You are on page 1of 84

FACULDADES SPEI

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU


EM PSICOLOGIA TRANSPESSSOAL
ALUBRAT- CAMPINAS

CLAUDIO HIDEYO ASSATO

VEREDAS MENTAIS

CAMPINAS
2015
FACULDADES SPEI
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU
EM PSICOLOGIA TRANSPESSSOAL
ALUBRAT- CAMPINAS

CLAUDIO HIDEYO ASSATO

VEREDAS MENTAIS

Trabalho de Conclusão de Curso da


Pós-Graduação em Psicologia
Transpessoal das Faculdades SPEI,
em parceria com ALUBRAT, sob
orientação da Profa. Marcia Regina
Rosa.

CAMPINAS
2015

2
AGRADECIMENTOS:

Agradeço a ALUBRAT pela oportunidade de estudo; agradeço o


encontro com professores e amigos de jornada, na qual formamos uma
egrégora peculiar de grande aprendizagem e conquistas.

Agradeço Arlete da Silva Acciari, que me apresentou à psicologia


transpessoal, acompanhou e incentivou-me em todos os momentos do curso
favorecendo meu crescimento interno e processo de transformação !

Agradeço minha orientadora Márcia Regina Rosa, que desde o inicio


me acolheu e com muito carinho supervisionou este processo de
aprendizagem e crescimento pessoal.

Agradeço a todos meu amigos, companheiros de jornada e familiares


que deram um brilho, calor e magia neste meu caminhar transpessoal.

3
Emergência

Emerge em mim a luz da minha alma !


Essência da vida; leveza do meu Ser
O sentido do saber que impulsiona meu desejo
Faz em mim no símbolo do conhecimento

Emerge a emoção que busca palavras


Iluminadas aparecem como nuvens
Indo e vindo criam símbolos mentais!
Emerge em ponto e num sorriso.

Como se fosse meu último dia...


Submerge como emergência para sobreviver!
Assim nesta emergência caminho ...
Sigo a luz emergente que me conduz !

Cláudio Assato

4
SUMÅRIO:

RESUMO 09
INTRODUÇÃO 10
VEREDAS MENTAIS 10
OBJETIVOS 11
JUSTIFICATIVAS 11
METODOLOGIA 12

CAPITULO 1: O FENÔMENO 13
1.1. APOFENIA E PAREIDOLIA 13
CAPITULO 2: UMA VEREDA HISTÓRICA 17

2.1. A PSICANÁLISE E O INCONSCIENTE 17


2.2. FREUD E PIAGET 17

CAPITILO 3: VEREDAS ALTERNATIVAS 20

3.1. EXPERIÊNCIAS ANÔMALAS E ESTADOS ALTERADOS


DE CONSCIÊNCIA 20
3.2. EMERGÊNCIA ESPIRITUAL 21

CAPITULO 4: LABIRINTOS EM VEREDAS 25

4.1.DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS DAS EMERGÊNCIAS


ESPIRITUAIS 25
4.2.PSIQUIATRIA E AS EMERGENCIAS ESPIRITUAIS 26

CAPITULO 5: NOMEANDO AS VEREDAS 27

5.1.CID-10 E DSM 27

CAPITULO 6 : CAMINHANDO PELAS VEREDAS 30

6.1. PSICOSES 30
6.2. ESUIZOFRENIAS 30
6.3. TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR 32
6.4. AS SUBSTANCIAS PSICO ATIVAS 32
6.5. ALUCINACOES E DELIRIOS 33
6.6. OS TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE 36
6.7. OS QUADROS DISSOCIATIVOS 36

CAPITULO 7: UMA VEREDA ALTERNATIVA 38

5
7.1. A PSICOLOGIA TRANSPESSOAL 38
7.2. FORMAS DAS EMERGENCIAS ESPIRITUIAIS 39

7.2.1. A CRISE XAMÂNICA 39


7.2.2. O DESPERTAR DA KUNDALINI 39
7.2.3. A CRISE DE ABERTURA PSÍQUICA 42
7.2.4. EXPERIÊNCIAS COM VIDAS PASSADAS 42
7.2.5.EXPERIÊNCIAS COM ESPÍRITOS
GUIA “CANALIZAÇÃO” 43
7.2.6. EXPERIÊNCIA DE QUASE MORTE 44
7.2.7. EXPERIÊNCIA DE CONTATO PRÔXIMO
A OVNIs 44
7.2..8. ESTADOS DE POSSESSÃO 45

CAPITULO 8: MAPEANDO VEREDAS 46

8.1. DISCUSSÃO 46

CAPITULO 9: CONSTRUINDO NOVAS VEREDAS 59

9.1. RESULTADOS 59

CAPÍTULO 10: A SUA VEREDA 63


10.1. CONCLUSÃO 63

APÊNDICE- 01:

ESQUIZOFRENIA E TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR

1. ESQUIZOFRENIA PARANOIDE 65
2. ESQUIZOFRENIA HEBEFRÊNICA 65
3. ESQUIZOFRENIA CATATÔNICA 64
4. ESQUIZOFRENIA SIMPLES 65
5. ESQUIZOFRENIA RESIDUAL 66

TRANSTORNOS AFETIVOS BIPOLARES 66

APÊNDICE – 02:

CONCEITOS EM PSICOLOGIA TRANSPESSOAL 68

1. CONCEITO DE UNIDADE 68
2. CONCEITO DE VIDA 69
3. CONCEITO DE EGO 70
4. ESTADOS DE CONSCIÊNCIA 73
5. CARTOGRAFIA DA CONSCIÊNCIA 76

11.REFERÊNICAS BIBLIOGRÁFICAS 80

6
LISTA DE ABREVEATURAS:

AIT.........................................................Abordagem Integrativa Transpessoal


CID .....................................................Classificação Internacional de Doenças
DSM............................................................ Diagnostic and Statistical Manual
EA ................................................................................Experiências Anômalas
EAC.............................................................Estados Alterados de Consciência
EE................................................................................... Emergência Espiritual
EQM .....................................................................Experiência de Quase Morte
OMS ................................................................Organização Mundial da Saúde
PT ...............................................................................Psicologia Transpessoal
SPA................................................................................ Substância Psicoativa
VM ...........................................................................................Veredas Mentais

7
LISTA DE FIGURAS:

FIGURA 1: Pareidolia no chocolate 14


FIGURA 2: Apofenia e as manchas na parede 14
FIGURA 3: Jesus na torrada 15
FIGURA 4: Rorscharch e o que você vê ? 16
FIGURA 5: PT Corpo Teórico 68
FIGURA 6: Cartografia da Consciência 79

8
RESUMO:

Veredas Mentais são caminhos psicológicos que realizamos ao


construir o nosso universo. Um caminho do nosso Self ao nosso Ego. Neste
percurso peculiar muitos fenômenos são observados e descritos de modo
particular por cada individuo. O Objetivo deste trabalho será descrever estas
Veredas Mentais e correlacionar com as Emergências Espirituais descritas na
psicologia transpessoal, além de diferencia-las de outros fenômenos
descritos e observados na psicologia e na psiquiatria clínica. Foi utilizado a
revisão bibliográfica de artigos nacionais e internacionais e de autores da
psicologia transpessoal além de referência psiquiátrica e psicopatológica da
DSM – IV e CID – 10. Concluiu-se que foram identificados critérios de maior
concordância entre os pesquisadores, que poderiam indicar uma adequada
diferenciação entre experiências espirituais e transtornos psiquiátricos. Em
relação à experiência vivida verificou-se uma ausência de sofrimento
psicológico, ausência de prejuízos sociais e ocupacionais, uma duração curta
da experiência, atitude crítica (ter dúvidas sobre a realidade objetiva da
vivência), compatibilidade com o grupo cultural ou religioso do paciente,
ausência de comorbidades, controle sobre a experiência, crescimento
pessoal ao longo do tempo e uma atitude de ajuda aos outros. A presença
dessas condições sugeriu uma experiência espiritual não patológica mas, por
outro lado, há carência de estudos bem controlados testando esses critérios.

9
INTRODUÇÃO

VEREDAS MENTAIS
Não foi tarefa simples escrever sobre as Veredas Mentais (VM) que
criamos e percorremos em nossa jornada; descobrir e contempla-las emerge
memórias e simboliza nossa vida!

O foco deste trabalho será a Emergência Espiritual (EE) descrita pela


Psicologia Transpessoal (PT); procurou-se avaliar o fenômeno e associa-lo a
fatos descritos e encontrados na literatura e nas veredas da alma de cada
ser.

Observou-se a vida e avaliando como interagimos com ela, sempre


com o questionamento do impacto deste processo em cada representação,
em cada escolha, em cada ser, o que nos torna únicos. Deste modo cria-se
as VM. Através dela pensou-se no que traspassa, o que permeia, o que
atravessa, o que infiltra, o que penetra, o que transnuda, o que emerge. E
com tais questionamentos refletiu-se e pensou-se sobre as VM e como elas
se dão, de que modo, de que jeito, que rumo, que processo, que norma, que
diretriz, que “regra”, que procedimento ocorre. Então como protagonistas de
nossas histórias questionou-se também como conduzimos, como
comportamos, como agimos, como atuamos, como desempenhamos, como
procedemos, como cumprimos, como levamos ... enfim como realizamos!

Na arte de observar, contemplar e compor nossos processos, decidiu-


se registrar algumas VM fazendo uma cartografia do que esta criptografado
nos registros mentais; em nossas memórias... Deste modo percorreu-se um
caminho do nosso Self ao nosso Ego !

Como cada ser é único, nada melhor do que a Arte para representar o
simbólico e imaginário de cada um. Assim, diante deste tema atual e
sincrônico pensou-se que ela trouxe para a PT um modo subjetivo de
compreendê-la; então começou-se aqui uma vereda com referência a arte
contemporânea, representada pela atual 31 bienal de SP onde o tema fala

10
sobre “Como procurar coisas que não existem” e da Trienal 2014 de
Piracicaba que questiona o que seria de nós sem as coisas que não existem.

Nesta 31 bienal de SP, o diretor do SESC de SP, Danilo Santos de


Miranda, disse que no contexto presente, pleno de signos e interpretações
que se mesclam e colidem, há de se perguntar sobre as possibilidades que
os indivíduos tem de se orientarem. Cada um de nós pode sentir; em maior
ou menor medida, a urgência de atribuir sentidos, sob a pena de sermos
soterrados por imagens, textos e criações que constroem a realidade. A arte
participa como protagonista dessa circulação simbólica com a presença por
vezes inquietante e com comentários acerca de outras presenças. Assim a
aproximação da produção contemporânea em artes visuais pode significar,
para diversos públicos, a ampliação de suas possibilidades de leitura dos
fenômenos do mundo!

As VM podem ser um tema abstrato e ao mesmo tempo um dilema


contemporâneo e também particular. A questão de como viver num mundo
em transformações permanentes onde as velhas formas podem ser
questionadas e as novas ainda em construção. Em nosso ciclo de
transformações o repertório criado nos integra ao todo que resignifica e
emerge.

OBJETIVO GERAL
O objetivo geral deste trabalho é de realizar uma revisão bibliográfica
do tema EE no campo da PT.

OBJETIVO ESPECÍFICO
Correlacionar EE, experiência espiritual a transtornos mentais de
conteúdo religioso classificadas e nomeadas de outro modo no campo da
psicologia, da psicopatologia e da psiquiatria clínica, além de observar a
fenomenologia das VM do evento.

11
JUSTIFICATIVAS
A PT descreve a EE sob vários aspectos e relata que pode ser
desencadeada ou manifestada de formas distintas em cada indivíduo, pois
estas são dotadas de características específicas que as distinguem umas das
outras. Esses estados incomuns de consciência na EE faz com que seja
possível aos materiais inconscientes, com forte carga emocional emergir para
a consciência e esse processo é a expressão de um poderoso potencial de
cura espontâneo descrito na PT, entretanto também foi descrito na psiquiatria
como sendo sinal ou sintoma de algumas psicopatologias. O fenômeno pode
ser observado com características semelhantes na população e nesta revisão
bibliográfica descreveu-se diferentes olhares para o evento.

Nessas circunstâncias, os sintomas emocionais e psicossomáticos


não são problemas para serem combatidos, mas sinais de um esforço de
cura pelo organismo descrito na PT e um critério diagnóstico diante as
classificações psicopatológicas. Descrever, pesquisar e relatar os sinais e
sintomas psíquicos, o caminho percorrido pela VM do individuo passa a ser
de extrema importância para um diagnóstico criterioso e bom prognóstico
para a pessoa envolvida no processo.

METODOLOGIA

Foi realizado Revisão Bibliográfica de textos e artigos nacionais e


internacionais. Pesquisado a EE, a PT, Experiências Anômalas (EA), os
Estados Alterados de Consciência (EAC) e a Psicopatologia Psiquiátrica
tendo como referência a CID -10 e o DSM IV.

12
CAPÍTULO 1: O FENÔMENO

1.1. APOFENIA E PAREIDOLIA


Para entendermos nossas VM, será importante entendermos qual
“sinalização” respeitamos na construção deste caminho. Então o que
observamos e criamos previamente para decidir “por onde e para onde ir ! “

Nosso cérebro é capaz de criar imagens onde elas não existem, pode
ver diversas formas em objetos e lugares. Este fenômeno é chamado de
pareidolia.

Na pareidolia um estímulo vago e aleatório, uma imagem ou som, a


priori sem significado ou relevância, passa a ser percebido como algo
distinto e com significado. Assim, será comum ver imagens que parecem ter
significado, por exemplo em nuvens, montanhas, solos rochosos, florestas,
líquidos, janelas embaçadas e outros tantos objetos e lugares... como se
“dissessem” algo.

A palavra pareidolia vem do grego "para", que é junto de; ou ao lado


de, e "eidolon", que significa imagem, figura ou forma. Com sons, geralmente
a pareidolia surge em músicas tocadas ao contrário, que parecem dizer algo,
ou enviar alguma “mensagem” ao interlocutor. O cérebro consegue entender
palavras que na verdade não foram ditas, fatos que não existem. São frases
ou palavras onde só há um ruído incoerente.

A pareidolia ativa nosso cérebro, desperta nossos sentidos. É uma


capacidade natural de nosso cérebro onde, com estímulos visuais ou
sonoros, enxergam ou criam um sentido para algo abstrato que se encaixa
nos padrões criados pelo cérebro. Enxergar rostos é a pareidolia mais
comum para o ser humano. Assim que o bebê nasce e conhece a face
humana, a posição dos olhos, nariz e boca, o cérebro já fica condicionado a
reconhecer rostos em todo abstrato tenha alguns traços que se encaixam no
padrão de um rosto humano.

13
Figura 1
Pareidolia no chocolate

A crença humana é uma grande vítima da pareidolia. São manchas


que parecem imagens de santos, um embaçado no vidro que lembra um
fantasma...etc. Quando não somos capazes de identificar algo, a imagem
recebida já coloca o cérebro em alerta para que ele comece a recriar os
padrões da imagem e rapidamente você já pensa: “Aquilo não parece um
rosto ?” E pronto. Para você aquela mancha na parede sempre será um rosto
e vai ser difícil convencer o cérebro em ver aquela “imagem do rosto” como
se fosse apenas uma imagem abstrata.

Figura 2
Apofenia e as manchas na parede

14
Pareidolia é um tipo de Apofenia; um fenômeno cognitivo de
percepção de padrões ou conexões em dados aleatórios. É um importante
fator na criação de crenças e ou ilusões. Inicialmente descrita como sintoma
de psicose, a apofenia ocorre no entanto em indivíduos perfeitamente
saudáveis mentalmente.

Ocorrências de apofenia freqüentemente são investidas de significado


religioso e ou paranormal ocasionalmente ganhando atenção da mídia como ,
por exemplo a impressão de ver Jesus em uma torrada, a imagem de Nossa
senhora na arvore entre outros exemplos.

Figura 3
Jesus na Torrada

Sabendo deste fato, na psicologia, o teste projetivo de manchas


Rorschach a apofenia é estimulada com o objetivo de identificar padrões
significativos na vida do indivíduo que ele projeta sobre a mancha.

15
Figura 4
Rorschach

Com estas definições em mente, penso que facilitara a compreensão


de qual VM cada um de nos escolheu caminhar apos as nossas sinalizações
internas.

Então, dentro do repertório da PT, o conceito de EE, fica importante


neste entendimento do que emerge em cada um diante da VM que estamos
percorrendo e o que observamos neste caminho !

