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Inconstitucionalidade da união

poliafetiva

Conselho Nacional de Justiça (CNJ)

Autos: PEDIDO DE PROVIDÊNCIAS — 0001459-08.2016.2.00.0000

Requerente: ASSOCIAÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA E DAS SUCESSÕES


— ADFAS
Advogado: REGINA BEATRIZ TAVARES DA SILVA
Requerido: TERCEIRO TABELIÃO DE NOTAS E PROTESTO DE LETRAS
E TÍTULOS DE SÃO VICENTE-SP
TABELIÃO DE NOTAS E DE PROTESTO DE LETRAS E TÍTULOS DA
COMARCA DE TUPÃ

Ementa

PEDIDO DE PROVIDÊNCIAS. UNIÃO ESTÁVEL POLIAFETIVA. ENTI-


ȱ   ǯȱ 
 ǯȱ    ǯȱ A ǯȱ
CATEGORIA SOCIOCULTURAL. IMATURIDADE SOCIAL DA UNIÃO
POLIAFETIVA COMO FAMÍLIA. DECLARAÇÃO DE VONTADE. INAP-
TIDÃO PARA CRIAR ENTE SOCIAL. MONOGAMIA. ELEMENTO ES-
TRUTURAL DA SOCIEDADE. ESCRITURA PÚBLICA DECLARATÓRIA DE
UNIÃO POLIAFETIVA. LAVRATURA. VEDAÇÃO.
1. A Constituição Federal de 1988 assegura à família a especial proteção do
œŠ˜ǰȱ Š‹Š›ŒŠ—˜ȱ œžŠœȱ ’Ž›Ž—Žœȱ ˜›–Šœȱ Žȱ Š››Š—“˜œȱ Žȱ ›Žœ™Ž’Š—˜ȱ Šȱ ’ŸŽ›Ȭ
sidade das constituições familiares, sem hierarquizá-las.

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 393-406, set./dez. 2018.


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2. A família é um fenômeno social e cultural com aspectos antropológico,


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ž—’¨˜ȱŠŽ’ŸŠȱŒ˜—“žŠ•ȱ— tanto as “matrimonializadas” quanto as “não matri-
monializadas” — são produto social e cultural, pois são reconhecidas como
instituição familiar de acordo com as regras e costumes da sociedade em que
estiverem inseridas.
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direito de forma gradual, uma vez que a mudança cultural surge primeiro e
a alteração legislativa vem depois, regulando os direitos advindos das novas
conformações sociais sobrevindas dos costumes.
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relacionamentos.
5. Apesar da ausência de sistematização dos conceitos, a “união poliafetiva”
— descrita nas escrituras públicas como “modelo de união afetiva múltipla,
Œ˜—“ž—ŠȱŽȱœ’–ž•¦—ŽŠȄȱ— parece ser uma espécie do gênero “poliamor”.
6. Os grupos familiares reconhecidos no Brasil são aqueles incorporados aos
costumes e à vivência do brasileiro, e a aceitação social do “poliafeto” importa
™Š›Šȱ˜ȱ›ŠŠ–Ž—˜ȱ“ž›Ç’Œ˜ȱŠȱ™›ŽŽ—œŠȱŠ–Ç•’Šȱȃ™˜•’ŠŽ’ŸŠȄǯ
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inabilita o “poliafeto” como instituidor de entidade familiar no atual estágio
Šȱœ˜Œ’ŽŠŽȱŽȱŠȱŒ˜–™›ŽŽ—œ¨˜ȱ“ž›’œ™›žŽ—Œ’Š•ǯȱ—’䎜ȱ˜›–ŠŠœȱ™˜›ȱ–Š’œȱ
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8. A sociedade brasileira não incorporou a “união poliafetiva” como forma
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tante a essa modalidade de relacionamento, que ainda carece de matu-
ração. Situações pontuais e casuísticas que ainda não foram submetidas ao
necessário amadurecimento no seio da sociedade não possuem aptidão para
ser reconhecidas como entidade familiar.
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entidade familiar na sociedade brasileira, a matéria pode ser disciplinada por
•Ž’ȱŽœ’—ŠŠȱŠȱ›ŠŠ›ȱŠœȱœžŠœȱŽœ™ŽŒ’ęŒ’ŠŽœǰȱ™˜’œȱŠǼȱŠœȱ›Ž›ŠœȱšžŽȱ›Žž•Š–ȱ
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Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 393-406, set./dez. 2018.


CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ) | Inconstitucionalidade da união poliafetiva 395

šžŠ—’ŠŽȱŽȱŸÇ—Œž•˜œDzȱŽȱ‹ǼȱŽ¡’œŽ–ȱŒ˜—œŽšž¹—Œ’Šœȱ“ž›Ç’ŒŠœȱšžŽȱŽ—Ÿ˜•ŸŽ–ȱ
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vontade dos envolvidos.
10. A escritura pública declaratória é o instrumento pelo qual o tabelião dá
Œ˜—˜›—˜ȱ “ž›Ç’Œ˜ȱ ¥ȱ –Š—’ŽœŠ³¨˜ȱ Šȱ Ÿ˜—ŠŽȱ ˜ȱ ŽŒ•Š›Š—Žǰȱ Œž“˜ȱ Œ˜—Žø˜ȱ
ŽŸŽȱœŽ›ȱ•ÇŒ’˜ǰȱž–ŠȱŸŽ£ȱšžŽȱœ’žŠ³äŽœȱŒ˜—›¤›’Šœȱ¥ȱ•Ž’ȱ—¨˜ȱ™˜Ž–ȱœŽ›ȱ˜‹“Ž˜ȱ
desse ato notarial.
11. A sociedade brasileira tem a monogamia como elemento estrutural e os
tribunais repelem relacionamentos que apresentam paralelismo afetivo, o
que limita a autonomia da vontade das partes e veda a lavratura de escritura
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outros perante o tabelião não faz surgir nova modalidade familiar e a posse
da escritura pública não gera efeitos de Direito de Família para os envolvidos.
ŗřǯȱŽ’˜ȱŽȱ™›˜Ÿ’¹—Œ’Šœȱ“ž•Š˜ȱ™›˜ŒŽŽ—Žǯ

Acórdão

Após o voto do Conselheiro Valdetário Andrade Monteiro (vistor), o Conselho,


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Vencidos, parcialmente, os Conselheiros Aloysio Corrêa da Veiga, Daldice
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Ž—›’šžŽȱŸ’•ŠȱŽȱŠȱ›Žœ’Ž—ŽȱŽȱ˜ȱ˜—œŽ•‘Ž’›˜ȱ
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Noronha, Aloysio Corrêa da Veiga, Iracema do Vale, Valtércio de Oliveira,
¤›Œ’˜ȱŒ‘’ŽĚŽ›ȱ˜—ŽœǰȱŽ›—Š—˜ȱŠĴ˜œǰȱžŒ’Š—˜ȱ›˜Šǰȱ›—Š•˜ȱ
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Ž—›’šžŽȱŸ’•Šǯȱ
Autos:

PEDIDO DE PROVIDÊNCIAS — 0001459-08.2016.2.00.0000


Requerente: ASSOCIAÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA E DAS SUCESSÕES
— ADFAS Advogado: REGINA BEATRIZ TAVARES DA SILVA
Requerido: TERCEIRO TABELIÃO DE NOTAS E PROTESTO DE LETRAS
E TÍTULOS DE SÃO VICENTE-SP

