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UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL

HIDROLOGIA E MANEJO DE BACIAS

PROF. Dr. MARCELO DOS SANTOS TARGA

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.....................................................................................................4
1.2. Bacias Hidrográficas..........................................................................................4

1.3. Fisiografia da Bacia Hidrográfica ....................................................................6

1.3.1. Área e Perímetro da Bacia .............................................................................6

1.3.2. Rede de drenagem...........................................................................................7

1.4. O Ciclo da Água .................................................................................................9

2. GRANDEZAS IMPORTANTES.......................................................................11
3. PRECIPITAÇÃO................................................................................................12
3.1. Mecanismo de Formação da Precipitação .....................................................13

3.2. Tipos de Precipitação.......................................................................................14

3.3. Medição da Precipitação .................................................................................14

3.3.1. Pluviômetros e pluviógrafos.........................................................................15

3.4. Manipulação e Processamento dos Dados Pluviométricos...........................18

3.4.1.Verificação de erros grosseiros .....................................................................18

3.4.2. Verificação da homogeneidade dos dados: .................................................19

3.4.3. Variabilidade espacial e temporal da chuva...............................................20

3.4.4. Estudos de intensidade-duração-frequência ..............................................22

4. INTERCEPTAÇÃO ...........................................................................................23
5. INFILTRAÇÃO DE ÁGUA NO SOLO............................................................24
3

5.2. Método de determinação da quantidade de água infiltrada ........................24

5.2.1. Infiltrômetro de anéis concêntricos.............................................................24

6. RETENÇÃO E ARMAZENAMENTO DE ÁGUA NO SOLO ......................26


7. EVAPORAÇÃO..................................................................................................27
7.1. Poder Evaporante do Ar .................................................................................27

7.2. Evaporação de Superfícies de Água Livre.....................................................28

7.2.1. Fatores que afetam a evaporação em superfície de água livre: ................29

7.3. Evaporação de uma Superfície de Solo..........................................................30

7.3.1. Fatores que afetam a evaporação da água em uma superfície de solo.....30

7.4. Evaporação de uma Superfície Vegetada ......................................................31

7.4.1. Fatores que afetam a evaporação da água em uma superfície vegetada .31

8. EVAPOTRANSPIRAÇÃO ................................................................................32
8.1. Tipos de Evapotranspiração ...........................................................................32

8.1.1. Evapotranspiração potencial .......................................................................32

8.1.2. Evapotranspiração real ................................................................................33

8.2. Determinação da Evapotranspiração.............................................................33

8.2.1. Métodos indiretos..........................................................................................33

8.2.2. Métodos diretos .............................................................................................34

9. ESCOAMENTO SUPERFICIAL E SUBTERRÂNEO ..................................36


9.1. Escoamento Superficial ...................................................................................36

9.1.1. Natureza da superfície..................................................................................37

9.1.2. Cobertura vegetal..........................................................................................37

9.1.3. Infiltração ......................................................................................................38

9.1.4. Topografia .....................................................................................................38

9.2. Grandezas que Caracterizam o Escoamento.................................................39

9.2.1. Métodos de determinação do escoamento superficial................................40

9.3. Escoamento Subterrâneo ................................................................................53


4

10. ANÁLISE INTEGRADA DOS COMPONENTES DO CICLO E A


PRODUÇÃO DE ÁGUA ........................................................................................55
11. ESCOAMENTO SUPERFICIAL E OS IMPACTOS AMBIENTAIS ........57
12. DRENAGEM URBANA...................................................................................58
13. CONTROLE DE INUNDAÇÕES ...................................................................59
14. BIBLIOGRAFIA ..............................................................................................60
15. CITAÇÃO..........................................................................................................60
16. CONTATOS ......................................................................................................61
HIDROLOGIA E MANEJO DE BACIAS HIDROGRÁFICAS

1. INTRODUÇÃO

A água na natureza encontra-se em um continuo processo de circulação definido como


ciclo hidrológico ou ciclo da água. O ciclo da água e um ciclo fechado, de modo que o
volume da água e mantido constante, muito embora o seu estado de ocorrência ou a sua
quantidade, em uma dada fase do processo, estejam em constante alteração.

A hidrologia é o ramo da ciência que estuda a água e interage com as ciências naturais,
essencialmente com a ocorrência, circulação e distribuição da água nos meios aquáticos,
terrestres e aéreos, e com as propriedades físicas e químicas da água. Há uma estreita relação
entre a hidrologia e as outras ciências que envolvam em maior ou menor grau o estudo da
água, tais como, a climatologia, a hidráulica, a biologia, as engenharias, a agronomia, etc.

O presente texto foca os elementos do ciclo hidrológico e principalmente as questões


relativas a interferência do homem no ciclo proporcionando grandes volumes de escoamento
e a redução do volume de água disponível nas bacias hidrográficas.

1.2. Bacias Hidrográficas

A bacia hidrográfica pode ser definida como o conjunto de terras limitadas por divisores
de águas e com existência de nascentes dos cursos de água, principais e secundários,
denominados afluentes e subafluentes (Figura 1).

A definição da bacia hidrográfica como unidade hidrológica é unânime entre os


pesquisadores e técnicos que trabalham com recursos hídricos. Dessa forma as bacias
hidrográficas são unidades onde se deve estudar o ciclo da água e as interferências do homem
sobre esse ciclo.

A Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei 9.433/97) elegeu a bacia hidrográfica


como unidade territorial para a implementação e atuação do Sistema de Gerenciamento de
Recursos Hídricos e com o objetivo de respeitar as diversidades sociais, econômicas e
ambientais do País, o Conselho Nacional de Recursos Hídricos - CNRH, em 15 de outubro de
2003, aprovou, a Resolução n°. 32 que instituiu a Divisão Hidrográfica Nacional (Figura 2).
5

Figura 1. Representação física de uma bacia hidrográfica.


Fonte: ANA, (2007)

Figura 2. Divisão Hidrográfica do Brasil.


Fonte: ANA, (2007)
6

Dentre as bacias hidrográficas do Atlântico Sudeste destaca-se a do Paraíba do sul


(Figura 3), cujo rio e seus afluentes abastecem mais de 15 milhões de pessoas, além de
movimentar o maior parque industrial do Brasil, responsável por 12% do PIB nacional. A
bacia do rio Paraíba do Sul situa-se na região Sudeste do Brasil e ocupa aproximadamente
55.400 km2, compreendendo os estados de São Paulo (13.500 km2), Rio de Janeiro (21.000
km2) e Minas Gerais (20.900 km2). A bacia abrange 180 municípios, com uma população
total de 5.588.237, da qual, 88,79% vivem nas áreas urbanas.

Figura 3. Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul.


Fonte: ANA, (2007).

1.3. Fisiografia da Bacia Hidrográfica

1.3.1. Área e Perímetro da Bacia


A influência da área é obvia, pois sua extensão está relacionada à maior ou menor
quantidade de água que ela pode captar (Wisler, 1964). A área de captação de água da bacia,
cujo perímetro corresponde ao divisor de águas, em geral utilizadas para a determinação dos
outros dados fisiográficos. A área e determinada com planímetro e o perímetro com
curvímetro e atualmente ambos podem ser determinados por meio de uso de programas
computacionais específicos como o SPRING, que possibilita trabalhar em detalhe fotografias
aéreas, imagens de satélite e planos cartográficos.
7

A forma determina o escoamento ao longo do curso principal onde ocorre a enchente, e


dois parâmetros físicos definem a forma:

P
a) Coeficiente de Compacidade (Kc): Kc = * 0,28
A
onde: P e o perímetro da bacia em Km; A e a área da bacia em Km2

A
b) Fator de Forma (Kf): Kf =
L2

onde: L e o comprimento axial da bacia em Km.

1.3.2. Rede de drenagem

Uma bacia com uma rede de drenagem apresentando muitas ramificações têm a
possibilidade de gerar mais escoamento superficial do que àquelas com poucas ramificações,
que tem mais possibilidade de infiltrar água.

a) Ordem dos cursos d’água

A ordem dos cursos d’água traduz a maior ou menor capacidade de escoamento de uma
determinada bacia hidrográfica, inferida como natureza geomorfológica dos solos que
compõem a bacia, pois uma bacia de primeira ordem significa que o solo tem uma alta
capacidade de infiltração, e portanto um de ordem quatro por exemplo, terá menor
capacidade de infiltrar água, proporcionando assim, maior escoamento. Em geral a seguinte
classificação pode ser adotada:

Rios de “Primeira Ordem” – correspondente aos canais que estendem das nascentes até
a primeira confluência

Rios de “Segunda Ordem” – engloba os rios ou canais originados de dois de primeira


ordem;

Rios de “Terceira Ordem” – formados pelos rios ou canais originados de dois de


segunda ordem, e assim sucessivamente.

b) Densidade de Drenagem

Traduz a eficiência do sistema de drenagem de uma bacia, que é expresso pela relação
entre o comprimento total dos cursos d’água (efêmeros, intermitentes ou perenes) e sua área
total. Esse índice em geral varia de 0,5 Km / Km2 para bacias com drenagem pobre, a 3,5 Km
8

/ Km2 ou mais para bacias com sistema de drenagem rico e pode ser calculado pela seguinte
L
expressão: Dd = onde:
A

L e o comprimento total dos cursos d´água da bacia em Km.

A é a área da bacia hidrográfica em Km2

Q
Densidade da Rede Fluvial (Dr): Dr = onde:
A

Q e a quantidade total dos cursos d´água da bacia.

Um exemplo da rede de drenagem é demonstrado na Figura 4, onde se pode observar a


bacia hidrográfica do Itaim, e na Tabela 1, é feita uma exposição das características físicas
das Bacias Hidrográficas dos ribeirões Itaim e Antas no município de Taubaté – SP.

Características físicas como a altitude máxima, mínima e média, a declividade, o


comprimento dos cursos d’ água e a extensão média dos escoamento superficial, também são
de suma importância na avaliação de bacias hidrográficas.

Exercício: Considerando as características físicas das bacias hidrográficas do ribeirão


das Antas Grizolia (1980) e do ribeirão Itaim Corrêa (2001), ambas pertencentes a bacia do
Una no Vale do Paraíba, faça como exercício uma descrição comparativa de como se dá o
comportamento hidrológico nestas bacias em especial o escoamento superficial, considerar
como ponto de comparação a saída das bacias.
9

Figura 4. Rede de Drenagem da Bacia do Itaim,Taubaté –SP.


Fonte: Lobato, (2003).

1.4. O Ciclo da Água

É comum iniciar o ciclo da água ou ciclo hidrológico, como também é conhecido, com
a evaporação da água dos oceanos e a sua conclusão com o retorno da água para os mesmos.
No ciclo da água ( Figura 5) a energia solar tem participação fundamental, pois através dessa
energia é que a água dos oceanos passa do estado liquido para o gasoso, indo para a
atmosfera na forma de vapor de água. Do vapor d’água que se eleva dos oceanos uma parte
condensada se precipita na forma de chuva sobre o próprio oceano, outra parte por meio da
circulação geral da atmosfera atinge os continentes, onde ocorre sua condensação e
conseqüente precipitação.

As massas de vapor que se deslocam sobre os continentes podem também ser


enriquecidas com vapor d’água proveniente do próprio continente dos processos de
evaporação da água do solo, de lagos, de represamentos, de rios e da transpiração das plantas.
Uma certa fração da água de chuva evapora ainda na queda e volta para a atmosfera, outra
parte atinge a superfície terrestre.
10

Tabela 1 Características Físicas das Bacias Hidrográficas dos ribeirões Itaim e Antas no município de Taubaté – SP.

Características físicas Bacia do ribeirão Itaim Bacia do ribeirão


(Corrêa, 2001) Antas (Grisolia, 1980)
Área 58,90 km² 29,77 km²
Perímetro 48,30 km 30,50km
Comprimento do rio principal 21 km 16 km
Coeficiente de Compacidade 1,70 1,56
Fator de Forma 0,13 0,12
Ordem da Bacia 4ª Ordem 4ª Ordem
Densidade de Drenagem 1,63 km/km² 1,91 km/ km²
Densidade da Rede da Bacia Fluvial 2.40 cursos/km² 2,42 cursos/ km²
Extensão média do Escoamento Superficial 0,15 km 0,13 km
Altitude máxima 1.060 m 1.050 m
Altitude média 680 m 781 m
Altitude mínima 577 m 600 m
Declividade 0,017 m/m 0,366 m/m

Fonte: Lobato (2003).