16
CAPÍTULO 2: UMA VEREDA HISTÓRICA

2.1. A PSICANÁLISE E O INCONSCIENTE


Desde o surgimento da psicanálise não é mais possível acreditar no
total domínio da consciência sobre nossos atos. Os sonhos, os atos falhos,
as associações livres mostram que temos comportamentos que escapam a
nossa consciência e que um conjunto de significados, que nós próprios
desconhecemos, influenciam nosso modo de ser e nossas construções sobre
o símbolo. Nossas VM podem ser interpretadas como labirintos e caminhar
nele pode parecer novo, desconhecido, amedrontador ou inovador,
contemplativo e gratificante.

A realidade é compartilhada e é simultaneamente algo muito pessoal


e singular. Uma condição de algo que se situa entre o mundo interno e o
mundo externo que não é puramente objetivo e nem puramente subjetivo.

Há partes conscientes e partes inconscientes. Assim enquanto seres


de relação, nossas expressões atingem os outros e os outros nos atingem.
Nessa rede de relações encontramos aquilo que consideramos o mundo real,
com seus fatos, fenômenos, crenças, valores, usos e costumes, enfim, a
cultura do tempo que vivemos e assim cada um de nos construímos nossos
próprios símbolos e entre eles a experiência da EE descrita na PT; a qual
esta presente como fenômeno na psicologia, na religião, na arte e na
psiquiatria entre outros campos.

2.2. FREUD E PIAGET


De acordo com o meio que vivemos, nossa cultura, família, nossos
valores e época em que vivemos escolhemos uma vereda mental que nos
faca sentido. Historicamente varias pessoas descreveram sobre estes
processos e escolhas; por exemplo: Freud vê no pensamento simbólico
raízes inconscientes. Piaget, em oposição a essa idéia, afirma que a
existência do jogo de imaginação ou de ficção na criança, chamado de jogo
simbólico, é capaz de mostrar que o pensamento simbólico ultrapassa o
inconsciente; tendo uma parte consciente e outra inconsciente concordando

17
com as proposições freudianas. Então desde tenra idade nossas veredas vão
se construindo de modo simbólico e uma parte deste símbolo será consciente
e outra inconsciente.

Piaget explica que, nesse ”jogo infantil“, nesta construção mental;


nestas primeiras VM a distinção entre simbolismo inconsciente e consciente
não é clara, tal como no caso de uma personalidade adulta. Prevalece um
estado de indiferenciação por ocasião da assimilação do real ao eu. A criança
está no processo de formação e descobertas e de acordo com o
desenvolvimento neuropsicológico poderemos associar ou ter expectativas
distintas neste processo de simbolização. Tais símbolos serviram como
“guias” de sinalização para as VM.

Então o pensamento simbólico forma uma unidade, o que implica na


possibilidade de ter como qualidades concomitantes a consciência e a
inconsciência.

Segundo Piaget, todo símbolo é ou pode ser, ao mesmo tempo,


primário e secundário, o que quer dizer que ele pode comportar, além de sua
significação imediata e compreendida pelo sujeito, significações mais
profundas exatamente como uma idéia, além do que ela implica
conscientemente o raciocínio que a utiliza no momento considerado, pode
conter uma série de implicações que escapam momentaneamente ou desde
longo tempo ou mesmo que escaparam sempre à consciência do sujeito
pensante. Então as sinalizações das VM terá significados conscientes e
inconscientes.

Assim diante das diferentes VM vamos escolhendo ao longo da vida


as que nos trazem maior “conforto”, melhor ”resposta” naquele momento de
vida. É a vereda do nosso Self ao Ego !

Segundo Freud, o conteúdo que a psicanálise propõe-se a revelar é


oculto para o sujeito devido ao trabalho do recalcamento*. Piaget afirma que
na teoria psicanalítica há simbolismo porque o conteúdo dos símbolos é

18
recalcado. Em oposição a essa idéia, ele entende que não é o conteúdo que
explica a formação do símbolo**, mas sim a própria estrutura do pensamento
do sujeito.

Neste sentido, Piaget não atribui ao recalcamento a importância crucial


que tem na obra de Freud. O recalcamento regula os esquemas afetivos,
fazendo com que o conteúdo do símbolo escape à consciência do sujeito.
Faço referência a Freud e Piaget para entendermos que o símbolo seria
construído no campo das EE assim classificada na PT. Esta VM pode
emergir em velocidades distintas em cada ser !

______________________________________________________________
* A palavra recalque significa “rebaixamento de terra ou paredes” (p. 358). O radical calcar é conceituado como
“calcar a terra, o terreno= pressionar-pisar-apertar” (p. 358), podendo também ser utilizado como “oprimir, vexar,
desprazer” (HANS, 1996, p. 358).
Roudinesco e Plon (1998) acrescentam que o termo refere-se “ao ato de fazer recuar ou de rechaçar alguém ou
alguma coisa” (p. 647). Os mesmos autores afirmam que também pode ser utilizado como sinônimo de recusa ao
acesso a um país ou lugar específico.
De uso quase que exclusivo da psicanálise, define-se recalque como sendo o movimento que o aparelho psíquico
promove para despejar da consciência as representações que podem gerar desprazer. Além disso, o aparelho
psíquico disponibiliza energia para executar a tarefa de manter o conteúdo que foi despejado afastado da
consciência (HANS, 1996; Kusnetzoff, 1982). O mecanismo do recalque não dispõe de força suficiente para
erradicar as fontes pulsionais do aparelho psíquico, mas para empurrá-las de volta, “desalojar do centro da cena” (p.
363), mantendo-as fora da consciência, no inconsciente. O recalque mantém-se existente e necessário, pois as
fontes pulsionais, uma vez recalcadas, movimentam-se constantemente buscando um caminho para acessar a
consciência e o mundo externo, onde irá encontrar a satisfação. A função do recalque é gerar contra-investimentos
para manter o material recalcado no inconsciente (HANS 1996).
Roudinesco e Plon (1998) e Laplache e Pontalis (2001) afirmam que o recalque é um processo que obriga as idéias
e as representações pulsionais a permanecerem no inconsciente. Esse funcionamento se estabelece para evitar o
desprazer que pode ser gerado pelo retorno deste material, bem como o desequilíbrio psicológico do sujeito.

** Para Piaget representação tem início no segundo ano de vida. Nesse sentido, não se pode falar em simbolismo
antes que ela apareça; em contrapartida os freudianos vêem símbolos aos dois meses de idade, pois parece falar
de simbolismo, de consciência do ‘como se’, antes que haja representação.

19
CAPÍTULO 3: VEREDAS ALTERNATIVAS:

3.1. EXPERIÊNCIAS ANÔMALAS E ESTADOS ALTERADOS DE


CONSCIÊNCIA
Ao longo da vida nos deparamos com as escolhas de nossas VM e
assim vamos pouco a pouco construindo um cenário que observamos na
caminhada da vida até que na fase adulta, com nossa personalidade já
formada, com o histórico e registros dos passeios pelas nossas veredas
passamos a estabelecer relações entre os signos, os símbolos e o
imaginário, muito explorado por Lacan; também visto nos âmbitos artísticos
e na contemporaneidade (com a capacidade expressiva através de traçados
e construções simbólicas) elas podem ser submetidas a realidade como uma
manifestação subjetiva e particular.

O termo EA é empregado para designar uma experiência incomum


como as alucinações (sinestesias) ou que, embora seja relatada por muitas
pessoas como vivências interpretadas como telepáticas, entre outros
fenômenos ditos paranormais; acredita-se diferente do habitual e das
explicações usualmente aceitas como realidade. Não há necessariamente
uma relação com patologia ou anormalidade (Cardeña, Lyinn e Krippner,
2000). Bastante relacionados com EA estão os EAC, que Charles Tart (1972)
definiu como uma alteração qualitativa no padrão global de funcionamento
mental que o indivíduo sente ser radicalmente diferente do seu modo usual
de funcionamento.

O mesmo autor faz uma analogia entre a mudança de um estado


habitual de consciência para um EAC, descrevendo como. Nessa situação,
um mesmo conjunto de dados ou exemplo: um mesmo computador poderia
funcionar com dois programas diferentes informações pode ser processado
de formas muito diferentes e gerar saídas bem diversas.

Então, embora haja uma sobreposição entre EA e EAC, as primeiras


podem ocorrer em estados usuais de consciência como as alucinações. As
EA e os EAC são descritos em todas as civilizações de todas as eras,

20
constituindo-se muitas vezes elementos importantes na história das
sociedades e, principalmente, de suas religiões. Têm um profundo impacto,
tanto na vida daqueles que os vivenciam diretamente quanto naqueles que os
acompanham próximos.

As dimensões religiosas e espirituais da cultura estão entre os mais


importantes fatores que estruturam as crenças, os valores, os
comportamentos e os padrões de adoecimento humanos, ou seja, a
experiência humana (Lukoff e Turner, 1992).

As experiências dissociativas ocorrem muito freqüentemente em


contextos religiosos, constituindo-se muitas vezes em EAC. Apesar de serem
conceitos específicos, EA, EAC, fenômenos dissociativos e religiosos estão
de tal modo interligados e será ponto de reflexão neste trabalho.

3.2. EMERGÊNCIA ESPIRITUAL


Conceituar um tema que, em pleno século XXI, ainda enfrenta tabus e
descrenças acaba sendo delicado; portanto inicialmente penso que será
importante avaliar a nomenclatura e definição na PT, e deste conceito uma
discussão sobre o tema.

Então pensando sobre as palavras que compõem o nosso objeto de


estudo: “emergência” e “espiritual”:

1. "Emergência" é o substantivo relativo ao verbo "emergir". Esse


deriva do latim "emero, mersi, mersum", significando "sair do mar",
"sair da água" [ex-mare]. Como o que "sai do mar" são mamíferos
marinhos que vêm à tona para respirar rapidamente ou peixes que
afloram subitamente à superfície, o verbo "emergo" [emergir]
relacionou-se à idéia de algo que aparece ou acontece
"subitaneamente", "de súbito", repentinamente. Esse sentido
extensivo é o que se aplica ao conceito usual de "emergência". Na
língua portuguesa o adjetivo "emergente" se refere tanto àquilo que
emerge da água, como a algo que ocorre de súbito. Para esse
segundo sentido usa-se o vocábulo "emergencial". Há também

21
uma interessante possibilidade de significado para a palavra
“emergência” que é “nascimento (do Sol)” ou ainda “situação crítica
ou acontecimento perigoso ou fortuito”.

2. “Espiritual”, adjetivo que provém do substantivo “espírito” que, por


sua vez, deriva do latim “spiritu” e pode ser compreendido como “a
parte imaterial do ser humano; alma”; mas também como “ânimo”,
“índole” ou ainda “inteligência, engenho, imaginação, finura”.

Deste modo começarei a busca pela compreensão do tema e o objeto


de estudo para poder iniciar as reflexões e pesquisas que cercam a
dificuldade em conceituar o que é uma EE. A pesquisa bibliográfica ajudará
compreender estes diferentes olhares sob este conceito/ diagnóstico.

Será prudente ressaltar que o conceito de EE integra descobertas de


muitas disciplinas, incluindo-se entre elas a psiquiatria clínica, a psicanalise,
a moderna pesquisa da consciência, as psicoterapias experienciais, os
estudos antropológicos, a parapsicologia, a tanatologia, a religião comparada,
a mitologia a arte (entre elas a arte visionaria e a arte bruta). São áreas
distintas numa primeira instância, mas que adquirem identidade coletiva,
unificam-se, quando se debruçam sobre a preocupação do desenvolvimento
humano.

Portanto, EE, num primeiro momento, pode ser compreendida como o


fato, ou os fatos que, subitamente acometem a alma humana a essência de
cada um.

No contexto histórico, foi a partir do século XVIII que a ciência


ingressou em um constante processo de evolução, que desencadeou uma
série de novas tecnologias que transformaram de forma rápida a vida do
homem, sobretudo, no modo de produzir mercadorias. Nesse último caso,
serviu principalmente ao setor industrial, acelerando o desenvolvimento do
sistema capitalista. Neste novo sistema não cabia mais um ser místico, um
ser envolvido em suas questões espirituais. A racionalidade tornou-se a

22
medida última de todas as coisas, substituindo com rapidez e sem piedade, a
espiritualidade e as crenças religiosas.

No ocidente, todas as coisas que tivessem a mínima relação com o


misticismo eram desqualificadas como resquícios da “idade das trevas”.
Neste momento, a psiquiatria moderna tenta suprimir a lacuna, muitas vezes,
encontrada nas distorções patológicas da atividade mental.

É importante ressaltar também que quando foram aplicadas


estratégias médicas à psiquiatria, os pesquisadores conseguiram encontrar
explicações biológicas para algumas desordens que exibiam manifestações
psicológicas e ainda mais a psiquiatria médica também descobriu meios de
controlar os sintomas das condições para as quais não foram encontradas
causas biológicas. O homem foi fadado a pertencer a dois grandes grupos:
Os normais, previstos e controláveis, e os anormais, imprevistos e
incontroláveis.

Era de se esperar, num contexto absolutamente racionalista, que


pessoas com desordens emocionais e psicossomáticas eram imediatamente
consideradas pacientes, embora com desconhecimento da origem destes
sintomas e eram medicadas de forma supressiva.

Nas últimas décadas, por volta dos anos 60, pudemos observar um
crescente interesse pela espiritualidade e atualmente de modo
transdisciplinar aparecem em varias áreas, como citado, nas duas mostras de
arte de 2014/15 (bienal e trienal).

Vimos uma retomada das práticas espirituais antigas e do oriente, o


surgimento de psicoterapias experienciais, dentre elas a PT e também a
auto-experimentação com drogas psicodélicas em alguns meios.

Desta forma, podemos entender também EE como uma crise, pela


qual algumas pessoas passam, que propicia a abertura da espiritualidade.
Então será necessário contudo alertar para o fato de que essas crises devem

23
ser muito bem avaliadas por profissionais competentes, pois episódios de
estados incomuns de consciência como as EA e os EAC abrangem um
espectro muito amplo, que vão de estados espirituais puros, sem nenhum
vestígio de patologia, a condições de natureza claramente biológica que
exigem tratamento médico; o que pode ser interpretado como uma EE, no
sentido de crise, na verdade, pode ocultar estados psicóticos que, certamente
estariam nos domínios da psiquiatria. Porém, o que denominamos de EE traz
no seu percurso uma transformação pessoal, muitas vezes, radical, o que
pode não ocorrer quando diagnosticado um distúrbio mental.

Há muitos relatos colhidos por estudiosos da área tentando


exemplificar o processo de cura e transformação das pessoas que
experienciaram uma crise de EE. O antropólogo e psicólogo Holger Kalweit,
afirma que certas formas de sofrimento e de enfermidade têm um potencial
de auto cura e de transformação pessoal e cita como exemplos algumas
culturas tribais, o xamanismo.

John Weir Perry, em seu artigo “Emergência Espiritual e Renovação”,


discute um importante tipo de crise transformacional que alcança o próprio
núcleo da estrutura da personalidade, como ele observou durante anos de
psicoterapia intensiva com os seus clientes; muitos deles, considerados
psicóticos, foram tratados sem medicação supressiva. Em “Os Desafios da
Abertura Psíquica”, a médium e conselheira transpessoal Anne Armstrong
descreve a perturbação emocional e as dificuldades psicossomáticas que
acompanharam a abertura do seu notável dom mediúnico e resultaram numa
dramática auto cura.

24
CAPÍTULO 4: LABIRINTOS EM VEREDAS

4.1. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS DAS EMERGÊNCIAS ESPIRITUAIS


Ao longo da história da humanidade, as alterações de comportamento
receberam diversas abordagens e tratamentos de acordo com cada época e
cada contexto, o que a caracteriza como fenômeno social interpretado das
formas mais diversas.

A história nos revela que a sociedade já compreendeu tais alterações


de diferentes maneiras. Desde alguém sem qualquer razão (o louco) ou até o
inverso.

A doença neste contexto era ligada a forças sobrenaturais do bem e


do mal. Assim, o “louco” era visto como um possuído pelo demônio, por
espíritos ou simplesmente descartados. Desta forma o tratamento se deu por
meio de exorcismos sob a responsabilidade da Igreja Católica.

É somente no século XIX que a Medicina toma a “loucura” como uma


doença. Para dar conta do tratamento desta nova doença, uma nova
especialidade é criada pela Medicina; primeiro a neurologia e em seguida a
psiquiatria, com o intuito de cuidar das doenças mentais.