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TABELIÃO DE NOTAS E DE PROTESTO DE LETRAS E TÍTULOS DA


COMARCA DE TUPÃ

Relatório

Em síntese, sustenta a inconstitucionalidade na lavratura de escritura pública


Žȱȃž—’¨˜ȱ™˜•’ŠŽ’ŸŠȄǰȱŽ—˜ȱŽ–ȱŸ’œŠȱŠȱŠ•ŠȱŽȱŽęŒ¤Œ’Šȱ“ž›Ç’ŒŠȱŽȱŸ’˜•Š³¨˜ȱ
ŠǼȱ ˜œȱ ™›’—ŒÇ™’˜œȱ Š–’•’Š›Žœȱ ‹¤œ’Œ˜œDzȱ ‹Ǽȱ Šœȱ ›Ž›Šœȱ Œ˜—œ’žŒ’˜—Š’œȱ œ˜‹›Žȱ
Š–Ç•’ŠDzȱŒǼȱŠȱ’—’ŠŽȱŠȱ™Žœœ˜Šȱ‘ž–Š—ŠDzȱǼȱŠœȱ•Ž’œȱŒ’Ÿ’œDzȱŽȱŽǼȱŠȱ–˜›Š•ȱŽȱ
dos costumes brasileiros.
ŽŽ—ŽȱšžŽȱŠȱŽ¡™›Žœœ¨˜ȱȃž—’¨˜ȱ™˜•’ŠŽ’ŸŠȄȱ·ȱž–ȱŽ—˜˜ȱ—Šȱ–Ž’ŠȱŽ–ȱšžŽȱ
œŽȱ ™›˜Œž›Šȱ ŸŠ•’Š›ȱ ›Ž•ŠŒ’˜—Š–Ž—˜œȱ Œ˜–ȱ ˜›–Š³¨˜ȱ ™˜•’¦–’ŒŠȱ Žȱ šžŽȱ ˜Šœȱ
as tentativas de ampliação das entidades familiares para acolhimento da
poligamia são contrárias ao §3º do art. 226 da CF/88.
Aponta equívoco nas referências à “lacuna legal no reconhecimento desse
–˜Ž•˜ȱ Žȱ ž—’¨˜ȱ ŠŽ’ŸŠȱ –ø•’™•Šȱ Žȱ œ’–ž•¦—ŽŠȄȱ Œ˜—œŠ—Žȱ Šœȱ ŽœŒ›’ž›Šœȱ
™øȱ‹•’ŒŠœǰȱ ž–Šȱ ŸŽ£ȱ šžŽȱ Šȱ ˜—œ’ž’³¨˜ȱ ŽŽ›Š•ȱ ·ȱ Ž¡™›ŽœœŠȱ Š˜ȱ •’–’Š›ȱ Šȱ žŠœȱ
pessoas a constituição de união estável.
Adverte que o 3º Cartório de Notas de São Vicente, o Tabelionato de Notas
e de Protesto de Letras e Títulos de Tupã e o 15º Tabelionato de Notas do
Rio de Janeiro vêm lavrando escrituras públicas de “uniões poliafetivas”.
A atual tabeliã do 3º Tabelião de Notas de São Vicente, que também foi
Š‹Ž•’¨ȱ˜ȱŠ›à›’˜ȱŽȱ˜ŠœȱŽȱž™¨ǰȱŠę›–˜žȱŽ›ȱŒŽ•Ž‹›Š˜ȱ™Ž•˜ȱ–Ž—˜œȱ˜’˜ȱ
escrituras dessa modalidade de “união estável”.
Requer, cautelarmente, a proibição da lavratura de escrituras públicas de
ȃž—’䎜ȱ™˜•’ŠŽ’ŸŠœȄȱ™Ž•ŠœȱœŽ›ŸŽ—’ŠœȱŽ¡›Š“ž’Œ’Š’œȱ˜ȱ›Šœ’•ȱŽǰȱ—˜ȱ–·›’˜ǰȱŠȱ
regulamentação da questão pela Corregedoria Nacional de Justiça.
œȱ Œ˜››ŽŽ˜›’ŠœȬŽ›Š’œȱ Žȱ “žœ’³Šȱ ˜œȱ œŠ˜œȱ ˜›Š–ȱ ’—’–ŠŠœȱ ™Š›Šȱ ’—˜›Ȭ
–Š›ȱ ¥œȱ œŽ›ŸŽ—’Šœȱ Ž¡›Š“ž’Œ’Š’œȱ Žȱ —˜Šœȱ Šȱ Ž¡’œ¹—Œ’Šȱ ŽœœŽȱ ™›˜ŒŽ’–Ž—˜ȱ Žȱ
recomendar aos titulares a conveniência de aguardar a conclusão para la-
vrar novas escrituras declaratórias de “uniões poliafetivas”. Além disso, a
Corregedoria-Geral de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (CGJ-RJ) e a do
Estado de São Paulo (CGJ-SP) foram chamadas a manifestar-se sobre os fatos
e argumentos narrados na inicial (Id 1922769).
ȱ  Ȭ ȱ ’—˜›–˜žȱ šžŽǰȱ Š˜ȱ Œ’›Œž•Š›ȱ —˜ÇŒ’Šȱ “˜›—Š•Çœ’ŒŠȱ Šȱ •ŠŸ›Šž›Šȱ Žȱ ŽœȬ
critura declaratória de “união poliafetiva” pelo Serviço do 15º Ofício de
Notas da comarca da capital, analisou cópia do ato lavrado e veiculou nota

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 393-406, set./dez. 2018.


CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ) | Inconstitucionalidade da união poliafetiva 397

de esclarecimento, alertando para a natureza do ato praticado, a limitação de


efeitos e cuidados que precisam ser conhecidos pelos envolvidos, notadamente
a natureza estritamente declaratória, não constitutiva de direitos, além do não
›ŽŒ˜—‘ŽŒ’–Ž—˜ȱ™˜›ȱ™Š›Žȱ˜ȱ˜›Ž—Š–Ž—˜ȱ“ž›Ç’Œ˜ȱŽȱœžŠȱ—¨˜ȱŽšž’™Š›Š³¨˜ȱŠ˜œȱ
efeitos do casamento civil (Id 1938178).
ȱ Ȭȱ›˜ž¡ŽȱŒà™’ŠœȱŠœȱŽœŒ›’ž›Šœȱ™ø‹•’ŒŠœȱŸŽ›œŠŠœȱ—Šȱ’—’Œ’Š•ȱǻ ȱŗşŚŚşŞŘǼǯ
A Anoreg/BR, o Colégio Notarial do Brasil/CF e o Instituto Brasileiro de Di-
reito de Família (IBDFAM) foram instados a pronunciar-se acerca do tema (Id
1940316).
O IBDFAM (Id 2073492) defende a improcedência do pedido. Alega que a
˜—œ’ž’³¨˜ȱŽŽ›Š•ȱ—¨˜ȱŠ™›ŽœŽ—Šȱ›˜•ȱŠ¡Š’Ÿ˜ȱŽȱ˜›–ŠœȱŽȱŒ˜—œ’ž’³¨˜ȱŽȱ
Š–Ç•’ŠȱŽȱŽœŽ—ŽȱœžŠȱžŽ•ŠȱŠȱšžŠ•šžŽ›ȱŠ–Ç•’ŠǰȱœŽ–ȱŒ•¤žœž•ŠȱŽȱŽ¡Œ•žœ¨˜ȱ—Ž–ȱ
Žȱ‘’Ž›Š›šž’Šǯȱꛖ˜žȱšžŽȱ˜ȱŽœŠ˜ȱ•Š’Œ˜ǰȱconditio sine qua non da autêntica
democracia, assegura a pluralidade de ideias, a diversidade das conformações
sociais e, portanto, das múltiplas formas de constituição de família, incluindo
Šœȱȃž—’䎜ȱ™˜•’ŠŽ’ŸŠœȄǯȱ’—ŠȱšžŽȱœ’—’ęŒŠ’ŸŠȱ™Š›ŽȱŠȱ™˜™ž•Š³¨˜ȱŽ—‘ŠȱŠȱ
monogamia como regra ou princípio em decorrência de sua formação religiosa
ou moral, não é possível impor tal princípio ou regra como norma estatal.
ȱšžŽȱŠ£ȱŠȱŠ–Ç•’Šȱ—¨˜ȱ·ȱŠȱŠŽšžŠ³¨˜ȱŽœŠȱ¥ȱŽœ›žž›Šȱ•ŽŠ•ȱ™›ŽŽę—’Šǰȱ–Šœȱ
a realização de uma função constitucional.
ŽšžŽ›ȱ šžŽȱ ˜ȱ ™Ž’˜ȱ œŽ“Šȱ “ž•Š˜ȱ ’–™›˜ŒŽŽ—Žȱ ™˜›šžŽȱ ȃ˜‹œŠ›ȱ ˜ȱ ›ŽŒ˜—‘ŽȬ
Œ’–Ž—˜ȱ“ž›Ç’Œ˜ȱŠœȱž—’䎜ȱ™˜•’ŠŽ’ŸŠœȱŠ›˜—Š›’Šȱ˜œȱ™›’—ŒÇ™’˜œȱŠȱ•’‹Ž›ŠŽǰȱ
igualdade, não intervenção estatal na vida privada, não hierarquização das
formas constituídas de família e pluralidade das formas constituídas de
família” (Id 2073492).
O CNB/CF discorre acerca da proteção constitucional à família e da alteração
histórica do instituto. Argumenta que a atividade notarial no Brasil é autô-
—˜–ŠȱŽȱ’—Ž™Ž—Ž—Žȱ™Š›Šȱ™›¤’ŒŠȱŽȱŠ˜œȱŽȱŠœœŽœœ˜›Š–Ž—˜ȱ“ž›Ç’Œ˜ȱ’–ȱ™Š›Œ’Š•ȱ
¥œȱ ™Š›Žœǰȱ ŒŠ›ŠŒŽ›Çœ’ŒŠœȱ ™ŽŒž•’Š›Žœȱ ˜ȱ —˜Š›’Š˜ȱ ˜ȱ ’™˜ȱ •Š’—˜ǯȱ 1ȱ Š›ŽŠȱ ˜ȱ
—˜¤›’˜ȱšžŠ•’ęŒŠ›ȱŠœȱ™Š›ŽœȱšžŽȱ™Ž›Š—ŽȱŽ•ŽȱŒ˜–™Š›ŽŒŽ–ǰȱŠŽœŠ—˜ȱœžŠȱŒŠ™ŠȬ
Œ’ŠŽȱŽȱ’Ž—’ŠŽȱ™Š›ŠǰȱŽ™˜’œǰȱŠ›ȱ˜œȱŒ˜—˜›—˜œȱ“ž›Ç’Œ˜œȱ¥ȱ–Š—’ȱŽœŠ³¨˜ȱŠȱ
Ÿ˜—ŠŽǯȱœœ’–ǰȱ˜ȱŠ˜ȱ’—›ŽœœŠȱ—˜ȱ–ž—˜ȱ“ž›Ç’Œ˜ȱŽȱ˜›—ŠȬœŽȱŠ™˜ȱŠȱ™›˜ž£’›ȱ
efeitos.
Š›ŠȱŠȱœ’žŠ³¨˜ȱŽœ™ŽŒÇꌊȱŠȱȃ™˜•’ŠŽ’Ÿ’ŠŽȄǰȱ—˜ȱ¦–‹’˜ȱ˜ȱŠœœŽœœ˜›Š–Ž—˜ȱ
“ž›Ç’Œ˜ǰȱ˜ȱ—˜¤›’˜ȱŽŸŽ›¤ȱŽ¡™˜›ȱ¥œȱ™Š›Žœȱ’—Ž›ŽœœŠŠœȱŠȱŠžœ¹—Œ’ŠȱŽȱ•Ž’œ•Š³¨˜ȱ
Žȱ™˜œœÇŸŽ•ȱŠ™›ŽŒ’Š³¨˜ȱ“ž’Œ’Š•ȱŠȱšžŽœ¨˜ȱ—˜ȱžž›˜ǰȱ–Šœȱ—¨˜ȱ™˜Žȱ’–™Ž’›ȱ˜ȱ
Ž¡Ž›ŒÇŒ’˜ȱŠȱŠž˜—˜–’Šȱ™›’ŸŠda. A escritura pública declaratória de vínculo

