrutura de relações. Componentes são sub-re-
Empreendedorismo e Comportamento Empreen- des em que os nós estão conectados entre si (DE
dedor (EMP). A área de Estudos Organizacionais NOOY; MRVAR; BATAGELJ, 2005; HANNEMAN;
apresentou as áreas temáticas de: Teoria das Or- RIDDLE, 2005; WASSERMAN; FAUST, 1994).
ganizações (TEO), Comportamento Organizacio-
Mediante a observação do número de cores
nal (COR) e Gestão de Organizações e Desenvol-
diferentes que preenchem os nós, fica evidente
vimento (GEO).

Rede 1 – Estrutura de Relações do Campo de Pesquisa em Organizações e Estratégia.

Fonte: Dados da pesquisa.

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que o campo da pesquisa nas duas áreas não é Para entender mais profundamente o desen-
totalmente conectado, apresentando grande nú- volvimento do campo e de seus relacionamentos,
mero de autores e grupos que não cooperam di- apresentamos, na Tabela 1, a estatística descritiva
reta ou indiretamente entre si. Todavia, mesmo o da estrutura de relações por períodos. De acordo
campo não sendo totalmente conectado, isso não com o exposto na tabela, observa-se que o tama-
significa que existam vários microcampos. De acor- nho da rede (número de autores) quase duplica
do com DiMaggio e Powell (1983) e Scott (1994, entre os períodos, refletindo o crescimento que o
2001), campos organizacionais (campo científi- campo vem apresentando. No primeiro ano, hou-
co) subentendem uma área reconhecida de vida ve somente 387 autores, contra 1.445 no último
institucional em que os autores (no caso aqui es- período. Além do crescimento do número de au-
tudado) compartilham de sistemas de significa- tores, verifica-se também um crescimento ainda
maior no número de laços, o que indica um au-
dos comuns, possibilitando o isomorfismo entre
mento na cooperação.
os participantes do campo.
Por laços, entende-se o número de autores
Esses padrões isomórficos necessários à es-
com que cada autor colaborou, não considerando
truturação de um campo contribuem para uma
a freqüência de colaboração (DE NOOY; MRVAR;
certa homogeneização de práticas. Tais práticas
BATAGELJ, 2005). No primeiro período, havia 1,55
são compartilhadas e reproduzidas a partir dos
laços por autor, passando para 1,81 no período
programas de pós-graduação stricto sensu, dos
intermediário e para 2,07 no último período. Mes-
encontros formais e informais, e dos sistemas de
mo a estrutura de rede apresentando crescimen-
avaliação instaurados na pós-graduação, seja de to expressivo em seu tamanho, isso não fez com
avaliação de qualidade dos programas, seja na que a colaboração caísse. Sob a ótica dos autores,
avaliação dos artigos enviados para periódicos verifica-se que há uma mudança de prática de
(LIBERMAN; WOLF, 1997). Nesse sentido, enten- pesquisa na forma com que eles buscam colabo-
de-se que, mesmo havendo grande número de ração: o que antes tendia ao isolamento no de-
atores e grupos isolados nos dois campos, eles senvolvimento de pesquisas passa a figurar numa
compartilham de certas crenças, o que viabiliza a postura mais colaborativa, alterando a microdinâ-
possibilidade de conversação, levando os autores mica entre autores, o que pode acarretar mudan-
a monitorarem reflexivamente suas atividades. ças em níveis mais amplos.

Tabela 1 – Estatística descritiva da estrutura de relações.

Fonte: Dados da pesquisa.