Outro grande passo foi dado por Freud com a descoberta do


inconsciente e da psicanálise. Neste período, já sob a categoria de doença
mental e sob o domínio da medicina são inauguradas as instituições
psiquiátricas - os sanatórios e manicômios – com o objetivo de isolar a
“loucura” e proteger a sociedade contra o ameaça do “mal” provocado pelos
loucos. Desta forma, as instituições psiquiátricas surgem no final do sec.
XVIII, e com elas a institucionalização da loucura.

4.2. PSIQUATRIA E AS EMERGÊNCIAS ESPIRITUAIS

É importante termos esta compreensão para entender como o enfoque


das EE aparecem no meio psiquiátrico. E assim entender que com o passar
do tempo algumas alternativas de tratamento mental começaram a ser
experimentadas nos hospitais psiquiátricos, no tocante ao trabalho, a arte, ou
sob novos paradigmas. Há diferentes psicopatologias descritas no contexto

25
psiquiátrico que podem apresentar características psicóticas semelhantes a
uma crise de EE, por exemplo os quadros depressivos com características
psicóticas, os quadros bipolares com sintomas psicóticos, as psicoses
induzidas por SPA (Substancias Psicoativas) entre outros diagnósticos
clínicos .

Para melhor critério e classificação usaremos o CID- 10 (referência no


Brasil) e também o DSM IV.

26
CAPÍTULO 5: NOMEANDO AS VEREDAS

5.1. CID-10 E DSM


A Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à
Saúde (também conhecida como Classificação Internacional de Doenças –
CID 10) é publicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e visa
padronizar a codificação de doenças e outros problemas relacionados à
saúde. A CID 10 fornece códigos relativos à classificação de doenças e de
uma grande variedade de sinais, sintomas, aspectos anormais, queixas,
circunstâncias sociais e causas externas para ferimentos ou doenças. A cada
estado de saúde é atribuída uma categoria única à qual corresponde um
código CID 10.

O DSM, Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais


(Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) é um manual para
profissionais da área da saúde mental que lista diferentes categorias de
transtornos mentais e critérios para diagnosticá-los, de acordo com a
American Psychiatric Association – APA. É usado ao redor do mundo por
clínicos e pesquisadores bem como por companhias de seguro, indústria
farmacêutica e parlamentos políticos. Existem cinco revisões para o DSM
desde sua primeira publicação em 1952. A maior revisão foi a quarta DSM-4
publicada em 1994 , apesar de uma “revisão textual” ter sido produzida em
2000. O DSM-5 (anteriormente conhecido como DSM-V) foi publicado em 18
de maio de 2013 e é a versão atual do manual.

Com estes instrumentos de classificação será possível ter uma


linguagem comum diante do fenômeno observado no paciente. No caso das
EE, não existe esta classificação, então para melhor entendimento do
processo vivenciado e das VM que está em foco será importante lembrar que
a alucinação é a percepção real de um objeto inexistente, ou seja, são
percepções sem um estímulo externo. Dizemos que a percepção é real,
tendo em vista a convicção inabalável que a pessoa manifesta em relação ao
objeto alucinado, portanto, será real para a pessoa que está alucinando.

27
Sendo a percepção da alucinação de origem interna, emancipada de todas
variáveis que podem acompanhar os estímulos ambientais (iluminação,
acuidade sensorial, etc.), um objeto alucinado muitas vezes é percebido mais
nitidamente que os objetos reais de fato. Tudo que pode ser percebido pode
também ser alucinado e isso ocorre, imaginativamente, com maior liberdade
de associações de formas e objetos. Na alucinação, por exemplo, um leão
pode aparecer de asas, ou um caracol que cavalga um ouriço. O indivíduo
que alucina pode ter percebido isoladamente cada umas das formas e,
mentalmente, combinado umas com as outras. As alucinações podem
manifestar-se também através de qualquer um dos cinco sentidos, sendo as
mais freqüentes as auditivas e visuais.

O fenômeno alucinatório se diferencia da ilusão no que tange à


existência de estímulo externo já que na alucinação não há estímulo e na
ilusão o estímulo é percebido de forma deformada, ou em uma simplificação
a ilusão é um “engano” dos sentidos. O fenômeno alucinatório tem conotação
muito mais mórbida que a ilusão, sendo normalmente associado à estados
psicóticos que ultrapassam a simplicidade de um engano dos sentidos. Na
alucinação o envolvimento psíquico é muito mais contundente que nos
estados necessários à ilusão; todavia nem todas as convicções falsas podem
ser consideradas delírios; se estiver relacionada, por exemplo, com falta de
cultura ou conhecimentos podemos falar em ignorância. As convicções
filosóficas ou religiosas também não podem ser consideradas delírios, ainda
que algumas pessoas elas sejam erradas.

Pode considerar-se uma síndrome constituído por um conjunto de


idéias mórbidas, que se manifestam numa alteração fundamental do juízo, e
nas quais deposita uma convicção forte e inabalável. Este conteúdo de
pensamento inadequado constitui o tema delirante.
O pensamento constitui a base da nossa atividade psicológica, que
orienta e integra as representações (imagens) e os outros dados elaborados
pelo conhecimento (idéias) em juízos e conceitos, os quais podem ser
concretos ou abstratos.

28
No delírio, os mecanismos associativos do indivíduo fogem da
realidade e da lógica , podendo levar o mesmo a formar juízos e raciocínios
anormais e originando porventura alucinações, percepções delirantes ou
idéias delirantes. Apresentam-se como características gerais dos delírios a
sua resistência e irredutibilidade perante a lógica e a experiência; a sua
tendência crescente e difusão por toda a consciência, tornando-se o centro
de toda a vivência do indivíduo; a falta de autoconsciência do doente
relativamente à perturbação. Assim, a idéia ou tema delirante é a realidade
privada do doente e que o separa da comunidade onde a realidade dos
indivíduos sãos é a sua percepção sociocultural e situacional dos pontos
comuns e em acordo.

A partir do entendimento das alucinações poderemos pensar do que


se trata as psicoses, que são distúrbios psiquiátricos graves onde o paciente
perde contato com a realidade, emite juízos falsos (delírios), podendo
também apresentar alucinações (ter percepções irreais quanto a audição,
visão, tato), distúrbios de conduta levando à impossibilidade de convívio
social, além de outras formas bizarras de comportamento.

29
CAPÍTULO 6: CAMINHANDO PELAS VEREDAS

6.1. PSICOSES

O termo Psicose é empregado para se referir à perda do juízo da


realidade e um comprometimento do funcionamento mental, social e
pessoal, normalmente levando a um prejuízo no desempenho das tarefas e
papéis habituais.

As Psicoses podem ter várias origens:

 lesões cerebrais,

 tumores cerebrais,

 esquizofrenia,

 SPA

 infecções,

 distúrbios metabólicos,

 entre outras comorbidades.

6.2. ESQUIZOFRENIAS

Na CID-10 os Transtornos Psicóticos são classificados como (F20-F29).


Este agrupamento reúne a esquizofrenia, a categoria mais importante deste
grupo de transtornos, o transtorno esquizotípico e os transtornos delirantes
persistentes e um grupo maior de transtornos psicóticos agudos e
transitórios.

Os transtornos esquizoafetivos foram mantidos nesta seção, ainda que


sua natureza permaneça controversa. Historicamente o termo "esquizofrenia"
foi criado em 1911 pelo psiquiatra suíço Eugem Bleuler com o significado de
mente dividida. Ao propor esse termo, Bleuler quis ressaltar a dissociação
que às vezes o paciente percebia entre si mesmo e a pessoa que ocupa seu

30
corpo.

Hoje é o nome universalmente aceito para este transtorno mental


psicótico, entretanto, no meio técnico e profissional se admite que o termo
pode ser insuficiente para descrever a complexidade dessa condição
patológica.

A Esquizofrenia é uma doença da personalidade total que afeta a zona


central do eu e altera toda estrutura vivencial. Culturalmente o esquizofrênico
representa o estereotipo do "louco", um indivíduo que produz grande
estranheza social devido ao seu desprezo para com a realidade reconhecida.
Agindo como alguém que rompeu as amarras da concordância cultural, o
esquizofrênico menospreza a razão e perde a liberdade de escapar às suas
fantasias.

Segundo Kaplan, aproximadamente 1% da população é acometida pela


doença, geralmente iniciada antes dos 25 anos e sem predileção por
qualquer camada sociocultural. O diagnóstico se baseia exclusivamente na
história psiquiátrica e no exame do estado mental. É extremamente raro o
aparecimento de esquizofrenia antes dos 10 ou depois dos 50 anos de idade
e parece não haver nenhuma diferença na prevalência entre homens e
mulheres. 
 


Os transtornos esquizofrênicos se caracterizam, em geral, por distorções


características do pensamento, da percepção e por inadequação dos afetos.
Usualmente o paciente com esquizofrenia mantém clara sua consciência e
sua capacidade intelectual. 
 
 A Esquizofrenia traz ao paciente um prejuízo
tão severo que é capaz de interferir amplamente na capacidade de atender
às exigências da vida e da realidade. 
 
 
 
 


As esquizofrenias podem ser classificadas em:

 Esquizofrenia paranóide

 Esquizofrenia Hebefrênica

 Esquizofrenia Catatônica

31
 Esquizofrenia Simples e

 Esquizofrenia residual

6.3. TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR

Outra patologia a ser diferenciada são os quadros de alterações do


humor e podem ser caracterizados como o transtorno afetivo bipolar que
leva este nome por causa da alternância de dois estados emocionais básicos:
a alegria e a tristeza.

Assim como acontece nas doenças físicas, que muitas vezes


representam excesso ou falta de algum elemento normalmente presente no
corpo, muitas doenças da mente também representam alterações para mais
ou para menos de aspectos emocionais comuns. O equivalente doentio da
alegria recebe o nome de mania e o da tristeza, depressão.

Nestes períodos podem ocorrer alterações de pensamento além das


variações de humor e de acordo com as VM de cada ser potencializar
características na qual a fenomenologia do quadro podem ficar semelhantes
a EA ou EAC e quadros dissociativos.

Como resultado, portadores de transtorno bipolar com sintomas


psicóticos podem ser erroneamente diagnosticados como tendo
esquizofrenia, outro transtorno mental grave ligado a delírios e alucinações. E
neste caso estamos ressaltando a importância do diagnóstico para
compreensão de uma EE.

6.4. AS SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS

Outro diagnóstico diferencial importante seria o transtorno do humor


induzido por substância que é uma perturbação proeminente e persistente
do humor, considerada como devido aos efeitos fisiológicos diretos de uma
substância psicoativa SPA (droga de abuso, medicamento, outros

32
tratamentos somáticos). Dependendo da natureza da substância e do
contexto no qual os sintomas ocorrem a perturbação pode envolver humor
depressivo ou acentuada diminuição do interesse ou prazer, ou humor
elevado, expansivo ou irritável; podem apresentar características
esquizofreniformes ou não.

Embora a apresentação clínica da perturbação do humor possa


lembrar a de um episódio depressivo maior, episódio maníaco, misto ou
hipomaníaco, não são satisfeitos todos os critérios para um desses episódios.

Os sintomas devem causar sofrimento clinicamente significativo ou


prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas
importantes da vida do indivíduo . Em alguns casos, o indivíduo pode ainda
ser capaz de funcionar, mas apenas com um esforço acentuadamente
aumentado.

Em vigência das SPAs podem desencadear fenômenos com distúrbios


da senso percepção. Neste caso, será importante fazer o diagnostico
diferencial das EA, dos EAC e dos quadros dissociativos. Podem ser
semelhantes a quadros esquizofreniformes, entretanto autolimitado, pois a
alteração deve-se ao uso da substância que desencadeam alucinações e
delírios (na maioria das vezes paranóides).

6.5 ALUCINAÇÕES E DELÍRIOS


Uma boa anamnese e uma avaliação do estado mental será possível
observar a alucinação que é a percepção real de um objeto inexistente, ou
seja, são percepções sem um estímulo externo; o individuo irá relatar que a
percepção é real, tendo em vista a convicção inabalável que a pessoa
manifesta em relação ao objeto alucinado, portanto, será real para a pessoa
que está alucinando.

Então sendo a percepção da alucinação de origem interna,


emancipada de todas variáveis que podem acompanhar os estímulos
ambientais (iluminação, acuidade sensorial, etc.), um objeto alucinado muitas

33
vezes é percebido mais nitidamente que os objetos reais de fato. Tudo que
pode ser percebido pode também ser alucinado e isso ocorre,
imaginativamente, com maior liberdade de associações de formas e objetos.
O indivíduo que alucina pode ter percebido, isoladamente, cada umas das
formas e, mentalmente, combinado umas com as outras. As alucinações
podem manifestar-se também através de qualquer um dos cinco sentidos,
sendo as mais freqüentes as auditivas e visuais.

O fenômeno alucinatório se diferencia da ilusão no que tange à


existência de estímulo externo já que na alucinação não há estímulo e na
ilusão o estímulo é percebido de forma deformada, ou em uma simplificação
a ilusão é um “engano” dos sentidos.

O fenômeno alucinatório tem conotação muito mais mórbida que a


ilusão, sendo normalmente associado ao estado psicótico que ultrapassam a
simplicidade de um engano dos sentidos; o que na EE tem outras descrições
e características.

Na alucinação o envolvimento psíquico é muito mais contundente que


nos estados necessários à ilusão, todavia nem todas as convicções falsas
podem ser consideradas delírios. Se estiver relacionada, por exemplo, com
falta de cultura ou conhecimentos podemos falar em ignorância. As
convicções filosóficas ou religiosas também não podem ser consideradas
delírios, ainda que algumas pessoas elas sejam erradas. Neste caso, as EE
será considerado todo o antecedente e histórico prévio do individuo, suas
crenças e valores, os quais poderão estar envolvidos diretamente na crise da
EE o que poderá nortear a VM do sujeito.

O pensamento constitui a base da nossa atividade psicológica, que


orienta e integra as representações (imagens) e os outros dados elaborados
pelo conhecimento (idéias) em juízos e conceitos, os quais podem ser
concretos ou abstratos. No delírio, os mecanismos associativos do indivíduo
fogem da realidade e da lógica, podendo levar o mesmo a formar juízos e
raciocínios anormais e originando porventura alucinações, percepções

34
delirantes ou idéias delirantes. Apresentam-se como características gerais
dos delírios a sua resistência e irredutibilidade perante a lógica e a
experiência; a sua tendência crescente e difusão por toda a consciência,
tornando-se o centro de toda a vivência do indivíduo; a falta de
autoconsciência do doente relativamente à perturbação.
Assim, a idéia ou tema delirante é a realidade privada do doente e que
o separa da comunidade onde a realidade dos indivíduos sãos é a sua
percepção sociocultural e situacional dos pontos comuns e em acordo.

A partir do entendimento das alucinações poderemos pensar do que


se trata as psicoses, que são distúrbios psiquiátricos graves onde a pessoa
perde contato com a realidade, emite juízos falsos (delírios), podendo
também apresentar alucinações (ter percepções irreais quanto a audição,
visão, tato), distúrbios de conduta levando à impossibilidade de convívio
social, além de outras formas bizarras de comportamento.

Neste cenário, para tal é muito importante conhecer quais os possíveis


fatores que podem ter desencadeado a EE e correlacionarmos as VM de
cada ser e tentarmos compreender a manifestação destes sinais e ou
sintomas psiquiátricos.

- Causa física: Uma doença, acidente, operação, esforço físico


extremo ou insônia prolongada. Também devido a uma experiência
sexual de muita intensidade; Mulheres podem ser após o parto, um
aborto espontâneo ou provocado; ou algum evento estressante
para ela.

- Causa Emocional: Perda de um filho ou parente próximo, fim de um


relacionamento amoroso ou divórcio, assim como uma sucessão
de fracassos, como demissão e perda de propriedade entre outros.

- Em pessoas predispostas o desencadeador pode ser uma


experiência com substâncias psicoativas ou uma sessão de
psicoterapia experimental.

35
- Práticas Espirituais: Este parece ser um dos principais fatores
desencadeantes da EE, como a meditação, ativação de
experiências espirituais, prática do zen, meditação budista
Vipassana, ioga Kundalini, exercícios sufis, ou através da oração e
contemplação cristã.