Parte da chuva que atinge a superfície terrestre é interceptada pela cobertura vegetal,
podendo escoar diretamente pelos caules ou precipitar da folhas e atingir o solo e uma outra
parte que mantém as folhas e caules úmidos pode evaporar mais tarde e retornar a atmosfera.
Uma outra parte, ainda, da água precipitada, chega ao solo diretamente sem ser interceptada
pela vegetação e que, ao atingir o solo, pode infiltrar no mesmo ou escoar diretamente para
lagos ou reservatórios, córregos, rios e daí para os oceanos. Da parte que infiltra no solo,
parte fica retida nos poros do solo e constitui o seu armazenamento, que, entretanto, poderá
retornar à atmosfera pela evaporação da superfície do solo ou pela transpiração de superfícies
vegetais. Outra parte dependendo do local de infiltração pode atingir no subterrâneo os
aqüíferos freático e artesiano. O aqüífero freático alimenta nascentes, córregos e rios que em
síntese conduzem a água aos oceanos, fechando o ciclo.

Exercício: Quais as principais interferências do homem que podem ser observadas no


Ciclo Hidrológico na Figura 5.
11

Figura 5. Ciclo Hidrológico e a Influencia Antrópica.


Fonte: Adaptado de DAEE, (2006)

2. GRANDEZAS IMPORTANTES

Grandezas físicas como comprimento, área, volume, vazão, velocidade e massa em


geral as mais utilizadas em hidrologia. Medições de comprimento, como o mm, por exemplo,
são utilizadas na mensuração de processos como precipitação, interceptação, infiltração,
evaporação, transpiração e deflúvio. Por outro lado, podem ser amplamente utilizadas
também na quantificação física da bacia hidrográfica, tais como medidas de distância entre as
linhas de contorno, comprimento das linhas de contorno, perímetro da bacia, comprimento
dos canais da rede hidrográfica, etc.

As unidades mais utilizadas para expressar a altura de lâmina de água de Irrigação,


Precipitação, Evaporação, Evapotranspiração, Armazenamento e Escoamento, são o
centímetro e o milímetro.

Matematicamente pode-se demonstrar que 1,0 mm de lâmina de água corresponde a


10,0 m3/ha, o que possibilita transformar essa unidade em vazão e vice-versa:

10m 3 10m 3 1,0m *10m 2 1,0m


= = = = 0,001m = 1,0mm
1ha 10000m 2 10000m 2 1000
12

A área por sua vez, é uma grandeza que define o tamanho da superfície, tais como da
própria bacia hidrográfica, ou da área dos diferentes tipos de uso e cobertura, do reservatório,
etc. A área da bacia hidrográfica é uma grandeza cujo conhecimento é muito importante para
a determinação exata do volume de chuva na bacia, do volume do escoamento superficial,
etc.

Grandezas de volume são usadas, por exemplo, na expressão da quantidade de água


produzida pela bacia hidrográfica, na capacidade de armazenamento do solo, na irrigação, na
capacidade de armazenamento de reservatórios, etc.. a expressão .metro cúbico por segundo
dia. (m3/s.dia), por exemplo, refere-se à descarga de 1 m3 /s durante um período de 24 horas,
o que equivale a um volume de 86400 m3 de água.

A vazão é um parâmetro representado pela relação entre o volume (m³, l) por unidade
de tempo (h, min ou s) obtida aplicando-se a equação da continuidade: Q = V.A , onde Q =
Vazão em m3/s, A é a área em m2 e V é a velocidade da água em m/s. Facilmente podemos
considerar o área de uma bacia e o tempo de chuva ou ainda o tempo de bombeamento de
água e transformar a altura de lâmina de água (mm) em vazão (m³/hora).

Quando se deseja comparar as vazões de diferentes bacias hidrográficas, a unidade


adequada é a chamada vazão ou descarga específica, que é dada por m3/s.km2, a qual define a
vazão dividida pela área da bacia hidrográfica. No balanço hídrico de bacias hidrográficas o
deflúvio é frequentemente expresso em milímetros de altura de água sobre a área da bacia
(mm), a fim de facilitar a comparação com a precipitação e a evapotranspiração, também
normalmente expressas nesta mesma unidade linear.

3. PRECIPITAÇÃO

A precipitação é toda quantidade de água proveniente da atmosfera que atinge a


superfície terrestre. As precipitações podem ser dos tipos neblina, orvalho, geada, neve,
granizo, saraiva e a chuva. Embora cada um dos tipos possua importância dentro de algum
sistema, a chuva (forma líquida) é a principal forma devido ao fato de possibilitar diretamente
o abastecimento urbano, industrial, bem como de dar suporte à agricultura irrigada e ainda
devido a sua capacidade de gerar escoamento superficial e ocasionar inundações e prejuízos
econômicos.

A ocorrência da precipitação é aleatória e não permite uma previsão determinística,


sendo tratado estatisticamente em termos de probabilidade de ocorrência e com a utilização
13

de uma série de dados (30 anos) o que para a maioria das bacias hidrográficas se constitui
num problema devido à falta de dados.

A - Precipitação Convectiva B - Precipitação Orográfica

C - Precipitação Ciclônica

Figura 6. Tipos de Precipitação.


Fonte: Tucci, (2000)

3.1. Mecanismo de Formação da Precipitação

A quantidade de vapor d’água presente na atmosfera se constitui em um reservatório


potencial de água, pois há 15.000 Km3 de água na forma de vapor na atmosfera, que
corresponde a 0,001% da água presente no globo terrestre. Esta quantidade de vapor é dita
potencial, principalmente por que nem todo vapor presente na forma de nuvem irá precipitar.

A nuvem é um aerossol constituído por uma mistura de ar, vapor d’água e gotículas no
estado líquido que variam de 0,01 a 0,03 mm de diâmetro. Quando se olha para o céu deve-se
perguntar, toda nuvem produz chuva ?

Observando o céu, verifica-se a existência de nuvens que não produzem chuva o que
evidencia a necessidade de ocorrência de algum processo que desencadeie a chuva. A origem
da chuva na realidade está relacionada aos processos de crescimento e coalescência das
gotículas de água nas nuvens, de modo que atinjam um volume tal que seu peso supere as
14

forças que a mantém em suspensão, adquirindo então velocidade superior às forças verticais
de ascensão.

3.2. Tipos de Precipitação

As chuvas convectivas ocorrem em dias de verão, devido ao aquecimento desigual da


superfície ar junto ao solo mais quente e leve do que o ar mais denso e frio que o circunda, se
eleva e sofre expansão e saturação, em grandes altitudes se resfria, se condensa formando as
nuvens e então se precipita (Figura 6). Sua ocorrência se dá em regiões tropicais e em geral
são chuvas locais de curta duração e de grande intensidade. Nas chuvas chamadas orográficas
(Figura 6), o ar úmido é forçado por montanhas ou serras a subir a grandes altitudes onde se
condensa e precipita. Exemplo típico dessa precipitação é a que ocorre na Serra do Mar no
litoral paulista. As chuvas desse tipo atingem áreas maiores são de grande duração e de baixa
intensidade. A chuva do tipo ciclônica (Figura 6), é provocada pelo deslocamento de grandes
massas giratórias de ar cujo centro de pressão é baixo. Está associada às superfícies de
contacto ou frentes, entre massas de ar com temperatura e umidades diferentes. As chuvas
provenientes de frentes quentes (Massa de ar quente sobre a fria), geralmente produzem
chuva de grande duração e pequena intensidade, de ampla distribuição e ocasionando
inundações em grandes bacias hidrográficas. As chuvas provenientes de frentes frias (Massa
de ar fria sobre a quente), geralmente produzem chuva de pequena duração e grande
intensidade, ocasionando inundações em pequenas bacias hidrográficas.

3.3. Medição da Precipitação

Para a medição e registro das precipitações, é importante conhecer grandezas como a


altura pluviométrica, duração e intensidade, que caracterizam a chuva:

a) Altura pluviométrica: normalmente representada pela letra (P ou h), corresponde a


uma espessura média de lâmina de água que recobriria uma região atingida por uma
precipitação, admitindo-se que a água não se infiltre, evapore ou não escoe para fora da
região. A unidade de medição usual é o (mm) milímetro de chuva que corresponde a uma
quantidade de chuva de um litro por metro quadrado de superfície (l/m2).

b) Duração: A duração da chuva é representada pela letra (t) e refere-se ao período de


tempo durante o qual ocorre chuva. Usualmente é medida em minutos ou horas.
15

c) Intensidade de chuva: normalmente representada pela letra (i), corresponde a relação


entre a altura pluviométrica e a duração da chuva, ou seja, precipitação por unidade de tempo,
sendo expressa portanto em mm/hora ou mm/minuto.

d) Tempo de retorno: Normalmente representado por (Tr) e também conhecido como


Tempo de recorrência, refere-se ao intervalo de tempo em que uma determinada precipitação
seja igualada ou excedida pelo menos uma vez.

O Tempo de retorno é expresso em anos e baseado na probabilidade de ocorrência. Se o


evento ocorre em valor igual ou maior uma única vez a cada T anos, sua freqüência ou
1
probabilidade de ocorrência será dada por: T= onde:
P

T = Tempo de retorno (Anos)


P = Probabilidade ou freqüência de ocorrência
e) Freqüência também conhecida como probabilidade de excedência é uma medida de
com que freqüência um evento de chuva específico será igualado ou excedido, e sua
determinação se faz pelo inverso do Tempo de recorrência.

Por exemplo: uma chuva com Tr = 5 anos significa que é esperado que pelo menos uma
vez a cada 5 anos essa chuva seja igualada ou excedida. Isto é há 20% de chance de que seja
igualado ou excedido no período de 5 anos.

3.3.1. Pluviômetros e pluviógrafos

Os equipamentos utilizados para quantificar a chuva ou precipitação são o pluviômetro


e o Pluviógrafo (Figura 7)

O Pluviômetro é constituído de um cilindro captador e de um reservatório de água e que


em vários modelos vem acompanhado de uma proveta já graduada em mm. O cilindro
captador tem um diâmetro D (cm) e, portanto, uma área A = πD2/4 (cm2 ) e um volume de
água captado V (cm3 ). A ligação entre a boca do cilindro e o reservatório de água é feito por
um funil que tem também como finalidade minimizar as perdas da água por evaporação.

Desse modo a quantidade ou altura de chuva P, é calculada pela seguinte relação:

V
P= x10 = mm
A
Exemplo: Um Pluviômetro com diâmetro 25 cm coletou um volume de água de 1600
cm3 , a altura de chuva nesse caso será:
16

1600
A = 3,14 x (252 )/4 = 490,6 cm2 P= x10 = 32,6mm
490,6

A quantidade de chuva independe do diâmetro do cilindro coletor, pois no exemplo


anterior se o cilindro tivesse o dobro de área, também coletaria o dobro do volume.

Devido ao fato de P ser independente da área, lógico que para um dado pluviômetro o
valor de P depende de sua área A. O fato de P independer da área e que faz com que a
unidade mm seja útil e pratica, pois se espalharmos 1 litro de água sobre uma superfície plana
e impermeável de 1 metro quadrado, teremos uma lâmina ou altura de água de 1 milimetro.
Conforme pode ser observado na relação:

1litro 1000cm 3
P= = = 0,1cm = 1mm
m2 10000cm 2

O entendimento dessa relação é de suma importância, pois já vimos que 1 mm de chuva


corresponde a 1 litro /m2 e assim, se uma determinada chuva foi de 32,6 mm, então choveu
32,6 litros em cada metro quadrado de área. Pode-se com isso inferir que uma área de 1
hectare ou seja uma área de 10.000 m2 recebeu da mesma chuva a quantidade de 326.000
litros ou 326 m3 .

Dessa forma conhecendo-se a área de captação de uma bacia passamos a ter uma idéia
mais concreta do volume de água que se acumula ou escoa após uma determinada chuva, pela
seguinte relação, 1 mm = 10 m3/ha.

