Egle Pereira da Silva (UFRJ) eglesilva@hotmail.com
Em O Espaço Literário (2007), Maurice Blanchot aponta os traços
fundamentais que marcam as linguagens cotidiana e literária: a primeira, eminentemente representativa, voltada para fins de comunicação e com- preensão; a segunda, destrutiva, uma vez que faz desaparecer o objeto, anulando-o no seu próprio dizer, incluída a pessoa civil. Neste contexto, o intento de todo escritor é fazer existir a palavra e não mais aquilo que ela nomeia; devolver a ela o seu poder material, guardar o seu valor de signi- ficação. Se a linguagem, na literatura, aparece transformada, distante do seu sentido usual, o mesmo pode ser dito do mundo nela apresentado: este é intrínseco ao livro, portanto, deve ser vivido, experimentado em sua pró- pria realidade verbal. Para tanto, os autores utilizam diversos procedimen- tos, assim como abandonam velhos conceitos e crenças, dentre os quais, a ideia de que a literatura se faz de si própria: William Blake, por exemplo, realiza na poesia, não só o que para Lessing é proibido, a interação entre palavra (verbal) e imagem (visual), mas também desloca para a esfera do olho o que outros poetas românticos situam ao lado da voz. E. T. A. Ho- ffmann (1776-1822) tem como interface principal a relação entre música e literatura, estando uma para além de toda voz e da própria linguagem, antecessora de todas as artes, e a outra, a mídia inferior que a veicula, le- vantando a questão: como escrever sobre música? Paul Auster, autor norte- -americano contemporâneo, reúne em sua vasta obra, um conjunto midiá- tico diverso (música, artes plásticas, arte conceitual, fotografia e cinema) para, por meio de sua inserção na ficção, teorizar acerca da literatura e de sua linguagem. As paisagens teórico-estéticas aqui levantadas dão o rumo deste simpósio: o diálogo entre literatura e outras artes em diferentes épo- cas e meios; a ideia de literatura como iluminação e fratura.