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ȃ™˜•’ŠŽ’Ÿ˜Ȅȱ ˜›–Šȱ ž–Šȱ ™›˜ŸŠȱ šžŠ•’ęŒŠŠȱ Žȱ —¨˜ȱ ‘¤ȱ “žœ’ęŒŠ’ŸŠȱ ™•ŠžœÇŸŽ•ȱ


para o pedido de proibição da lavratura do ato (Id 2093034).
ȱ—˜›ŽȦǰȱŠ™ŽœŠ›ȱŽȱ™›˜Ÿ˜ŒŠŠȱ™˜›ȱžŠœȱŸŽ£Žœǰȱ–Š—ŽŸŽȬœŽȱœ’•Ž—Žǯȱ1ȱ˜ȱ
relatório.

Autos: PEDIDO DE PROVIDÊNCIAS — 0001459-08.2016.2.00.0000

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E TÍTULOS DE SÃO VICENTE-SP
TABELIÃO DE NOTAS E DE PROTESTO DE LETRAS E TÍTULOS DA
COMARCA DE TUPÃ

Voto

O EXMO. SR. MINISTRO JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, CORREGEDOR


NACIONAL DE JUSTIÇA (Relator):
Os autos trazem pedido formulado pela Associação de Direito de Família e
ŠœȱžŒŽœœäŽœȱ™Š›ŠȱšžŽȱœŽ“Šȱ™›˜’‹’ŠȱŠȱ•ŠŸ›Šž›ŠȱŽȱŽœŒ›’ž›Šœȱœ˜‹›Žȱȃž—’䎜ȱ
™˜•’ŠŽ’ŸŠœȄȱ Žȱ œŽȱ Ž¡™Ž³Š–ȱ ™›˜Ÿ’–Ž—˜œǰȱ ’—œ›ž³äŽœȱ ˜žȱ ›ŽŒ˜–Ž—Š³äŽœȱ Š˜œȱ
serviços notariais do Brasil acerca da questão.
A Constituição Federal de 1988 assegura à família a especial proteção do
œŠ˜ǰȱ Š‹Š›ŒŠ—˜ȱ œžŠœȱ ’Ž›Ž—Žœȱ ˜›–Šœȱ Žȱ Š››Š—“˜œȱ Žȱ ›Žœ™Ž’Š—˜ȱ Šȱ ’ŸŽ›Ȭ
sidade das constituições familiares. Conforme argumenta o IBDFAM, não há
hierarquia entre as formas elencadas na Constituição Federal e o rol trazido no
art. 226 — casamento, união estável e família monoparental —ȱ—¨˜ȱ·ȱŠ¡Š’Ÿ˜ǰȱ
Žȱœ’–ȱŽ¡Ž–™•’ęŒŠ’Ÿ˜ȱŠœȱ–ø•’™•Šœȱ˜›–ŠœȱŽȱœŽȱŒ˜—œ’ž’›ȱŠ–Ç•’Šǯ
A proteção encontra previsão na lei, que estabelece ser defeso a qualquer
pessoa, de direito público ou privado, interferir na comunhão de vida insti-
tuída pela família (art. 1.513 do Código Civil).

’œ˜›’ŒŠ–Ž—Žǰȱ˜Œ˜››Ž›Š–ȱ–žŠ—³Šœȱ—˜ȱ’›Ž’˜ȱŽȱŠ–Ç•’Šȱ™¤›’˜ǯȱȱ™›’—ŒÇ™’˜ǰȱ
os grupos familiares originavam-se do casamento religioso e, posteriormente,
do casamento civil. Avançando no tempo, passou-se a reconhecer direitos ao
concubinato puro, que evoluíram até que, sob a denominação de união estável,

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 393-406, set./dez. 2018.


CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ) | Inconstitucionalidade da união poliafetiva 399

passou a ser compreendido como forma de união familiar. Adiante, houve o


reconhecimento da entidade familiar fundada na relação homoafetiva.
Aludidas alterações provocaram desconforto em parte da sociedade e, apesar
das reações contrárias que ecoam inicialmente, a consolidação dos avanços e
a tutela das uniões não sofreram empecilhos.
A pluralidade de formas de constituição familiar foi considerada pelo Supre-
mo Tribunal Federal ao tratar do reconhecimento da união estável formada
™˜›ȱ ™Žœœ˜Šœȱ ˜ȱ –Žœ–˜ȱ œŽ¡˜ǯȱ ȱ ˜›Žȱ ž™›Ž–Šȱ ›ŽŒ˜—‘ŽŒŽȱ Šȱ Š–Ç•’Šȱ Œ˜–˜ȱ
instituição privada, voluntariamente constituída entre pessoas adultas, que
mantém com o Estado e a sociedade uma relação tricotômica.
Transcrevo trecho da ementa da ADI n. 4.277 e da ADPF n. 132, que esclarece
bem a questão:
ǽǯǯǯǾ
3. TRATAMENTO CONSTITUCIONAL DA INSTITUIÇÃO DA FAMÍLIA.
ȱ
 ȱȱȱȱ  ,!ȱȱ!ȱȬ
ȱȱ ȱȃA Ȅȱ
ȱ   ȱȱ
ȱȱX ȱ1 ȱ A ǯȱȱA ȱȱ  ȱ
SOCIOCULTURAL E PRINCÍPIO ESPIRITUAL. DIREITO SUBJETIVO DE
CONSTITUIR FAMÍLIA. INTERPRETAÇÃO NÃO REDUCIONISTA. O caput
do art. 226 confere à família, base da sociedade, especial proteção do Estado.
Ênfase constitucional à instituição da família. Família em seu coloquial ou
™›˜ŸŽ›‹’Š•ȱ œ’—’ęŒŠ˜ȱ Žȱ —øŒ•Ž˜ȱ ˜–·œ’Œ˜ǰȱ ™˜žŒ˜ȱ ’–™˜›Š—˜ȱ œŽȱ ˜›–Š•ȱ
ou informalmente constituída, ou se integrada por casais heteroafetivos ou
™˜›ȱ™Š›Žœȱ‘˜–˜ŠŽ’Ÿ˜œǯȱȱ˜—œ’ž’³¨˜ȱŽȱŗşŞŞǰȱŠ˜ȱž’•’£Š›ȬœŽȱŠȱŽ¡™›Žœœ¨˜ȱ
“família”, não limita sua formação a casais heteroafetivos nem a formalidade
cartorária, celebração civil ou liturgia religiosa. Família como instituição
privada que, voluntariamente constituída entre pessoas adultas, mantém com
o Estado e a sociedade civil uma necessária relação tricotômica. Núcleo familiar
que é o principal lócus institucional de concreção dos direitos fundamentais
que a própria Constituição designa por “intimidade e vida privada” (inciso
X do art. 5º). Isonomia entre casais heteroafetivos e pares homoafetivos que
œ˜–Ž—ŽȱŠ—‘Šȱ™•Ž—’žŽȱŽȱœŽ—’˜ȱœŽȱŽœŽ–‹˜ŒŠ›ȱ—˜ȱ’žŠ•ȱ’›Ž’˜ȱœž‹“Ž’Ÿ˜ȱ
¥ȱ ˜›–Š³¨˜ȱ Žȱ ž–Šȱ Šž˜—˜–’£ŠŠȱ Š–Ç•’Šǯȱ Š–Ç•’Šȱ Œ˜–˜ȱ ꐞ›Šȱ ŒŽ—›Š•ȱ ˜žȱ
continente, de que tudo o mais é conteúdo. Imperiosidade da interpretação
não reducionista do conceito de família como instituição que também se forma
por vias distintas do casamento civil. Avanço da Constituição Federal de 1988
no plano dos costumes. Caminhada na direção do pluralismo como categoria
sócio-político-cultural. Competência do Supremo Tribunal Federal para

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 393-406, set./dez. 2018.