Pluviômetro Pluviógrafo
Figura 7. Pluviômetro e Pluviógrafo do Postro meteorológico UNITAU/INMET
17

A medida com pluviógrafos é importante devido ao fato que demonstra a relação da


altura de chuva com seu tempo de duração. Os pluviógrafos possuem uma superfície
receptora padrão de 200 cm2. Os registros dos pluviógrafos são indispensáveis para o estudo
de chuvas de curta duração, que é necessário para os projetos de galerias pluviais.

Existem vários tipos de pluviógrafos, porém somente três têm sido mais utilizados.

a) Pluviógrafo de caçambas basculantes: consiste em uma caçamba dividida em dois


compartimentos, arranjados de tal maneira que, quando um deles se enche, a caçamba
bascula, esvaziando-o e deixando outro em posição de enchimento. A caçamba é conectada
eletricamente a um registrador, sendo que uma basculada equivale a 0,25 mm de chuva.

c) Pluviógrafo de flutuador: Este aparelho é muito semelhante ao pluviógrafo de peso.


Nele a pena é acionada por um flutuador situado na superfície da água contida no receptor.

Medindo-se o intervalo de tempo em que determinada chuva foi coletada no


pluviômetro, pode-se determinar a intensidade da chuva pela seguinte relação:

V
i= = mm / hora
A∆t

A unidade de tempo mais comum na medida da intensidade de chuva è a hora, contudo


o minuto também pode ser utilizado. No exemplo anterior se os 1600 cm3 tivessem sido
coletados em um intervalo de tempo de 3 horas, a intensidade de chuva seria:

1600
i= x10 = 10,87mm / h
490,6 x3

Contudo, raramente tem-se condições de registrar com precisão a hora de início e do


término de uma chuva, e atribuir-lhe uma única intensidade, pois dentro de uma mesma
chuva essa intensidade pode variar grandemente. As medidas de início e término de uma
chuva e a suas variações de intensidade são bastante precisas por meio do uso de
pluviogramas.

Pluviogramas: Os gráficos produzidos pelos pluviógrafos são chamados de


pluviogramas (Figura 8), nos quais a abscissa corresponde às horas do dia e a ordenada
corresponde à altura de precipitação acumulada até aquele instante.
18

Figura 8. Exemplo de um Pluviograma

Ietogramas: Os ietogramas são gráficos de barras (Figura 9), nos quais a abscissa
representa a escala de tempo e a ordenada a altura de precipitação. A leitura de um ietograma
é feita da seguinte forma: a altura de precipitação correspondente a cada barra é a
precipitação total que ocorreu durante aquele intervalo de tempo.

Figura 9. Exemplo de um Ietograma.

3.4. Manipulação e Processamento dos Dados Pluviométricos

Os dados lidos nos pluviômetros são mais comuns do que os dados de pluviógrafos e
são lançados diariamente pelo observador em folhinha específica, a qual é remetida no fim
de cada mês para a entidade encarregada. Antes, do processamento dos dados observados nos
postos são feitas algumas análises para a verificação de consistência dos dados.

3.4.1.Verificação de erros grosseiros

Como os dados são lidos pelos observadores, podem ocorrer erros considerados
grosseiros do tipo Observações marcadas em dias que não existem (ex.: 31 de abril); Leituras
absurdas (ex.: 500 mm em um dia); Erros de transcrição (ex.: 0,36 mm em vez de 3,6 mm).
19

Para verificar se não houve defeito na sifonagem em pluviografo, acumula-se a


quantidade precipitada em 24 horas e compara-se com a altura lida no pluviômetro que em
postos meteorológicos fica ao lado destes.

3.4.2. Verificação da homogeneidade dos dados:

Mudanças na locação ou exposição de um pluviômetro podem causar um efeito


significativo na quantidade de precipitação que ele mede, conduzindo a dados inconsistentes
(dados de natureza diferente dentro do mesmo registro). A verificação da homogeneidade dos
dados é feita através da análise de dupla-massa. Este método compara os valores acumulados
anuais (ou sazonais) da estação X com os valores da estação de referência, que é usualmente
a média de diversos postos vizinhos.

Na Figura 10 são mostrados exemplos de aplicação desse método, no qual as curvas


obtidas apresentam mudança na declividade, o que significa que houve uma anormalidade.

Figura 10. Verificação da homogeneidade dos dados, Fonte:Tucci, (2000).


20

3.4.3. Variabilidade espacial e temporal da chuva

A precipitação varia geográfica, temporal e sazonalmente. O conhecimento da


distribuição e variação da precipitação, tanto no tempo como no espaço, é imprescindível
para estudos hidrológicos. Em geral, a precipitação é máxima no Equador e decresce com a
latitude. Entretanto, existem outros fatores que afetam mais efetivamente a distribuição
geográfica da precipitação do que a distância ao Equador.

Embora os registros de precipitações possam sugerir uma tendência de aumentar ou


diminuir, existe na realidade uma tendência de voltar à média. Isso significa que os períodos
úmidos, mesmo que irregularmente, são sempre contrabalançados por períodos secos. Em
virtude das variações estacionais, define-se o Ano hidrológico em duas “estações”, o semestre
úmido e semestre seco.

Na Figura 11. é apresentada a variabilidades da chuva no tempo (diariamente) para o


mês de janeiro de 1984, ocorrida em Piracicaba – SP, enquanto na Figura 12 é apresentada a
variabilidade da chuva no espaço e no tempo (locais diferentes e meses diferentes) para
quatro diferentes estados do Brasil.

Figura 11. Variabilidade da chuva no tempo para Piracicaba –SP no mês de janeiro.de 1984.
Fonte: Reichardt, (1986).

Outro aspecto importante na medida da chuva é a sua variabilidade espacial que pode
ser observada, mais freqüentemente, nas chuvas de verão das regiões tropicais e subtropicais,
as quais são muito localizadas. Dessa forma e freqüente chover em um local e não chover a
umas poucas centenas de metros desse local. Esse fato suscita a pergunta: Quantos
pluviômetros são necessários para se ter uma boa representatividade da chuva. Essa e uma
pergunta difícil de responder e um critério pratico e a de se ter 1 pluviômetro a cada 1 a 5
21

Km2 , contudo uma densidade de pluviômetros dessa ordem significa um custo elevado de
instalação, operação e manutenção.

Figura 12 .Variabilidade da chuva (espaço e tempo) nos estados do Amazonas, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Sul.
Fonte: Reichardt, (1987).

No Brasil nas redes meteorológicas estaduais e federais em geral, apenas um posto


representa um município (Figura 13). Dessa forma, os dados de precipitação de muitos
municípios com muitas dezenas e ate centenas de Km2 são originados de um único
pluviômetro. O que sem duvida infere uma limitação.

Figura 13. Distribuição de Postos Meteorológicos no Brasil, Fonte: (INMET, 2007).


22

A variabilidade temporal é de ocorrência mais comum e afeta em geral a todas as


chuvas nos mais diferentes intervalos de tempo. Assim, tanto a quantidade quanto a
intensidade da chuva variam em um mesmo dia, de dia para dia, mês para mês e de ano para
ano. As variações de chuva dentro de um mesmo dia têm interesse muito especifico, assim, os
totais de chuva tem sido registrados, tradicionalmente a cada 24 horas. Com dados dessa
natureza calculam-se totais mensais e anuais.

3.4.4. Estudos de intensidade-duração-frequência

Os estudos de intensidade-duração-frequência das chuvas são importantes para a área de


engenharia na definição e dimensionamento de obras hidráulicas. Pfasteter, (1957, 1982) foi
o primeiro a desenvolver estudos dessa natureza no Brasil por meio da análise de 98 postos
meteorológicos do atual Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), dados relativos a esse
estudo para os 14 postos de 11 municípios do Estado de São Paulo podem ser encontrados na
publicação Drenagem Urbana da CETESB . Estudos dessa natureza são mais precisos com o
uso de série histórica de dados, que compreendem 30 anos e Embora Pfasteter (1957) tenha
contado com pequena sequência de dados para muitos postos como o de Taubaté, por
exemplo, que só dispunha de aproximadamente 6 anos de dados de chuva, tais equações tem
sido utilizadas ainda hoje por muitos projetistas. Os estudos de equações de chuvas intensas
mais recente para o Estado de São Paulo englobando 30 municípios foi desenvolvido por
Martinez Junior & Magni (1999). Dados para o Município de Taubaté encontram-se nas
Tabelas 2 e 3.

Exemplo da relação intensidade – duração – período de retorno para Taubaté Martinez


Junior & Magni (1999).

Nome da estação: Taubaté – E2-022R


Coordenadas geográficas: Lat. 23°02’S; Long. 45°34’W
Altitude: 610 m
Período de dados utilizados: 1964-65; 1969-88; 1990-97 (30 anos)
Equação:
it,T = 54,5294 (t+30)–0,9637+ 11,0319 (t+20)–0,9116.[–0,4740–0,8839 ln ln(T/T–1)]
onde:

i = intensidade da chuva, correspondente à duração t e período de retorno T, em


mm/min;
t = duração da chuva em minutos;
T = período de retorno em anos.
23

4. INTERCEPTAÇÃO

A interceptação é a retenção de parte da precipitação acima da superfície do solo,


podendo ocorrer devido a vegetação ou outra forma de obstrução ao escoamento. O volume é
retido pela vegetação, o mesmo volta para a atmosfera. A tendência é que a interceptação
vegetal retarde o escoamento e reduza o pico das cheias. Linsley (19490) menciona que as
perdas por interceptação podem chegar a 25% da precipitação anual. Em florestas todo o
volume de água é retido se a precipitação é menor que 0,3 mm e em torno de 10 a 40 % da
precipitação é retida para precipitações maiores que 1 mm.

Dados sobre a interceptação vegetal da chuva no Brasil são escassos, contudo, em


balanço hídrico feito pelo Laboratório de Hidrologia Florestal Walter Emmerich, no
município de Cunha – SP, encontrou-se um valor da ordem de 18 %. Da quantidade que é
interceptada pelas árvores, ocorre o escoamento de uma parte pelo tronco, a qual atinge o
solo.
Tabela 2. Previsão de máximas intensidades de chuva em mm/hora para Taubaté –SP.

Fonte: Martinez Junior & Magni (1999).

Tabela 3. Previsão de máximas alturas de chuva em mm para Taubaté –SP.

Fonte: Martinez Junior & Magni (1999).


24

5. INFILTRAÇÃO DE ÁGUA NO SOLO

Infiltração é o fenômeno de penetração da água no solo através de sua superfície, sendo


portanto, um processo que depende fundamentalmente de água disponível para infiltrar, da
natureza do solo (textura, estrutura e porosidade), do estado da superfície do solo, e das
quantidades de ar e água presentes no perfil de solo. Velocidade de Infiltração: é a quantidade
máxima de água que um solo, sob uma dada condição, é capaz de absorver na unidade de
tempo por unidade de área. Geralmente é expressa em mm/h, mm/min ou m/dia.

À medida que a água infiltra pela superfície, as camadas superiores vão sendo
umedecidas de cima para baixo alterando gradativamente o perfil de umidade do solo. Essa
infiltração se dá pela ação da gravidade (força Peso), que vence as forças de adesão e coesão
entre as partículas de solo e a água (umidade). Existe então uma frente de molhamento na
penetração da água no solo, que ao se aprofundar deixa o solo acima de si saturado Contudo,
o ar presente no solo, fica aprisionado em vários poros do solo, e assim, nesse processo, a
taxa de infiltração passa a diminuir com o tempo, pois ocorre o aumento de comprimento da
zona saturada que em conjunto com o ar aprisionado passa a oferecer resistência ao processo
de infiltração. Desse modo, a água só irá se aprofundar mais em uma camada de solo, se a
camada imediatamente superior estiver saturada, e sendo assim, se o fornecimento de água
cessar, cessa-se o processo de infiltração e o que teremos é um processo de redistribuição da
umidade no solo.

A velocidade de infiltração decresce com o tempo, de modo que após algum tempo
pode ocorrer escoamento superficial. A capacidade de infiltração aumenta com o aumento da
porosidade, do tamanho das partículas, da presença de fissuras biológicas e do estado de
fissuração das rochas. Quanto mais seco o solo, maior será a capacidade de infiltração, as
águas das chuvas transportam os materiais finos que, pela sua sedimentação posterior, tendem
a reduzir a porosidade da superfície. As chuvas saturam a camada próxima à superfície e
aumenta a resistência à penetração da água. A cobertura vegetal do solo favorece a
infiltração, já que dificulta o escoamento superficial da água e melhora a porosidade do solo.