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O primeiro desdobramento que pode ser ava- ver uma maior interligação entre grupos de dife-
liado a partir da dinâmica entre os autores é o rentes instituições. Segundo Fuchs (2002), o fato
número de componentes formados pela estrutu- de as redes entre cientistas tornarem-se delibera-
ra de relacionamento nos períodos. Entre os anos damente fragmentadas pode ser indício de dispu-
de 1997 e 2005, houve 276 componentes (vide tas ideológicas, fragmentando também a atenção
Tabela 1), considerando que uma dupla de auto- comum ao espaço da pesquisa. De acordo com o
res isolados já forma um componente. Em todo o autor, quando as disputas são ideológicas, a ob-
período, verificaram-se 257 autores isolados, o que servação passa a não ser desinteressada, sendo
corresponde a 12,4%, indicando que o campo de guiada por pontos de vista, perspectivas e posi-
pesquisa nas áreas não é mais primordialmente ções políticas. O efeito dessa fragmentação se
um campo de autores solitários, como se indicava demonstra também pela existência de mais três
em momentos passados na maioria das ciências componentes de tamanho significativo. Contudo,
(BARABASI, 2005). Todavia, mesmo apresentan- nenhum deles chegou a representar 5% do total
do grande número de componentes, somente 20 de autores, com tamanho bem inferior ao do com-
deles apresentam tamanho maior que 7 autores, ponente principal. O segundo maior componente
o que remete a 976 autores (47,1%), que estão é formado por 80 autores, o que dá 3,86% das
ou sozinhos ou em componentes com seis ou relações.
menos autores. Se a fragmentação no campo não Em face dos padrões estruturais de coopera-
é em relação aos autores, pode-se afirmar que ção no campo de pesquisa em estudos organiza-
ele apresenta diversos grupos fragmentados. Vale cionais e estratégia em organizações, algumas
ressaltar que um componente não significa, em questões institucionais sobre campos organizaci-
análise de redes, que este seja um grupo. onais precisam ser rediscutidas. DiMaggio e Po-
Observamos um grande componente princi- well (1983) e Scott (1994, 2001) deixavam su-
pal englobando 785 autores, o que significa bentendido que quanto mais estruturado um cam-
37,9% do total. Esse percentual é bem inferior ao po, maior seria sua densidade, sua coesão e sua
de áreas como biologia, física e matemática no equivalência estrutural. Essas condições não fo-
âmbito internacional, as quais apresentaram com- ram encontradas no presente estudo, pois a den-
ponente principal entre 82% e 92% (NEWMAN, sidade caiu de 0,4% no primeiro período para
2004), e razoavelmente menor do que áreas mais 0,14% no último, ou seja, a densidade da estru-
recentes, como a ciência da computação, que tura da rede sempre foi extremamente baixa. Tam-
apresentou um componente de 57,2% (NEW- bém a centralização, que, no primeiro período, era
MAN, 2001). Tais áreas, além de apresentarem de 1,68%, caindo pela metade no último, com
gigantesco componente principal, também pos- 0,83% (vide Tabela 1). As condições estruturais
suem dezenas de milhares a milhões de autores, indicadas pelos autores são possíveis somente em
e mesmo assim houve ampla ligação. Diferente- arranjos sociais de pequena amplitude, em que a
mente do que se verifica nas ciências exatas, as institucionalização de práticas sociais ocorre prin-
ciências sociais apresentam várias perspectivas cipalmente a partir da integração social (Giddens,
epistemológicas, teóricas e metodológicas, o que, 1989). Em grandes campos, aqui vistos como
segundo Moody (2004), pode levar a uma maior grandes redes, há outros mecanismos que ope-
separação entre os autores. ram além dos mecanismos discutidos por DiMag-
Além disso, é provável que a instituição de gio e Powell (1983) e Scott (1994, 2001).
ensino e pesquisa tenha amplo efeito de aglutina- Além da microdinâmica entre os autores em
ção das relações, o que contribuiria para não ha- nível micro e local, que, ao mesmo tempo, estru-

