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Regulação de preço mínimo do

petróleo

Supremo Tribunal Federal (STF)

TUTELA ANTECIPADA NA AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA 2.865


RIO DE JANEIRO

RELATOR : MIN. LUIZ FUX


AUTOR(A/S)(ES) : ESTADO DO RIO DE JANEIRO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO RIO
DE JANEIRO
RÉU(É)(S) : UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO
RÉU(É)(S) : AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS
NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS — ANP
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL FEDERAL

TUTELA ANTECIPADA NA AÇÃO CÍVEL ORI-


*,1È5,$ ),;$d­2 '( 9$/25(6 '( 5()(
5Ç1&,$3$5$2&È/&8/2'(&203(16$d­2
),1$1&(,5$ 5(/$7,9$ ¬ (;3/25$d­2 '(
3(75Ï/(2 $57  †o '$ &5)% 680$
5,('$'( '$ &2*1,d­2 &$5$&7(5,=$
ÇÃO DA &203(7Ç1&,$ 25,*,1È5,$ '(67$
&257( 126 7(5026 '2 $57  , µ)¶ '$

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 359-378, set./dez. 2018.


360 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O

&5)% ',$17( '$ 327(1&,$/,'$'( '(


&21)/,72 )('(5$7,92 '(&255(17( '$
/,'( 25$ 127,&,$'$ /(, 1o  '(
CRETO No$75,%8,d®(6'$$*Ç1&,$
1$&,21$/ '( 3(75Ï/(2 *È6 1$785$/ (
%,2&20%867Ë9(,6 — $13 ( '2 &216(/+2
NACIONAL DE POLÍTICA ENERGÉTICA —
&13($872120,$,1'(3(1'Ç1&,$6(',6
CRICIONARIEDADE TÉCNICA '$6 $*Ç1&,$6
5(*8/$'25$6 3257$5,$ $13 1o 
$3$5(17( ,17520,66­2 3(/2 &13( (0
0$7e5,$ '( &203(7Ç1&,$ 5(6(59$'$
325$721250$7,92¬$13/,0,7$d­2'$
&$3$&,'$'(,167,78&,21$/'2-8',&,È5,2
3$5$ '(),1,d­2 '( 48(67®(6 7e&1,&$6
PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA PARCIAL-
MENTE '()(5,'2 1267(5026 '2$57 
'2&3&'(6,*1$d­2'($8',Ç1&,$'(
&21&,/,$d­21267(5026'2$57'2
&3&

DECISÃO: Trata-se de ação cível originária, aparelhada com


™Ž’˜ȱ Žȱ žŽ•Šȱ Š—ŽŒ’™ŠŠǰȱ Š“ž’£ŠŠȱ ™Ž•˜ȱ œŠ˜ȱ ˜ȱ ’˜ȱ Žȱ Š—Ž’›˜ȱ
em face da União e da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis —ȱǰȱŒ˜–ȱ‹ŠœŽȱ—˜ȱŠ›ǯȱŗŖŘǰȱ ǰȱȁȂǰȱŠȱȦŞŞǯ
Em sua petição inicial, o Estado-autor inicia discorrendo sobre o
ŠžŠ•ȱ Œ˜—Ž¡˜ȱ ™˜•Ç’Œ˜ȬŽŒ˜—â–’Œ˜ȱ ›Ž•Š’Ÿ˜ȱ ¥ȱ Ž¡™•˜›Š³¨˜ȱ Žȱ ™Ž›à•Ž˜ǰȱ
ŽŒŽ—˜ȱŒ˜—œ’Ž›Š³äŽœȱœ˜‹›Žȱ˜ȱ’–™ŠŒ˜ȱŽœŽȱŒŽ—¤›’˜ȱ—ŠȱšžŠ—’ęŒŠ³¨˜ȱ
ŠœȱŒ˜–™Ž—œŠ³äŽœȱꗊ—ŒŽ’›ŠœȱŽŸ’ŠœȱŠ˜œȱœŠ˜œǰȱ’œ›’˜ȱŽŽ›Š•ȱŽȱ
Municípios, nos termos do art. 20, §1º, da CRFB/88. Sustenta, nesse
sentido, a defasagem dos atuais “Œ›’·›’˜œȱ™Š›ŠȱŠȱę¡Š³¨˜ȱ˜ȱ™›Ž³˜ȱ–Ç—’–˜ȱ
do ™Ž›à•Ž˜ǰȱ™›˜ž£’˜ȱ–Ž—œŠ•–Ž—ŽȱŽ–ȱŒŠŠȱŒŠ–™˜ǰȱŠȱœŽ›ȱŠ˜Š˜ȱ™Š›ŠȱꗜȱŽȱ
cálculo das participações governamentais” (estabelecidos na Portaria ANP
no 206/2000), alegação que estaria fundamentada por estudos técnicos
referidos na peça vestibular, bem como quando em comparação a
índices utilizados pela atual prática internacional.
—˜›–ŠȱšžŽǰȱŒ˜–ȱ‹ŠœŽȱ—ŽœœŠœȱŒ˜—œ’Ž›Š³äŽœǰȱ˜’ȱ˜›–ž•Š˜ǰȱ“ž—˜ȱ
à agência reguladora do setor, pedido de revisão desses critérios,

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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF) | Regulação de preço mínimo do petróleo 361

consubstanciado no processo administrativo no 48610.000618/2015/11,


Ž–ȱ›¦–’Žȱ™Ž›Š—ŽȱŠȱǯȱž›Š—ŽȱŠȱ’—œ›ž³¨˜ȱŽœœŽȱ™›˜ŒŽ’–Ž—˜ǰȱ
˜ȱ œŠ˜ȱ Šę›–Šȱ šžŽǰȱ Š™àœȱ Ž¡Š–’—Š˜œȱ ˜œȱ ˜Œž–Ž—˜œȱ Ž•Ž—ŒŠ˜œȱ
pelos ’—Ž›ŽœœŠ˜œȱ Žȱ Œ˜•‘’Šœȱ —˜ŸŠœȱ ’—˜›–Š³äŽœȱ ›Ž•Š’ŸŠœȱ ¥ȱ ™›ŽŒ’ęŒŠ³¨˜ȱ
do mercado nacional e internacional, a Coordenadoria de Defesa da
Concorrência daquela entidade emitiu a Nota Técnica no 083/CDC,
destinada à “análise dos preços de óleo bruto e derivados para subsídios da
revisão da Portaria ANP noȱŘŖŜȦŘŖŖǰȱšžŽȱŽœŠ‹Ž•ŽŒŽȱ˜œȱŒ›’·›’˜œȱ™Š›ŠȱŽę—’³¨˜ȱ˜ȱ™›Ž³˜ȱ
–Ç—’–˜ȱ˜ȱ™Ž›à•Ž˜ȱ™Š›ŠȱꗜȱŽȱŒ¤•Œž•˜ȱŠœȱ™Š›’Œ’™Š³äŽœȱ˜ŸŽ›—Š–Ž—Š’œ”. Dentre
as conclusões desse estudo técnico, destaca-se a seguinte, ’—ȱ•’ĴŽ›’œ:

˜›ȱŽœŽȱ–˜’Ÿ˜ǰȱ™Š›ŽŒŽȱœŽ›ȱ™Ž›’—Ž—Žȱ˜ȱŽ¡Ž›ŒÇŒ’˜ȱ™Ž›’à’Œ˜ȱŽȱŠŸŠ•’Š³¨˜ȱ
Šȱ ’—¦–’ŒŠȱ ˜œȱ –Ž›ŒŠ˜œȱ Žȱ ˜ȱ Œ˜–·›Œ’˜ȱ ’—Ž›—ŠŒ’˜—Š•ȱ Žȱ ™Ž›à•Ž˜ȱ
e derivados, de modo a manter os ‹Ž—Œ‘–Š›”œȱ selecionados sempre
aderentes às condições normais de mercado, conforme disposto na
legislação vigente. Assim, é oportuna a inserção de dispositivo na reso-
•ž³¨˜ȱŠȱœŽ›ȱŽ’ŠŠȱ™Ž•ŠȱȱšžŽȱ™›ŽŸŽ“ŠȱŠȱ™˜œœ’‹’•’ŠŽȱŽȱ›ŽŸ’œ¨˜Ȧ
substituição dos respectivos ‹Ž—Œ‘–Š›”œǰȱ ’—Œ•ž’—˜ȱ ˜œȱ ™Š›¦–Ž›˜œȱ Šȱ
serem considerados.

Ainda no curso do referido procedimento administrativo, a Superin-


Ž—¹—Œ’ŠȱŽȱŽę—˜ǰȱ›˜ŒŽœœŠ–Ž—˜ȱŽȱ ¤œȱŠž›Š•ȱŽȱ›˜ž³¨˜ȱŽȱ’˜Ȭ
combustíveis da ANP emitiu a Nota Técnica no 025/2015/SRP-ANP,
destinada à “análise de proposta de alteração da metodologia de cálculo do preço
–Ç—’–˜ȱ ˜ȱ ™Ž›à•Ž˜ȱ Ž—ŒŠ–’—‘ŠŠȱ ™Ž•˜œȱ ˜ŸŽ›—˜œȱ ŽœŠžŠ’œȱ ˜ȱ ’˜ȱ Žȱ Š—Ž’›˜ȱ Žȱ ˜ȱ
Espírito Santo”. Com efeito, destaca-se a integridade da conclusão deste
estudo técnico, verbis:

˜—œ’Ž›Š—˜ȱ˜ȱŽ¡™˜œ˜ǰȱŽ—Ž—˜ȱœŽ›ȱ›Š£˜¤ŸŽ•ȱ˜ȱžœ˜ȱŽȱ–Š’œȱ˜ȱšžŽȱ›¹œȱ
frações na metodologia, independentes do grau API, desde que con-
siderada a curva PEV (Pontos de Ebulição Verdadeiros). Caso se decida
™Ž›–Š—ŽŒŽ›ȱ Œ˜–ȱ ›¹œȱ Š’¡Šœǰȱ œž’›˜ȱ Šȱ Š˜³¨˜ȱ Žȱ ŗŞŖķȱ Žȱ řśŖķȱ Œ˜–˜ȱ
™˜—˜œȱŽȱŒ˜›Žǰȱ™˜›ȱ–Š—Ž›ȱŠŽ›¹—Œ’ŠȱŒ˜–ȱŠȱŽœ™ŽŒ’ęŒŠ³¨˜ȱ˜œȱŽ›’ŸŠ˜œȱ
nacionais e com o praticado na indústria de petróleo do mundo. Dado
o possível impacto nos entes federativos e nos concessionários, sugiro
prazo para transição ou outra ação que minimize tal impacto, que pode
levar Šȱ“ž’Œ’Š•’£Š³¨˜ȱ˜ȱŠœœž—˜ǯ

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Sugere-se ainda testar a nova metodologia para petróleos nacionais ou


—¨˜ǰȱŽ–ȱšžŽȱœŽ“ŠȱŒ˜—‘ŽŒ’ŠȱœžŠȱŒž›ŸŠȱȱŽȱœŽžȱŸŠ•˜›ȱŒ˜–Ž›Œ’Š•ǰȱ™Š›Šȱ
ŸŽ›’ęŒŠ³¨˜ȱŠȱŠŽ›¹—Œ’Šȱ˜ȱ–˜Ž•˜ǯ

›˜–˜Ÿ’Šȱ Šȱ “ž—ŠŠȱ Žȱ ˜ž›˜œȱ Žœž˜œȱ ·Œ—’Œ˜œȱ Žȱ –Š—’ŽœŠ³äŽœȱ Žȱ


entidades interessadas, o processo administrativo culminou em nova Nota
·Œ—’ŒŠȱŽ¡™Ž’Šȱ™Ž•Šȱž™Ž›’—Ž—¹—Œ’ŠȱŽȱŠ›’Œ’™Š³äŽœȱ ˜ŸŽ›—Š–Ž—Š’œȱŠȱ
ANP (NT no 45/2015/SPG-ANP), que também analisava a proposta de revisão
da referida Portaria ANP noȱŘŖŜȦŘŖŖŖǯȱ˜›ȱœžŠȱ›Ž•ŽŸ¦—Œ’ŠȱŽȱœ’—Ž’Œ’ŠŽȱ˜ȱ
que discutido ao longo daquele procedimento, destaca-se a integralidade de
sua conclusão:

157. Após quase um ano de estudos, análises, reuniões com conces-


œ’˜—¤›’Šœǰȱ‹Ž—ŽęŒ’¤›’˜œǰȱŠ¹—Œ’ŠœȱŽȱ’—˜›–Š³¨˜ȱŽȱ™›Ž³˜œǰȱŽ—›Žȱ˜ž›˜œȱ
agentes econômicos e sociais, entendemos que a minuta de reso-
lução está pronta para ser discutida com a sociedade brasileira. Em
termos gerais, a minuta busca adequar a Portaria ANP no 206/2000 às
condições do mercado internacional de petróleo, mantendo-se ainda
como referência o mercado noroeste europeu.
ŗśŞǯȱ˜–Ž³Š—˜ȱŒ˜–ȱŠȱ’–™•Ž–Ž—Š³¨˜ȱŽȱž–Šȱ—˜ŸŠȱ˜›–ŠȱŽȱ™›ŽŒ’ęŒŠ›ȱ
™Ž›à•Ž˜œȱ Œ˜–ȱ Ž•ŽŸŠ˜œȱ Ž˜›Žœȱ Žȱ Ž—¡˜›Žǰȱ ’—Œ•ž’—˜ȱ ž–ȱ –˜Ž•˜ȱ Žȱ
™›ŽŒ’ęŒŠ³¨˜ȱŽȱ™Ž›à•Ž˜œȱŽȱŽ•ŽŸŠŠȱŠŒ’Ž£ǰȱ›Žž£’—˜ȱŠȱŠ™Ž—Šœȱž–Šȱ
Š’¡ŠȱŽȱŒ˜›Žȱ™Š›Šȱ˜ȱŒ¤•Œž•˜ȱ˜ȱ’Ž›Ž—Œ’Š•ȱŽȱšžŠ•’ŠŽǰȱœž‹œ’ž’—˜Ȭ
se os derivados utilizados pelos de maior liquidez no mercado.
159. Mantendo-se o Brent como referência internacional de petróleo,
abrindo possibilidade de ser utilizada mais de uma agência de in-
formação de preços pela ANP, revisão da metodologia de cálculo de
preços para os operadores C e D, entre outros aspectos, entendemos
que a minuta de resolução apresenta uma resposta técnica e
economicamente adequada às necessidades da indústria petrolífera
nacional e à sociedade brasileira.
ŗŜŖǯȱ •ž—œȱ ™Ž›à•Ž˜œȱ Ž›¨˜ȱ Š“žœŽœȱ –Š’˜›Žœȱ —˜œȱ œŽžœȱ ™›Ž³˜œǰȱ ˜ž›˜œȱ
menores, e alguns podem vir a ter um desconto em seus preços. Acre-
ditamos que isso está dentro do esperado. Entendemos que a minuta
atende a demanda colocada na Agenda Regulatória da ANP para os
anos de 2015 e 2016 e aos aspectos que se propôs a regulamentar apre-
sentados logo no início deste documento.