5.2. Método de determinação da quantidade de água infiltrada

5.2.1. Infiltrômetro de anéis concêntricos

O processo mais utilizado para a determinação da capacidade de infiltração de um solo


é a medição pelo método denominado de Anéis concêntricos Figura 14. processa-se
considerando o solo inundado.
25

Figura 14. Infiltrômetro de Anéis Concêntricos.

São constituídos de dois anéis concêntricos de chapa metálica, com diâmetros variando
entre 16 e 40 cm, que são cravados verticalmente no solo de modo a restar uma pequena
altura livre sobre este. Aplica-se água em ambos os cilindros mantendo uma lâmina líquida
de 1 a 5 cm, sendo que no cilindro interno mede-se o volume ou a altura de água aplicada a
intervalos fixos de tempo. A finalidade do cilindro externo é manter verticalmente o fluxo de
água do cilindro interno, onde se faz a medição. Testes de infiltração de água podem demorar
de 1 a 2 horas em solo arenoso, e, até 6 ou mais horas em solo argiloso.

Em geral esses tempos são médios, mas ao realizar a medição da velocidade de


infiltração em um solo, o momento de se terminar o teste de medição é decidido quando se
observa não haver diferença entre 2 ou 3 leituras seguidas, indicando que já se atingiu a
Velocidade de Infiltração Básica (VIB), a qual corresponde a máxima capacidade daquele
solo infiltrar água, e, embora se diga máximo, o valor sempre será o menor encontrado no
teste.

Ao anotarmos graficamente os valores de decréscimo da infiltração em função do


tempo, tem-se a Velocidade de infiltração instantânea (mm/h, por exemplo) e ao acumular-se
esses valores no tempo, tem-se a Infiltração acumulada (mm), conforme pode ser observado
na Figura 15.
26

Figura 15. Gráfico de Velocidade de Infiltração Instantânea e Infiltração Acumulada.


Fonte: Reichardt (1987).

Alguns valores de Velocidade de infiltração Básica para solos e outras superfícies são
mostrados nas Tabela 4.
Tabela 4. Valores de Velocidade de Infiltração Básica para solos no Brasil
Classificação VIB (mm/h)
Muito alto > 30
Alto 15 – 30
Médio 5 -15
Baixo 1–5
Muito baixo <1
Fonte: Reichardt (1987)

6. RETENÇÃO E ARMAZENAMENTO DE ÁGUA NO SOLO

Parte da água infiltrada no solo chega a atingir camadas mais profundas e com isso
atinge o aqüífero freático, o qual está em contato direto com, rios, córregos, lagos e
nascentes. Contudo, pode ocorrer que a quantidade de água seja suficiente somente para
umedecer e/ou saturar determinada camada de solo, sendo portanto retida por ele e se
constituindo em água de armazenamento. A água é retida nos poros do solo por forças
capilares, que são função da afinidade entre partículas sólidas do solo e a água, havendo
necessidade da ocorrência da interface ar-água. Estas interfaces ar-água, chamadas meniscos,
apresentam uma curvatura que é tanto maior quanto menor for o tamanho do poro. A
curvatura determina o estado de energia da água e assim, quanto menor o poro mais retida
está a água. Desse modo para se esvaziar um poro grande (solo arenoso) precisa-se de menor
quantidade de energia de sucção do que para esvaziar poros pequenos (solo argiloso).
27

A água armazenada no solo é medida em altura de lâmina de água (mm), do mesmo


modo que a altura de chuva (mm). Se por exemplo tivermos um bloco de solo com base de 80
cm x 60 cm e colocarmos nesse solo 150litros de água, a mesma alcançaria nesse bloco de
solo a altura de 31,25 cm ou 312,5 mm de lâmina de água, conforme se pode verificar na
Figura 18.

Figura 16 Representação do volume de armazenamento de água no solo como altura.


Fonte: Reichardt (1987)

7. EVAPORAÇÃO

Fenômeno pelo qual a água passa da fase líquida para a fase gasosa (vapor), a
evaporação ocorre tanto em uma massa de água contínua (mar, lago, rio, poça) como em uma
superfície úmida (planta, solo, etc.) e exige um determinado suprimento de energia externa,
normalmente admitido como poder evaporante do ar.

7.1. Poder Evaporante do Ar

A atmosfera está em contínuo movimento, misturando e principalmente renovando o ar


que envolve uma superfície, seja esta coberta de água, vegetação, solo ou qualquer material
impermeável, como ocorre em áreas urbanas. Esta renovação dificulta que o ar
imediatamente em contato e acima da superfície se sature, mantendo o déficit de saturação e,
por conseqüência, a continuidade do processo evaporativo. Portanto, a movimentação
atmosférica mantém um poder evaporante.
28

7.2. Evaporação de Superfícies de Água Livre

A evaporação de águas de superfícies naturais é um importante componente do ciclo


hidrológico, pois representa aproximadamente 75% do total de chuva na bacia continental
que retorna para a atmosfera. A avaliação quantitativa dessa evaporação é importante para o
manejo de superfícies de água como os lagos e reservatórios. No Brasil são escassas as
pesquisas e experimentações de campo que contabilizem diretamente a evaporação de lagos e
reservatórios, sendo a utilização de dados obtidos em tanques de evaporação e as estimativas
por meio de equações, as únicas informações existentes. A confiabilidade em dados
provenientes de tanques de evaporação, por vezes em locais ou áreas de difícil acesso pode
ser questionável devido a dificuldades práticas, das quais existem vários exemplos, como o
consumo e a poluição da água do tanque por animais.

No caso de se medir a evaporação em reservatórios, além da possibilidade de


consideração de diferentes tipos de tanques de evaporação, há que se considerar a posição do
tanque em relação ao reservatório. Assim, situações se o tanque está enterrado ou na
superfície do solo, ou se o tanque flutua sobre a água, se o tanque está instalado no limite da
borda do reservatório, ou mais afastado, ou ainda se o tanque está instalado em local sem
lago. De modo que não basta para os técnicos a informação de evaporação sem saber de onde
e de qual condição essa informação provém.

O Tanque Classe A (Figura 17.) é um tanque que em geral é instalado em postos


meteorológicos em superfície vegetada com grama ou não e a determinação diária da
evaporação é feita pela diferença entre a medida atual menos a medida do dia anterior.

Figura 17. Tanque de Evaporação Classe A.


29

7.2.1. Fatores que afetam a evaporação em superfície de água livre:

a) Umidade Relativa: A Umidade Relativa do ar é relação entre a quantidade de vapor


presente no ar e a quantidade de vapor que ele teria se estivesse saturado de vapor. Assim,
quanto maior a Umidade Relativa do ar menor será o processo de evaporação, pois o sistema
água-ar já estaria se aproximando da situação de equilíbrio.

O Brasil com sua enorme extensão territorial, apresenta grande variação nos valores de
umidade do ar. Na região Amazônica a UR fica quase sempre próximo a 100 % devido a
ocorrência diária de chuva. Em regiões áridas como o Nordeste, a UR pode em determinadas
épocas do ano se aproximar de 20 a 10 % . Na região Centro-Oeste são típicos valores médios
de UR ao redor de 50 a 40%. Nas regiões Centro-Sul e Sul são comuns os valores de UR ao
redor de 50 a 70 %. Esses valores de UR são valores médios, pois os valores diários e
estacionais da UR podem apresentar grande variação.

b) Radiação Solar e Temperatura: A radiação solar afeta diretamente a demanda


atmosférica de água, pois é a fonte de energia para todos os processos que ocorrem na
atmosfera. Um desses processos é o calor sensível que quando absorvido provoca variação de
temperatura. Dessa forma o ar e as superfícies expostas a radiação solar como o solo, as
plantas e as superfícies de água livre de lagos, rios e oceanos se aquecem ao absorverem essa
radiação. O ar mais quente tem capacidade de reter mais vapor de água e dessa forma ele se
expande diminuindo então a sua densidade e facilitando a sua elevação na atmosfera. Por
outro lado o aquecimento da água promove o aquecimento e conseqüentemente o aumento da
energia cinética das moléculas de água que estão no interior de uma massa líquida,
facilitando a passagem da água do estado líquido para o estado gasoso, vencendo a tensão
superficial da água e portanto evaporando.

No tanque representado pela Figura 18. as moléculas de água que estão no meio da
massa líquida estão ligadas umas com as outras por componentes horizontais (direita e
esquerda) e componentes verticais (inferior e superior), enquanto que as moléculas de água
que estão próximo a superfície não apresenta a componente vertical superior. Esse
desequilíbrio nada mais é que a tensão superficial da água. Na medida em que uma molécula
de água é puxada para o interior da massa líquida e ocorrendo o aquecimento da água devido
à radiação solar, uma molécula do interior da massa líquida que obteve ganho de energia
cinética (energia de movimento) ocupa seu lugar. Na superfície de água livre, existe o contato
ar-água ocorre uma grande troca de vapor de água e se a molécula que sobe tiver energia
cinética maior que a tensão de vapor na interface ar-água, a mesma vence a tensão superficial
30

e se transforma em vapor de água. Imagine o processo de ebulição da água no momento em


que você esquenta água para um café, por exemplo, a evaporação da água como descrito
acima é um processo semelhante, só que em uma escala, visualmente, imperceptível.

Figura 18. Ilustração do processo de evaporação em um tanque.

A radiação líquida média, por exemplo, na região de Piracicaba no estado de São Paulo
(Reichardt, 1987) no período de primavera-verão é 337 cal/cm2/dia, se toda essa energia for
utilizada para evaporar a água de um tanque a 25 oC, por exemplo, ela seria suficiente para
evaporar 0,578 g de água em cada cm2. Isto porque 1 g de água exige 583 cal para se
evaporar a 25 oC. Como 0,578 g é igual a 0,578 cm3, a altura de água evaporada será de
0,578 cm ou 5,78 mm.

c) Vento: O vento transporta massas de ar de uma região para outra e, assim, afeta a
evaporação pois quando uma massa de ar úmida e fria é reposta por uma massa de ar seca e
quente, novas quantidades de vapor podem ser absorvidas pelo ar e como conseqüência se
intensifica o processo de evaporação.

d) Salinidade da água: Existe uma afinidade muito maior entre moléculas de água e
entre essas e moléculas de sólido, do que de água-ar ou sólido-ar. Desse modo as forças de
retenção na interface sólido–água dentro de um tanque de evaporação, um lago ou rio de água
salobra, ou oceano do são mais fortes que da água pura, necessitando nesse caso de maior
energia para a evaporação.

7.3. Evaporação de uma Superfície de Solo

A evaporação do solo é também afetada pelos mesmos fatores que interferem na


evaporação de superfícies de água livre, contudo tem ainda uma série de diferenças, devido
ao tipo de superfície e natureza do material.

7.3.1. Fatores que afetam a evaporação da água em uma superfície de solo

a) Umidade do solo: Quanto mais úmido estiver um determinado solo mais fácil se dará
o processo de evaporação. Contudo o fluxo de água dentro do solo depende da sua estrutura e
31

da sua textura, pois um solo argiloso por exemplo tem grande capacidade de armazenar água,
devido ao pequeno tamanho de suas partículas que lhe confere elevada porosidade, mas ao
mesmo tempo eleva em muito a suas forças de retenção nas interfaces sólido-líquido,
diminuindo assim a sua capacidade de transmitir água.

b) Profundidade do Lençol Freático: A profundidade do lençol freático no solo pode


favorecer ou dificultar a evaporação de sua superfície, pois se a demanda evaporativa for
maior que a possibilidade de transmissão de água do lençol freático para a superfície por
ascensão capilar, o solo superficial irá secar primeiro, quebrando assim os capilares (colunas
de água) que elevam a água até a superfície do solo, diminuindo assim a evaporação. Em
geral lençol freático em profundidades acima de 1,7 metros deixam de abastecer a superfície
do solo por ascensão capilar.

c) Coloração do solo: A coloração do solo irá interferir na sua capacidade do mesmo em


refletir mais ou menos a radiação solar (Albedo) e por conseguinte na sua capacidade de
absorver energia, que em última análise é responsável pelo aquecimento de tais superfícies.
Dessa forma quanto mais escuro for um menos energia ele reflete, mais energia ele absorve e
portanto se aquece mais rapidamente do que um solo claro, que irá refletir mais radiação.