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turam e são estruturadas pelas contingências da plos dessas medidas: laços fracos (GRANOVET-
interação e das relações entre aos autores (WHI- TER, 1973) e buracos estruturais (BURT, 1992).
TE et al., 2004), há processos de integração de A partir da limitação de avaliações mais robus-
sistema (GIDDENS, 1989; MACHADO-DA-SILVA; tas de grandes redes, Watts e Strogatz (1998)
GUARIDO FILHO; ROSSONI, 2006) operantes na desenvolveram as medidas de avaliação de small
construção do campo científico que vão além da worlds. No campo de estudos de produção cientí-
agência imediatamente percebida por parte dos fica, Newman (2001) foi o pioneiro em utilizar
autores. Tal ocorrência faz com que o campo co- esses indicadores, impulsionando diversos estu-
evolua (WHITE et al., 2004) ou que seja um siste- dos como, por exemplo, o de Moody (2004), que
ma auto-organizado (WAGNER; LEYDESDORFF, avaliou o campo de pesquisa em sociologia. Um
2005), apresentando várias lógicas de desenvol- mundo pequeno ocorre quando os autores estão
vimento nos seus diferentes níveis. Uma das im- agrupados localmente (coeficiente de agrupamen-
plicações que essas questões têm é a limitação to) e, ao mesmo tempo precisam de poucos con-
da agência como sendo sempre estratégica, até tatos para acessar qualquer um dos membros na
porque as ações dos agentes apresentam conse- rede (distância média). Na Tabela 2, pode-se ve-
qüências que eles dificilmente poderiam monito- rificar os indicadores que compõem uma avalia-
rar, já que se aceita a existência de várias lógicas ção de mundos pequenos. Para que os indicado-
operando no campo (GIDDENS, 1989; POWELL res pudessem ser construídos, foram necessários
et al., 2005). O entendimento do campo como dois conjuntos de dados: os dados observados,
multidinâmico contrapõe a noção de agência es- extraídos das fontes primárias da pesquisa; e os
tratégica em Bourdieu (1996, 2004), pois a idéia dados aleatórios, que correspondem aos indica-
de estratégia da ação tem uma dimensão prepon- dores elaborados por Watts e Strogatz (1998) e
derantemente local, em que seu entendimento é por Watts (1999a, 1999b).
observado pelo agente basicamente de forma di-
Se for observada a densidade das redes por
reta. Aceitamos que a agência constrói e é cons-
período, verifica-se que ela caiu em todos os perí-
truída pela estrutura mais ampla do campo, po-
odos, resultado do aumento no número de auto-
rém esta não é tão passível de manipulação.
res (n) (BURT, 1992). Contudo, a média de laços
Diante dos vários níveis que operam em cam- por autor (k) cresceu consistentemente nos três
pos de grande amplitude e dos diferentes meca- períodos, o que indica aumento na cooperação.
nismos gerativos que atuam em seu desenvolvi- Em relação à distância média (PL) entre os auto-
mento, recentemente alguns autores vêm procu- res, verificamos que, no primeiro período, eram
rando na noção de recursividade entre agência e necessários, em média, aproximadamente 2 pas-
estrutura (GIDDENS, 1989) a explicação para tais sos para encontrar qualquer autor. Nos dois ou-
questões. Tais preocupações levaram Powell et al. tros períodos, esse número cresceu bastante, pas-
(2005) e White et al. (2004) a reverem as for- sando para 4,86 passos, no segundo, e 5,46 pas-
mas de avaliação de campos organizacionais, sos, no terceiro. Vale ponderar que, no primeiro
aproveitando a lógica de small worlds (WATTS; momento, a rede apresentava tamanho bem in-
STROGATZ, 1998; WATTS, 1999a, 1999b). De ferior ao dos outros dois, o que influencia direta-
acordo com Watts (1999b), as medidas para ava- mente na distância média.
liar o aumento da coesão e para avaliar o grau de Ao se compararem os dois últimos períodos,
abertura de grupos para novos laços eram capa- verifica-se que a distância média pouco se alte-
zes de avaliar somente o nível local, não possibili- rou, mesmo a rede tendo quase dobrado de ta-
tando inferências em nível global da rede. Exem- manho, o que indica que o crescimento do tama-

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Tabela 2 – Estatística de mundos pequenos (small worlds).