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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF) | Regulação de preço mínimo do petróleo 363

161. Neste sentido, a consulta e a audiência pública permitirão o


aprofundamento do debate sobre a proposta de metodologia apre-
sentada, servindo para aperfeiçoá-la a partir das contribuições a
œŽ›Ž–ȱ Ž’Šœȱ ™Ž•Šȱ ’—øœ›’Šȱ Žȱ ™Ž•˜œȱ ‹Ž—ŽęŒ’¤›’˜œȱ Šœȱ ™Š›’Œ’™Š³äŽœȱ
governamentais.

Após atendidas algumas recomendações realizadas pelo Parecer da


›˜Œž›Š˜›’Šȱ ŽŽ›Š•ȱ œ™ŽŒ’Š•’£ŠŠȱ “ž—˜ȱ ¥ȱ ȱ ǻŠ›ŽŒŽ›ȱ —o 711/2015/
PF- ANP/PGF/AGU), a proposta de resolução foi submetida à Diretoria
Colegiada daquela agência em reunião realizada em 28/12/2015, editando-
se a Resolução de Diretoria, pela qual se autorizava “Šȱ›ŽŠ•’£Š³¨˜ȱŽȱž’¹—Œ’Šȱ
ø‹•’ŒŠǰȱ ™›ŽŒŽ’Šȱ Žȱ ˜—œž•Šȱ ø‹•’ŒŠȱ ™Ž•˜ȱ ™Ž›Ç˜˜ȱ Žȱ Śśȱ ǻšžŠ›Ž—Šȱ Žȱ Œ’—Œ˜Ǽȱ
’Šœǰȱ›ŽŽ›Ž—Žȱ¥ȱ–’—žŠȱŽȱŽœ˜•ž³¨˜ȱšžŽȱ›ŽŸ’œŠȱŠȱ˜›Š›’Šȱȱ—oȱŘŖŜȦŘŖŖŖǰȱŠȱ
šžŠ•ȱŽœŠ‹Ž•ŽŒŽȱ˜œȱŒ›’·›’˜œȱ™Š›Šȱę¡Š³¨˜ȱ˜ȱ›Ž³˜ȱǗ’–˜ȱ˜ȱŽ›à•Ž˜ȱ™Š›ŠȱꗜȱŽȱ
apuração das participações governamentaisȄǯȱŠȱœŽšž¹—Œ’Šǰȱę¡˜žȬœŽȱŠȱŠŠȱŽȱ
10/03/2016 para a realização da Audiência Pública, conforme publicação
˜ȱ’¤›’˜ȱꌒŠ•ȱŠȱ—’¨˜ȱŽȱŖśȦŖŗȦŘŖŗŜǯ
Entretanto, em 22/01/2016, sobreveio a publicação no D.O.U. da
Resolução no 01, de 20/01/2016, do Conselho Nacional de Políticas Ener-
géticas — CNPE, órgão vinculado ao Ministério de Minas e Energias
(MME), assim consubstanciada, verbis:


ȱ ȱȱA ȱ 1 ȱ,!ȱ
No 1, DE 20 DE JANEIRO DE 2016

Dispõe sobre a sistemática de apuração dos preços mínimos


do petróleo para o cálculo de royalties e Participação
Especial, pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis — ANP.

ȱ  ȱ ȱ 


ȱ  ȱ ȱ A ȱ
ȱ 1 ȱ— CNPE, no uso das atribuições, tendo em vista o
disposto no art. 1º, incisos I, II e X e o art. 2º, inciso I, da Lei no 9.478,
Žȱ Ŝȱ Žȱ Š˜œ˜ȱ Žȱ ŗşşŝǰȱ —˜ȱ Š›ǯȱ ŗķǰȱ ’—Œ’œ˜ȱ ǰȱ Š•Ç—ŽŠœȱ ȃŠȄǰȱ ȃ‹Ȅȱ Žȱ ȃ“Ȅǰȱ
do Decreto noȱ řǯśŘŖǰȱ Žȱ Řŗȱ Žȱ “ž—‘˜ȱ Žȱ ŘŖŖŖǰȱ ˜ȱ Š›ǯȱ ŗŚǰȱ ™Š›¤›Š˜ȱ
único, do Regimento Interno do CNPE, aprovado pela Resolução
no 7, de 10 de novembro de 2009, e o que consta do Processo no
48000.000108/2016-02, considerando que o atual cenário mundial

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vem produzindo fortes impactos no mercado de petróleo e gás


—Šž›Š•ǰȱ Œ˜–ȱ ™›Ž³˜œȱ šžŽȱ ’ęŒž•Š–ȱ Šȱ Ÿ’Š‹’•’£Š³¨˜ȱ ŽŒ˜—â–’ŒŠȱ
˜œȱ’—ŸŽœ’–Ž—˜œDzȱ—˜Ÿ˜œȱ’—ŸŽœ’–Ž—˜œȱ—Šȱ’—øœ›’Šȱ™Ž›˜•ÇŽ›Šȱ
requerem regras estáveis e prazo de vigência que permitam o
™•Š—Ž“Š–Ž—˜ȱŽȱ•˜—˜ȱ™›Š£˜ǰȱŠœœŽž›Š—˜ȱŠȱ–Š—žŽ—³¨˜ȱŽœœŠœȱ
regras ao longo do período de realização dos investimentos
Žȱ Žȱ œžŠȱ ›Ž–ž—Ž›Š³¨˜Dzȱ Ž o segmento de óleo e gás tem grande
›Ž•ŽŸ¦—Œ’Šȱ™Š›ŠȱŠȱŒŠŽ’Šȱ™›˜ž’ŸŠȱ—ŠŒ’˜—Š•ǰȱŒ˜–ȱ˜›Žȱ’–™ŠŒ˜ȱ
sobre a capacidade de crescimento do País, resolve:

Art. 1º Determinar à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural


e Biocombustíveis — ANP que mantenha a atual sistemática de
apuração dos preços mínimos do petróleo, considerados para o
efeito do cálculo dos valores a serem pagos a título de royalties
ou de Participação Especial, pelo menos até que a cotação do
Petróleo Brent Dated Š•ŒŠ—ŒŽȱ˜ȱ™ŠŠ–Š›ȱŽȱǞȱśŖǯŖŖȱǻŒ’—šžŽ—Šȱ
dólares norte-americanos) por barril, considerando a média de
sete dias consecutivos.
Art. 2º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

Consectariamente, adotando tal portaria do CNPE como fundamento


Ž¡™›Žœœ˜ǰȱ˜ȱ’›Ž˜›Ȭ Ž›Š•ȱž‹œ’ž˜ȱŠȱȱŽ’˜žȱ˜–ž—’ŒŠ˜ȱǻ™ž‹•’ŒŠ˜ȱ
no DOU de 25/01/2016), no qual se informava a suspensão da audiência
pública a ser realizada nos autos do processo administrativo de revisão da
Portaria no 206/2000 da ANP. Cita-se o inteiro teor de tal comunicado:

COMUNICADO
O DIRETOR-GERAL SUBSTITUTO DA AGÊNCIA NACIONAL DO
PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS — ANP, no uso
das atribuições que lhe foram conferidas pela Portaria ANP nº 12, de
ŗśȱŽȱ“Š—Ž’›˜ȱŽȱŘŖŗŜǰȱŒ˜–ȱž—Š–Ž—˜ȱ—ŠȱŽœ˜•ž³¨˜ȱȱ—ķȱŗǰȱŽȱŘŖȱ
Žȱ“Š—Ž’›˜ȱŽȱŘŖŗŜǰȱŠȱ›ŽŽ›Ž—ž–ȱŠȱ’›Ž˜›’Šȱ˜•Ž’ŠŠǰȱŒ˜–ž—’ŒŠȱŠȱ
suspensão da Consulta Pública e Audiência Pública nº 2/2016.

ŽœœŽȱ œŽ—’˜ǰȱ Š•·–ȱ Šȱ Š•ŽŠ³¨˜ȱ Šȱ Ž¡’œ¹—Œ’Šȱ Žȱ ŸÇŒ’˜ȱ Žȱ ˜›–Šȱ —Šȱ
Resolução do CNPE, em razão da ausência da ata de reunião do colegiado,
o Estado do Rio de Janeiro sustenta, em síntese, as seguintes violações:

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 359-378, set./dez. 2018.


SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF) | Regulação de preço mínimo do petróleo 365

(i) “da competência do coleg’Š˜ȱ˜ȱǰȱšžŽȱœŽȱŸ’žȱœž‹œ’žÇ˜ǰȱ¥ȱ–Ç—žŠȱŽȱšžŠ•šžŽ›ȱ


–˜’ŸŠ³¨˜ǰȱ ™Ž•˜ȱ ’—’œ›˜ȱ Žȱ ’—Šœȱ Žȱ —Ž›’Šȱ —Šȱ ™›˜•Š³¨˜ȱ Šȱ ›ŽŽ›’Šȱ ŽŒ’œ¨˜ȄDzȱ ǻ’’Ǽȱ
“ŠȱŒ˜–™Žȱ¹—Œ’ŠȱŠȱǰȱø—’ŒŠȱ’—ŸŽœ’ŠȱŠȱŠ›’‹ž’³¨˜ȱŽȱę¡Š›ȱ˜ȱ™›Ž³˜ȱŽȱ›ŽŽ›¹—Œ’Šȱ
para cálculo de participações governamentaisȄDzȱǻ’’’ǼȱȃŠȱž—³¨˜ȱ›Žž•Šà›’Šȱę¡ŠŠȱ™Ž•˜ȱ
Š›ǯȱŗŝŝȱŠȱ˜—œ’ž’³¨˜ȱŠȱŽ™ø‹•’ŒŠȱŽȱ™˜œ’’ŸŠŠȱ—ŠȱŽ’ȱşǯŚŝŞȦşŝǰȱ™Ž•Šȱœž‹œ’ž’³¨˜ȱ
Žȱž–ŠȱŽŒ’œ¨˜ȱ·Œ—’ŒŠȱŽȱŽœ™ŽŒ’Š•’£ŠŠȱ™Ž•˜ȱŠ››˜ž‹˜ȱŸ˜•ž—Š›’œŠȱŽȱ’–˜’ŸŠ˜ȱŽȱŠŽ—Žȱ
isolado da Primeira RéȄDzȱŽȱǻ’ŸǼȱȃdo princípio democrático inscrito explicitamente no
›Ž¦–‹ž•˜ȱŽȱ—˜ȱŠ›ǯŗķȱŠȱ˜—œ’ž’³¨˜ȱŠȱŽ™ø‹•’ŒŠǰȱœž™›’–’—˜ǰȱ™Ž•ŠȱŸ˜—ŠŽȱ’œ˜•ŠŠȱ
Žȱ ŠŽ—Žȱ Ž–ȱ –Š—’Žœ˜ȱ Ž¡ŒŽœœ˜ȱ Žȱ ™˜Ž›ǰȱ ˜ȱ ™›˜ŒŽœœ˜ȱ Ž•’‹Ž›Š’Ÿ˜ȱ Ž–ȱ Œž›œ˜ȱ ™Ž›Š—Žȱ
’—œ’ž’³¨˜ȱ·Œ—’ŒŠȱŽȱŽœ™ŽŒ’Š•’£ŠŠȱ—Šȱ–Š·›’ŠȱŽ–ȱšžŽœ¨˜”.
žŠ—˜ȱ Š˜ȱ ™•Ž’˜ȱ Žȱ žŽ•Šȱ Š—ŽŒ’™ŠŠǰȱ ’—Ÿ˜ŒŠȱ ˜ȱ Š›ǯȱ řŖřȱ ˜ȱ à’˜ȱ Žȱ
Processo Civil/2015, formulando os seguintes pedidos:

ŚǯŜǯȱ’Š—Žȱ˜ȱŽ¡™˜œ˜ǰȱ’–™äŽȬœŽȱŠȱŒ˜—ŒŽœœ¨˜ȱŽȱžŽ•ŠȱŠ—ŽŒ’™ŠŠȱ™Š›Šȱ
anular a Resolução CNPE 01/2016 e a Resolução de Diretoria/ANP
no 35, de 04/02/2016, determinando-se que a Segunda Ré designe,
no prazo de 24 (vinte e quatro) horas do recebimento do mandado
de intimação, nova audiência pública para data não posterior ao dia
ŖŘȦŖŜȦŘŖŗŜǰȱ˜‹œŽ›ŸŠ—˜ȬœŽȱ˜ȱ™›Š£˜ȱ˜›’’—Š•–Ž—Žȱę¡Š˜ȱŽ—›ŽȱŠȱ™ž‹•’Ȭ
cação do edital e a data anteriormente marcada para tal ato.
ŚǯŝǯȱŽšžŽ›ȱ’žŠ•–Ž—ŽȱœŽ“ŠȱŠ—ŽŒ’™ŠŠȱŠȱžŽ•Šȱ“ž›’œ’Œ’˜—Š•ȱ™Š›ŠȱŽŽ›Ȭ
minar que o CNPE e o Ministro das Minas e Energia se abstenham de
Ž•’‹Ž›Š›ȱŠȱ›Žœ™Ž’˜ȱ˜ȱ™›˜ŒŽœœ˜ȱŽȱ›ŽŸ’œ¨˜ȱ˜œȱ™Š›¦–Ž›˜œȱŽȱę¡Š³¨˜ȱ
do preço de referência para o pagamento de participações gover-
—Š–Ž—Š’œǰȱ Ÿ’œ˜ȱ ›ŠŠ›ȬœŽȱ Žȱ Œ˜–™Ž¹—Œ’Šȱ ›Žž•Šà›’Šȱ Ž¡Œ•žœ’ŸŠȱ Šȱ
Žž—Šȱ ·ǰȱ œ˜‹ȱ ™Ž—Šȱ Žȱ Œ˜—ꐞ›Š³¨˜ȱ Žȱ Œ›’–Žȱ Žȱ ›Žœ™˜—œŠ‹’•’ŠŽȱ
para os membros Titulares de Pastas na Administração Federal e de
crime de desobediência para os demais integrantes do colegiado, além
Šȱ ’–ȱ™˜ȱœ’³¨˜ȱ Žȱ –ž•Šȱ ™Žœœ˜Š•ȱ —¨˜ȱ ’—Ž›’˜›ȱ Šȱ Ǟȱ ŗŖŖǯŖŖŖǰŖŖȱ ǻŒŽ–ȱ –’•ȱ
reais) para cada um dos integrantes que não observarem tal ordem
“ž’Œ’Š•ǯ

1ȱ˜ȱ›Ž•Šà›’˜ǯȱŽŒ’˜ǯ

Ab initioǰȱ ŽœŠŒ˜ȱ šžŽȱ Šȱ ™›ŽœŽ—Žȱ Š³¨˜ȱ ˜’ȱ Š“ž’£ŠŠȱ Ž–ȱ ŘŜȦŖŚȦŘŖŗŜǰȱ “¤ȱ
œ˜‹ȱŠȱŸ’¹—Œ’Šȱ˜ȱȦŘŖŗśȱǻŒž“˜ȱ’—ÇŒ’˜ȱœŽȱŽžȱŽ–ȱŗŞȦŖřȦŘŖŗŜǼǯȱ›ŠŠ—˜ȬœŽȱ
de processo submetido à competência originária desta Corte, são de se lhe
aplicar, portanto, as disposições deste novo diploma processual.

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 359-378, set./dez. 2018.


366 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O

Šȱ œŽšž¹—Œ’Šǰȱ —ŽœŽȱ “žÇ£˜ȱ Š’—Šȱ ™Ž›ž—Œà›’˜ȱ Šȱ šžŽœ¨˜ǰȱ ŸŽ›’ęŒ˜ȱ Šȱ


incidência, in casuǰȱ˜ȱ’œ™˜œ˜ȱ—˜ȱŠ›’˜ȱŗŖŘǰȱ ǰȱȁȂǰȱŠȱȦŞŞǰȱšžŽȱŽœŠ‹Ž•ŽŒŽȱ
ŒŠ‹Ž›ȱ Š˜ȱ ž™›Ž–˜ȱ ›’‹ž—Š•ȱ ŽŽ›Š•ȱ Œ˜—‘ŽŒŽ›ȱ Žȱ “ž•Š›ȱ ˜›’’ȱ—Š›’Š–Ž—Žȱ ȃas
ŒŠžœŠœȱŽȱ˜œȱŒ˜—Ě’˜œȱŽ—›ŽȱŠȱ—’¨˜ȱŽȱ˜œȱœŠ˜œǰȱŠȱ—’¨˜ȱŽȱ˜ȱ’œ›’˜ȱŽŽ›Š•ǰȱ˜žȱŽ—›Žȱ
ž—œȱŽȱ˜ž›˜œǰȱ’—Œ•žœ’ŸŽȱŠœȱ›Žœ™ŽŒ’ŸŠœȱŽ—’ŠŽœȱŠȱŠ–’—’œ›Š³¨˜ȱ’›ŽŠȄǰȱŠȱŽ—œŽ“Š›ȱ
a competência originária desta Corte para o feito. Isso porque, mesmo não se
˜•Ÿ’Š—˜ȱ˜œȱ›ŽŒŽ—Žœȱ“ž•Š˜œȱŽœŽȱ›’‹ž—Š•ȱ—˜ȱœŽ—’˜ȱŽȱšžŽȱ˜ȱŒ˜—Ě’˜ȱ
œ˜‹›Žȱ –Ž›˜ȱ ’—Ž›ŽœœŽȱ ™Š›’–˜—’Š•ȱ —¨˜ȱ Ž—œŽ“Šȱ Šȱ Š™•’ŒŠ³¨˜ȱ ŽœŽȱ ’œ™˜œ’’Ÿ˜ȱ
Œ˜—œ’žŒ’˜—Š•ǰȱŽ—‘˜ȱ™˜›ȱŠę›–ŠŠȱŠȱŒ˜–™Ž¹—Œ’Šȱ˜›’’—¤›’ŠȱŽœŠȱ˜›ŽǰȱŽ–ȱ
›Š£¨˜ȱŽȱŸ’œ•ž–‹›Š›ȱ™˜Ž—Œ’Š•ȱŒ˜—Ě’˜ȱŽŽ›Š’Ÿ˜ȱ—ŠȱšžŽœ¨˜ȱǻ—˜ŠŠ–Ž—ŽȱŽ–ȱ
ž—³¨˜ȱŠȱ’œŒžœœ¨˜ȱ›Ž•Š’ŸŠȱ¥ȱę¡Š³¨˜ȱ˜ȱ™›Ž³˜ȱ–Ç—’–˜ȱ™Š›Šȱꗜȱ˜ȱŒ¤•Œž•˜ȱŠœȱ
™Š›’Œ’™Š³äŽœȱ˜ŸŽ›—Š–Ž—Š’œȱ—˜ȱ›Ž’–ŽȱŽȱŽ¡™•˜›Š³¨˜ȱŽȱ™Ž›à•Ž˜ǼǯȱŽœœŠ•ŽȬ
se que o orçamento dos entes federados e a aplicação das receitas que lhes
competem são questões diretamente ligadas ao desempenho da autonomia
ŽȱŒŠŠȱž–ȱŽ•ŽœǰȱŽ—œŽ“Š—˜ȱ˜ȱ™›ŽœŽ—ŽȱŒŠœ˜ȱ–Š·›’Šȱ™˜Ž—Œ’Š•–Ž—ŽȱŒŠ™Š£ȱŽȱ
vulnerar o pacto federativo, devendo a questão ser apreciada originariamente
por esta Corte.
œœŽ—ŠŠȱŠȱŒ˜–™Ž¹—Œ’Šȱ˜ȱǰȱ™Šœœ˜ȱŠ˜ȱŽ¡Š–ŽȱŽȱ–·›’˜ǯ
ȱ Ž¡˜ȱ Œ˜—œ’žŒ’˜—Š•ȱ Žȱ ŗşŞŞǰȱ Š˜ȱ ›ŠŠ›ȱ Šȱ ˜›Š—’£Š³¨˜ȱ ™˜•Ç’Œ˜Ȭȱ
administrativa da República Federativa do Brasil, elencou, nos incisos de seu
art. 20, os bens da União, destacando-se, para o caso presente, os incisos V e
IX, que assim dispõem:

Art. 20. São bens da União:


V — os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica
Ž¡Œ•žœ’ŸŠDz
ȱȯȱ˜œȱ›ŽŒž›œ˜œȱ–’—Ž›Š’œǰȱ’—Œ•žœ’ŸŽȱ˜œȱ˜ȱœž‹œ˜•˜Dz

Ainda quanto ao ponto, o §1º do mencionado art. 20 da CRFB/88, assim


prevê:

ȗŗķȱȯȱ1ȱŠœœŽž›ŠŠǰȱ—˜œȱŽ›–˜œȱŠȱ•Ž’ǰȱŠ˜œȱœŠ˜œǰȱŠ˜ȱ’œ›’˜ȱŽŽ›Š•ȱŽȱ
aos Municípios, bem como a órgãos da administração direta da União,
™Š›’Œ’™Š³¨˜ȱ —˜ȱ ›Žœž•Š˜ȱ Šȱ Ž¡™•˜›Š³¨˜ȱ Žȱ ™Ž›à•Ž˜ȱ ˜žȱ ¤œȱ —Šž›Š•ǰȱ
Žȱ›ŽŒž›œ˜œȱ‘Ǎ›’Œ˜œȱ™Š›ŠȱꗜȱŽȱŽ›Š³¨˜ȱŽȱŽ—Ž›’ŠȱŽ•·›’ŒŠȱŽȱŽȱ˜ž›˜œȱ
recursos minerais no respectivo território, plataforma continental, mar
Ž››’˜›’Š•ȱ˜žȱ£˜—ŠȱŽŒ˜—â–’ŒŠȱŽ¡Œ•žœ’ŸŠǰȱ˜žȱŒ˜–™Ž—œŠ³¨˜ȱꗊ—ŒŽ’›Šȱ™˜›ȱ
ŽœœŠȱŽ¡™•˜›Š³¨˜ǯ

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 359-378, set./dez. 2018.


SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF) | Regulação de preço mínimo do petróleo 367