7.4. Evaporação de uma Superfície Vegetada

A evaporação que mais ocorre em uma planta é a evaporação da água que foi utilizada
nos diversos processos metabólicos necessários ao crescimento e desenvolvimento das
plantas, o qual recebe o nome de transpiração. Contudo, ocorre logo após cessar uma chuva a
evaporação da superfície foliar e caules.

7.4.1. Fatores que afetam a evaporação da água em uma superfície vegetada

a) Estágio de desenvolvimento vegetal: No início de desenvolvimento as plantas têm


poucas folhas e a medida que crescem vão aumentando as suas superfícies vegetais e,
portanto, tem maior área para perder água por evaporação.

b) Número de estômatos: Essa evaporação se dá através dos estômatos que são


estruturas microscópicas (<50 µm) que ocorrem nas folhas (de 5 a 200 estômatos/mm2) e que
permitem a comunicação entre a parte interna da planta e a atmosfera. Através dos estômatos
fluem gás carbônico, oxigênio e vapor d'água. Na maioria das plantas, os estômatos
permanecem abertos durante o dia (grande taxa de evaporação) e fechados durante a noite e
32

nas condições de acentuado estresse hídrico. Informação mais detalhada sobre a perda de
água das plantas pode ser obtida em Ferri, (1979).

8. EVAPOTRANSPIRAÇÃO

Evapotranspiração é o termo que foi utilizado por Thornthwaite, no início da década de


40, para expressar a ocorrência simultânea dos processos de evaporação e transpiração em
uma superfície vegetada. Anteriormente, Jensen 1973 utilizava o termo uso consuntivo, que
leva em conta a água retida na planta.

A Evapotranspiração constitui-se em transferência de água na forma de vapor do


sistema solo-planta para a atmosfera, isto é, a somatória da evaporação do solo com a
transpiração da planta, o que geralmente é medida em mm/dia.

Existindo água disponível no sistema solo-planta este fluxo pode atingir 10 mm/dia
dependendo se o dia está ensolarado, com UR baixa e vento razoável. Em dias nublados por
outro lado, dado a elevada UR, o fluxo pode ser pequeno e mesmo desprezível.

Quando a planta é jovem a evaporação do solo tem mais peso no valor da


Evapotranspiração, mas a medida em que a planta cresce e suas folhas vão cobrindo toda a
superfície do solo, a evaporação chega a atingir valores desprezíveis, sendo a
Evapotranspiração nessa fase comandada quase que exclusivamente pela transpiração da
planta.

A evapotranspiração é controlada pela disponibilidade de energia, pela demanda


atmosférica e pelo suprimento de água do solo às plantas. A disponibilidade de energia
depende do local e da época do ano. O local é caracterizado pelas coordenadas geográficas
(latitude e longitude) e pela altitude e topografia da região. A latitude determina o total diário
de radiação solar potencialmente passivo de ser utilizado no processo evaporativo.

8.1. Tipos de Evapotranspiração

8.1.1. Evapotranspiração potencial

Diz-se que a Evapotranspiração é potencial (ETp) quando a água é utilizada por uma
extensa superfície vegetada, em crescimento ativo e cobrindo totalmente o solo, estando esta
superfície vegetal bem suprida de umidade, ou seja, em nenhum instante a demanda
atmosférica é restringida por falta de água no solo. Para Penman (1956) a grama foi
33

prontamente tomada como padrão pois esta é a cobertura utilizada nos postos meteorológicos.
Assim definida, a ETp, é um dos elementos climatológicos fundamentais, que corresponde ao
processo oposto da chuva (Thornthwaite, 1946

8.1.2. Evapotranspiração real

A Evapotranspiração real (ETr) é aquela que ocorre numa superfície vegetada,


independente de sua área, de seu porte e das condições de umidade do solo. Portanto, ETr é
aquela que ocorre em qualquer circunstância, sem imposição de qualquer condição de
contorno. Logo, a ETr pode assumir tanto valor potencial ou outro menor qualquer. Como
ocorre em condições normais, a ETr pode ser limitada tanto pela disponibilidade de radiação
solar como pelo suprimento de umidade pelo solo.

8.2. Determinação da Evapotranspiração

Existem diversos métodos para obtenção da evapotranspiração:

8.2.1. Métodos indiretos

São aqueles que estimam a ETp pelo uso de formulas e Equações que se utilizam de
medições de alguns parâmetros climáticos específicos, além dos tanques de evaporação.

Existem mais de cinqüenta fórmulas para estimar a evapotranspiração potencial, sendo


mais utilizadas: método de Thornthwaite; método de Makking; método da radiação solar;
método de Jensen-Haise; método de Linacre; método de Hargreaves-Samani; método de
Blaney-Criddle; método de Penman; método de Penman simplificado; método de Penman-
Monteith.

Existem também vários tipos diferentes de tanques de evaporação, sendo o mais comum
o tanque Classe A. Neste caso mede-se a evaporação da água no tanque em situação de
cobertura vegetal (grama) circundando o tanque, e transformação dessa evaporação em
evapotranspiração se dá pela seguinte relação:

ETp = ECAxKp onde: ECA é a Evaporação do tanque Classe A, e Kp é o coeficiente


de tanque que depende da Umidade relativa, da velocidade do vento e do raio de cobertura
vegetal ao redor do tanque.

Maiores detalhes dessa metodologia poderão ser encontrados em Reichardt (1987).


34

8.2.2. Métodos diretos

O método direto mais comum é o uso de tanques com terra (lisímetros ou


evapotranspirômetros), enterrados no terreno para medir a percolação da água através do solo
e a evapotranspiração. Devem ser suficientemente grandes para ser reduzido o efeito de borda
e proporcionar bom desenvolvimento radicular, sem restrições, existindo vários tipos:

a) Evapotranspirômetros de drenagem: É constituído por, um tanque contendo solo


tendo, na parte inferior, um filtro com 10 a 15 cm de espessura formado de materiais com
diferentes granulações (Figura 19 A evapotranspiração total (E) no período será pois: ETp
= Ac – (Ap + P)

Figura 19. Evapotranspirometro de Drenagem

Nas Figuras 20 e 21 é demonstrada o conjunto de Lisímetros (Evapotranspirômetros) de


drenagem da estação experimental do Instituto Agronômico de Campinas.

Figura 20. Vista da superfície do conjunto de Lisímetros de drenagem.


Fonte: Bertoni & Lombardi Neto (1990)
35

Figura 21. Vista da parte subterrânea do conjunto de Lisímetros de drenagem.


Fonte: Bertoni & Lombardi Neto (1990)

b) Evapotranspirômetro de lençol freático: O evapotranspirômetro de lençol freático


regulável (Figura 22) é idêntico ao de drenagem no que concerne ao tanque contendo o solo
e a vegetação. A diferença fundamental está na forma como é feito o suprimento hídrico, de
maneira a manter, no fundo desse tanque, um lençol freático à profundidade escolhida.
Quando ocorre precipitação, o nível do lençol freático torna-se superior ao previsto e o
excesso de água acumulado precisa ser drenado. O evapotranspirômetro de lençol freático
regulável presta-se bem à determinação da evapotranspiração em culturas, para o caso
específico de plantas que tenham um sistema radicular não muito profundo. O nível do lençol
freático é rebaixado à medida que o sistema radicular das plantas vai se desenvolvendo, de
maneira a assegurar à vegetação pleno abastecimento hídrico, durante todas as fases do ciclo
evolutivo.

Figura 22. Evapotranspirômetro de Lençol freático


36

9. ESCOAMENTO SUPERFICIAL E SUBTERRÂNEO

9.1. Escoamento Superficial

O escoamento superficial assume diferentes importâncias dependendo do sistema


considerado. Em sistemas agrícolas é importante, para o controle da erosão, para dimensionar
sistemas de drenagem, para distribuição de água em canais de irrigação, pequenos
represamentos, etc. Em sistemas urbanos, e importante para dimensionar arruamentos,
galerias, bocas de lobo, controle da inundação, etc. Em sistemas de abastecimento público o
importante é a manutenção do escoamento natural de um rio, por exemplo, por meio do fluxo
subterrâneo visando ofertar também de água na época mais seca, em sistemas de geração de
energia elétrica o objetivo principal é gerar grandes escoamentos.

O escoamento superficial ou deslocamento da água em uma bacia hidrográfica, na


superfície do solo, nos rios, canais e represamentos, nas ruas, estradas e galerias, etc, é um
dos componentes mais importantes do ciclo hidrológico, cuja origem se dá fundamentalmente
nas precipitações ou chuvas. Para se iniciar o escoamento superficial naturalmente, a partir do
momento que a chuva atinge a superfície do solo, parte se infiltra, parte é retida em
depressões do terreno Se a chuva continua, a superfície do solo se cobre com uma lâmina de
água (detenção natural) e a água que começa a movimentar-se pela superfície do solo e em
pequenos sulcos ate atingir um curso superficial natural. Assim, o escoamento só ira ocorrer a
partir do momento que a intensidade de precipitação supere a capacidade de infiltração do
solo e as depressões nas superfícies retentoras tenham sido preenchidas.

As trajetórias descritas pela água em seu movimento são determinadas, principalmente,


pelas linhas de maior declive, pelo comprimento do declive, pela existência de pequenos
sulcos e são influenciadas pelos obstáculos existentes na superfície, os quais conferem
resistência ao movimento da água na forma de rugosidade. Conforme foi visto no item
referente ao ciclo hidrológico, o escoamento superficial de um rio está direta ou
indiretamente relacionado com as precipitações que ocorrem em sua bacia hidrográfica.
Considerando como melhor expressão do escoamento superficial o escoamento de um rio ou
córrego, e possível identificar (Figura 23), quatro formas pelas quais os cursos d’água
recebem água:
37

1. Precipitação direta sobre o curso d’água (P);


2. Escoamento na superficie do solo superficial (ES);
3. Escoamento sub-superficial ou hipodérmico (ESS);
4. Escoamento subterrâneo ou básico(ESUB)

Figura 23. Formas pelas quais um curso d’água recebe água.

9.1.1. Natureza da superfície


Se a superfície é o solo, são importantes as capacidades de detenção, de infiltração, de
transmissão, de armazenamento de água, a profundidade do solo e a presença de camada de
impedimento. Solos argilosos, por exemplo, embora tenham grande capacidade de
armazenamento, os mesmos têm baixa capacidade de infiltração e transmissão de água,
assim, é de se esperar maior volume de escoamento do que em solos arenosos que apresentam
baixa capacidade de armazenamento, mas elevada capacidade de infiltração e transmissão de
água.

Se a superfície é paralelepípedo, asfalto ou concreto, que são superfícies consideradas


mais impermeáveis, então é de se esperar grande volume de escoamento, e, portanto maior
possibilidade de enchentes e inundações.

9.1.2. Cobertura vegetal

A cobertura vegetal é a defesa natural de um terreno. O efeito da vegetação consiste em


dispersão da água de chuva, interceptando-a e evaporando-a antes que atinja o solo, em
proteger o solo contra o impacto das gotas de chuvas, melhoramento da estrutura do solo e
diminuição da velocidade de escoamento da enxurrada pelo aumento do atrito na superfície.

Na Figura 24 é demonstrado graficamente a influência da cobertura florestal no


escoamento superficial e na Figura 25 as perdas de solo em Kg/ha/ano, em diferentes tipos de
cobertura vegetal.
38

120

superficial (%)
100

Escoamento
80
60
40
20
0
0 8 40 90 100
Cobetura florestal (%)

Figura 24. Influencia da cobertura florestal no escoamento superficial

Café Algodão Mata


Pastagem
900 Kg/ha/ano 26.600 Kg/ha/ano 4 Kg/ha/ano
400 Kg/ha/ano
Figura 25. Diferentes tipos de cobertura vegetal para o solo.

O efeito da cobertura vegetal é muito importante não só no escoamento superficial,


como também, na redução da perda de solos por erosão. Assim, quanto maior a cobertura do
solo menor a perda de solo por erosão, conforme pode ser observado na Tabela 5.