Fonte: Dados da pesquisa.

nho da rede não significou um maior distancia- avaliados, o que corrobora a afirmativa de que os
mento entre os autores. O outro indicador obser- nós estão agrupados localmente. Em relação à
vado, coeficiente de agrupamento (CC), é basea- distância média entre os autores (PL), verificou-se
do na rede local e mede o grau de conectividade que esta foi inferior em todos os períodos, se com-
entre esses autores (WATTS; STROGATZ, 1998). parada com a distância média esperada aleatoria-
Quanto maior esse indicador, mais agrupada lo- mente, o que também corrobora a afirmativa de
calmente a rede está. Tomando a análise do coe- que a distância continua pequena.
ficiente de agrupamento por períodos, verifica-se Além dessa comparação, Uzzi e Spiro (2005)
que o primeiro período apresenta o maior coefici- desenvolveram uma medida intitulada coeficien-
ente de agrupamento (0,654). Pela razão de a te de small worlds (Q), o qual é formado pela taxa
rede ser ainda pequena, era bem provável que do coeficiente de agrupamento dividida pela dis-
esse indicador se mostrasse alto. Já nos dois pró- tância média (vide Tabela 2). Basicamente, a
ximos períodos, verifica-se uma estabilização no medida avalia a força da rede em relação a ser
indicador: 0,502, no segundo período, e 0,494, um mundo pequeno. Avaliando os três períodos,
no terceiro, indicando que o fato de a rede quase verifica-se que o primeiro apresenta o maior coe-
ter dobrado de tamanho não ocasionou maior frag- ficiente (1.126,35), porém a rede é de pequeno
mentação local entre os autores. tamanho, o que interfere nos resultados. A maior
No entanto, para que tais afirmativas sobre a surpresa foi a diferença entre os indicadores do
distância média (PL) e sobre o coeficiente de agru- segundo para o terceiro período. Verificou-se que
pamento (CC) sejam válidas, é necessário que o coeficiente Q aumentou de 503,28 para 631,62
sejam comparadas com os valores esperados em do segundo para o terceiro período, mesmo com
redes aleatórias (WATTS, 1999a, 1999b). No caso a rede quase dobrando de tamanho. Tal fato indi-
do coeficiente de agrupamento, comparando os ca que a estrutura de relações manteve-se agluti-
indicadores reais com os aleatórios, verifica-se que nada em termos de small worlds, resistindo à pres-
o real é bastante superior em todos os períodos são de fragmentação exposta pelo seu amplo cres-

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cimento. Em suma, o campo da pesquisa em or- nos pode apresentar melhoras na construção e
ganizações e estratégia é um mundo pequeno, na divulgação do conhecimento, pois agrega a vi-
pois, apesar de apresentar uma densidade cres- são de coesão com abertura (KOGUT; WALKER,
centemente baixa, os autores continuam altamente 2001; POWELL et al., 2005, UZZI; SPIRO, 2005).
agrupados e, ao mesmo tempo, conectados a A segunda implicação se dá no contexto da
autores fora de seus grupos por meio de um pe- dinâmica de estruturação do campo científico.
queno número de intermediários. Seguindo a linha de explicação de Kogut e Walker
A estrutura de relações configurada como small (2001), a dinâmica de small worlds permite aos
worlds tem importantes implicações para o cam- autores agir estrategicamente, o que, em ciência,
po de produção científica em organizações e es- significa desenvolver inovações que sejam aceitas
tratégia. A primeira é relativa à possibilidade que como legítimas pelos pares. No entanto, a legiti-
esse tipo de configuração estrutural fornece. Ao mação das inovações é condicionada pelas estru-
tempo que a proximidade entre os autores facilita turas sociais do campo, sendo elas produzidas e
o compartilhamento de práticas, crenças e valores reproduzidas recursivamente nos sistemas sociais.
comuns, permitindo maior colaboração, em face Nesses termos, a configuração de mundos peque-
da maior familiarização do grupo, também possi- nos oferece amplo grau de estabilidade estrutural
bilita que eles acessem outros grupos em que a e oferece espaço para a agência, gerando a dura-
informação não é redundante. Tal ocorrência pode bilidade dinâmica do campo cientifico. Dessa for-
ocasionar aumento da criatividade no que con- ma, a questão da dualidade entre agência e estru-
cerne às pesquisas realizadas. Dessa forma, em tura exposta por Giddens (1989) encontra um
uma configuração de redes como mundos peque- aparato estrutural (em termos estruturalistas) para
nos, os benefícios oriundos da formação de capi- tal dualidade (KOGUT; WALKER, 2001). Além dis-
tal social pela coesão (COLEMAN, 1990) e pelos so, possibilita que campos organizacionais sejam
laços fracos (GRANOVETTER, 1973) e buracos vistos de forma mais ampla, em que diversos gru-
estruturais (BURT, 1992) não são antagônicos, pos se sobrepõem, o que pode ampliar as formas
mas complementares. Como afirmam Uzzi e Spi- de entender os processos de institucionalização a
ro (2005), o fato de se ter uma rede mais conec- partir da análise de níveis micro e macro.
tada e mais coesa em termos de mundos peque- A partir do reconhecimento da ocorrência de
nos facilita o fluxo de material criativo e a colabo- durabilidade dinâmica em campos organizacionais,
ração entre grupos de cientistas. há maior possibilidade de que as relações que
Essa evidência é condizente com os argumen- persistem no campo conduzam à estabilidade de
tos de Merton (1973) de colégio invisível, em que temáticas de pesquisa no decorrer do tempo, cir-
a conectividade entre co-autores promove pesqui- cunscrevendo-as em grupos de menor tamanho.
sa por meio do compartilhamento de idéias e de No caso da produção científica, a construção de
informação flexível. Kuhn (1978) também afirma parâmetros de trabalho do que é ou não aceito
que a mudança criativa na ciência pode ser preju- como conhecimento é definido, em primeira ins-
dicada pela inabilidade de grupos coesos de cien- tância, dentro dos grupos de pesquisadores. Com-
tistas em reagir às inconsistências de suas desco- preendê-los possibilita entender como a homofi-
bertas se estas não os agradam, o que pode oca- lia e o isomorfismo atuam na construção do co-
sionar uma refutação do paradigma corrente, prin- nhecimento. Nesses grupos, provavelmente exis-
cipalmente quando esses grupos apresentam ve- tem autores que exercem maior influência do que
lhas tradições de pesquisa. Em linhas gerais, uma outros. Identificando tais autores, é bem provável
configuração global no formato mundos peque- que se compreenda boa parte das questões de