Estes eventos estão diretamente relacionado aos valores, a cultura e


na crença da pessoa. As emergências espirituais se manifestam de formas
distintas em cada indivíduo, mas é possível definir certas formas principais de
EE descrita por autores e pesquisadores do tema, pois estas são dotadas de
características específicas que as distinguem umas das outras. É comum a
sobreposição e combinação de diferentes tipos de EE.

6.6. OS TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE


A experiência mística também foi vista como um episódio psicótico e
como uma psicose borderline. O Diagnostic and Statistical Manual of Mental
Disorders III (DSM-III) faz 12 referências à religião, todas elas associadas à
psicopatologia, entretanto em outras edições do DSM passam a rever as
questões religiosas e estabelecer novos critérios diagnósticos, de qualquer
modo, nos transtornos de personalidade uma VM característica também será
descrita pelo indivíduo.

6.7. OS QUADROS DISSOCIATIVOS


Experiências dissociativas também estiveram associadas a transtornos
mentais. O termo dissociação foi inicialmente criado por Pierre Janet, em
1880, para significar “desagregações psicológicas”. Segundo esse autor, a
dissociação seria a perda da unidade do funcionamento da personalidade
humana, na qual certas funções mentais atuariam de forma independente e
fora de um controle,

Por outro lado a questão da EE ainda não há um consenso, pois


agrupa alguns conjuntos de sinais e sintomas que o próprio nome engloba
questões emergenciais como urgências e questões que emergem do sujeito

36
naquele momento segundo Groff , que as definiu como estágios de crise e de
uma transformação psicológica profunda que envolve todo ser da pessoa,
transformação que toma a forma não comum de consciência e envolvem
emoções internas, alterações sensoriais, pensamentos incomuns e várias
manifestações físicas.

Em um conceito mais comum, a EE pode ser entendida como um


amadurecimento de uma pessoa, uma maior saúde emocional e
psicossomática, maior liberdade de escolhas e uma sensação de ligação
profunda com outras pessoas, com a natureza e o cosmos. Uma parte
importante é o despertar da dimensão espiritual da vida e no esquema
universal das coisas.

Em um segundo momento, para melhor compreensão dos


diagnósticos diferencias, será importante entender, alguns conceitos básicos
de psicopatologia como alucinações e ilusões e também deveremos
compreender o que são os delírios e as alterações de pensamento. Desta
forma ficará mais simples de compreender e caracterizar as psicoses e
diferencia-las de uma EE. Assim como ter em mente os conceitos de
unidade, de ego, de vida , os EAC e a cartografia da consciência. Tópicos
que compõem o arcabouço da PT.

37
CAPÍTULO 7: UMA VEREDA ALTERNATIVA

7.1.A PSICOLOGIA TRANSPESSOAL


A abordagem integrativa transpessoal considera o individuo como
um todo, abrangendo aspectos bio-psico-social-espiritual. Agrega valores
de outras ciências fazendo uma interdisciplinaridade e valorizando o
aspecto saudável do ser.

Há uma ampliação de conceitos assim levará em consideração o


princípio de transcendência, o qual indicará um impulso em direção ao
despertar espiritual por meio da própria humanidade do ser, da pulsão de
vida morte e além delas. Essa transcendência e inerente ao ser humano
em sua humanidade plena; para Maslow essa natureza seria parte do
principio do prazer, sob o domínio do processo primário. Seria “instintoide”,
assim ampliando o conceito original descrito por Freud.
Existem dois aspectos básicos sistematizados dentro de um
referencial teórico que simbolizam uma abertura para se visualizar e
compreender adequadamente esta abordagem e são classificados em:

 Aspecto Estrutural e
 Aspecto Dinâmico.

O Aspecto Estrutural é constituído por cinco elementos que


formam o que denominamos de corpo teórico da PT e são:

1. Conceito de Unidade,
2. Conceito de Vida,
3. Conceito de Ego,
4. Estados de Consciência e
5. Cartografia da Consciência

Os elementos (corpo teórico) do aspecto estrutural podem ser


caracterizados como base de sustentação para o trabalho transpessoal.

38
7.2. FORMAS DAS EMERGÊNCIAS ESPIRITUAIS
A partir dos conceitos da PT e do entendimento das EE será possível
descreve-la e ou classifica-las num entendimento holístico e Trasnpessoal.
Assim as formas mais importantes EE de são:

7.2.1. A Crise Xamânica


O xamanismo é a mais antiga religião e arte curativa da humanidade.
A Crise Xamânica geralmente está associada com o surgimento de doenças
desconhecidas (geralmente de cunho neurológico ou psiquiátrico), que levam
a uma total inconsciência (estado de coma) ou a sofrimentos físicos e
psicológicos intensos. Nesse estado surgem sonhos repletos de mensagens,
premonições, visões de morte, jornadas ao mundo inferior, experiências de
morte e renascimento, aniquilação pessoal que envolve um encontro de
forças de decadência e destruição que por fim levam a reconstituição física.
Então, de forma inexplicável, se desperta curado. A doença torna-se, assim,
um veículo para um plano mais elevado de consciência, em que o xamã
percebe que a energia dele é muito maior do que ele próprio percebia e,
aliando sua experiência ao conhecimento sagrado recém-adquirido, passa a
realizar curas e mudanças no mundo físico. A crise xamânica reflete o mais
alto chamado para as culturas nativas e nela está sua natureza curadora e
benevolente.

Vimos exemplos em que americanos, europeus, australianos e


asiáticos de hoje passaram por episódios bastante semelhantes a uma crise
xamânica. Além dos elementos de tortura física e emocional, de morte e de
renascimento, esses estados envolvem experiências de ligação com animais,
plantas e forças elementais da natureza. As pessoas que passaram por
essas crises também manifestam tendências espontâneas de criação de
rituais idênticos aos praticados por xamãs de várias culturas.

7.2.2. O Despertar da Kundalini


A kundaliní (termo sânscrito que pode ser traduzido como serpentine
ou enrroscada) é uma forma de energia cósmica latente no corpo humano,
concentrada na base da coluna vertebral, na região dos órgãos genitais. As

39
manifestações dessa forma de crise são encontradas na literatura védica
hindu. Pode ser ativada pela meditação, por exercícios específicos, pela
intervenção de um mestre espiritual que tenha a sua kundaliní desperta e,
raramente, por razões desconhecidas.

Quando despertada, a Kundalini é conduzida pelo sistema nervoso


central até ao cérebro, despertando e ativando os canais do "corpo sutil" (ou
centros de energia). A medida que sobe, ela abre os centros de energia
psíquica, os chakras. A abertura dos chakras é um importante evento pois há
mudanças na consciência e na mente. Com o despertar da kundaliní ocorre
também o desenvolvimento da inteligência criativa, maior expressividade,
estados expandidos de consciência e aprimoramento das faculdades
supramentais. Uma reorganização das nossas prioridades e afetos assim
como a percepção qualitativa das nossas experiências se modifica com o
despertar da Kundalini.

Os indícios mais extremos do despertar da Kundalini são


manifestações físicas e psicológicas chamadas kriyas. As principais
manifestações do despertar da Kundalini são:

(1) Sensações poderosas de calor e energia subindo ao longo da


espinha, associadas com tremores violentos, espasmos e movimentos
serpeantes;

(2) Fortes ondas de emoções aparentemente imotivadas, tais como,


ansiedade, raiva, tristeza, enlevo jubiloso ou extático, riso ou choro
involuntários, sensações orgásticas, estados de indescritível paz e
tranqüilidade, depressão, ansiedade e agitação relacionada com
sensação de insanidade ou morte;

(3) Comportamentos involuntários e freqüentemente incontroláveis. O


indivíduo pode assumir espontaneamente posições de Yôga (ásanas)
e gestos com as mãos (mudrás). Vocalizações de mantras (cânticos)

40
ou canções, falar em línguas estranhas ou emitir sons vocais
desconhecidos ou animalescos;

(4) Visões de símbolos geométricos, de luzes brilhantes e radiantes,


complexas visões de seres arquétipos, tais como santos, divindades,
demônios e seres mitológicos

(5) Percepção de fenômenos acústicos que parecem vir do interior e que


incluem uma variedade de sons;

(6) Experiências que remetem lembranças de vidas passadas.

(7) Episódios de Consciência Unitiva *** ("Experiências Culminantes").

(8) Renovação Psicológica por meio do Retorno ao Centro ****

_____________________________________________________________________________________________
***Neste estado ocorre a dissolução das estruturas egóicas fronteiras pessoais, surgindo a
sensação de unidade com o outro, com a natureza ou com todo o universo. As propriedades
de tempo e de espaço são transcendidas e a pessoa pode vivenciar a natureza do infinito ou
da eternidade. As emoções associadas com esses estados variam de sensação de
felicidade, grande prazer, paz e serenidade. Abraham Maslow, que estudou essas
experiências em centenas de pessoas, deu-lhes o nome de "experiências culminantes". As
experiências culminantes geralmente trazem um refinamento da consciência mediante o
mundo e a expressão plena espontânea de habilidades e potenciais (auto-realização).
****A psique dessas pessoas parece um colossal campo de batalha, onde é travado um
combate entre forças duais; forças do bem e as forças do mal, ou entre as forças da Luz e as
das Trevas. Temas de morte - o assassinato, o ritual, o sacrifício, o martírio e o pós vida.
Recriam eventos fantásticos com magnitudes cósmicas. Seus estados visionários tendem a
levá-las ao passado, reconstruindo a sua própria história e a história da humanidade,
dirigindo-se para a criação do mundo e para o estado paradisíaco ideal original, lutando por
perfeição e tentando corrigir as coisas erradas do passado.
Depois deste período de caótica perturbação, as experiências vão se tornando cada
vez mais agradáveis, dirigindo-se para uma resolução. O processo costuma culminar na
experiência do "casamento sagrado", seja com um parceiro arquetípico imaginário ou
projetado numa pessoa real idealizada (aspectos masculinos e femininos entendo em
equilíbrio).

41
7.2.3. A Crise de Abertura Psíquica
No decorrer de EE de todos os tipos, é comum o aguçamento das
capacidades intuitivas e a presença de fenômenos "paranormais". Porém, em
alguns casos, a precognição, a telepatia ou a clarividência ficam intensos e
perturbadores que domina o quadro e constitui um grande problema para
quem vive a EE e para os demais que convivem com o indivíduo.

Na abertura psíquica, são freqüentes as experiências de saída do


corpo (consciência desloca-se do corpo) A pessoa pode relatar que se
observou a certa distância ou testemunhar o que está acontecendo a
quilômetros de distância. A viagem fora do corpo é comum em situações de
proximidade da morte.

Capacidades telepáticas podem ocorrer por apresentarem maior


sensibilidade aos processos dos outros durante a EE . A precognição correta
de situações futuras e a clarividência de eventos remotos podem ocorrer.

Em experiências consideradas "mediúnicas", tem-se a sensação de


perda da identidade e consecutiva adoção de outra identidade, traduzida por
mudanças na linguagem corporal, dos sentimentos e até dos processos
mentais. O súbito aparecimento de uma nova identidade pode ser
assustador. Sincronicidades (“coincidências” entre o mundo interior e
fenômenos do mundo exterior) são particularmente comuns nessas crises.

7.2.4. Experiências com vidas passadas


Dentre o mais dramático e coloridos episódios que ocorrem em
estados de consciência incomuns estão as experiências com vidas passadas.
Nessas experiências as emoções e sensações físicas são extremamente
intensas e, retratam com ricos detalhes pessoas, circunstâncias e ambientes
históricos. Seu aspecto mais notável é um sentido de lembrança pessoal e de
revivescência de algo que já se viveu antes. Essa experiência é
compreendida como uma situação vivida anteriormente, de outra vida, que
necessita ser completado (carma=ação incompleta).

42
Existem várias formas de lidar com esses conteúdos que emergem a
consciência, basicamente eles precisam ser compreendidos, expressarem
sentido de explicação e serem incluídos ou conciliados com as nossas
crenças e valores da vida atual.

Pode ser uma experiência que oferece, por si, muitas explicações
como dificuldades de relacionamento, medos irreais, aversões e atrações,
problemas psicossomáticos obscuros, surgimento súbito de sensações
corporais, visões intensas ou emoções sem sabermos o significado, pois
essas experiências não estão totalmente conscientes para se tornarem
manifesta, por isso elas percebem, mas desconhecem o significado ou a
causa.

Esses padrões de comportamentos precisam ser compreendidos e


completados, como que se a partir da experiência, a pessoa não precisasse
mais ter esse padrão, ele não vale mais para essa vida (completando o
carma).

Obtidas as explicações, compreendidas nas suas funções do aqui


agora é momento de conciliá-las com crenças e valores tradicionais da
civilização ocidental. Trabalho considerado desafiador.

O autor observa que quando o indivíduo passa por essa poderosa


experiência, há um alívio ou eliminação completa de dores psicossomáticas
agudas, depressão, fobias, asma psicogênica, enxaqueca entre outros.

7.2.5. Comunicações com espíritos-guia e "canalização"


Podemos ter como experiência, uma relação pessoal com um “ser”
dito desencarnado, dotado de extraordinária sabedoria, que assume a
posição de mestre, de guia, de protetor. Esse “ser” pode se manifestar
através da forma humana, ou uma fonte radiante de luz ou deixar sentir sua
presença. Sua comunicação direta é através do pensamento, há casos em
que essa comunicação é feita de forma verbal ou através de outro processo
extrasensorial.

43
A principal razão, por que essas experiências podem desencadear
uma séria crise é a natureza e a qualidade confiável dessa canalização de
assuntos que o receptor jamais esteve exposto. Neste caso, é uma prova
inegável da existência de realidades espirituais que pode levar a uma
confusão filosófica que tinham uma visão científica convencional.

Outra fonte de problema desta relação é o indivíduo acreditar que, por


haver essa comunicação com seres de elevada sabedoria, acreditar que foi
escolhido para desempenhar uma especial missão e se identificar, ocorrendo
a inflação do seu ego.

7.2.6. Experiências de proximidade da morte


Nas experiências de proximidade da morte, pessoas que foram
consideradas clinicamente mortas, mas que recuperaram a consciência,
contaram suas histórias para Raymond Moody que colheu 150 relatos de
pessoas que viveram essa mesma experiência. Dentre os relatos, Moody
observou que havia uma semelhança das situações vividas, muitos
descreveram ter visto seu próprio corpo, como se a sua consciência flutuasse
livremente sobre a cena, de poder ter uma revisão de toda a vida de forma
vívida e condensada que dura alguns segundos. Outros descreveram a
visualização de um túnel de luz e, de um encontro com um ser de imenso
amor, onde receberam uma lição sobre a existência e as leis universais tendo
a oportunidade de examinar seu próprio passado, podendo ter uma nova
chance para viver uma vida mais congruente e determinada compatível com
os princípios que aprendeu.

Essas experiências com a morte podem levar a experiência de


emergência, por causar alterações nas crenças sobre a realidade, levando a
pessoa a viver uma aventura visionária que despedaça a realidade
conhecida.

7.2.7. Experiências de contatos próximos com OVNIs

44
Carl Gustav Jung dedicou um estudo especial ao problema dos “discos
voadores”, referindo que esses fenômenos poderiam ser produto de visões
arquetípicas do inconsciente coletivo da humanidade.

Há relatos de visões de luzes de natureza estranha, raptos que


incluem exames físicos e experiências científicas, considerados torturas
inimagináveis.

A emergência ocorre, pois essas pessoas acreditam que possam ter


atraído o interesse de seres superiores e muito mais evoluídos que a
humanidade por que, devem possuir algum dote especial. Como ocorre na
canalização e comunicação com espíritos guias há uma inflação do ego.

7.2.8. Estados de possessão


As pessoas que passam por essa experiência sentem que sua psique
e seu corpo foram invadidos por algo de fora de sua personalidade, algo
perturbador, demoníaco e hostil. O problema pode se manifestar como uma
séria psicopatologia, envolvendo um comportamento anti-social e até
criminoso (depressão suicida; a agressão assassina; autodestruição;
impulsos sexuais promíscuos ou desviantes; uso excessivo de álcool e
drogas).

É possível identificar na psicoterapia quando há uma possessão,


quando o indivíduo apresenta algumas características como: rosto contraído,
olhos com expressão selvagem, mãos e o corpo produzem estranhas
contorções, a voz pode alterar-se. Para esse estado, é feito um trabalho
como o exorcismo na sessão, com um terapeuta apto para dominar tal
situação e para que seja realizado com benefício para o indivíduo.