Com efeito, assegura-se aos demais entes federativos diversos da


União a “™Š›’Œ’™Š³¨˜ȱ —˜ȱ ›Žœž•Š˜ȱ Šȱ Ž¡™•˜›Š³¨˜ȱ Žȱ ™Ž›à•Ž˜ȱ ˜žȱ ¤œȱ —Šž›Š•ǰȱ
Žȱ ›ŽŒž›œ˜œȱ ‘Ǎ›’Œ˜œȱ ™Š›Šȱ ꗜȱ Žȱ Ž›Š³¨˜ȱ Žȱ Ž—Ž›’Šȱ Ž•·›’ŒŠȱ Žȱ Žȱ ˜ž›˜œȱ ›ŽŒž›œ˜œȱ
–’—Ž›Š’œȱ —˜ȱ ›Žœ™ŽŒ’Ÿ˜ȱ Ž››’à›’˜ǰȱ ™•ŠŠ˜›–Šȱ Œ˜—’—Ž—Š•ǰȱ –Š›ȱ Ž››’˜›’Š•ȱ ˜žȱ £˜—Šȱ
econômica exclusivaȄǰȱ ™Š›’Œ’™Š³¨˜ȱ ŽœŠȱ šžŽǰȱ —˜œȱ Ž›–˜œȱ ˜ȱ šžŽȱ “¤ȱ ŠœœŽ—Š˜ȱ
™˜›ȱ ŽœŽȱ ›’‹ž—Š•ȱ —˜ȱ “ž•Š–Ž—˜ȱ ˜ȱ ȱ ŘŚǯřŗŘȱ ǻ›Ž•ǯȱ ’—ǯȱ ••Ž—ȱ ›ŠŒ’Žǰȱ
Pleno, DJ de 19/12/2003), constitui receita originária dos Estados-membros,
e não transferências voluntárias realizadas pela União em favor daqueles.
Destaque-se, ainda, que tal direito de participação deve se dar “nos termos da
lei”, mandamento constitucional concretizado pela Lei nº 9.478/97, e demais
alterações, denominada de “Lei do Petróleo”.
Ao concretizar tal mandamento constitucional, a Lei nº 9.478/1997
instituiu a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis —
ANP, “Ž—’ŠŽȱ’—Ž›Š—ŽȱŠȱ–’—’œ›Š³¨˜ȱŽŽ›Š•ȱ —’›ŽŠǰȱœž‹–Ž’ŠȱŠ˜ȱ›Ž’–Žȱ
Šž¤›šž’Œ˜ȱŽœ™ŽŒ’Š•ǰȱŒ˜–˜ȱà›¨˜ȱ›Žž•Š˜›ȱŠȱ’—øœ›’Šȱ˜ȱ™Ž›à•Ž˜ǰȱ¤œȱ—Šž›Š•ǰȱœŽžœȱ
Ž›’ŸŠ˜œȱŽȱ‹’˜Œ˜–‹žœÇŸŽ’œǰȱŸ’—Œž•ŠŠȱŠ˜ȱ’—’œ·›’˜ȱŽȱ’—ŠœȱŽȱ—Ž›’Š” (art. 7º),
dispondo sobre suas competências básicas. A previsão da criação deste órgão
regulador, aliás, também tem sede constitucional, conforme disposição do art.
177, §2º, III, da CRFB/88.
Ademais, a mencionada lei também instituiu o Conselho Nacional de
Política Energética — CNPE “vinculado à Presidência da República e presidido pelo
Ministro de Estado de Minas e Energia”, com a atribuição genérica de propor ao
›Žœ’Ž—ŽȱŠȱŽ™ø‹•’ŒŠȱ™˜•Ç’ŒŠœȱ—ŠŒ’˜—Š’œȱŽȱ–Ž’ŠœȱŽœ™ŽŒÇꌊœȱŽœ’—ŠŠœȱ
à política energética, conforme detalhamento do art. 2º daquele diploma legal.
Igualmente, a Lei no 9.478/97 (arts. 45 a 52) tratou, ainda, do detalhamento
Šœȱ ™Š›’Œ’™Š³äŽœȱ ˜ŸŽ›—Š–Ž—Š’œȱ —Šȱ Ž¡™•˜›Š³¨˜ȱ Žȱ ™›˜ž³¨˜ȱ ˜œȱ ›ŽŒž›œ˜œȱ
–’—Ž›Š’œȱ Šȱ šžŽȱ œŽȱ ›ŽŽ›Žǰȱ ›Ž–ŽŽ—˜ȱ Ž¡™›ŽœœŠ–Ž—Žȱ Šȱ ŽŒ›Ž˜ȱ ›Žž•Š–Ž—Š›ȱ
editado pelo Presidente da República a disposição sobre os critérios orien-
tadores do cálculo dessas participações (v.g. Š›œǯȱŚŝǰȱȗŘķDzȱśŖȱŽȱśŗǼǯ
Nesse sentido, importante trazer à baila, também, o que prevê o Decreto
noȱ ŘǯŝŖśȦŗşşŞǰȱ šžŽǰȱ Ž—›Žȱ ˜ž›Šœȱ ™›˜Ÿ’¹—Œ’Šœǰȱ Žę—’žȱ ˜œȱ Œ›’·›’˜œȱ Ž›Š’œȱ
para o cálculo e a cobrança das participações governamentais de que trata
a Lei noȱşǯŚŝŞȦŗşşŝǰȱŠ™•’Œ¤ŸŽ’œȱ¥œȱŠ’Ÿ’ŠŽœȱŽȱŽ¡™•˜›Š³¨˜ǰȱŽœŽ—Ÿ˜•Ÿ’–Ž—˜ȱ
Žȱ ™›˜ž³¨˜ȱ Žȱ ™Ž›à•Ž˜ȱ Žȱ ¤œȱ —Šž›Š•ǰȱ Žœ™ŽŒ’ęŒŠ—˜ȱ Œ˜–™Ž¹—Œ’Šœȱ Šȱȱ
nesse processo.
˜–ȱŽŽ’˜ǰȱŽœ™ŽŒ’ęŒŠ–Ž—ŽȱšžŠ—˜ȱŠ˜ȱ™›Ž³˜ȱŽȱ›ŽŽ›¹—Œ’ŠȱŠȱœŽ›ȱŠ™•’ŒŠ˜ȱ
a cada mês ao petróleo produzido em cada campo, ponto que interessa ao
˜‹“Ž˜ȱ ˜ȱ ™›ŽœŽ—Žȱ ™›˜Œesso, assim dispôs tal ato normativo regulamentar,
’—ȱ•’ĴŽ›’œȱ(grifos nossos):

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368 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O

Art. 7º O preço de referência a ser aplicado a cada mês ao petróleo


produzido em cada campo durante o referido mês, em reais por metro
Œø‹’Œ˜ǰȱ—ŠȱŒ˜—’³¨˜ȱ™Š›¨˜ȱŽȱ–Ž’³¨˜ǰȱœŽ›¤ȱ’žŠ•ȱ¥ȱ–·’Šȱ™˜—Ž›ŠŠȱ
˜œȱ œŽžœȱ ™›Ž³˜œȱ Žȱ ŸŽ—Šȱ ™›Š’ŒŠ˜œȱ ™Ž•˜ȱ Œ˜—ŒŽœœ’˜—¤›’˜ǰȱ Ž–ȱ Œ˜—Ȭ
dições normais de mercado, ou ao seu preço mínimo estabelecido
pela ANP, aplicando-se o que for maior.
§1º Os preços de venda de que trata este artigo serão livres dos tributos
incidentes sobre a venda e, no caso de petróleo embarcado, livres a
bordo.
§2º Até o dia quinze de cada mês, a partir do mês seguinte àquele em
que ocorrer a data de início da produção de petróleo de cada campo,
o concessionário informará à ANP as quantidades vendidas, os preços
de venda do petróleo produzido no campo no mês anterior e o valor da
média ponderada referida neste artigo.
ȗřķȱ ȱ Œ˜—ŒŽœœ’˜—¤›’˜ȱ Š™›ŽœŽ—Š›¤ǰȱ œŽ–™›Žȱ šžŽȱ Ž¡’’Šȱ ™Ž•Šȱ ǰȱ
a documentação de suporte para a comprovação das quantidades
vendidas e dos preços de venda do petróleo.
ȗŚķȱ œȱ ™›Ž³˜œȱ Žȱ ŸŽ—Šȱ ˜ȱ ™Ž›à•Ž˜ǰȱ šžŠ—˜ȱ Ž¡™›Žœœ˜œȱ Ž–ȱ –˜ŽŠȱ
estrangeira, serão convertidos para a moeda nacional pelo valor médio
–Ž—œŠ•ȱŠœȱŠ¡ŠœȱŽȱŒ¦–‹’˜ȱ˜ęŒ’Š’œȱ’¤›’Šœȱ™Š›ŠȱŠȱŒ˜–™›ŠȱŠȱ–˜ŽŠȱ
Žœ›Š—Ž’›Šǰȱ ę¡ŠŠœȱ ™Ž•˜ȱ Š—Œ˜ȱ Ž—›Š•ȱ ˜ȱ ›Šœ’•ȱ ™Š›Šȱ ˜ȱ –¹œȱ Ž–ȱ šžŽȱ
ocorreu a venda.
§5º ȱ™›Ž³˜ȱ–Ç—’–˜ȱ˜ȱ™Ž›à•Ž˜ȱŽ¡›ŠÇ˜ȱŽȱŒŠŠȱŒŠ–™˜ȱœŽ›¤ȱę¡Š˜ȱ
pela ANP com base no valor médio mensal de uma cesta-padrão
composta de até quatro tipos de petróleo similares cotados no mercado
internacional, nos termos deste artigo.
§6º Com uma antecedência mínima de vinte dias da data de início da
produção de cada campo e com base nos resultados de análises físico-
químicas do petróleo a ser produzido, realizadas segundo normas
aceitas internacionalmente e por sua conta e risco, o concessionário
indicará até quatro tipos de petróleo cotados no mercado internacional
com características físico-químicas similares e competitividade
equivalente às daqueles a ser produzido, bem como fornecerá à ANP as
informações técnicas que sirvam para determinar o tipo e a qualidade
˜ȱ–Žœ–˜ǰȱ’—Œ•žœ’ŸŽȱŠ›ŠŸ·œȱ˜ȱ™›ŽŽ—Œ‘’–Ž—˜ȱŽȱ˜›–ž•¤›’˜ȱŽœ™ŽŒÇꌘȱ
fornecido pela Agência.

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 359-378, set./dez. 2018.


SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF) | Regulação de preço mínimo do petróleo 369

§7º Dentro de dez dias, contados da data do recebimento das informa-


ções referidas no parágrafo anterior, a ANP aprovará os tipos de
petróleo indicados pelo concessionário para compor a cesta-padrão ou
™›˜™˜›¤ȱŠȱœžŠȱœž‹œ’ž’³¨˜ȱ™˜›ȱ˜ž›˜œȱšžŽȱ“ž•žŽȱ–Š’œȱ›Ž™›ŽœŽ—Š’Ÿ˜œȱ
do valor de mercado do petróleo a ser produzido.
ȗŞķȱ Ž–™›Žȱ šžŽȱ “ž•Š›ȱ —ŽŒŽœœ¤›’˜ǰȱ Šȱ ȱ ™˜Ž›¤ȱ ›ŽšžŽ›Ž›ȱ —˜ŸŠȱ
análise das características físico-químicas do petróleo produzido, a ser
realizada por conta e risco do concessionário, bem como o fornecimento
das informações técnicas de que trata o §6º deste artigo.
§9º ȱȱŽ–’’›¤ǰȱŠȱŒŠŠȱ–¹œǰȱž–ŠȱŒ˜—œ˜•’Š³¨˜ȱ˜ȱ™›Ž³˜ȱ–Ç—’–˜ȱ
do petróleo extraído de cada campo no mês anterior, incorporando
as atualizações relativas às variações dos preços internacionais dos
tipos de petróleo que compõem a cesta-padrão respectiva, ocorridas
no mês anterior, e eventuais revisões na composição da cesta-padrão,
resultantes da inadequação dos tipos de petróleo originalmente
selecionados.
§10. Os preços internacionais dos tipos de petróleo que compuserem
a cesta-padrão serão convertidos para a moeda nacional pelo valor
–·’˜ȱ –Ž—œŠ•ȱ Šœȱ Š¡Šœȱ Žȱ Œ¦–‹’˜ȱ ˜ęŒ’Š’œȱ ’¤›’Šœȱ ™Š›Šȱ Šȱ Œ˜–™›Šȱ Žȱ
–˜ŽŠȱ Žœ›Š—Ž’›Šǰȱ ę¡ŠŠœȱ ™Ž•˜ȱ Š—Œ˜ȱ Ž—›Š•ȱ ˜ȱ ›Šœ’•ȱ ™Š›Šȱ ˜ȱ –¹œȱ
anterior à emissão da consolidação do preço mínimo.
§11. Caso o concessionário não apresente as informações referidas nos
ȗȗŘķȱŽȱŜķȱŽœŽȱŠ›’˜ǰȱŠȱȱę¡Š›¤ȱ˜ȱ™›Ž³˜ȱŽȱ›ŽŽ›¹—Œ’Šȱ˜ȱ™Ž›à•Ž˜ǰȱ
segundo seus próprios critérios.

Žȱ’žŠ•ȱ–˜˜ǰȱŠ˜ȱŽœŠ‹Ž•ŽŒŽ›ȱŠœȱŽę—’³äŽœȱ·Œ—’ŒŠœȱ™Š›ŠȱŽŽ’˜ȱŽȱœžŠȱ
aplicação, o art. 3º, V, do mencionado Decreto prevê que preço de refe-
›¹—Œ’Šȱ·ȱŽę—’˜ȱȃ™˜›ȱž—’ŠŽȱŽȱŸ˜•ž–ŽǰȱŽ¡™›Žœœ˜ȱŽ–ȱ–˜ŽŠȱ—ŠŒ’˜—Š•ǰȱ™Š›Šȱ˜ȱ
™Ž›à•Ž˜ǰȱ˜ȱ¤œȱ—Šž›Š•ȱ˜žȱ˜ȱŒ˜—Ž—œŠ˜ȱ™›˜ž£’˜ȱŽ–ȱŒŠŠȱŒŠ–™˜ǰȱŠȱœŽ›ȱŽŽ›ȱ–’Ȭ
—Š˜ȱ™Ž•ŠȱǰȱŽȱŠŒ˜›˜ȱŒ˜–ȱ˜ȱ’œ™˜œ˜ȱ—˜œȱŠ›œǯȱ޺ȱŽȱşº deste Decreto” (grifos
nossos).
ŽœŠ›Žǰȱ —˜ŽȬœŽȱ šžŽȱ ˜ȱ ŽŒ›Ž˜ǰȱ Œž“˜ȱ ŽœŒ˜™˜ȱ Žœ™ŽŒÇꌘȱ Ž›Šȱ Žę—’›ȱ ˜œȱ
critérios gerais de cálculo e cobrança das participações governamentais pre-
vistas pelo art. 45 da Lei no 9.478/97 (em concretização ao que disposto no
Š›ǯȱ ŘŖǰȱ ȗŗķǰȱ Šȱ ȦŞŞǼǰȱ Š›’‹ž’žȱ ¥ȱ ȱ Šœȱ Œ˜–™Ž¹—Œ’Šœȱ ™Š›Šȱ Šȱ ę¡Š³¨˜ȱ
do preço de referência para o cálculo dessas participações, observados os
pŠ›¦–Ž›˜œȱŠ•’ȱŽœŠ‹Ž•ŽŒ’˜œǯ

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 359-378, set./dez. 2018.