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pesquisa de tais grupos. Investigar os grupos con- Para facilitar a análise, designamos os grupos
tribui para a compreensão de como os limites es- para clusters, de acordo com as similaridades das
truturais das relações circundam a construção do relações, em que os diagramas de agrupamentos
conhecimento. Se há grupos, autores imersos nes- estão dispostos na Figura 1. Identificamos 7 clus-
ses são mais suscetíveis a aceitarem e a confor- ters no primeiro período, 17 no segundo e 35 no
marem sua visão de ciência de acordo com os terceiro. A partir dos clusters identificados, avalia-
padrões esperados pelo grupo (LEYDESDORFF, mos as áreas principais de atuação de cada gru-
2007; MOODY, 2004). po, seus eixos temáticos e os temas mais traba-
Para avaliar a formação de grupos, optamos lhados.
pela medida n-clan, em que o diâmetro máximo
Segundo Moody e White (2003), a imersão
do subgrafo é exclusivamente menor ou igual a n
social em grupos pode ser avaliada tanto nos as-
(WASSERMAN; FAUST, 1994), o que possibilita
pectos estruturais quanto simbólicos. Comparan-
que os grupos formados sejam realmente coesos,
do as abordagens intra e intergrupais, verificou-se
pois força os autores a estarem em uma mesma
que a formação em grupos e em clusters serviu
esfera de influência. Essa medida é freqüentemen-
como elemento de homogeneização de temas e
te bem ajustada com dados sociológicos (HAN-
interesses de pesquisas. Eles foram compartilha-
NEMAN; RIDDLE, 2005). Tomamos como obser-
dos pelos autores pertencentes a cada grupo, ao
vação grupos com 7 ou mais autores e com diâ-
mesmo tempo em que, entre grupos diferentes,
metro máximo de 2. No primeiro período, havia
houve uma tendência de diferenciação entre abor-
somente 9 n-clans que apresentavam 7 ou mais
dagens e perspectivas. Houve alguns casos em
autores, passando para 28 no segundo período e que as temáticas coincidiam intracampos; porém,
66, no último, o que demonstra que há uma ten- elas normalmente eram as abordagens mais tra-
dência no campo de agrupamento. Verificou-se dicionais, principalmente na área de estratégia, que
que o crescimento do número de grupos (n-clans) tem como guia principal a linha porteriana.
foi bem superior ao do número de autores por Pressupondo que as preferências teóricas e
período. Tais indicadores provavelmente foram as abordagens são indícios de sistemas de signifi-
influenciados pela tendência de maior colabora- cado compartilhados pelos autores, indicando o
ção dos autores, acarretando grupos maiores, o que eles entendem de ciência no campo de for-
que repercute nos indicadores de small worlds ma similar, houve indícios de compartilhamento
apresentados anteriormente. de crenças e pressupostos que interferiram na

