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UNIVASF – UNIVERSIDADE FEDERAL

DO VALE DO SÃO FRANCISCO

PROFA. JANEDALVA GONDIM

CARINE ARAUJO CAVALCANTE

PETROLINA
2017
CARINE ARAUJO CAVALCANTE

Ensaio apresentado objetivando obtenção


de nota na disciplina Fundamentos sócio
filosóficos da educação, ministrada pera
Profa. Janedalva Gondin durante o
primeiro semestre do curso de Artes
Visuas — UNIVASF-BA
RESUMO

O presente ensaio visa discutir as ideias principais de dois filósofos iluministas: Immanuel
Kant e Jean-jaques Rousseau. Sabe-se que o segundo influenciou deveras a filosofia do
primeiro, ainda que Kant discorde e se posicione de forma oposta a Rousseau. O texto teve
como base diferentes leituras e observações a respeito das obras dos autores mencionados e
demonstrar ideias de ambas visões pedagógicas.

PALAVRAS-CHAVE: ROUSSEAU, KANT, PEDAGOGIA, ILUMINISMO,


EDUCAÇÃO.

INTRODUÇÃO

A respeito de Kant, conta-se que, dotado de tal rigidez na rotina, que ao sair para passear
com seu cachorro os vizinhos costumavam ajustar os seus relógios. De tão frequente e
assíduo o horário de seus passeios, houve estranhamento quando certa feita o filósofo não
apareceu no horário esperado, os vizinhos curiosos descobriram, então que Kant, absorto na
leitura de “Emílio” ou “Da educação” de autoria de Rosseau, não percebeu o tempo passar.
Kant e Rosseau nunca se encontraram, mas sabe-se que Kant era um grande admirador do
trabalho do segundo. De acordo com Kant: “ A qualidade literária dos textos de Rosseau
seduz o leitor como o canto das sereias” (Freitag, 1992), e por isso seria necessária atenção
e cautela na leitura dos mesmos. Diz-se que Kant organizou e sistematizou as ideias que
Rosseau espalhava de forma avulsa em seus textos.

Apesar de ter sido influenciado por Rosseau, há mais diferenças do que semelhanças no
pensamento de ambos filósofos.

DESENVOLVIMENTO

Immanuel Kant, nascido na Alemanha em 1724, é conhecido como o fundador da “Filosofia


Crítica”. De acordo com Kant, o homem necessita da educação para poder se “humanizar”,
e poder se diferenciar dos animais, pois a racionalidade seria o fio da via humana. Kant
fundamentou sua argumentação com a valorização da racionalidade e da disciplina sendo o
cerne de sua filosofia para entender a “arte de educar” (pedagogia).

O filosofo dividiu a educação em dois aspectos principais: A física e a prática. A educação


física diz respeito ao cuidado com a criança, afirmando que o ser humano é o único animal
que necessita de cuidados, pois se os filhotes de alguns animais selvagem nascessem fazendo
barulho, assim como os humanos, seriam presas fáceis. Cita também o exemplo de uma
espécie de ave, que mesmo recém-nascida sabe que deve depositar seus dejetos fora do
ninho. Claro, sabe-se que diversas outras espécies nascem de forma a que os filhotes não
sobrevivem sem a presença dos pais, ou mesmo que há educação animal, ainda que de forma
diferente do que ocorre com os humanos, pois a educação humana é mais codificada e
simbólica do que a vista naturalmente entre os animais. Essa educação física é de
responsabilidade dos pais, sendo visto como primeiros educadores, e deve ter como foco
impedir que a criança faça uso perigoso de suas forças.

A educação prática tem por função formar o humano. Esta se subdivide em Disciplina e
instrução.

A disciplina, as vezes também intitulada a parte negativa da educação prática seria o primeiro
momento, o passo para o início da formação, que seria a parte positiva. Kant afirma que a
disciplina é o que faz com que o ser humano abandone a animalidade para abraçar a
humanidade. O caráter negativo viria do fato de negar o estado bruto, natural do homem, e
seu lado instintivo e “irracional”. Os animais possuem em sua constituição um puro instinto,
uma racionalidade natural intrínseca ao ambiente natural, necessárias para sua
sobrevivência, mas o homem, além do instinto, possui em sua porção sensível os impulsos e
inclinações, e do outro lado seria possuidor da faculdade racional. Por não ser puro instinto
como os animais ditos irracionais, o homem possui a necessidade de se utilizar da razão para
guiar suas ações, seu comportamento sua conduta e sua vida, no geral.