9.1.3. Infiltração

A permeabilidade do solo influi diretamente na capacidade de infiltração, ou seja,


quanto mais permeável for o solo, maior será a quantidade de água que ele pode absorver,
diminuindo assim a ocorrência de excesso de precipitação. (Villela, 1975). O escoamento
superficial será tanto menor, quanto maior a velocidade de infiltração.

A Velocidade de infiltração decresce com o tempo, dessa forma, seu valor é alto no
início do processo e vai decrescendo até chegar a um valor aproximadamente constante,
quando então é chamada Velocidade de infiltração Básica.

9.1.4. Topografia

Os principais parâmetros topográficos que influenciam o escoamento superficial são a


declividade e o comprimento do declive. Quanto maior a inclinação do terreno maior a
39

velocidade da água no escoamento e quanto maior o comprimento do declive, maior a energia


cinética da água e conseqüentemente maior a possibilidade de ocorrer erosão em solos e
menor o tempo de percurso até a saída da bacia. Formulas para cálculo da velocidade de
escoamento superficial em função do tipo de superfície e declividade do terreno, para cálculo
do Tempo de concentração é mostrado na Tabela 5.
Tabela 5 Velocidade de escoamento superficial (m/s) em função do tipo de superfície e do declive (I = %) para cálculo do tempo
de concentração (Tc).

Floresta ou mata com grande depósito vegetal na superfície do solo V= 0,08 √ I


Forrageiras fechadas formando estolões; Braquiárias; grama V= 0,15 √ I
Solo não cultivado; Cultivo mínimo em faixas; Áreas reflorestadas V= 0,21 √ I
Pastagem de baixo porte em touceiras: V= 0,27 √ I
Terreno cultivado V= 0,30 √ I
Solo nú; Formação de aluviões em leque em direção ao vale V= 0,30 √ I
Canais com vegetação; Terrações com vegetação; Talvegue: V= 0,45 √ I
Áreas pavimentadas; Sulcos de erosão: V= 0,60 √ I
Tempo de percurso Tp = L / V , sendo L = Comprimento do Talvegue.
Tempo de ConcentraçãoTC = ∑ Tp
Fonte: Cruciani, (1989).

Conforme a Bertoni & Lombardi Neto (1990) em uma rampa de 100 metros, devido a
energia cinética o 1º 25 m perde 13,9 t/ha, 2º 25 m perde 25,9 t/ha, 3º 25 m perde 38,8 t/ha,
4º 25 m perde 51,4 t/ha, assim torna-se importante a adoção de parcelamentos da rampa para
o controle da erosão utilizando-se de terraceamentos ou cordões de vegetação permanente.

9.2. Grandezas que Caracterizam o Escoamento

Das grandezas características do escoamento superficial podemos citar como as mais


importantes:

a) Coeficiente de Escoamento (deflúvio ou run-off): é a relação entre a quantidade de


água escoada por uma determinada seção do curso d’água e a quantidade total precipitada
sobre a bacia, geralmente expresso como adimensional.

b) Velocidade :é a relação entre o espaço percorrido pela partícula de água e o tempo


de percurso, podendo-se distinguir a velocidade média, superficial e pontual, geralmente
expressa em m/s.

c) Vazão (descarga):é a relação entre o volume escoado e o intervalo de tempo de


escoamento, é igual ao produto da velocidade média pela área do curso d’água no ponto de
controle.
40

d) Vazão específica (contribuição unitária): é a relação entre a vazão e a área da


bacia , sendo expressa portanto, em litros por segundo por hectare (l/s/ha) ou metro quadrado
(l/s/m2).

e) Nível d’água :é a altura atingida pela água na seção considerada em relação a uma
dada referência. São valores instantâneos ou médios de períodos.

9.2.1. Métodos de determinação do escoamento superficial

A determinação do escoamento superficial é um processo difícil e muitas vezes custoso,


pois embora possa ser realizado no período de cheias, para a sua determinação, para fins de
utilização em estudos hidrológicos, geralmente, se necessita de um grande número de dados
(séries históricas) para denotar uma maior confiabilidade. Dessa forma utiliza-se como valor
base 30 anos de dados como série histórica.

a) Balanço hídrico

A contabilização dos componentes do ciclo hidrológico em uma bacia hidrográfica ou


balanço hídrico é uma exposição detalhada de todas as entradas, saídas de quantidades de
água em um dado volume do solo e conseqüentemente das suas variações, desde a superfície
até uma profundidade definida e durante um intervalo de tempo específico e pode ser
estabelecido pela seguinte equação de conservação de massa:

P – INF– EV = ES onde:

P é a Precipitação que cai sobre a bacia;


EV é a Evaporação que pode ocorrer em diferentes superfícies (planta, água, solo);
ES é o Escoamento superficial, compreende toda a água que escoa sobre a superfície do
solo e em pequenos canais.

b) Medições de vazão

Existem várias maneiras para se medir a vazão em um curso d´água, para pequenos
córregos, utilizam-se calhas e vertedores; para rios de médio e grande porte a determinação
da vazão se faz a partir do conhecimento da área e da velocidadede escoamento. Em geral, as
maneiras mais utilizadas são aquelas que estimam a vazão a partir do nível d´água:

b1) Vertedores

São mais utilizados os vertedores de parede delgada, de forma retangular com contração
completa (Figura 26)e forma triangular (Figura 27). As fórmulas que relacionam o nível e a
vazão são as seguintes:
41

Vertedor retangular:
Q = 1,84 ⋅ L ⋅ H 1,5
(L e H em m, Q em m3/s)

Figura 26. Vertedor retangular

Vertedor triangular:
Q = 1,42 ⋅ H 2,5 (H em m, Q
em m3/s) – Equação válida para
θ = 90°

Figura 27. Vertedor Triangular

b2) Método área-velocidade

Nesse caso a vazão é obtida aplicando-se a equação da continuidade: Q = V.A , onde Q


= Vazão em m3/s, A é a área em m2 e V é a velocidade da água em m/s.

A área é determinada por batimetria, medindo-se várias verticais e respectivas


distâncias e profundidades (Figuras 28 e 29 ).

Figura 28. Demonstração do processo de batimetria de um curso de água.

Tomando uma sub-seção qualquer:

Figura 29 Secção qualquer do curso de água


42

Para se medir a velocidade de água na seção, o método mais empregado é o do molinete


(Figura 30) que é um aparelho que permite calcular a velocidade instantânea da água no
ponto, através da medida de rotações de uma hélice em determinado tempo. Cada molinete
tem uma equação que transforma o número de rotações da hélice em velocidade. A equação é
do tipo

V = a + b.n

onde: a e b são constantes (calibração em laboratório);

n = número de rotações/ tempo (normalmente utiliza-se o tempo de 50 segundos).

Figura 30. Modelo de Molinete para a medição da velocidade da água.

Dependendo da profundidade da vertical, mede-se a velocidade em:

a) um ponto, quando a profundidade (h) é menor ou igual a 1,0 m. O molinete é


colocado a 60% da profundidade e a velocidade neste ponto é adotada como a média da
vertical considerada:

Vvert = V0,6

b) dois pontos, quando h é maior que 1,0 m. Neste caso, o molinete é colocado a
20% e 80% de h e a velocidade média da vertical é a média aritmética das velocidades
obtidas nos dois pontos:

V0, 2 + V0,8
Vvert =
2
43

A velocidade média da seção compreendida entre as verticais i e i+1 é calcula fazendo-


se a média aritmética das velocidades médias de duas verticais

Vi + Vi +1
Vsec_ i =
2

A vazão na seção i é determinada multiplicando-se área pela velocidade média da


seção. qi = Ai ⋅ Vsec_ i

A vazão total da seção do rio é obtida pelo somatório das vazões parciais:
n
Q = ∑ qi
i =1

b3.) Relação cota-vazão (curva-chave)

Curva-chave é a relação entre os níveis d´água com as respectivas vazões de um posto


fluviométrico.

Para o traçado da curva-chave em um determinado posto fluviométrico, é necessário


que disponha de uma série de medição de vazão no local, ou seja, a leitura da régua e a
correspondente vazão (dados de h e Q).

A experiência tem mostrado que o nível d´água (h) e a vazão (Q) ajustam-se bem à
curva do tipo potencial, e com o avanço da informática o uso de planilhas eletrônicas tipo
EXCEL, tem facilitado em muito o ajuste de curvas e equações.

b4.) Método do Hidrograma

O hidrograma consiste na representação gráfica das vazões escoadas ao longo do tempo


em um curso d´água, sendo importante destacar que a distribuição das vazões no tempo
resulta da interação dos componentes do ciclo hidrológico (Figura 31).
44

Figura 31. Hidrograma e a relação com os componentes do ciclo hidrológico.

Um hidrograma típico de uma bacia hidrográfica, após a ocorrência de precipitações,


apresenta o seguinte comportamento:

1. após o início da chuva há um intervalo de tempo que vai de to a tA (retardo da


resposta) até que as vazões comecem a se elevar, devido às perdas iniciais (interceptação
vegetal e depressões do solo) e ao tempo de deslocamento da água na própria bacia,

2. as vazões, então, elevam-se rapidamente tA a tB (gradiente maior que na fase de


recessão) até atingir o pico do hidrograma (intervalo de A até B), sendo predominante neste
período o escoamento superficial;

3. após atingir o pico do hidrograma (vazão máxima) inicia-se um período de recessão,


tB a tC (ponto B até ponto C) no qual é possível observar um ponto de inflexão que
caracteriza o fim do escoamento superficial e a conseqüente predominância do escoamento
subterrâneo; e

4. após o ponto de inflexão, as vazões decorrem basicamente do escoamento


subterrâneo.

O hidrograma e, conseqüentemente, o comportamento da bacia são caracterizados pelos


seguintes tempos plotados na abscissa do gráfico do hidrograma e visualizados na Figura 32:

a) Tempo de retardo (tl) – intervalo entre o centro da precipitação e do hidrograma.

b) Tempo de pico (tp) – intervalo entre o centro da precipitação e o pico do hidrograma.

c) Tempo de concentração (tc) – intervalo para que a precipitação no ponto mais


distante atinja a seção principal, também é definido como o intervalo entre o fim da
precipitação e o ponto de inflexão do hidrograma (final do escoamento superficial).
45

d) Tempo de ascensão (tm) – intervalo entre o início da chuva e o pico do hidrograma.

e) Tempo de base (tb) – intervalo entre o início da precipitação e o momento em que o


rio volta à situação original.

f) Tempo de recessão (te) – tempo necessário até atingir o ponto de inflexão.

O hidrograma apresenta, então, três partes principais: ascensão, caracterizada pelo forte
gradiente e diretamente relacionada com a intensidade da precipitação; região do pico, junto
aos valores máximos de vazão e atingindo o ponto de inflexão (ponto C); recessão, quando
somente o escoamento subterrâneo contribui para a vazão no rio.

Os principais fatores que influenciam a forma do hidrograma são: relevo (densidade de


drenagem, declividade do rio ou da bacia, capacidade de armazenamento e forma da bacia);
cobertura da bacia (vegetação e áreas impermeabilizadas); modificações artificiais no rio
(regularização e canalização); distribuição, duração e intensidade da precipitação (em bacias
pequenas, precipitações convectivas podem provocar maiores enchentes, enquanto em bacias
maiores as chuvas frontais resultam em maiores vazões); e solo (condições iniciais de
umidade).

Figura 32. Hidrograma e suas características principais

O hidrograma integra os três tipos de escoamentos responsáveis pelo movimento da


água, durante a parte terrestre do seu ciclo: o superficial (acima da superfície do solo), o
subsuperficial (junto à camada das raízes) e o subterrâneo (contribuição ao aqüífero). Os mais
significativos, em termos quantitativos são os escoamentos superficial e subterrâneo.

Pode-se separar estes dois escoamentos (para fins de análise individual) através do
hidrograma, utilizando-se métodos gráficos. O objetivo destes métodos é determinar uma
linha que represente a divisão entre as parcelas superficial e subterrânea do escoamento.
46

Assim, acima da linha tem-se a parcela correspondente ao escoamento superficial e abaixo a


correspondente ao subterrâneo. A seguir, apresentam-se quatro métodos gráficos, referidos à
Figura 33.

Método 1: extrapolar a curva de recessão, a partir do ponto C, até encontrar o ponto B


na intersecção com a vertical sob o pico; unir com o ponto A (início da ascensão) e obter a
linha ABC que divide o escoamento superficial do subterrâneo.