370 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O

Com efeito, ressalto qžŽȱŠȱšžŽœ¨˜ȱ“ž›Ç’ŒŠȱœžœŒ’ŠŠȱ—Šȱ™›ŽœŽ—ŽȱŠ³¨˜ȱ˜ŒŠȱ


˜ȱŒŽ›—ŽȱŠȱŠžŠ•ȱ˜–¤’ŒŠȱ“žœ™ž‹•’Œ’œŠȱŽǰȱ—¨˜ȱ™˜›ȱ˜ž›˜ȱ–˜’Ÿ˜ǰȱŸŽ–ȱœŽ—˜ȱ
˜‹“Ž˜ȱŽȱŠŒŠ•˜›Š˜œȱŽ‹ŠŽœȱ˜ž›’—¤›’˜œǯȱž’ŠȬœŽȱŽȱŽę—’›ȱ˜œȱ•’–’ŽœȱŠȱ
autonomia e dos poderes normativos conferidos às agências reguladoras,
™ŠžŠȱŽ–¤’ŒŠȱšžŽǰȱ—˜ȱ›Šœ’•ǰȱ™Šœœ˜žȱŠȱŠ—‘Š›ȱ›Ž•ŽŸ˜ȱ—ŠȱŸ’Šȱ™˜•Ç’ŒŠȱŽȱ“ž›Ç’ŒŠȱ
com a reforma gerencial por que passou a Administração Pública a partir da
·ŒŠŠȱŽȱşŖȱ˜ȱœ·Œž•˜ȱ™ŠœœŠ˜ǯȱžŠȱ’–™˜›¦—Œ’Šȱ·ȱŠž˜ŽŸ’Ž—ŽDZȱ˜ȱ›ŽŒ˜—‘ŽŒ’Ȭ
mento de autoridade normativa a agências reguladoras independentes põe
Ž–ȱ ¡ŽšžŽȱ Œ˜—ŒŽ™³äŽœȱ –Š’œȱ ›Š’Œ’˜—Š’œȱ šžŠ—˜ȱ ¥ȱ ŒŽ—›Š•’ŠŽȱ Šȱ •Ž’ȱ ˜›–Š•ȱ
na disciplina das relações sociais, colocando-se em discussão a própria noção
conceitual de legalidade, pedra de toque do Estado de Direito.
O debate, porém, não pode ignorar que a comunidade política que temos
‘˜“Žȱ“¤ȱ—¨˜ȱ·ȱŠȱ–Žœ–ŠȱŠȱšžŽȱŽ¡’œ’ŠȱŠ˜ȱŽ–™˜ȱŠȱ’—œž›¹—Œ’Šȱ˜œȱ–˜Ÿ’–Ž—˜œȱ
Žȱ›ž™ž›ŠȱŒ˜–ȱ˜ȱ—’˜ȱŽ’–Žȱ—˜ȱꗊ•ȱ˜ȱœ·Œž•˜ȱ ǯȱȱœŠ˜ǰȱŒ˜–˜ȱ
registrou o Min. Joaquim Barbosa em sede doutrinária, sofreu uma verdadeira
“–ŽŠ–˜›˜œŽ” marcada pelas “›ŽšžŽ—Žœȱ Žȱ ™›˜ž—Šœȱ Š•Ž›Š³äŽœǰȱ ˜Šœȱ Ž•Šœȱ
ŽœŽ—ŒŠŽŠŠœȱ ™Ž•Šȱ ˜›–’¤ŸŽ•ȱ ŽŸ˜•ž³¨˜ȱ Šȱ ·Œ—’ŒŠǰȱ ™Ž•Šȱ ›Š’ŒŠ•ȱ ›Š—œ˜›–Š³¨˜ȱ ˜ȱ
–˜˜ȱŽȱ™›˜ž³¨˜ȱŽŒ˜—â–’ŒŠȱŽȱ™Ž•ŠȱŒ˜—œŽšžŽ—Žȱ–˜’ęŒŠ³¨˜ȱŠœȱŽœ›žž›Šœȱœ˜Œ’Š’œ”
ǻǰȱ ˜Ššž’–ǯȱ ȃ¹—Œ’Šœȱ Žž•Š˜›ŠœDZȱ ȱ ȁŽŠ–˜›˜œŽȂȱ ˜ȱ œŠ˜ȱ
Žȱ Šȱ Ž–˜Œ›ŠŒ’Šȱ ǻ–Šȱ ŽĚŽ¡¨˜ȱ Žȱ ’›Ž’˜ȱ ˜—œ’žŒ’˜—Š•ȱ Žȱ ˜–™Š›Š˜ǼȄǰȱ
in BINENBOJM, Gustavo (Org.). Agências Reguladoras e Democracia. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2006, p. 21).
˜–ȱ ŽŽ’˜ǰȱ ˜ȱ –˜Ž•˜ȱ ˜’˜ŒŽ—’œŠȱ Žȱ œŠ˜ǰȱ Žȱ ™Ž›ę•ȱ –’—’–Š•’œŠȱ —˜ȱ
šžŽȱ’£ȱ›Žœ™Ž’˜ȱ¥ȱŠžŠ³¨˜ȱ“ž—˜ȱ¥ȱ’—’Œ’Š’ŸŠȱ™›’ŸŠŠǰȱŽžȱ•žŠ›ȱŠȱž–ȱœŠ˜ȱ
interventor nas esferas antes hegemônicas da sociedade civil, assumindo o
™Š™Ž•ȱ Žȱ ™›˜ŸŽ˜›ȱ Žȱ —ŽŒŽœœ’ŠŽœȱ ž—Š–Ž—Š’œǯȱ œœŽȱ —˜Ÿ˜ȱ ™Ž›ę•ȱ ’—Ž›Ȭ
ŸŽ—’Ÿ˜ȱ™Šœœ˜žȱŠȱŽ¡’’›ȱŒŠŠȱŸŽ£ȱ–Š’œȱŒ˜—‘ŽŒ’–Ž—˜ȱ·Œ—’Œ˜ȱŽȱŽœ™ŽȱŒ’Š•’£Š˜ȱ
dos órgãos estatais, além de respostas mais rápidas do que as propiciadas
pelo naturalmente moroso processo legislativo formal. A resposta institu-
Œ’˜—Š•ȱŠȱŽœœŠȱŽ–Š—ŠȱŠȱœ˜Œ’ŽŠŽȱŒ˜—Ž–™˜›¦—ŽŠȱŸŽ’˜ȱ—Šȱ˜›–ŠȱŽȱŠ¹—ȱŒ’Šœȱ
reguladoras independentes. No Brasil, essas autoridades surgem como autar-
quias de regime especial, dotadas de autonomia reforçada e concentradoras de
funções públicas normalmente distribuídas entre poderes do Estado.
ŽœŠŒŠȬœŽǰȱ™Š›Šȱ˜œȱꗜȱ˜ȱ™›ŽœŽ—Žȱ“ž•Š–Ž—˜ǰȱŠȱŠž˜—˜–’ŠȱŽȱ’—Ž™Ž—Ȭ
¹—Œ’Šǰȱ Š’—Šȱ šžŽȱ —¨˜ȱ Š‹œ˜•žŠœǰȱ Šœȱ Š¹—Œ’Šœȱ ›Žž•Š˜›Šœȱ ™Š›Šȱ ˜ȱ Ž¡Ž›ŒÇŒ’˜ȱ
de sua competência regulatória e normativa. Essa função é, em boa medida,
decorrente das conhecidas “leis-quadro” (lois-cadre) ou œŠ—Š›’£ŠŠœ, que

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 359-378, set./dez. 2018.


SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF) | Regulação de preço mínimo do petróleo 371

acabam por abrir espaços, mais ou menos amplos, à atividade normativa


Šœȱ Š¹—Œ’Šœȱ ›Žž•Š˜›Šœǯȱ œœ˜ȱ ™˜›šžŽǰȱ ŒŠ›ŠŒŽ›’£ŠŠœȱ ™Ž•Šȱ ‹Š’¡Šȱ Ž—œ’ŠŽȱ
normativa, tais leis permitem “˜ȱŽœŽ—Ÿ˜•Ÿ’–Ž—˜ȱŽȱ—˜›–ŠœȱœŽ˜›’Š’œȱŠ™ŠœȱŠǰȱŒ˜–ȱ
Šž˜—˜–’Šȱ Žȱ Š’•’ŠŽǰȱ ›Žž•Š›ȱ Šȱ Œ˜–™•Ž¡Šȱ Žȱ ’—¦–’ŒŠȱ ›ŽŠ•’ŠŽȱ œ˜Œ’Š•ȱ œž‹“ŠŒŽ—Ž”
ǻ !ǰȱ•Ž¡Š—›ŽȱŠ—˜œȱŽǯȱAgências Reguladoras e a Evolução do Direito
Administrativo Econômico. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 408).
ŽœœŽȱŒ˜—Ž¡˜ǰȱ˜ȱ›Š’Œ’˜—Š•ȱ™›’—ŒÇ™’˜ȱŠȱ•ŽŠ•’ŠŽȱ—¨˜ȱ–Š’œȱœŽȱ™›Ž—Žȱ
Š˜ȱ™Š›Š’–Šȱ•’‹Ž›Š•ȱŒ•¤œœ’Œ˜ǰȱšžŽȱŽ—¡Ž›ŠŸŠȱ—Šȱ•Ž’ȱ˜›–Š•ȱ(i.e., aquela emanada
dos órgãos constitucionalmente investidos de função legiferante, notadamente
o Parlamento) o único padrão de regência da vida pública ou privada,
capaz de esgotar, em seu relato abstrato, todos os comandos necessários à
’œŒ’™•’—Šȱ œ˜Œ’Š•ǯȱ 1ȱ ˜ȱ šžŽȱ ŽŽ—Žȱ ˜ȱ ™›˜Žœœ˜›ȱ•Ž¡Š—›Žȱ Š—˜œȱ Žȱ›Š¨˜ȱ
ao propugnar “por uma superação da separação rígida entre as versões extremas
ŽȱŒ˜—˜›–’ŠŽȱ•ŽŠ•ǰȱœžœŽ—Š—˜ȱšžŽȱ˜ȱ–Ç—’–˜ȱŽȱŽ—œ’ŠŽȱ—˜›–Š’ŸŠȱšžŽȱŠœȱ•Ž’œȱ
ŽŸŽ–ȱ™˜œœž’›ȱ™Š›ŠȱŠ›’‹ž’›ȱ™˜Ž›Žœȱ¥ȱ–’—’œ›Š³¨˜ȱø‹•’ŒŠȱŒ˜—œ’œŽȱŽ–ȱ‘Š‹’•’Š³äŽœȱ
normativas calcadas em princípios e valores”, ao que o autor denota por legalidade
principiológica ou •ŽŠ•’ŠŽȱ˜›–Š•ȱŠ¡’˜•à’ŒŠ, “no sentido de que as atribuições de
™˜Ž›Žœȱ™Ž•Šȱ•Ž’ȱŽŸŽ–ǰȱ™˜›ȱœžŒ’—ŠœȱšžŽȱœŽ“Š–ǰȱœŽ›ȱ™Ž•˜ȱ–Ž—˜œȱŒ˜—Ž¡ŠœȱŒ˜–ȱ™›’—ŒÇ™’˜œȱ
šžŽȱ™˜œœ’‹’•’Ž–ȱ˜ȱœŽžȱŒ˜—›˜•ŽDzȱ™›’—ŒÇ™’˜œȱŠšž’ȱŒ˜—œ’Ž›Š˜œȱŽ–ȱœŽžȱœŽ—’˜ȱŠ–™•˜ǰȱ
Š‹›Š—Ž—˜ȱꗊ•’ŠŽœǰȱ™˜•Ç’ŒŠœȱ™ø‹•’ŒŠœǰȱœŠ—Š›œȱŽŒǯȄȱǻ !ǰȱ•Ž¡Š—›Žȱ
Santos de. “A Concepção Pós-Positivista do Princípio da Legalidade”, in
Revista de Direito Administrativo, v. 236, 2005, p. 12).
Vê-se, portanto, que a autoridade normativa das agências reguladoras
não implica, per se, uma crise da legalidade (e, Šȱ˜›’˜›’, do Estado de Direito),
–ŠœȱŠ—ŽœȱŠȱœž™Ž›Š³¨˜ȱŽȱž–Šȱ˜›–Šȱ˜’˜ŒŽ—’œŠȱǻŽȱ˜Š•’£Š—ŽǼȱŽȱŽ—¡Ž›¤Ȭ•Šǯȱ
Com efeito, a necessidade de respostas mais técnicas e completas se alinha à
’–™›ŽœŒ’—’‹’•’ŠŽȱŽȱšžŽȱŽœŠœȱŠ–‹·–ȱœŽ“Š–ȱŠžâ—˜–Šœǰȱ’—Ž™Ž—Ž—ŽœȱŽȱ
céleres, traços distintivos fundamentais da atuação das atuações reguladoras,
—Šȱ•’—‘Šȱ˜ȱšžŽȱŽ¡™•’Œ’Šȱ˜ȱ›˜ǯȱŠ›³Š•ȱ žœŽ—ȱ’•‘˜DZ

ȱ Š›’‹ž’³¨˜ȱ Žȱ Œ˜–™Ž¹—Œ’Šȱ Žȱ Œ˜—›˜•Žȱ ǻ˜–’—Š³¨˜ȱ Žȱ ꜌Š•’£Š³¨˜Ǽȱ


à agência deriva do reconhecimento de que o processo decisório nos
órgãos integrantes das estruturas tradicionais do Estado é permeado
™˜›ȱ Œ›’·›’˜œȱ Žȱ ’—Ěž¹—Œ’Šœȱ ™˜•Ç’ŒŠœǯȱ œœ˜ȱ —¨˜ȱ œ’—’ęŒŠȱ Š•ž–ȱ ’™˜ȱ Žȱ
manifestação reprovável, eis que é da inerência do processo democrático.
Šœȱ™˜ŽȱœŽ›ȱ’—Œ˜–™ŠÇŸŽ•ȱŒ˜–ȱ˜œȱꗜȱŸ’œŠ˜œȱ™Ž•Šȱ›Žž•Š³¨˜ȱŽœŠŠ•ǯȱ
As decisões acerca daȱ ŠžŠ³¨˜ȱ ˜œȱ œž“Ž’˜œȱ Œ˜—›˜•Š˜œȱ —¨˜ȱ ™˜Ž–ȱ