A EE é um estado relatado que pode ser assustador e extremamente


difícil, por outro lado possui um imenso potencial de cura e transformação; a
evolução é dolorida, exige muita energia, força, e coragem para seguir
adiante, resistindo as forças do ego que deseja manter a aparente paz e
tranqüilidade.

45
CAPÍTULO 8: MAPEANDO VEREDAS

8.1. DISCUSSÃO
Vários autores observaram o fenômeno e o descrevem criando
nomenclaturas, classificações e descrições; além de critérios diagnósticos e
condutas terapêuticas. Os autores, entretanto, apresentaram diferentes
opiniões; Jung por exemplo viu na experiência mística a manifestação de
uma experiência psicologicamente saudável.

Maslow considerou as “experiências culminantes” a expressão máxima


da saúde e do bem-estar psicológico.

Adair de Menezes Junior e Alexander Moreira Almeida; ambos da


Universidade Federal de Juiz de Fora/ MG fizeram uma revisão da literatura
com foco nas experiências espirituais e os transtornos mentais de conteúdo
religioso (2008).

Hood e Caird (1987) constataram que indivíduos que relataram ter tido
experiências místicas pontuam mais em escalas de bem- estar psicológico e
menos em escalas de psicopatologia do que os controles; também
comprovaram que indivíduos ligados a alguma crença religiosa pode
funcionar como fator protetor nas psicopatologias.

Alguns autores sugeriram a importância de se buscarem critérios


diferenciadores entre o que seriam experiências espirituais não patológicas e
o que seriam transtornos mentais de conteúdo religioso.

As contribuições desses autores para essa importante questão foram


coletadas na literatura, e procurou-se apresentar e discutir alguns critérios
comuns que tenham perpassado pela maioria dessas investigações.

Ao final, concluiu-se que, embora todos esses critérios apresentem


certa coerência, ainda não foi feita até o presente nenhuma investigação
extensiva que testasse esses critérios, e são colocadas algumas diretrizes

46
metodológicas que alguns autores sugeriram para essa investigação.

Vários autores têm abordado a relação entre as experiências espirituais


e manifestações patológicas da mente.

Místicos, videntes e médiuns têm desafiado a compreensão dos


profissionais de saúde mental e tornado necessária uma adequada
diferenciação entre o que seria uma experiência espiritual saudável e o que
seria um transtorno psicótico ou dissociativo com conteúdo religioso.

No início do século XX, William James (1958), investigando as


experiências de êxtase místico, verificou que essas experiências, quando
saudáveis, tinham duração breve e traziam efeitos benéficos para quem as
vivenciava.

Buckley (1981) examinou relatos autobiográficos de indivíduos que


viveram experiências místicas e de indivíduos que viveram experiências
esquizofrênicas. Ele identificou aspectos comuns e aspectos diferenciadores
em ambas as experiências.

Encontrou os seguintes aspectos comuns nas duas experiências:


elevação do nível de consciência, sentir-se transportado além do próprio self,
perda das fronteiras entre o self e os objetos, dilatação do sentido do tempo,
sentir-se envolvido em luz e um forte sentido de comunhão com o divino. É
característica do êxtase místico a preservação da estrutura do pensamento e
da fala, o predomínio das alucinações visuais sobre as auditivas, um grande
aguçamento dos sentidos, estabilidade das emoções e a duração da
experiência limitada no tempo. São características de um surto psicótico a
quebra da estrutura do pensamento e da fala, o predomínio das alucinações
auditivas sobre as visuais, o embotamento dos sentidos, o esvaziamento das
emoções entremeadas por rompantes agressivos ou sexuais e a duração da
experiência ser extensiva no tempo.

Lenz (1996), enfatizou o grau de convicção sobre a experiência vivida

47
como critério de saúde mental: na vivência saudável existe a dúvida sobre a
realidade objetiva da experiência e no transtorno mental existe certeza sobre
essa realidade.

Lukoff(1995) e posteriormente Greyson (1987) investigaram a


Experiência de Quase Morte (EQM), procurando diferenciá-las de outras
experiências psicopatológicas. Nesta experiência, um indivíduo chega a se
ver fora do corpo, encontra seres espirituais e depois retorna ao seu corpo.
Assim, Lukoff percebeu na EQM nítidos e antecedentes estressores, um bom
funcionamento psicológico prévio, uma atitude exploratória em relação à
experiência e a ausência de déficits interpessoais.

Greyson (1987), confirmando as características saudáveis da EQM, tais


como já tinham sido apresentadas por Lukoff, diferenciou a EQM do
transtorno do estresse pós-traumático, vendo neste último a presença de
lembranças intrusivas, a diminuição geral do interesse em diversas
atividades, o estranhamento dos outros, a restrição dos afetos e um senso de
futuro abreviado que não se faziam presentes na EQM.

Oxmanet al. (1998), também viram aspectos comuns e diferenciados


nos relatos de místicos e esquizofrênicos. Eles escolheram relatos
disponíveis publicamente, que o texto tivesse sido escrito logo depois da
experiência, que estivesse escrito em inglês e tivesse uma extensão
suficiente. De comum entre ambas as experiências, viram a abundância das
fantasias e, como fatores diferenciadores, viram que os místicos tratam de
encontros com Deus e de sentimentos religiosos, enquanto esquizofrênicos
tratam de doenças e de fortes sentimentos de maldade.

Sims (1988), propõe que uma experiência espiritual saudável é


compatível com uma tradição religiosa; o indivíduo compreende a
incredulidade dos outros e tem reservas em discutir sua experiência com
outros que acredita que não a compreenderão, é descrita com convicção e,
por fim, o indivíduo sente necessidade de efetuar alguma mudança no seu
comportamento depois da experiência vivida. Já a experiência patológica se

48
revela em resultados que são compatíveis com uma história de transtorno
mental e surge sempre associada a outros transtornos psiquiátricos.

Grof e Grof (1990), com base em suas experiências clínicas, criaram o


conceito de “emergências espirituais”. Esses autores apresentaram essas
experiências com um duplo significado, possível pelos diferentes significados
de Spiritual Emergence e Spiritual Emergency. Spiritual Emergence refere-se
à eclosão de uma experiência espiritual que surge sem acarretar perturbação
das funções psicológicas. Já a Spiritual Emergency é a ocorrência
descontrolada da experiência espiritual com problemas dos funcionamentos
psicológico, social e ocupacional.

Grof e Grof (1990), fizeram uma ampla e detalhada diferenciação entre


as manifestações de uma experiência espiritual e um transtorno mental. No
primeiro caso, as experiências são suaves, não geram sensações
desagradáveis, não conflitivas, são graduais, preservam a diferenciação entre
o que é interno e o que é externo, geram uma atitude de expectativa positiva,
favorecem uma renúncia ao controle, estimulam a aceitação de mudanças,
integram-se à consciência diária, permitem uma compreensão detalhada, não
geram necessidade de discutir frequentemente e possibilitam uma lenta
mudança de compreensão de si mesmo e do mundo. Já as experiências
ligadas a um transtorno mental são intensas, geram sensações
desagradáveis, como tremores e calafrios, são conflitivas, são abruptas, não
diferenciam o que é interno do que é externo, geram uma atitude
ambivalente, promovem a necessidade do controle, instigam resistência às
mudanças, trazem perturbações na consciência diária, sua compreensão é
confusa, geram a necessidade de discutir a experiência e provocam
modificações abruptas na consciência de si e do mundo.

Greenberg e Witztum (1991), investigaram uma população de judeus


ortodoxos, procurando diferenciar o que seria um sistema de crenças e
práticas religiosas rigorosos, mas psicologicamente saudáveis, de um
transtorno obsessivo-compulsivo com fundo religioso. Assim, as experiências
pessoais saudáveis são compatíveis com as crenças aceitas pelo grupo

49
religioso, seus detalhes não excedem as crenças aceitas, são moderadas,
geram excitação e as habilidades sociais e os hábitos de higiene estão
preservados. Já nas crenças obsessivas, as experiências são muito pessoais
e divergem das crenças do grupo, seus detalhes excedem as crenças
aceitas, são intensas, geram terror e as habilidades sociais e os hábitos de
higiene estão comprometidos. Já os comportamentos saudáveis não
excedem as prescrições, são gerais, não estão presentes condutas de
limpeza e de verificação e não ocorre a desconsideração de outras práticas.
As condutas compulsivas, diferentemente, excedem as prescrições, são
muito específicas, estão associadas a rotinas de limpeza e de verificação e
trazem desconsiderações para com outras práticas religiosas propostas pelo
grupo religioso.

Lukoffet al. (1992), propuseram para o Diagnostic and Statistical


Manual of Mental Disorders, uma nova categoria de problemas psicológicos,
denominada por eles “problemas religiosos e espirituais”. Problemas
religiosos são experiências perturbadoras, que envolvem crenças e práticas
de uma igreja ou instituição religiosa, que ocorrem, por exemplo, em um
momento de crise de fé ou na migração para uma nova orientação religiosa.
Problemas espirituais são experiências perturbadoras, que envolvem o
relacionamento do indivíduo com um ser ou força transcendente, que
ocorrem, por exemplo, nas experiências místicas e nas EQM. Em uma
experiência mística ocorrem uma vivência de união com um ser divino, uma
grande euforia e a perda da noção de tempo e espaço, que podem ser
confundidas com episódios psicóticos agudos. Em uma EQM, uma pessoa se
vê projetada fora do seu corpo, encontra seres espirituais e alcança uma
nova compreensão da vida, experiência esta que pode ser confundida com
um transtorno dissociativo de despersonalização.

Esse foi um importante avanço na psiquiatria, pois se colocou a


possibilidade de muitas experiências espirituais e religiosas não serem
patológicas, apesar de se assemelharem a transtornos mentais. A criação
dessa categoria teve como objetivos incrementar especificidade no
diagnóstico dessas experiências, reduzir efeitos danosos de um diagnóstico

50
equivocado, estimular pesquisas que gerem tratamentos mais adequados
para esses problemas e estimular os centros de formação psiquiátricos a
acrescentarem a compreensão e o tratamento desses problemas aos seus
programas de treinamento.

Jackson e Fulford (1997), empreenderam um estudo comparando


cinco indivíduos que tinham vivenciado experiências espirituais com cinco
indivíduos que estavam se recobrando de surtos psicóticos, mas que
interpretavam suas experiências em termos religiosos. Eles propuseram que
as experiências espirituais e psicóticas não podem ser diferenciadas apenas
pelos sintomas que são muito semelhantes. O diagnóstico diferencial entre
experiências espirituais e transtornos mentais de conteúdo religioso
propuseram que as experiências espirituais e psicóticas não podem ser
diferenciadas apenas pelos sintomas que são muito semelhantes em um
caso e outro, mas seria mais importante investigar o sistema de valores e
crenças com os quais o indivíduo avalia e compreende as suas experiências.

Jackson e Fulford (1997), conseguiram, assim, levantar sintomas


diferenciadores entre as duas experiências. Assim, a experiência espiritual
geralmente é: voltada para os outros, é curta, vivida intelectualmente, existe
dúvida sobre ela, preserva o insight sobre a origem interna da experiência, é
controlada, não leva a perder o contato com a realidade, é emocionalmente
neutra ou positiva (traz satisfação), traz consciência da não compreensão dos
outros, não ocorrem falhas nas ações intencionais, não leva à deterioração
da vida, seu conteúdo é aceitável pelo grupo cultural de referência do
indivíduo e gera crescimento pessoal. Já a experiência psicótica geralmente
é voltada para a própria pessoa, é longa, é vivida corporalmente, existe a
certeza sobre ela, falta insight sobre sua origem interna, leva a pessoa a ser
submergida nela, leva a perder o contato com a realidade, é emocionalmente
negativa (traz sofrimento), não existe consciência da não compreensão dos
outros, gera falhas em ações intencionais, leva à deterioração da vida, seu
conteúdo é estranho para o grupo cultural de referência do indivíduo e ocorre
um prejuízo geral na vida pessoal.

51
Koenig (2007), procedendo a uma revisão da literatura sobre critérios
diferenciadores entre experiência espiritual e transtornos mentais, propôs que
as primeiras não comprometem os desempenhos social e ocupacional,
preservam a compreensão do caráter incomum da experiência, não geram
rupturas na relação com um grupo sociocultural de referência, não estão
associadas a outras patologias mentais e geram crescimento psicológico com
o tempo.

A questão da saúde mental e da psicopatologia se torna crítica diante


dos fenômenos alucinatórios, que habitualmente são associados à
esquizofrenia ou a outros quadros psicóticos.

Segundo Esquirol (1996), a alucinação é uma percepção sem objeto.


A definição do DSM-IV não se afastou muito desse significado original, ao
definir alucinação como uma percepção sensorial que apresenta um forte
sentido de percepção real, mas ocorre sem a estimulação externa dos órgãos
de sentido pertinentes. Pesquisas populacionais há mais de um século vêm
indicando que os fenômenos alucinatórios, mais do que uma categoria de
experiências restritas aos psicóticos esquizofrênicos, ocorrem de uma forma
bastante disseminada na população.

No final do século XIX, Sidgwick (1996), vinculado à Sociedade de


Pesquisas Psíquicas, juntamente com um grande número de colaboradores,
entrevistou 7.717 homens e 7.599 mulheres britânicos. Ele constatou que
7,8% dos homens e 12% das mulheres relataram ter tido pelo menos um
episódio vívido de alucinação. West (1996), conduzindo uma pesquisa
similar, por meio da distribuição de questionários com 1.519 sujeitos, 50 anos
depois, na mesma região anteriormente investigada por Sidgewick, confirmou
a ocorrência de alucinações em 14% dos indivíduos investigados.

Tien (1991), constatou que 10% dos homens e 15% das mulheres em
uma amostra de 18.572 indivíduos, obtida em uma ampla pesquisa de
sintomas psiquiátricos em uma população geral (Epidemiological Catchment
Area Program), apresentavam alucinações ao longo de toda a vida sem

52
manifestarem outros sintomas patológicos. Ohayon (2000) sondou 13.057
indivíduos da Grã-Bretanha, da Alemanha e da Itália por telefone e constatou
que 38,7% destes relataram ter tido alucinações e, entre estes, 5,1%
apresentavam esse sintoma uma ou mais vezes por semana.

Além de as alucinações acontecerem extensivamente, Johns e Van Os


(2001), Serperet al. (2005) e Lincoln(2007) propõem que elas acontecem em
um continuum no qual em um extremo estão os indivíduos saudáveis e, no
outro extremo, estão os esquizofrênicos. Baseados em grandes estudos
populacionais, eles propõem que, tal como a esquizofrenia não é um
construto categorial, mas sim dimensional, ou seja, mais do que existir uma
categoria de esquizofrênicos puros, diferentes dos normais, a esquizofrenia
se estende em maior ou menor grau a toda a população.

O diagnóstico patológico dependerá de uma maior frequência e


intensidade da experiência alucinatória, da coexistência de outros sintomas e
de prejuízos na capacidade de adaptação em geral.

Strauss (1969), propôs serem indicadores de patologia a convicção


sobre a realidade objetiva da vivência alucinatória, a ausência de apoio
cultural para a experiência, a grande quantidade de tempo envolvido com a
experiência e a implausibilidade da vivência em relação à realidade
socialmente compartilhada.

Slade (1976), investigando dois pequenos grupos de psicóticos


(alucinadores e não alucinadores) e Richardson e Divvo (1980), examinando
dois grupos de alcoólatras (alucinadores e não alucinadores), utilizando
testes psicológicos, verificaram que as alucinações são geralmente
disparadas por estresse pessoal, em pessoas muito focadas em si mesmas,
que são muito imaginativas e têm um pobre teste de realidade. Honiget
al.(1988), compararam grupos de não pacientes alucinadores, pacientes com
transtorno dissociativo e pacientes esquizofrênicos e concluíram que as
alucinações entre normais são tranquilas, não geram alarme nem
perturbação e existe controle sobre elas e as alucinações dos

53
esquizofrênicos são precedidas por eventos traumáticas, geram perturbação
e não existe controle sobre elas.

Serperet al. (2005),compararam três grupos de pessoas, sendo 39


esquizofrênicos alucinadores, 49 esquizofrênicos não alucinadores e 363
universitários normais e assinalaram algumas características dos
alucinadores esquizofrênicos: consideram que suas alucinações visuais e
auditivas são percepções objetivas, têm vários impedimentos na vida,
apresentam outras disfunções clínicas e têm percepções distorcidas.