Figura 1 – Agrupamentos formados por meio da medida N-clan.

Fonte: Dados da pesquisa.

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construção social do conhecimento científico na forma, é plausível afirmar que a estrutura de rela-
área. Em face da aproximação das evidências es- ções conformou as perspectivas teóricas desen-
truturais (coesão estrutural) e simbólicas (autores volvidas no campo de pesquisa em organizações
que apresentam temáticas similares em seus gru- e estratégia.
pos), podemos afirmar que houve convergência Apesar do grande crescimento do campo da
entre a formação de grupos estruturados com os pesquisa em organizações e estratégia, e do cres-
eixos temáticos e temas desenvolvidos em cada cimento maior ainda de agrupamentos de pes-
grupo, ao mesmo tempo em que esses são dis- quisadores, a maioria dos clusters persistiu, como
tintos, se comparados entre grupos de fora. Dessa pode ser observado na Rede 2.

Rede 2 – Desenvolvimento longitudinal dos agrupamentos.

Fonte: Dados da pesquisa.

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LUCIANO ROSSONI, M.A. . CLÓVIS L. MACHADO-DA-SILVA, PH. D.

Cada nó representa um agrupamento, em que agrupamentos (21 novos clusters), o que demons-
eles estão alinhados de acordo com o período em tra amplo grau de renovação.
que foram observados. As linhas correspondem à Em face da avaliação dos agrupamentos e seus
permanência do agrupamento entre os períodos, respectivos eixos temáticos e temas abordados,
podendo eles ter se desmembrado em mais clus- algumas considerações merecem ser apresenta-
ters ou terem se fundido. Entre o primeiro e o das. A primeira delas é relativa à grande heteroge-
segundo período, verificou-se que, dos sete agru- neidade de abordagens apresentadas no campo.
pamentos, 4 persistiram, indicando que mais da Fuchs (1993) levanta duas importantes questões
metade continuou a desenvolver pesquisas no sobre a natureza do trabalho dos pesquisadores:
campo de organizações e estratégia. Os agrupa- a dependência mútua e a incerteza das tarefas. O
mentos que não persistiram podem ter migrado autor levanta que, em campos científicos com vá-
para outra área, ou os autores diminuíram o nú- rias fontes de recursos, há uma tendência de re-
mero de colaborações, ocasionando grupos de dução na dependência mútua dos autores, como
reduzido tamanho. Dos 4 agrupamentos que con- no caso das ciências sociais, possibilitando a for-
tinuaram, houve a divisão em mais 7 agrupamen- mação de adhocracias fragmentadas
fragmentadas. Mesmo
tos entre os anos de 2000 e 2002, indicando que havendo relações entre os diferentes grupos na
muitos autores buscaram trabalhar com perspec- área, estes estão frouxamente acoplados, o que
tivas parecidas, mas em grupos diferentes, o que possibilita que eles persistam e desenvolvam sis-
fomentou diferenças de enfoques. Por exemplo, temas de significado comuns, não diretamente
houve a divisão dos autores institucionalistas em compartilhados pelo campo como um todo. No
dois grupos entre o período, que acabou fomen- caso da incerteza das tarefas, o autor afirma que,
diferentemente das ciências físicas, os resultados
tando duas tendências. No entanto, 10 grupos
das pesquisas nas ciências são difíceis de ser in-
surgiram no período sem estarem vinculados di-
terpretados, sendo tal interpretação muitas vezes
retamente aos grupos anteriores, o que demons-
controversa ou ambígua. Diante da pequena de-
tra que houve também renovação de perspecti-
pendência entre os grupos e da incerteza das ta-
vas. Porém, ressalta-se que não há possibilidade
refas, Fuchs (1993) afirma que as ciências sociais
de esses grupos estarem totalmente desacopla-
tendem a ser mais fragmentadas do que os cam-
dos das perspectivas trabalhadas até o momento,
pos científicos em que as tarefas são mais rotini-
pois os autores foram formados e orientados em
zadas e em que há poucos centros de pesquisa.
instituições que acolhiam esses grupos.
Comparando os indicadores estruturais da rede
Entre o segundo e o terceiro período, houve a no campo de pesquisa em organizações e estra-
manutenção de 12 dos 17 clusters, demonstran- tégia, e em sociologia (MOODY, 2004) com as
do novamente a capacidade de persistência de ciências físicas (NEWMAN, 2001, 2004), verifica-
tais agrupamentos entre os períodos. Desses clus- se que as afirmações do autor têm fundamento.
ters , 4 se dividiram em novos agrupamentos, Entretanto, apesar da grande heterogeneidade de
muitos desses trabalhando basicamente na mes- temáticas, a formação de grupos no campo de
ma linha de atuação do período anterior, porém pesquisa em organizações e estratégia possibili-
com novos colaborares e, às vezes, com uma maior tou uma maior homogeneidade de práticas de
diversidade de temáticas. Houve também casos pesquisa, que possibilitou certo grau de conversa-
de clusters que não se relacionaram no segundo ção, pelo menos dentro dos grupos.
período e voltaram a colaborar no último. Como Em termos gerais, verificamos que ocorreram
no período anterior, houve um grande número de mutuamente persistência e mudança no campo

