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quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Bioenergética, filosofia e crítica


“O que um indivíduo sente também pode ser definido pela expressão de
seu corpo.” (pg. 48)

A frase acima é importante para o trabalho psicoterapêutico com o corpo,


porque nos faz refletir e perceber a relação entre o movimento corporal e
a emoção que uma pessoa vive. Trabalhar com esta relação nos permite
conhecer o paciente sem a necessidade que ele coloque palavras para
definir o que vive, em muitos casos, ele precisa de ajuda para nomear seus
sentimentos e a partir da nossa observação podemos acompanhá-lo neste
processo. No entanto a frase acima me incomoda, não sei se foi o Lowen
ou o tradutor que utilizou a palavra que tanto me perturba, mas
invariavelmente ela se faz presente e influencia o modo como eu, e outras
pessoas que lemos o livro, aprendemos a teoria bioenergética. A palavra
em questão é: definido. Eu a trocaria por: percebido.

A troca parece simples, mas não é. Reich, ao desenvolver sua


Vegetoterapia Caractero-Analítica, teve uma forte influência filosófica e
deixou claro que os Caráteres que descreveu eram hipóteses teóricas, ou
seja, servem como referência para o trabalho terapêutico, mas não podem
ser vistos como verdades, caso contrário não seremos capazes de perceber
a individualidade de cada paciente que encontramos. Portanto, devemos
ter uma postura filosófica no nosso cotidiano profissional que busque
sempre questionar (falo sobre filosofia como um admirador, e não um
conhecedor). Para nos apropriamos de um conhecimento devemos saber
refletir a respeito das questões importantes, e não, sermos capazes de ler e
memorizar informações estruturadas em conhecimento.

Para fazermos as questões relevantes, devemos desenvolver a nossa


capacidade crítica (aqui entendida como algo construtivo ao invés de
destrutivo). Com isto podemos desenvolver novas concepções teóricas e
formas de trabalho. Se quisermos alcançar este objetivo devemos tomar
cuidado com todas as palavras e concepções que acabam formatando o ser
humano. Por isto esta pequena palavra me incomoda tanto, pois não
posso definir o sentimento de ninguém a partir de seus movimentos,
posso me aproximar e a partir disto, perceber, mas a palavra final sobre
qual sentimento está sendo vivido, é de quem está vivendo. Nunca
podemos esquecer, o sentimento é anterior a linguagem oral que nomeia
objetos, e esta linguagem serve como referência comunicativa entre os
seres humanos, mas cada sentimento é único, individual e impossível de
ser replicado.

Esta citação pode ser encontrada em:


LOWEN, Alexander (1975). Bioenergética. 10° Ed. São Paulo: Summus, 1982.
Postado por Luis Felipe às 00:07
Marcadores: Bioenergética, Citação, crítica, filosofia

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