O diagnóstico diferencial entre experiências espirituais e transtornos


mentais de conteúdo religioso no funcionamento da personalidade humana,
na qual certas funções mentais atuariam de forma independente e fora de um
controle consciente. A dissociação pode ocorrer naturalmente, como, por
exemplo, quando uma pessoa se absorve tanto em assistir a um filme que
fica totalmente alheia a tudo o mais que esteja acontecendo a si mesmo ou
ao seu redor.

Na concepção original de Janet, a dissociação seria um construto


categorial, ou seja, é um tipo ou categoria de experiência que só ocorreria em
indivíduos mentalmente doentes, que teriam uma deficiência em integrar
diferentes conteúdos psicológicos. Alguns contemporâneos de Janet, como
Frederic Myers, Morton Prince e William James, apresentaram um ponto de
vista diferente, pelo qual a dissociação é entendida como um construto
dimensional, ou seja, é vivenciada em maior ou menor grau por todas as
pessoas indo de um extremo saudável até o outro extremo patológico.

É necessário termos uma compreensão da extensão em que a


dissociação ocorre na população em geral. Ross et al. (1990) avaliaram uma
amostra de 1.055 adultos não diagnosticados, extraída do total de 650.000
habitantes da cidade de Winnipeg, Canadá. Eles aplicaram nesta amostra o
DES (Dissociative Experience Scale), um instrumento de autoinforme
composto por 28 itens que mede experiências dissociativas, e constataram
que 13% desses indivíduos apresentaram uma pontuação acima de 20,

54
indicando a existência de um nível alto de vivências dissociativas nessa
amostra.

Walleret al. (1996) e Martinez-Taboas (2001), propuseram que a


dissociação não patológica envolve a capacidade de absorção e de
envolvimento imaginativo e constitui uma experiência humana para a qual
todos os indivíduos são propensos em maior ou menor grau.

Tellegen e Atkinson (1974), definiram a absorção como um estado de


total atenção, no qual o aparelho representacional parece estar totalmente
dedicado a experienciar o objeto percebido.

Wilson e Barber, Rhue (1983) e Lynn e Rauschenberger (1995),


identificaram alguns indivíduos, que denominaram de “fantasiadores”, como
sendo muito propensos à fantasia, tendo tido na infância um maior
envolvimento com jogos de fantasia do que com brincadeiras com outras
crianças e sua capacidade de fantasiar representou um canal de escape para
sua solidão e sua raiva.

Lewis-Fernandez (1998), afirma que a dissociação não patológica


ocorre com o controle pleno por parte do indivíduo, dentro de um contexto
cultural que a organiza, e é significativa para a própria pessoa e para os
outros.

Butler (2006) acrescenta que a dissociação saudável é útil em todo o


processamento mental, facilita ações e atitudes automáticas, ajuda a escapar
mentalmente de situações desagradáveis e a concentrar-se em atividades
absorventes, não tem sua origem associada a traumas, ocorre em períodos
curtos, é suave e não bloqueia o funcionamento da mente.

A propensão à fantasia, entretanto, por mais inocente que possa


parecer, pode levar à dissociação patológica, quando um evento traumático
faz o indivíduo buscar, na fantasia, a forma de escapar da realidade
intolerável46. A dissociação patológica, surgindo inicialmente como uma

55
forma de lidar com a situação aversiva, pode se generalizar para as demais
situações de vida, passando a trazer prejuízos na capacidade de adaptação
do indivíduo.

É a interação entre a capacidade natural de absorção, com as


experiências traumáticas, que resultará na dissociação patológica, que
expressa um definido mau funcionamento psicológico, gera sofrimento e
incapacitação, é involuntária e é interpretada pelo grupo cultural de referência
do próprio indivíduo como sendo uma doença que necessita de tratamento.

Dissociadores patológicos mesclam as formas não patológicas com as


formas patológicas de dissociação. A dissociação patológica está ainda
associada a experiências traumáticas do passado, é crônica, grave e
debilitadora para os funcionamentos psicológico e social do indivíduo.

Segundo Walleret al (1996). e Martinez-Taboas (2001), a dissociação


patológica se expressa por meio da amnésia, da despersonalização-
desrealização, da confusão de identidade e da alteração de identidade.

A amnésia dissociativa compreende basicamente a perda de memória,


sobretudo de eventos recentes e de informações pessoais importantes, que
não pode ser atribuída a um esquecimento habitual, à fadiga ou a um sintoma
de origem orgânica.

A despersonalização refere-se às alterações afetivas e perceptuais em


relação ao self, que levam o indivíduo a estranhar a si mesmo e ao seu
próprio corpo. A desrealização refere-se às mesmas alterações em relação
ao seu meio ambiente, que fazem o indivíduo se sentir desconfortável nesse
ambiente.

O transtorno de identidade dissociativa, antes chamado de transtorno


de identidade múltipla, manifesta-se pela existência de duas ou mais
personalidades dentro de um mesmo indivíduo, que se alternam dentro dele,
com períodos de amnésia, eclipsando as personalidades que foram

56
afastadas.

A alteração de identidade é vista mais evidentemente no transtorno de


transe dissociativo. Cardeñaet al.(1994), definem transe como uma alteração
temporária da consciência, da identidade ou do comportamento, com
diminuição da percepção do ambiente e ocorrência de movimentos que
estejam fora do controle da própria pessoa, sem substituição da própria
consciência por outra. Os mesmos autores definem transe de possessão
como sendo a mesma vivência, com a diferença que a alteração da
consciência é atribuída a uma força ou entidade espiritual externa que se
apossa da consciência daquele que vivencia a experiência.

Deve-se tomar cuidado para não considerar patológicas todas as


formas de transe e possessão, pois Bourguignon (1978), em uma
investigação antropológica, constatou que, em 488 sociedades no mundo,
90% delas possuíam formas institucionalizadas de transe e, em 52% destas,
esses estados são atribuídos à possessão por seres espirituais. Isso nos
mostra que a extensão em que essa vivência

O diagnóstico diferencial entre experiências espirituais e transtornos


mentais de conteúdo religioso em 52% destas, esses estados são atribuídos
à possessão por seres espirituais. Isso nos mostra que a extensão em que
essa vivência acontece no mundo nos leva a tomar cuidado para não reduzi-
la a um mero mau funcionamento psicológico de indivíduos mentalmente
doentes.

Lewis (1989), propôs alguns critérios para diferenciar a possessão


saudável da patológica. A possessão não patológica, denominada por ele
como central, é episódica, ocorre em um tempo delimitado, é organizada e
ocorre dentro de um contexto cultural que lhe confere significado. Já a
possessão patológica, denominada por ele como periférica, tende a ser
crônica, ocorre de forma não controlada, não é organizada e não compatível
com o contexto cultural no qual o indivíduo esteja integrado.

57
Beng-Yeong (2000), propõe que estados de transe saudáveis sejam
disparados por ações definidas, sejam curtos e gerem resultados benéficos
para o indivíduo que os vivencia e serão patológicos se forem disparados por
emoções estressantes, durarem muito e gerarem resultados maléficos para
quem os vivencia.

Cardeñaet al. (2006), utilizando os conceitos de Lewis, afirmam que a


possessão central (não patológica) vem de uma predisposição provavelmente
biológica, que foi modelada por fatores socioculturais organizados, que
levaram a rituais controlados de possessão. É neste sentido que poderemos
compreender os transes de possessão da mediunidade, que acontecem nas
religiões mediúnicas, como no Espiritismo, na Umbanda e no Candomblé. Já
a possessão periférica (patológica) também decorreria de uma predisposição
biológica, mas que foi impactada por traumas físicos ou sexuais, gerando
alterações de identidade difíceis de controlar e organizar. Os indivíduos
passam a apresentar sofrimento psicológico e prejuízos significativos nos
seus funcionamentos social e ocupacional.

58
CAPÍTULO 9: CONSTRUINDO NOVAS VEREDAS

9.1. RESULTADO:
Levando em consideração os principais sintomas diferenciadores entre
uma EE, uma experiência espiritual e um transtorno mental propostos por
todos esses autores citados na discussão e resultados acima, nota-se que
esses critérios não devem ser considerados isoladamente, mas sim em um
conjunto.

Verificou-se que existe critérios que podem nortear a fenomenologia


das experiências o que caracteriza as VM peculiares de cada um em nove
aspectos:

1. Ausência de sofrimento psicológico


O sofrimento está relacionado à doença. Deve-se lembrar, entretanto,
que os estágios iniciais de uma experiência religiosa ou espiritual podem vir
acompanhados de grande sofrimento pessoal que poderão ser superados à
medida que o indivíduo avançar na compreensão e no controle da sua
experiência.

Greyson (1997), estudando as EQM, afirma que os indivíduos, após


essa experiência, sentem raiva e depressão, experimentam abalos em suas
crenças religiosas, passam a duvidar de sua sanidade mental, sentem-se
incompreendidos pelos familiares e profissionais de saúde e que 75%
rompem casamentos, e suas carreiras profissionais podem ficar gravemente
prejudicadas. Comentando quatro casos em seu artigo, ele afirma que o
atendimento psicoterapêutico e psicofarmacológico adequado trouxe uma
melhor compreensão da experiência vivida por eles, levando esses pacientes
a retomarem e muitas vezes reestruturarem sua vida de forma mais
significativa.

2. Ausência de prejuízos sociais e ocupacionais


A saúde psicológica implica um ego estruturado gerenciando
adequadamente as relações sociais, familiares, afetivas e atividades

59
ocupacionais. Lukoff et al (1995); entretanto, comentam como indivíduos que
tiveram uma experiência mística podem se sentir temporariamente
desajustados em relação à sua vida cotidiana, enquanto não conseguirem
compreendê-la e retomá-la

3. A experiência tem duração curta e ocorre episodicamente


A experiência espiritual não patológica é um acréscimo às
possibilidades vivenciais do indivíduo, não se interpondo às demais
experiências cotidianas da consciência. Assim, espera-se que a pessoa
saudável passe por uma vivência incomum e logo retome seu estado habitual
de consciência e suas atividades cotidianas. Existem casos, entretanto, de
médiuns treinados que sustentam experiências espirituais por mais tempo
sem comprometimento de sua saúde mental.

4. Existe uma atitude crítica sobre a realidade objetiva da experiência


A consciência saudável, surpreendida pela experiência espiritual ou
religiosa, precisará refletir sobre o sentido dessa experiência para si mesmo e
para sua vida. Enquanto o indivíduo não desenvolver uma nova compreensão
sobre a experiência que esteja vivendo, ele precisará colocar sob suspeita
essa nova experiência, até que ela possa ser compreendida. Enquanto isso,
ele poderá não conseguir avaliar adequadamente o que lhe sucedeu, como
ocorre, por exemplo, nas experiências místicas, como mostraram Lukoff et
al.(1995).

5. Existe compatibilidade da experiência com algum grupo cultural ou


religioso
A compatibilidade da experiência com as crenças e os
comportamentos próprios de um grupo cultural de referência sugere o
ajustamento social daquele que vive a experiência com as práticas de um
grupo, conferindo legitimidade a essa vivência. Entretanto, a EQM e a
mediunidade podem surpreender indivíduos, seus familiares, bem como os
grupos religiosos em que eles estejam inseridos, sem que alguém tenha
qualquer compreensão sobre o que tenha ocorrido.

60
6. Ausência de comorbidades
Sims (1988), apontou que a psicopatologia relacionada a uma
experiência espiritual pode ser observada tanto no comportamento do
indivíduo quanto na sua experiência subjetiva, manifesta-se em todas as
suas áreas de vida e compõe um histórico de vida compatível com o histórico
de um transtorno mental, em nada lembrando uma experiência espiritual.
Quanto mais evidenciada estiver a patologia, mais probabilidades teremos de
estar diante de um transtorno mental.

7. A experiência é controlada
Cabe a um ego vigilante controlar suas vivências habituais e garantir
um bom desempenho pessoal e social. Caberá a ele, da mesma forma,
controlar as experiências espirituais e religiosas, de modo a não prejudicar
suas vivências habituais. Formas orientais de meditação, por exemplo,
tendem a atrair indivíduos com transtorno de personalidade borderline e
narcisista, que têm uma frágil integração psicológica, podendo gerar nesses
indivíduos falsas experiências de iluminação, repletas de visões aterradoras.

8. A experiência gera crescimento pessoal


A experiência espiritual gera significados enriquecedores para a vida
pessoal, social e profissional de um indivíduo. Já a experiência patológica,
mal estruturada e mal estruturada desde o princípio ampliará o desequilíbrio
do indivíduo ao longo do tempo, resultando em deterioração geral da sua
qualidade de vida

9. A experiência é voltada para os outros


A experiência voltada para os outros guarda um sentido e um objetivo
social, próprios de alguém socialmente ajustado. Já a experiência
egocentrada tende a ser isolacionista e pode, muito facilmente, levar o
indivíduo a enredar-se nos meandros de um pensamento delirante sem que
ele próprio possa se dar conta da extensão do seu desvio da normalidade.

Esses futuros estudos deverão tomar alguns cuidados para que


possam ter maior validade citados por alguns autores como: Tart (1972), o

61
qual já tinha apontado a inadequação da abordagem científica tradicional
para abordar os “Estados Alterados de Consciência”, entendidos como
alterações qualitativas no padrão global de funcionamento mental que o
indivíduo sente serem radicalmente diferentes do seu modo habitual de
funcionamento, recomendando o uso extensivo de observações empíricas
que possam ser replicadas por outros investigadores.

Heber et al. (1989) e Ross et al. (1990), propuseram que os estudos


sejam feitos com populações não clínicas, para que seus resultados possam
ser mais generalizáveis para a população não diagnosticada.

Reinsel (2003), sugeriu que fossem utilizadas amostras maiores e


estas fossem recolhidas de ambientes onde as experiências estudadas
ocorram com maior freqüência.

Almeida e Neto recomendam, entre outras coisas, utilizarem-se


diversos critérios de normalidade e patologia, avaliar a experiência de modo
multidimensional e priorizar estudos longitudinais que permitam esclarecer as
complexas relações causais entre as variáveis associadas às experiências
espirituais e aos transtornos mentais.

Levin e Steele (2005), também insistem em estudos longitudinais,


propõem o uso de conceitos operacionais relativos às experiências e
recomendam buscar respostas para as seguintes perguntas: o que, quem,
onde, quando, como e por quê. Desta forma entendo que criamos nossas VM
e as percorremos de modo muito peculiar podendo desfrutar deste trajeto da
melhor maneira possível . Através da observação e dos valores pessoais de
cada um despertamos o que há de melhor em cada individuo, favorecendo o
lado saudável que é o foco da PT.

62
CAPITULO 10: A SUA VEREDA

10.1. CONCLUSÃO:
Conclui-se que cada um de nós construímos nossas próprias VM e
que ainda faltam mais estudos que testem prospectivamente os critérios
diferenciadores do que seria uma experiência espiritual, uma EE descrita pela
PT e uma psicopatologia descrita pela psiquiatria clínica; de qualquer modo é
importante levar em consideração os fatores observados no resultado da
pesquisa para melhor diagnóstico e prognóstico, além da compreensão da
peculiaridade da VM individual, pois fenômenos são observados e nomeados
de modo distintos e conseqüentemente classificados de acordo com os
diferentes saberes. A experiência egoica é única e particular de cada ser ao
caminhar rumo ao self; neste processo as VM percorridas nos deixam
marcas as quais foram foco deste trabalho e continuam sendo pesquisadas.

63
APÊNDICE - 01 Esquizofrenia e Transtorno Afetivo Bipolar

1. Esquizofrenia Paranóide


 Este tipo de esquizofrenia é o mais comum e também o que responde


melhor ao tratamento. Diz-se, por causa disso, que tem prognóstico melhor.
O paciente que sofre esta condição pode pensar que o mundo inteiro o
persegue, que as pessoas falam mal dele, têm inveja, ridicularizam-no,
pensam mal dele, elas têm intenções de fazer-lhe mal, de prejudicá-lo, de
matá-lo, etc. Trata-se dos delírios de perseguição. 
 
 Não é raro que este
tipo de paciente tenha também delírios de grandeza, idéias além de suas
possibilidades: "Eu sou o melhor cantor do mundo. Nada me supera. Nem
Frank Sinatra é melhor". Esses pensamentos podem vir acompanhados de
alucinações, aparição de pessoas mortas, diabos, deuses, alienígenas e
outros elementos sobrenaturais. Algumas vezes esses pacientes chegam a
ter idéias religiosas e/o políticas, proclamando-se salvadores da terra ou da
raça humana. 