Método 2: basta unir o ponto A ao ponto C, através de uma reta.

Método 3: extrapolar a tendência curva de ascensão, antes do ponto A, até encontrar o


ponto D na intersecção com a vertical sob o pico; unir com o ponto C (inflexão) e obter a
linha ADC que divide o escoamento superficial do subterrâneo.

Método Alternativo: conforme a Figura 36., prolongar a tendência do hidrograma antes


do ponto A até a intersecção com a vertical sob o pico (ponto B). A partir do ponto C, pela
tendência, determinar o ponto D e desenhar uma curva unindo os pontos C e D.

Figura 33. Métodos de separação gráfica dos escoamentos

O ponto A, em todos os casos é de fácil determinação, visto a forte inflexão que ocorre
durante o período de ascensão do hidrograma. No entanto, o ponto C, que caracteriza o
término do escoamento superficial e o início da recessão, é de determinação mais complexa.
Vários critérios podem ser utilizados para a sua determinação:

a) Linsley et al. (1975) indicam a equação: N = 0,827 . A0,2

Onde: N representa o intervalo de tempo entre o pico do hidrograma e o ponto C (em


dias) e A a área da bacia (em Km2).
47

b) Considerando que o tempo de concentração define o intervalo entre o final da


precipitação e o término do escoamento superficial, pode-se utilizá-lo para determinar o
ponto C; para tanto basta calcular o tempo de concentração por alguma das fórmulas
existentes.

Muitas vezes necessitamos determinar o escoamento máximo em uma bacia


hidrográfica, mas não temos dados de chuva, vazão, nem equipamentos, etc., assim, nestas
condições devemos lançar mão de métodos estimativos do escoamento.

c) Métodos estimativos do escoamento.

Vários métodos para a estimativa do escoamento superficial em bacias hidrográficas


foram desenvolvidos, contudo, alguns têm sido mais utilizados, quer pela facilidade, quer
pela praticidade, quer pela exigência de poucos dados. Vamos verificar alguns:

c1. Método Racional:

O método racional, implica na definição de que a máxima vazão irá ocorrer quando toda
a bacia estiver contribuindo com a vazão do rio, na saída da bacia, Figura 34. Desse modo, o
tempo de percurso da água do ponto mais remoto na bacia até a foz, será igual ao Tc (tempo
de concentração). O cálculo se dá pela seguinte expressão:

CIA
Q= , onde:
360
Q = descarga máxima em m3/s
C = coeficiente de escoamento (runoff)
I = intensidade (mm/h) da precipitação esperada para um certo período de
retorno e de duração igual ao tempo de concentração da bacia.
A = área em hectares.

Observando-se a formula verifica-se que a vazão será tanto maior quanto maior forem
os valores de C, I e A.

Figura 34. Representação esquemática do escoamento considerado na formula racional.


48

Valores de C são mostrados nas Tabelas 6 e 7 e os valores de I para cada região e em


específico para Taubaté, por exemplo, deve ser pego na Tabela 3.

Tabela 6. Valores do Coeficiente C de escoamento para a formula racional.

TIPO DE SOLO
DECLIVE % arenoso franco Argiloso
Uso e Cobertura do Solo
Floresta
0–5 0,1 0,3 0,4
5 – 10 0,25 0,35 0,5
10 – 30 0,3 0,5 0,6
Pastagem
0–5 0,1 0,3 0,4
5 – 10 0,15 0,35 0,55
10 – 30 0,2 0,4 0,6
Terras Cultivadas
0–5 0,3 0,5 0,6
5 – 10 0,4 0,6 0,7
10 – 30 0,5 0,7 0,8

Observando-se os dados dos Coeficientes de Escoamento C nas Tabelas 42 e 43, faça


uma análise e tire algumas conclusões.

Para a vazão pelo método racional, é necessário conhecer o tempo de concentração da


chuva, que é admitido como sendo igual ao tempo de percurso, pois é preciso definir a
Intensidade da chuva. Uma formula bastante utilizada é a de Kirpich:

L3
Tc = 0,0195K 0, 77 K= , onde:
H
Tc = Tempo de concentração (min)
L = Comprimento máximo percorrido pela água (m)
H = Diferença de altura entre o ponto mais distante e o ponto de saída da bacia (m).

c2. Método do SCS

O método do Soil Conservation Service - SCS-USA, atualmente NRCS (2007) tem por
base a determinação da Infiltração e da Precipitação efetiva (Pe), isto é a parte da precipitação
que pode gerar escoamento superficial.
49

Tabela 10. Valores do coeficiente “C” de runoff, usando na fórmula racional, Chow (1964).

Características da Área C
Gramados
Solo arenoso, 2% 0,05 – 0,10
Solo arenoso, 2 a 7% 0,10 – 0,15
Solo arenoso, maior que 7 % 0,15 – 0,20
Solo argiloso, 2% 0,13 - 0,17
Solo argiloso, 2 a 7% 0,18 – 0,22
Solo argiloso, maior que 7% 0,25 – 0,35
Comercial
Zona central 0,70 – 0,95
Periferia 0,50 – 0,70
Residencial
Casas isoladas 0,30 – 0,50
Conjuntos de casas, esparsos 0,40 – 0,60
Conjunto de casas, densos 0,60 – 0,75
Edifícios de apartamento 0,50 – 0,60
Zonas suburbanas 0,25 – 0,40
Industrial
Áreas leves 0,50 – 0,80
Áreas densas 0,60 – 0,90
Parques e cemitérios 0,10 – 0,25
Play-grounds 0,20 – 0,35
Áreas às margens de estradas de ferro 0,20 – 0,40
Áreas não desenvolvidas 0,10 – 0,30
Ruas e Telhados
Asfalto 0,70 – 0,95
Concreto 0,80 – 0,95
Paralelepípedos 0,70 – 0,85
Telhados 0,75 – 0,95

O cálculo da precipitação efetiva é feito por meio da Figura 38 ou por meio da seguinte
equação:

( P − 0.2 ∗ S ) 2
Pe = para P ≥ 0.2∗S
( P + 0.8 ∗ S )
onde:

Pe - escoamento superficial direto em mm; (Q- no gráfico)


P - precipitação em mm;
S – infiltração potencial máxima em mm.
0.2S é uma estimativa das perdas iniciais (interceptação e retenção).
50

Figura 38. Gráfico da Curva-Número para conversão da chuva em escoamento

25400
S= − 254
CN
O CN depende de 3 fatores:

- umidade antecedente do solo;

- tipo de solo;

- ocupação de solo.

Tipos de solo e condições e ocupação

O SCS distingue em seu método 4 grupos hidrológicos de solos.

Grupo A – Solos que produzem baixo escoamento superficial e alta infiltração


(arenosos com baixo teor de argila total, inferior a 8 %).

Grupo B – Solos menos permeáveis que o anterior, arenosos menos profundos que os
do Grupo A e com permeabilidade superior a média (teor de argila ainda inferior a 15 %).

Grupo C – Solos que geram escoamento superficial acima da média e com capacidade
de infiltração abaixo da média, contendo considerável porcentagem de argila e pouco
51

profundo (barrentos com teor total de argila de 20 a 30 % mas sem camadas argilosas
impermeáveis ou contendo pedras até profundidades de 1,2 m).

Grupo D – Solos contendo argilas expansivas e pouco profundos com muito baixa
capacidade de infiltração e alta capacidade de escoamento (argilosos 30 – 40 % de argila e
ainda com camada densificada a uns 50 cm de profundidade.

O método do SCS distingue 3 condições de umidade antecedente do solo:

CONDIÇÃO I – solos secos – as chuvas nos últimos 5 dias não ultrapassam 15 mm.

CONDIÇÃO II – situação média na época das cheias – as chuvas nos últimos 5 dias
totalizaram entre 15 e 40 mm.

CONDIÇÃO III – solo úmido (próximo da saturação) – as chuvas nos últimos 5 dias
foram superiores a 40 mm e as condições meteorológicas forma desfavoráveis a altas taxas de
evaporação.
Tabela 11. Valores de condição de umidade antecedente.

Os valores tabelados do fator CN correspondem a situações em que as umidades


antecedentes ao evento encontram-se em condições médias. Correções para situações
diversas podem ser obtidas, mediante fatores de correção, conforme se apresenta na Tabela
11, onde AMC I corresponde a situações antecedentes mais secas que a média e AMC III a
situações antecedentes mais úmidas (precipitações consideráveis nos cinco dias anteriores,
com solo saturado).
52

Tabela 12. Valores de CN para Bacias Rurais

Para transformar uma precipitação (P) em Precipitação efetiva (Pe) pelo CN é


necessário definir o tipo de uso do solo, da superfície e o grupo de solo a que pertence,
corrigir o valor de CN pela umidade antecedente. Após a definição do CN (corrigido), utilizar
o gráfico da Figura 38 , utilizando os valores de P e CN e achar Pe (Precipitação efetiva).
53

Tabela 13. Valores de CN para Bacias Urbanas

9.3. Escoamento Subterrâneo

A água subterrânea em seu estado natural está em contínuo movimento que é governado
por leis ou princípios hidráulicos. As estruturas hidráulicas que contém as águas subterrâneas
são chamados de aqüíferos, que em geral são formações geológicas permeáveis. A maioria
dos aqüíferos são constituídas por rochas não consolidadas, especialmente compostas por
cascalho e areia em geral de grande extensão e que podem ser considerados como
54

reservatórios subterrâneos. A água que recebem entra através de recargas naturais e flui
através deles por ação da gravidade ou pela extração em poços.

Existem dois tipos de aqüíferos: o aqüífero confinado (artesiano) e o não confinado


(freático).

O aqüífero é não confinado quando a água nele presente não tem seu nível delimitado
por camada de impedimento e sim delimitado pela superfície de água livre onde reina a
pressão atmosférica e, portanto, chamado de freático e seu nível ou limite superior é chamado
de lençol freático. De outra forma o aqüífero confinado, conhecido como artesiano é aquele
que contém pressão acima da atmosférica, pela ação de confinamento provocado por duas
camadas de material impermeável.

Na Figura 38 é demonstrado alguns tipos de poços em função dos aqüíferos do qual eles
obtém água.

A quantidade acumulada e a rapidez do fluxo das águas subterrâneas nas rochas


sedimentares estão diretamente relacionadas com a granulometria dos sedimentos e ao grau
de seleção e arredondamento dos grãos. Assim, os conglomerados e arenitos de grã grossa
constituem ótimos aqüíferos, os arenitos médios a finos constituem bons aqüíferos, os siltitos
e argilitos aqüíferos pobres ou inexistentes. Arenitos argilosos ou siltosos constituem
aqüíferos pobres.

Figura 39. Tipos de poços em função do tipo de aqüífero.

Os calcários, essencialmente constituídos por minerais de carbonato de cálcio, e as


dolomitas, que são constituídas por minerais de carbonato de cálcio e magnésio, são rochas
55

sedimentares consolidadas que formam bons aqüíferos. Nestas rochas, as fraturas causadas
pelos movimentos tectônicos, alargadas pelos canais de dissolução devido à ação da
percolação da água atmosférica, formam aberturas conectadas através das quais o fluxo
subterrâneo pode ser considerável.
Os calcários formam um relevo típico, onde normalmente é grande a acumulação de
água, o relevo de colinas (ou kárstico). Formam também, um aqüífero típico, contendo
grandes reservas de água subterrânea, conhecido como aqüífero cárstico.
Rochas ígneas são resultantes do esfriamento e solidificação do magma originado em
grandes profundidades. Se a solidificação ocorre em profundidade as rochas ígneas são
intrusivas ou plutônicas e, se a solidificação ocorre na superfície ou próximo dela, as rochas
ígneas são extrusivas ou vulcânicas. As rochas ígneas maciças são impermeáveis, mas,
quando se encontram fissuradas ou fraturadas podem vir a constituir bons aqüíferos.
Nas rochas metamórficas, dobradas e falhadas por efeito de um tectonismo regional, os
aqüíferos são constituídos pelas estruturas rúpteis existentes, tais como fraturas, diáclases e
falhas.
Salvo condições particulares onde o poço é jorrante a remoção de água só é
possibilitada por bombeamento que uma vez iniciado irá promover um rebaixamento da água
no poço e no seu entorno formando o chamado cone de depressão que diferem em forma e
tamanho dependendo da taxa de bombeamento, do tempo de duração do bombeamento, das
características do aqüífero, especialmente, da sua Transmissividade (T) em m²/dia, inclinação
da linha do lençol e da recarga do aqüífero ao redor do poço.
É claro que a água subterrânea profunda ou artesiana é importante, principalmente
quando se necessita de grandes volumes de água no bombeamento para alguma atividade
humana. Contudo para efeito de produção de água em um curso d água na bacia hidrográfica
torna-se de suma importância a água do lençol freático, principalmente por estar localizada
próximo à superfície do solo, e também pelo fato de ser responsável na maior parte das vezes
pela manutenção da vazão de rios e córregos.

