“O que um indivíduo sente também pode ser definido pela expressão de seu corpo.” (pg. 48)
A frase acima é importante para o trabalho psicoterapêutico com o corpo,
porque nos faz refletir e perceber a relação entre o movimento corporal e a emoção que uma pessoa vive. Trabalhar com esta relação nos permite conhecer o paciente sem a necessidade que ele coloque palavras para definir o que vive, em muitos casos, ele precisa de ajuda para nomear seus sentimentos e a partir da nossa observação podemos acompanhá-lo neste processo. No entanto a frase acima me incomoda, não sei se foi o Lowen ou o tradutor que utilizou a palavra que tanto me perturba, mas invariavelmente ela se faz presente e influencia o modo como eu, e outras pessoas que lemos o livro, aprendemos a teoria bioenergética. A palavra em questão é: definido. Eu a trocaria por: percebido.
A troca parece simples, mas não é. Reich, ao desenvolver sua
Vegetoterapia Caractero-Analítica, teve uma forte influência filosófica e deixou claro que os Caráteres que descreveu eram hipóteses teóricas, ou seja, servem como referência para o trabalho terapêutico, mas não podem ser vistos como verdades, caso contrário não seremos capazes de perceber a individualidade de cada paciente que encontramos. Portanto, devemos ter uma postura filosófica no nosso cotidiano profissional que busque sempre questionar (falo sobre filosofia como um admirador, e não um conhecedor). Para nos apropriamos de um conhecimento devemos saber refletir a respeito das questões importantes, e não, sermos capazes de ler e memorizar informações estruturadas em conhecimento.
Para fazermos as questões relevantes, devemos desenvolver a nossa
capacidade crítica (aqui entendida como algo construtivo ao invés de destrutivo). Com isto podemos desenvolver novas concepções teóricas e formas de trabalho. Se quisermos alcançar este objetivo devemos tomar cuidado com todas as palavras e concepções que acabam formatando o ser humano. Por isto esta pequena palavra me incomoda tanto, pois não posso definir o sentimento de ninguém a partir de seus movimentos, posso me aproximar e a partir disto, perceber, mas a palavra final sobre qual sentimento está sendo vivido, é de quem está vivendo. Nunca podemos esquecer, o sentimento é anterior a linguagem oral que nomeia objetos, e esta linguagem serve como referência comunicativa entre os seres humanos, mas cada sentimento é único, individual e impossível de ser replicado.
Esta citação pode ser encontrada em:
LOWEN, Alexander (1975). Bioenergética. 10° Ed. São Paulo: Summus, 1982. Postado por Luis Felipe às 00:07 Marcadores: Bioenergética, Citação, crítica, filosofia