400 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O

–Š—Ž›ǰȱ ’—Ž›™›ŽŠ’ŸŠ–Ž—Žǰȱ ˜ȱ Ž¡˜ȱ Š—˜ȱ —Šȱ ™˜œœŽȱ ˜ȱ œŽžȱ ž—Š–Ž—Š•ȱ


atributo da coerência, o que passa pela eliminação de preconceito quanto à
˜›’Ž—Š³¨˜ȱœŽ¡žŠ•ȱŠœȱ™Žœœ˜ŠœǯȱǻŽ–ȱŽœŠšžŽœȱ—˜ȱ˜›’’—Š•ǯǼ
˜–ȱ‹ŠœŽȱŽ–ȱž–Šȱ’—Ž›™›ŽŠ³¨˜ȱ’—¦–’ŒŠȱŽȱŠŽ—Šȱ¥œȱ›Š—œ˜›–Š³äŽœȱœ˜Œ’Š’œǰȱ
˜ȱ›ŠŒ’˜ŒÇ—’˜ȱ›Š£’˜ȱ—ŽœœŽȱ“ž•Š˜ȱ›Ž’›ŠȱŽŸŽ—žŠ’œȱŠ–Š››ŠœȱŽ¡žŠ’œȱ™Š›ŠȱŠȱ—¨˜ȱ
admissão de formas plurais de família.
Sabe-se que a família não é um fenômeno da natureza, mas da cultura, que
œŽȱ›Š—œ˜›–Šȱ‘’œ˜›’ŒŠ–Ž—ŽDzȱ™˜œœž’ȱŒ˜—˜›–Š³äŽœȱ’Ž›Ž—ŽœȱŠȱŽ™Ž—Ž›ȱŠȱ
¤›ŽŠȱŽ˜›¤ęŒŠȱŽ–ȱšžŽȱœŽ“Šȱ˜›–ŠŠDzȱŠ–‹·–ȱ™˜œœž’ȱŠœ™ŽŒ˜œȱŠ—›˜™˜•à’Œ˜ǰȱ
œ˜Œ’Š•ȱ Žȱ “ž›Ç’Œ˜ǯȱ žŠœȱ ŒŠ›ŠŒŽ›Çœ’ŒŠœȱ ›ŽĚŽŽ–ȱ Šȱ œ˜Œ’ŽŠŽȱ Žȱ œŽžȱ Ž–™˜ȱ Žȱ
lugar, o que a faz um fenômeno social e cultural.
œȱ˜›–ŠœȱŽȱž—’¨˜ȱŠŽ’ŸŠȱŒ˜—“žŠ•ȱ— tanto as “matrimonializadas” quanto
as “não matrimonializadas” — também são produto social e cultural, uma
vez que são reconhecidas como instituição familiar de acordo com as regras e
costumes da sociedade em que estiverem inseridas.
Šœœ’ŸŠ–Ž—ŽǰȱŠȱ˜›–ŠȱŽȱ›Ž•ŠŒ’˜—Š–Ž—˜ȱŒ˜—“žŠ•ȱŽœŠ‹Ž•ŽŒ’Šȱ—˜œȱ›Ž•ŠŒ’˜Ȭ
namentos humanos por todo o mundo é a monogamia, que prevê que o indi-
víduo tenha apenas um parceiro durante a vida ou um parceiro de cada vez,
durante períodos dela.
–ȱ–Ž—˜›ȱšžŠ—’ŠŽǰȱŽ¡’œŽ–ȱœ˜Œ’ŽŠŽœȱšžŽȱŠ–’Ž–ȱŠȱ™˜•’Š–’ŠǰȱŒ˜–Ȭ
™›ŽŽ—ȱ’Šȱ Œ˜–˜ȱ ˜ȱ ›Ž•ŠŒ’˜—Š–Ž—˜ȱ Œ˜—“žŠ•ȱ ŽœŠ‹Ž•ŽŒ’˜ȱ ™˜›ȱ ž–Šȱ ™Žœœ˜Šȱ
com dois ou mais parceiros, de maneira concomitante. Tem-se, assim, uma
pessoa formando duas ou mais uniões paralelas: o afeto é direcionado para
˜’œȱ˜žȱ–Š’œȱœž“Ž’˜œǰȱ˜›–Š—˜ȱ—øŒ•Ž˜œȱ’œ’—˜œȱŽȱœ’–ž•¦—Ž˜œǰȱ–ž’ŠœȱŸŽ£Žœȱ
Œ˜—Ě’Š—Žœǯ
ž•ž›Š•ȱŽȱ“ž›’’ŒŠ–Ž—ŽǰȱŽ–˜œȱ—˜ȱ›Šœ’•ȱž—’䎜ȱ˜›–ŠŠœȱ™˜›ȱžŠœȱ™Žœœ˜Šœȱ
Žȱ˜›–Šȱ–˜—˜¦–’ŒŠǯȱȱ›Ž•ŠŒ’˜—Š–Ž—˜ȱ™˜•’¦–’Œ˜ȱ—¨˜ȱ·ȱœ˜Œ’Š•–Ž—ŽȱŠŒŽ’˜ȱ
—˜ȱ™ŠÇœǯȱ•’¤œǰȱŠȱ‹’Š–’Šȱ·ǰȱ’—Œ•žœ’ŸŽǰȱŒ˜—žŠȱ’™’ęŒŠŠȱ—˜ȱà’˜ȱŽ—Š•ǯȱ¨˜ȱ
œŽȱ—ŽŠȱŠȱŽ¡’œ¹—Œ’ŠȱŽȱŠ–Ç•’Šœȱ™˜•’¦–’ŒŠœȱŽȱŠ˜ǰȱ–Šœȱ˜ȱœ’œŽ–Šȱ“ž›Ç’Œ˜ȱ
pátrio não as admite.
œȱ ›Ž•Š³äŽœȱ ȃ™˜•’Š–˜›˜œŠœȄȱ ’Ž›Ž–ȬœŽȱ Šȱ ™˜•’Š–’Šȱ Žȱ Œ˜—ꐞ›Š–ȬœŽȱ ™Ž•Šȱ
ž—’¨˜ȱ–ø•’™•ŠȱŽȱœ’–ž•¦—ŽŠȱŽȱ›¹œȱ˜žȱ–Š’œȱ™Žœœ˜Šœǯȱ™ŽœŠ›ȱŽȱ—¨˜ȱœŽȱŠ™›ŽȬ
sentar bem sistematizada, é possível encontrar, em páginas da internet
voltadas para os interessados em “poliamorismo”, algumas formas desse tipo
Žȱ›Ž•ŠŒ’˜—Š–Ž—˜ǯȱ¡’œŽȱŠȱȃ›Ž•Š³¨˜ȱŽ–ȱ›ž™˜ȄǰȱšžŠ—˜ȱ˜˜œȱ˜œȱ–Ž–‹›˜œȱ
›Ž•ŠŒ’˜—Š–ȬœŽȱ Ž—›Žȱ œ’Dzȱ ‘¤ȱ ž–Šȱ ȃ›ŽŽȱ Žȱ ›Ž•ŠŒ’˜—Š–Ž—˜œȱ ’—Ž›Œ˜—ŽŒŠ˜œȄǰȱ
quando cada um dos membros tem relacionamentos “poliamorosos” distintos
˜œȱ™Š›ŒŽ’›˜œDzȱŽ¡’œŽ–ȱȃ›Ž•Š³äŽœȱŽ–ȱȁȂȄǰȱšžŠ—˜ȱ›¹œȱ™Žœœ˜Šœȱ—Š–˜›Š–ǰȱ–Šœȱ

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 393-406, set./dez. 2018.


CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ) | Inconstitucionalidade da união poliafetiva 401

žŠœȱ¹–ȱ›Ž•Š³¨˜ȱ–Š’œȱœà•’Šǰȱ™˜›ȱŽ¡Ž–™•˜ǰȱž–ȱŒŠœŠ•ȱšžŽȱ—Š–˜›Šȱž–ŠȱŽ›ŒŽ’›Šȱ
™Žœœ˜ŠDzȱŽȱ‘¤ȱ›Ž•Š³äŽœȱŽ–ȱšžŽȱž–ȱ˜œȱ™Š›ŒŽ’›˜œȱ·ȱŠŽ™˜ȱ˜ȱȃ™˜•’Š–˜›ȄȱŽȱ˜ȱ
outro opta pela monogamia.
Apesar de não ter encontrado sistematização dos conceitos, a “união polia-
fetiva” — descrita nas escrituras públicas como “modelo de união afetiva
–ø•’™•Šǰȱ Œ˜—“ž—Šȱ Žȱ œ’–ž•¦—ŽŠȄȱ — parece ser uma espécie do gênero
“poliamor”.
Essa forma de relacionamento é muito recente e pode indicar uma revolução
de costumes em curso. No mundo, há notícias do surgimento do “poliamor”
—Šȱ·ŒŠŠȱŽȱşŖDzȱ—˜ȱ›Šœ’•ǰȱ˜ȱ™›’–Ž’›˜ȱ›Ž’œ›˜ȱŽȱž—’¨˜ȱȃ™•ø›’–ŠȄȱ˜’ȱŽ’˜ȱ—Šȱ
cidade de Tupã, em 13/2/2012, por três pessoas que se relacionavam havia três
anos. Assim, se a prática de “poliamor” é recente, a pretensa constituição de
“união poliafetiva” no Brasil é recentíssima.
Além de recente, o tema é praticamente ausente da vida social dos cidadãos
Žȱ·ȱ™˜žŒ˜ȱŽ‹Š’˜ȱŠ·ȱ–Žœ–˜ȱ—ŠȱŒ˜–ž—’ŠŽȱ“ž›Ç’ŒŠǯȱȱ’—œ’ž˜ȱŽ—Œ˜—›Šȱ
’ęŒž•ŠŽœȱŽȱŒ˜—ŒŽ’žŠ³¨˜ȱŒ•Š›ŠǰȱŒ˜–ȱŽœ™ŽŒ’ęŒŠ³¨˜ȱ˜œȱŽ•Ž–Ž—˜œȱŽȱ›Žšž’Ȭ
œ’˜œȱŠȱ›Ž•Š³¨˜ȱȃ™˜•’ŠŽ’ŸŠȄǰȱž–ŠȱŸŽ£ȱšžŽȱŽ¡’œŽȱž–ȱ›Š—Žȱ—ø–Ž›˜ȱŽȱŽ¡™ŽȬ
riências possíveis para os relacionamentos.
ȱ™›˜™àœ’˜ȱŠȱ’ŸŽ›œ’ŠŽȱŽȱŽ¡™Ž›’¹—Œ’Šœǰȱ–Ž—Œ’˜—˜ȱšžŽȱŠȱ›ŽšžŽ›Ž—Žȱ’—œȬ
truiu os autos com duas escrituras públicas declaratórias de união estável e
žŠœȱ–Š·›’Šœȱ“˜›—Š•Çœ’ŒŠœȱ›ŠŠ—˜ȱ˜ȱŽ–ŠǰȱŒŠŠȱž–ŠȱŒ˜–ȱŽ™˜’–Ž—˜ȱŽȱ
um grupo “poliafetivo”. Em um dos grupos entrevistados, o relacionamento
™Š›ŽŒŽȱ Ž—šžŠ›Š›ȬœŽȱ —Šȱ Žę—’³¨˜ȱ Žȱ ȃ›Ž•Š³¨˜ȱ Ž–ȱ ›ž™˜Ȅǰȱ Ž–ȱ šžŽȱ ˜˜œȱ ˜œȱ
–Ž–‹›˜œȱ ›Ž•ŠŒ’˜—Š–ȬœŽȱ Ž—›Žȱ œ’ȱ ǻ ȱ ŗşŗŚśŘŞǼDzȱ —˜ȱ ˜ž›˜ȱ ›ž™˜ȱ Ž—›ŽŸ’œŠ˜ǰȱ
o relacionamento assemelha-se a uma poligamia consentida: um homem
constituiu dois relacionamentos paralelos, nos quais as mulheres tornaram-se
amigas e passaram a viver em apartamentos contíguos (Id 1914527).
ŽœŠŒ˜ȱŽœœŽœȱŽ¡Ž–™•˜œȱ™Š›ŠȱŽ¡™•’Œ’Š›ȱšžŽȱŠȱ’ŸŽ›œ’ŠŽȱŽȱŽ¡™Ž›’¹—Œ’ŠœȱŽȱŠȱ
Š•ŠȱŽȱŠ–Šž›ŽŒ’–Ž—˜ȱ˜ȱŽ‹ŠŽȱœ¨˜ȱž–ŠȱŠœȱ’ęŒž•ŠŽœȱ—˜ȱ›ŠŠ–Ž—˜ȱ
do poliafeto como instituidor de entidade familiar no atual estágio da socie-
ŠŽȱ Žȱ Šȱ Œ˜–™›ŽŽ—œ¨˜ȱ “ž›’œ™›žŽ—Œ’Š•DZȱ Šȱ ™›ŽŽ¡˜ȱ Žȱ œŽȱ Œ›’Š›ȱ ž–ȱ ›ž™˜ȱ
ø—’Œ˜ǰȱ ™˜Ž›ȬœŽȬ’Šȱ ›ŽŒ˜—‘ŽŒŽ›ȱ Œ˜–˜ȱ Š–Ç•’Šȱ Šȱ Ž¡’œ¹—Œ’Šȱ Žȱ ž—’䎜ȱ Žœ¤ŸŽ’œȱ
œ’–ž•ȱ¦—ŽŠœǰȱŽœŽȱšžŽȱ‘˜“Žȱ·ȱ›ŽŒ‘Š³ŠŠȱ™Ž•˜œȱ›’‹ž—Š’œǯ
Retomando a percepção de família como fenômeno sociocultural e a noção
de que as formas familiares reconhecidas no Brasil são aquelas que estão
incorporadas aos costumes ou à vivência do brasileiro, torna-se importante
Š—Š•’œŠ›ȱ Šȱ ŠŒŽ’Š³¨˜ȱ œ˜Œ’Š•ȱ ˜ȱ ȃ™˜•’ŠŽ˜Ȅǯȱ ™ŽœŠ›ȱ Šȱ ’—Ž¡’œ¹—Œ’Šȱ Žȱ Š˜œȱ
ŽœŠÇœ’Œ˜œǰȱ˜‹œŽ›ŸŠȬœŽȱšžŽȱŠȱŠžœ¹—Œ’ŠȱŽȱ™›˜Ÿ˜ŒŠ³¨˜ȱ“ž’Œ’Š•ǰȱ˜œȱ›Š›Çœœ’–˜œȱ

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 393-406, set./dez. 2018.