2.
 Esquizofrenia Hebefrênica


 Neste grupo se incluem os pacientes que têm problemas de


concentração, pouca coerência de pensamento, pobreza do raciocínio,
discurso infantil. Às vezes, fazem comentários fora do contexto e se desviam
totalmente do tema da conversação. Expressam uma falta de emoção ou
emoções pouco apropriadas, rindo-se a gargalhadas em ocasiões solenes,
rompendo a chorar por nenhuma razão em particular, etc. 
 
 Neste grupo
também é freqüente a aparição de delírios (crenças falsas), por exemplo que
o vento move na direção que eles querem, que se comunicam com outras
pessoas por telepatia, etc.

3. Esquizofrenia Catatônica


 É o tipo menos freqüente de esquizofrenia. Apresenta como


característica transtornos psicomotores, tornando difícil ou impossível ao
paciente mover-se. Talvez passe horas sentado na mesma posição. A falta
da fala também é freqüente neste grupo, assim como alguma atividade física

64
sem propósito. 
 


4. Esquizofrenia Simples

Também é pouco freqüente. Aparece lentamente, normalmente


começa na adolescência com emoções irregulares ou pouco apropriadas,
pode ser seguida de um paulatino isolamento social, perda de amigos,
poucas relações reais com a família e mudança de caráter, passando de
sociável a anti-social e terminando em depressão. Nesta forma da
esquizofrenia não se observam muitos surtos agudos.

5. Esquizofrenia Residual

Este termo é usado para se referir a uma esquizofrenia que já tem


muitos anos e com muitas seqüelas. O prejuízo que existe na personalidade
desses pacientes já não depende mais dos surtos agudos. Na Esquizofrenia
assim cronificada podem predominar sintomas como o isolamento social, o
comportamento excêntrico, emoções pouco apropriadas e pensamentos
ilógicos. 
 


Apesar desta classificação, é bom destacar que os pacientes


esquizofrênicos nem sempre se encaixam perfeitamente numa de estas
categorias. Também existem pacientes que não se podem classificar em
nenhum de os grupos mencionados.

A estes pacientes se pode dar o diagnóstico de Esquizofrenia


Indiferenciada.

2. TRANSTORNOS AFETIVOS BIPOLARES

Variações do humor que oscilam entre os polos de humor eufórico e


humor depressivo. Estes equivalentes doentios dos aspectos emocionais
constituem o que se denomina polos. Como são dois, entende-se o termo
bipolar.

O estado de bipolaridade é característico do chamado transtorno


afetivo bipolar, e é caracterizado pela alternância de fases de tristeza e

65
alegria doentias, conhecidas respectivamente como depressão e mania, de
onde vem o antigo nome de Psicose Maníaco Depressiva.

Diferente do que ocorre nas situações normais, estas alternâncias não


acontecem em resposta a estímulos externos que explicariam os estados
emocionais. Em alguns casos, essas alternâncias podem ocorrer no mesmo
dia ou na mesma hora.


 As consequências decorrem em grande parte da inconstância


emocional. Mesmo quando o quadro clínico não é dos mais graves, torna-se
difícil para a pessoa ter segurança de que, dentro de algum tempo estará
bem para cumprir um compromisso assumido. Uma situação não rara
relacionada à perda da crítica ou capacidade de julgamento é uma tendência
aos gastos exagerados (que podem levar o patrimônio de uma família ou
empresa à ruína). Outro aspecto que pode dificultar o relacionamento com
uma pessoa no estado positivo ou de euforia é a tendência da pessoa
apresentar sentimentos de grandiosidade e a incapacidade de aceitar limites.
Ou se achar com poderes espirituais ou dons sobrenaturais.

No polo oposto, da depressão, a tendência é a visão negativa do


rotineiro, a auto recriminação, a autoestima rebaixada, levando até mesmo a
ideias de auto eliminação (suicídio).

Algumas pessoas com transtorno bipolar apresentam hipomania.


Durante os episódios de hipomania, a pessoa pode apresentar um aumento
de energia e níveis de atividade que não são tão intensos como na mania ou
ele ou ela podem apresentar episódios que duram menos de uma semana e
não necessitam atenção em unidades de urgência. Uma pessoa durante um
episódio hipomaníaco pode se sentir muito bem, ser altamente produtiva e
funcionar bem. Esta pessoa pode não sentir que há algo errado mesmo
quando sua família e amigos notam que estas mudanças de humor podem
ser um transtorno bipolar. Sem o tratamento adequado, entretanto, pessoas
com hipomania podem desenvolver quadros graves de mania e depressão.

66
Durante um episódio ou estado misto, os sintomas frequentemente
incluem agitação, sono perturbado, grandes mudanças no apetite e
pensamentos suicidas. Pessoas em estado misto podem sentir-se muito
tristes ou sem esperança e ao mesmo tempo extremamente energizadas.

Algumas vezes, uma pessoa com episódios graves de mania ou


depressão apresenta sintomas psicóticos também, como alucinações e
delírios. Os sintomas psicóticos tendem a refletir o estado extreme de humor
da pessoa. Por exemplo, sintomas psicóticos em uma pessoa durante o
episódio maníaco podem incluir a crença de que ele ou ela é uma pessoa
famosa, tem muito dinheiro ou poderes especiais. Da mesma maneira,
alguém durante um episódio depressivo grave pode acreditar que está falida
ou que cometeu um crime muito grave.

67
APÊNDICE – 02: CONCEITOS EM PSICOLOGIA TRANSPESSOAL

1. CONCEITO DE UNIDADE
Do Conceito de Unidade se sustenta e convergem o conceito de
Vida e de Ego, a Cartografia da Consciência e os Estados de
Consciência.

Representação do Aspecto Estrutural:

Figura 5 PT Corpo teórico


Fonte: Cartografia da consciência/ artigo03 html

A unidade fundamental do Ser (ou da não fragmentação) é o


pressuposto básico em PT, do qual partem ou para onde convergem
todos os recursos desta abordagem. Dai vem o conceito de Unidade,
onde sujeito e objeto são indissociáveis, onde o todo contém as partes e
as partes contém o todo.

Para Pierre Weil (1995), a unidade é a propriedade do que não é


dividido. “É o todo absoluto, a plena luz.” Neste nível inexistem o tempo e
o espaço, há um eterno agora, um ser indivisível, e, portanto “sempre foi”;
não esta nem antes nem depois desta ou daquela etapa; “Unidade entre o
eu e o universo”. Há um desaparecimento da tridimensionalidade do
tempo.

68
Para Furlan (1998), “a separatividade perece existir , somente na
dimensão mais concreta e imediata de nossos sentidos”.

A Psicologia Perene afirma que o conceito de unidade esta


presente em todas as religiões. Postula a existência desta “unidade
Fundamental” (conceito de unidade).

Bion, na teoria psicanalítica, inclui esse conceito de Unidade no


seu referencial, de forma similar, também com o termo: “Absoluto”.

Ainda no conceito de Unidade, Viktor Frankl (1999), ao


reconhecer a dimensão do espiritual cria a unidade antropológica e relata
que a espiritualidade recupera o humano em sua inteireza levando ao
reestabelecimento da unidade com o cosmos, vivenciando portanto as
experiências de forma direta, plena e verdadeira o que gera novas
reflexões sobre o conceito de Vida.

Na PT estuda-se os fenômenos humanos, inclusive os religiosos,


mas não havendo ênfase na religião enquanto instituição, mas sim nos
fenômenos experienciais, na espiritualidade, nos valores humanistas e
transcendência.

James Husley (1973), reforçou o conceito de unidade afirmando


que “o conhecimento eh uma função do ser. Quando ha uma mudança no
ser conhecedor, ha uma mudança correspondente na natureza e na
totalidade do conhecido.”

2. CONCEITO DE VIDA
Vida é um pulsar contínuo no qual nascer, morrer e renascer
fazem parte de um processo. De modo geral tudo é vida; energia, formas
diversas de existências, nem se sabe, quando começou ou quando
terminará. É um dos aspectos fundamentais para a clínica e para a
educação. A caracterização básica desse conceito na PT é a dimensão
atemporal.

69
Para Pierre Weil (1989) dentro de sua perspectiva do conceito de
vida, de energia de consciência (que é uma energia) refere a vida num
conceito mais amplo, não apenas da vida biológica, física, mas também
da natureza, do espírito, a vida-energia, infinita nas suas mais diferentes
expressões.

Vera Saldanha (1999) refere a vida como eterna, ilimitada que


sempre existiu. “Desconhece-se sua origem e sequer pode imaginar, de
forma concreta o seu fim. É inesgotável, incessante, nas suas mais
diferentes manifestações”.

Do ponto de vista do aspecto psicológico a vida é pautada por


duas etapas básicas: Morte e Renascimento. Assim transformações
ocorrem trazendo colorido, equilíbrio e beleza. A essência sempre
permanece.

O morrer sob enfoque transpessoal é uma transição. É a


passagem de uma forma para tornar outra, mantendo a essência do
indivisível do conceito de unidade que consiste na vida em si própria. O
desenvolvimento do ser humano eh galgado por meio de mortes e de
renascimentos.

3. CONCEITO DE EGO
O Conceito de Ego na PT caracteriza-se como uma construção
mental, ilusória, que tem a tendência de solidificar energia mental em uma
barreira, a qual separa o espaço em dias partes: Eu e o outro. E
representando parcialidades das experiências humanas.

Assim o Eu é uma consciência em evolução, que pode se


manifestar além dos elementos circunstanciais, bio-psiquicos e sociais
que caracterizam a personalidade, integrando níveis evolutivos
superiores, elementos perenes, espirituais, universais, cósmicos, os quais

70
constituem a individualidade, que é o ser essencial integral
(Assagioli,1993).

É essa ruptura com a dualidade rígida, inflexível, que permite


redimensionar o conceito de Ego.

Para Jean-Yves Leloup e Boff (1997), afirmam que “esse ser


capaz de transitar pelo lado sombrio e pelo lado de luz de nossa psique,
vai além dos antagonismos e possibilita integração de paradoxos.”

Abraham Harold Maslow (1997) afirma que “ a Raiz viva de nosso


potencial humano é a natureza essencial interior, que reprimida e negada
faz adoecer sempre de forma óbvia ou de maneira sutil”.

O trabalho de morte e renascimento do ego na PT traz ao


indivíduo a possibilidade de conectar suas próprias experiências
interiores, dando-lhe sentido a vida, integrando polaridades,
transcendendo o ego, vivenciando aquilo que realmente existe.

O conceito de ego, na abordagem transpessoal, é definido por


Vera Saldanha como um constructo mental, ilusório, que tende a
solidificar a energia mental em uma barreira que separa o espaço entre eu
e o outro; clarifica este conceito referindo que, em reprimindo nosso
verdadeiro eu, criamos uma construção mental do acreditamos ser nosso
“eu”, como representação. Assim, enquanto que nas demais abordagens
psicoterapêuticas o que se procura é um fortalecimento do ego para que o
sujeito possa “estar no mundo” de forma mais “eficiente”, na PT o que se
busca é a dissolução circunstancial do ego para que possa desta forma,
emergir o Eu verdadeiro. O que deve estar claro é que o ego, nesta
abordagem, não representa a totalidade do Ser. “Quando os processos do
ego adquirem supremacia e controlam sua psique, há perda de si mesmo,
de sua natureza essencial” (Saldanha, 2008).

71
O estado mental que antecede a criação do ego é um espaço
amplo, livre, luminoso, que esta ligado a uma inteligência porem sem
consciência, como se fosse um estado total de unidade indiferenciada.

Segundo Souza Filho, o processo de construção do Ego se dá em


cinco etapas:
 Dualidade,
 Sensação,
 Reações impulsivas,
 Conceito, Intelecto e
 Mente consciente

1. Dualidade: quando tomamos consciência de um eu no espaço


amplo, solidificamos esse eu e deixamos de sentir-nos um só com esse
espaço mental, gerando o eu e o outro separado. É a primeira etapa do
desenvolvimento do ego.

2. Sensação: a dualidade cria a possibilidade de projetar no outro a


sensação de que ele nos é agradável ou desagradável, ou ainda que somos
indiferentes ao outro.


 3. Reações impulsivas: a partir da constatação da sensação,


segue-se a ela a reação impulsiva correspondente: apego ao que é
agradável, repulsa ao desagradável e neutralidade ao indiferente. Até esse
estágio, o processo é instintivo. Quanto mais o indivíduo estiver identificado
com suas sensações e reações impulsivas, limitado aos cinco sentidos como
canais sensoriais perceptivos, mais sua reação será autômata.

4. Conceito intelecto: a quarta etapa do desenvolvimento psicológico


do ego envolve a ação do intelecto, que torna a estrutura do ego mais
aperfeiçoada e mais forte. Apenas o processo instintivo é insuficiente para a
segurança do ego, o qual necessita do intelecto para oficializar sua situação,
julgando, classificando como certo, errado, bom, mal e assim por diante. O
intelecto oficializa a situação do ego, pondo-lhe um nome de eu, o eu da
personalidade, estabelece rótulos como, por exemplo: eu não gosto, eu

72
gosto, eu sei, etc. Ao estabelecer o conceito, diminuem-se as chances de o
indivíduo viver a experiência direta, plena e verdadeira, visto que existe o pré-
conceito, a pré suposição. (Saldanha, 2006).

5. Mente Consciente: para manter os processos instintivos e


intelectuais, o ego necessita de um mecanismo ativo e eficaz. São as
emoções e os pensamentos discursivos que, desordenados e em constante
movimento, alimentam e sustentam histórias e a novela do ego; justificam
plenamente, as percepções instintivas; geram reações egóicas, protegem;
entretêm; alimentam e inflam, através da identificação com os conceitos e
emoções suscitados e, até mesmo retardam ou obstruem a evolução do ser.
Ele não consegue mais diferenciar o que é realidade e o que é projeção.

Além das cinco etapas temos o subproduto do ego que é a auto-


imagem, que ocorre da identificação do ego com a emoção que se estrutura
e se solidifica e que passa a agir como uma identidade separada do ego. A
auto-imagem se alimenta da energia do ego e ele vai se impregnando da
auto-imagem, ela não é mais ela. Passa a agir como se fosse outra pessoa e
a sua capacidade de percepção e apreciação de si, do outro e do mundo a
sua volta fica limitada. Há uma fragmentação e o indivíduo não acessa o
supraconsciente e não vivencia a sua essência verdadeira.

4. ESTADOS DE CONSCIÊNCIA
Os estados de consciência simbolizam, no corpo teórico, o caminhar
através das diferentes dimensões da consciência.

Para Charles Tart (1978), um estado de consciência é um padrão


generalizado de funcionamento psicológico, um sistema constituído por
subsistemas e subestruturas, onde certa quantidade de energia, sob forma
de atenção , mantem determinado estado de consciência ou provoca ruptura
deste sistema, passando então para outro sistema ou estado de consciência.

Apesar de existirem inúmeras graduações nos distintos estados de


consciência, Weil (1989) descreve aqueles que são demarcatórios:

73
 Estado de Consciência de vigília,
 Estado de Consciência de sonho,
 Estado de Consciência de sono profundo,
 Estado de Consciência de devaneio,
 Estado de Consciência de despertar e
 Estado de Consciência cósmica ou de plena consciência

Segundo Vera Saldanha (2006), cada estado de consciência é um


conjunto de eventos energéticos e o indivíduo percebe a realidade, de
acordo com o estado de consciência que ele está vivenciando.

1. Estado de consciência de vigília: neste estado o EEG


(eletroencefalográfico), registra ondas cerebrais beta, de14 a 26 ciclos
por segundo em média. Aqui as funções do ego são predominantes. O
indivíduo percebe o mundo tridimensional através de sua mente, suas
emoções, seus cinco sentidos. É aquele estado em que estamos
despertos, trabalhando.

2. Estado de consciência sonho: este é o estado REM


(Rapid Eyes Movement), movimentos rápidos dos olhos, momento em
que o indivíduo está sonhando. Temos em média quatro sonhos por
noite. Freud foi um dos primeiros a se dedicar a estudar os sonhos,
tudo o que ele pesquisou veio a ser confirmado por Kleitman e seu
discípulo Aserinsky nas pesquisas em neurologia. Para ele todo o
conteúdo trazido ao consciente, são motivações e desejos do
inconsciente, e aquilo que for manifestado por vir de seu inconsciente
individual e, em alguns casos à própria filogênese.

