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DUMONT, Louis. Homo Hierarchicus: o sistema das castas e suas implicações. São
Paulo: Edusp, 2008.
Há um ponto que deve ficar bem claro. Entende-se que o leitor pode recusar-se
a sair de seus próprios valores, pode afirmar que para ele o homem começa
com a Declaração dos Direitos do Homem e condenar pura e simplesmente o
que se afasta dela. Ao fazê-lo, ele com certeza marca estreitos limites para si, e
sua pretensão de ser “moderno” fica sujeita a discussão, por razões não apenas
de fato mas também de direito. Na realidade, não se trata aqui, digamo-lo de
maneira clara, de atacar os valores modernos direta nem sinuosamente. Eles
nos parecem, aliás, suficientemente garantidos para que tenham algo a temer
em nossas pesquisas. Trata-se apenas de uma tentativa de apreender
intelectualmente outros valores. Se houver uma recusa a isso, então será inútil
tentar compreender o sistema de castas, e será impossível, no fim das contas,
ter de nossos próprios valores uma visão antropológica. (p. 50)
O autor alude, então, ao erro metodológico que ele buscou evitar, que seria
utilizar, no estudo do sistema de castas, uma categoria teórica da sociologia ocidental, a
saber, “estratificação social”, o que impediria o enriquecimento de nossas próprias
concepções fundamentais sobre a hierarquia naquele sistema, e chama atenção para a
relevância crucial da ideologia na estruturação daquele intrincado sistema social.