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372 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O

fazer-se apenas segundo conveniências políticas, mas deve ser presidida


Š–‹·–ȱ™˜›ȱ“žÇ£˜œȱŽȱŒ˜–™Ž¹—Œ’Šȱ™›Ž˜–’—Š—Ž–Ž—Žȱ·Œ—’Œ˜œǯ
ǻ ȱ 
ǰȱŠ›³Š•ǯȱO direito das agências reguladoras indepen-
dentes. São Paulo: Dialética, 2002, p. 364)

¨˜ȱ œŽȱ ’—˜›Šǰȱ ™˜›·–ǰȱ šžŽȱ —Ž–ȱ ˜˜ȱ Ž¡Ž›ŒÇŒ’˜ȱ Šœȱ ž—³äŽœȱ Ç™’ŒŠœȱ Šœȱ
agências reguladoras independentes é infenso ao controle de suas atuações,
’—Œ•žœ’ŸŽȱ “ž’Œ’Š•ǰȱ —˜œȱ ŒŠœ˜œȱ Žȱ Ž¡›Š™˜•Š³¨˜ȱ ˜œȱ •’–’Žœȱ Ž•’—ŽŠ˜œȱ Š˜ȱ œŽžȱ
–ø—žœȱ ›Žž•Šà›’˜ǰȱ ˜žȱ –Žœ–˜ȱ —˜ȱ ŒŠœ˜ȱ Ž–ȱ šžŽȱ œŽȱ ŸŽ›’ęšžŽȱ ’—ŽŸ’Šȱ ’—›˜Ȭ
missão de órgão distinto em suas atribuições. Não obstante, deve-se destacar
que tal controle deve ser limitado à própria capacidade institucional do Poder
ž’Œ’¤›’˜ǰȱ Ž–ȱ ›ŽŽ›¹—Œ’Šȱ ¥ȱ Ž¡™›Žœœ¨˜ȱ Œž—‘ŠŠȱ ™˜›ȱ Šœœȱ ž—œŽ’—ȱ Žȱ ›’Š—ȱ
Vermeule (Interpretation and Institutionsǯȱȱ‘’ŒŠ˜ȱŠ ȱǭȱŒ˜—˜–’Œœǰȱ•’—ȱ
Working Paper, noȱŗśŜǰȱŘŖŖŘDzȱȱ‘’ŒŠ˜ȱž‹•’ŒȱŠ ȱŽœŽŠ›Œ‘ȱŠ™Ž›ȱ—o 28).
Ž–ȱ™›Ž“žÇ£˜ȱŠœȱ™ŽŒž•’Š›’ŠŽœȱŽȱŒŠŠȱŒ˜—›˜Ÿ·›œ’ŠǰȱŸŽ“ŠȬœŽȱ˜ȱŽ¡Ž–™•˜ȱ
Žȱ ’›Ž’˜ȱ Œ˜–™Š›Š˜ȱ ˜œȱ œŠ˜œȱ —’˜œǰȱ —˜ȱ Œ˜—Ž¡˜ȱ ˜ȱ šžŠ•ȱ › ’—ȱ
‘Ž–Ž›’—œ”¢ȱ ›Ž•ŠŠȱ šžŽǰȱ Ž–ȱ –Š’œȱ Žȱ œŽœœŽ—Šȱ Š—˜œȱ ŽœŽȱ ˜ȱ “ž•Š–Ž—˜ȱ
dos casos Panama Oil e Œ‘ŽŒ‘Ž›, que assentaram, ainda durante o período
˜ȱ Ž ȱ ŽŠ•ǰȱ Šœȱ ‹ŠœŽœȱ Žà›’ŒŠœȱ Šȱ non-delegation doctrine, a Suprema Corte
norte-americana não declarou inconstitucional nenhuma lei que tenha con-
ferido poderes normativos a agências reguladoras independentes. Todas as
Ž•ŽŠ³äŽœǰȱŠ’—ŠȱšžŽȱŠ–™•Šœǰȱ˜›Š–ȱ›Ž™žŠŠœȱŸ¤•’ŠœǯȱŽž—˜ȱ˜ȱŽœŽ“Š˜ȱ
professor da Universidade da Califórnia (Irvine), “’œœ˜ȱ›ŽĚŽŽȱž–ȱŽ—Ž—’–Ž—˜ȱ
“ž’Œ’Š•ȱ Žȱ šžŽȱ Ž•ŽŠ³äŽœȱ Š‹›Š—Ž—Žœȱ œ¨˜ȱ —ŽŒŽœœ¤›’Šœȱ Ž–ȱ ž–ȱ –ž—˜ȱ Œ˜–™•Ž¡˜ǰȱ
‹Ž–ȱŒ˜–˜ȱšžŽȱ˜ȱ˜Ž›ȱ ž’Œ’¤›’˜ȱ—¨˜ȱŽœ¤ȱ‹Ž–ȱ™›Ž™Š›Š˜ȱ™Š›Šȱ›Š³Š›ȱ•’–’ŽœȱŒ•Š›˜œ”
(Tradução livre do original: ȃ—˜ž‹Ž•¢ǰȱ‘’œȱ›ŽĚŽŒœȱŠȱ“ž’Œ’Š•ȱ“ž–Ž—ȱ‘Šȱ
‹›˜ŠȱŽ•ŽŠ’˜—œȱŠ›Žȱ—ŽŒŽœœŠ›¢ȱ’—ȱ‘ŽȱŒ˜–™•Ž¡ȱ–˜Ž›—ȱ ˜›•ȱŠ—ȱ‘Šȱ‘Žȱ“ž’Œ’Š›¢ȱ
’œȱ ’••ȬŽšž’™™Žȱ ˜ȱ ›Š ȱ –ŽŠ—’—ž•ȱ •’—ŽœȄȱ — Constitutional Law: Principles and
Policiesǯȱ˜ŸŠȱ ˜›šžŽDZȱ˜•Ž›œȱ •ž Ž›ǰȱŘŖŗŗǰȱ™ǯȱřřśǼǯ
1ȱ™›ŽŒ’œ˜ǰȱ™˜’œǰȱŒŠžŽ•Šȱ˜ȱ˜Ž›ȱ ž’Œ’¤›’˜ȱŠ˜ȱœŽȱ™›˜—ž—Œ’Š›ȱœ˜‹›Žȱ•Ž’œȱšžŽȱ
atribuam poderes normativos às agências reguladoras, sobre os atos técnicos
por estas editados, ou mesmo sobre os procedimentos administrativos por
Ž•Šœȱ Œ˜—ž£’˜ǯȱ ’Œ‘Š›ȱ Ž Š›ǰȱ ™›˜Žœœ˜›ȱ Šȱ ŠŒž•ŠŽȱ Žȱ ’›Ž’˜ȱ Šȱ
Universidade de Nova Iorque (Ž ȱ˜›”ȱ—’ŸŽ›œ’¢ȱ— NYU), alerta sobre os
’—Œ˜—ŸŽ—’Ž—ŽœȱŽȱ˜‹œ¤Œž•˜œȱ’—Ž›Ž—Žœȱ¥ȱŽ—Š’ŸŠȱŽȱ˜•‘Ž›ǰȱ™Ž•ŠȱŸ’Šȱ“ž’Œ’Š•ǰȱ
˜œȱŽœ™Š³˜œȱŽȱ’œŒ›’Œ’˜—Š›’ŽŠŽȱŠœȱ’—œ¦—Œ’ŠœȱŠ–’—’œ›Š’ŸŠœǰȱŽ¡’’—˜ȱž–ȱ
›ŠŠ–Ž—˜ȱŽ¡Šžœ’Ÿ˜ȱ˜œȱ’Ž›Žntes assuntos no plano legislativo:

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 359-378, set./dez. 2018.


SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF) | Regulação de preço mínimo do petróleo 373

Enquanto as cortes podem, em alguns casos, limitar amplas delegações


•Ž’œ•Š’ŸŠœȱ ™˜›ȱ ’—Ž›–·’˜ȱ Žȱ ’—Ž›™›ŽŠ³¨˜ȱ “ž›Ç’ŒŠǰȱ Šȱ Š˜³¨˜ȱ
generalizada da doutrina da não delegação (nondelegation doctrine)
œŽ›’Šȱ Œ•Š›Š–Ž—Žȱ ™˜žŒ˜ȱ œ¤‹’Šǯȱ ˜ȱ –ž—˜ȱ Œ˜—Ž–™˜›¦—Ž˜ǰȱ ™›ŽŸ’œäŽœȱ
legislativas detalhadas de políticas públicas não seriam nem factíveis
—Ž–ȱŽœŽ“¤ŸŽ’œǰȱŽȱ˜œȱ“žÇ£Žœȱ—¨˜ȱŽœ¨˜ȱ‹Ž–ȱ™›Ž™Š›Š˜œȱ™Š›Šȱ’œ’—ž’›ȱ
as situações.
–ȱ›Ž•Š³¨˜ȱŠȱ–ž’Šœȱ–Ž’ŠœȱŽœŠŠ’œǰȱ™˜ŽȱœŽ›ȱ’–™˜œœÇŸŽ•ȱŽœ™ŽŒ’ęŒŠ›ȱ
o curso particular de ação a ser seguido. Isso é mais óbvio em um novo
ŒŠ–™˜ȱ›Žž•Šà›’˜ǯȱȱŠ–’—’œ›Š³¨˜ȱ·ȱž–ȱŽ¡Ž›ŒÇŒ’˜ȱŽȱŽ¡™Ž›’–Ž—Š³¨˜ǯȱ
ŽȱŠȱ–Š·›’Šȱ·ȱ™˜•Ç’ŒŠȱ˜žȱŽŒ˜—˜–’ŒŠ–Ž—ŽȱŸ˜•¤’•ȱȯȱŒ˜–˜ȱŠȱŽę—’³¨˜ȱ
ŽȱœŠ•¤›’˜œȱ˜žȱ™›Ž³˜œȱȯȱ–žŠ—³ŠœȱŒ˜—œŠ—Žœȱ—˜œȱ™Š›¦–Ž›˜œȱ‹¤œ’Œ˜œȱ
do problema impedem o desenvolvimento de uma política detalhada
šžŽȱ™˜œœŠȱœŽ›ȱŠ™•’ŒŠŠȱ™˜›ȱšžŠ•šžŽ›ȱ™Ž›Ç˜˜ȱ–Š’˜›ȱŽȱŽ–™˜ǯȱǻdzǼ
Ademais, há sérias limitações institucionais à habilidade do Congresso
em detalhar políticas regulatórias. As maiorias legislativas representam
tipicamente coalizões de interesse que devem guardar harmonia não
apenas entre si, mas também com oponentes. Políticos com frequência
™›ŽŽ›Ž–ȱ —¨˜ȱ ˜–Š›ȱ ™˜œ’³¨˜ȱ ꛖŽȱ Žȱ Œ•Š›Šȱ Ž–ȱ Šœœž—˜œȱ Œ˜—›˜ŸŽ›œ˜œȱ
de políticas econômicas ou sociais. A previsão legislativa detalhada
Ž¡’’›’Šȱ’—ŸŽœ’Š³¨˜ȱ’—Ž—œŠȱŽȱŒ˜—Ç—žŠǰȱŽŒ’œ¨˜ǰȱŽȱ›ŽŸ’œ¨˜ȱŽȱŒ˜–™•Ž¡˜œȱ
ŽȱŽœ™ŽŒÇꌘœȱŠœœž—˜œǯȱŠ•ȱŠ›ŽŠȱŽ–Š—Š›’Šȱ›ŽŒž›œ˜œȱšžŽȱ˜ȱ˜—›Žœœ˜ǰȱ
na maioria dos casos, não tem capacidade ou interesse em reunir. Um
Žœ˜›³˜ȱŽ—Ž›Š•’£Š˜ȱŽȱ•Ž’œ•Š›ȱŽ–ȱŽŠ•‘ŽœȱŠ–‹·–ȱŽ¡’’›’Šȱž–ȱ›Šžȱ
ŽȱŽœŒŽ—›Š•’£Š³¨˜ȱšžŽȱ™˜Ž›’ŠȱŽ›˜’›ȱŠȱ“¤ȱ›Š’•’£ŠŠȱaccountability das
ŽŒ’œäŽœȱŒ˜—›ŽœœžŠ’œǯȱœœŠœȱŒ’›Œž—œ¦—Œ’ŠœȱŽ—Ž–ȱŠȱ“žœ’ęŒŠ›ȱŠ–™•Šœȱ
delegações de autoridade a agências administrativas. Além disso, para
além desses fatores, alguém poderia questionar se o Poder Legislativo
é mais provável de produzir decisões responsáveis sobre questões de
políticas públicas do que as agências.
˜›ȱę–ǰȱ‘¤ȱœ·›’˜œȱ™›˜‹•Ž–ŠœȱŽ–ȱŒ˜—ꊛȱŠ˜ȱ˜Ž›ȱ ž’Œ’¤›’˜ȱŠȱ–’œœ¨˜ȱ
de aplicar a teoria da não delegação (nondelegation doctrine). As cortes
podem impropriamente insistir em um detalhamento legislativo maior
˜ȱšžŽȱŠȱ–Š·›’ŠȱŒ˜–™˜›Žǯȱ˜›·–ǰȱŒ˜–˜ȱŽŒ’’›¤ȱ˜ȱ“ž’£ȱŠŒŽ›ŒŠȱ˜ȱ›Šžȱ
Žȱ Žœ™ŽŒ’ęŒŠ³¨˜ȱ —˜›–Š’ŸŠȱ ™˜œœÇŸŽ•ǰȱ ™˜›ȱ Ž¡Ž–™•˜ǰȱ —Šȱ ›Žž•Š³¨˜ȱ Žȱ
œŠ•¤›’˜œȱŽȱ™›Ž³˜œȱšžŠ—˜ȱŽœŠȱ·ȱ’—’Œ’Š•–Ž—Žȱ’–™•Ž–Ž—ŠŠǵȱ˜–˜ȱŽ•Žȱ
decidirá se há possibilidade de maior detalhamento legislativo em razão
˜ȱŒ˜—‘ŽŒ’–Ž—˜ȱŠŒž–ž•Š˜ȱœ˜‹›ŽȱŠȱ–Š·›’ŠǵȱȱœŽȱŠȱœ’žŠ³¨˜ȱ™˜•Ç’ŒŠȱ·ȱ

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 359-378, set./dez. 2018.


