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KEYNES — KALECKI (1883-1946) (1899-1970) VIDA e OBRA Consultoria de Paulo Israel Singer OS PENSADORES © period anterior _& Revolucio DN keresiana = dos fins do século passado até os anos trinta deste —, © pensamento econdmico estava rigida mente dividido em duas ortodoxias igualmente bem estabelecidas ¢ consa- gradas, De um lado, bavia os que preten- liam fazer ciéncia econdmica, inteira- mente livre de julgamentos de valor ceujas conclusées liberais — de que 0 “ho- mem econémico” deixado a si mesmo encontraria sempre uma situagio de equilibrio que proporcionaria respostas “6timas” a todas as demandas — resulta- riam da mera légica dedutiva, aplicada a.um pequeno niimero de postulados evi- dentes por si mesmos. De outro, estavam 08 que pretendiam perserutar o capita- Tismo com olhos criticos, & procura de suas contradicdes inevitaveis, cujo agu- gamento progressivo — sob a forma de crises cada vez mais freqiientes, longas ¢ profundas — provocaria a queda defini- tiva do sistema ¢ sua substituicdo por ‘outro mais justo e mais eficiente. ‘A falta de diélogo entre as duas cor- rentes era absoluta, fundada em diver- gencias semAnticas irreconciliaveis. O capitalismo, que uns queriam abolir, se- quer existia para os outros. Para o mar- ginalismo — ortodoxia que imperava em todas as academias do mundo ocidental —, em lugar do capitalismo o que havia ‘era uma economia de mercado, cujo fun- cionamento se desviava um pouco dos preceitos da teoria do equilibrio: apenas ha medida em que apresentava “imper- feigdes”, face ao modelo da concorréncia perfeita” O mesmo modelo permitiria aferir 0 funcionamento das economias de mereado que existiram durante a Idade Média ou na Roma da Antiguidade ou ainda das que podem ser observadas em povos primitives. (© conccito de “exploracao”, basico para os marxistas, era literalmente in- coneebivel para os marginalistas. Para 08 primeiros, o monopélio dos meios de \duco, usufruidos por uma parte da Sociedade, obrigaria os restantes a alie~ par sua capacidade de trabalho por um valor menor do que aquela eapacidade em funcionamento era capaz de criar. Dai a esséncia da exploracdo. Para o: marginalistas, nao havia monopélio dos meios de producéo, porém dotacio dife- VI renciada de fatores de producdo: se uns possuiam terras, outros possuiam capi- fais e outros possuiam capacidade de trabalhar, todos esses fatores eram igualmente necessdrios ao processo pro- jutivo. E nfo havia razdo para supor jue a colaboracio entre os “titulares” lesses fatores tivesse que implicar qual- quer relacio de exploracao, desde que sua liberdade enquanto “homens econd- tmicos” fosse devidamente respeitada. f£ claro que a reciproca também era verdadeira. Conceitos basicos para os marginalistas, como “utilidade margi- nal” por exemplo, eram completamente destituidos de sentido para os marxis tas. Os marginalistas concebiam a eco- nomia como o resultado das interacdes de intimeros individuos, que produzem consomem, conforme determinadas in- clinagées subjetivas que poderiam ser traduzidas em leis explicativas dos pre- ¢os relativos, da alocagao de recursos em diferentes ramos de producio, etc. Tais leis eram todas derivadas do prinei- pio da utilidade marginal decrescente, ou seja, de que cada bocado adicional de determinado bem ou servico apresenta, para o mesmo consumidor, uma utili- dade menor que o anterior. No fundo, era a explicagao do velho paradoxo: coisas essenciais a vida, como o ar ou a 4gua, sio destituidas de valor de troca quando disponiveis em abundancia, en: quanto coisas bem menos -essenciais, como brilhantes, por exemplo, tém ele- vado valor de troca, s6 por serem escas- sas. Para os marxistas, acostumados a pensar a sociedade capitalista em ter- mos de classes, as inclinagées subjetivas dos individuos sao de tal maneira enqua- dradas pela estrutura social, que jamais poderiam servir de prinefpio explicativo do funcionamento da economia. E interessante notar que a auséncia de didlogo entre marginalistas ¢ marxistas foi se agravando na medida em que uma. ¢ outra doutrina iam se consolidando en- quanto ortodoxias. Ainda no fim do sé- culo XIX, a publicagio do 3.° volume de O Capital de Marx, por Engels, deu azo uma importante pole lémica entre Béhm- Bawerk, um dos mais importantes ex- poentes do marginalismo, e Hilferding, que se iria revelar pouco depois como um teérico marxista dos mais destaca- KEYNES Desde meados do século XVII, quando comecou a Revolucéo Industrial, a andlise dos problemas econémicos passou a ocupar a atencéo dos pensadores. A partir de entao, a Economia Politica, cuja fundacdo se atribui 2 Adam Smith, ganhou importéncia cada vex maior entre as ciéncias humanas. (A foto acima mostra um aspecto do intenso movimento da Bolsa de Londres.) Dai em diante, no entanto, cada uma das correntes se fechar cada vez mais em seu proprio campo. O malogro do marginalismo ssa progressiva cessagao do didlogo acompanhada também pelo relative gotamento da criatividade tedrica, na medida em que a realidade econdmica ze tinha inspirado tanto uma como a eutre doutrina — o capitalismo indus- al europeu da segunda metade do sé- lo XIX ~ estava se alterando. A forma. como isso se deu foi naturalmente dife- Fente num caso € no outro. O margina- lismo foi perdendo contato com a reali- dade na medida em que o capitalismo se foi tornando mais monopolista e por- tanto cada vez mais afastado dos mode- Jos de concorréncia perfeita com os juais a andlise marginalista lidava. J& durante @ Primeira Guerra Mundial, 0 “laissez faire” teve que ser abandonado por uma politica econémica de planeja~ mento centralizado em todas as nagoes beligerantes, ou seja, em todas as potén- cias industriais. Apés a Guerra, houve um curto periodo, durante os anos vinte, em que se tentou voltar ao liberalismo. Tais tentativas desembocaram, no en- tanto, na crise de 1929 e na profunda e prolongada depressao, que se estendeu vil sss

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