402 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O

casos de lavratura de escritura pública, os incipientes debates e o fato de o


comportamento ser bastante recente indicam que a questão ainda é embrio-
nária e possui pouquíssimos adeptos. Acrescente-se a isso a falta de amadu-
recimento acerca das implicações e consequências advindas da relação
ȃ™˜•’Š–˜›˜œŠȄǰȱ ™Š›Šȱ šžŽȱ Ž—¨˜ȱ œŽȱ Œ˜—Œ•žŠȱ šžŽȱ ˜œȱ ™˜žšžÇœœ’–˜œȱ ŒŠœ˜œȱ Ž¡’œȬ
tentes no país não são aptos a demonstrar mudança do pensamento social e
levar ao reconhecimento de entidade familiar.
A sociedade brasileira não incorporou a “união poliafetiva” como forma de
Œ˜—œ’ž’³¨˜ȱŽȱŠ–Ç•’Šǯȱ
¤ȱ›ŽŠ•ȱ’ęŒž•ŠŽȱŽǰȱ‘˜“ŽǰȱŒ˜—ŒŽŽ›ȱœŠžœȱ¨˜ȱ’–Ȭ
portante a essa modalidade de relacionamento, que ainda carece de maturação.
1ȱ Šȱ œ˜Œ’ŽŠŽȱ šžŽȱ ¤ȱ ˜ȱ ™›’–Ž’›˜ȱ ™Šœœ˜ȱ šžŠ—˜ȱ œž›Ž–ȱ —˜ŸŠœȱ ˜›–Šœȱ Žȱ
constituição de núcleos familiares. A partir da mudança de costumes é que
˜ȱ˜Ž›ȱ ž’Œ’¤›’˜ȱ™ŠœœŠȱŠȱ›Žœ˜•ŸŽ›ȱ˜œȱŒ˜—Ě’˜œȱ˜›’ž—˜œȱŠȱšžŽœ¨˜ȱ™Š›ŠǰȱŠ˜ȱ
ę–ǰȱœž›’›Ž–ȱ—˜›–Šœǰȱ›Žž•Š–Ž—˜œǰȱ•Ž’œǰȱŽ¡™›ŽœœäŽœȱ˜ȱ’›Ž’˜ȱšžŽȱ™ŠœœŠ–ȱ
a tratar da matéria.
ȱŠ•Ž›Š³¨˜ȱ“ž›Ç’Œ˜Ȭœ˜Œ’Š•ȱŒ˜–Ž³Šȱ—˜ȱ–ž—˜ȱ˜œȱŠ˜œȱŽȱ·ȱ’—Œ˜›™˜›ŠŠȱ™Ž•˜ȱ
direito de forma gradual. Por isso, há uma diferença crônica do direito em
›Ž•Š³¨˜ȱ ¥œȱ Œ’¹—Œ’Šœȱ œ˜Œ’Š’œȱ —˜ȱ šžŽȱ œŽȱ ›ŽŽ›Žȱ Š˜œȱ —˜Ÿ˜œȱ ŽœŠę˜œȱ Šȱ Š–Ç•’Šȱ Žȱ
da sociedade. A mudança cultural surge primeiro e a alteração legislativa
vem depois, regulando os direitos advindos das novas conformações sociais
sobrevindas dos costumes. Foi ao longo de muitos anos que chegamos ao
reconhecimento das formas familiares admitidas na sociedade atual. Uniões
˜›–ŠŠœȱ™˜›ȱ–Š’œȱŽȱ˜’œȱŒâ—“žŽœȱœ˜›Ž–ȱ˜›Žȱ›Ž™ž•œŠȱœ˜Œ’Š•ȱŽȱ˜œȱ™˜žŒ˜œȱ
ŒŠœ˜œȱŽ¡’œŽ—Žœȱ—¨˜ȱ›ŽĚŽŽ–ȱŠȱ™˜œ’³¨˜ȱŠȱœ˜Œ’ŽŠŽȱŠŒŽ›ŒŠȱ˜ȱŽ–ŠDzȱŒ˜—œŽȬ
quentemente, a situação não representa alteração social hábil a alterar o
–ž—˜ȱ“ž›Ç’Œ˜ǯ
Ž’œ›ŽȬœŽȱ Š’—Šȱ šžŽȱ ˜’ȱ ™˜œœÇŸŽ•ȱ ˜ȱ ›ŽŒ˜—‘ŽŒ’–Ž—˜ȱ “ž›Ç’Œ˜ȱ Šȱ ž—’¨˜ȱ
estável e da união homoafetiva — apesar da inicial insurgência de vozes
conservadoras — uma vez que são relacionamentos presentes na vida social.
¨˜ȱ œ’žŠ³äŽœȱ –Š’œȱ ™›à¡’–Šœȱ ˜œȱ –Ž–‹›˜œȱ Šȱ œ˜Œ’ŽŠŽȱ Žȱ œ˜‹›Žȱ Šœȱ šžŠ’œȱ
‘˜žŸŽȱ–Š’˜›ȱ›ŽĚŽ¡¨˜ǯȱ˜’ȱ™˜œœÇŸŽ•ȱšžŽȱŠȱœ˜Œ’ŽŠŽȱŽȱŠȱŒ˜–ž—’ŠŽȱ“ž›Ç’ŒŠȱ
amadurecessem o olhar sobre essas formas de relacionamento antes do
›ŽŒ˜—‘ŽŒ’–Ž—˜ȱ“ž›Ç’Œ˜ȱŒ˜–˜ȱ’—œ’ž’³äŽœȱŠ–’•’Š›Žœǯ
•·–ȱ’œœ˜ǰȱŒ˜–˜ȱ“¤ȱ‘ŠŸ’Šȱ›Ž›Šœȱ•ŽŠ’œȱ›Žž•Š–Ž—Š—˜ȱ˜ȱŒŠœŠ–Ž—˜ȱ–˜—˜Ȭ
¦–’Œ˜ǰȱ ˜’ȱ ™˜œœÇŸŽ•ȱ ŽšžŠ•’£Š›ȱ ˜œȱ ’›Ž’˜œȱ ŽŒ˜››Ž—Žœȱ Šȱ ž—’¨˜ȱ Žœ¤ŸŽ•ȱ Žȱ Šȱ
ž—’¨˜ȱ‘˜–˜ŠŽ’ŸŠȱ–˜—˜¦–’ŒŠœǯȱœœ’–ǰȱ¥ȱ–Ç—žŠȱŽȱ•Ž’ȱ™Š›Šȱ›Žž•¤Ȭ•˜œǰȱ˜’ȱ
™˜œœÇŸŽ•ȱŠȱŠ™•’ŒŠ³¨˜ȱŠ—Š•à’ŒŠȱŽȱ›Ž›Šœǰȱ‹Ž–ȱŒ˜–˜ȱŠȱŠ˜³¨˜ȱŽȱ™Š›¦–Ž›˜œȱ
™Š›Šȱ‹Š•’£Š›ȱ˜ȱ›ŠŠ–Ž—˜ȱ“ž›Ç’Œ˜ȱ˜œȱ’—œ’ž˜œǯ

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 393-406, set./dez. 2018.


CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ) | Inconstitucionalidade da união poliafetiva 403