374 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O

Š•ȱšžŽȱ˜ȱ™›˜ŒŽœœ˜ȱ•Ž’œ•Š’Ÿ˜ȱœŽ“Šȱ’—ŒŠ™Š£ȱŽȱŽ›Š›ȱšžŠ•šžŽ›ȱ™›ŽŸ’œ¨˜ȱ
—˜›–Š’ŸŠȱ–Š’œȱŽŠ•‘ŠŠǵȱ˜–˜ȱ˜ȱ“ž’£ȱ’Ž›Ž—Œ’ŠȱŽœŽȱŒŠœ˜ȱŠšžŽ•Žœȱ
Ž–ȱ šžŽȱ ˜ȱ ˜Ž›ȱ Ž’œ•Š’Ÿ˜ȱ Žœ¤ȱ ŽŸ’Š—˜ȱ Ž¡Ž›ŒŽ›ȱ œžŠœȱ ȁ™›à™›’ŠœȂȱ
›Žœ™˜—œŠ‹’•’ŠŽœǵȱ Š’œȱ “ž•Š–Ž—˜œȱ œ¨˜ȱ —ŽŒŽœœŠ›’Š–Ž—Žȱ œž‹“Ž’Ÿ˜œǰȱ
Žȱ Šȱ ˜ž›’—Šȱ šžŽȱ ˜œȱ Ž—¡Ž›Šȱ Œ˜–˜ȱ ŽŽ›–’—Š—Žœȱ Šȱ •Ž’’–’ŠŽȱ Šȱ
ŠžŠ³¨˜ȱŠ–’—’œ›Š’ŸŠȱ™˜Žȱ’—Ÿ’Š‹’•’£Š›ȱŠȱ™›à™›’ŠȱŠ–’—’œ›Š³¨˜ǰȱœŽ“Šȱ
™Ž•ŠȱœžŠȱŽ¡™˜œ’³¨˜ȱ¥ȱŒ˜—Ç—žŠȱŠ–ŽŠ³ŠȱŽȱ’—ŸŠ•’Š³¨˜ǰȱœŽ“Šȱ™Ž•˜ȱ’—ŒŽ—’Ÿ˜ȱ
¥ȱ›ŽŒŠ•Œ’›¦—Œ’ŠȱšžŽȱŽœ™Ž›Šȱ—ŠšžŽ•ŽœȱšžŽȱŠȱŽ•ŠȱœŽȱ˜™äŽ–ǯȱŠ˜œȱŽœœŽœȱ
™Š›¦–Ž›˜œȱ œž‹“Ž’Ÿ˜œǰȱ Žȱ ˜ȱ ŒŠ›¤Ž›ȱ Œ˜—›˜ŸŽ›œ˜ȱ Žȱ ŽŒ’œäŽœȱ šžŠ—˜ȱ ¥ȱ
invalidade de decisões legislativas, tais decisões irão inevitavelmente
parecer partidárias, e poderão com frequência sê-lo.
(STEWART, Richard. “The Reformation of American Administrative
Š Ȅǰȱin Harvard Law Review, v. 88, p. 1695-1697 — tradução livre do
original)

Na espécie, consideradas essas duas premissas teóricas principais —


ǻ’ǼȱŠȱŠ›Š—’ŠȱŽȱŠž˜—˜–’ŠȱŠœȱŠ¹—Œ’Šœȱ›Žž•Š˜›ŠœDzȱŽȱǻ’’Ǽȱ˜ȱ›ŽŒ˜—‘ŽŒ’–Ž—˜ȱ
da limitação da capacidade institucional do Poder Judiciário —, aparenta-
se evidenciar, nesta primeira análise da questão, uma indevida intromissão
realizada pelo Conselho Nacional de Política Econômica — CNPE nas atri-
buições autônoma e independentemente asseguradas pela Lei no 9.478/97 e
pelo Decreto no 2.705/1998 à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Bio-
Œ˜–‹žœÇŸŽ’œȱȯȱǯȱ˜–˜ȱ“¤ȱ’œŒ˜››’˜ȱ—˜ȱ’—ÇŒ’˜ȱ˜ȱ™›ŽœŽ—Žȱdecisum, tais
’ȱ™•˜–Šœȱ—˜›–Š’Ÿ˜œȱŽœ’—Š–ȱ¥ȱȱŠȱŒ˜–™Ž¹—Œ’Šȱ™Š›Šȱę¡Š³¨˜ȱ˜œȱŸŠ•˜Ȭ
res mínimos, bem como do preço de referência, relativos aos critérios para o
Œ¤•Œž•˜ȱŠœȱŒ˜–™Ž—œŠ³äŽœȱꗊ—ŒŽ’›Šœǯ
Deveras, não obstante se disponha que a ANP é “vinculada ao Ministério de
Minas e Energia” (art. 7º, caput, da Lei no 9.478/97), tal vinculação é tão somente
Š–’—’œ›Š’ŸŠǰȱ —¨˜ȱ Š•ŒŠ—³Š—˜ȱ Šȱ ŠžŠ³¨˜ȱ ꗊ•Çœ’ŒŠȱ Šȱ ›ŽŽ›’Šȱ Š¹—Œ’Šȱ
reguladora. Mesmo considerada a distinção entre a formulação de políticas
™ø‹•’ŒŠœȱŽȱŠȱœžŠȱŽ¡ŽŒž³¨˜ǰȱŠ›’‹ž’žȬœŽǰȱ—Šȱ›Žž•Š³¨˜ȱ˜ȱœŽ˜›ȱŽŒ˜—â–’Œ˜ȱ™Ž›˜Ȭ
•ÇŽ›˜ǰȱŽœ™ŽŒÇꌊȱŽȱŽ¡™›ŽœœŠ–Ž—Žȱ¥ȱȱŠȱŽę—’³¨˜ȱŽȱ™›Ž³˜œȱ–Ç—’–˜œȱ™Š›Šȱ˜ȱ
Œ¤•Œž•˜ȱŠœȱŒ˜–™Ž—œŠ³äŽœȱꗊ—ŒŽ’›Šœȱœ˜‹›ŽȱŠœȱšžŠ’œȱŠšž’ȱœŽȱ’œŒžŽǰȱŽ•Ž–Ž—˜ȱ
que, nessa análise de cognição sumária, parece não integrar a formulação da
política pública energética, atribuída ao CNPE.
Nesse sentido, citam-se as lições de Lucas Rocha Furtado, que dispõem
tanto sobre o cenário geral da independência das agências reguladoras, como
sobre a relação entre a ANP e o CNPE neste cenário, verbis (grifos nossos):

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 359-378, set./dez. 2018.


SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF) | Regulação de preço mínimo do petróleo 375

Traço distintivo e peculiar na atuação das agências diz respeito à


independência que lhes é conferida e que visa garantir atuação im-
parcial, ou ao menos mais imparcial do que a que seria exercida por
à›¨˜œȱ˜ŸŽ›—Š–Ž—Š’œȱ–Š’œȱœž“Ž’˜œȱŠȱ’—Ž›Ž›¹—Œ’ŠœȱŽȱ̞žŠ³äŽœȱŽȱ
humores políticos ocasionais.
ǽdzǾ
Inserir o poder das agências de regular determinado segmento do
mercado no campo da discricionariedade, e não do regulamentar,
não importa em outorga-lhes independência absoluta. Ao contrário,
‘¤ȱ–ž’˜ȱœŽȱ’œŒžŽȱŠȱ™˜œœ’‹’•’ŠŽȱŽȱœŽ›ȱŽ¡Ž›Œ’˜ǰȱ—¨˜ȱŠ™Ž—Šœȱ™Ž•˜œȱ
Tribunais de Contas, mas também pelo próprio Poder Judiciário controle
de legitimidade sobre a atuação discricionária do administrador,
podendo o princípio da razoabilidade ser apontado como apenas um
˜œȱ’—œ›ž–Ž—˜œȱŠŽšžŠ˜œȱ™Š›ŠȱŠ•ȱ–’œŽ›ǯȱǽdzǾ
A rigor, o termo discricionariedade técnica — tão importante para
˜ȱ Ž–Šȱ šžŽȱ ˜›Šȱ Ž¡Š–’—Š–˜œȱ ȯȱ ˜’ȱ ž’•’£Š˜ȱ ™Ž•Šȱ ™›’–Ž’›Šȱ ŸŽ£ȱ —Šȱ
žœ›’ŠǰȱŽȱŠȱœžŠȱ“žœ’ęŒŠ’ŸŠȱŽœ¤ȱ’›ŽŠ–Ž—Žȱ›Ž•ŠŒ’˜—ŠŠȱ¥ȱ—ŽŒŽœœ’ŠŽȱ
de que certas decisões administrativas devem considerar tal nível de
especialização que somente aquele órgão ou entidade teria elementos
necessários para a valoração da melhor solução a ser adotada.
Ademais, o poder discricionário conferido às agências é ampliado pelo
Š˜ȱŽȱšžŽȱŠœȱ•Ž’œȱšžŽȱŽę—Ž–ȱœžŠœȱŠ›’‹ž’³äŽœȱž’•’£Š–ǰȱ–ž’ŠœȱŸŽ£Žœǰȱ
conceitos genéricos, e tratam as questões que lhes são apresentadas
Š™Ž—Šœȱ Œ˜–˜ȱ ™›’—ŒÇ™’˜œǰȱ ę¡Š—˜ȱ Š™Ž—Šœȱ œŠ—Š›œȱ ˜žȱ ™Š›¦–Ž›˜œȱ
Šȱ œŽ›Ž–ȱ ˜‹œŽ›ŸŠ˜œȱ ™Ž•Šœȱ Š¹—Œ’Šœȱ —˜ȱ Ž¡Ž›ŒÇŒ’˜ȱ ˜ȱ ™˜Ž›ȱ Žȱ ›Žž•Š›ȱ
determinados setores. Surge, assim, o amplo espaço de atuação das
Š¹—Œ’Šœȱ Žȱ šžŽȱ ŒŽ›Š–Ž—Žȱ ’›¤ȱ ›Žœž•Š›ȱ Ž–ȱ Œ˜—Ě’˜œȱ Œ˜–ȱ Šœȱ Ž—’ŠŽœȱ
™˜•Ç’ŒŠœȱ Šȱ šžŽȱ ŽœŽ“Š–ȱ Ÿ’—Œž•ŠŠœǰȱ ŒŠœ˜ȱ —¨˜ȱ ‘Š“Šȱ Š‹œ˜•žŠȱ œ’—˜—’Šȱ
entre a atuação das agências e a atuação, ou falta de atuação, do Poder
Central.
Šȱ Žę—’³¨˜ȱ Šœȱ ™˜ŽœŠŽœȱ Œ˜—Ž›’Šœȱ ¥œȱ Š¹—Œ’Šœǰȱ ‘¤ȱ ž–Šȱ šžŽȱ —¨˜ȱ
•‘Žȱ ·ȱ Œ˜—Ž›’ŠDZȱ Šȱ Žȱ Žę—’›ȱ ˜žȱ Žȱ ˜›–ž•Š›ȱ ™˜•Ç’ŒŠœȱ ™ø‹•’ŒŠœǯȱ œœŠȱ
tarefa é inerente às entidades políticas. Cabe à União, aos Estados,
aos Municípios e ao Distrito Federal formularem as políticas para os
diversos setores regulados, cabendo às suas respectivas agências o
™Š™Ž•ȱ Žȱ Ž¡ŽŒž¤Ȭ•Šœǯȱ ˜–Ž–˜œȱ Ššž’ȱ ˜ȱ Ž¡Ž–™•˜ȱ ˜ȱ œŽ˜›ȱ Ž—Ž›·’Œ˜ȱ
Šȱ ę–ȱ Žȱ ŸŽ›’ęŒŠ›–˜œȱ Šœȱ ŒŠžœŠœȱ Žȱ Š—Šœȱ ŽœŠŸŽ—³Šœȱ Ž—›Žȱ ˜ȱ œŽ˜›ȱ
regulado, o poder central e as agências reguladoras.

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 359-378, set./dez. 2018.