10. ANÁLISE INTEGRADA DOS COMPONENTES DO CICLO E A PRODUÇÃO


DE ÁGUA

A água que escoa em um rio pode advir do escoamento superficial ou da descarga das
águas subterrâneas nas fontes. A contribuição devida às águas subterrâneas é conhecida como
fluxo de base dos rios.
56

Considerando-se um sistema hidrológico, por exemplo, de um lago que possui um certo


volume de água. O número de entradas que adicionam água ao lago são: a precipitação na
superfície da água, os rios que desaguam no lago, o fluxo superficial que escoa para o lago
proveniente das vertentes situadas nas imediações e, o fluxo das nascentes situadas nas
vertentes. As saídas d’água são devidas à evaporação na superfície do lago, à transpiração
pela vegetação aquática, aos rios que nascem no lago e a infiltração nos aqüíferos através do
assoalho lago. Se a entrada de água em um dado instante é maior que a saída, o nível d’água
sobe e, se as saídas forem maiores que as entradas o nível da água desce.
A bacia hidrográfica representa um sistema fechado nas nossas condições climáticas.
As entradas de água advêm das precipitações e as saídas d’água do sistema são devidas a
evapotranspiração e a descarga do rio principal. Como os aqüíferos estão saturados e em
equilíbrio com as águas mantidas na superfície, já que há excedente hídrico no sudeste
brasileiro, não devem ocorrer mudanças de armazenamento para uma série histórica de
medidas multianual, podendo ocorrer pequenas mudanças somente durante o ano hidrológico,
em relação aos períodos de máxima pluviosidade no verão e mínima pluviosidade no inverno.
A contabilização dos componentes do ciclo hidrológico em uma bacia hidrográfica ou
balanço hídrico é uma exposição detalhada de todas as entradas, saídas de quantidades de
água em um dado volume do solo e conseqüentemente das suas variações, desde a superfície
até uma profundidade definida e durante um intervalo de tempo específico.

O balanço hídrico na sua forma natural e mais completa pode ser estabelecido pela
seguinte equação de conservação de massa:

ARM + P + INF +AC - DP – EV - T – ES - ESB = 0

onde:

ARM é o Armazenamento de água na profundidade de solo considerada;


P é a Precipitação que cai sobre a bacia;
INF é a Infiltração de água através da superfície do solo;
AC é a Ascenção capilar, é um parâmetro que tem importância em solos com lençol
freático próximo a superfície do solo;
DP é a Drenagem profunda é um parâmetro que depende da profundidade do perfil de
controle, pois quanto mais profundo for o perfil de controle, menor será a drenagem
profunda;
EV é a Evaporação que pode ocorrer em diferentes superfícies (planta, água, solo);
T é a Transpiração compreende a transpiração da vegetação;
ES é o Escoamento superficial, compreende toda a água que escoa nos cursos d’água.
ESB é o Escoamento subterrâneo, que mantém os rios e fontes, principalmente na época
seca, também de difícil determinação.
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OBS: Em locais vegetados a EV e T, são substituídos por ET (Evapotranspiração) que


corresponde à perda de água do solo e da planta juntos. Em muitos casos o termo EV
(evaporação ) é utilizado para designar as perdas de água na forma de vapor em lugar da ET
e de T.

Os termos de maior dificuldade de determinação no balanço são a drenagem profunda e


a ascenção capilar, os quais na maioria dos trabalhos tem sido negligenciado (REICHARDT
et alii., 1974).

O balanço como apresentado tem que ser olhado com bastante critério, pois alguns
termos têm maior importância que outros dependendo da bacia considerada. Se a bacia é
florestada, a Evapotranspiração, a Infiltração, o Armazenamento e o Escoamento subterrâneo
são mais importantes, se a bacia tem muita área impermeabilizada, os termos Escoamento
superficial no solo e Evaporação têm mais importância, ou ainda se a bacia possui um grande
represamento, a Evaporação da superfície de água é mais importante.

Contudo, é óbvio que muitas bacias tem um pouco de cada um desses tipos de
superfície, e que existem variações mesmo dentro de uma mesma superfície, por exemplo, a
área rural não é homogênea, tem vegetação do tipo pasto, culturas agrícolas, florestas,
pequenos represamentos, áreas impermeáveis, mesmos assim, em termos quantitativos do
balanço, só é possível uma abordagem pelas médias, mensal e anual e de forma reduzida.

Considerando o interesse específico no termo Escoamento Superficial, e as dificuldades


de obtenção de cada termo, a equação de balanço pode ser escrita da seguinte forma:

P – INF– EV = ES

11. ESCOAMENTO SUPERFICIAL E OS IMPACTOS AMBIENTAIS

Como foi visto o escoamento superficial compreendido aqui como todo escoamento que
ocorre sobre a superfície do solo é maior onde a cobertura do solo é desprovida de vegetação,
o que pode acontecer tanto em bacias hidrográficas totalmente rurais ou ainda urbanas. Em
bacias rurais o escoamento superficial provoca o arraste das partículas de solo desprendidas
pela chuva, para as porções mais baixas ou planas dos terrenos da bacia hidrográfica,
causando o assoreamento dos mananciais, aumentando a concentração de sólidos em
suspensão e com isso também o aumento da concentração de elementos químicos.
Moreira et al, (2006) demonstraram que o ribeirão Itaim no Vale do Paraíba embora
com uma recuperação da vegetação nos últimos 17 anos (Aguiar, et. Al., 2006) da ordem de
127%, carrega cerca de 8.000 kg de sólidos em suspensão.
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Em bacias urbanas o escoamento superficial direto promove o arraste de veículos,


derrubam casas e causam mortes. Na Figura 40 é demonstrada a ocorrência destes fenômenos
em na Itália.
A diferença básica do escoamento superficial em bacias rurais e urbanas em termos de
drenagem é que na bacia rural essa drenagem ocorre praticamente em drenos naturais ou
pouco modificados, enquanto na bacia urbana a drenagem é feita de modo muito rápido por
meio das calhas no telhado das casas, meio fio, bueiros, bocas de lobo e tubulações.

Figura 40. Número de eventos de inundações e deslizamentos de terra na Itália

12. DRENAGEM URBANA

A drenagem urbana faz parte de um conjunto de melhoramentos públicos que existem


em uma área urbana. Em relação a outros melhoramentos como rede de esgoto,
abastecimento de água, energia elétrica, telefônica, etc, tem a peculiaridade de que o
escoamento das águas pluviais sempre ocorrerá, independente de existir um sistema de
drenagem adequado ou não e de fato a qualidade desse sistema de drenagem é que
determinará se ocorrerá maior ou menor prejuízo para a população.
O sistema de drenagem urbana e, portanto de prevenção de inundações fundamenta-se
não só em planos, projetos e obras, mas também em legislação e em medidas que
compreendem:
Códigos, leis e regulamentos sobre edificações, zoneamento, parcelamento e loteamento
do solo e também códigos sanitários;
Fiscalização da administração pública nas áreas urbanizadas e edificadas, bem como
planos de reurbanização e renovação de áreas deterioradas;
Declaração de utilidade pública e desapropriação de áreas ociosas ou assoladas por
inundações freqüentes.
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Esses dispositivos são particularmente importantes quando se referem às baixadas


constituídas por planícies sedimentares marginais aos cursos de água. Como são inundadas
durante as cheias, a sua ocupação deve ser restringida pelos seguintes meios:
a) Zoneamento com delimitação clara das áreas freqüentemente inundadas;
b) Fixação de cotas aquém das quais a ocupação é desaconselhada ou mesmo proibida;
c) Restrição de acesso às áreas sujeitas a inundações;
d) Restrição por parte de órgãos públicos de financiamento, para empreendimentos de
ocupação das baixadas;
e) Impedimentos à expansão de outros serviços públicos: água, esgotos, iluminação
pública, etc.;
f) Estudo de áreas alternativas para os empreendimentos em cogitação;
g) Fixação de incentivos fiscais para que os terrenos inundáveis permaneçam ociosos.

13. CONTROLE DE INUNDAÇÕES

Muitas pessoas confundem os termos enchente com inundação, a enchente ou cheia


ocorre sem que a água ultrapasse os limites da calha do curso d água, enquanto a inundação a
água chega a ultrapassar esses limites e atinge a superfície lateral ao curso d água. O controle
de inundações é feito principalmente por obras com finalidades hidráulicas que vão desde a
limpeza do rio (manutenção nos taludes, retirada de sedimento do fundo), como construção
de diques paralelos ao curso d água, e mesmo utilização de bombeamentos. Locais mais
baixos em terrenos próximos ao curso d água podem ser utilizadas para receber a água da
cheia nos casos em que ela venha a se tornar em inundação minimizando seus efeitos. Essas
depressões podem ser naturais ou construídas.
As formas mais eficientes para conter a inundação são as preventivas e naturais como a
manutenção da vegetação florestal na bacia hidrográfica que naturalmente reduz o
escoamento superficial e aumenta a infiltração possibilitando assim a minimização dos
efeitos de inundações e garantindo o abastecimento dos rios com água.
Durante as aulas do curso, serão feitas demonstrações de medições de elementos
principais do ciclo hidrológico, tais como teste de infiltração em campo, Condutividade
hidráulica em solo saturado em campo, medidas de vazão em campo, além de visita a posto
meteorológico e os dados coletados em campo serão tratados em sala de aula.
60

14. BIBLIOGRAFIA

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. Bacias Hidrográficas, 2002. Disponível


em:,//www.Ana.gov.Br/Bacias/bacias. htm.>Acesso em: 8 jul. 2007.
BERNARDO, S. Manual de Irrigação. 5. ed. Universidade Federal de Viçosa. Imprensa
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BERTONI, J.; LOMBARDI NETO F. Conservação do solo. São Paulo: Ícone, 1990. 335p.
CAUDURO, F.A. DORFMAN, R. Manual de ensaios de laboratório e de campo para
irrigação e drenagem. PRONI. Porto Alegre. s.d. 216p.
CRUCIANI, D. Dimensionamento de sistemas de drenagem superficial e terraços com base
nas características hidrológicas locais. In: Simpósio sobre Terraceamento
Agrícola.Fundação Cargill, Campinas, 1989. P.26-59.
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DOOREMBOS, J. & KASSAM, A.H. Efeito da água no rendimento das culturas. Estudos
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1967. 249p.
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MARTINEZ JUNIOR, F. & MAGNI, N.L.G. Equações de chuvas intensas do Estado de São
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freqüência de chuvas, registradas com pluviógrafos, em 98 postos meteorológicos. 2a.
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Drainage Systems. London, B.T. Batsford Ltd, 1988. cap. 3, p.50-61.
TUCCI, M.E.C. Hidrologia: ciência e aplicação. 2 ed. Porto Alegre. Ed. Universidade/UFRS:
ABRH, 2000. 943p.

15. CITAÇÃO

TARGA, M. S. Hidrologia e manejo de Bacias Hidrográficas. Apostila. Universidade de


Taubaté (UNITAU). Taubaté, SP. 61p. 2008.
61

É PROIBIDA A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE MATERIAL.


DIREITOS RESERVADOS A UNITAU - Universidade de Taubaté.

16. CONTATOS

Dr. Marcelo dos Santos Targa


Universidade de Taubaté – UNITAU
Departamento de Ciências Agrárias - Universidade de Taubaté
Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais
Estrada Dr. José Luis Cembranelli, 5.000
Bairro Itaim – Taubaté, S.P
Tel. (012) 3631-8004
e-mail: mtarga@unitau.br

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