Nas situações em que duas pessoas unem-se com a intenção de comungar a


Ÿ’ŠȱŽȱ˜›–Š›ȱŠ–Ç•’Šǰȱ˜›—ŠȬœŽȱ–Š’œȱ¤Œ’•ȱŠ—ŽŒ’™Š›ȱŠœȱŒ˜—œŽšž¹—Œ’Šœȱ“ž›Ç’ŒŠœȱ
advindas dessas uniões.
˜‹ȱ˜ȱŽ—˜šžŽȱ˜ȱ›ŠŠ–Ž—˜ȱ“ž›Ç’Œ˜ǰȱŽ¡’œŽȱŒŽ›Šȱ’ęŒž•ŠŽȱ™Š›ŠȱŠ™•’ŒŠ³¨˜ȱ
Š—Š•à’ŒŠȱ Šœȱ ›Ž›Šœȱ šžŽȱ ›Žž•Š–ȱ ›Ž•Š³äŽœȱ –˜—˜¦–’ŒŠœȱ ¥œȱ ȃž—’䎜ȱ ™˜•’ŠȬ
fetivas”. A regulação da vida amorosa plural não pode ser comparada à da vida
Š–˜›˜œŠȱŽ–ȱž™•Šȱ™˜›ȱœŽ›ȱŠšžŽ•Šȱ–Š’œȱŒ˜–™•Ž¡ŠȱŽȱœž“Ž’ŠȱŠȱ–Š’œȱŒ˜—Ě’˜œǰȱŠŠȱ
Šȱ–Š’˜›ȱšžŠ—’ŠŽȱŽȱŸÇ—Œž•˜œǯȱ•·–ȱ’œœ˜ǰȱŽ¡’œŽ–ȱŒ˜—œŽšž¹—Œ’Šœȱ“ž›Ç’ŒŠœȱ
que podem envolver terceiros alheios à convivência e criar novas obrigações
˜žȱ™›˜’‹’³äŽœǯȱ˜›–Šœȱ›ŽŽ›Ž—Žœȱ¥ȱꕒŠ³¨˜ǰȱ¥ȱ’—Œ•žœ¨˜ȱŽ–ȱ™•Š—˜ȱŽȱœŠøŽȱŽȱ
Š˜ȱ ŽœŠ‹Ž•ŽŒ’–Ž—˜ȱ Žȱ ™Š›Ž—ŽœŒ˜ȱ ™˜›ȱ Šę—’ŠŽǰȱ ™˜›ȱ Ž¡Ž–™•˜ǰȱ œ¨˜ȱ šžŽœäŽœȱ
que envolvem terceiros que não devem suportar ônus advindos da simples
ŽŒ•Š›Š³¨˜ȱŽȱŸ˜—ŠŽȱ˜œȱŽ—Ÿ˜•Ÿ’˜œȱ—Šȱ›Ž•Š³¨˜ȱȃ™˜•’Š–˜›˜œŠȄǯȱ
¤ȱšžŽœäŽœȱ
šžŽȱ›Š—œŒŽ—Ž–ȱ˜ȱœž‹“Ž’Ÿ’œ–˜ȱŠ–˜›˜œ˜ȱŽȱŠȱŸ˜—ŠŽȱ˜œȱŽ—Ÿ˜•Ÿ’˜œǯ
—Ž—˜ȱšžŽǰȱžž›Š–Ž—ŽǰȱŒŠœ˜ȱ‘Š“Šȱ˜ȱŠ–Šž›ŽŒ’–Ž—˜ȱŠȱȃž—’¨˜ȱ™˜•’ŠŽ’ŸŠȄȱ
como entidade familiar na sociedade brasileira, a matéria pode ser disciplinada
™˜›ȱ•Ž’ȱŽœ’—ŠŠȱŠȱ›ŠŠ›ȱŠœȱœžŠœȱŽœ™ŽŒ’ęŒ’ŠŽœǯ
Por ser uma estrutura de convivência completamente nova, o tema é dema-
œ’ŠŠ–Ž—Žȱ Œ˜–™•Ž¡˜ȱ Žȱ Ž–Š—Šȱ ™›˜ž—˜œȱ Žœž˜œȱ ŠŒŽ›ŒŠȱ ˜ȱ ’–™ŠŒ˜ȱ Žȱ
ŠœȱŒ˜—œŽšž¹—Œ’Šœȱ“ž›Ç’ŒŠœȱšžŽȱ™˜ŽȱŽ›Š›ǰȱ“¤ȱšžŽȱ—¨˜ȱŽ¡’œŽ–ȱ›Ž›Šœȱ™Š›ŠȱŠȱ
convivência com maior número de pessoas.
Žȱ˜œȱŠŽ™˜œȱŽœŽ“Š–ȱŸ’ŸŽ›ȱž–Šȱ›Ž•Š³¨˜ȱȃ™˜•’ŠŽ’ŸŠȄǰȱŽ•ŽœȱŠȱŸ’ŸŽ›¨˜ǰȱŠ’—Šȱ
šžŽȱ—¨˜ȱœŽ“Š–ȱŠ›’‹žÇ˜œȱ˜œȱŽŽ’˜œȱ“ž›Ç’Œ˜œȱŽȱ’›Ž’˜ȱŽȱŠ–Ç•’ŠȱŠ˜ȱ›Ž•ŠŒ’˜Ȭ
namento. Nada impede que, por liberalidade, os membros do grupo prestem
Š•’–Ž—˜œȱŽ—›Žȱœ’ȱŽ–ȱŒŠœ˜ȱŽȱ›ž™ž›ŠDzȱšžŽȱŽ’¡Ž–ȱŽœŠ–Ž—˜ȱ’›ŽŒ’˜—Š—˜ȱ
‘Ž›Š—³Šȱ ™Š›Šȱ ˜œȱ Ž–Š’œDzȱ ˜žȱ ’—œ’žŠ–ȱ ˜œȱ ™Š›ŒŽ’›˜œȱ Œ˜–˜ȱ ‹Ž—ŽęŒ’¤›’˜œȱ Ž–ȱ
seguro, entre outras providências.
Passa ao longe a pretensão de condenar a forma de convivência alheia se
ŽœŽ“ŠŠȱŽȱŒ˜—œŽ—’Šȱ™Ž•˜ȱ›ž™˜ǰȱ‹Ž–ȱŒ˜–˜ȱŠȱ’Ž’ŠȱŽȱ–Š›’—Š•’£Š›ȱ›Ž•ŠŒ’˜Ȭ
namentos ou tentativa de impor visão conservadora sobre os fatos. Apesar
de compreender a revolução de costumes, entendo que situações pontuais,
casuísticas e, sobretudo, ainda não submetidas ao necessário amadurecimento
no seio da sociedade não possuem aptidão para ser reconhecidas como
entidade familiar.
˜ȱšžŽȱ˜ŒŠȱ¥ȱŒ˜—žŠȱŠœȱœŽ›ŸŽ—’ŠœȱŽ¡›Š“ž’Œ’Š’œȱŒ˜–ȱ›Ž•Š³¨˜ȱ¥ȱ•ŠŸ›Šž›Šȱ
de “Escritura Pública Declaratória de União Poliafetiva”, é preciso considerar
que a escritura pública é o instrumento pelo qual a parte narra ao tabelião de
notas o acontecimento de determinados fatos para sua futura comprovação.
ȱŠ‹Ž•’¨˜ǰȱŠ™àœǰȱ¤ȱ˜ȱŒ˜—˜›—˜ȱ“ž›Ç’Œ˜ȱ¥ȱ–Š—’ŽœŠ³¨˜ȱŠȱŸ˜—ŠŽǯ

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 393-406, set./dez. 2018.


404 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O

De acordo com o art. 6º da Lei n. 8.935/1994, “compete ao notário formalizar


“ž›’’ŒŠ–Ž—ŽȱŠȱŸ˜—ŠŽȱŠœȱ™Š›ŽœȱŽȱ’—Ž›Ÿ’›ȱ—˜œȱŠ˜œȱŽȱ—ŽàŒ’˜œȱ“ž›Ç’Œ˜œȱŠȱšžŽȱ
as partes devam ou queiram dar forma legal ou autenticidade, autorizando a
redação ou redigindo os instrumentos adequados, conservando os originais e
Ž¡™Ž’—˜ȱŒà™’Šœȱꍎ’—ŠœȱŽȱœŽžȱŒ˜—Žø˜Ȅǯ
Além de observar os elementos formais, essenciais para a validade da escritura
™ø‹•’ŒŠǰȱ ˜ȱ —˜¤›’˜ȱ ˜›–Š•’£Šȱ “ž›’’ŒŠ–Ž—Žȱ Šȱ –Š—’ŽœŠ³¨˜ȱ Žȱ Ÿ˜—ŠŽȱ ˜ȱ
declarante. Para ser lavrado em escritura pública declaratória, o conteúdo
ŽŒ•Š›Š˜ȱŽŸŽȱœŽ›ȱ•ÇŒ’˜ǯȱ’žŠ³äŽœȱŒ˜—›¤›’Šœȱ¥ȱ•Ž’ȱ—¨˜ȱ™˜Ž–ȱœŽ›ȱ˜‹“Ž˜ȱŽȱ
escritura pública.

˜“Žǰȱ Šȱ ž—’¨˜ȱ ȃ™˜•’ŠŽ’ŸŠȄȱ Ÿ’˜•Šȱ ˜ȱ ’›Ž’˜ȱ Ž–ȱ Ÿ’¹—Œ’Šȱ —˜ȱ ™ŠÇœǰȱ šžŽȱ ŸŽŠȱ
Ž¡™›ŽœȱœŠ–Ž—Žȱ Šȱ ™˜œœ’‹’•’ŠŽȱ Žȱ –Š’œȱ Žȱ ž–ȱ ŸÇ—Œž•˜ȱ –Š›’–˜—’Š•ȱ œ’–ž•Ȭ
¦—Ž˜ȱŽȱ™›˜Ç‹Žǰȱ™˜›ȱŠ—Š•˜’Šǰȱž—’䎜ȱŽœ¤ŸŽ’œȱ–ø•’™•ŠœǯȱȱŽ—Ž—’–Ž—˜ȱ“ž›’œȬ
™›žŽ—Œ’Š•ȱ˜œȱ›’‹ž—Š’œȱ™¤›’˜œȱŠ–‹·–ȱ›Ž™Ž•ŽȱŠȱŽ¡’œ¹—Œ’ŠȱŽȱž—’䎜ȱŽœ¤ŸŽ’œȱ
œ’–ž•¦—ŽŠœȱŠ˜ȱŒŠœŠ–Ž—˜ǯ
Menciono precedentes do Superior Tribunal de Justiça que tratam da questão:
  ȱ   ǯȱ ȱ  ǯȱ A ǯȱ ,!ȱ ȱ 