3. Estado de consciência sono profundo: cérebro emite


neste estado ondas delta de 1 a 4 ciclos por segundo; aqui o indivíduo
entra num estado de inconsciência total, ele perde contato com o
mundo externo, o ego desaparece totalmente.

4. Estado de consciência devaneio: neste estado o EEG

74
registra ondas cerebrais alfa de 9 a 13 ciclos por segundo, é
alcançado através do relaxamento. Neste estado as imagens são
desconexas, criativas, literárias, artísticas, científicas e administrativas.
Também, neste estado o indivíduo está totalmente aberto para
perceber o agora, está propício à livre associação, e suas idéias
devem ser anotadas imediatamente, pois podem desaparecer no
estado de vigília.

5. Estado de consciência de despertar: É a saída do


entorpecimento, o indivíduo acorda para a vida, é o despertar do
observador de si mesmo. Neste estado se desenvolve a reflexão, a
percepção da essência do ser, e ocorre também a desidentificação
deste indivíduo com aquilo que ele projeta; suas emoções, sua mente,
seus papéis, e seu corpo. O relaxamento, a meditação e os exercícios
com orientação transpessoal são alguns dos recursos utilizados para
levar o ser a este estado de despertar

6. Estado de plena consciência (ou consciência cósmica): é


o estado resultante da integração entre todos os estados de
consciência; é o estado em que há o controle da atividade cerebral.
Designa um estado de consciência além da consciência comum do
homem. O indivíduo passa a compreender o funcionamento e a razão
de ser do universo, a relatividade das três dimensões do tempo e do
espaço. São descritas com um caráter de inefabilidade,
desaparecimento da dimensão espaço-tempo; não projeção da mente
sobre os objetos, sentimento de viver a realidade “como ela é“.
Descoberta do verdadeiro sentido da vida e o sentido do sagrado
(Weil, 1999).

Vários fatores provocam a experiência de estados de expansão da


consciência, dentre os quais destacam-se: isolamento sensorial e sobrecarga
sensorial, biofeedback, treinamento autógeno, música e canto, improvisação
teatral, meditação, visualizações, hipnose e auto-hipnose, desenho,
psicodrama, Abordagem Integrativa Transpessoal (AIT) dentre outros mais.

75
Todas essas abordagens podem ser chamadas de sistemas
destinados a mudar o estado de consciência. O trabalho terapêutico em
diferentes estados de consciência é vital na abordagem transpessoal
(Saldanha, 1999).

5. CARTOGRAFIA DA CONSCIÊNCIA
Cartografia da consciência é o mapeamento das diferentes regiões,
das dimensões mentais, de onde provêm os conteúdos experienciados e
acessados pelo indivíduo e que favorecem a sua compreensão em sua
trajetória de auto-aprimoramento. Cada estado de consciência acessa
diferentes conteúdos, tornando possível entender o que acontece nessas
dimensões mentais.

Com terminologia distinta autores apontam, de uma forma geral, três


níveis ou dimensões mentais:

 Conteúdos autobiográficos,
 Vivencias intra-uterinas e
 Nível que antecede a vivencia intra-uterina e vai além da
existência biológica.

No primeiro nível refere-se a conteúdos autobiográficos, desde o


nascimento até o momento atual da existência do indivíduo. Depois vêm os
conteúdos que transcendem os dados biográficos, abarcando as vivências
intra-uterinas, inclusive o nascimento. O terceiro nível, o qual antecede o
nível intra-uterino se refere a diferentes e amplos aspectos da consciência.

Para facilitar a compreensão, pode-se fazer uma analogia com a


cartografia Freudiana do “consciente, pré-consciente e inconsciente”. Neste
caso quando a pessoa se referia a vida intra-uterina Freud interpretou como
fantasia. Jung , no entanto, incorporou, em sua teoria , aspectos que chamou
de ”inconsciente coletivo”, além do inconsciente pessoal também descrito.

76
Portanto em sua cartografia dividiu em: “Consciente, inconsciente e
inconsciente coletivo”.

Na PT a cartografia da consciência pode ser relacionada com


diferentes conteúdos experienciais e de acordo com a sistematização da
teoria da AIT proposto por Vera Saldanha, relaciona as experiências
relatadas pelos pacientes como provenientes de regiões pessoais.

O trabalho foi baseado em pesquisas de Stanislav Grof, TimotyLeary,


Robert More entre outros e pode ser descrita como:
 Vigília,
 Pré-consciente,
 Inconsciente psicodinâmico,
 Inconsciente ontogenético,
 Inconsciente transindividual,
 Inconsciente filogenético,
 Inconsciente extraterreno,
 Superconsciente (ou supraconsciente),
 Vácuo

Os conteúdos se interpenetram mutuamente e são caracterizados


como:

Vigília:
Formada de conteúdos usuais do cotidiano, presentes na
consciência, regidos pelo tempo linear passado, presente e futuro lógico, pelo
pensamento analítico e causal. A maioria das pessoas se mantem no estado
de vigília a maior parte do tempo.

Pré-consciente:
Nível de conteúdos ligados à vigília, acessados facilmente a partir de
uma simples evocação direta. Estão parcialmente ligados a vigília.

77
Inconsciente psicodinâmico:
Nível de conteúdos ligados a experiências, sentimentos e pulsões
biográficas, desde o nascimento até o momento da vida atual, mas que muito
raramente vêem à tona. Entretanto podem manifestar-se sob forma de
"Sintoma". Corresponde ao inconsciente Freudiano.

Inconsciente ontogenético:
Nível de conteúdos ligados a experiências intra-uterinas pré ou
perinatais. Representam uma zona de transição do nível pessoal para o
traspessoal, incluindo experiências de morte e nascimento.

Inconsciente transindividual:
Nível de conteúdos de experiências ancestrais (da linhagem
genética ancestral), experiências paligenéticas (de outros tempos e lugares,
que ultrapassa a linha biológica e a lei genética, gerando a compreensão
intuitiva da lei do carma), experiências coletivas e raciais (de várias culturas
passadas, do “inconsciente coletivo ou racial” que contém toda a história da
humanidade) e experiências arquetípicas (do inconsciente coletivo de Jung
através de símbolos universais da experiência humana, arquétipos ou
imagens primordiais). E o primeiro dos domínios transpessoais, experiências
com elementos que transcendem o ego.

Inconsciente filogenético:
Nível de conteúdos ligados a experiências além das formas
humanas, da própria seqüência evolutiva do nosso planeta, tanto orgânicas
(órgão, tecido, célula, animal ou vegetal) como inorgânicas.

Inconsciente extraterreno:
Nível de conteúdos que se estendem para além do nosso
planeta, experiência de estar fora do corpo, de encontros com entidades
espirituais, de percepção extra-sensorial, telepatia, clarividência, escrita
automática e possessão por espíritos.

Supraconsciente ou superconsciente:

78
Nível de conteúdos advindos da percepção ampliada da
realidade, com sentimentos de compaixão e equanimidade, com apreensão
intuitiva do fenômeno da unidade e da relação homem-cosmo, mas que é
acessado se estivermos receptivos a ele (eliminando os pensamentos
desnecessários). E um nível diferenciado da consciência, onde ocorre
profundo êxtase existencial. Também denominado como inconsciente
superior, pois sugere um nível mais amplo do que a consciência de vigília.

Vácuo:
Estado além de qualquer conteúdo. vivência do estado de puro
ser, fusão à Mente Universal, além do tempo e espaço, do bem e do mal.
Estado correspondente ao nirvana na filosofia budista. Para Grof (1988) e
subjacente a toda criação .

Representação da Cartografia da Consciência

Figura:6 : Cartografia da Consciência

Fonte: Weil et al, 1978, p58.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

79
 Adair de Menezes Júnior, Alexander Moreira Almeida; Differential
diagnosis between spiritual experiences and mental disorders of
religious contente

 Almeida AM. Fenomenologia das experiências mediúnicas, perfil e


psicopatologia dos médiuns espíritas. São Paulo: USP; 2004.

 Almeida AM, Neto FL. Diretrizes metodológicas para investigar


estados alterados de consciência e experiências anômalas. Rev

 PsiqClín. 2003;30:21-8.

 American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of


Mental Disorders. Washington: APA; 1987.

 Beng-Yeong N. Phenomenology of trance states seen at a psychiatric


hospital in Singapore: a cross-cultural perspective. Transc

 Psychiatry. 2000;560-79.

 Berrios G. The history of mental symptoms: descriptive


psychopathology since the nineteenth century. Cambridge: Cambridge

 University Press; 1996.

 Bettlem, B. A psicanalise dos contos de fadas.16 Ed. Paz e Terra 2002


 Bourguignon E. Spirit possession and altered states of conscience: the
evolution of an enquiry. In: Spindler GD (ed.) The making of
psychological anthropology. Berkley: University of California Press;
1978.

 Buckley P. Mystical experience and schizophrenia. Schizophr Bull.


1981;7:516-21.

 Butler LD. Normative dissociation. Psych Clin North America. 2006;


29:45-62.

 Caird D. Religion and personality: are mystics introverted, neurotic or


psychotic? Br J SocPsychol. 1987;26:345-46.

 Cardeña E, Lewis-Fernandez R, Bear D, Pakianathan I, Spiegel D.


Dissociative disorders in DSM IV. APA; 1994. p. 973-1005.

 Cardeña E, Van Duijl M, Weiner LA, Terhune DB. Possession/trance


phenomena. In: Dell PF, O’Neil JA (eds.). Dissociation and 
 the
dissociative disorders: DSM-IV and beyond. New York: Routledge;
2006.

80
 Dell PF. Dissociative phenomenology of dissociative identity disorder. J
NervMent Dis. 2002;190(1):10-5.

 Fincher, S F. O autoconhecimento através das mandalas. Tradução de


M C Silva. São Paulo: Editora Pensamento LTDA, 1998.

 Freud, S. O inconsciente. In: Edição standard brasileira das obras


psicológicas completas de Sigmund Freud. vol. XIV (1914-1916). Rio
de Janeiro: Imago, 1974.

 Freud S. O mal estar na civilização. In: Edição Standard das Obras


Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago; 1959.

 Greyson B. Dissociation in people who have near death experience:


out of their bodies or out of their minds? Lancet.

 Greenberg D, Witztum E. Problems in the treatment of religious


patients. Am J Psychiatry. 1991;45:554-65.

 Greyson B. Dissociation in people who have near death experience:


out of their bodies or out of their minds? Lancet.

 Greyson B. The near-death experience as a focus of clinical attention.


J NervMentDis. 1997;185(5):327-33.

 Group for Advancement of Psychiatry. Mysticism: spiritual quest or


mental disorder. New York; 1976.

 Heber AS, Fleisher WP, Ross Ca, Stanwick RS. Dissociation in


alternative healers and traditional therapists: a comparative study.

 Am J Psychother. 1989;XLIII(4):562-74.

 Honig A, et al Auditory hallucinations: a comparison beetween patients


and nonpatients. J NervMent Dis. 1998;186(10):646-51.

 Hood RW. Conceptual criticism of regressive explanations of


mysticism. RevReligious Res. 1976;17:179-88.

 Jackson M, Fulford KWM. Spiritual experience and psychopathology.


PhilosPsychiatrPsychol. 1997;4(1):41-65.

81
 James W. The varieties of religious experience: A study in human
nature. Cambridge: Harvard University Press; 1902/1958.

 Janet P. l’automatisme psychologique: essai de psychologie


experimentalesur les formeinférieres de l’activitéhumaine. Paris: 
 Félix
Alcan; 1889.

 Johns LC, Van Os J. The continuity of psychotic experiences in the


general population. ClinPsychol Rev. 2001;21(8):1125-41.

 Jung CG. Psychology and religion. Princeton: Princeton University


Press; 1973.

 Jung, C. G.; et al. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova


Fronteira, 2008.

 Kihlstrom JF, et al. Dissociative tendencies and dissociative disorders.


J Abnorm Psychol. 1994;103(1):117-24.

 Koenig HG. Religião, espiritualidade e transtornos psicóticos. RevPsiq


Clín. 2007;34(suppl 1):95-104.

 Laplanche, J.; Pontalis, J.-B. Vocabulário da Psicanálise. 7. ed. Lisboa:


Matins Fontes, 1983.
 PIAGET, Jean. A formação do símbolo na
criança: imitação, jogo e sonho, imagem e representação. 2. ed. Rio
de Janeiro: Zahar, 1975.

 Lenz, H. Belief and delusion: their common origin but different course
of development. Zygon. 1996;18:117-37.

 Lewis AJ. Ecstatic religion. London: Routledge; 1989.

 Lewis Fernandez R. A cultural critique of the DSM-IV dissociative


disorders section. Transc Psychiatry. 1998;35(3):387-440.

 Lincoln TM. Relevant dimensions of delusions: continuing the


continuum versus category debate. Schizophr Res. 2007;93(1-

 3):211-20.

 Lukoff D. The diagnosis of mystical experiences with psychotic


features. J TranspPsychol. 1985;17(2):155-81.

 Lukoff D, Lu F, Turner R. Toward a more culturally sensitive DSM-IV:


psychoreligious and psychoespiritual problems. J NervMent 
 Dis.

82
1992;180(11):673-82.

 Lukoff D, Lu FG, Turner R. Cultural considerations in the assessment


and treatment of religious and spiritual problems. Psychiatr 
 Clin North
Am. 1995;18(3):467-85.

 Martinez-Taboas A. Dissociative experiences and disorders: a review.


Intern J Parapsychol. 2001;12(1):131-62.

 Maslow A. The Farther Reaches of Human Nature. New York: Viking;


1971.

 Ohayon MM. Prevalence of hallucinations and their pathological


associations in the general population. Psychiatry Res. 
 2000;27(2-
3):153-64.

 Oxman TE, Rosenberg SD, Schunurr PP, Tucker GJ, Gala G. The
language of altered states. J NervMentDis. 1988;176:401-8.

 Putnam FW. Diagnosis and treatment of multiple personality disorders.


New York: Guilford; 1989.

 Rauschenberger SL, Lynn SJ. Fantasy proneness, DSM-III-R Axis I


psychopathology, and dissociation. J Abnorm Psychol.

 1995;104(2):373-80.

 Reinsel R. Dissociation and mental health in mediums and sensitives:


a pilot study. Vancouver: Parapsychological Association, 
 46th Annual
Conference; 2003.

 Richardson A, Divvo P. The predisposition to hallucinate. Psychol Med.


1980;10(4):715-22.

 Ross CA, et al. Dissociative experiences in the general population. Am


J Psychiatry. 1990a;147:1547-52.

 Serper M, et al. Factorial structure of the hallucinatory experience:


continuity of experience in psychotic and normal individuals. J

 NervMent Dis. 2005;193(4):265-72.

 Rhue JW, Lynn SJ. J PersSoc Psychol. 1987;53(2):327-36.

 Strauss JS. Hallucinations and delusions as points on continua


function. Arch Gen Psychiatry. 1969;21:581-86.

 Slade PD. An investigation of psychological factors involved in the


predisposition to auditory hallucinations. Psychol Med.

 1976;6(1):123-32.

 Sims A. Symptoms in the mind. London: BallièreTindall; 1988.

83
 Sidgwick H. Report on the census of hallucinations apudBerrios G. The
history of mental symptoms: descriptive psychopathology 
 since the
nineteenth century. Cambridge: Cambridge University Press; 1996.

 Tart CT. States of consciousness and states-specific sciences.


Science. 1972;176:1203-10.

 Tellegen A, Atkinson G. Openness to absorbing and self altering


experiences (“Absorption”) a trait related to hypnotic 
 susceptibility. J
Abnorm Psychol. 1974;83(3):268-77.

 Tien AY. Distribution of hallucinations in the population. Soc Psychiatry


Epidem. 1991;26:287-92.

 Waller NG, Putnam FW, Carlson EB. Types of dissociation and


dissociative types: a taxonometric analysis of dissociative

 experiences. Psychol Methods. 1996;1(3):300-21.

 West DJ. A mass observation questionnaire on hallucinations


apudBerrios G. The history of mental symptoms: descriptive

 psychopathology since the nineteenth century. Cambridge:
Cambridge University Press; 1996.

 Wilson SC, Barber TX. The fantasy-prone person personality:


implications for understanding imagery, hypnosis, and

 parapsychological phenomena. In: Sheikt A. (ed.). Imagery: current
theory, research, and application. New York: Wiley; 1983. 
 p. 340-90.

84

You might also like