376 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O

A Lei no 9.478/97, a lei do petróleo, além de criar a Agência Nacional


do Petróleo (ANP), criou o Conselho Nacional de Política Energética
ǻǼǰȱ à›¨˜ȱ ’—Ž›Š—Žȱ Šȱ –’—’œ›Š³¨˜ȱ ’›ŽŠǰȱ Œž“Šȱ ž—³¨˜ȱ ·ȱ Šȱ
de sediar o debate, de forma multidisciplinar, sobre a problemática
Ž—Ž›·’ŒŠȱŽ–ȱ—˜œœ˜ȱŠÇœǯȱŽ–˜œǰȱŠœœ’–ǰȱšžŽȱ˜ȱȱꌊȱŒ˜–ȱ˜ȱŽ—ŒŠ›˜ȱ
ŽȱŽę—’›ȱŠȱ™˜•Ç’ŒŠȱŽ—Ž›·’ŒŠǰȱŽ—šžŠ—˜ȱŠȱ›Žž•Š³¨˜ȱŽȱŽ¡ŽŒž³¨˜ȱŽœœŠœȱ
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ANEEL e ANP.
ŽŸŽ–ȱ Šœȱ Š¹—Œ’Šœȱ ›Žž•Š›ȱ ˜œȱ œŽ˜›Žœȱ œ˜‹ȱ œžŠȱ ›Žœ™˜—œŠ‹’•’ŠŽDzȱ —¨˜ȱ
devem elas, todavia, desempenhar a função do Poder Central de
˜›–ž•Š›ȱ ™˜•Ç’ŒŠœȱ ™ø‹•’ŒŠœǰȱ ž—³¨˜ȱ šžŽȱ ŽŸŽȱ œŽ›ȱ Žę—’Šȱ Ž–ȱ —ÇŸŽ•ȱ
–’—’œŽ›’Š•ǰȱ Œ˜–ȱ Šȱ ŽŽ’ŸŠȱ ™Š›’Œ’™Š³¨˜ȱ ˜ȱ Œ‘ŽŽȱ ˜ȱ ¡ŽŒž’Ÿ˜ȱ Žȱ ˜ȱ
respectivo Poder Legislativo.
ǽdzǾȱA discricionariedade a ser utilizada pelas agências, como agentes
Žȱ ’–™•Ž–Ž—Š³¨˜ȱ ŽœœŠœȱ ™˜•Ç’ŒŠœǰȱ ŽŸŽȱ ŽœŠ›ȱ Žę—’Šȱ Ž–ȱ •Ž’, sob
pena de se subverter a própria lógica do sistema, que pressupõe normas
Œ•Š›ŠœȱŽȱ™›ŽŸ’Š–Ž—ŽȱŽę—’ŠœǰȱŽȱ–˜˜ȱŠȱšžŽȱ˜œȱ’—ŸŽœ’˜›Žœȱ™˜œœŠ–ȱ
agir com a certeza de que não haverá alterações inesperadas nos rumos
Žę—’˜œȱ™Š›Šȱ˜œȱœŽ˜›Žœȱ›Žž•Š˜œǯ
(FURTADO, Lucas Rocha. Curso de Direito Administrativo. Belo

˜›’£˜—ŽDZȱ’˜›Šȱà›ž–ǰȱŘŖŗřǰȱ™ǯȱŗśŗȬŗśśǼ

žŠ•–Ž—ŽǰȱŽœŠŒŠȬœŽȱšžŽȱ—Ž–ȱ—˜ȱ¦–‹’˜ȱ˜ȱŽŒ›Ž˜ȱ—o 3.520/2000, que


dispõe sobre a estrutura e o funcionamento do CNPE, tampouco nas disposições
da Lei no 9.478/97, se vislumbra qualquer atribuição de competências a tal
à›¨˜ȱŽ–ȱŽ¡Ž›ŒÇŒ’˜ȱŠȱšžŠ•ȱœŽȱ™˜Ž›’Šȱ“žœ’ęŒŠ›ȱŠȱ’—Ž›ŸŽ—³¨˜ȱ˜›Šȱ—˜’Œ’ŠŠǯ
ŽœŠ›Žǰȱ ›ŠŠ—˜ȬœŽȱ Žȱ Œ˜–™Ž¹—Œ’Šȱ Ž¡™•’Œ’Š–Ž—Žȱ Žœ’—ŠŠȱ ™Ž•˜œȱ
atos normativos que regulam a matéria à ANP, a providência promovida
pelo CNPE, sobretudo quando o processo administrativo conduzido poste-
riormente suspenso pelo órgão regulador se mostra tecnicamente funda-
mentado, em determinar (termo literalmente utilizado pela Resolução no 01/
CNPE de 20/01/2016) à ANP que atue, em competência que lhe é própria,
Œ˜—ȱ˜›–ŽȱšžŠ•šžŽ›ȱŽŽ›–’—Š³¨˜ȱŽ¡Ž›—ŠǰȱŠ™Š›Ž—ŠȱŒ˜—œž‹œŠ—Œ’Š›ȱ’—ŽŸ’Šȱ
intromissão na autonomia e independência funcional da agência reguladora.
ŽœœŠȱ•’—‘ŠǰȱŒ˜–˜ȱŠŒ’–Šȱ“¤ȱŽœŠŒŠ˜ǰȱ˜‹œŽ›ŸŠȬœŽȱšžŽȱŠȱŽ’³¨˜ȱŽœŽȱŠ˜ȱ™Ž•˜ȱ
ȱ˜’ȱŠ˜ŠŠȱŽ¡™›ŽœœŠ–Ž—ŽȱŒ˜–˜ȱ–˜’Ÿ˜ȱ™Š›ŠȱŠȱœžœ™Ž—œ¨˜ȱŠȱ›ŽŠ•’£ŠȬ
ção de audiência pública destinada à avaliação da revisão da Portaria ANP

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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF) | Regulação de preço mínimo do petróleo 377

no 206/2000, em sede do processo administrativo no 48610.000618/2015/11, em


›¦–’Žȱ™Ž›Š—ŽȱŠȱ›ŽŽ›’ŠȱŠ¹—Œ’Šȱ›Žž•Š˜›Šǯ
—›ŽŠ—˜ǰȱŒ˜—œ’Ž›ŠŠȱŠȱœŽž—Šȱ™›Ž–’œœŠȱŠŒ’–ŠȱŽ¡™•’Œ’ŠŠǰȱŽ—Ž—ŽȬ
se que o pedido de tutela antecipada formulado pelo Estado-autor não pode
œŽ›ȱ’—Ž›Š•–Ž—ŽȱŠŒ˜•‘’˜ǯȱŠȱ•’—‘Šȱ˜œȱ“¤ȱŠ•Ž—Š˜œȱŽ–ŠœȱŠȱ•’–’Š³¨˜ȱŠȱ
capacidade institucional do Judiciário e da discricionariedade técnica do
à›¨˜ȱ ›Žž•Š˜›ǰȱ Šȱ –Š—’ŽœŠ³¨˜ȱ “ž’Œ’Š•ȱ œ˜‹›Žȱ ˜ȱ ™˜—˜ȱ ŽŸŽȱ œŽ›ȱ –Ç—’–Šǰȱ
porquanto essa autonomia e independência das agências reguladoras é
oponível, guardados seus limites, aos três Poderes do Estado, como bem
Šę›–ŠȱŠ›’Šȱ¢•Ÿ’ŠȱŠ—Ž••Šȱ’ȱ’Ž›˜DZȱȃŠǼȱŽ–ȱ›Ž•Š³¨˜ȱŠ˜ȱ˜Ž›ȱŽ’œ•Š’Ÿ˜ǰȱ™˜›šžŽȱ
’œ™äŽ–ȱ Žȱ ž—³¨˜ȱ —˜›–Š’ŸŠǰȱ šžŽȱ “žœ’ęŒŠȱ ˜ȱ —˜›–Šȱ ˜ȱ à›¨˜ȱ ›Žž•Š˜ȱ ˜žȱ Š¹—Œ’Šȱ
›Žž•Š˜›ŠDzȱ ǻ‹Ǽȱ Ž–ȱ ›Ž•Š³¨˜ȱ Š˜ȱ ˜Ž›ȱ ¡ŽŒž’Ÿ˜ǰȱ ™˜›šžŽȱ œžŠœȱ —˜›–Šœȱ Žȱ ŽŒ’œäŽœȱ —¨˜ȱ
™˜Ž–ȱœŽ›ȱŠ•Ž›ŠŠœȱ˜žȱ›ŽŸ’œŠœȱ™˜›ȱŠž˜›’ŠŽœȱŽœ›Š—‘ŠœȱŠ˜ȱ™›à™›’˜ȱà›¨˜DzȱǻŒǼȱŽ–ȱ
›Ž•Š³¨˜ȱŠ˜ȱ˜Ž›ȱ ž’Œ’¤›’˜ǰȱ™˜›šžŽȱ’œ™äŽ–ȱŽȱž—³¨˜ȱšžŠœŽȱ“ž›’œ’Œ’˜—Š•ȱ—˜ȱœŽ—’˜ȱ
ŽȱšžŽȱ›Žœ˜•ŸŽ–ǰȱ—˜ȱ¦–‹’˜ȱŠœȱŠ’Ÿ’ŠŽœȱŒ˜—›˜•ŠŠœȱ™Ž•ŠȱŠ¹—Œ’Šǰȱ•’Ç’˜œȱŽ—›Žȱ˜œȱ
Ÿ¤›’˜œȱ Ž•ŽŠ¤›’˜œȱ šžŽȱ Ž¡Ž›ŒŽ–ȱ œŽ›Ÿ’³˜ȱ ™ø‹•’Œ˜ȱ –Ž’Š—Žȱ Œ˜—ŒŽœœ¨˜ǰȱ ™Ž›–’œœ¨˜ȱ ˜žȱ
Šž˜›’£Š³¨˜ȱŽȱŽ—›ŽȱŽœŽœȱŽȱ˜œȱžœž¤›’˜œȱ˜œȱœŽ›Ÿ’³˜œȱ™ø‹•’Œ˜œ” (DI PIETRO, Maria
Sylvia Zanella. Parcerias na Administração Pública: concessão, permissão,
franquia, terceirização e outras formas. São Paulo: Atlas, 2002, p. 141).
Ex positis, nos termos do art. 303 do CPC/2015, Žę›˜ȱ ™Š›Œ’Š•–Ž—Žȱ ˜ȱ
pedido de tutela antecipada, apenas para suspender os efeitos da Resolução
noȱŖŗȦȱŽȱŘŖȦŖŗȦŘŖŗŜǰȱŠ·ȱšžŽȱœŽȱŽŒ’ŠȱŽę—’’ŸŠ–Ž—Žȱ˜ȱ™›ŽœŽ—ŽȱŽ’˜ǰȱ
devendo a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis —
ANP proceder, conforme sua independência e autonomia funcional, à conti-
nuação do processo administrativo noȱ ŚŞŜŗŖǯŖŖŖŜŗŞȦŘŖŗśȦŗŗǰȱ Ž–ȱ ›¦–’Žȱ
perante a referida agência reguladora, destinado à avaliação da revisão da
Portaria ANP noȱŘŖŜȦŘŖŖŖǰȱŽ’¡Š—˜ȱŽȱŒ˜—œ’Ž›Š›ǰȱ™Š›ŠȱŠȱœžœ™Ž—œ¨˜ȱŠȱ›ŽŠ•’Ȭ
£Š³¨˜ȱ Žȱ Šž’¹—Œ’Šȱ ™ø‹•’ŒŠȱ —ŽœŽȱ Ž’˜ǰȱ ˜ȱ Š˜ȱ ˜ȱ ȱ Œž“˜œȱ ŽŽ’˜œȱ ˜›Šȱ œŽȱ
suspende.
Ž–Š’œǰȱŒ˜—œ’Ž›Š—˜ȱšžŽǰȱœ˜‹ȱž–Šȱà’ŒŠȱ–˜Ž›—Šȱ˜ȱ™›˜ŒŽœœ˜ȱ“ž’Œ’Š•ǰȱ
ŠȱŠœŽȱŒ˜—Œ’•’Šà›’Šȱ·ȱž–ŠȱŽŠ™ŠȱŽȱ—˜à›’Šȱ’–™˜›¦—Œ’ŠȱŽȱ’Š—ŽȱŠȱ™˜œœ’‹’•’Ȭ
ŠŽȱŽȱœŽȱ’—Šžž›Š›ȱž–ȱ™›˜ŒŽœœ˜ȱŽȱ–Ž’Š³¨˜ȱ—ŽœŽȱŽ’˜ǰȱŒŠ™Š£ȱŽȱŽ—œŽ“Š›ȱ
um desfecho conciliatório célere e deveras proveitoso para o interesse público
ǻ™˜œž•Š˜œȱŽ¡™›ŽœœŠ–Ž—ŽȱŠ˜Š˜œȱ™Ž•˜ȱȦŘŖŗśǼǰȱdesigno a realização de
audiência de conciliação e inaugural de um possível processo de mediação,
Šȱ ˜Œ˜››Ž›ȱ Ž–ȱ ŗŚȱ Žȱ “ž—‘˜ȱ Žȱ ŘŖŗŜǰȱ ¥œȱ ŗŗȱ ‘˜›Šœǰȱ —˜ȱ řķȱ Š—Š›ȱ ˜ȱ—Ž¡˜ȱ ȱ ˜ȱ
Supremo Tribunal Federal, em meu Gabinete, nos termos do art. 303, §1º, II,
do CPC/2015, devendo os réus serem citados e todas as partes intimadas para

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essa audiência, bem como seus respectivos procuradores, a ser realizada nos
termos do art. 334 desse mesmo diploma processual.
Além dos réus (União e Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e
’˜Œ˜–‹žœÇŸŽ’œȱ ȯȱǼǰȱ šžŽȱ “¤ȱ œŽ›¨˜ȱ ˜›’—Š›’Š–Ž—Žȱ Œ’Š˜œȱ Žȱ ’—’–Š˜œȱ
quanto à realização da audiência, intime-se pessoalmente o Excelentíssimo
Senhor Procurador-Geral da República, para que possa comparecer pessoal-
mente ou por meio de representante.
Publique-se. Int.
Brasília, 5 de maio de 2016.

Ministro LUIZ FUX


Relator
Documento assinado digitalmente

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