Negar a selvageria, entretanto, não é algo possível de ser realizado por conta própria, se faz
necessária a mediação de outrem. Por isso a disciplina é algo indispensável, pois uma vez
livre, o homem abdicará de tudo para mantê-la, sendo assim impossível recorrer depois.
Tendo como exemplo as crianças selvagens, crianças que por algum motivo, seja abandono,
sequestro, ou maus tratos tenham se desenvolvido afastadas do contato humano. Apesar de
sua incrível adaptação, como se pode observar na desenvoltura do corpo para se adequar as
condições vividas no mundo selvagem, uma vez que retornem ao contato humano não
conseguem suficiente resultado para que consigam viver, por conta própria, nas sociedades
humanas.

Mas Kant em seu discurso de forma alguma pretende destituir completamente o homem de
sua porção sensível, a contenção deve ocorrer para garantir a autopreservação. Kant também
parece crer que o homem em seu estado natural tende a “benevolência cega e servil”, sem
que signifique necessariamente que o agir desta forma seria o correto, se faz necessária a
criação de uma conduta (projeto ideal de conduta).

Um ponto interessante em seu discurso, é que Kant trata de diferenciar a disciplina da


instrução, dada a idealização da disciplina como servidão absoluta, e essa ideia é um tanto
arriscada. Disciplina em excesso se torna nada mais que autoritarismo. Tendo isso em mente
a disciplina é dita como regime de ordem e a instrução como ensinamento. O objetivo é
sempre impedir que a animalidade prejudique o homem, não que ele se torne uma criatura
podada de todo e qualquer sentido do seu lado sensível.

Para Kant, o exercício da liberdade se dá através da parte prática da educação.

Jean-Jacques Rousseau nasceu na Suíça, em 1712, foi um dos mais populares filósofos do
iluminismo, mesmo sendo um crítico do movimento. Em sua visão o homem nasce bom,
mas a sociedade o corrompe, e essa é uma das maiores diferenças entre seu pensamento e o
de Kant.

O livro utilizado como referência para estudos da visão filosófica de Rousseau a respeito da
educação foi “Emílio” ou “Da Educação”, que não tinha por intenção ser um tratado da
educação, mas sim um tratado filosófico ou romance, mas é inegável o peso que teve para a
pedagogia no decorrer dos séculos. Muito se fala a respeito da obra e de seu peso, e também
é comum vê-la ser desconsiderada pelo fato de Rousseau ter abandonado seus cinco filhos
no orfanato alegando não ter saúde, condições físicas ou financeiras para educa-los
corretamente. Em alguns casos costuma-se considerar a obra Emílio como resultado do
remorso que o autor sentia por não ter criado suas crianças.

Cada livro da obra representa uma fase da vida do Emílio, sendo dividida em cinco livros.

O livro I trata do nascimento aos dois anos de idade, a chamada “idade da necessidade”, em
que afirma que a criação deve ser dar ou pela mãe, ou por uma ama, ou por quem amamente
a criança. O pai ou governante deve participar, mas ambos devem representar uma só pessoa
para a criança. Além de dicas a respeito da temperatura da água dos banhos, da alimentação
tanto da criança quanto da ama e da recomendação de evitar mudanças bruscas em que lhe
transmite os cuidados, ele também sugere que neste momento seja apresentado de tudo ao
infante, para que o mesmo, quando atingir a fase adulta não tema ou se surpreenda com nada.
Ele também critica o tratamento agressivo por vezes por parte das amas impacientes com o
choro da criança que podem chegar a bater na criança, gerando nela sentimentos negativos
como a mágoa e o ressentimento, e ressalta a importância de identificar o choro da criança
como sua forma de se comunicar com o mundo.

O livro II trata dos dois aos doze anos e Rousseau a chama a “idade da natureza”. Nessa fase
a criança não deve receber sermões muito duros que não compreenda, e não é muito capaz
de raciocinar corretamente, e deve aproveitar a infância, exercitar o corpo e os sentidos. Uma
ideia bem diferente da propagada na época, em que as crianças eram tratadas como se fossem
adultos em miniatura. Recomenda-se deixar a criança identificar novos ambientes e explorar
por conta própria, permitindo que a mesma desfrute de certa liberdade para, inclusive, se
ferir, pois através do sofrimento ela obteria novas informações sobre o mundo.

O livro III trata dos doze aos quinze anos, e é denominada a “idade da força”. Nessa fase
começam os estudos intelectuais e técnicas, e também o preparo para a vida social, através
do aprendizado de alguma atividade manual. Essa atividade deverá trazer para o Emílio o
aprendizado da necessidade de trabalhar, da igualdade e da interdependência entre os
homens.