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ANÁLISE INSTITUCIONAL DA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO EM MUNDOS PEQUENOS

de pesquisa em organizações e estratégia. Apesar tas crenças, o que confere a possibilidade de con-
de boa parte das temáticas emergentes terem vin- versação no campo e a monitoração reflexiva das
do de grupos inexistentes ou periféricos, isso não ações sociais.
indica que eles tenham surgido sem a coopera- Ficou também evidenciado que o campo da
ção dos grupos já instituídos, até porque as insti- pesquisa em exame apresenta uma configuração
tuições de ensino e pesquisa que formam os pes- do tipo mundos pequenos (small worlds) pois,
quisadores têm papel importante na construção apesar de apresentar uma densidade crescente-
do conhecimento. Assim, evidencia-se que estru- mente baixa, os autores continuam altamente agru-
turas de relacionamentos, configuradas como small pados e, ao mesmo tempo, conectados com au-
worlds, possibilitam persistência ao campo, mes- tores fora de seus grupos por meio de um peque-
mo tendo ele apresentado alto grau de heteroge- no número de intermediários. Mundos pequenos
neidade de temáticas e crescimento acelerado. possibilitam, em ambientes de grande mudança,
que as estruturas institucionais persistam mesmo
CONCLUSÃO em ambientes de baixa densidade (KOGUT;s
WALKER, 2001).
Verificamos, no presente estudo, que o pro-
Mediante a análise de conteúdo dos agrupa-
cesso de mudança no campo científico ocorre a
mentos identificados no período, verificamos indí-
partir das estruturas institucionais vigentes, sendo
cios de homogeneidade de temas dentro de cada
elas reproduzidas por meio da prática de pesqui-
agrupamento, o que reforça a afirmativa de que a
sa objetivada sob a forma de artigos científicos.
coesão dos autores influencia o conteúdo por eles
Sob essa afirmativa, aceitamos que as crenças e
desenvolvido (HANNEMAN; RIDDLE, 2005; MOO-
os valores relacionados ao que é legitimamente
DY, 2004), constituindo um facilitador de práticas
aceito como conhecimento científico são constru-
ídas a partir das relações sociais que conformam isomórficas de pesquisa, o que possibilita a cons-
a visão de ciência de qualquer autor (FUCHS, trução de regras e de normas (SCOTT, 2001),
1993; LEYDESDORFF, 2007). Assim, procuramos, muitas delas vinculadas não só aos grupos, mas a
na avaliação das relações entre os autores e sua alguma organização em especial, no caso, princi-
respectiva produção científica, entender como eles palmente universidades.
estão imbricados. Ao olharmos para fora dos grupos, observa-
Os dados do estudo corroboraram o pressu- mos um alto grau de heterogeneidade de temáti-
posto de que a dinâmica de relacionamento entre cas no campo, ainda que este apresente peque-
pesquisadores tanto influencia como é influencia- no número de autores. No entanto, mesmo dian-
da pelas práticas institucionalizadas de pesquisa. te da heterogeneidade no campo, os autores ten-
Assim como a dualidade entre estrutura de rela- dem a trabalhar nas perspectivas desenvolvidas
ções e prática de pesquisa reflete-se na constru- somente nos próprios grupos. Muitas das pers-
ção do conhecimento científico. Mediante a análi- pectivas e grupos que atuaram no período anteri-
se dos resultados, ficou evidente que o campo da or persistiram: alguns permanecendo na mesma
pesquisa nas duas áreas não representa uma rede linha, outros se fragmentando. Porém, fica evidente
amplamente conectada, apresentando grande que, mesmo com o grande crescimento do cam-
número de autores e grupos que não cooperam po, houve persistência na maioria das abordagens
diretamente. Todavia, entendemos que, mesmo usadas no período anterior, o que reforça o papel
havendo grande número de atores e grupos isola- da rede de relações como elemento que propor-
dos nos dois campos, eles compartilham de cer- ciona consistência à reprodução das estruturas