CIMENTO DE UNIÃO ESTÁVEL. RELAÇÃO CONCOMITANTE. DEVER
DE FIDELIDADE. INTENÇÃO DE CONSTITUIR FAMÍLIA.
AUSÊNCIA. ARTIGOS ANALISADOS: ARTS. 1º e 2ºȱ Šȱ Ž’ȱ şǯŘŝŞȦşŜǯȱ ǽǯǯǯǾȱ
2. Discussão relativa ao reconhecimento de união estável quando não
˜‹œŽ›ŸŠ˜ȱ˜ȱŽŸŽ›ȱŽȱꍎ•’ŠŽȱ™Ž•˜ȱŽȱŒž“žœǰȱšžŽȱ–Š—’—‘Šȱ˜ž›˜ȱ›Ž•ŠŒ’˜Ȭ
—Š–Ž—˜ȱ Žœ¤ŸŽ•ȱ Œ˜–ȱ Ž›ŒŽ’›Šǯȱ řǯȱ –‹˜›Šȱ —¨˜ȱ œŽ“Šȱ Ž¡™›ŽœœŠ–Ž—Žȱ ›ŽŽ›’Šȱ
—Šȱ•Ž’œ•Š³¨˜ȱ™Ž›’—Ž—ŽǰȱŒ˜–˜ȱ›Žšž’œ’˜ȱ™Š›ŠȱŒ˜—ꐞ›Š³¨˜ȱŠȱž—’¨˜ȱŽœ¤ŸŽ•ǰȱ
Šȱ ꍎ•’ŠŽȱ Žœ¤ȱ Ǘœ’Šȱ Š˜ȱ ™›à™›’˜ȱ ŽŸŽ›ȱ Žȱ ›Žœ™Ž’˜ȱ Žȱ •ŽŠ•ŠŽȱ Ž—›Žȱ ˜œȱ
Œ˜–™Š—‘Ž’›˜œǯȱŚǯȱȱŠ—¤•’œŽȱ˜œȱ›Žšž’œ’˜œȱ™Š›ŠȱŒ˜—ꐞ›Š³¨˜ȱŠȱž—’¨˜ȱŽœ¤ŸŽ•ȱ
ŽŸŽȱ ŒŽ—›Š›ȬœŽȱ —Šȱ Œ˜—“ž—³¨˜ȱ Žȱ Š˜›Žœȱ ™›ŽœŽ—Žœȱ Ž–ȱ ŒŠŠȱ ‘’™àŽœŽǰȱ Œ˜–˜ȱ
a ŠěŽŒ’˜ȱ œ˜Œ’ŽŠ’œ familiar, a participação de esforços, a posse do estado de
ŒŠœŠ˜ǰȱ Šȱ Œ˜—’—ž’ŠŽȱ Šȱ ž—’¨˜ǰȱ Žȱ Š–‹·–ȱ Šȱ ꍎ•’ŠŽǯȱ śǯȱ –Šȱ œ˜Œ’ŽŠŽȱ
que apresenta como elemento estrutural a monogamia não pode atenuar o
ŽŸŽ›ȱŽȱꍎ•’ŠŽȱ— que integra o conceito de lealdade e respeito mútuo
—ȱ ™Š›Šȱ ˜ȱ ę–ȱ Žȱ ’—œŽ›’›ȱ —˜ȱ ¦–‹’˜ȱ ˜ȱ ’›Ž’˜ȱ Žȱ Š–Ç•’Šȱ ›Ž•Š³äŽœȱ ŠŽ’ŸŠœȱ
paralelas e, por consequência, desleais, sem descurar que o núcleo familiar
Œ˜—Ž–™˜›¦—Ž˜ȱŽ–ȱŒ˜–˜ȱŽœŒ˜™˜ȱŠȱ‹žœŒŠȱŠȱ›ŽŠ•’£Š³¨˜ȱŽȱœŽžœȱ’—Ž›Š—Žœǰȱ
vale dizer, a busca da felicidade. 6. Ao analisar as lides que apresentam
™Š›Š•Ž•’œ–˜ȱ ŠŽ’Ÿ˜ǰȱ ŽŸŽȱ ˜ȱ “ž’£ǰȱ ŠŽ—˜ȱ ¥œȱ ™ŽŒž•’Š›’ŠŽœȱ –ž•’ŠŒŽŠŠœȱ
apresentadas em cada caso, decidir com base na dignidade da pessoa humana,
na solidariedade, na afetividade, na busca da felicidade, na liberdade, na

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CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ) | Inconstitucionalidade da união poliafetiva 405

igualdade, bem assim, com redobrada atenção ao primado da monogamia,


Œ˜–ȱ ˜œȱ ™·œȱ ꗌŠ˜œȱ —˜ȱ ™›’—ŒÇ™’˜ȱ Šȱ Ž’Œ’ŠŽǯȱ ŝǯȱ Šȱ ‘’™àŽœŽǰȱ Šȱ ›ŽŒ˜››Ž—Žȱ
—¨˜ȱ •˜›˜žȱ ¹¡’˜ȱ Ž–ȱ Ž–˜—œ›Š›ǰȱ —˜œȱ Ž›–˜œȱ Šȱ •Ž’œ•Š³¨˜ȱ Ÿ’Ž—Žǰȱ Šȱ
Ž¡’œ¹—Œ’ŠȱŠȱž—’¨˜ȱŽœ¤ŸŽ•ȱŒ˜–ȱ˜ȱ›ŽŒ˜››’˜ǰȱ™˜Ž—˜ǰȱ—˜ȱŽ—Š—˜ǰȱ™•Ž’ŽŠ›ǰȱŽ–ȱ
processo próprio, o reconhecimento de uma eventual uma sociedade de fato
entre eles. 8. Recurso especial desprovido. (REsp n. 1.348.458/MG, relatora
Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, DJe de 25/6/2014.) AGRAVO
REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. FAMÍLIA. VIOLAÇÃO
ȱ ǯȱ śřśȱ ȱ ǯȱ !ȱ 3 ǯȱ 
 ȱ ȱ
 !ȱ ǯȱ 3 ȱ ȱ ,!ȱ ȱ   ȱ
PREVISTOS DO ART. 1.723 DO CÓDIGO CIVIL. REEXAME DE PROVAS.
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   ǯȱ qȱ ŞřȦ ǯȱ ǽǯǯǯǾȱ řǯȱȱ “ž›’œ™›ž¹—Œ’Šȱ ˜ȱ ž™Ž›’˜›ȱ
Tribunal de Justiça possui entendimento no sentido de que não é possível
˜ȱ ›ŽŒ˜—‘ŽŒ’–Ž—˜ȱ Žȱ ž—’䎜ȱ œ’–ž•¦—ŽŠœǰȱ Žȱ –˜˜ȱ šžŽȱ Šȱ ŒŠ›ŠŒŽ›’£Š³¨˜ȱ Šȱ
união estável pressupõe a ausência de impedimento para o casamento ou,
™Ž•˜ȱ –Ž—˜œǰȱ Šȱ —ŽŒŽœœ’ŠŽȱ Žȱ ‘ŠŸŽ›ȱ œŽ™Š›Š³¨˜ȱ Žȱ Š˜ȱ ˜žȱ “ž’Œ’Š•ȱ Ž—›Žȱ ˜œȱ
casados. Incidência da Súmula 83/STJ. 4. Agravo regimental a que se nega
provimento. (AgRg no Ag n. 1.363.270/MG, relatora Ministra Maria Isabel
Š••˜Ĵ’ǰȱžŠ›Šȱž›–Šǰȱ ŽȱŽȱŘřȦŗŗȦŘŖŗśǯǼ
Reconhecido que a sociedade brasileira apresenta a monogamia como ele-
mento estrutural e que os tribunais repelem relacionamentos que apresentem
paralelismo afetivo, é de se compreender que a autonomia da vontade das
partes não é ilimitada e que a declaração de vontade contida na escritura
pública não pode ser considerada.
Não podem advir direitos da escritura declaratória de “união poliafetiva”,
pois seus efeitos não se equiparam aos efeitos de escritura pública declaratória
de união estável.
œȱ ŽŒ•Š›Š—Žœȱ ™˜Ž–ȱ Šę›–Š›ȱ œŽžȱ Œ˜–™›˜–Ž’–Ž—˜ȱ ž—œȱ Œ˜–ȱ ˜œȱ ˜ž›˜œǰȱ
mas o fato de declará-lo perante o tabelião não faz surgir nova modalidade
familiar. A posse da escritura pública não gera efeitos de Direito de Família
para os envolvidos. Eventual pagamento de alimentos ou partilha de bens,
™˜›ȱ Ž¡Ž–™•˜ǰȱ ŽœŠ›’Š–ȱ —Šȱ ŽœŽ›Šȱ Žȱ •’‹Ž›Š•’ŠŽȱ Šœȱ ™Š›ŽœDZȱ ˜ȱ ’›Ž’˜ȱ —¨˜ȱ
ŽŒ˜››ŽȱŠȱ•Ž’ǰȱŒ˜–˜ȱŠŒ˜—ŽŒŽȱ™Š›ŠȱŠœȱ˜›–ŠœȱŠ–’•’Š›Žœȱœ˜Œ’Š•ȱŽȱ“ž›’’ŒŠ–Ž—Žȱ
reconhecidas.
¨˜ȱœŽȱ—ŽŠȱ˜ȱ™Š™Ž•ȱ“ž›Ç’Œ˜ȱ˜ȱŠŽ˜ȱŒ˜–˜ȱœž‹œ›Š˜ȱŠȱ˜›–Š³¨˜ȱŠ–’•’Š›ǰȱ
mas nem toda relação afetiva representa família. A escritura pública não tem

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o condão de criar direitos e uma nova estrutura familiar não se cria por mera
declaração de vontade.
—Žȱ˜ȱŽ¡™˜œ˜ǰȱ“ž•˜ȱ™›˜ŒŽŽ—Žȱ˜ȱ™Ž’˜ȱŽȱ™›˜Ÿ’¹—Œ’Šœȱ™Š›ŠȱŽŽ›–’—Š›ȱ
às corregedorias estaduais que proíbam a lavratura de escrituras públicas
declaratórias de “união poliafetiva” e comuniquem esta decisão aos serviços
—˜Š›’Š’œȱœ˜‹ȱœžŠȱ“ž›’œ’³¨˜ǯ
1ȱ˜ȱŸ˜˜ǯ

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 393-406, set./dez. 2018.

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