O Livro IV trata dos quinze aos vinte anos e é a denominada “idade da razão e das paixões”
Essa fase seria praticamente um renascimento, marcado pela entrada no mundo moral e
religioso, unindo corpo e espirito entre razão e sentimento. De acordo com Rousseau as
paixões naturais fazem o homem sociável, seriam elas: a amizade, a compaixão, a simpatia.
O ódio, a inveja, vaidade e ambição seriam criados pela sociedade e deveriam ser repudiados.
Recomenda-se o ensino de religião, sociedade, justiça entre outros através de fábulas.

O último livro, o Livro V trata dos vinte aos vinte e cinco anos e denominada a idade da
sabedoria. Nesta fase inicia-se a educação política, Rousseau recomenda viagens a outros
países e um estudo profundo da cultura política desses lugares.

Na visão de Rousseau, a criança é superior ao adulto, pois possui ainda em si a condição


natural do humano, e sua pedagogia tem por objetivo manter a liberdade natural da criança,
e adicionar a isso uma camada de liberdade moral. Também foi dos primeiros filósofos a
considerar a infância uma fase própria, com suas individualidades e necessidades. Também
é contrário à ideia de uma educação voltada ao preparo para a vida adulta.

É perceptível a preferência de Rousseau por uma educação infantil realizada afastada da


cidade, e até mesmo da família, sendo esta chamada “educação negativa” em contato direto
com as plantas, os animais e as intempéries, uma ideia totalmente contraria a de Kant. A
disciplina, fundamental para a aprendizagem de acordo com o filosofo alemão seria
provavelmente escrachada por Rousseau, pois não respeitaria o estado natural de liberdade
da natureza humana.

Além da divisão em fases etárias em Emílio, Rousseau também distinguiu em três planos a
educação: Educação da natureza, educação dos homens e educação das coisas, dos objetos.

Educação da natureza seria o desenvolvimento natural do corpo e das faculdades mentais, a


dos homens se dá através do contato com outros homens e a educação das coisas e dos
objetos seria a experiência.

É no mínimo curioso pensar o quão diferente Kant e Rousseau analisavam a educação


infantil. Principalmente no quesito selvageria versus homem civilizado. Enquanto Rousseau
afirma que o homem primitivo (chamado por ele de homem natural) era bom por não ser
corrompido pela sociedade, vivia necessitando somente da conexão com a natureza e não
outros homens, Kant afirma a necessidade de certo controle — ainda que não total — da
porção sensível do homem. Kant desvaloriza o fenômeno animal, alega que ele é nocivo para
a vida em sociedade, enquanto Rousseau aplica à sociedade o fardo de corromper o homem
e torna-lo egoísta.

Entretanto é possível notar semelhanças entre a filosofia de ambos tais quais a necessidade
do trato e cuidado com a criança, e principalmente da importância do desenvolvimento moral
do ser humano, ainda que observadas de pontos de vista diferentes.

CONCLUSÃO

Ambos filósofos visam uma educação que objetiva libertar o homem, e formar uma estrutura
moral no mesmo. Por mais que Rousseau busque desenvolver um intelecto inato ou que
Kant acredita que seja necessário desenvolvê-lo, ainda que Rousseau busque na natureza
humana liberdade, e Kant busque a mesma através da disciplina, é inegável a importância
que ambos filósofos deram a educação como forma de desenvolvimento humano. Ainda há
ideias como ensino público e acessível a todos para garantir uma justiça social (Rousseau)
que ainda hoje são pontos de debate e muita luta ainda quase três séculos após a publicação
de seus textos.

O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele.

Immanuel Kant

A educação do homem começa no momento do seu nascimento; antes de falar, antes de entender, já se
instrui.

Jean-Jacques Rousseau

Sessenta anos atrás, eu sabia tudo. Hoje sei que nada sei. A educação é a descoberta progressiva da nossa
ignorância.

Will Durant

Bibliografia:
Frazão, Dilva. 2017. Immanuel Kant. Ebiografia. [Online] 28 de 08 de 2017. [Citado em:
09 de 09 de 2017.] https://www.ebiografia.com/immanuel_kant/.

—. 2017. Jean-Jacques Rousseau. Dilva Frazão. [Online] 31 de 05 de 2017. [Citado em: 09


de 09 de 2017.] https://www.ebiografia.com/jean_jacques_rousseau/.

Freitag, Barbara. 1992. Itinerários de Antígona: a questão da moralidade. s.l. : Papirus,


1992.

2002. Rousseau: A arte da Filosofia, Literatura e Educação. unicamp. [Online] unicamp, 02


de 2002. [Citado em: 09 de 09 de 2017.]
http://www.unicamp.br/~jmarques/cursos/2001rousseau/acs.htm.

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