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LUCIANO ROSSONI, M.A. . CLÓVIS L. MACHADO-DA-SILVA, PH. D.

institucionais, aqui entendidas como práticas soci- instituições de ensino e pesquisa e em grupos de
ais duradouras (GIDDENS, 1989; MACHADO-DA- trabalho. Decorre dessa constatação o nível ob-
SILVA; GUARIDO FILHO; ROSSONI, 2006). servado de persistência no campo em análise,
mesmo em face do amplo crescimento no perío-
Nos casos em que houve maior heterogenei-
do de 1997 a 2005. Nesse contexto, as estrutu-
dade de perspectivas, esta encontrava-se relacio-
ras de relações são essenciais para a manutenção
nada principalmente ao tamanho dos agrupamen-
do desenvolvimento da ciência no campo de pes-
tos. Quando eles eram abordados somente a par-
quisa em estudos organizacionais e estratégia em
tir dos grupos, verificamos que a homogeneidade organizações no Brasil. >
de perspectivas era alta. Diante de tais evidências,
Recebido em: mai. 2007 · Aprovado em: out. 2008
é improvável que ocorram mudanças radicais de
paradigmas no campo, uma vez que estes são
desenvolvidos principalmente a partir dos esque- Luciano Rossoni, M.A.
mas teóricos precedentes. Como Giddens (1978) Doutorando em Administração pela UFPR.
ressalta, qualquer tipo de mudança na ciência ocor- Professor do PMDAUP, Curitiba/PR, Brasil.

re a partir da reprodução das estruturas institucio-


Clóvis L. Machado-da-Silva, Ph. D.
nais existentes.
Apesar de haver espaço para a inovação dos Ph.D. em Organizações e Estratégia pela Michigan State
University, Estados Unidos.
autores, ela não acontece no vácuo. A inovação Professor titular do PMDA/UP e da UFPR, Curitiba/PR, Brasil.
tende a reproduzir, mesmo que não intencional-
mente, as crenças e os valores desenvolvidos em

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1
Este artigo resulta de uma agenda de estudos em processo no âmbito do grupo de pesquisa cadastrado no CNPq sob a
designação “Estudos Organizacionais e Estratégia”; além disso, integra um programa de pesquisas sobre a “Institucionalização
da Pós-Graduação em Administração no Brasil”, financiado pelo PROCAD/CAPES.

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ANÁLISE INSTITUCIONAL DA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO EM MUNDOS PEQUENOS

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